Cidade Cidade, rumor e vaivém sem paz das ruas, Ó vida suja, hostil, inutilmente gasta, Saber que existe o mar e as praias nuas, Montanhas sem nome e planícies mais vastas Que o mais vasto desejo, E eu estou em ti fechada e apenas vejo Os muros e as paredes, e não vejo Nem o crescer do mar, nem o mudar das luas. Saber que tomas em ti a minha vida E que arrastas pela sombra das paredes A minha alma que fora prometida Às ondas brancas e às florestas verdes
DESESPERO
Troça/Vergonha
As pessoas da cidade troçam dela.“e as pessoas riam-se: - É uma doida que vai a falar sozinha.”
A cidade constitui um motivo frequentemente repetido na obra de SMB ("Cidade" em Livro Sexto, 1962; "Há Cidades Acesas", Poesia, 1944; "Cidade" em Livro Sexto, 1962; "Fúrias", Ilhas, 1989). A cidade é aqui um espaço negativo. Representa o mundo frio, artificial, hostil e desumanizado, o contrário da natureza e da segurança.
A cidade é retratada como um espaço de isolamento, de aprisionamento, de agressividade, sendo quase sinónimo de morte. Por outro lado, a natureza é descrita como um espaço de liberdade, de tranquilidade, de contemplação, de paz, de comunhão e de vida.