Monografia final Teoria II

Page 1

TRABALHO FINAL - Teoria da Arquitetura e do Urbanismo II Aluna: Luísa do Amaral Resende Sousa 201433027 Professor: Fábio Lima


INTRODUÇÃO O presente trabalho tem como objetivo sintetizar os conteúdos abordados em sala de aula através da disciplina de Teoria da Arquitetura e do Urbanismo II. Ministrada no primeiro semestre de 2016. As aulas foram guiadas através da apresentação de conteúdos e debates entre o professor e alunos, aulas essas desenvolvidas da sala do Urbanismo.mg da faculdade de arquitetura e urbanismo da UFJF. Quanto ao conteúdo apresentado, abordou-se Friedrich Engels através do livro ''A situação da classe trabalhadora na Inglaterra'', cidades e utopias, habitação mínima, Modernismo, através do manifesto acerca da arquitetura moderna de Gregori Warchavchik, e um olhar sobre a América, abordando a rica arquitetura de tal civilização. Junto a isso, o trabalho contará com o relato do curso Fronteiras Permeáveis de Vera Hamburger, realizado em abril na cidade de São Paulo, curso esse que muito contribuiu em reflexões teóricas e projetuais acercada Arquitetura e do Urbanismo. Sendo assim, o presente texto, irá abordar tais conteúdos através da utilização de textos, fotos e também desenhos feitos em sala de aula.


''A autenticidade da experiência da arquitetura se fundamenta na linguagem tectônica de se edificar e na abrangência do ato de construir para os sentidos. Contemplados, tocamos, ouvimos e medimos o mundo com toda nossa existência corporal, e o mundo que experimentamos se torna organizado e articulado em torno do centro de nosso corpo. Nosso domicílio é o refúgio do nosso corpo, nossa memória e identidade.'' Os olhos da Pele


Sobre Cidades, memórias, arte e mundo!

Reflexões sobre a disciplina de Teoria I A disciplina de Teoria I ministrada pela professora Carina Folena durante o segundo semestre de 2015 muito contribuiu para a minha formação como arquiteta e urbanista. Muitos conteúdos foram abordados passando-se por autores como Bruno Zevi e Peter Zumthor por exemplo, além de claro, abordar questões ligadas a arquitetura como a Gestalt, A essência da arquitetura, função social do arquiteto, as cidades e nossa


atuação na contemporaneidade. Como forma de avaliação foram utilizados exercícios que nos levaram a pensar criticamente sobre a arquitetura e urbanismo do passado e também do presente.

Figura 01: croqui desenvolvido durante a disciplina de teoria II Fonte: Arquivo pessoal

A importância da Teoria Uma escola de arquitetura deve claro ensinar ou conduzir os caminhos necessários para que os estudantes aprendam a projetar, mas, em sua essência, ela deve preparar criticamente o estudante para a sua atuação como arquiteto e urbanista e as últimas décadas do século xx se caracterizaram pelo desaparecimento dos discursos hegemônicos em todas as áreas do conhecimento. O arquiteto e urbanista


tem sempre a consciência de que seu trabalho poderia ser diferente. Entretanto, o pior inimigo da profissão e atuação do arquiteto é sem dúvida a atuação pela arbitrariedade. Sendo assim, o que se espera dos cursos de arquitetura é que os mesmos possam oferecer um arcabouço teórico que sirva como alicerce para a atuação pertinente do arquiteto. Em suma, a teoria não deve ser desvinculada da prática. “Menos ainda se deve associar a teoria a uma atividade alternativa à prática do projeto, praticada por espíritos pouco inclinados ou capacitados para a concepção formal: de nada serve a mais atilada observação teórica se não contribui para a intensificação do entendimento visual, condição necessária da capacidade de julgar e, portanto, de conceber” arquiteto catalão Helio Piñon

Figura 02: Livro Vers une Architecture do arquiteto Le Corbusier e que são desenvolvidas inúmeras teprias de arquitetura e urbanismo Fonte: http://www.bdonline.co.uk/pictures/300xAny/6/6/9/1684669_Vers%20Une%20Architecture%20ready.

A situação da classe trabalhadora na Inglaterra A partir da leitura do livro ''A situação da classe trabalhadora na Inglaterra'' os debates em sala de aula foram enriquecidos, uma vez que Engels, além de abordar a questão do proletariado industrial, a burguesia, a migração, a concorrência, os movimentos operários ele aborda também a questão das grandes cidades e todas as transformações sofridas por elas


durante o período industrial, fato esse que muito enriqueceu minha visão teórica como arquiteta e urbanista

Imagem 03: desenho desenvolvido para a disciplina retratando a mecanização do homem Fonte: Acervo pessoal " De fato, não eram verdadeiramente seres humanos: eram máquinas de trabalho a serviço dos poucos aristocratas que até então haviam dirigido a história; a revolução industrial apenas levou tudo isso às suas consequências extremas[...], incitando-os a pensar e a exigir uma condição humana." Friedrich Engels, A Situação da Classe Trabalhadora na Inglaterra

ARQUITETURA MODERNA - IMPORTÂNCIA DOS CIAMs A criação dos CIAMs é considerada como marco inicial do período ''acadêmico'' do Movimento Moderno. ''…dar à arquitetura um sentido real, social e econômico… e estabelecer os limites dos seus estudos.''


Em sua primeira fase o CIAM tartou sobretudo do problema habitacional. PRODUZIR ARQUITETURA COMO SE PRODUZEM NAVIOS. A modulação teve grande importância. Estuda-se primeiro a casa mínima para posteriormente se estudar o Urbanismo

DO MICRO

PARA O MACRO

Imagem 04 e 05 Fonte:

https://www.google.com.br/search?q=ville+radieuse&tbm=isch&imgil=mEy-HcaK0zQy7M%253A%253BrcMtza1vksS-pM%

''À PROPOS DE LE CORBUSIER''

Imagem 06 07 e 08: Imhttps://www.google.com.br/search?q=ville+radieuse&tbm=isch&imgil=mEy-

Na arquitetura de Le Corbusier percebe-se um olhar atento para criação de uma arquitetura que seja consoante com as transformações sociais trazidas pelas novas tecnologias. Um pensamento lógico, racional e disciplinador. Através da modulação (Modulor), buscava-se produzir arquitetura e urbanismo.


Além disso, no campo do urbanismo o arquiteto teve ideias inovadoras ao inserir o pensamento de planejamento anticidade na própria cidade. Criou o plano da cidade imaginária Ville Radieuse. A cidade seria composta por arranha-céus dentro de grandes parques. Havia uma tentativa de separação dos usos e de liberação dos solos atreves de residências verticalizadas. Visava assim, dispersar e ordenar a cidade.

Proposta de moradia

Imagem 09: planta baixa de um apartamento em Marseille Fonte: acervo pessoal.


Américas -TeotihuacanO passeio pelas Américas muito contribuiu nos aprendizados da Teoria da Arquitetura e Urbanismo. Esquecida nos currículos de muitas escolas de arquitetura a civilização americana muito tem a nos ensinar de arquitetura e urbanismo. Olhar para as civilizações antigas é fundamental para a compreensão e aperfeiçoamento da sociedade atual.

Imagem 10: aquarela Teotihuacan desenvolvido durante a disciplina de Teoria II Fonte: acervo pessoal

“A arquitetura e o urbanismo surgiram na América Latina dois mil anos antes da cerâmica. Antes de fazer qualquer coisa, aprendemos a fazer ARQUITETURA.”

Manifesto: Acerca da Arquitetura Moderna - Gregori Warchavchik


''O arquiteto moderno deve amar sua época, com todas as suas grandes manifestações do espírito humano, como a arte do pintor moderno ou poeta moderno deve conhecer a vida de todas as camadas da sociedade. Tomando por base o material de construção de que dispomos, estudando-o e conhecendo-o como os velhos mestres conheciam sua pedra, não receando exibi-lo no seu melhor aspecto do ponto de vista da estética, fazendo refletir em suas obras as idéias do nosso tempo, a nossa lógica" Manifesto: Acerca da Arquitetura Moderna / Gregori Warchavchik O trecho acima muito me chamou a atenção devido ao fato de o autor ressaltar a importância do estudo na vida profissional do arquiteto que deve examinar e investigar tudo ao seu redor, desde materiais até a observação da sociedade, fazendo tudo isso refletir em sua obra, deixando visível as ideias de seu próprio tempo. *Vídeo https://vimeo.com/25620264 - Warchavchik - Uma História

Imagem 11: Casa Modernista SP Fonte: Arquivo pessoal


E O URBANISMO? As Cidades-Jardim Howard se deparou com as condições precárias de vida dos pobres nas cidades . Ele detestava não somente os erros da cidade, mas a própria cidade. Assim, propôs o plano urbanístico denominado Cidade-Jardim. Tais cidades, seriam autossuficientes. Com isso, iriam possuir, indústrias, moradias escolas e áreas verdes localizadas em áreas pré determinadas, seriam inseridas na zona rural e rodeadas por cinturões agrícolas. A cidade seria controlada, impedindo-se o aumento da densidade e mudanças no uso do solo, por exemplo. Sua teoria influenciou e continua influenciando o urbanismo atual. Até mesmo na cidade de Juiz de Fora é possível perceber a presença de tal conceito de cidade, no condomínio Alphaville.

Imagem 11: Implantação de um condominio fechado Fonte: Arquivo pessoal

As reformas higienistas e as remoções forçadas: cidade para quem? As remoções ocasionadas sobre o pretexto de higiene e embelezamento das cidades não são fatos novos, permeiam o Brasil e o mundo desde muito tempo. Como exemplo, pode-se citar a reforma urbana de Pereira Passos, que buscava se aproximar de um urbanismo parisiense.


Na atualidade, as remoções tem sido cada vez mais frequente. Expulsam-se os menos favorecidos para locais desprovidos de infraestrutura básica, em nome do lucro e da especulação imobiliária. A cidade, é infelizmente, para poucos.

Imagem 12 e 13 : Novo Recife e remoções no Rio de Janeiro http://s2.glbimg.com/5W3gPCKVVDK598keRZeMZRYWtE=/s.glbimg.com/jo/g1/f/original/2013/12/28/novo-recife.jpg

Se essa rua fosse minha... O planejamento extremamente racional proposto em inúmero planos urbanísticos, não foram capaz de estabelecer um diálogo com a cidade e seus lugares. Através da imposição de um traçado rígido são criados espaços públicos sem vida e desérticos. A rua cede lugar aos carros e deia de ser um espaço de convivência e interação. As pessoas se voltam para o interior dos edifícios. Há perda do espaço público e sua frequente privatização. Espaços se deterioram, e entram em crise por não cumprir o objetivo ao qual se propuseram.

Imagem 14: Implosão do conjunto Pruit Igoe Fonte: https://www.google.com.br/search?q=Pruit+Igoe&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ved=0ahUKEwigm63G6rLOAhWFF5AK HQ7qCjQQ_AUICSgC&biw=1745&bih=837#imgrc=hdo-2p4j6ejNyM%3A


Imagem 15: Proposta de cidade ideal Fonte: Arquivo pessoal

Imagem 16: The Interlace Fonte: Arquivo pessoal


Fronteiras Permeáveis -Vera Hamburger

Em seguida apresentarei um breve relato sobre o curso de cenografia e Direção de arte que realizei em São Paulo durante o mês de abril com a a diretora Vera Hamburger. ''tem como objetivo investigar o espaço da cena como linguagem e explorar os mecanismos de criação e percepção do espetáculo contemporâneo, seja ele performativo, cênico, visual ou audiovisual.'' ''A ação é a linha condutora do trabalho. A prática interdisciplinar, o principal eixo de estudo. Através de laboratórios experienciais de intervenção e atuação no espaço, os elementos da conformação e dinâmica da cena apresentam-se ao participante.''

O curso foi dividido em três módulos que ocorreram em diferentes locais da cidade e de forma multidisciplinar com participação de arquitetos, cenógrafos, estudantes, bailarinos e atores, o que muito enriqueceu a dinâmica do processo.

Módulo 01. Da experiência à forma: A ideia era a fabricação do lugar em ambiente neutro. através da utilização de materiais de uso cotidiano. ''A cada exercício elementos essenciais do desenho do espaço serão o ponto de partida para o desenvolvimento de uma instalação, no qual os participantes revezam-se nas posições de construtores, iluminadores, sonoplastas, atuantes e espectadores.''

Imagem 17 e 18: Trabalho desenvolvido durante o curso Fonte: Arquivo pessoal e Ana Laura Leardini


Imagem 19, 20, 21 e 22: fotos do desenvolvimento do curso Fontos: LuĂ­sa Amaral, Ana Laura Leardini e Gabriela Costa


Módulo 02: Da arquitetura ao personagem: Realizado na Vila Itororó em SP um espaço repleto de potencialidades cênicias. Reconhecimento do local e de os personagens que lá habitam/habitaram. ''Em uma capital que se renova a cada minuto, baseada na destruição do que já foi, o dia a dia na vida de um bairro tradicional será o mote da investigação do coletivo nesta segunda fase.'' ''O espaço público entrelaça-se ao universo particular do habitante/usuário do lugar em meio real. A narrativa torna-se presente através desta convivência. O espaço se revela pela presença daquele que o reformula a cada dia.''

Imagem 23 e 24: Vila Itororó Fonte: Luciana Pinto


Imagem 25, 26, 27 e 28: Da arquitetura aos personagens... Fonte: http://www.verahamburger.com.br/fronteiraspermeaveis


Imagem 29 e 30: Da arquitetura aos personagens... Fonte: http://www.verahamburger.com.br/fronteiraspermeaveis

Módulo 03.Direção de arte, um conceito em prática. Aulas teóricas sobre Direção de Arte ''A reflexão conceitual finaliza a experiência. Durante os debates, espera-se que o participante reconheça impressões vislumbradas pela experiência, reavalie considerações conceituais precedentes, encontre assim níveis de percepção e repertório artístico, estético e ético renovados. O ciclo se fecha.''

Imagem 31 e 32: Aulas e discussões teóricas Fonte: http://www.verahamburger.com.br/fronteiraspermeaveis


Imagem 31 e 32: Aulas e discussões teóricas Fonte: http://www.verahamburger.com.br/fronteiraspermeaveis

ESPAÇO Um dos temas principais da oficina, o espaço, e todas as relações estabelecidas com ele.


Imagem 33 34 e 35: imagens do curso Fonte: http://www.verahamburger.com.br/fronteiraspermeaveis

Imagem 36: Desenho desenvolvido durante o curso Fonte: Arquivo pessoal


Imagem 37: Participantes do curso Fonte: http://www.verahamburger.com.br/fronteiraspermeaveis

Enfim, tá ai um pouquinho de como foi minha experiência. que mudou minha forma de ver o espaço, o mundo e a cidade!


Anexo - CUZCO


CUZCO Trabalho Teoria II - Arquitetura e Urbanismo Prof. Fรกbio Lima Grupo: Augusto Brandรฃo | Fernando Costa | Karine Dias | Luisa Amaral


INTRODUÇÃO O presente trabalho faz parte da disciplina de Teoria II da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), ministrada pelo professor Fábio Lima. O objetivo do trabalho é compreender a cultura, a história, a arquitetura e as técnicas construtivas do povo Inca. Os Incas construíram um grandioso império nos tempos pré-colombianos. De Santiago, no Chile até Quito, no Equador, encontram-se ainda hoje resquícios de estradas, sistemas de irrigação e cidades planejadas. Transformaram territórios áridos em terras férteis para o cultivo de subsistência. E os ecos deste tempo, apesar de abafados por séculos de dominação colonial, ainda podem ser captados por ouvidos atentos. Assim, é de fundamental olhar para essa civilização de forma atenta, para que se possa absorver conhecimentos e aplicá-los nas cidades contemporâneas.


EPÍGRAFE “A arquitetura e o urbanismo surgiram na América Latina dois mil anos antes da cerâmica. Antes de fazer qualquer coisa, aprendemos a fazer arquitetura.” José Canziani


| CUZCO PRÉ INCA | Até 750 D.C., Cuzco era povoada por pequenos grupos étnicos locais pouco desenvolvidos no plano urbano, religioso e político. Ocorreu nessa época a invasão da cultura Wari, oriundos da região de Ayacucho localizada ao norte de Cuzco. Os Wari introduziram grandes mudanças na região, como o culto religioso ao deus Wiracocha, a organização do Estado através do recolhimento de tributos, a massiva urbanização e o desenvolvimento do comércio regional e imperial. Por motivos até hoje desconhecidos, a cultura Wari desapareceu de Cuzco aproximadamente no ano 1000 D.C. Entretanto, deixou um rico legado cultural e material que foi aproveitado posteriormente pelos incas. Pelos 200 Anos que se seguiram, Cuzco foi povoada por grupos migratórios que viviam com a tribo Ahjamama, que já ocupava o local. Esses fatos históricos coincidem com os mitos constitutivos da cidade que confirmam que os Incas não foram os originários.

Figura 1 e 2: complexo de Pikillacta. Situado há 32 km ao sul da cidade de Cuzco. O complexo possui mais de 700 edifícios. Fonte: https://manboyinthepromisedlanddotcom.files.wordpress.com/2012/08/p1040633.jpg https://therealchrisparkle.files.wordpress.com/2011/10/569.jpg

A cultura Wari A cultura Wari foi de fundamental importância e ocupou grande área na América do Sul. No entanto teve grande parte de sua composição destruída pelos Incas, sobrando-se


apenas tais ruínas que podem até hoje serem conferidas. Como não havia fonte de água próximo ao local as construções foram abandonadas restando até hoje tais ruínas.

| INCAS | O ESTADO INCA Sua fundação foi estabelecida à partir de muito esforço três séculos antes da chegada dos espanhóis, em 1250 de nossa era. Segundo os historiadores, ela começou como um pequeno "curacazgo" ou senhoria local, se espalhando pelos Andes. Aproximadamente no ano 1300, esse domínio se uniu pacificamente a outras etnias estabelecidas na região para formar uma confederação Quechua que compreendia a zona de Sicuani (ao sul de Cuzco) até as proximidades de Andahuaylas (ao norte). Cuzco foi desde o começo, e provavelmente antes dos Incas, um centro de cerimônias importante: por isso ter permanecido como um "nó" da expansão. No entorno de 1430 aconteceu a invasão dos Chancas, que vinham do norte (Ayacucho), esses, estabeleceram um sangrento conflito com os incas, surgindo a partir disso o mito do grande imperador inca Pachacutec, cujo o pai, Wiracocha, raptado pelos Chancas, consegue fugir com seus filhos, dessa maneira, Cusi Yupanqui (Pachacutec) os enfrenta em duas batalhas, das quais sai vitorioso, projetando-se assim como Inca (imperador) e fazendo surgir o mito de que pedras se tornaram soldados em seu campo de batalha.

Figura 3: Imperador Inca Pachacutec e extensão do domínio inca. Fonte:Le Guide essentiel Vallée Sacrée des Incas et Cusco.


Após a derrota dos Chancas, os Incas começaram um período de expansão que foi de 1438 à 1527, no qual conquistaram o reino Chimú, na costa norte do atual Peru. O Estado Inca ou Tahuantinsuyo cresceu aproximadamente cem vezes sua superfície em noventa anos. Ele compreendia a região que ia da costa do Pacífico aos Andes, e dos rios Maule e Bío Bío no Chile e a zona de Tucumán e Mendoza na Argentina ao sul e parte da Colômbia ao norte. Durante esses anos, a arte refinada dos incas se desenvolveu seja nos templos de pedra polida, quanto nas cerâmicas ricamente decoradas. A ornamentação dos artefatos utilizados pelos incas fazia referência aos deuses e a animais. Assim, peças se apresentavam em diversas formas geométricas e abstratas. As mulheres eram responsáveis pela produção de belos tecidos com desenhos admiráveis, bem como a produção de objetos em ouro.

Figuras 4 e 5: Vasos Incas. Fonte: https://c2.staticflickr.com/4/3198/2856578126_100c6502be.jpg http://cultura.culturamix.com/blog/wp-content/gallery/cultura-inca-3/Cultura-Inca-5.jpg


Em 1523, os espanhóis já se encontravam na América e nesse mesmo ano o Inca Huayana Capac, pai dos úlltimos Incas Huascar e Atahualpa, morre vítima do vírus da varíola (trazida pelos espanhóis). Huayana Capac havia designado seu filho Ninancuyuchi como herdeiro ao trono, no entanto esse morre quase que ao mesmo tempo que seu pai, pela mesma doença. Alguns anos mais tarde, isso provoca a disputa pelo trono entre os irmãos Huascar e Atahualpa. Huascar, que vivia em Cuzco, reinou por nove anos até os avanços de seu irmão, à partir de Cajamarca, na tentativa de tomar o poder. As tropas de Atahualpa venceram sucessivas batalhas no curso da ofensiva pelo sul, chegando a tomar Cuzco e Huascar. Nessa época, Pizarro havia desembarcado já na costa peruana e tomado a direção de Cajamarca. Em Cajamarca, Pizarro foi feito prisioneiro pelo Inca Atahualpa após uma audaciosa emboscada. Dessa maneira, Atahualpa conseguiu exterminar muitos espanhóis, uma vez que a superioridade numérica dos incas era enorme. Entretanto, sua curiosidade a respeito dos estrangeiros e subestimação causou mais tarde a vida e o reino. O dia 16 de novembro de 1532 marca o fim do Estado Inca. Aprisionado, Atahualpa ordena a execução de Huascar, temendo que Pizarro o rendesse o poder.

|ARQUITETURA INCA| 1) Materiais e técnicas A pedra foi o principal material escolhido pelos incas para construir seus edifícios. Uma vez que a mesma possibilitava a criação de estruturas bastante sólidas, e resistentes, além de passar uma imagem de poder e permanência. A pedra, além de ser um material abundante na região, sempre teve um valor existencial para os seres humanos. De vários tipos e tamanhos os incas conseguiam encaixa-las com muita precisão, utilizando argamassa somente para algumas tipologias. Até hoje não se sabe ao certo a técnica utilizada por eles para cortar as pedras com tanta precisão, algumas teorias apontam que para a utilização de pedras mais duras, enquanto outras demonstram o uso de ferramentas a base de minério de ferro ou até mesmo diamante. E há, ainda, outra teoria revela o uso de uma substancia química para amolecer a pedra. A pedra dos 12 ângulos revela a perfeição do trabalho realizado pelos incas e é até hoje muito admirada pelas pessoas que visitam a região. Apesar de simples, as incas construções eram muito resistentes e algumas ainda existem até hoje, resistindo aos terremotos que ocorrem na região. Os telhados das construções eram feitos com palha e com estrutura de madeira ou cana que eram amarradas por cordas. Buracos furados nas paredes de pedras e cavilhas introduzidas nas paredes eram utilizados para amarrar o telhado.


Figuras 6-a: Pedra dos 12 ângulos. Fonte: http://www.daportaprafora.com/wp-content/uploads/2013/06/pedra03.jpg

Figuras 6-b: Sistema de Telhado. Fonte: Croqui Pessoal


- Tipo rústico ou Pirka: feito com pedras brutas esculpidas e acomodadas sem muito cuidado; os espaços vazios foram preenchidos com pequenas pedras e lama. Usado em terraços, armazéns e casas. -Tipo célula: semelhante à estrutura de um favo de mel, pequenas pedras calcárias poligonais. Encontramos exemplares em Qolqanpata, Chinchero, Tarawasi, etc .. -Tipo "enchased": Feito com rochas ígneas. Ex. Templo principal (Ollantaytambo), o Templo das Três Janelas (Machu Picchu), Hatun Rumiyoq (Cusco). -Tipo inca sedimentar ou imperial: Usava pedras de tamanho médio, organizadas em linhas horizontais, com juntas perfeitamente polidas (impossível colocar uma lâmina de barbear ou até mesmo uma folha de papel). - Tipo ciclópico: Também conhecido como Megalithic é caracterizado por conter grandes blocos de granito que, em alguns casos atingiram até 8,5 metros de altura, como visto em Saqsayhuaman ou no templo principal de Ollantaytambo. Normalmente, as paredes tem uma ligeira inclinação devido aos materiais utilizados e a quantidade de chuva durante o ano, os tetos tinham uma inclinação que variava de 50 ° a 65° e eram renovados a cada 3 anos em média.

2) Edifícios A arquitetura inca possuía um nível muito alto de lógica e padrões manifestados nas repetições de suas construções e agrupamentos. As edificações na maioria das vezes possuíam formatos retangulares e quase sempre sem compartimentos internos. Em alguns casos seus formatos eram modificados, quando se deparava, por exemplo, com um uma curva de nível. Em outros casos, criava-se terraços curvos para diferenciar uma arquitetura mais importante como templos, um exemplo ainda remanescente é uma parede externa do Templo do Sol.


Figuras 6-b: Parede curva no Tem´plo do Sol. Fonte: https://ancientamerindia.files.wordpress.com/2015/12/cuzco-131.jpg

Não se pode assumir que as construções retangulares que possuíam apenas um compartimento são construções habitacionais unifamiliares, particularmente aquelas construções que possuíam grandes aberturas, eliminando uma de suas laterais. É muito difícil determinar o que ocorre nas edificações incas, os seus usos. A arquitetura inca se destaca pela maneira como se integra ao terreno e a paisagem onde se insere, souberam muito bem aproveitar não só o potencial construtivo que a pedra pode fornecer mas também seu aspecto estético.


Figuras 7-a: Tipos de construções. Fonte: Croqui Pessoal


Figuras 7-b: Tipos de ornamentos, A- porta com marco duplo, B- recortes nas paredes provavelmente sendo utilizado para colocar vasos, esculturas e oferendas para deuses. Fonte: Croqui Pessoal

As construções possuíam poucas ornamentações, essas poucas eram feitas por algumas alvenarias que eram pintadas e alguns detalhes construtivos, os marcos das portas que muitas vezes possuíam um duplo ou triplo recuo. Muitos exemplares da arquitetura inca foram demolidos por outros povos que chegavam em Cuzco, principalmente os espanhóis que utilizavam como base as construções de pedra e por cima construíam suas arquiteturas.

Figuras 7-a: Planta baixa do Templo do Sol mostrando a como os espanhóis aproveitaram a arquitetura inca como base de suas construções Fonte: https://ancientamerindia.files.wordpress.com/2015/12/cuzco-12.jpg


2) Kallancas As kallankas são outro exemplo da arquitetura básica inca. São grandes edifícios retangulares abertos que ficavam em volta das praças usados como grande espaços abertos para comemorações, cerimônias e festivais. Elas também eram construídas em estações nas estradas incas funcionando como abrigo temporário para soldados, trabalhadores ou negociantes. Também funcionavam como um local para guardar suplementos sendo conduzidos pelos incas.

Figuras 7-a: Exemplo de Kallanka. Fonte: Croqui pessoal

3) Kanchas As kanchas são agrupamentos de 3 ou mais edificações dispostas de forma simétrica dentro de uma quadra voltadas para um pátio central. São fechadas por muros e pelas próprias paredes das construções e com poucas aberturas para as vias que circundam as kanchas. É composta por construções simples, retangulares, algumas com poucas e outras com mais aberturas. Sabe-se que um dos usos das Kanchas eram como simples habitações, porém como dito anteriormente não é possível determinar que essas construções possuíam somente um uso. As kanchas formavam uma unidade, uma quadra no planejamento urbano das cidades incas.


Figuras 6-a: Kanchas- Planta baixa e perspectiva. Fonte: Croqui Pessoal

- Tipo rústico ou Pirka: feito com pedras brutas esculpidas e acomodadas sem muito cuidado; os espaços vazios foram preenchidos com pequenas pedras e lama. Usado em terraços, armazéns e casas. -Tipo célula: semelhante à estrutura de um favo de mel, pequenas pedras calcárias poligonais. Encontramos exemplares em Qolqanpata, Chinchero, Tarawasi, etc .. -Tipo "enchased": Feito com rochas ígneas. Ex. Templo principal (Ollantaytambo), o Templo das Três Janelas (Machu Picchu), Hatun Rumiyoq (Cusco). -Tipo inca sedimentar ou imperial: Usava pedras de tamanho médio, organizadas em linhas horizontais, com juntas perfeitamente polidas (impossível colocar uma lâmina de barbear ou até mesmo uma folha de papel). - Tipo ciclópico: Também conhecido como Megalithic é caracterizado por conter grandes blocos de granito que, em alguns casos atingiram até 8,5 metros de altura, como visto em Saqsayhuaman ou no templo principal de Ollantaytambo. Normalmente, as paredes tem uma ligeira inclinação devido aos materiais utilizados e a quantidade de chuva durante o ano, os tetos tinham uma inclinação que variava de 50 ° a 65° e eram renovados a cada 3 anos em média.


4) Edifícios

Figuras 6-a: tipos de construções. Fonte: Croqui Pessoal

Muitos exemplares foram demolidos por outros povos que chegavam em Cuzco. Os espanhóis utilizavam como base as construções de pedra, e por cima construíam suas arquiteturas.

5) Kallancas


6) Kanchas

Figuras 6-a: Kanchas- Planta baixa e perspectiva. Fonte: Croqui Pessoal

|AS CIDADES INCAS| Segundo o professor da Universidade Católica do Peru José Canziani, “A arquitetura e o urbanismo surgiram na América Latina dois mil anos antes da cerâmica. Antes de fazer qualquer coisa, aprendemos a fazer ARQUITETURA.” De acordo com Canziani se faz necessário olhar pra os primeiros povos como os agentes protagonistas do processo civilizatório das Americas. Consoante com tal pensamento, o professor estabelece seis aprendizados possíveis para as cidades de hoje, tendo como base as construções incas, são eles:

1) Estreita relação entre cidade e território O famoso imperador Pachacutéc, possuía um grande interesse por arquitetura. Assim, ordenou a reconstrução de Cuzco, capital inca, que durou 20 anos e mobilizou milhares de homens e mulheres. O esforço gigantesco construiu uma cidade que se relacionava com seus rios e montanhas, entrelaçando territórios e paisagens distintas num desenho capaz de contemplar vocações urbanas manufatureiras e agrícolas. O centro, no


entanto, teve vida curta com a chegada dos espanhóis cerca de cinquenta anos após sua construção. “Nós, quando construímos nossa modernidade, olhamos para frente sem olhar para atrás. Os instrumentos que fizeram tudo isso eram simples. Um pau para cavar, uma bolsa de pano, eram instrumentos rudimentares. A tecnologia está em transformar o território em uma ferramenta, usando as tecnologias essenciais da cultura inca: terra, pedra e materiais orgânicos”, relata Canziani.

2) As cidades fazem parte de uma rede territorial que promove o desenvolvimento Uma vez que os espanhóis não se aclimataram ao ambiente montanhoso da região, a cidade de Huanco Pampa, que se localiza à 3.800 metros do mar, pôde manter-se conservada. Estrategicamente localizada entre as rotas que ligavam ao litoral do pacífico e à floresta amazônica, ela era um dos pontos de passagem do império e contribuía para a ligação de trabalho, informação e recursos. Servia como descanso para os viajantes que percorriam os mais de 40 mil quilômetros de rotas e o Caminho Inca, uma trilha que conectava toda essa civilização, do sul do Chile até o Equador. As cidades, nesse sentido, concentravam cultura, transmissão de informação, conhecimento e possibilidade de produção de manufaturas a partir dos recursos naturais colhidos pelas comunidades agrícolas.

Figura 6: Sistema de vias que conectava o império. Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/5/5 3/Inca_roads-en.svg/1000px-Inca_roads-en.svg.png


Figura 7: Caminho Inca à Machu Picchu. Até hoje é possível conferir uma parte da estrada inca fazendo um percurso que atravessa acima do rio Urubamba e chega até a cidade de Machupicchu. Fonte: http://trilhaincamachupicchu.org/wp-content/images/trilha-inca-mapa-altitude.jp

3) Cidades sustentáveis, vinculadas a paisagem, ao clima e a geografia, que mesclam o ambiente urbano e rural. A “domesticação do terreno”, para os incas, caminhava junto com a construção das cidades. O plano urbano levava em conta os caminhos dos rios e diversas intersecções entre fronteiras agrícolas e urbanas. Todo o meio ambiente natural era levado em consideração em sua construção. Os depósitos de alimentos em Puna, por exemplo, eram construídos de forma a manter uma temperatura constante de 5 graus em seu interior, usando apenas pedra, barro e o clima do local. O sol servia como plano mestre da cidade, seu desenho e formato eram reproduzidos pelos arquitetos indígenas, levando em conta a iluminação e o calor natural, baseado no binômio “irradiar e concentrar”.


Imagem 8: A organização bem integrada de Cuzco com a paisagem. Fonte: http://portal.aprendiz.uol.com.br/wp-content/uploads/2014/03/cuscoinca600.jpg

4) Cidades que dispõem de dispositivos de articulação entre espaços 4)Cidades que dispõem de dispositivos de articulação entre espaços abertos e públicos e os privados.

4)

As praças eram o ponto central do planejamento urbano inca. A praça original de Cusco, antiga capital do império, era 5 vezes maior do que a atual. Além de proporcionar uma relação maior dos habitantes com a paisagem ao redor, as praças eram cercadas pelas Kallankas, edíficios enormes, vazios e multifuncionais, que abrigavam as pessoas quando havia condições climáticas adversas, serviam como espaço de trabalho coletivo e eram o ponto de ligação entre espaços públicos e privados. “O mundo ocidental nos impôs praças limitantes, rígidas, que não permitem articulações entre cidades e praças, não têm essa permeabilidade”, ressalta Canziani.

Figura 9: Praça atual da cidade de Cuzco, que possui extensão 5 vezes menor que a praça original do antigo império. Fonte: http://www.penaestrada.blog.br/wp-content/uploads/2012/01/cu04.jpg


5) Cidades que admitem a diversidade social e cultural Recentemente, Canziani ao estudar vestígios de construções próximas a uma cidade inca, se esbarrou com algo que parecia uma ''favela'' antiga. No entanto, a medida que foi se aprofundando chegou a conclusão que deveria ser, na verdade, uma forma de adaptação da cidade ao seu entorno agrícola, uma vez que muitos camponeses não abdicavam do seu modo de vida e construíam nos arredores da cidade edificações que respondessem às suas necessidades. Para o professor, isso significa e simboliza uma cidade diverersa, antes de ser uma cidade marginal. As chamadas ''kanchas'' eram quarteirões, ruas e casas de uso transitório para as pessoas que habitavam, com pátios e áreas comuns abertas em cada quadra. Nas cidades incas “As relações sociais e de parentesco se transmutam na estrutura urbana. Há bairros de trabalhadores da mita (trabalho escravo), responsáveis por construir a cidade, transformar produtos agrícolas, ou seja, não há que deixar de lado o contexto histórico, era um estado autoritário e centralizado, que impunha ordem. Mas faziam suas coisas com vínculos de reciprocidade, respeitando diversidade e assimilando-os ao Estado, de acordo com a cosmovisão andina”, analisa o professor.

Figura 10: Plano da cidade de Cuzco repleto de simbolismo, que possui a forma de um Puma com a praça central Haucaypata na posição que ocuparia o peito do animal. A cabeça do felino estaria localizada na colina onde está a fortaleza de Sacsayhuaman. Fonte: http://portal.aprendiz.uol.com.br/wp-content/uploads/2014/03/cuscoplanogeral.jpg


6) Cidade como espaço de representação, socialização e festa. A cidade deve ser parte do bom viver Para o professor, o rituais de celebração templos e edíficios – da representação do possível, restaurada. dançar.

espaço urbano inca sempre esteve intimamente ligado à realização de e comunhão. No desenho das cidades, a existência de praças enormes, como as kallankas – revelam a importância da socialização, das festas e conjunto de valores de um povo. Essa dimensão deve ser, sempre que As cidades, desde os tempos mais antigos, também foram feitas para

Figura 11: A música e a dança é até hoje muito presente na cultura peruana. frequentemente as ruas e praças são ocupadas com manifestações culturais tradicionais. No dia 24 de junho se comemora o ano novo inca e especialmente nesse mês em todo o Peru, acontecem inúmeras festividades. Fonte: http://www.daytrippers.com.br/cusco

| Hanan Cuzco e Hurin Cuzco | A cidade de Cuzco era dividida em duas metades: Alto Cuzco ou Hanan Cuzco e Baixo Cuzco ou Hurin Cuzco. Essa separação, delimitada pelo caminho que levava a Antisuyu (a floresta), não era apenas espacial, mas também social, econômica e política, e por consequência , dinástica.


A divisão tomou como referência a oposição do espaço no alto (hanan) e do espaço abaixo (hurin). As conotações ultrapassam o plano geográfico e mostram a visão dos cosmos andino. Hanan ou parte alta era identificada com tudo que é masculino, ao passo que Hurin ou parte baixa com o que é feminino. Os Hurin eram padres, intelectuais e se vestiam de preto, portando uma lua em seus peitos, deixando os cabelos longos e possuíam o Koricancha. Os Hanan eram militares, políticos, se vestiam de vermelho, portavam um sol em seus peitos, cortavam os cabelos e possuíam o Sacsayhuaman.

 KORICANCHA Esse templo, que se encontrava onde está o atual Convento de Santo Domingo, foi o mais rico e conhecido do Estado Inca. Seu primeiro nome foi Inti Cancha (Mãe do Sol) por adorarem o Deus Sol, a principal divindade Inca. Não conseguimos determinar ao certo a data de sua construção, mas a tradição afirma que foi ordenada por Manco Capac. Entretanto, segundo afirmações da pesquisadora Rostworowski, o construtor do santuário teria sido Pachacutec Inca Yupanqui. Este Inca teria dotado o templo com uma grande quantidade de objetos em ouro e dinheiro. Pachacutec consacra no salão principal o deus Sol, com a representação do deus Wiracocha a sua direita e e de Chuquiylla a sua direita. À partir desse momento, o sol se tronou a principal divindade; o culto aos Huacas e outras divindades locais não foi suprimido, mas se tornou secundário. Todos os cronistas apontam a riqueza e esplendor do templo, suas paredes cobertas de ouro, seus nichos decorados com a beleza e finesse das pedras talhadas, seus tetos altos em madeira, cobertos por palhas e decorados com mantas delicadas de plumas de todas as cores. Em frente ao templo, havia o Inti Pampa ou Jardim do Sol, que era recoberto por figuras em ouro maciço, e grande variedade de plantas, árvores frutíferas e animais. O altar principal do Inca possuía uma escultura em ouro maciço que representava o deu Sol; na chegada dos espanhóis, as múmias (mallqui) dos Incas Pachacutec e Huaya Capac, entre outra, estavam dispostas perto do altar. Koricancha foi destruído antes de 1560, restando apenas três edifícios secundários.


| CUZCO COLONIAL | Em 15 de novembro de 1533, Francisco Pizarro, sobre o comando de tropas espanholas e mercenários nativos de etnias dominadas pelos Incas, invade a cidade de Cuzco e nas primeiras semanas inicia a pilhagem das riquezas em ouro dos templos e palácios, repartindo-as posteriormente. Dia 23 de março de 1534, Pizarro funda a "nobre e grande vila de Cuzco", estabelecendo os limites da cidade, distribuindo os solares e edifícios entre os invasores. Os palácios incas se transformaram em templos, conventos, monastérios e mansões dos conquistadores. Novas ruas foram traçadas, campos em terraços foram desfeitos, inúmeros muros foram desfeitos afim de utilizar as pedras nas novas casas; Sacsayhuaman por exemplo, se tornou o principal fornecedor de material para a construção da Catedral entre outros templos. Da mesma maneira que Cuzco no Peru, Quito no Equador e a cidade do México também foram centros políticos e religiosos indígenas que tiveram seus traçados urbanos précolombianos alterados pelo modelo espanhol de urbanização. Apesar dos materiais utilizados serem da própria região, essas novas cidades apresentavam, desde concepção espacial à arquitetura tipicamente espanhóis. O Estado espanhol acabou por sistematizar o modo de se fazer a cidade colonial: Felipe II decretou as Ordenanzas de descubrimiento, nueva población y pacificación de las Indias, que trazia, entre outros tópicos, a legislação a respeito da construção dos núcleos urbanos espanhóis em terras americanas. A partir do "descobrimento" do Novo Mundo, os espanhóis abriram mão do traçado medieval, e puderam colocar em prática uma nova maneira de se pensar a cidade por meio de um traçado geométrico. Este, que visava a racionalização do domínio colonial, era também um reflexo da necessidade burocrática de ordem e simetria. Um ponto que merece destaque nesse planejamento é a plaza - local das aglomerações e ponto de encontro obrigatório. Ao seu redor, se localizavam todos os símbolos do poder: o poder político, com o palácio do vice-rei ou governador; o poder religioso, com a catedral ou a igreja principal; o poder econômico, com o mercado; o poder municipal, com o Cabildo.

 Plaza de Armas Esta praça tem sido palco de vários eventos importantes na história da cidade, como por exemplo o local do assassinato de José Gabriel Tupac, considerado o primeiro grande líder da resistência andina às reformas dos Bourbon.


Aqui estão Catedral de Cuzco e o templo da Companhia de Jesus, construída em edifícios antigos incas. Na parte central há uma piscina coroado pela efígie de um Inca. Atualmente, a Plaza de Armas de Cuzco é palco de várias celebrações e atividades cívicas da cidade, destacando o festival de Inti Raymi - Festa do Sol; das celebrações do Corpus Christi, com uma procissão de diferentes santos católicos; as celebrações de Cuzco, representando danças regionais, e todos os domingos a elevação das bandeiras de Cuzco e do Peru.

Figura 12: Plaza de Armas Fonte: https://notesfromcamelidcountry.files.wordpress.com/2012/10/img_9034.jpg

 A Catedral de Cuzco A Catedral foi construída sobre o antigo templo de Wiracocha. Em 8 de janeiro de 1536, a igreja se torna Catedral por bula papal. No início era uma construção simples e pobre, porém isso muda em 1560, quando começam os trabalhos do grande e suntuoso templo que durariam 94 anos, até 1654, sob as ordens do arquiteto basco Manuel de Veramendi. Entretanto, foi Diego Arias de la Cerda que terminou os trabalhos e é a ele que atribuímos o remarcável tamanho dos estábulos do Coro. Nesse templo, o Altar Mór brilha graças a sua cobertura em prata em relevo.


Figura 13: Catedral de Cuzco Fonte: https://ghr14.files.wordpress.com/2012/11/catedralcusco.jpg

 A Companhia de Jesus Construído sobre o palácio de Huyana Capac, é um dos templos mais fabulosos de Cuzco. Os jesuítas chegaram em Cuzco em 1570 e a primeira coisa que fizeram foi adquirir esse novo solar. Sua construção que se iniciou em 1581 foi paralela à Catedral. A primeira versão do templo foi destruída devido à um terremoto que atingiu Cuzco em 1650. Ele foi imediatamente reconstruído com mais luxo e com a mesma altura da Catedral, gerando uma rivalidade. Sua construção terminou em 1671, 17 anos antes da Catedral. O templo possui somente uma nave com uma profusão de arcos, pilares, colunas e abóbodas. O Altar Mór, que segue o estilo de Churriguera no qual o retábulo é dourado, coroa seis altares laterais, três em cada lado, que se exibem como capelas. O púlpito dourado se separa da igreja justamente graças a sua cor pouco comum.


Figura 14: Companhia de Jesus Fonte: http://www.pirwahostelscusco.com/pt/blog/wp-content/uploads/2015/01/cusco-igreja-jesuitas.jpg

 Escola de Cuzco No fim do século XVI, surgiu em Cuzco um novo estilo de pintura, que misturava as influências europeias em voga (Flandres, Espanha e Itália) com a realidade andina da colônia: a necessidade constrangedora da Igreja Católica de divulgar o Evangelho e doutrinar os indígenas. Como essa escola durou cerca de duzentos anos, calculamos que mais de um milhão de telas foram pintadas e distribuídas pelas igrejas de Cuzco e do resto do Vice-Reinado que englobava também a região do Equador e Bolívia.


| CONCLUSÃO | O presente trabalho contribui de forma significativa para geração de reflexões e olhares para os povos antigos que habitavam nosso planeta. Através do estudo dos incas e da extrema perfeição com que trabalhavam a pedra, elemento natural base para suas construções criava-se uma arquitetura espetacular, que se relacionava perfeitamente com o local, conseguindo produzir não somente edificações muito resistentes e sólidas, que até hoje se mantém presentes em Cuzco, mas também criando-se uma forte relação com a paisagem natural que cercava toda cidade. Estudar o povo Inca, perceber seus modos de vida, sua arquitetura, cultura e como esses construíam suas cidades, nós faz pensar em resgatar tais formas de pensar a cidade e o meio. Para nós hoje o espaço público é quase sempre limitado, devendo ser possível determinar onde o mesmo começa e termina. Porém os incas o pensavam de forma abrangente e permeável. Utilizamos, hoje, nosso território como um produto, que pode ser modificado para melhor atender nossos interesses, mesmo que isso custe caro para toda sociedade. A consequência disso é a criação de arquiteturas que não se relacionam com seu entorno nem com a população. Como mostra o professor José Canzian em sua frase “A tecnologia está em transformar o território em uma ferramenta, usando as tecnologias essenciais da cultura inca: terra, pedra e materiais orgânicos”, concluímos que devemos então, olhar de forma mais atenta para o local que habitamos e construímos, para assim se obter cidades mais harmônicas e sustentáveis. Sendo assim, com o presente trabalho conseguimos entender como o pensamento urbano inca é muito mais complexo do que poderíamos imaginar. Através de cidades que colocavam a integração como partido fundamental, integração essa entre as pessoas, entre o coletivo e o individual, entre espaço, entre arquitetura, entre paisagem e clima. Valores que são fundamentais hoje na formação das cidades contemporâneas.


|REFERÊNCIAS| Le Guide essentiel Vallée Sacrée des Incas et Cusco. http://escoladacidade.org/bau/jose-canziani-formas-de-asentamiento-y-urbanismo-enlos-andes-centrales-peru/ http://es.rfi.fr/cultura/20120229-jose-canziani-urbanismo-prehispanico http://www.omelhormesdoano.com/cuzco-valle-sur-ruinas-de-pikillacta-e-tipon/ http://cultura.culturamix.com/regional/americas/cultura-inca http://www.daytrippers.com.br/cusco HYSLOP, Jon. Inka Settlement Planning. University of Texas Press, 2010 http://es.rfi.fr/cultura/20120229-jose-canziani-urbanismo-prehispanico http://www.omelhormesdoano.com/cuzco-valle-sur-ruinas-de-pikillacta-e-tipon/ https://books.google.com.br/books?hl=ptBR&lr&id=_BnlAgAAQBAJ&oi=fnd&pg=PT8&dq=related%3AGv0_HYwBzSIJ%3Ascholar.googl e.com%2F&ots=8VG5q9WMWu&sig=R5ry1SqH7dbxtRG1pLWhDHpqXdE#v=onepage&q&f=false


ANEXO - LAGOA DOURADA


CIDADE E MEMร RIA - LAGOA DOURADA

Trabalho Teoria II - Arquitetura e Urbanismo | Prof. Fรกbio Lima | Aluna: Luisa Amaral


300 ANOS DE HISTÓRIA "(...) E o que dizer do espaço sonoro criado por gotas d´água pingando numa abóbada escura e úmida, do espaço urbano criado pelo som dos sinos da igreja, a sensação de distância que temos quando o som de um trem noturno penetra em nossos sonhos, ou o espaço aromático de uma padaria ou loja de doces? Por que as casas abandonadas, sem aquecimento, têm o mesmo cheiro de morte em todos os lugares? Será porque o cheiro que sentimos é, na verdade, criado por nossos olhos?"


''Temos uma capacidade inata de lembrar e imaginar lugares. Percepção, memória e imaginação estão em interação constante; a esfera do presente se funde com imagens de memória e fantasia. Continamos construindo uma imensa cidade de evocações e recordações, e todas as cidades que visitamos são ambientes dessa metrópole que chamamos de mente'' - Os olhos da pele Dedico esse trabalho aos meus avôs José e Maria.


INTRODUÇÃO O presente trabalho tem por objetivo apresentar a cidade de Lagoa Dourada, localizada em Minas Gerais, próximo ao município de Tiradentes e São João Del Rei. A cidade faz parte da Estrada Real e teve grande importância devido a exploração mineral. Sendo assim, objetiva-se apresentar um panorama geral de sua história abordando as principais atividades e arquitetura e urbanismo do passado, a fim de se compreender melhor a organização da cidade contemporânea. Junto a isso, o trabalho desenvolveu-se, também, em um eixo subjetivo, abordando a relação da cidade com as memórias de infância da autora. Para isso, referências teóricas foram utilizadas como o livro Os olhos da Pele e Nova Agenda para Arquitetura. Para fundamentar a pesquisa, uma viagem de estudo foi realizada pela autora durante o mês de Junho do ano de 2016 para conhecer as fazendas da região de Lagoa Dourada e melhor entender sua arquitetura colonial. Viagem essa que também passou pela cidade de Tiradentes, sendo possível então relacionar o Urbanismo e a arquitetura contemporânea das duas cidades.

Lagoa Dourada com vista a rua Tiradentes, a principal da cidade.


LOCALIZAÇÃO

Foto 1: Mapa da Estrada Real Fonte: https://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&source=images&cd=&ved=0ahUKEwiosZSQ7uzNAhWKiJAKHaRWAQgQjBwIBA&url=


Lagoa Dourada localiza-se no estado de Minas Gerais e é uma cidade histórica do Campo das Vertentes, possuindo cerca de 12 mil habitantes

OS CENÁRIOS

foto 2: Povoamento de Lagoa Dourada Fonte:https://www.facebook.com/photo.php?fbid=798309183619660&set=a.791295350987710&type=3&theater

A origem da cidade é similar a de quase todas cidades da região, ou seja, a presença de mineradores em busca de ouro. Primeiramente, a cidade foi nomeada de ''Alagoas das vertentes dos Cataguás'' devido a existência de uma lagoa que se localizava no centro da cidade, que com o passar do tempo foi desaparecendo e hoje dá lugar a um campo de futebol. Tempos depois a cidade ficou conhecida como ''Sítio dos Cataguaszes'' e depois ''Alagoa Dourada'' e finalmente Lagoa Dourada nome que leva até os dias atuais. Os documentos oficiais sobre a origem da cidade que existem no Arquivo Público Mineiro, remontam ao séclo XVIII. Em 1713, o governador das Minas, Dom Balthazar da Silveira realizou quatro sesmarias, a primeira sendo a de Lagoa Dourada, doada ao Cel.


Antonio de Oliveira Leitão. Foi ele também, que construiu um caminho direto ligando São João Del Rei até Congonhas do Campo.

O OURO EM LAGOA DOURADA

O aparecimento do ouro foi, então, fator prepoderante no surgimento do então arraial de Lagoa Dourada. No início sob a forma de fraisqueiras, unidades pequenas de extração e posteriormente de lavras, que eram maiores unidades que necessitavam um maior número de escravos, exploradas inclusive por empresas estrangeiras. O solo lagoense, foi sulcado em busca do precioso metal. No entanto, o esgotamento de tais reservas naturais foi determinando novas buscas de sobrevivência, dando início, assim, às atividades agropecuárias, que até hoje são de fundamental importância na região.

DO SÉCULO XIX AO SÉCULO XX

Na passagem do século XIX para o século XX, o arraial primitivo de Lagoa Dourada foi crescendo quase que exclusivamente, da atividade relacionada à extração do ouro, principalmente em torno da lagoa que lhe deu o nome. Entretanto, as fazendas disseminadas no seu território, já se dedicavam à agropecuária, de maneira incipiente, mas contínua. No início, as casa do povoado ficavam dispostas em torno dessa lagoa e aos poucos acabaram de expandindo para morro acima. Em 1870 a atividade comercial da cidade era representada por sete casas comerciais ( chamadas em geral de ''secos e molhados'')


O URBANISMO EM LAGOA DOURADA As primeiras moradias nas regiões mineradoras não passavam de choças ou simples renchos construídos nas proximidades dos locais de extração, principalmente devido à característica nômade das primeiras descobertas. Posteriormente, a tais moradias rudimentares, nas quais se utilizava preferencialmente os materiais disponíveis na região e a mão-de-obra escrava abundante, passaram a construir suas moradias com formas geométricas padronizadas, principalmente o quadrado e encravavam as portas e janelas nas paredes de pau-a-pique. As famílias cresciam e criava-se assim, a necessidade de moradias mais espaçosas. Em resposta a isso, novos cômodos eram anexados lateralmente à estrutura existente, caracterizando o que se chamou popularmente de ''puxado''. À medida que os moradores foram adquirindo melhores condições financeiras, eles se instalavam em locais mais elevados menos sujeitos ás enchantes e desabamentos. Dessa forma, foram sendo diferenciados dois tipos de construção: as casa ''baixas'' ou térreas de um só pavimento, normalmente de piso de ''chão batido'' eram utilizadas por pessoas com menos recurso e as casas ''altas'', que eram sobrados ou de dois pavimentos, com escadas e normalmente com piso assoalho ou de tábua, eram utilizadas por pessoas com maior poder aquisitivo. Durante o século XIX surgiu-se um novo tipo de construção: a do andar térreo alto, tipo porão alto. Com o tempo, houve uma sistemática substituição das antigas moradias pelas novas, consideradas mais modernas e com mais recursos internos, causando dessa forma, uma grande descaracterização arquitetônica, que acontece até hoje na cidade. Assim, o antigo casório colonial foi aos poucos sendo extinto, restando assim, poucos exemplares.


Foto 3 e 4: as antigas casas coloniais, que foram totalmente descaracterizadas em contraponto a arquitetura atual predominante. Fonte:https://www.facebook.com/leila.bernardes.3/media_set?set=a.791295350987710.100003217561766&type=3

PROPRIEDADES URBANAS Para as primitivas construções os primeiros povoadores empregaram os materiais disponíveis na região, principalmente as grandes toras, madeiras de lei lavradas a machado para o seu arcabouço e pedras para fundações. A divisão interna, portas, janelas, escadas e barrotes, todos de madeira, eram fixados em grossos cravos feitos de ferro fundido e de cabeça achatada. A construção das paredes, típica nesses primórdios, consistia de paus roliços e de varas trançadas em esquadro. Após a amarração dessa estrutura, normalmente com cipós resistentes, enchiam-se as paredes com barro bem amassado. Após a secagem das paredes fazia-se o reboco e finalmente a caição. Os forros eram feitos com esteiras trançadas com bambu (taquara) e também caiadas. Poucas casas resistiram, mantendo suas características arquitetônicas.


Fotos 5, 6, 7 e 8: Imagens da Residência do Dr. José Resende Souza, meu avô, localizada na rua Tiradentes n°63. A residência foi construída no século XX. Fonte: Arquivo pessoal.

AS FAZENDAS DA REGIÃO Históricas e centenárias fazendas enriquecem o acervo cultural e turístico de Lagoa Dourada. Algumas delas, serviram de palco para acontecimentos que projetaram a cidade pelo país, fazendo-nos conhecidos pelas belezas, riquezas e lendas que aqui existem.


Fazenda das Bandeirinhas Fonte:

https://www.facebook.com/leila.bernardes.3/media_set?set=a.791295 350987710.100003217561766&type=3&qsefr=1

Fazenda Mendanha Fonte: https://www.facebook.com/leila.bernardes.3/media_set?set=a. 791296757654236.100003217561766&type=3

Fazenda da Pedra Fonte: https://www.facebook.com/photo.php?fbid=67358300 9425612&set=a.791296757654236&type=3&theater


Fazenda Boa Vista Fonte: http://lagoadouradainfocus.com.br/Albuns/Fazendas /pages/Fazenda%20Boa%20Vista%201_jpg.htm

Fazenda CapĂŁo Seco Fonte: foto de Valeria Souza

Fazenda Ponte Nova Fonte: http://lagoadouradainfocus.com.br/Albuns/Fazendas/pages/Faz enda%20Ponte%20Nova%202_jpg.htm


A CIDADE E A MEMÓRIA ''Então o que quer dizer a palavra 'LUGAR'? É claro que nos referimos a algo mais do que uma localização abstrata. Pensamos numa totalidade constituída de coisas concretas que possuem substância material, forma, textura e cor. Juntas essas coisas determinam uma ''qualidade ambiental'' que é a essência do lugar. Em geral, um lugar é dado como esse caráter peculiar ou 'ATMOSFERA'. '' NORBERGSCHULZ, Cristian


''A autenticidade da experiência da arquitetura se fundamenta na linguagem tectônica de se edificar e na abrangência do ato de construir para os sentidos. Contemplados, tocamos, ouvimos e medimos o mundo com toda nossa existência corporal, e o mundo que experimentamos se torna organizado e articulado em torno do centro de nosso corpo. Nosso domicílio é o refúgio do nosso corpo, nossa memória e identidade.'' - Os olhos da Pele

Lagoa Dourada foi um cenário marcante em minha infância. Era lá que a família toda se reunia, principalmente durante a época da páscoa, período em que a cidade ficava completamente enfeitada devido ás festas religiosas.

Foto 14: eu e meu irmão durante o período da páscoa na cidade. Fonte: acervo pessoal

''Temos uma capacidade inata de lembrar e imaginar lugares. Percepção, memória e imaginação estão em interação constante; a esfera do presente se funde com imagens de memória e fantasia. Continamos construindo uma imensa cidade de evocações e recordações, e todas as cidades que visitamos são ambientes dessa metrópole que chamamos de mente'' - Os olhos da pele

A cidade sempre me tocou nos mais variados sentido seja visualmente devido a arquitetura, seja auditivamente com os sons da cidade, que iam desde o sino às nove da manhã aos domingos para convidar para missa, ou da minha vó preparando o almoço ainda pela manhã. No paladar me recordo do tradicional rocambole, dos bolos, doces e broas que minha avó fazia e também do café aguado e com muita açúcar do vovô. O cheiro, ah o cheiro.. da horta que tinha de tudo, de couve a pé de jabuticaba e limão onde meu avô passava a maior parte do dia.


Foto 16: O café da manhã na casa de Lagoa. A mesa sempre lotada. Fonte: Arquivo pessoal

Foto 17: meus avôs e seus 14 filhos na escada principal da casa de Lagoa. Fonte: Acervo pessoal.


A CIDADE HOJE A cidade em relação a arquitetura foi muito descaracterizada, com muitas casas no estilo colonial demolidas, pelos próprios proprietários. Ao meu ver, se a cidade tivesse preservado as arquiteturas, ela teria um enorme potencial turítico como Tiradentes, Ouro Preto e São joão Del Rei. Entretanto, atualmente, a Secretaria de Cultura tem realizado ações de educação patrimonial e um olhar para a cidade, incentivando um maior contato dos moradores com a arquitetura. Um exemplo de uma ação nesse sentido, foi a distribuição do album de figurinhas da cidade.

Foto 18: Album de figurinhas da cidade Fonte: http://www.lagoadourada.mg.gov.br/noticia/9032


Por ser uma cidade de pequeno porte os eventos que lá acontecem mobilizam uma grande parte da população, como foi o caso da bicicletada que ocorreu na comemoração do aniversário da cidade. A bicicleta, é além de tudo o meio de transporte mais utilizado pelos habitantes da cidade.

Fotos 19 e 20: Passeio Ciclístico e Cultural de Lagoa que ocorreu na comemoração do aniversário da cidade e contou com paradas em patrimônios culturais da cidade, como o Casarão, localizado no centro. Fonte: http://www.lagoadourada.mg.gov.br/noticia/9032


Foto 21: A cidade e a matriz de de Lagoa Dourada. Fonte: Fonte: http://www.lagoadourada.mg.gov.br/noticia/9032

Foto 21: A cidade e a matriz de de Lagoa Dourada. Fonte: Fonte: http://www.lagoadourada.mg.gov.br/noticia/9032

Foto 22: A praรงa principal da cidade Fonte: Fonte: http://www.lagoadourada.mg.gov.br/noticia/9032


A rua e a praça são elementos urbanísticos fundamentais da cidade. A rua é a extensão da casa, é onde os moradores se encontrar para bater papo e a praça, por sua vez, é o ponto de encontro, local onde os moradores se reúnem para conversar e para jogar xadres. Os bares e as padarias também são pontos de encontro marcantes, de manhã cedo, a padaria do Jaci, localizada na rua Tiradentes, a rua principal da cidade, fica repleta de moradores que saem cedo para comprar pão e conversar.

A VIAGEM DE ESTUDOS Durante o mês de Junho de 2016 a autora realizou uma viagem a fim de recolher material para fundamentação do trabalho. Para isso foi feita uma imersão na cidade de Lagoa Dourada com o objetivo de melhor compreender a arquitetura e o urbanismo da cidade contemporânea. Além disso, passando pela cidade de Tiradentes foi possível também reconhecer aspectos da arquitetura colonial da cidade e o crescimento da mesma devida ao turismo. Sendo assim, foi possível comparar as duas cidades, que apesar de muito próximas apresentam claras diferenças. Lagoa Dourada, apesar de seus 300 anos e de ter sido uma cidade com grande importância e riqueza devido a exploração do ouro e posteriormente a agropecuária não manteve conservada sua riquíssima Arquitetura colonial. Por outro lado, a cidade de Tiradentes, manteve preservada grande parte de sua arquitetura colonial, sem contar os grandes investimentos que a cidade recebeu, que permitiu que ela crescesse com grande presença do turismo. Assim sendo, Tiradentes, devido a atividade turística sofreu um grande processo de gentrificação, tendo grande parte de seus moradores expulsos da área central devido aos altos preços. Por outro lado, Lagoa Dourada não sofreu com da mesma forma com tal gentrificação e conseguiu manter a essência do lugar. Com a maior parte de sua população vivendo da agropecuária e comércio local.


Fotos de Tiradentes que mostram como a cidade se encontra com sua arquitetura preservada que a ajuda a se manter como uma cidade turĂ­stica. Fonte: Acervo pessoal


CONCLUSÃO Conclui-se então,que a cidade de Lagoa Dourada ainda hoje mantém muitos traços de seu passado, possuindo a maior parte dos moradores sobrevivendo a partir da agropecuária e comércio local. A rua torna-se uma extensão da casa visto que os moradores a utilizam como ponto de encontro. Através da viagem de estudo, foi possível retornar a cidade e observar todas as mudanças urbanísticas que lá ocorreram, que foram muitas mas que entretanto, a cidade ainda mantém a essência do lugar. Foi possível observar, também, que a prefeitura tem realizado ações que estimulam a percepção da cidade por meio de ações de educação patrimonial, por exemplo. As fazendas da cidade, também tem uma grande importância uma vez que fizeram parte e ainda fazem da vida de muitos moradores, seja como propriedade, como trabalhoo ou como lazer. Já a cidade de Tiradentes, bem próxima a pequena Lagoa Dourada, encontra-se com sua arquitetura totalmente preservada, entretanto extremamente gentrificada e ''gourmetizada'' o que ocasionou a perda de identidade e pertencimento dos moradores com o local e da essência do lugar.


ANEXO - CADERNO TEORIA II





CONCLUSÃO

A cidade é a criação mais apaixonante e complexa do homem. Estudar as cidades consiste também em estudar a história das civilizações. Cidade e sociedade formam uma unidade indissolúvel. A cidade e a arquitetura, manifestam, então, virtudes e vícios de uma sociedade. A cidade contemporânea é excludente, é a cidade das periferias, dos condomínios privados, dos carros, da insegurança, da negligência da rua e do espaço público. O espaço público perde sua conotação existencial como lugar de encontro e relacionamento social e passa a ser local de passagem. A estrutura urbana atual, é zonificada, fato extremamente questionado no urbanismo moderno. A paisagem urbana é cada vez mais caótica e definida por critérios abstratos, como as leis de uso e ocupação dos solos, afastamentos e gabaritos. A cidade é movida pelo lucro e por grupos empresariais que constroem muralhas de espaços privados cada vez mais altos. O arquitetos ficam refens, projetantodo-se arquitetura imobiliária e equipamentos que pouco contribuem com a integração social. As pessoas à margem da cidade são expulsas de áreas ''valorizadas'' para a não cidade, sem infraestrutura urbana, sem mobilidade, sem segurança e sem vida. A cidade fragmenta-se e a injustiça social torna-se mais evidente em contextos urbanos excludentes. O que fica de lição, então, para nós, futuros arquitetos e urbanistas da cidade contemporânea é a busca pela criação de uma cidade mais justa. Uma cidade com mais espaços públicos, mais arquitetura de qualidade, mais mobilidade, mais rua, mais habitação e sobretudo, mais vida.


ReferĂŞncias bibliogrĂĄficas

http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/09.101/99 http://www.verahamburger.com.br/fronteiraspermeaveis http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/resenhasonline/11.125/4329 http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/06.063/437 http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/14.168/5217 http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/resenhasonline/08.093/3025 http://www.archdaily.com.br/br/01-134992/classicos-da-arquitetura-ministerio-deeducacao-e-saude-slash-lucio-costa-e-equipe http://www.pucrs.br/edipucrs/XSalaoIC/Ciencias_Sociais_Aplicadas/Arquitetura_e_Urbani smo/71219-JULIA_PARISE.pdf https://coisasdaarquitetura.wordpress.com/2010/07/28/ciam-o-movimento-moderno-naacademia/ http://au.pini.com.br/arquitetura-urbanismo/181/artigo131095-3.aspx http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/12.143/4369 Tese de TFG Aluna Marina Carrara


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.