Zine cristal 2018

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Dedico esse zine a Gisele (também conhecida como Rochelle, mãe da Cris), a Vó Gisa (rainha), e a todos os donos de líricas do Sul, que fazem com que a nossa poesia e resistência cresçam cada vez mais.


CRISTAL ROCHA Já nasci poesia quando a preta me pariu em junho de 2002, geminiana ainda que não acredite muito em signos, acredito no meu inconstante espírito que dança entre raciocínios e sentimentos. Comecei na poesia, escrevendo versos para minha comunidade no Orkut, sempre manifestando de diversas maneiras meu amor por escrever. Em 2016 em um projeto do colégio, a tarefa era escrever um poema com o tema ‘’Sonhos em tempo de incerteza’’(nas próximas páginas), foi aí que a inspiração por criar versos que trazem denúncias e críticas ao sistema, cresceu ainda mais. SLAM... Em maio de 2017 conheci o movimento SLAM – Campeonato de poesia falada, na quarta edição do Slam Peleia que acontecia na praça do MMs. Literalmente amor á primeira vista. Ouvir tantos donos de líricas, me fez acreditar que palavras realmente tem poder. Em julho, havia escrito meu primeiro poema para recitar no momento livre do Slam Conexões (junção dos Slams do sul), evento com participação da poeta Mel Duarte. Segui com outra participação no livre, na quinta edição do Slam Peleia. Participei pela primeira vez da competição no dia 2 de novembro, a última edição do Slam Peleia, e garanti minha vaga para a Final Gaúcha de Slam. Fui campeã juntamente com o poeta Bruno Negrão (Ei meu!), sendo os primeiros gaúchos a participarem do Slam Brasil, final nacional da competição de poesia falada.

LUA DE CRISTAL Te surpreendi ? Me desculpe, não foi minha intenção. Nem eu sabia que cabia todo esse caos no meu coração. Turbilhão de pensamentos Raciocínios e sentimentos, Batalhando dentro de mim brigando como em um tiroteio Mais um desabafo Então abafa o momento desse desabamento, que sempre que desabar, Eu levantarei Nem sei... Quanto eu já acumulei Na verdade são quinze anos de muitas respostas sem um fundo de verdade, De verdade busquei ser, foi o desespero de querer crescer de véspera De sonhar em ser apenas um dia... Feita toda de poesia! Tenho até medo de pensar de mais, Mas é a força do raciocínio que se torna o meu gás. Sagaz tô me tornando Nem me admiro, eu me admirar por tudo, É o rodo cotidiano que ainda brilha nos meus olhos Nesse mundo tão imundo. Quando falo de colisão é entre a emoção e a razão. Na hora da balança quem pesa mais? É o coração. Errada eu? Por me importar demais? Eu sou louca, se eu falar que eu to precisando sempre de mais? Essa é minha história escrita no presente: Parágrafos e linhas tortas tão tortas quanto os meus dente! Ainda não transbordei, mas quando transbordar, Espero tá tipo numa roda de poesia pra poder contar. Expondo sentimentos em versos e declarações, me vejo em pessoas e em canções, enxergando almas e corações Eu desisto! Me rendo ao mundo e suas emoções . Confusa com meus problemas e pesadelos em sintonia Talvez o meu silêncio seja minha filosofia ‘’O mundo é de Sofia’’ né? Mas eu sô fia do mundo! Sou cria igual vocês desde os sentimentos mais profundos. Tenho tantas fases quanto a Lua Dizem: ‘’Lua de Cristal’’


Mas não te faço sonhar Te trago pra realidade, então é melhor teus pés do ar tirar É PÉ NO CHÃO JÃO! Hum... Quem disse que foi sempre assim? Eu e essa minha imensidão que já nem cabe mais em mim. Da minha vida cheia de emoção O ‘’ tudo pode ser só basta acreditar’’ Não foi suficiente pra mim, porque não aprendi a brilhar! Eu e a Lua? Nunca vi tão semelhantes! A Lua tão perfeita estonteante enquanto eu aqui na Terra sou só mais um ser errante Lua e Eu? Nunca vi tão iguais! A Lua não confunde o universo com seus problemas pessoais Então me desculpa Xuxa, o que eu falo não é por mal, Mas, acho que no fim A Lua Nunca foi De Cristal.

NEGRA HISTÓRIA Ó SENHORES SUPREMACISTAS! TIRAR-NOS DE SUA CIRCULAÇÃO JÁ ESTAVA NA SUA LISTA. . . NEGRA? NEGRA como a dona do ventre que abrigou seus filhos Ventre aquele que quando o senhor explorava,amava seus filhos Me digam, por que tão frios ? Descartar-nos já estava em seus planos? Pôr a sujeira por baixo dos panos? NEGRO bate forte no meu peito,

Tipo na batida que suinga os preto A melodia que cativa essa cintura, Nega, vai negar o quanto de fardo que tu aguenta? É o suportar, dessa vida que só tem a te ferrar Armadura da tua cultura que não quer mais se calar É sabedoria da tua pele escura que tem a te ensinar Porque vai te deparar... Com a malícia, de quem quer esculpir-te em sexo

curvas

Frenéticos, amam tuas , mas rejeitam tua vida tramas NEGRA DRAMA, que o destino é ser mãe solteira! Quantos pretinhos sem pai sem nem saber aonde vai... O que serão de nossos pais, se eles nem tiveram pais? ÁFRICA MÃE, SABEDORIA Que eu seja tudo aquilo que minha mãe foi um dia Frequências de solidão, exclusão, filosofia VERÍDICO: CABELO DURO QUE É PRA COMBINAR COM A FORÇA DO TEU ESPÍRITO! É VIVÊNCIA! Tu já vem preparada, Afinal foi em meio à treta que tu foi criada. Acho que não entenderam quando Emicida disse que Deus era uma Mulher Preta, Me abençoa toda vez que eu componha cada uma das minhas letra! Negra é história


Mas eles nos negam a história Líderes dessa escória Uma hora vão cair, E todo dia, conquistando mais uma glória Pra marcar em suas memórias Notórias, pique Taís Eles contam uma versão que com a realidade não condiz Nessa sociedade retórica O país só vai andar, quando a preta tiver feliz. Cês não nos querem como MISS BRASIL O CHORO LIVRE! Lírica preta: Lauren Hill Já nasci poesia Quando a preta me pariu Até Aparecida sorriu Aprendendo com Angela Tombando que nem Conka Dama de primeira classe nível Michelle Obama Caos e resistência já são nossos lares , Querem me tirar do topo,mas não cedo meu lugar, aprendi com Rosa Parks Resiliência já é meu dom, Eu luto com as minhas garras Poderosa que nem Marrom Sem sair do tom, Mesmo que nos tirem o chão E que se foda o seu padrão, Porque eu serei aceitação! Não entendo essas mina hipócrita que falam de empatia Essa tua busca por igualdade não me apetece, Porque elas não tem sororidade quando o caso escurece Empatia até que ponto? Quando eu conto, que elas são feministas, Nem eu acredito! Quando é só pra mulher branca não vem dizer que é feminismo!

Atura ou surta! A mídia que quando não te ignora, Te deturpa, te estupra ‘’Nega maluca’’ te rotulará, Banaliza tua luta, mas não vão mais me gongar!

DAS DORES Eu sei, que o que nos marcam são nossas dores Então tome cuidado pra não deixar marcas por onde fores Uns perdem confiança, outros amores. Ninguém precisa aguentar Afinal nem tudo são flores Espinhos são, aquilo que não me cicatrizou Mesmo que de espinhos tenha sido ferida Eu me curo de amor Mesmo que o coração esteja fraco das batalhas, eu luto pelo o que for

Mas aqui calma já não jaz

Então me deixa em paz! Eu sei que me isolar é um tiro já própria perna Mas ME DEIXA EM PAZ Que eu sou soldado lutando com a própria GUERRA Levo-a onde for Tipo Djavan "e esqueço que amar é quase uma dor" Pois então, eis me aqui na era Já era o tempo que eu achava que a vida era uma merda ‘’Que luta é essa que no fim te enterra?’’ Eu dizia: - Já era, que merda! Adubarei com meus versos pra florescer na terra Nossos sofrimentos não se calam apenas em momentos Prolongam-se ao longo dos anos, nos fazem crescer de vésperas Amadurecer na marra! Depois de várias doses de mágoa serem tomadas Vou tomar mesmo é providência! Porque na fossa, eu não fico. Olha que indecência! Sentir que você é o seu maior perigo Sentir-se culpado pela própria desistência, mas Sem frequência de tombos Sem resultados de vitórias Nossos calos crescem, mas não mais do que nossas glórias Batalhando com nossos momentos DAS DORES se refaça, entre incertezas, aclamamos por colo DAS DORES


PRAS DORES ás vezes eu oro, ás vezes eu moro Em coro com outros inquilinos, aprendendo com as quedas como Crescer de espírito E nesses dias ruins, talvez eu nem queira conversar Me deixa curtir a minha bad! E Não adianta me olhar assim! Mesmo que você me "entenda" Entenda! Só eu sei do que sinto Meu coração é um labirinto, Entre lá pra ver Que quando eu me sinto perdida Eu até pergunto pra Vida Mas nem ela sabe me dizer!

Minha mania de tornar a vida mais dramática Por dentro sou um caos Por fora até simpática Tentando fugir dessa melancolia Fazendo do drama uma fantasia E fingindo que a minha tristeza Foi só uma inspiração pra escrever essa poesia. Me impressionar que anda nos role top, Cheio das brusinha, os tênisão...

BELEZA, MAS O QUE TU TEM LIDO? Isso que me dá tesão Vamos falar do X de Malcolm, Dos discursos de Martin, Me pergunte o que eu tenho feito pra viver Eu vou te responder: ARTE ! Me fala do teu dia, mesmo que ele tenha sido um tédio, Quem sabe nossa conversa pode ser o próprio remédio, Dessas fases tão automáticas, em deslizes de tempo, Que possamos como em câmera lenta Admirar cada momento! - Ó as ideia da pirralha, tu nem tem idade!

É que tá difícil ser real nessa realidade Procuro sorrisos, e conversas Procuro gente de verdade Mas me assusta Quando conversar com a alma me parece raridade! Mas quem sou eu pra falar de amor? A MAIS NOVA Mais nova sensibilidade que me despertou PRO AGORA

Afinal foi GISELE que me ensinou Que a glória, é mais saborosa quando se tem emoção Eu falava: ‘’Emos são tão sentimentais’’ Mas me comparando agora acho que somos tão iguais E se não tiver finais felizes, pras histórias que vou traçar Que sejam pelo menos baseadas em fatos reais Sofrer por @crush? Dá licença! Olha pra minha cara! ...”Mentira, tava escrevendo isso tipo: ‘‘vai que ninguém repara” Disfarça! É tipo uns POW no meu peito, CREDO! Como eu fico chata! Sorriso bobo, e os olhos vidrados na madrugada O ego infla e o coração para. Para pra reparar enquanto a gente se encara... Vó Gisa também me ensinou amar, Eu te digo que quando a minha fonte se secar Eu insisto em me fazer de redenção se for preciso E se as dores vieram me aquietar eu resisto! Nunca fui de me apaixonar, Mas eu minto Então pra esconder a solidão Eu R E C I T O. Estou a esperar o segundo que parar de aspirar cada drama do mundo, Dores que nem são minhas E mesmo assim são tão sentidas Vontade de sentir muito mais do que a própria vida


Negressência Chegando tipo socos de Ali, ninguém mais me para Cheiro de derrota no ringue, ninguém me repara Tu quer o ter meu suingue, mas não me embala Quando derrama sangue, você não se abala Me diz! Quantos mais temerão a bala? Quantos ainda atirarão a bala? A fala que cala, exala opressão Sem pedir licença, muito menos permissão Coloca o jogo na mesa e impõe sua condição Tipo: ‘’ou tu é negro pobre ou tu é negro ladrão. ’’ Mas fala aí, gostou de vestir da minha pele? Vocês querem ser pretos? Mas não querem. Porque as nossas cicatrizes, vocês repelem Se te fere ou não? Tanto faz, mas te difere né? Tipo tendência de verão? Ah que se ferre.

Não se pergunta? Quantos já se foram para mais ‘’Brenos’’ serem livres Livres a errar e sem justificar Filhos do Brasil, ventre que os pariu Tão protegidos, privilegiados Quem dirá que eles ainda serão calados? Escolha um dos lados Sejamos aliados não alienados! Isso não são apenas fatos são também sobre o que eu sinto Já cansei de sermos criados, isolados nesse recinto Por isso eu insisto! Instinto de revolução antes que nós sejamos extintos. Mãe, que tua sabedoria me acompanhe E por mais clichê que soe: Me abençoe! E que tentem me prejudicar, Sou cristal da rocha, a herança é familiar

Gisele, aquela que ensinou a amar minha pele

Rege contigo o meu abrigo, se desfazendo do inimigo Contando suas vivências, sendo minha Negressência Discursos fingidos, disse que NEGRO É PROTEGIDO! Alimentando minha consciência... Negra Me diz! Onde tá essa proteção que levo comigo? As coisas por aqui me dão pavor Proteção que a mãe pede pela vida do filho? Liberdade tem cor, liberdade tem preço Proteção que o cara chora por perder mais um amigo Breno solto, Rafa Braga preso? Proteção de quem quer só a paz como seu único Filho da desembargadora abrigo Filho da pátria Filho da p Políticas de segregação, pensa que eu não to vendo? ‘’Verás que um filho teu não foge a luta’’? E se eu te contar quantos anos vocês tão nos devenNão se pergunta? do? Quantos já se foram para mais ‘’Brenos’’ serem livres Vendendo cartões postais:‘’Aqui somos todos iguais’’ Livres a errar e sem justificar Não me engana com essa realidade maquiada. Filhos do Brasil, ventre que os pariu Brasil: Aqui a discriminação é velada! Tão protegidos, privilegiados Racismo na nossa estrutura, levado pela viatura Quem dirá que eles ainda serão calados? Não atura! Escolha um dos lados Eles tem palavra, tem dinheiro, mas não tem a minha Sejamos aliados não alienados! postura. Isso não são apenas fatos são também sobre o que eu sinto Já cansei de sermos criados, isolados nesse recinto As coisas por aqui me dão pavor Por isso eu insisto! Liberdade tem cor, liberdade tem preço Instinto de revolução antes que nós sejamos extintos. Breno solto, Rafa Braga preso? Ô Nega... Filho da desembargadora Mostrando que no mundo, é nós por nós Filho da pátria e RESISTÊNCIA Filho da p ‘’Verás que um filho teu não foge a luta’’?


AS MÁS LINGUAS AFIADAS Más línguas afiadas cortam E desenham minha personalidade,minha maneira Me falam como devo falar: ALTO ! Porque toda preta é barraqueira. Como eu devo agir, onde é o meu lugar Disseram como eu devo andar: Desviando de corpos brancos na rua Se não sou eu que desvio, resultado é se esbarrar,e dando licença pras madame passar Eu sei que as más línguas afiadas cortam e contam Que eu sou patrícia porque estudo em particular Não adianta querem que eu nasça fudida Sem o espaço deles ocupar Agradeço a deus, sim (O meu usa tranças ) Sei que muitos dos meus, não tem nem acesso ao colégio Encaro isso como privilégio! Empurra a culpa pra mim, vai me chama de hipócrita!Enquanto isso eu to passando pro ensino médio, ainda vou jogar na tua cara as minhas nota! Pretinho cresceu aprendendo Que o branco chega primeiro, que o branco ama a si mesmo Mas o amor pela sua cor ainda é tabu É que é foda se amar, quando tu aprende a Só Tomar No CUra pra esses estereótipos que nos cercam Nos cegam, nos fazem parecermos incorretos Nos negam caminhos não escritos Porque não nos deixam escrever os nossos. Ossos deixados aqueles que não possuem lugar no banquete -Vá em frente! Vá que de repente, ce nos alcança Ah pode crê! Fala isso pro povo que carrega quinhentos anos de herança. ASSUSTA! Não ver preto com mancha na blusa, só de marca na blusa Balançando a estrutura, fazendo virar o jogo, com a grana nas altura Mestre nas aulas de literatura, quem sabe nas próximas candidaturas? Os preto se amando que nem Rincon falou, (só que pra eles é loucura) Que engraçado, andar na minha cidade e ainda me sentir in-

trusa ESTUDA! Não aprendi só pelos livros Observei a estrutura De ver a diferença escancarada A preferência das viaturas Lutas diárias, de quem não é aplaudido pelo seu MÉRITO Preto nas suas vagas de emprego, pras ele é um sacrilégio. Ás más línguas cortam, contam E DEFINEM Histórias Quem merecerá as glórias Qual será sua trajetória As más línguas afiadas Cortam cada vez que ouvem um verso meu Em sintonia eu vou cortando também E vou dizer que foi porque mereceu.


Sonha(com)dor Egos inflados e palavras vazias A liberdade eu não mais conhecia Eu reclamava, mas não desistia E o medo de opressão me corroía Eu falava dos meus sonhos, mas ninguém me ouvia. Disseram que ‘’ele’’ irá cortar nossas asas, Mas somos fortes demais para mais um golpe A gente fica mais forte depois que sofre Com papel e caneta na mão, escrevi o que sonhava Que a felicidade chegasse ao pobre, E que o negro pudesse chegar onde o branco também pode. Minha mãe leu aquilo com lágrimas de tristeza Me admirava por sonhar em tempos de incerteza 2016


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