De Stijl

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO. CENTRO DE ARTES. HISTÓRIA DA TECNOLOGIA E DO DESENHO INDUSTRIAL 2010/2. PROFESSORA LETÍCIA PEDRUZZI. LILIAN ALBANI, LUDMILLA NASCIMENTO E MARILIA MELO. VITÓRIA - 2010.



ÍNDICE 05 ORIGENS. 07 FASES DO MOVIMENTO. 14 DE STIJL NO DESIGN GRÁFICO. 22 DE STIJL NOS DIAS DE HOJE. 27 BIBLIOGRAFIA.


Composição com vermelho, amarelo e azul, Piet Mondrian, 1921.

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DE STIJL ORIGENS

O movimento De Stijl, também denominado Neoplasticismo, tem suas origens na Holanda, em 1917. Foi fundado por Theo van Doesburg, juntamente com o artista plástico Piet Mondrian (1872-1944), sob a influência de artistas como Bart Anthony van der Leck (1876-1958), George Vantongerloo (1886-965) e de filosofia neoplatônica. (STANGOS, 2000) Seu nome veio de uma revista fundada em 1917 por Theo van Doesburg (1883 - 1931). A revista era um veículo de publicidade do trabalho de design do grupo, mas também publicou textos teóricos e sérios cheios de misticismo. (MC DERMOTT, 2007) O período em que o movimento se insere é marcado pelo caos deixado pela 1ª Guerra Mundial e também pela Revolução Russa, que mantinha os ideais socialistas no país. Os artistas relacionados não só ao De Stijl como a outros movimentos considerados de vanguarda, como o Futurismo, cujo ode à máquina e a indústria era sua principal característica teórica (STANGOS, 2000), acreditavam que “a guerra estava apagando um período obsoleto, e a ciência, a tecnologia e os acontecimentos políticos abririam uma nova era de objetivismo e coletividade.” (MEGGS, 2009) O De Stijl promoveu uma estética moderna rigorosa que usava cores primárias de vermelho, azul e amarelo, assim como preto, cinza e branco, restritas a superfícies planas e formas geométricas. Todo o conceito do movimento parte da teoria do Neoplasticismo, elaborada por Piet Mondrian. Para desenvolver os pensamentos neoplasticistas, Mondrian teve como grande influência as teorias do matemático M. H. J. Schoenmakers, autor do livro A nova Imagem do Mundo, em que defende e define a horizontal e a vertical como os dois opósitos fundamentais de formação de nosso mundo, e chamou o vermelho, o amarelo e o azul de as três cores essenciais. (STANGOS, 2000) Para Mondrian, “A Arte é apenas um substituto enquanto a beleza da vida ainda for deficiente. Desaparecerá proporcionalmente, à medida que a vida adquirir equilíbrio.” (MONDRIAN in STANGOS, 2000)

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Mondrian acreditava que “o individualismo, na arte como na vida, é causa de toda ruína e desvio do justo; é preciso opor a ele a serena clareza do espírito, que por si só pode criar o equilíbrio entre o ‘universal e o individual.” (DE MICHELLI, 1991) Ao escrever o manifesto neoplasticista, Mondrian e Theo Van Doesburg, o outro artista que comandava o movimento, aspiravam por um mundo em que a arte se livraria de laços expressionistas, sendo absorvida pelas artes aplicadas, levando harmonia e equilíbrio ao cotidiano. “Nesse sistema, a arte não seria reduzida ao nível do objeto cotidiano; o objeto co tidiano (e, através dele, a vida cotidiana) seria elevado ao nível de arte.” (MEGGS, 2009) O De Stijl ainda criou uma relação entre filosofia e religião. Era a busca da beleza universal, da harmonia perfeita que só poderia ser alcançada quando os seus seguidores obedecessem às ordens da produção artística que previam uma arte não-figurativa. A arte deveria apresentar-se de forma abstrata, pois assim como ela expressava o espírito humano, nada do que era figurativo se combinava a ela. “Trabalhando em um estilo geométrico abstrato, o De Stijl buscava leis universais de equilíbrio e harmonia para a arte, que poderia então se tornar um protótipo para uma nova ordem social.” (MEGGS, 2009) “Com seu vocabulário visual prescrito, os artistas De Stijl buscavam expressar uma harmonia universal. Envolvidos com o clima espiritual e intelectual de seu tempo, desejavam expressar a “consciência geral de sua época”.” (MEGGS, 2009) Conduzido por Piet Mondrian (como principal pensador) e por Theo Van Doesburg e seguindo rigorosamente suas teorias, o movimento De Stijl se manteve por volta de catorze anos, efetivamente. Sua influência permaneceu forte. Na Holanda, a tradição do design que ele criou é reverenciada, e num nível internacional o estilo visual do movimento tem influenciado de design gráfico a interiores. (MC DERMOTT, 2007, p.65)

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FASES DO MOVIMENTO De acordo com os acontecimentos, o movimento De Stijl pode ser dividido em três fases. Dentro desta divisão, Mondrian posiciona-se como ponto determinante durante toda a trajetória do movimento, desde o vínculo inicial com outros artistas, passando pelo desenvolvimento do manifesto neoplástico e finalmente ao rompimento total com o movimento, em sua terceira fase. “A representatividade de Mondrian foi essencial ao amadurecimento do movimento. E mais uma vez, também foi Mondrian quem finalmente rompeu com De Stijl e Van Doesburg, em 1925, em conseqüência da modificação ‘arbitrária’ de Van Doesburg do formato ortogonal.” (STANGOS, 2000) PRIMEIRA FASE (DE 1916 A 1921): NORMATIVA E CENTRADA NA HOLANDA

No início desta primeira fase, Mondrian, que foi o mentor intelectual do movimento, não produziu nenhuma pintura, antes escreveu o seu ensaio teórico divulgando seus pensamentos neoplásticos. Em um momento intelectualmente novo, Mondrian fez uma série de composições que consistiam em planos flutuantes, retangulares e coloridos.

Composição VIII, Theo van Doesburg, 1918.

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Composição em azul, Piet Mondrian, 1917.

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Em 1917 a estética neoplástica ganhou projeção em três dimensões reais com a famosa cadeira vermelha e azul desenhada por Gerrit Rietveld. O que mais chama a atenção nesta obra é o uso de cores primárias em conjunção com uma armação linear preta. Foi Rietveld quem primeiro estabeleceu este sistema cromático.

Cadeira vermelha e azul, Gerrit Rietveld,1917.

Com esta cadeira foi possível demonstrar uma organização espacial arquitetônica que influenciou toda a estética da época. Nesta primeira fase, não houve produção arquitetônica. Somente na segunda fase começaram as primeiras construções com design De Stijl. Rietveld continuou na produção de peças elementares e até 1920, já havia produzido diversos objetos. Todas essas peças foram construídas quase inteiramente na base de elementos retilíneos puros. Nesta fase ocorreu também a polêmica visita de Theo van Doesburg à Bauhaus, o que gerou uma série de conseqüências refletidas posteriormente como influência estética à Escola. Desde o início do movimento, Van Doesburg se mostrou uma figura fundamental para divulgar e ensinar o De Stijl “Grande parte do sucesso da difusão das idéias do De Stijl deve-se ao incansável Van Doesburg, que em 1920 realizou uma viagem de divulgação por Paris e outras cidades organizando conferências e promovendo proveitosos contatos com numerosos artistas e arquitetos.” (DE MICHELI, 1991) 09


SEGUNDA FASE (DE 1921 A 1925): MATURIDADE E DISSEMINAÇÃO INTERNACIONAL

A partir de 1921, o grupo De Stijl sofreu mudanças radicais. Rietved se dedicou ao design e construiu sua clientela em Utrecht, Holanda, enquanto que van Doesburg promoveu o estilo internacionalmente. Novos membros juntaram-se a eles e somente um era holandês, o arquiteto Cornelis van Esteren. Os outros novos membros eram o arquiteto russo El Lissitzky e o diretor de cinema alemão Hans Richiter. A influência de Lissitzky foi importante para a arquitetura. Logo Van Doesburg procurou incorporar seu estilo ao De Stijl e publicou, em 1922, em De Stijl 6-7, o famoso conto infantil tipográfico de 1920, A história de dois quadrados. Além disso, o projeto gráfico de Van Doesburg para a capa da revista De Stijl, depois de 1920 se difere nitidamente dos projetos gráficos anteriores.

A História de dois quadrados, El Lissitzky, 1922.

Em 1923 o movimento começou a consolidar-se quando van Doesburg e Cornelis van Esteren expuseram seus trabalhos em Paris e, mais tarde, em Nancy, França. A produção de trabalhos, quase que exclusivamente arquitetônicos, aumentou significativamente: o arranjo assimétrico e dinâmico, a explosão espacial, áreas retangulares coloridas em baixo relevo, a adoção de cores primárias eram as características marcantes das construções. Destaque para a Casa Schröder, projetada por Rietveld e caracterizada por sua arquitetura funcional, dinâmica e econômica. 10


Contraconstrução, Theo van Doesburg, 1923.

Casa Schröder, Gerrit Rietveld, 1924.

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TERCEIRA FASE (1925 A 1931): TRANSFORMAÇÃO E DESESTRUTURAÇÃO

A terceira fase marcou a desintegração do movimento, com a saída de Mondrian do grupo. Um desentendimento entre ele e van Doesburg por causa da introdução de linhas diagonais em seus trabalhos foi o marco do rompimento, em 1924, o que desestabilizou a unidade inicial do grupo. Entretanto, em 1928, van Doesburg fez a sua mais respeitável obra, o Café L’Aubette, em Estrasburgo, França. Importante e polêmica, dada a sua declaração de que o verdadeiro lugar da cor é na arquitetura e pintura, sem construção arquitetônica, não tinha razão de existir. Esta foi a última obra arquitetônica neoplástica verdadeiramente significativa. A partir daí, os artistas que ainda compartilhavam de seus pensamentos foram se afastando e aderindo ao novo pensamento da nova objetividade antiarte, interessando-se na realização técnica de uma nova ordem social. O ideal neoplástico entrou em declínio, primeiro por incoerências internas, depois pelo impacto da pressão cultural externa. Theo van Doesburg morreu aos 48 anos. Mondrian continuou ativo demonstrando, sozinho, o equilíbrio de sua visão de extraordinária riqueza.

Café L’Aubette, Theo van Doesburg, 1928.

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Composição aritmética, Theo van Doesburg, 1930.

“Daí em diante, a maioria dos artistas passaram a estar cada vez mais influenciados pela “nova objetividade” antiarte, derivada das preocupações sociais e interessados nas realizações técnicas de uma nova ordem nacional.” (STANGOS, 2000)

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DE STIJL NO DESIGN GRÁFICO A REVISTA

A revista De Stijl surgiu em 1917, quando ao voltar para a Holanda fugindo da guerra, Piet Mondrian conheceu Van Doesburg e em parceria com ele iniciou não só a revista, mas também o movimento em si. No número um da revista foi publicada a primeira parte de um ensaio teórico de Mondrian intitulado Neoplasticismo na pintura, que continuaria a ser publicado nos 12 primeiros números da publicação. Além de Mondrian e Van Doesburg, contribuíram para a revista também nomes como Van der Leck, Antony Kok e J. J. P. Out. A revista foi publicada durante os 14 anos que o movimento existiu. A De Stijl foi editada e publicada por Van Doesburg de 1917 a 1931, quando ele veio a falecer. O principal objetivo da revista era difundir as teorias e filosofias do movimento, além de ser um modo de divulgar os trabalhos do grupo. O design da revista era rigidamente matemático e adotava tipografias geométricas simplificadas, de modo a remeter às com formas geométricas visadas pelo movimento. (RAMIRES, 2007)

Exemplo de tipografia inspirada no movimento.

Foi Vilmos Huszár que projetou a capa para De Stijl de 1917, combinando o texto e o logotipo criado por Van Doesburg para criar assim uma composição formada por quadrados e retângulos com base em uma espécie de grid aberto, que sugere de maneira implícita o sistema de grid como entendemos hoje. Além disso, foi Huszár também que introduziu a idéia de frontispício (ou folha de rosto) na De Stijl, que continuaria a ser adotada até o final. (MEGGS, 2009)

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Capa vol. 1, nยบ 1.

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Folha de rosto vol. 1, nยบ 1.

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Contracapa vol. 1, nยบ 1.


Folhas de rosto de Vil mos Huszรกr, 1918.

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Em 1921 Van Doesburg adotou a orientação horizontal como o novo formato da revista, formato este que seria utilizado até a sua última edição. A publicação passou a ter duas colunas em vez de só uma, devido ao fato de que, segundo Van Doesburg, ela era frequentemente dobrada pelos correios, e com essa nova diagramação o vinco formado passaria exatamente entre as duas colunas. (MEGGS, 2009; HOLLIS, 2000)

Capa do novo formato, vol. 4, nº 11.

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Folha de rosto, vol. 4, nยบ11.

Contracapa, vol. 4, nยบ11.

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A partir dessa época é possível notar o grande contraste criado entre as capas da revista De Stijl criadas por Van Doesburg e das criadas por Huszár, logo no início. Esta mudança representa a transição consciente de um logotipo em xilogravura preta com um esquema clássico para uma estética elementar, que se encaixava de maneira mais apropriada à impressão sobreposta e à técnica moderna de composição topográfica. Van Doesburg criou então um novo logotipo para De Stijl, onde os tipos eram simetricamente equilibrados dentro de um retângulo implícito, onde o título De Stijl é combinado e sobreposto às letras “N” e “B” que significavam Nieuwe Beelden (Novas imagens). (FRAMPTON, 1968) Em 1922, Eliezar Lissitzy tornou-se membro do De Stijl e juntamente com Van Doesburg republicou, em De Stijl 6-7, o famoso conto infantil tipográfico de 1920, A história de dois quadrados. (FRAMPTON, 1968) Além da revista, Van Doesburg fez também projeto de cartazes e alfabetos utilizando as estruturas verticais e horizontais às letras e ao layout como um todo. Ele eliminou assim as linhas e curvas, e preferiu os tipos sem serifa. Os tipos normalmente eram compostos em blocos retangulares estreitos, mas ainda tinham como base o quadrado. E apesar da redução da legibilidade dos caracteres por causa da eliminação das linhas curvas e diagonais, ainda assim conseguia-se alcançar uma harmonia das formas. (MEGGS, 2009)

Cartaz de Theo Van Doesburg para a exposição La Section d’Or, 1920.

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Os layouts eram assimétricos e compostos a partir de um grid implícito, e as cores não eram utilizadas como acabamento ou decoração, mas sim como elementos estruturais. (MEGGS, 2009) O movimento não sobreviveu com a morte de Van Doesburg em 1931. Porém, mesmo após sua morte, inúmeras pessoas continuaram a utilizar o repertório visual deixado por ele. Os setores de alimentação e bebida, por exemplo, foram os que mais adotaram o estilo gráfico do De Stijl, como a empresa de cafés e chás Van Nelle, que fez grande uso da geometria e da paleta de cores primárias em suas embalagens para promover seus produtos. (MEGGS, 2009; HOLLIS, 2000)

Cartaz da empresa de cafés e chás Van Nelle.

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DE STIJL NOS DIAS DE HOJE Mesmo com o fim do movimento De Stijl, até hoje suas características formais são levadas em consideração no projeto dos mais variados objetos, desde roupas, sapatos e acessórios até à arquitetura contemporânea.

Vestido desenhado pelo estilista francês Yves Saint Laurent, 1965.

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Calçados da Keds.

Gravatas e bolsas Ă venda no site www.zazzle.com.

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Estante Tree Shelf, de Thorunn Arnadottir.

Lixeira De Stijl.

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Estante da loja italiana Zanotta.


Ă lbum De Stijl, da banda The White Stripes.

Ă lbum Young Modern, da banda Silverchair.

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Broadway Boogie Woogie, Piet Mondrian, 1942-43.

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BIBLIOGRAFIA STANGOS, Nikos. Conceitos da arte moderna. 2. ed. Tradução Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2000. MC DERMOTT, Catherine. Design: The Key Concepts. Nova York: Routlegge, 2007. MEGGS, Philip B. História do Design Gráfico. São Paulo: Cosac Naify, 2009. DE MICHELI, Mario. As vanguardas artísticas do Século XX. São Paulo: Martins Fontes, 1991. GOODING, Mel. Arte abstrata. São Paulo: Cosac & Naify, 2002. HELLER, Steven; BALANCE, Georgette. Graphic design history. Nova York: Allworth Press, 2001. SCHAPIRO, Meyer. Mondrian: a dimensão humana da pintura abstrata. São Paulo, SP: Cosac & Naify, 2001. HOLLIS, Richard. Design gráfico: uma história concisa. São Paulo: Martins Fontes, 2000 PIZZO, Esníder. Mondrian e a pintura abstrata. São Paulo: Globo, 1997. ARNTSON, Amy E. Graphic design basics. Florence: Cengage Learning, 2002. BHASKARAN, Lakshmi; RAIMES, Jonathan. Design retrô: 100 anos de design gráfico. São Paulo: Senac São Paulo, 2007. RICKEY, George. Construtivismo: origens e evolução. São Paulo: Cosac & Naif, 2002. <http://sdrc.lib.uiowa.edu/dada/De_Stijl/index.htm> acesso em 18/09/2010, às 22:35. <http://artemodernafavufg.blogspot.com/2009/07/os-ecos-deste-movimento-sao-ouvidos. html> acesso em 18/09/2010 e 19/09/2010.

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