Revista do Câncer

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Revista do Câncer Espaço oferecido como cortesia ao A.C. Camargo. A Baxter optou em publicar seus anúncios nas próximas edições


Editorial A luta continua

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sta edição fará o leitor voltar ao tempo e acompanhar como a medicina evoluiu no tratamento ao câncer. Para contar a história da luta médica contra essa doença, apresentamos como referência o Hospital A.C.Camargo Cancer Center, que completa 65 anos em 2018.

Vamos voltar à época dos fundadores do A.C. Camargo, fazer um passeio desde a sua inauguração até os seus momentos atuais, em que vem acolhendo cerca de 16 mil novos pacientes a cada ano provenientes do sistema de saúde privada e pública. Esse centro oferece assistência de alta complexidade, integrada e humanizada. Além de ser referência em tratamento oncológico, o A.C. Camargo é destaque em pesquisa e ensino. Neste ano, inaugura o Centro de Referência Internacional para Tumores de Mama Ginecológicos (leia na página 20). A Revista do Câncer traz também a cobertura do 3º Next Frontiers to Cure Cancer, promovido pelo A.C. Camargo, e uma síntese da entrevista realizada com a Dra. Vilma Regina Martins, cientista e superintendente de Pesquisa desse hospital, que fala das principais inovações no combate à doença. leitor conta ainda com uma série de artigos de profissionais da área e uma entrevista sobre câncer de próstata com o Dr. Guilherme Cayres Mariotti, do Hospital Israelita Albert Einstein. Falar de câncer também é falar de esperança. A medicina, aliada à tecnologia, tem conseguido vencer várias batalhas, prolongando a vida dos pacientes com qualidade e fazendo prevalecer a autoestima. Parabéns ao A.C.Camargo que lidera essa luta e a todos os profissionais coadjuvantes! O Editor.

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Expediente revista do

Câncer

EDITORIAL Onconews .................................06

Panorama Nacional da Oncologia

Volume XIV - nº 27 - ano 2018 Diretor e Editor Dr. José Márcio da Silva Araújo j.marcioaraujo@bol.com.br

Entrevista Dr. Guilherme C. Mariotti ........14

Diretor Comercial / Financeiro Gilberto Cozzuol gibacozzuol@gmail.com Administração e Circulação Yvete Togni dra.ytogni@hotmail.com Jornalista Sunara Avamilano sunara07@hotmail.com Assistente Diretoria Angela Cavalin Produção e Publicação Lucida Artes Gráficas revistadocancer.dir@gmail.com Fotografia Assessoria de Imprensa e Arquivos Correspôndencia Rua Carneiro da Cunha, 212 - sala 1 Vila da Saúde - CEP 04144-000 Contato Fone - 11- 2339-4710 | 2339-4711

Site www.revistadocancer.com

As opiniões expressas ou artigos assinados são de responsabilidade dos autores. Conselho Editorial

Matéria de Capa 65 anos Hospital A.C. Camargo............................18

Evento 3º Next Frontiers To Cure Cancer..........................30

Mercado.....................................40

Artigo.........................................48

Carreira......................................52

• Dr. João Carlos G. Sampaio Góes • Dra. Clarissa Cerqueira Mathias • Dra. Gildete Lessa

Opinião ......................................54

• Dra. Maria Lúcia M. Batista

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Tasy será o sistema de gestão do A.C. Camargo Cancer Center

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om o objetivo de aprimorar os processos e promover maior eficiência operacional, o A.C.Camargo Cancer Center, Centro Integrado de Diagnóstico, Tratamento, Ensino e Pesquisa do Câncer, implantará um novo sistema de gestão e informação hospitalar. O software Tasy, da Philips, é o novo parceiro da Instituição para a gestão de informações relacionadas a prontuários eletrônicos, fluxo de pacientes, processos clínicos e banco de dados.

gestão de ordens, diluição e dispensação de medicamentos, controle de estoque entre outros.

Todo o fluxo de prontuário e prescrição da instituição passará a ser eletrônico e gerenciado pelo Tasy. A partir dele, médicos e profissionais de saúde poderão registrar todos os cuidados do paciente com mais agilidade e confiabilidade. “Nosso objetivo é implementar uma solução aderente às estratégias do Cancer Center, e que permita ampliar a eficiência e segurança de nossos processos operacionais e de suporte à assisA informatização dos processos protência”, afirma Vivien Navarro Rosso, Supemovida pelo Tasy trará ainda mais eficiência rintendente Geral do A.C.Camargo Cancer operacional para a Instituição. A gestão inCenter. teligente de processos clínicos, como realização de consultas, exames e aplicação de “Estamos entusiasmados em contrimedicamentos, representará maior eficiência nas interações e ganhos no processo de buir para que o A.C. Camargo siga sua reconhecida trajetória na pesquisa, no ensino segurança da informação. e no tratamento do Câncer. Essa parceria O software da Philips controla diver- reafirma nossa intenção de atuar ao lado sas etapas do processo de tratamento on- de instituições de saúde e profissionais cológico, que vão desde processos de enfer- para proporcionar acesso e atendimento à magem como o acolhimento do paciente saúde de qualidade para milhões de pessoe monitorização, as prescrições e cuidados as todos os anos”, completa Renato Garcia médicos até os processos de farmácia como Carvalho, CEO da Philips Brasil.

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Oito a cada dez pessoas compram remédios sem receita médica

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cada dez brasileiros, oito tomaram medicamentos sem orientação médica pelo menos uma vez este ano, segundo pesquisa realizada pela plataforma Consulta Remédios. Entre os entrevistados, quase metade admitiu tomar remédios por conta própria frequentemente. Especialistas, no entanto, alertam para os riscos desse hábito que não apenas pode não resolver o problema do paciente como pode piorar seu quadro de saúde. “Cada organismo é individual, tem influências metabólicas e hormonais diferentes, que são levadas em consideração na hora da prescrição de um medicamento”, explica a clínica geral e endocrinologista Natasha Vilanova, destacando que outras medicações que o paciente possa já estar tomando também influenciam no processo. “As pessoas que se automedicam não

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vão ter essa noção e o remédio pode não funcionar ou apresentar efeitos colaterais indesejados”, continua. Os riscos são diversos e variam de acordo com o tipo de remédio. O paciente pode, por exemplo, apresentar reações alérgicas, problemas gastrointestinais e até outras complicações mais sérias, como taquicardia e problemas neurológicos. Os analgésicos são os mais utilizados (34%), seguidos pelos relaxantes musculares (20%) e os antinflamatórios (16%).

Encontro de Sociedades Médicas: Diagnóstico do Câncer

ela primeira vez, as Sociedades Brasileiras de Oncologia Clínica (SBOC), Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (SBPC/ML), Patologia (SBP), Cirurgia Oncológica (SBCO), Radioterapia (SBRT) e o Colégio Brasileiro de Radiologia (CBR) promoveram um evento conjunto para discutir o diagnóstico da doença que mais cresce no país. O Encontro de Sociedades Médicas – Diagnóstico do câncer, aspectos atuais e perspectivas foi realizado nos dias 10 e 11 de agosto, no Hotel Renaissance, em São Paulo. O evento teve conteúdo de atualização científica a respeito do diagnóstico do câncer e do monitoramento durante o tratamento do paciente em suas interfa-

ces multidisciplinares. Também propiciou discussões a respeito do uso racional dos recursos diagnósticos. “O intuito foi discutir questões do dia a dia. O evento foi super dinâmico, com debate sobre como fazer um uso mais racional dos recursos disponíveis, não só financeiros, mas também do material do paciente e de recursos humanos, porque há muitos profissionais atuando em conjunto para se chegar ao diagnóstico final de um paciente”, afirma a Dra. Cinthya Sternberg, diretora executiva da SBOC e idealizadora da iniciativa. Além dos médicos especialistas, foram convidados profissionais de saúde envolvidos no diagnóstico e no tratamento do câncer.

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Touca que resfria o Paulo Hoff, presidente couro cabeludo pode da Oncologia D’Or, prevenir a alopecia em recebe título da ASCO até 70% das mulheres presidente da Oncologia D’Or, o

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s avanços e inovações no tratamento oncológico já transformam a realidade de muitos pacientes que lutam contra o câncer. Dentre as novidades está um método de resfriamento do couro cabeludo, antes, durante e depois da sessão de quimioterapia, que tem como intenção reduzir a queda de cabelo. Tratamentos quimioterápicos com esquemas mais curtos e não baseados em antraciclinas, associados ao uso da touca térmica podem ter chance de 60 a 70% de sucesso contra a queda capilar. “A possibilidade de prevenir ou minimizar a perda dos cabelos, um dos efeitos do tratamento quimioterápico, traz uma mudança impactante para o paciente e a maneira como enfrentará a doença. Com resultados positivos, dependendo do esquema e medicamentos utilizados, dois em cada três pacientes não precisam raspar a cabeça ou usar perucas. Os protocolos mais longos, e com uso de antraciclinas, as chances giram em torno de 30% da preservação capilar”, ressalta o oncologista e Coordenador de Oncologia Mamária do Grupo Oncologia D’Or, Dr. Gilberto Amorim. Antes desta tecnologia, a queda dos cabelos era uma realidade em quase 100% dos casos e chegava a ocorrer em cerca de 15 dias. Com o uso da touca gelada, que resfria o couro cabeludo, as esperanças dos pacientes, majoritariamente mulheres, se associa à autoestima. O serviço está disponível na Oncologia D’Or, nas clínicas da Barra da Tijuca e de Botafogo. Os pacientes podem utilizar a touca em todas as sessões de quimioterapia. 8

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oncologista Paulo Hoff, recebeu o título de fellow da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO), durante o encontro anual da entidade, que ocorreu entre 1 e 5 de junho, em Chicago. O título reconhece a atuação do médico na área e sua dedicação aos pacientes. Cerca de 50 médicos de todo o mundo recebem o título por ano a cada reunião anual da ASCO. Paulo Hoff foi o único brasileiro selecionado para receber a honraria este ano.

CFF oferece acesso gratuito à ferramenta sobre medicamentos

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CFF (Conselho Federal de Farmácia), juntamente com o British Medical Journal (BMJ), ofereceu, por tempo determinado, acesso gratuito para teste ao BMJ Best Practice. A parceria vem auxiliar os farmacêuticos que atuam no cuidado direto ao paciente, resolvendo problemas relacionados a medicamentos, ajudando a reduzir eventos adversos e provendo educação em saúde. Por meio da ferramenta, além do conhecimento sobre medicamentos, o farmacêutico tem acesso sobre as doenças, suas particularidades e seus tratamentos, e não para fins diagnósticos, mas para melhor gerenciar os medicamentos dos pacientes. Fonte: Conselho Regional de Farmácia de Mato Grosso do Sul

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Exposição do INCA 80

Anos já pode ser vista online A exibição virtual conta oito décadas da história e evolução do Instituto

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exposição “INCA: 80 Anos de História na Saúde Pública no Brasil" agora pode ser conferida em versão virtual na página do Centro Cultural do Ministério da Saúde (CCMS). O lançamento da mostra aconteceu no dia 30 de maio, durante o evento em comemoração ao Dia

Mundial Sem Tabaco realizado no prédio-sede do Instituto, no Centro do Rio. A exposição, uma parceria entre o INCA, o Instituto Oswaldo Cruz e o CCMS, foi montada em agosto do ano passado nos 160 metros de extensão do túnel que liga os edifícios sede e anexo do Ministério da Saúde, em Brasília, no qual são apresentados painéis que contam a história da criação do INCA e sua evolução de um centro de tratamento do câncer, no final dos anos 1930, até se tornar referência nacional em assistência, ensino, pesquisa, prevenção e vigilância em oncologia.

Tratamento imuno-oncológico para câncer de bexiga é aprovado no Brasil

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Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) acaba de aprovar o medicamento Opdivo (nivolumabe) para o tratamento de pacientes que enfrentam o câncer de bexiga localmente avançado irressecável ou metastático no Brasil. O remédio é indicado para pacientes que já tenham sido previamente tratados com a terapia padrão à base de platina. A aprovação se baseou nos resultados do estudo de fase 2 CheckMate 275 que avaliou a segurança e a eficácia de nivolumabe como agente único para o tratamento de pacientes que enfrentam a doença. De acordo com o estudo, 19.6% dos pacientes responderam ao tratamento com Opdivo (nivolumabe). A porcentagem de pacientes com resposta completa foi de

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2.3% e a porcentagem de pacientes com resposta parcial foi de 17.4%. Dentre os pacientes que responderam, a duração mediana de resposta foi de 10.3 meses e o tempo médio para a resposta foi de 1.9 meses. São dados significativos inéditos para este que é o 9º tipo de câncer mais comum no mundo e, segundo os dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA), o Brasil deve registrar 9.480 casos em 2018, sendo 6.690 em homens e 2.790 em mulheres. * Opdivo (nivolumabe) é o único medicamento desta classe aprovado no país a oferecer ganho de sobrevida com qualidade de vida em seis tipos de tumor: melanoma, câncer de pulmão, câncer de rim, linfoma de Hodgkin, câncer de cabeça e pescoço e bexiga. Fonte: INCA

O glúten faz mal à saúde ou não?

odo dia surgem dietas milagrosas que, quase imediatamente, conquistam milhares de adeptos. Uma das que causam mais dúvidas e controvérsias é a que restringe o consumo de glúten no dia a dia. Afinal, é verdade que o glúten faz mal à saúde? Não. O glúten não faz mal à saúde. Não há qualquer pesquisa, estudo ou mesmo testes científicos conclusivos que indiquem que o glúten – elemento encontrado em cereais como trigo, cevada e centeio – prejudique o desenvolvimento ou funcionamento do organismo de indivíduos normais e saudáveis. 10

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Roche apresenta novos dados de sua imunoterapia em tipo avançado

pós 20 anos sem progresso significativo de tratamento em tumores de pequenas células em estágio extensivo, o estudo IMpower133 mostrou melhora das sobrevidas global e livre de progressão da doença e da sobrevida livre de progressão dos pacientes com a doença. A Roche anunciou que os desfechos positivos do estudo IMpower133, de fase III, que demonstrou que o uso da combinação de Tecentriq® (atezolizumabe) e quimioterapia (carboplatina e etoposídeo) ajudou os pacientes com câncer de pulmão de pequenas células em estágio extensivo (ES-SCLC) a viverem significativamente mais do que apenas com quimioterapia. A combinação também reduziu o risco de piora da doença ou morte (SLP) comparada à quimioterapia isoladamente. O tratamento foi administrado em pacientes com ES-SCLC nunca tratados com quimioterapia. “Estes são os primeiros resultados de sobrevida positivos na fase III de qualquer combinação à base de imunoterapia no tratamento inicial do câncer de pulmão de pe-

quenas células em estágio extensivo, que é um tipo de doença particularmente difícil de ser tratada,” afirma Sandra Horning, diretora médica e de desenvolvimento global de produtos da Roche. “Os resultados somam-se às evidências cada vez maiores de que as combinações à base de atezolizumabe podem ser um tratamento efetivo para diferentes tipos de câncer de pulmão avançado”. O estudo IMpower133, de fase III, avalia a eficácia e a segurança atezolizumabe combinado com carboplatina e etoposídeo versus quimioterapia (carboplatina mais etoposídeo) isoladamente, em pacientes com ES-SCLC nunca tratados com quimioterapia. Este é o quarto estudo de fase III de câncer de pulmão positivo que avalia uma combinação à base de atezolizumabe a ter seus resultados divulgados este ano, e o quinto estudo positivo no total. Atualmente, a Roche tem em andamento oito estudos de fase III em câncer de pulmão que avaliam Tecentriq® sozinho ou combinado a outros medicamentos em vários tipos de câncer de pulmão.

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Hospital Leforte moderniza seu núcleo de Oncologia Leforte Oncologia consolida-se como referência no tratamento do câncer

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om o objetivo de atingir os mais altos padrões de atendimento integral em Oncologia, o Leforte acaba de adquirir um dos mais modernos equipamentos do mercado no tratamento radioterápico: o Elekta Infinity. Os diferenciais do equipamento envolvem modernos recursos de imagem que possibilitam tratamento altamente eficaz através de imagens 4D. Além do benefício de realizar sessões mais rapidamente do que o método convencional, o que garante maior conforto ao paciente. Também se soma aos diferenciais a tecnologia que identifica mais precisamente o alvo e consegue poupar tecidos saudáveis ao redor da lesão tumoral.

De acordo com Dr. Daniel Grabarz, Coordenador do Serviço de Radioterapia do Leforte Liberdade. “Com a aquisição do Elekta Infinity, o Leforte passa a oferecer o que há de melhor em matéria de estrutura para o tratamento oncológico, com ganhos efetivos em matéria de qualidade de vida para os pacientes”. O núcleo de Radioterapia da unidade Liberdade já contava com diversos tipos de tratamentos radioterápicos para tumores malignos, benignos e cicatrizes queloideanas. Sempre acompanhando o que há de mais moderno em equipamentos, protocolos terapêuticos e em tecnologia, nos últimos anos, o Leforte vem investindo em recursos para proporcionar ainda mais precisão no tratamento

Air Liquide lança soluções com foco na

segurança do paciente e dos profissionais de saúde

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Air Liquide Healthcare traz inovações ao mercado hospitalar com foco em aprimorar os usos da ventilação mecânica. Pensando em cada etapa do processo e como fazer para oferecer um serviço melhor, a empresa lança as soluções CPV (Ventilação Cardiovascular), Kalinox, Alize, as máscaras da linha Respireo Hospital e o ModulAir. A solução CPV foi pensada para atender à necessidade de um aparelho que realize uma ventilação pulmonar adequada, sem causar interferência na qualidade da manobra de ressuscitação cardíaca. Pode ser usada por pacientes que usam máscara facial não invasiva e tubo orotraqueal. Des12

se modo, a equipe responsável pode concentrar esforços em manejar o paciente em paradas respiratórias e, com ajuda da monitorização do CPV, pode otimizar a segurança e eficiência do procedimento. O Kalinox é um lançamento pensado para quem vai passar por procedimentos que são dolorosos, mas de curta duração. A mistura gasosa combina óxido nitroso, gás usado para analgesia e oxigênio. Desse modo, o paciente deixa de sentir dor e ameniza a sensação de ansiedade, mesmo estando acordado. O seu diferencial é a rápida absorção e eliminação da mistura pelo organismo que, segundo a empresa, já começa a atuar 5 minutos após a inalação.

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Nova lei obriga notificação de casos de câncer

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erviços de saúde tanto públicos como privados terão que notificar às autoridades sobre os casos de câncer e malformações congênitas. A novidade está prevista na lei 13.685/2018, aprovada no início do ano e agora sancionada pela Presidência da República e publicada no Diário Oficial da União desta terça-feira (26/06). A lei pretende corrigir distorções na base de dados nacional sobre a doença, que é escassa. As novas regras entram em vigor daqui a 180 dias. O PLC 14/2018 é de autoria da deputada Carmen Zanotto (PPS-SC). O texto original tratava da notificação obrigatória de eventos relacionados ao câncer, mas a sua tramitação em conjunto com outros projetos resultou na aprovação, pela Câmara dos Deputados, de um substitutivo que incorporou também a comunicação compulsória de malformações congênitas. A matéria foi relatada na Comissão de Assuntos Sociais (CAS) do Senado pelo senador Waldemir Moka (MDB-MS), que apontou o câncer como a segunda maior causa de mortalidade no Brasil, responsável por cerca de 15% dos óbitos anuais. Daí a importância de se estabelecer medidas e políticas públicas voltadas ao rastreamento e tratamento desse conjunto de doenças

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e à reabilitação dos pacientes. A norma, segundo ele, permitirá identificar gargalos de assistência, diagnóstico, tratamento e prevenção da doença, bem como estabelecer dispositivos técnicos para o efetivo cumprimento da ‘Lei dos 60 dias’. — Este projeto obriga tanto na rede pública quanto privada que, uma vez feito o diagnóstico, seja obrigatório o hospital, o médico ou a clínica comunicar à autoridade aquele diagnóstico. Isso vai facilitar o acompanhamento para que esse tratamento comece em no máximo em 60 dias — apontou Moka. O texto também altera a Lei 12.662/2012, que assegura a validade nacional da Declaração de Nascido Vivo, documento que depois é substituído pela certidão de nascimento. Atualmente, a Declaração de Nascido Vivo contém o número de identificação nacionalmente unificado, gerado pelo Ministério da Saúde, além dos seguintes dados: nome do bebê, data, hora e município de nascimento; sexo, informação sobre gestação múltipla se for o caso, além de dados sobre os pais. A nova lei acrescenta a obrigatoriedade de constar também a informação sobre nascimento com malformações congênitas.

Lifemed completa 40 anos

Lifemed, empresa nacional que desenvolve produtos, dispositivos e equipamentos médicos e hospitalares, neste ano completa 40 anos de muita atividade e dedicação. Fundada em 1978 por oito cirurgiões cardíacos, a empresa iniciou a fabricação da primeira válvula cardíaca artificial totalmente brasileira. Hoje, está presente em mais de 2.000 hospitais do país, dentre públicos e privados, com seus diversos serviços, produtos, cursos e treinamentos. Com a missão de trazer soluções para a área da saúde, o diretor de marketing da Lifemed, Paulo Purchio, comenta quais foram os passos para se chegar aos 40 anos de consolidação no mercado. “O DNA da Lifemed sempre foi alicerçado pela pesquisa, desenvolvimento e inovação. Há mais de 20 anos, dividimos o desenvolvimento dos equipamentos com a área acadêmica (Universidades), com a área assistencial (Hospitais) e com a Engenharia Clínica.” Revista do Câncer

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Entrevista

Dr. Guilherme Cayres Mariotti

C창ncer de pr처stata:

Novas perspectivas no diagn처stico radiologista intervencionista, explica estudo realizado por especialistas do Hospital Israelita Albert Einstein 14

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Qual a importância desse estudo?

precisariam de fato ser operados ou tratados agressivamente o quanto antes.

Dr. Guilherme - O câncer de próstaComo foi feito o estudo? ta é muito frequente. É a primeira causa de cânceres em homens (excluindo-se os cânceres de pele), sendo diagnosticados Dr. Guilherme - Tivemos um trabalho na população brasileira mais de 60 mil capioneiro neste contexto, pela possibilidasos ao ano. Também é o segundo câncer de de ser o centro a realizar a primeira que mais provoca mortes, mantendo índibiópsia com fusão de imagens de ressoces de mais de 13 mil mortes ao ano no nância magnética multiparamétrica com Brasil. Trata-se, portanto, de uma doença o ultrassom transretal da próstata no cujos métodos diagnósticos e terapêutiBrasil em agosto de 2013 e desde então cos ainda não foram capazes de controláter iniciado uma linha de pesquisa que -la. Ademais, é uma doença traiçoeira já culminou recentemente com o reconhecique constitui um grupo heterogêneo de mento da comunidade científica através manifestações, podendo se demonstrar de um artigo publicado em uma revista de uma maneira lenta ou agressiva, e médica européia de grande impacto. No esse comportamento também tem sido nosso estudo, comparamos os mesmos mais conhecido recentemente. 100 pacientes submetidos à nova biópsia com fusão do ultrassom com a ressonânComo é feito o diagnóstico hoje em cia e ao método randômico convencional, dia? e a taxa de detecção tumoral subiu de 56% para 62% com a nova técnica. Mais Dr. Guilherme - É usual o rastreamenque isso, um em cada 10 pacientes subto através de toque retal e dosagem sanmetidos apenas à biópsia convencional guínea de PSA. Havendo alguma suspeitinha um câncer agressivo não diagnostita, o paciente é encaminhado à biópsia cado que, no entanto, o novo método foi convencional de próstata através da qual capaz de detectar, o que consideramos se obtém cerca de 12 fragmentos de forum resultado bastante expressivo. Além ma não dirigida (aleatória por regiões), disso, aqueles pacientes diagnosticados uma técnica descrita há mais de 25 anos. apenas com tumores indolentes, pudeFazendo um paralelo, é como se examiram ser encaminhados para um acompanássemos uma mama e retirássemos nhamento não-invasivo com segurança. diversos fragmentos aleatórios tentando Acreditamos, assim, que a técnica venha acertar um eventual tumor. Este método a inovar o diagnóstico e o tratamento do resulta em numerosas lesões pequenas câncer de próstata, entregando tranquilicom baixa agressividade, podendo chedade aos urologistas e seus pacientes na gar a 50%, casos indolentes que podeescolha de um tratamento personalizado riam ser elegíveis a um acompanhamen(apenas acompanhamento ou cirurgia) e to não-invasivo, também chamado de muito possivelmente impactando na revigilância ativa ou "active surveillance", já dução da mortalidade decorrente desta que não provocarão metástases ou morenfermidade. te. Por outro lado, são preocupantes os altos índices de biópsias falso-negativas, tumores agressivos não detectados, po- A técnica tem algum impacto para o padendo chegar a 40% das biópsias, e que ciente? Revista do Câncer

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Entrevista Dr. Guilherme - O tempo do exame diagnóstico já pode se tornar uma reaé cerca de 5 minutos a mais do método lidade para os pacientes? tradicional, totalizando entre 15 e 20 minutos de procedimento. Possíveis desconDr. Guilherme - A biópsia prostátifortos e riscos decorrentes do novo méca combinada com fusão de imagens já todo são os mesmos do método antigo, é uma realidade no Brasil e no mundo. como, por exemplo, sangramento e infecDesde 2013 foi exponencial a divulgações, não havendo dados que demonsção desta técnica em artigos e encontros trem um aumento de sua incidência com científicos. Hoje em dia, no nosso hosa obtenção destes fragmentos adicionais, pital, cerca de 70% das biópsias já são sendo, portanto, justificável a obtenção realizadas pela nova técnica. E estamos destes. Nós mesmos aqui no Einstein já confiantes de que este será o padrão de fizemos um levantamento com 648 paatendimento no futuro próximo. Recencientes submetidos ao novo método e temente, a ressonância magnética tam319 pacientes com método tradicional e bém tem se demonstrado um potencial não houve diferença estatística entre as teste de triagem para câncer de próstata taxas de complicações. O sangramento em pacientes com PSA elevado, evitanna urina, fezes ou ejaculação é frequente do biópsias desnecessárias ou repetidas. e esperado (65 a 90% dos pacientes) e Uma biópsia assertiva minimiza custos, pode durar de poucos dias (na urina/feriscos e ansiedade do paciente. Protocozes) até algumas semanas (ejaculação). los de ressonância magnética reduzidos O risco de septicemia (infecção) com hose até sem o uso de contraste tem sido espitalização é raro (menos de 1%) e tamtudados a fim de reduzir o valor do exame bém não é influenciado pela nova técnica. e propagá-lo na população ao máximo. As providências e cautelas são tomadas Testes como o toque retal podem um dia a fim de minimizar os riscos, a exemplo até serem retirados da prática clínica. A dos antibióticos que são tomados antes e possibilidade de se localizar precisamenapós o procedimento, conforme protocolo te tumores prostáticos também abre posestabelecido. sibilidades de terapias ablativas focadas, promissoras alternativas minimamente Quais os próximos passos? A técnica invasivas no tratamento do câncer prostácombinada com fusão de imagens no tico. Fonte: Hosp. Israelita Albert Einstein

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A.C. Camargo Canc

65 anos dedicados ao diagnós ensino e pesquisa do

Uma história de luta pela vida

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A.C. Camargo Cancer Center comemora 65 anos de atividades, oferecendo assistência de alta complexidade, integrada, humanizada e centrada nas necessidades e segurança dos pacientes, sejam eles provenientes do sistema de saúde privado ou do Sistema Único de Saúde (SUS). A instituição, privada e sem fins lu18

crativos, é mantida pela Fundação Antonio Prudente. Em 2017, realizou 3,8 milhões de atendimentos, sendo 60,6% dos ambulatoriais dedicados aos pacientes do SUS. Responsável pela formação de mais de mil especialistas e residentes, além de mais de 600 mestres e doutores, o A.C.Camargo é considerado o mais importante centro de ensino em oncologia no País.

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cer Center

stico, tratamento, o câncer Cientistas, equipes médicas e de profissionais da saúde atuam em colaboração para ampliar o conhecimento sobre o câncer e obter novas alternativas para melhor tratar e reabilitar os pacientes. No último ano, 182 artigos científicos foram publicados em periódicos internacionais indexados, gerando descobertas que podem representar avanços significativos no tratamento, diagnóstico e prevenção da doença. A prática assistencial está embasada em evidência clínico-científica, que aliada à casuística e à atuação integrada de equipes multidisciplinares altamente especiali-

zadas, possibilita oferecer a melhor e mais efetiva conduta terapêutica a cada paciente. Atualmente conta com mais de 5 mil profissionais engajados no propósito de combater o câncer, paciente a paciente. Com aproximadamente 16 mil novos pacientes a cada ano, o A.C.Camargo Cancer Center foi pioneiro no modelo que une pesquisa, ensino e assistência em câncer no mesmo ambiente, e agora consolida o formato, conhecido internacionalmente como Cancer Center, no país com a expansão da sua atuação.

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Instituição inaugura o Centro

de Referência Integrado para Tumores de Mama Ginecológicos e de Pele

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té o final deste ano, o A.C.Camargo inicia as atividades de uma nova unidade, na Rua Pires da Mota, localizada próxima da matriz, inaugurada há 65 anos no bairro da Liberdade, em São Paulo. O modelo faz parte da estratégia da instituição em segmentar os atendimentos de acordo com o tipo de tumor, integrando a linha de cuidado e a assistência multidisciplinar às necessidades de cada paciente, o que traz benefícios significativos ao tratamento personalizado. Esta atuação integrada, prática já consolidada no A.C.Camargo no tratamento do câncer, permite aplicar o conhecimento gerado na pesquisa científica e integrá-lo aos protocolos clínicos de diagnóstico, tratamento e reabilitação, com custo-efetividade e melhores índices de cura e de qualidade de vida.

reuniões do tumor board que determinam a conduta terapêutica mais adequada para cada paciente, resultado de uma decisão conjunta, personalizada e sustentada por evidência científica. Estas discussões de casos são feitas por um grupo multiprofissional de especialistas: cirurgiões oncológicos, oncologistas clínicos, radioterapeutas, patologistas, enfermeiros, nutricionistas e pesquisadores. Posteriormente, o conceito será reproduzido com a implantação de outros centros de referência por tumores: urológicos, gastrointestinais, de cabeça e pescoço, pulmão, sarcomas, onco-hematológicos, neurológicos, infantis e raros.

“O modelo Cancer Center é uma evolução no tratamento do paciente oncológico. São fatores-chave para atingir maior eficácia do tratamento e o avanço do conhecimento sobre a doença: a especialização na oncologia, a integração de superespecialistas e a prática da medicina baseada em ciência; os processos e tecnologias A nova unidade ficará em um edifí- orientados para a segurança e conforto do cio com 20 andares e mais de 12 mil m² e paciente. Tudo isso resulta em maior eficiserá dedicada a pacientes com tumores de ência em todas as etapas do atendimento”, mama, ginecológicos e de pele, inclusive observa Vivien Navarro Rosso, Superintenmelanoma. Na rotina assistencial haverá dente Geral da instituição.

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Arquitetura funcional e design dos espaços A unidade Pires da Mota foi desenhada a partir do conceito healing spaces, em tradução livre “espaços que curam”. Isso significa que ela foi pensada para humanizar o atendimento desde a recepção até os leitos, os consultórios, as salas de espera e a recepção. A arquitetura valoriza a iluminação natural garantindo o bem-estar dos pacientes.

Investimento e infraestrutura A unidade Pires da Mota recebeu um investimento de aproximadamente R$ 120 milhões. As novas instalações oferecem a mais avançada tecnologia, com destaque para: • Centro de Diagnósticos com serviço da coleta de análises clínicas e equipamentos de última geração para ressonância magnética, tomografia, mamografia, densitometria, ecocardiografia, ultrasso-

nografia, dermatoscopia, entre outros; • 75 consultórios para acomodar os pacientes nas especialidades de cirurgia oncológica, oncologia clínica e radioterapia, além de especialistas multidisciplinares que atuam na assistência integrada do paciente, como cardiologistas, endocrinologistas, psicólogos, fisioterapeutas, nutricionistas e outros; • Serviço de Anatomia Patológica integrado a todas as etapas do cuidado, permitindo a entrega de resultados críticos no menor tempo possível; • Centro de quimioterapia, com 30 estações de aplicação privativas; • Centro Cirúrgico Ambulatorial com nove salas voltadas à cirurgias em pacientes de baixo risco anestésico e cirúrgico, que é maioria dos casos diagnosticados precocemente (estádios I e II), com 18 leitos para recuperação; • Espaços de convivência para os pacientes e familiares, com cabelereiro e sessões de orientação e reabilitação psicossocial

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Destaques do A.C.Camargo •Cerca de 16 mil novos pacientes a cada ano. •Mais de 3,8 milhões de atendimentos em 2017, oferecendo diagnóstico, tratamento e acompanhamento de pacientes dos sistemas privado de saúde e do SUS. •Mais de 1.300 oncologistas formados ao longo de seis décadas, atuantes em diversas partes do Brasil e do mundo. •Mais de 600 mestres e doutores formados pelo em duas décadas. •Mais de 5 mil profissionais – 700 médicos e especialistas multidisciplinares, 270 residentes, 238 mestrandos e doutorandos. •Biobanco com mais de 70 mil amostras no Banco de Tumores e 20 mil no de Macromoléculas. •Principal contribuição científica internacional do país, com mais de 180 artigos científicos publicados anualmente em periódicos indexados. •Dezenas de estudos clínicos em prática, avaliando novos medicamentos e terapias. •Sister Institution do MD Anderson Cancer Center desde 2007, com intercâmbio de experiências e conhecimento científico em uma rede integrada por mais de 50 instituições oncológicas internacionais.

Colaborações internacionais de pesquisa (algumas instituições): - Universidade da Califórnia em Davis (EUA) - InternationalPreventionResearchInstitute (França) - University Health Network (Canadá) - Queen’sUniversity (Canadá) - Ohio StateUniversity (EUA) - Universityof Melbourne (Austrália) - MD Anderson Cancer Center (EUA) •

Certificação Qmentum International – Diamante, pelo Canadian Councilon Health Services Accreditation, atestando melhoria constante na qualidade dos serviços.

Saiba mais sobre o câncer De acordo com as estimativas 2016-2017 do Instituto Nacional de Câncer (Inca), aproximadamente 600 mil novos casos de câncer são diagnosticados anualmente no país. Entre as mulheres, 58 mil receberiam o diagnóstico de câncer de mama e 29 mil casos dos principais tumores ginecológicos (colo do útero, endométrio e ovário). Tumores de pele não-melanoma acometem 175 mil homens e mulheres e o melanoma quase 6 mil. 22

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Matéria de Capa

Fez do A.C.Camargo o principal centro de ensino, ciência e assistência ao câncer no País

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ientista e mais premiado pesquisador de câncer no Brasil, Ricardo Brentani assumiu a condução do hospital em 1990, a convite do presidente do A.C.Camargo José Ermírio de Moraes Filho e de Dona Carmen Prudente, fundadora da instituição nos anos 1950. Em 21 anos promoveu uma revolução no A.C.Camargo, formando inúmeros cientistas e médicos que mudaram a história do câncer no Brasil, além de inseri-lo no cenário mundial da pesquisa oncológica e da genômica. Orgulhava-se em dizer que "este hospital alcançou índices de sucesso no tratamento do câncer só comparáveis aos dos principais centros oncológicos internacionais".

Dr Ricardo Brentani

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Presente na vida acadêmica e científica internacional desde o início dos anos 1960, Brentani com apenas 25 anos de idade assinou um artigo na prestigiosa revista Nature, introduziu no Brasil os estudos sobre o RNA e publicou cerca de 300 estudos nas principais revistas do mundo. Foi o primeiro Professor Titular de Oncologia da Faculdade de Medicina da USP, cadeira que criou em 1980 e dirigiu até 2007, quando se tornou Professor Emérito da instituição. Foi diretor do Instituto Ludwig de Pesquisa sobre o Câncer e presidiu também a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), sua última atividade profissional antes de falecer em 2011.

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Mulher de destaque na luta da humanidade contra o câncer

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Carmen Annes Dias

armen Annes Dias trabalhava como secretária do pai, Heitor Annes Dias, no Rio de Janeiro. Também atuava como jornalista para "A Gazeta", dos Diários Associados, de Assis Chateaubriand. Em uma viagem com o pai, a Berlim em 1938, conheceu o médico Antonio Prudente Meirelles de Moraes. Casaram-se dois meses depois. Em São Paulo, o casal Prudente foi morar numa casa na Rua Rodrigues Alves, no Paraíso (SP). Casada, Carmen mudou de patrão. De secretária do pai, passou a auxiliar do marido e juntos fundaram, em 1953, o A.C.Camargo. Ela escreveu 15 livros e cruzou os cinco continentes. Em todo lugar que fosse, proferia palestras perante auditórios categorizados de congressos, sociedades e organizações assistenciais sobre os feitos da Rede Feminina de Combate ao Câncer no Brasil. E todas as edições tinham renda revertida para as obras assistenciais do hospital. Reconhecida internacionalmente por seu trabalho, Carmen recebeu em 1980, na Itália, o Prêmio Saint-Vincent de a "Mulher do Ano". Morreu em 3 de junho de 2001 e desde 2003 nomeia um Complexo Ambulatorial do A.C.Camargo especialmente voltado às mulheres em tratamento de tumores de mama e ginecológicos. “O Sonho de Carmen – Como a Sociedade Ajudou a Transformar a História do Câncer no Brasil" é o nome do livro que conta a sua trajetória corajosa no A.C.Camargo e como conseguiu mudar a história do câncer no Brasil. O livro foi lançado em 2015 pelo escritor Eduardo Bueno, que traçou também um importante retrato do papel das instituições que fizeram diferença no combate à doença no País. Revista do Câncer

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Como equilibrar tecnologia e humanismo

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s avanços tecnológicos vêm contribuindo para aumentar a expectativa de vida dos pacientes. Além da tecnologia facilitar o trabalho médico, reforça os cuidados com a qualidade de vida e a autoestima do paciente. Uma das principais inovações utilizada há cinco anos no A.C.Camargo é a cirurgia robótica no tratamento de diferentes tumores, inclusive infantis. A cirurgia robótica para o tratamento do câncer reduz mutilações, traz mais conforto e tem eficácia equivalente à cirurgia aberta. Esta é uma das constatações dos especialistas do A.C.Camargo Cancer Center, que já alcançou a marca de duas mil cirurgias realizadas em cinco anos, com a diversidade de aplicação como diferencial: “Podemos aplicar a cirurgia robótica em pacientes com tumores diversos, inclusive em situações em que não era possível realizar uma cirurgia”, diz o coordenador do Programa de Cirurgia Robótica da Instituição, o cirurgião oncológico Stenio Zequi. É o caso de cirurgias de cabeça e pes26

coço, área em que o A.C.Camargo é pioneiro na América Latina e referência mundial. “Podemos alcançar tumores alojados sob o crânio e regiões antes inatingíveis. E realizar cirurgias de tiroide sem deixar as conhecidas cicatrizes visíveis no pescoço, pois os cortes são feitos na região do couro cabeludo”, diz o cirurgião oncológico Renan Bezerra Lira. Em tumores de cólon, “é melhor alternativa para pacientes com sobrepeso de ambos os sexos e para os homens em geral", explica Samuel Aguiar Jr, cirurgião oncológico. Na pediatria o A.C.Camargo é também pioneiro no Brasil: “Fizemos a retirada da próstata em um pequenino e a extração de parte do rim (nefrectomia parcial) em uma menina, técnicas já aplicadas com igual sucesso em adultos", conta a cirurgiã Maria Lúcia Pinho. Além de tempo reduzido de internação, há menos efeitos adversos tanto em crianças como em adultos. Entre as duas mil cirurgias robóticas realizadas exclusivamente em pacientes com câncer, as mais frequentes são próstata, coloprocto, cabeça e pescoço e ginecologicas.

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Cirurgias robóticas realizadas no A.C. Camargo Departamento 2013

2014

2015

2016

2017

2018

Total

2

12

20

33

40

18

125

62

230

358

377

360

Cab. e Pescoço

0

4

36

33

35

19

127

Abdômen

0

5

5

5

14

1

30

Onco Cutânea

0

1

1

0

0

0

2

Coloprocto

3

22

38

38

26

12

139

Tórax

0

0

3

9

2

3

17

Pediatria

0

0

0

0

2

2

4

Ginecologia Urologia

166 1553

TOTAL

1997

Escola de Patologia Oncológica

Avançada Humberto Torloni

E

m homenagem ao médico que ajudou a criar as bases institucionais e conceituais da oncologia no Brasil, a escola recebeu o seu nome. O humanista Dr. Humberto Torloni faleceu em 2017, com 90 anos, e desempenhou importante papel ao dirigir a equipe de patologia do hospital.

logia diagnóstica e investigativa.

A EPOAHT busca oferecer ao patologista acompanhamento científico e atualização técnica na área, capacitando-o a emitir laudos com informações precisas e únicas de acordo com cada tipo de tumor. Além disso, qualifica os pesquisadores a conhecer as particularidades e diferenças de cada doença para que possam fazer a A Escola de Patologia Oncológica pergunta correta. Avançada Humberto Torloni (EPOAHT) foi criada em 2014 com o objetivo de oferecer A escola Humberto Torloni mantém a patologistas, pesquisadores, professores, diversas modalidades de educação contiestudantes de pós-graduação, médicos re- nuada, abrangendo a patologia diagnóstica sidentes a atualização necessária em pato- e investigativa. Revista do Câncer

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Evento

3º Next Frontiers To Cure Cancer Ciência e Inovação no combate ao câncer

A

cidade de São Paulo foi palco da terceira edição do congresso internacional Next Frontiers to Cure Cancer, que teve como tema central “Ciência e inovação, paciente a paciente”. O evento, organizado pelo A.C.Camargo Cancer Center, um dos mais importantes centros especializados e integrados de diagnóstico, tratamento, ensino e pesquisa do câncer e referência internacional de oncologia, reuniu mais de 200 especialistas do Brasil e exterior para discutir a evolução e as inovações em dez áreas-chave. As palestras internacionais foram 30

conduzidas por renomados doutores do National Cancer Institute (NCI), MD Anderson Cancer Center, Memorial Sloan Kettering Cancer Center, University of Chicago e Princess Margaret Cancer Center. O congresso, realizado de 10 a 12 de maio no WTC Events Center, contou com cerca de 1,7 mil participantes, entre estudantes e profissionais de saúde. A programação multidisciplinar foi distribuída em oito salas simultâneas, com discussões sobre tumores cutâneos e de cabeça e pescoço, ciência básica e translacional, oncogenética, onco-hematologia, tu-

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mores do pulmão, imunoterapia, tumores pediátricos, estomatologia, fonoaudiologia, tumores da base do crânio, comunicação e manejo do estresse entre os profissionais que cuidam do pacientes e inovações tecnológicas na oncologia.

do diagnóstico à reabilitação (veja quadro). Essa nova atividade permitiu que os profissionais da área científica tivessem uma importante aproximação e vivência com os pacientes convidados.

Paralelamente ao congresso, ocorreu a XXV edição da Jornada de Patologia, que abordou tumores de cabeça e pescoço, reunindo cerca de 300 profissionais da área. Para esse tema, o A.C.Camargo inovou ao criar o Fórum de Pacientes, em que foram debatidos os principais temas do dia a dia,

Pela primeira vez, o evento contou também com sessões organizadas pela Academia Americana de Pesquisa do Câncer (American Academy for Cancer Research) e um web conference entre países da América Latina organizada pela União Internacional de Combate ao Câncer (UICC).

Tratamento de câncer segue o foco do paciente

T

ão importante quanto conhecer a doença e sua evolução, bem como as possibilidades de tratamento e conse-quências, é permitir que o paciente possa decidir qual caminho está disposto a seguir, direcionando para a sua vida o método terapêutico que considera mais confortável. A meta é oferecer um tratamento equilibrado. A pessoa que já está fora de risco, não passará por um supertratamento. No entanto, há momentos em que há necessidade de procedimentos mais agressivos, levando o paciente a receber doses mais altas de medicação. Quando exposto a isso, poderá sofrer efeitos colaterais, que precisam ser inibidos o máximo possível. O passo seguinte é sua reabilitação. “A A.C. Camargo reabilita o paciente e o coloca novamente na sociedade”, conta a cientista e superintendente de Pesquisa da instituição, Dra. Vilma Regina Martins. A doutora destaca o método de cuidado paliativo, que vai acompanhar o pa-

ciente já no início de seu tratamento para que ele se sinta confortável e sem dor. Por meio de atendimento psicológico, o paciente se fortalece para dar continuidade a sua rotina, conviver com a família, praticar atividade física, entre outras ações, que possam melhorar sua condição geral. “Se os cuidados paliativos forem bem feitos, os pacientes sobrevivem mais, porque vão estar atentos a outras coisas, como cuidar da alimentação, da aparência e não se isolar da vida em sociedade”, conclui a médica. Segundo ela, existe um preconceito sobre cuidados paliativos. Entende-se que esse método é aplicado quando nada mais se pode fazer pelo paciente. “Isso não é verdade”, adverte. Pallium vem do latim e quer dizer manto, cobertor. Portanto, cuidados paliativos são os preparos de proteção que melhoram a qualidade de vida dos pacientes de tratar o sofrimento que a doença pode trazer, além de orientar também os seus familiares. O tratamento de câncer evoluiu. Antigamente, escondia-se da pessoa doente a

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Evento sua verdadeira enfermidade, antes pronunciada como “aquela doença”. Hoje, existe uma interação mais efetiva entre médico e paciente, e também familiares, que busca esclarecer todas as dúvidas sobre a patologia, do início ao final do tratamento. “Queremos que nosso paciente se aproprie desse conhecimento. Percebemos que ele está aberto para isso e mostra interesse, inclusive, em participar de novos estudos clínicos, inscrevendo-se voluntariamente nos sites das instituições”, explica Dra. Vilma.

Procedimentos inovadores e imunoterapia revolucionam o tratamento de câncer Temas que estão na fronteira do conhecimento e na comunidade científica foram amplamente debatidos no 3ª Next Frontiers to Cure Cancer. A superintendente de Pesquisa do A.C.Camargo, Dra. Vilma, destaca a biópsia líquida. “O procedimento, que está praticamente aceito para alguns tipos de tumor, permite acompanhar a resposta do paciente ao tratamento por meio do sangue, da urina, enfim, de líquidos do corpo em que se pode obter o DNA do tumor circulando”, explica. Segundo a médica, quando o paciente faz uma cirurgia e passa por uma quimioterapia, é possível saber se ele está respondendo a esse DNA circulante ou se começa a ficar resistente e seu organismo não reage como o esperado. “A sensibilidade da biópsia líquida é muito maior do que os exames de imagem, que são feitos somente depois de três a quatro meses de um procedimento finalizado para saber se o tumor regrediu ou não. Já com o DNA circulante é possível detectar isso 32

Dra. Vilma Regina Martins, cientista e superintendente de pesquisa do A.C.Camargo Cancer Center

com apenas dois meses de tratamento. Se o paciente estiver com a doença resistente, é possível interferir no cuidado com mais rapidez e assertividade”, afirma. A imunoterapia foi outra grande novidade apresentada no congresso. Para falar sobre estudos clínicos relacionados ao tema, organizadores do evento trouxeram a Sociedade Americana de Câncer (American Cancer Society – ACS). A palestra de abertura do Next Frontiers destacou a relação entre microbiota (flora, microflora ou microbioma), o câncer e o sistema imune. “Somos um meta organismo, ou seja, 90% de nosso corpo corresponde a genes microbianos, células e bactérias,” informa a cientista Dra. Vilma.

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Estimativas indicam que há 10 vezes mais micróbios em nossos corpos do que nossas próprias células. O câncer, assim como outras doenças, tem muita relação com microbioma. Algumas bactérias que produzem carcinogênico, ou são carcinógenas, iniciam o processo tumoral, enquanto outras modificam o sistema imune. “Dependendo do tipo de bactéria que o organismo tem, o sistema imune pode estar ativado de formas diferentes, podendo responder melhor ou pior à imunoterapia”, explica. “Estamos trazendo a microbiologia para o tratamento de

câncer. Trata-se de uma ciência que estava relativamente separada dessa patologia, mas que aponta quais os genes das bactérias são importantes para o metabolismo e para a atividade dos compostos que vão liberar para ativar o sistema imune.” Atualmente, várias indústrias pesquisam a efetividade de probióticos e como o paciente pode se alimentar para a medicação ser mais eficiente. Um exemplo de procedimento, barato e eficaz, é o transplante fecal de indivíduos sadios para os doentes. Isso porque mais da metade do material das fezes é composto por células microbianas.

Números do Next Frontiers to Cure Cancer 2018 •Reuniu cerca de 1,7 mil participantes (estudantes e profissionais de saúde) •Contou com mais de 200 especialistas do Brasil e exterior •Aproximadamente 300 trabalhos científicos foram inscritos •Apresentou 10 áreas-chave de oncologia •Manteve 8 salas simultâneas de discussões

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Evento

Centro de Excelência em Assistência e Pesquisa em Imunoterapia

C

om experiência de sete anos na utilização da imunoterapia e cerca de 400 pacientes tratados com novos medicamentos, o A.C.Camargo Cancer Center anunciou a estruturação de uma área voltada especificamente aos pacientes que podem se beneficiar do tratamento, considerado um novo pilar da oncologia ao lado da cirurgia, quimioterapia, medicamentos de alvo molecular e radioterapia. O Centro de Imunoterapia contará com uma equipe multiprofissional de cerca de 70 profissionais, incluindo oncologistas clínicos, patologistas, radiologistas, radioterapeutas, pneumologistas, dermatologistas, endocrinologistas, e equipes de atendimento crítico e de emergência, além de enfermeiros especialistas dedicados a esses pacientes. "Todos esses profissionais se reuniram para escrever os protocolos integrados de cuidado do paciente, baseados na mais recente evidência científica, que serão atualizados continuamente a cada novo conhecimento acumulado. Todos seguem a conduta definida em grupo", destaca Victor Piana, diretor médico do A.C.Camargo Cancer Center. Os enfermeiros dedicados serão responsáveis pelo acompanhamento individualizado de cada paciente durante toda a jornada. Eles vão direcionar agendamentos e acompanhar todas as necessidades decorrentes, assim como gerenciar os efeitos durante o tratamento. Os pacientes trata34

Victor Piana, diretor médico do A.C.Camargo Cancer Center dos no centro terão agendas dedicadas e encaminhamentos facilitados para agilizar o atendimento. As medicações utilizadas na imunoterapia estimulam melhor resposta imunológica do paciente. "A imunoterapia estimula o sistema de defesa do organismo a identificar as células cancerosas e atacá-las. O tratamento tem um nível diferente de complexidade", observa Milton Barros e Silva, oncologista clínico do A.C.Camargo. Diferentemente dos mecanismos de ação da quimioterapia e das terapias-alvo, que atacam as células tumorais diretamente, a imunoterapia atua fortalecendo o sistema imunológico.

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Evento Uma das grandes oportunidades é entender e tratar os efeitos colaterais desse tipo de tratamento, que podem ir desde questões dermatológicas simples até problemas pulmonares. "Já estamos habituados com os efeitos da quimioterapia: enjôo, náusea, queda de cabelo. Na imunoterapia é muito diferente e precisamos estar atentos para qualquer sintoma que o paciente possa apresentar para que não seja necessário interromper o tratamento. Por isso, a importância de uma equipe experiente e especialmente treinada para lidar com esses pacientes", afirma Rachel Riechelmann, líder do Departamento de Oncologia Clínica do A.C.Camargo. A imunoterapia é uma terapia que tem crescido como alternativa e em rápida evolução, sendo preciso compreender porque alguns pacientes respondem muito bem e outros não. "Ainda que tenha aumentado muito a gama de tumores onde há indicação de imunoterapia, há ainda tumores onde este tratamento não funciona", lembra Solange Sanches, oncologista clínica especializada em tumores de mama do

Solange Sanches, oncologista clínica especializada em tumores de mama do A.C.Camargo. 36

Rachel Riechelmann, líder do Departamento de Oncologia Clínica do A.C.Camargo.

A.C.Camargo. "Pesquisas tem focado em entender porque pacientes com câncer de mama, por exemplo, não experimentam benefícios da imunoterapia", completa. Para que os resultados sejam positivos é preciso estratificar os pacientes que respondem melhor às terapias moleculares alvo e também à imunoterapia. Isso é feito por meio do trabalho de identificação de biomarcadores preditivos de resposta ao tratamento. Para obter resultados precisos desses testes complementares de análise de resposta é necessário monitoramento da qualidade das biópsias e peças cirúrgicas dos pacientes desde o momento em que elas foram retiradas. No A.C. Camargo, o Departamento de Anatomia Patológica utiliza instrumentos que possibilitam um preciso diagnóstico morfológico, molecular e de identificação desses fatores preditivos, auxiliando o médico no planejamento do tratamento do paciente. Os laboratórios de imunoistoquími-

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ca e biologia molecular, por exemplo, são preparados para realizar os principais painéis para o diagnóstico preciso do câncer, identificando os marcadores que mostram o valor prognóstico e preditivo de resposta aos tratamentos.

falta dela em relação à imunoterapia e à quimioterapia. Os resultados dessas pesquisas permitirão uma prática clínica mais individualizada para cada paciente, com avaliação antes e durante o tratamento da resposta de cada um.

Outro aspecto importante, também implementado no centro de imunoterapia, é a correta avaliação de resposta através dos exames de imagem. Diferente do esperado com tratamentos convencionais, como a quimioterapia, eventualmente, pode haver crescimento inicial dos tumores antes da sua diminuição. Uma equipe de radiologistas com certificação internacional para esta avaliação atuará nos exames desses pacientes para obtenção de resultados mais precisos.

O A.C.Camargo Cancer Center é a primeira instituição na América Latina a ter um Citômetro de Fluxo Digital com capacidade de ler de 30-50 parâmetros. O equipamento conta com um separador de células capaz de purificar populações e células individuais de interesse. A tecnologia é utilizada no M.D. Anderson Cancer Center, no Texas, e no Centro de Imunotecnologia do National Institute of Health, o ministério da Saúde norte-americano, para descobrir novos aspectos do sistema imune em doenças infecciosas e câncer. A aquisição e o domínio do uso do equipamento posicionam o A.C. Camargo como Centro Internacional de Excelência em Citometria de Fluxo. Seu uso será integrado entre as linhas de assistência, pesquisa e ensino.

"Dessa forma, a principal diferença na avaliação da resposta terapêutica de pacientes submetidos à imunoterapia está na forma de interpretação da progressão da doença. A percepção inicial, eventualmente, pode ser confirmada com novos exames ao longo do tratamento", explica Milton Barros. Pesquisa: grupo de Imuno-Oncologia e a Citometria de FluxoEm 2017 o A.C.Camargo Cancer Center estabeleceu o grupo de Imuno-Oncologia Translacional, liderado pelo imunologista norte-americano Kenneth Gollob, do qual também faz parte o oncologista clínico Vladmir Lima. O grupo atua na busca por novos tratamentos imunomoduladores e terapias combinadas para melhorar a resposta do paciente à imunoterapia, bem como identificar aqueles que mais se beneficiarão do tratamento. Essa área de pesquisa contará com um Citômetro de Fluxo de última geração, que irá auxiliar na identificação de moléculas e vias envolvidas na resposta ou

Ensino: programa de pós-graduação fomentará projetos na área O programa de pós-graduação em oncologia também será alavancado pelas pesquisas realizadas nessa área, o que contribuirá para a excelência no desenvolvimento científico de novos profissionais.

Fonte: Assessoria de Imprensa A.C.Camargo Cancer Center

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Evento

Congresso recebe o dobro de inscrições

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Next Frontiers to Cure Cancer recebeu este ano quase 300 resumos de trabalhos científicos de alunos de Medicina e áreas correlatas, o dobro de inscritos em relação a 2017. O grupo de pesquisadores do A. C. Camargo selecionaram 20 pôsteres. Desses, a superintendência de pesquisa de ensino e a diretoria médica da instituição elegeram os quatro melhores grupos de estudantes para serem premiados com dinheiro: dois do A.C Camargo, um da Fiocruz (RJ) e outro da Medicina USP (Ribeirão Preto). As equipes vencedoras foram reveladas na abertura do evento “Não cobramos inscrição das equipes que fazem os resumos porque queremos que conheçam e atuem em nossa instituição. Esse público das universidades é muito bem-vindo ao curso de pós-graduação da A.C. Camargo”, conta Dra. Vilma.

10 anos atrás, preparávamos para o mercado 60% dos oncologistas do Brasil”, fala a médica. “No entanto, mesmo com outras entidades que se destacam no tratamento de câncer, a A.C. Camargo continua sendo uma das principais referências para esses residentes”, conclui.

Notas dos Laboratórios Novo tratamento para câncer de mama inicial A ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) aprovou, em fevereiro de 2018, o uso do medicamento Perjeta® (pertuzumabe), da Roche Farma Brasil, empresa líder em biotecnologia, como tratamento adjuvante (após cirurgia) em casos de câncer de mama inicial HER2+. O aval da agência se baseia nos resultados do estudo de fase III APHINITY que comprovaram eficácia e segurança da droga combinada com o Herceptin® (trastuzumabe) e quimioterapia. Com base nos dados disponíveis no momento da análise primária, uma estimativa de sobrevida livre de doença invasiva (iDFS), em três anos, mostrou que 94,1% das pessoas tratadas com a nova combinação terapêutica não apresentaram sinais de recidiva do câncer de mama, demonstrando a eficácia do tratamento a longo prazo.

O hospital está comprometido com a formação de pessoas. Quando foi fundado, o A.C. Camargo já implantou a residência médica em oncologia. A instituição mantém cerca de 300 residentes, entre médicos e multiprofissionais (farmacêuticos, psicólogos, fonoaudiólogos, nutricionistas e outros profissionais de apoio). Por ano, recebe 100 residentes (80 médicos e 20 multiprofissionais) de todo o Brasil, cuja residência é cumprida de dois a três anos. A notícia traz uma inédita perspectiva Desse total de profissionais, cerca de 10 a 15% são convidados a permanecer na ins- de tratamento, em um momento no qual tituição. “Até agora, já formamos aproxima- o INCA (Instituto Nacional do Câncer) estidamente 1.300 residentes, sendo que, até mou para o Brasil mais de 59.700 casos 38

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novos de câncer de mama, para cada ano HER2 positivo em estágio inicial antes da do biênio 2018-2019, com um risco esti- cirurgia (neoadjuvância) e metastático ainmado de 56,33 casos a cada 100 mil. O da não tratado. câncer HER2+ é responsável por cerca de 20% dos diagnósticos e conhecido como Takeda tem registro aprovado um dos cânceres que tendem a crescer e de medicamento para se disseminar mais rapidamente do que os mieloma múltiplo outros tipos de tumores de mama. Em termos globais, excluindo-se os cânceres não melanoma, os tumores na mama constituem-se como os mais frequentes e comuns entre as pacientes do sexo feminino, sendo a primeira causa de morte por câncer entre as mulheres. “O tratamento adjuvante contribui para que cada mulher diagnosticada com a patologia no começo tenha maior chance de cura. O objetivo da combinação terapêutica é diminuir a possibilidade de a doença voltar ou evoluir para metástase, quando o tumor atinge outros órgãos além da mama", disse Lenio Alvarenga diretor médico da Roche. O estudo APHINITY reforça o uso do Perjeta® (pertuzumabe) como parte de uma abordagem terapêutica completa para o câncer de mama inicial – sobretudo em perfis mais agressivos da doença. O tratamento com Perjeta® (pertuzumabe) em combinação com Herceptin® (trastuzumabe), mais quimioterapia com docetaxel, também está aprovado nos EUA e União Europeia para pessoas com câncer de mama

A companhia Takeda, uma das 15 maiores farmacêuticas do mundo, comercializa no Brasil o medicamento Ninlaro® (ixazomibe), primeiro inibidor de proteassoma oral usado em combinação com lenalidomida e dexametasona em pacientes com mieloma múltiplo, que já receberam pelo menos um tratamento anterior. O mieloma múltiplo, apesar de raro, é considerado o segundo tipo de câncer de sangue mais frequente na população e estima-se que cerca de 7.600 brasileiros recebam o diagnóstico da doença por ano. Com uma maior prevalência entre os 60 e 65 anos, é um câncer dos plasmócitos (células produtoras de anticorpos) da medula óssea. Os efeitos da proliferação desordenada dessas células incluem redução na produção de células sanguíneas e dano ao osso circundante. No mundo, quase 230 mil pessoas convivem com a doença, de acordo com a International Agency for Research on Cancer (IARC). Seus principais sintomas e sinais incluem fadiga, anemia, dores ósseas e insuficiência renal.

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Mercado

Hospital Santa Paula

investe R$ 11 milhões em oncologia O Hospital Santa Paula, referência em alta complexidade na zona sul de São Paulo, está investindo na expansão do Instituto de Oncologia Santa Paula (IOSP).

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ala destinada a quimioterapia aumentou. “Nossa capacidade de atendimento praticamente dobrou, passando de 400 para 750 sessões/mês”, afirma George Schahin, presidente do Hospital Santa Paula. Para isso, o hospital investiu cerca de R$ 4 milhões em obras de infraestrutura para a abertura de um novo andar, inaugurado em janeiro, com mais pontos de atendimento, além da contratação de cinco profissionais. “O novo andar está equipado com mais 10 boxes, aumentando de 14 para 24 no total”, explica Schahin. A radioterapia receberá um upgrade com um novo software, que vai reduzir o tempo de cada sessão em 20%, proporcionando ganho em produtividade, redução no tempo de espera para agendamentos e comodidade aos pacientes. As novidades não param por aí. Para o segundo semestre, o Instituto investiu R$ 7 milhões em um novo acelerador, o Elekta VMAT, para radiocirurgia – radioterapia de alta precisão destinada ao tratamento de tumores e metástase cerebrais –, que completa 100% o tratamento integrado. Os novos serviços têm cobertura dos planos de saúde.

espaço dedicado ao tratamento de pacientes oncológicos. A parceria já realizou aproximadamente 20 mil tratamentos de quimioterapia e 75 mil consultas. O objetivo do Instituto, que faz parte do complexo hospitalar Santa Paula, é oferecer atendimento multidisciplinar por meio de tratamentos modernos aos pacientes acometidos pela doença. O HSP atua na área da oncologia desde 2000 e passou a contar em 2013 com um edifício exclusivo para esta especialidade. O IOSP está alinhado com o conceito de humanização hospitalar, oferecendo atendimento multidisciplinar em ambientes inspirados no modelo de instituições de saúde internacionais dedicadas ao tratamento integrado do câncer. O instituto também recebeu a Certificação AQUA-HQE de operação sustentável. Além disso, o IOSP foi um dos hospitais selecionados pela OncoRede em 2017 para propor iniciativas viáveis de cuidado aos pacientes com câncer. O projeto é uma iniciativa da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) que tem como objetivo reunir as melhores práticas do setor e replicar no mercado. O corpo clínico do IOSP é formado por oncologistas clínicos, onco-hematologistas, radioterapeutas, especialistas em saúde bucal e cirurgiões oncológiInstituto de Oncologia Santa Paula cos – todos dedicados ao planejamento do (IOSP) tratamento aos diversos tipos de câncer. Os pacientes contam ainda com enfermeiros, Em parceria com o Centro de Onco- psicólogos, fisioterapeutas, nutricionistas e logia do Hospital Sírio-Libanês, o Hospital esteticistas durante todo o período de traSanta Paula (HSP) inaugurou em 2013 o tamento. Instituto de Oncologia Santa Paula (IOSP), Fonte: IOHSP 40

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Oncoclínicas vai investir US$ 50 milhões em pesquisa

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Oncoclínicas, rede com cerca da 60 clínicas controlada pela gestora de private equity do Goldman Sachs, vai investir US$ 50 milhões (quase R$ 200 milhões) em pesquisa para tratamento do câncer entre este ano e 2022. A rede também tem como sócios o fundo Victoria e médicos que ajudaram a fundar a companhia. O investimento a ser feito, que equivale a R$ 40 milhões por ano, em média, até 2022, é considerado um projeto importante para os padrões brasileiros. O A.C. Camargo Câncer Center e o Hospital de Amor, atual denominação do Hospital do Câncer de Barretos, investiram R$ 17 milhões e R$ 12 milhões, respectivamente, em pesquisas no ano passado. "Para cada R$ 1 investido em pesquisa, temos um retorno de R$ 1,7. Esse retorno vem na forma de novos investimentos e tratamentos médicos eficazes", diz Rui Reis, diretor executivo de pesquisa do Hospital de Amor. Na Oncoclínicas, os estudos serão liderados por Carlos Gil, oncologista com passagens pela Rede D'Or e pelo Instituto Nacional do Câncer (Inca), órgão ligado ao Ministério da Saúde. O médico pretende criar, em cinco anos, um amplo banco de dados com o perfil epidemiológico dos pacientes da Oncoclínicas. A rede realiza 20 mil novas consultas oncológicas por ano, com pacientes de 11 Estados do país. É um volume maior que o realizado no Inca, que atende pacientes da rede pública, segundo Gil. Com essas informações, a indústria farmacêutica pode, por exemplo, desenvolver medicamentos de acordo com o perfil genético de determinado grupo de pessoas. A ideia é que, no futuro, outros hospitais, laboratórios, empresas farmacêuticas e a rede pública de saúde também possam

inserir informações nesse banco e usar os dados disponíveis para desenvolver medicamentos e ajudar os médicos a adotarem os tratamentos mais adequados. Gil avalia que a genômica, ramo da medicina que estuda as características genéticas das pessoas, é o caminho mais eficaz para os tratamentos de câncer. Mas, antes disso, é preciso traçar o perfil epidemiológico da população brasileira. "Hoje, nossa base são os pacientes caucasianos, ou seja, americanos e europeus. Mas, o câncer de colo de útero tem maior incidência no Brasil", afirma o oncologista. Outro ponto destacado pelo médico é que o Brasil não tem uma política definida sobre pesquisa de tratamento do câncer, com estudos feitos de forma descentralizada por diferentes instituições. Gil defende para o país um modelo que seja um misto da linha de pesquisa japonesa, mais focada na predisposição genética da população local para o câncer, e do modelo europeu, que dá muita importância ao controle de custos. A terceira linha de pesquisa oncológica existente no mundo é a americana, com foco na busca de novas tecnologias. O presidente da Oncoclínicas, Luiz Natel, considera a linha de pesquisa defendida por Gil a mais adequada para controlar os custos da saúde. "No Brasil, a maioria das pessoas descobre o câncer numa fase mais avançada, cujo custo é muito maior. O caminho é a prevenção e a medicina personalizada [genética]", disse Natel. No Brasil, o número de atendimentos oncológicos cresce entre 20% e 30% ao ano. A receita líquida da rede Oncoclínicas aumentou 33% para, R$ 792 milhões, no ano passado quando comparado com 2016. A rede conseguiu reverter o prejuízo de R$ 921 mil apurado em 2016, chegando a um lucro líquido de R$ 35,2 milhões.

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Mercado

Novos Centros de Distribuição da Expressa

Com a inauguração do novo Centro de Distribuição em Brasília, a Expressa avança em direção à excelência.

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om mais de 33 anos de experiência no mercado brasileiro, a Expressa Group sempre se notabilizou pela excelência na prestação de serviço, e por uma incessante busca por novos segmentos, soluções e produtos na área da saúde. Em maio deste ano a empresa inaugurou o seu novo Centro de Distribuição de Brasília, em um moderno condomínio logístico, coroando o extenso processo de modernização de seus CDs, que começou Segundo Ronaldo, além de uma esem 2017 com a inauguração do Centro de trutura ampla e organizada a partir das Distribuição de São Paulo. necessidades das atividades ali desempe“É notável o quanto evoluímos em nhadas, os novos CDs possuem sistema de relação à padronização, tecnologia e segu- controle biométrico, sistema de climatizarança em nossos CDs. Hoje podemos dizer, ção industrial e operação totalmente autosem sombra de dúvida, que não há nada matizada.

igual no nosso mercado. Recebemos visiOutros diferenciais destes novos CDs tas regulares de fornecedores, clientes e visão o monitoramento 24X7 (24 horas por gilância sanitária e o feedback é incrível! ” relata Ronaldo Farias, Gerente de Logística dia nos 7 dias da semana) da cadeia fria, via mobile, PC e, também, por uma empreda Expressa Group. sa remota, e a segurança que os condomínios de logística oferecem. Ronaldo também destaca a importância dos ciclos de treinamento constantes promovidos pela área de Garantia da Qualidade como um dos segredos do sucesso da empresa. Com os novos CDs de Brasília e São Paulo, a Expressa conseguiu ampliar a sua capacidade instalada em 100%. 42

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Libbs firma parcerias com Einstein e Bradesco

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om 10% do faturamento direcionado para pesquisa e desenvolvimento, inovação é uma das três principais prioridades da Libbs Farmacêutica. Premiada no último dia 04 de julho pela edição 2018 do prêmio Valor Inovação Brasil, do Valor Econômico, a empresa tem fomentado a cultura inovadora dentre os colaboradores e estimulado parcerias com startups, iniciativa que ganhará reforço, como nos recentes contratos firmados com a incubadora Eretz.bio, da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein, e com o inovaBra habitat, do Bradesco, com o qual já mantém desafios em curso. A parceria com o inovaBra habitat começou há poucos meses, quando a Libbs passou a ter um espaço de inovação colaborativa no espaço de co-inovação do Bradesco, tornando-se a primeira indústria farmacêutica presente. Lá, a Libbs lançou dois desafios a startups que também habitam o espaço. “Nosso objetivo é encontrar soluções para algumas questões de Recursos Humanos e acreditamos que esse olhar inovador das startups pode contribuir para seguirmos na busca pela inovação também nos nossos processos internos”, explica o presidente executivo da Libbs, Alcebíades Athayde Júnior. O inovaBra habitat conta com espaços integrados para troca de conhecimentos e experiências, além de laboratórios para ideação, prototipação e testes de conceitos. Empresas, startups, investidores, mentores e educadores têm a oportunidade de trabalharem juntos, gerar novos negócios e buscar solucuções inovadoras com base no networking e na colaboracões.

Alcebíades Athayde Júnior. presidente executivo da Libbs,

Já a parceria com a Eretz.bio, fechada em junho, permitirá à Libbs acesso e conexão a startups voltadas para a área da saúde. Com isso, a parceria busca encontrar soluções inovadoras com benefício direto aos pacientes e outros clientes, tais como equipes multidisciplinares que os atendem em clínicas e hospitais. Lançada em novembro de 2017, a incubadora do Einstein é um espaço dedicado ao incentivo do empreendedorismo como forma de transformar a saúde brasileira e oferecer infraestrutura para o trabalho de startups selecionadas, que têm à sua disposição laboratórios e espaços de desenvolvimento de pilotos nas diversas unidades do Hospital Israelita Albert Einstein. As startups também têm acesso facilitado ao know-how dos profissionais e pesquisadores da organização para solucionar problemas e desafios, desenvolver, prototipar e validar seus produtos. Atualmente, a Eretz.bio já conta com 25 startups incubadas, criando soluções para diversas áreas da ciência.

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Mercado

Temos que falar sobre data de validade dos medicamentos

Nos EUA, descarte custa US$ 765 bilhões por ano, quase um quarto dos gastos com saúde no país.

É

prática comum dos brasileiros manter uma “farmácia caseira”, aquela caixa ou gaveta de remédios para socorrer a família quando aparece uma dor de cabeça ou de estômago, arranhões, cortes ou outros pequenos incidentes de saúde. Mas, como a “farmácia” fica estocada, pode vencer o prazo de validade de alguns produtos.

sumidores é que o vencimento do prazo de validade significa que os remédios perderam a eficácia, sendo portanto incapazes de trazer alívio para a doença para a qual servem como solução. E, por isso, esses remédios devem ser “jogados fora” e, é claro, ser substituídos por remédios novos, que poderão passar pelo mesmo processo de perda de validade.

Não só nas residências, mas também nos hospitais e centros de saúde, os mediÉ comum que esses remédios este- camentos com prazo de validade expirado jam com o prazo de validade vencido justa- são descartados. Não há levantamentos mente quando mais precisamos deles. desse volume no Brasil, mas, para os Estados Unidos, o volume de medicamentos Naturalmente, o pressuposto dos con- vencidos e materiais hospitalares que são 44

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descartados monta a US$ 765 bilhões por ano, o que equivale a quase um quarto de todos os gastos com saúde naquele país, segundo a Propublica, entidade de jornalismo investigativo dos EUA.

rem seus medicamentos vencidos, maior a lucratividade das fabricantes com a venda de novos remédios. Entra aí o importante papel dos governos, que devem, por meio de legislação, forçar a execução de estudos e testes que contribuam para que os fabriO problema é que muitos desses me- cantes tenham subsídios confiáveis para dicamentos que são desprezados pode- estender o prazo de validade mantendo a riam ter sido aproveitados por pessoas em segurança para o consumidor. necessidade, para amenizar uma dor ou fazer um tratamento, por exemplo. A FDA também criou um programa de extensão dos prazos de validade dos mediUma pesquisa feita pela Food and camentos a pedido de militares norte-ameDrug Administration (FDA), agência federal ricanos, com o objetivo de ajudar o exército norte-americana do departamento de saú- a reduzir custos na compra de novos medide e serviços humanos, em parceria com camentos estocados para possíveis emera Universidade de Princeton, estudou 122 gências e que, por falta de uso, vinham a remédios “vencidos” e revelou que 88% expirar e tinham que ser descartados. dos lotes tiveram uma vida útil média de 66 meses além do prazo de validade estiTodos os anos, os medicamentos espulado, com período variável entre os lotes. tocados pelos militares são selecionados Ou seja, por muito tempo mantiveram as com base em seu valor monetário, quansuas funcionalidades e poderiam ter sido tidade no estoque e proximidade do venaproveitados. cimento e são analisados para determinar a possível extensão segura de seus prazos Buscando evitar esse desperdício, os de validade. Em muitos casos, os medicaprazos de vencimento dos medicamentos mentos podem ser usados além do prazo deveriam ser estudados pela indústria far- estampado em suas embalagens desde macêutica. É claro que o quesito segurança que manuseados e armazenados corretaé fundamental no caso dos medicamentos, mente. mas por que não diminuir a “margem de segurança” que leva ao descarte desnecesÉ instintivo levar esse raciocínio para sário? Há uma distância entre garantir a a nossa “farmácia caseira”, mas não estou segurança dos consumidores e estabelecer aqui, irresponsavelmente, sugerindo que uma margem tão grande para assegurar a população passe a consumir indiscrimique os remédios vão funcionar com uma nadamente os remédios com prazo venciprobabilidade altíssima, desta forma termi- do. No caso de remédios de uso contínuo, nando por ser um incentivo ao desperdício como antibióticos para o tratamento de de produtos cujo valor agregado e custo infecções ou medicamentos de controle de são muito altos, além de ter um descarte doenças crônicas, a perda de sua eficácia muito delicado. pode ser muito prejudicial ao paciente e, portanto, é melhor não se arriscar e subsE por que a indústria farmacêutica tituir o remédio vencido por um novo que se empenharia na extensão da vida útil esteja dentro do prazo de validade, como dos medicamentos? Afinal, quanto mais ensina uma reportagem do portal do Dr. os consumidores são forçados a descarta- Drauzio Varella. Revista do Câncer

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Mercado Mas tomar um analgésico vencido há pouco tempo quando surge uma dor de cabeça, por exemplo, pode resultar unicamente na demora do medicamento em surtir efeito caso tenha havido alguma perda de potência dos elementos ativos da fórmula, e raramente há efeitos adversos em consumi-lo. Essa é uma boa regra para usar no caso de medicamentos de uso pontual em doenças sem gravidade. De qualquer forma, os primeiros passos para evitar o desperdício de qualquer produto, em especial os perecíveis, são o planejamento e a compra adequada. Para isso, é interessante observar os próprios hábitos, e estimar a frequência com a qual determinados medicamentos são consumidos, para ir reduzindo o estoque gradativamente. É cada vez mais fácil e rápido adquirir certos produtos, inclusive remédios, através de aplicativos e pela internet. Não há mais porque manter uma ‘farmácia’ totalmente estocada em casa, quando se consegue o medicamento rapidamente quando é necessário. Além de tudo isso, muitas vezes não nos atentamos ou não temos locais adequados em casa para atender às recomendações de armazenamento descritas nas embalagens e acabamos por reduzir ainda mais a vida útil dos medicamentos, aumentando o desperdício.

pecial do consumidor é o descarte, caso não seja possível consumir tudo o que foi adquirido: medicamentos não devem ser jogados no lixo comum, pois as substâncias químicas presentes em sua composição podem contaminar o solo, chegar aos rios e até contaminar a água que bebemos. Além disso, se forem encontrados e ingeridos indevidamente por bebês, crianças ou animais, podem causar intoxicações e reações. Por isso, o ideal é procurar um posto de coleta especializado perto da sua casa o que, verdade seja dita, não é tão fácil de encontrar. Sites como o descarteconsciente.com.br e o eCycle.com.br são boas ferramentas para localizar um ponto de coleta. Atualmente, está em discussão um sistema de descarte de medicamentos pela Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) para que a população seja informada sobre o descarte seguro e ambientalmente correto dos medicamentos e que os meios para sua execução sejam acessíveis. Cada um de nós circula em diferentes esferas sociais –família, grupo de amigos, trabalho etc–, o que nos proporciona várias oportunidades de praticar o consumo consciente. Seja no cuidado da sua farmacinha caseira, seja na pressão para mudanças de regulação e legislação pelo governo e das empresas, é preciso sempre lembrar que podemos, sim, fazer a diferença.

Outro ponto que merece atenção es- Fonte: Folha de S. Paulo

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Artigo

Felicidade

Dr. Drauzio Varella

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é médico cancerologista formado pela USP

elicidade é pássaro irrequieto concebido para a liberdade. Mal pousa em nosso espírito, já bate as asas. Contra todas as evidências, no entanto, vivemos na ilusão de um dia aprisioná-lo. Felicidade plena, mesmo, só no conforto protegido do ventre materno. Lá, a sobrevivência está à mercê exclusiva da fisiologia, não há encruzilhadas, armadilhas nem espaço para dúvidas que nos levem à angústia das escolhas. A plenitude chega ao fim em nove meses. Os religiosos que me perdoem, mas o paraíso com serpentes e frutos proibidos do qual Adão e Eva foram expulsos por graça do pecado original, é mundo inóspito se com48

parado aos ditames da vida intrauterina. Para destruir a convivência idílica com o organismo materno, são necessárias contrações uterinas tão brutais, que chegamos à luz aos berros, prenúncio do que está por vir. Na infância, a felicidade faz visitas mais demoradas. É a única fase em que conseguimos acordar, passar o dia inteiro e ir para a cama felizes, por dias consecutivos. A primeira da qual tenho lembrança, aconteceu aos sete anos. Nasci num bairro cinzento em que o apito das fábricas marcava a rotina das famílias. Para avistar uma árvore, era preciso andar até o largo na frente da Igreja de Santo Antônio, a vários quarteirões de distância.

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Naquelas férias de janeiro, meus tios levaram meu irmão e eu para uma fazenda a muitas horas de São Paulo, na companhia de seis primos com idades próximas às nossas. Pela primeira vez montei num cavalo, nadei em riacho, senti nos ombros o impacto de uma cachoeira, chupei manga trepado na árvore e joguei bola num gramado. À noite, deitávamos em colchões de palha de milho espalhados pelo chão, com o cheiro de couro dos arreios pendurados na parede. Nunca esqueci do som da palha que estalava ao menor movimento dos nossos corpos, nem do esforço para não pegar no sono no meio das conversas sobre as aventuras que viriam na manhã seguinte, com os primos queridos. Fiquei com a sensação de que foram três semanas de felicidade ininterrupta. Como as memórias carregadas de emoção ficam impregnadas nas profundezas da consciência, tendemos a esquecer de experiências que trouxeram prazer, para dar prioridade às que nos fizeram sofrer. Lembro de detalhes do dia da morte de minha mãe, com mais nitidez do que da viagem a trabalho que fiz ao Acre, três semanas atrás. Com o passar do tempo, a tristeza atribuída a perdas como essa, pode tornar-se desproporcional à sentida por ocasião do acontecido. Aos quatro anos, acho que nem fiquei triste, apenas surpreso com a reação dramática dos mais velhos. Só depois viria a compreender que morte é a ausência definitiva. A impressão de que aquele dia talvez tenha sido um dos mais infelizes, veio bem mais tarde, fruto da reflexão racional sobre o significado da perda da mãe na primeira infância.

Na vida adulta, a felicidade costuma nos visitar em situações que veem ao encontro de expectativas íntimas. A duração da visita dependerá da intensidade do desejo, do esforço para atingir aquele objetivo, do valor dado a ele e da ansiedade com que aguardávamos o desfecho. Na maioria das vezes, entretanto, nem guarda relação com o mundo real, ocasiões em que não passa de um lampejo trazido à tona por uma lembrança agradável, uma música, uma fantasia ou até por um sonho que sabemos impossível. É a busca incessante pelo prazer intenso, que faz o sucesso das drogas psicoativas. O álcool, o baseado, a carreira de cocaína têm o dom de nos resgatar das tarefas repetitivas, das frustrações e dos contratempos comezinhos que nos infernizam, para nos transportar ao paraíso em segundos. Na cadeia, conheci uma moça que comparou o efeito do crack a cem orgasmos simultâneos. Imagine você, leitora, que fica radiante quando consegue um. Nos adultos, a felicidade chega em ondas de cristas à meia altura, contidas pelo entulho das contradições mesquinhas do cotidiano. Explosões que levam às fronteiras com a loucura, só conhecem os que vivem uma paixão amorosa ou situações excepcionais como a do nascimento de um filho, de uma neta ou a do jogador que faz o gol da vitória na final do campeonato. A maturidade, no entanto, não me fez desistir de correr atrás da felicidade suprema, embora saiba que ela será episódica e fugaz, fatalmente turvada por pensamentos invasores e pela maldita insatisfação humana, até acabar confinada ao quarto de despejo do subconsciente. Fonte: www.drauziovarella.uol.com.br

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Artigo

Três tipos de médico Dr. Evaldo d’Assumpção

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médico e escritor

om mais de meio século de vivência médica, posso afirmar que nossa profissão é composta de três tipos de médico, os quais descrevo a seguir, suscintamente. O médico por vocação é aquele que sempre quis ser médico e desde criança nunca titubeou em afirmar seu propósito. Passaram-se os anos e ele percorreu, com persistência, os caminhos para alcançar seu objetivo. Formado, recebeu o diploma como a realização de sua vida. Dedicou-se com afinco ao seu trabalho, exercendo a profissão com empenho, pois aliviar sofrimentos, curar doenças e salvar vidas não tem dia nem hora marcada. Cuidou dos enfermos e consolou seus parentes com total dedicação e carinho. Soube ouvir os que sofrem e seus familiares, cuidando para nunca demonstrar cansaço, menosprezo ou desatenção. Nesse processo sacrificou seus ganhos financeiros, valorizando mais o cuidar do outro do que a si próprio. Chamado de idealista, às vezes até pejorativamente, mas isso não o abala. Sua vocação é sua convicção. Feliz, mesmo enfrentando dificuldades e desconfortos, é MÉDICO, totalmente escrito com maiúsculas. Já o profissional tem a vocação para a medicina somada à obstinada preocupação de ser o melhor. Todavia, sua força propulsora vem de denodada busca por fama e fortuna. Trata com perícia seus pacientes, mas impõe sempre uma rotina de trabalho que lhe permita oportunidades de reconhecimento e renumeração. Sua disponibilidade para os enfermos é limitada ao necessário para a execução do seu trabalho. Logo forma uma equipe, o que não lhe é difícil pela notoriedade conquistada e pela pletora de médicos recém-formados. Logo transfere a parte ro50

tineira e burocrática para seus assistentes, tornando-se quase inacessível aos clientes uma vez ultrapassada a fase crítica do tratamento. Aos auxiliares caberá a parte supostamente secundária. Daí as constantes queixas de que ele é competente, porém difícil de ser contatado pelos clientes e familiares. Sempre está com a agenda lotada ou viajando para congressos e reuniões médicas, dando aulas, apresentando trabalhos. Isso lhe dá notoriedade e generosos espaços na mídia, tudo proporcionando-lhe polpudos rendimentos e posição privilegiada nos ambientes que frequenta. Quase sempre é, sem dúvida, um ótimo profissional médico, mas como humanista hipocrático fica muito a desejar, sendo alvo cobiçado e fácil para espertos advogados e clientes insatisfeitos. O oportunista nem sempre tem vocação para a medicina. Geralmente o que tem é um pai, um tio ou um sogro médico, ou então um mecenas que possui hospital, clínica, laboratório ou qualquer estrutura médica já montada, na qual ele terá um emprego garantido, fazendo-o supor que não haverá obstáculos a vencer. Geralmente forma-se em uma escola de medicina de segunda ou terceira categoria, com poucas exigências. Tampouco lhe importa uma boa residência, uma sólida formação numa especialidade. Só lhe interessa o diploma que legalizará o seu futuro e, depois, o dinheiro que irá ganhar, não se incomodando com o que e como irá fazer para tal. São os que mais contribuem para a péssima qualidade da assistência médica que impera em nosso País, pelo quase total desprestígio dos bons profissionais dessa área e pela judicialização cada vez maior da medicina. Cada um, ao se olhar no espelho, saberá bem onde se situa.

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Carreira

O caminho das pedras para fazer pesquisa na Europa

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European Society for Medical Oncology (ESMO) oferece oportunidades para oncologistas de diversos países complementarem sua formação em instituições de referência. Facilitar esse acesso, inclusive, faz parte do acordo de reciprocidade estabelecido entre a SBOC e a ESMO em 2016. Associados da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica têm mais facilidade para se tornarem membros da ESMO e concorrerem às bolsas. Em caso de dúvidas, escreva para renan.clara@sboc.org.br. A seguir, apresentamos um resumo preparado pelo Dr. Rodrigo Dienstmann sobre diferentes programas disponíveis na Europa, incluindo grants institucionais.

Aberto a bolsistas da ESMO que estão ou estiveram recentemente no exterior em um ESMO Research Fellowship e desejam retornar ao seu instituto de origem ou a outro instituto em seu país de origem no final do programa mas estão enfrentando desafios 2 anos – 70,000€, metade custeado por sua instituição de origem

ESMO Clinical Research Fellowship

ESMO Palliative Care Fellowship (não limitados a menores de 40 anos)

ESMO Educational Fellowships ESMO Translational Research Unit Visits (TRU)

Informações práticas para interpretação de dados e implantação de novas tecnologias. Foco: tecnologia, gerenciamento de projetos, financiamento, relacionamenESMO Research Fellowships to entre clínicos e controle de qualidade 3-4 dias de visita – 10 fellows por visiESMO Translational Research Fello- ta – 1,000€ (2 a 6 visitas por ano) wship ESMO Clinical Unit Visit Forte componente de laboratório com oportunidade de trabalhar em um centro Adquirir conhecimento prático em de excelência, especialmente com pesqui- centros europeus de referência e transferisa translacional -lo para sua instituição de origem 1 a 2 anos (o segundo ano pode ser 6 semanas de visita – 5,000€ (10 requerido) – 80,000€ (3 a 4 fellows por ano) fellows por ano)

Acesso a colaboração com instituições europeias de excelência e o apoio neObservação ou pesquisa em um cencessário para desenvolver projetos específi- tro de oncologia integrada e cuidados paliacos de investigação clínica tivos designado pela ESMO 1 ano – 40,000€ (1 a 3 fellows por ano) Observação: mínimo 1 mês – 2,500€ Pesquisa: 1 a 3 meses – 5,000€ (2 ou Welcome Home Fellowships mais fellows por ano) 52

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Apoio consistente a oncologistas de todo o mundo

Como pleitear

Converse com oncologistas que são ou foram ESMO fellows 462 ESMO fellows desde 1989, vindos Visite o site www.esmo.org/Careerde 64 países, recebidos por 96 instituições -Development/Oncology-Fellowships para 7 milhões de euros investidos detalhes práticos e de logística Entre em contato com instituições 133 research fellowships 192 bolsas de visita a unidades de que recebem fellows para informar-se sobre as oportunidades disponíveis. A lista pesquisa translacional está em www.esmo.org > Career Opportu72 bolsas de visita a unidades clínicas nities > Host institutes Custos cobertos por patrocinadores Para dúvidas mais específicas, use o do site www.esmo.org na categoria “Fellowship” ou diretamente pela ESMO Pesquisa clínica Vall d’Hebron Institute of Oncology (VHIO), Espanha Institute Gustave Roussy, França Royal Marsden, Reino Unido Institute Jules Bordet, Bélgica

Estudos de fase 1, colorretal Estudos de fase 1, melanoma Estudos de fase 1, próstata Mama

Pesquisa translacional University of Lausanne, Suíça Netherlands Cancer Institute, Holanda

Imuno-oncologia, pulmão Imuno-oncologia, “omics”

Outras European Organisation for Research and T reatment of Cancer (EORTC)

Ensaios clínicos

Como pleitear • Converse com oncologistas que são ou foram fellows e investigadores • Visite os respectivos sites dessas instituições • Entre em contato com instituições que recebem fellows para informar-se sobre as oportunidades disponíveis • Proponha um a dois meses de observership para uma interação entre fellows e a tomada de decisão Revista do Câncer

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Opinião

Segunda Opinião Médica é direito do paciente e do médico

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Código de Ética Médica indica que a chamada “Segunda Opinião Médica” é um direito do paciente e faz parte de sua autonomia no contexto da relação médico-paciente. De acordo com o código, é vedado ao médico opor-se à realização da segunda opinião solicitada pelo paciente ou por seu representante legal.Antônio Pereira Filho, conselheiro e membro do Conselho Consultivo do Centro de Bioética do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp), destaca o direito do paciente em ter uma segunda opinião. Para ele, é importante que o médico tenha esse conhecimento e trate de maneira natural quando a segunda opinião for solicitada. “O médico deve aprovar essa conduta, e em muitos casos, até estimular”, diz.Pereira reafirma, também, a importância do médico que dá a segunda opinião de reconduzir o paciente ao médico que deu o primeiro parecer, junto de um relatório com seus pontos de vista. Para ele, o grande problema ético acontece quando o médico emite a segunda opinião, dá o seu parecer e ele mesmo continua o tratamento. É condenável do ponto de vista ético e o Código de Ética Médica nos diz não podemos fazer isso”. Segundo o Pereira, os próprios médicos também têm o direito de ter uma segunda opinião. “Quando o profissional está à frente de um caso difícil, ele pode buscar a opinião de outro colega”, ressalta Pereira. Assim, tanto o paciente quanto o médico podem procurar o auxílio de outros especialistas.Planos de saúde - De acordo com a Resolução CONSU nº 8 e o Código de Ética Médica, as fontes pagadoras, tanto públicas quanto privadas, podem solicitar a segunda opinião, trabalhando com sistemas de auditorias eficientes quando em suspeita de exa-

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geros e indicações inadequadas de procedimentos.Contudo, segundo Pereira, é preciso ter uma atenção especial às solicitações de segunda opinião dos planos de saúde. Ele afirma que quando a fonte pagadora faz a solicitação, existem duas possibilidades: ou está buscando a melhor maneira de encaminhar o paciente ou está buscando uma redução de custos. O que a gente não pode pensar é que toda vez que eles pedem uma segunda opinião só querem reduzir custos ou só querem o bem do paciente, as duas coisas existem”, justifica. Receio médico - O parecer nº 114073 do Cremesp relata que o mecanismo da segunda opinião médica é usual em todo mundo e não é antiética. “No Brasil, ainda existe um pouco de preconceito em relação a isso, enquanto em outros países trata-se de algo absolutamente normal”, diz Pereira. De acordo com ele, alguns médicos ainda se sentem ofendidos, acreditando tratar-se de uma desconfiança do paciente.Pereira destaca que os Conselhos, tanto federal quanto regionais, já têm sinalizado para diminuir o receio sobre a segunda opinião médica. Ele afirma que a segunda opinião é muito mais aceita entre os médicos mais jovens, e que essa resistência dos médicos à segunda opinião está progressivamente caindo.Google – Para Pereira, o uso de tecnologias, como o Google, para a emissão de uma segunda, e em muitos casos até mesmo de uma primeira opinião médica, é perigosa. “No Google você tem desde pareceres importantes, cientificamente corretos, até coisas completamente absurdas”, diz. Ele acredita que é preciso tomar cuidado no uso da ferramenta, já que não se trata de algo 100% confiável, na medida em que não tem um filtro cientifico.

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