aUNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS – UNISINOS UNIDADE ACADEMICA DE GRADUAÇÃO ESCOLA DE DESIGN UNISINOS Luísa Prussiano Diebold
Porto Alegre 2011
Luísa Prussiano Diebold
Inovação Social pelo Design: Um processo de conscientização do paciente no cuidado com o Diabetes
Trabalho de conclusão de Curso apresentado como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel ou Licenciado em Design, pelo curso de Design da Universidade do Vale do Rio dos Sinos
Orientadora: Karine de Melo Freire
Porto Alegre 2011
Dedico este trabalho aos meus pais Carla e Eduardo, e ao meu irmão
Henrique. Sem o apoio deles eu não teria conseguido. Obrigada por agüentar meu humor inconstante, ouvirem meus anseios e serem sempre tão divertidos. Também, à parte felina da família.
Sobretudo, agradecer a professora Karine por toda dedicação, paciência e
contribuição “de corpo e alma”, e ao professor Borba pelo incentivo. Agradeço aos pacientes da UBS da Vila Gaúcha de Porto Alegre, por dividir comigo sua realidade. Ainda, agradeço a contribuição da equipe de saúde pelo interesse e ajuda durante o processo.
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Este projeto visa entender como comunicar questões relevantes para
pacientes com Diabetes tipo 2 através do Design. A importância de tornar a doença aparente esta associada a possibilidade de controlar os efeitos futuros causados pelos maus cuidados do paciente.
Por sua vez, o projeto tem o objetivo de Desenvolver um produto para
facilitar a autogestão do Diabetes tipo 1 pelos usuários do SUS. Tendo em vista: compreender o contexto social dos pacientes; gerar insights para o projeto envolvendo atores do processo, a partir da perspectiva do co-‐design; projetar um produto para facilitar a visualização do estado de saúde do paciente; testar o protótipo em seu contexto de uso propondo melhorias.
Frente a isso, a metodologia de pesquisa utilizada foi a Pesquisa-‐ação. As
fases do trabalho foram: Pesquisa Bibliográfica, Pesquisa Exploratória, Pesquisa Etnográfica e Ação. Esta etapa, consiste nas questões projetuais do trabalho. Para tanto, foi utilizado a metodologia do Design Estratégico e do Design Thinking.
Foram realizadas diferentes protótipos da Caderneta do Diabético para
que pudesse ser compreendido quais informações deveriam estar presentes no trabalho. Sendo assim, para melhor compreensão da Caderneta, foi realizado um storyboard de uso desta. Com isso, pode-‐se visualizar como ocorreria a interação dos pacientes e dos profissionais da saúde com os capítulos.
Como resultados concluiu-‐se que a Caderneta do Diabético consegue fazer
com que os pacientes visualizem a doença. Entretanto é necessário ter um interlocutor que faça o diálogo entre a Caderneta e o diabético. Deste modo, ela serviu como um conversa entre profissionais da área da saúde.
Palavras-‐chave: Inovação Social, Design da Informação, Diabetes, Design Thinking, Design Estratégico, Autogestão
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Figura 01: Processo do Design Thinking …………………………………………..... 19 Figura 02: Modelo HCD .................................................................................................. 21 Figura 03: Processo de projeto HCD ........................................................................ 22 Figura 04: Design Estratégico, metaprojeto ......................................................... 24 Figura 05: Processo de Pesquisa-‐ação sistêmico................................................. 40 Figura 06: Processo de Pesquisa-‐ação sintético, da fase 01 a fase 03 ........41 Figura 07: Processo de Pesquisa-‐ação sintético, da fase 04 a fase 05 ........41 Figura 08: Vista Superior da UBS .............................................................................. 47 Figura 09: Técnica na sala do enfermeiro conferindo prontuário............... 52 Figura 10: Porta para farmácia na sala do enfermeiro ..................................... 53 Figura 11: Remédios ....................................................................................................... 54 Figura 12: Porta da sala do médico ........................................................................... 55 Figura 13: Brainstorming .............................................................................................. 70 Figura 14: Diagrama de Polaridades com imagens ........................................... 74 Figura 14: Diagrama com cenários .......................................................................... 75 Figura 16: Diagrama de cenários definidos .......................................................... 75 Figura 17: Cenários e visions ...................................................................................... 77 Figura 18: Caderneta da Pessoa Idosa – Dados ................................................... 79 Figura 19: Caderneta da Pessoa Idosa – Controle de Glicemia ..................... 79 Figura 20: Caderneta da Pessoa Menina – Gráfico de desenvolvimento .. 80 Figura 21: Caderneta da Pessoa Menina – Explicações ................................... 80 Figura 22: Sketch Caderneta – Sobre o Diabetes ................................................ 84 Figura 23: Sketch – Sintomas ...................................................................................... 85 Figura 24: Mockup Caderneta do Diabético – Dados Pessoais – Página 01 ....... 87 Figura 25: Mockup Caderneta do Diabético – Dados Pessoais – Página 02 e 03 ..........88 Figura 26: Mockup Caderneta do Diabético – Doença – O que é ................. 89 Figura 27: Mockup Caderneta do Diabético – Doença – O que ele faz ..... 90 Figura 28: Mockup Caderneta do Diabético – Doença – Porque .................. 90 Figura 29: Mockup Caderneta do Diabético – Doença – O que fazer ......... 91 Figura 30: Mockup Caderneta do Diabético – Doença – Cuidar – Ajuda .. 92
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Figura 31: Mockup Caderneta do Diabético – Informações de exames semanais ........ 93 Figura 32: Mockup Caderneta do Diabético – Tabela IMC 01 ....................... 94 Figura 33: Mockup Caderneta do Diabético – Tabela IMC 02 ....................... 94 Figura 34: Mockup Caderneta do Diabético – Medicamentos ....................... 95 Figura 35: Mockup Caderneta do Diabético – Exames Trimestrais / Anuais ................. 96 Figura 36: Mockup Caderneta do Diabético – Gráfico de exames ............... 97 Figura 37: Mockup Caderneta do Diabético – Consultas ................................. 98 Figura 38: Mockup Caderneta do Diabético – Sintomas pé diabético ....... 99 Figura 39: Mockup Caderneta do Diabético – Sintomas visão e dores ... 100 Figura 40: Mockup Caderneta do Diabético – Agenda ................................... 101 Figura 41: Sketch 02 – Medicamentos .................................................................. 104 Figura 42 – Especificações Cores ............................................................................ 114 Figura 43 – Especificações Dimensões ................................................................. 114 Figura 44 – Especificações Hierarquia e Espaçamento ................................. 115 Figura 45 – Especificações Fontes .......................................................................... 116 Figura 46 – Especificações Impressão .................................................................. 117 Figura 47 – Storyboard 01 ao 12 ............................................................................ 119 Figura 48 – Storyboard 13 ao 24 ............................................................................ 120 Figura 49 – Storyboard 25 ao 36 ............................................................................ 121 Figura 50 – Storyboard 37 ao 41 ............................................................................ 122
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1.
Introdução ............................................................................................................ 10
2.
Objetivos ................................................................................................................ 13
3.
Justificativa ........................................................................................................... 14
4.
Fundamentação Teórica ................................................................................. 16
4.1.
Desgin Thinking ................................................................................... 16
4.2.
Desgin Estratégico .............................................................................. 23
4.3.
Inovação Social ..................................................................................... 26
4.4.
Inovação Social & Design ................................................................. 28
4.5.
Design Gráfico ...................................................................................... 31
4.6.
Design da Informação ....................................................................... 33
5.
Metodologia de Pesquisa ............................................................................... 38
6.
Pesquisa Aplicada ............................................................................................. 42
6.1.
Pesquisa Bibliográfica ...................................................................... 42
6.2.
Pesquisa Exploratória ....................................................................... 44
6.2.1. Visita Guiada ........................................................................... 46
6.2.2. Análise dos Prontuários .................................................... 50
6.3. Pesquisa Etnográfica ............................................................................... 52
6.3.1. Encontro com Diabéticos .................................................. 57
6.3.2. Entrevistas .............................................................................. 58
6.4. Ação ................................................................................................................ 64
6.4.1. Pesquisa Contextual ............................................................ 65
6.4.2. Brainstorming ........................................................................ 70
6.4.3. Blue Sky .................................................................................... 71
6.4.4. Mapa de Polaridades ........................................................... 73
6.4.5. Análise de Semelhantes ..................................................... 78
6.4.6. Concept ..................................................................................... 82
6.4.7. Desenvolvimento Analítico do Projeto ....................... 87
6.4.7.1.
Protótipo 01 ............................................ 102
6.4.7.2.
Protótipo 02 ............................................ 106
6.4.7.3.
Protótipo 03 ............................................ 107 8
6.4.7.4.
Entrevistas ............................................... 108
6.4.7.5.
Solução Final .......................................... 113
6.4.7.6.
Storyboard de Uso ................................ 119
7.
Considerações Finais ..................................................................................... 123
8.
Bibliografia ........................................................................................................ 127
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Este projeto visa entender como auxiliar o gerenciamento do Diabetes tipo 2 por meio do Design. Propõe-‐se a realização de um objeto que torne a doença visível a seus usuários, conscientizando-‐os de seus atos e trazendo maior controle sobre seu estado de saúde. A importância de tornar a doença aparente esta associada a possibilidade de controlar as complicações causados pelos maus cuidados do paciente. Gomes (2005), explica que o Diabete Mellitus é uma doença crônica que precisa ser gerenciada ao longo da vida dos indivíduos. Esta não pode ser curada, apenas é possível minimizar seus efeitos e impactos. Sendo assim, é fundamental entender que o paciente possui grande responsabilidade no seu tratamento, precisando ser conscientizado constantemente. Saúde é uma condição que depende não apenas do estado, mas dos indivíduos. Saúde precisa ser entendida apenas como ausência de doenças, mas como “um estado de completo bem-‐estar físico, mental, e social e não meramente a ausência de doenças ou enfermidades”(World Health Organization, 2002) O conceito de desenvolvimento da saúde, distinto de provisão de cuidados médicos, vem nessa direção, apontando que “os governos tem responsabilidade pela saúde dos seus cidadãos, e ao mesmo tempo, os cidadãos devem ter o direito e ao mesmo tempo o dever de, individualmente e coletivamente, participar do desenvolvimento da sua própria saúde” (World Health Organization, 1998, p.15). Partindo deste pressuposto, entende-‐se que o Design pode desenvolver um papel ativo na solução de problemas sistêmicos. Kazazian (2005) destaca o papel do designer como transversal, integrador e dinâmico entre os aspectos da ecologia, criação de produtos, inovações econômicas e tecnológicas, necessidades e novos hábitos. Entende-‐se que o Design pode dar conta de distintas áreas na resolução de problemas, por isso a escolha de projetar para a Saúde. O Design, de acordo com Thackara (2008), deve evoluir para conseguir suprir esta demanda de problemas complexos. Os sistemas são moldados por todas as pessoas que os utilizam, não apenas pelos designers. A partir desse
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movimento transformador, os designers viram articuladores de mudanças envolvendo grandes grupos de pessoas. Sobretudo, Manzini (2008) afirma que uma abordagem sistêmica implica no envolvimento de agentes que pensem de maneira diferenciada. Sendo assim, entende-‐se que os problemas sistêmicos são, conseqüentemente, problemas complexos. Isto porque eles envolvem diferentes aspectos em uma situação. Então, para que o Design possa responder estas questões, é preciso que ele se proponha e compreender como ocorrem estas relações de problemas. Com isso, percebe-‐se a importância de envolver todos os que estão envolvidos no contexto para que possam contribuir com suas expertises. A essa abordagem, deu-‐se o nome de design participativo, que evoluiu para o conceito de co-‐design, onde não apenas os experts estão inseridos, mas também os stakeholders e usuários (SANDERS, 2008). Na visão do co-‐design todos os representantes envolvidos no problema fazem parte da equipe que vai desenvolver a oferta para solucioná-‐lo. Então, pode-‐se entender que esta abordagem é colaborativa e tende a explorar o contexto pesquisado a partir de distintas perspectivas. Uma vantagem, apontada pelos principais autores que discutem co-‐criação de valor, é que essa maneira de projetar cria fortes vínculos. Desta forma, desenvolve-‐se um sentimento de autoria e co-‐responsabilidade pelo sucesso da proposta. Para além disso, pretende-‐se entender como usar os preceitos do Design Gráfico e do Design de Informação para tornar visíveis as questões que envolvem o Diabetes. É preciso trazer a invisibilidade da doença em um projeto que consiga educar os pacientes mostrando sua atual condição e como ele pode melhorá-‐la. É importante entender que o Diabetes é uma doença sorrateira, que geralmente é percebida quando as complicações começam a se manifestar. Por isso, é necessário a concretização de um projeto com estas questões que ainda encontram-‐se abstratas na população para obter uma mudança. O presente trabalho faz parte de um projeto realizado em parceria com o Hospital Mãe de Deus. Este, tem como o objetivo projetar um novo serviço de saúde de atenção ao diabético. Em outras palavras, ele completa o outro trabalho, promovendo o desenvolvimento das questões projetuais da Caderneta do Diabético.
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Por sua vez, o projeto tem o objetivo de Desenvolver um produto para apoio a autogestão do diabetes tipo 2 para pacientes que utilizam o SUS através do método da Pesquisa-‐ação. Definido por Stringer (2007), esta caracteriza-‐se por ciclos espirais de observação, reflexão e ação num estudo sistematicamente documentado. Para tanto, o presente trabalho, aborda num primeiro momento, a justificativa do tema escolhido. Frente a isso, é melhor compreendida a situação atual do Diabetes no contexto brasileiro e quais são as atuais formas de tratamento. Feita esta análise, é realizada revisão teórica a respeito dos assuntos que envolvem o objetivo do trabalho. Neste capítulo são apontados alguns autores que explicam o tema Inovação e Design, Inovação Social, Design Gráfico e Design da Informação. A partir disto, pode-‐se compreender teoricamente algumas questões que serviram para auxiliar o projeto prático. Realizada a revisão, o próximo capítulo é referente a metodologia de pesquisa escolhida. Neste, é realizada uma explicação sobre a Pesquisa-‐ação e como ocorreram as fases do trabalho. Para além disso, são expostas os objetivos de cada etapa, expondo quais informações são requeridas para a continuidade do projeto. A partir de então, parte-‐se para o capítulo de pesquisa aplicada. Este, demonstra com detalhes como aconteceram as fases de projeto. Deste modo, fica mais claro compreender como aconteceu todo o processo e a que resultado chegou-‐se.
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O objetivo geral do trabalho é: •
Desenvolver um produto para facilitar a autogestão do Diabetes
tipo 2 pelos usuários do SUS. E os objetivos específicos deste são: •
Compreender o contexto geral dos pacientes;
•
Gerar insights para o projeto envolvendo atores do processo, a
partir da perspectiva do co-‐design; •
Projetar um produto para facilitar a visualização do estado de
saúde do paciente; •
Testar o protótipo em seu contexto de uso propondo melhorias.
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O Diabetes é um tema que tem sido comentado pelos especialistas da saúde. Sobretudo, um assunto que tem preocupado o futuro das nações. Para afirmar isto, Jean Claude Mbanya, presidente da Federação Internacional de Diabetes, fala que “o Diabetes vai afetar cada vez mais pessoas e ameaçar economias. Se não tornarmos acessível um estilo de vida saudável, em pouco tempo o mundo vai gastar bilhões de dólares com as complicações dessa doença”. Cita-‐se também a OMS, a qual afirma que haverá um crescimento de 54% nos casos de Diabetes em todo o mundo. Em outras palavras, haverá em 2030 cerca de 438 milhões de diabéticos no planeta. Entretanto, pode-‐se pensar que estes dados devem ser referidos a um futuro próximo, e não ao atual presente. Errado. O Ministério da Saúde estima que existam no Brasil 11 milhões de diabéticos (muitos deles sem diagnóstico). A doença pode começar a afetar o organismo dez anos antes de o paciente desconfiar que há algo errado. Além destes fatos, foi realizado um estudo pelo Banco Mundial que estima um gasto de US$ 34 bilhões pelo Brasil apenas para remediar problemas causados por maus hábitos, sem pensar em nenhum ganho em qualidade de vida. Observados os dados alarmantes, percebe-‐se a importância de desenvolver algum dispositivo que possa contribuir para o controle do Diabetes, considerando que este é uma doença crônica. Em outras palavras, não tem cura. Sendo assim, são requeridos cuidados e muita disciplina para manter uma vida saudável. Nesta perspectiva, entende-‐se que o diabético deve preservar uma alimentação saudável, com atividades físicas regulares e o uso do medicamento corretamente. Dependendo do caso, é necessário que se utilize comprimidos específicos ou, até mesmo, seja necessário o uso da insulina. Para que tenha-‐se conhecimento disto, é preciso que ele verifique os seus níveis de glicose ao longo do dia. Para piorar o quadro retratado, Antonio Carlos Lerario, endocrinologista e um dos diretor da Sociedade Brasileiro de Diabetes, afirma que “Os remédios
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ainda não são perfeitamente eficazes. Entre 30 e 50% dos pacientes não conseguem controlar a doença”. Em outras palavras, mesmo com a medicação correta, os pacientes tem dificuldade de controlar a doença. Reforçando que esta não depende apenas deste aspecto. De qualquer modo, é fundamental entender o que a falta de controle com o Diabetes pode trazer de riscos. Para isto, Gomes (2005) explica que os principais alvos da doença são: vasos sanguíneos, o coração, os rins, os olhos, o sistema nervoso – comprometendo a cabeça – e, sobretudo, pernas e membros inferiores. A medida que os níveis de glicose no sangue aumentam e perduram durante um certo período de tempo, as paredes dos vasos são danificadas. Ou seja, elas endurecem e engrossam fazendo com que passe menos sangue pelos vasos e perdendo sua elasticidade. Em outras palavras, podemos chamar este acontecimento de hiperglicemia, um dos maiores causadores de complicações do Diabetes. Frente a isso, nota-‐se a importância do cuidado com o Diabetes para que ele não chegue a estágio evoluídos de complicações. Ao avaliar os instrumentos usados pelo Governo para apoiar o tratamento do Diabetes, constatou-‐se que as ações estavam ligadas a campanhas de conscientização e distribuição de medicamentos. Entretanto, ações que pudessem promover a prevenção da doença de alguma maneira não foram encontradas. Apenas algumas campanhas de consciência. Sendo assim, este trabalho se propõe a compreender de como o Design pode melhorar este quadro. Sobretudo, é preciso que ocorra uma mudança comportamental da parte dos pacientes para que a doença possa ser controlado por estes junto dos profissionais da saúde. Desta maneira entende-‐se que a situação está associada ao conceito de Inovação Social. Esta pode ser definida por Manzini (2008) como o resultado de novas comportamentos e novas maneiras de pensar.
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Dentro da perspectiva de inovação e promoção de novas formas de compreensão da relação homem-‐objeto, Brown (2010) apresenta o Design Thinking. Este, usa a sensibilidade dos designers e a metodologia do Design para entender quais são as reais necessidades das pessoas. Também procura explorar o que seria tecnologicamente possível de ser executado, e o que seria viável em termos estratégicos. Além disso, Brown (2009), explica que deve ocorrer um envolvimento de diversas áreas de conhecimento para a produção desta inovação. Estas seriam: administração, marketing, engenharia, sociologia, filosofia, psicologia e artes. Com esta perspectiva, o Design Thinking alcança uma visão holística de uma situação, podendo avaliá-‐la por diferentes pontos de vista. Importante ressaltar quão rico é este enfrentamento propondo a exploração do potencial de cada área. Entretanto, é relevante considerar a complexidade que se tem ao envolver todos estes campos em um projeto. Neste medida, é necessário que os níveis de envolvimento devam ser estudados para propor-‐se uma solução plausível. O método do Design Thinking possui três fases que podem ocorrer paralelamente e sobrepostas umas as outras. A etapa de inspiração dedica-‐se a coleta de insights, ou seja, tenta entender o objeto de estudo e seu contexto de forma empática. Além desta, e não necessariamente após, está a fase de idealização. Esta tenta traduzir os insights em ideias, procura padrões dentro das observações realizadas e propõe-‐se a definir caminhos. E, ainda existe o espaço de implementação, o qual pretende realizar protótipos, mesmo que estes pareçam estar inacabados, visando testar as ideias. Nesta etapa o objetivo é entender como esta, ou estas, ideias podem funcionar e realizar um plano de ação para isso. Conforme esta perspectiva, o autor explica que é necessário envolvimento pessoal do designer e principalmente a co-‐criação com outras pessoas, que não necessariamente sejam designers, mas que façam parte da situação. Para este
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autor, a co-‐criação é fundamental pois envolve as pessoas no processo de projeto. Desta forma, pode-‐se compreender melhor o seu contexto a partir de visões de pessoas envolvidas no problema, junto de designers que tem um olhar holístico da situação e, ainda, com especialistas que possam trazer visões específicas das questões. Ou seja, é importante descobrir qual o real problema, pois só assim pode-‐se criar, ou melhor, co-‐criar a inovação que mude o comportamento das pessoas. As características que este tipo de inovação deve conter são: desejabilidade, praticabilidade e viabilidade. A primeira refere-‐se ao desejo que pode ser percebido no projeto, a segunda faz referencia a execução que deve ser levada em consideração durante todo o processo e ainda a viabilidade que ele pode ocorrer. Ampliando este entendimento, Kelley (2001) aponta que uma das competências que deve ser abordada no processo de design é a prototipagem. Ele explana que prototipar chega a ser um estado de espírito. Isto porque, a técnica faz com que as pessoas consigam visualizar suas soluções proporcionando diferentes interações e caminhos para alcançar resultados inovadores. Os protótipos devem ser considerados uma ferramenta poderosa utilizada pelo Design para gerar ideias desde o começo do processo, criados por todos os envolvidos, não apenas designers, e não precisam ter um acabamento profissional. Este autor, refere um tipo de protótipo que ele chama de quick & dirty prototype. Estes protótipos tem a finalidade de ajudar de maneira rápida a equipe a entender alguma ideia. Então, para compreender questões que envolvam estes pensamentos, deve-‐se realizar um protótipo rápido e com acabamento não profissional. Desta maneira, pode-‐se rapidamente testar ideias sendo utilizado também como artefato de decisões projetuais. Sobretudo, explica que para esta atividade é preciso curiosidade e entusiasmo da parte de quem prototipa. Além disso, comenta que estas competências são intrínsecas ao seres humanos, pois afloramos elas durante a infância e ao longo do tempo elas tendem a diminuir, porém ainda estão internalizadas em cada um. O uso dos protótipos serve para melhoramento do projeto a partir de tentativa e erro, quanto mais cedo o protótipo não der certo melhor. Aliás a técnica deve ser utilizada para projetos complexos, pois são uma
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forma de realizar progresso quando os desafios ainda parecem nebulosos, podem resolver problemas considerados pequenos mas críticos. Este processo de inovação pode ser estruturado por meio de um procedimento que busca equilibrar a liberdade do projetista e a disciplina exigida por esta ação. É preciso ter foco durante todo o projeto para que ele possa ser concretizado. O Design Thinking é flexível, não existe uma ordem no uso dos métodos durante o processo. Ou seja, a medida em que avalia-‐se as necessidades de cada caso, utiliza-‐se de métodos que correspondam aquela situação que é singular. Por sua vez, esta abordagem parece um tanto quanto confusa devido ao fato de não existirem estágios segmentados e não seqüenciais. Entretanto, a medida que o projeto vai sendo analisado e estruturado, os limites aparecem naturalmente, explica Brown(2009). Isso ocorre porque o contexto impõe restrições, que dão forma ao projeto. Essas restrições devem ser encaradas como oportunidades, pois definem o projeto, dando forma a ele, limitando-‐o. A figura 01 demonstra esta dinâmica:
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Figura 02: Processo do Design Thinking –Brown, junho 2008
De acordo com o autor, no início, o Design Thinking pode parecer caótico. Contudo durante o andamento do processo esta disposição justifica-‐se mostrando-‐se orgânica e adaptável a diferentes tipos de problemas. Tendo em vista a Inovação, o autor afirma que além de produzir produtos mais atraentes para os consumidores, os designer devem adquirir um entendimento mais profundo da relação homem-‐objeto. Para que isso ocorra, o processo de compreensão do usuário deve ser estendido, e sobretudo deve envolvê-‐lo. Brown (2008), ressalta que as empresas estão, cada vez mais, querendo que o designer entenda as necessidades e os desejos dos consumidores. A partir dessa constatação, surge a abordagem do Human-‐ Centered-‐Design (IDEO 2010), que coloca o ser humano no centro do projeto.
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O Human-‐Cendered-‐Design de acordo com (IDEO 2010) auxilia as corporações a se relacionar melhor com as pessoas envolvidas em seus projetos. Sobretudo, esta abordagem transforma dados em ideias implementáveis e identifica oportunidades. Sua metodologia trabalha sobre a perspectiva do uso de um kit de ferramentas. Este, oferece métodos, técnicas e dicas para guiar os projetistas durante o processo de compreensão do contexto, desenvolvimento de ideias e implementação destas. Ressalta-‐se que estes métodos podem ser escolhidos, não sendo necessário a utilização de todos. Isto ocorre pois cada projeto é diferente do outro, e é preciso analisar qual e técnica mais indicada de acordo com o contexto. Por tal motivo, esta metodologia de projeto traz as raízes do estudo etnográfico para o processo de Design. Nessa medida, o designer precisa aprofundar seu conhecimento em antropologia para que possa compreender as questões culturais ligadas ao comportamento das pessoas. Sendo assim, propõe-‐ se a cooperação de uma nova área. O HCD se propõe a gerar soluções de produtos, serviços, ambientes, organizações e modos de interação. Para isso, a metodologia envolve as pessoas para quais estão sendo criadas estas soluções desde o início do processo. Um projeto com esta abordagem deve conter as seguintes características: desejáveis, praticáveis e implementáveis. Dentro de cada uma destas, ocorre uma fase distinta do processo. A primeira delas chama-‐se ouvir, que é regida sobre a lente do desejo. Nesta, é preciso entender o que as pessoas desejam através de pesquisa de campo para melhor compreensão de suas histórias. A segunda é a fase de criar, visando a praticabilidade da solução, sobretudo analisando a primeira etapa trazendo oportunidades percebidas. Para isso são realizados protótipos e testes com as ideias pensadas que pretender suprir o problema encontrado na fase anterior. Finalmente, a terceira fase é a de implementação, a qual preocupa-‐se com a viabilidade do projeto pensando o que é financeiramente possível. A figura 02 explana os conceitos aqui explicados:
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Figura 03: Modelo HCD
Na medida em que o processo vai sendo desenvolvido com a ajuda das pessoas, entra-‐se em dois universos diferentes: concreto e abstrato. O concreto tenta entender o contexto e o que está nele inserido, propondo-‐se a um entendimento mais racional. Já o abstrato, envolve a imaginação e não está preocupado em como estas ideias podem ser desenvolvidas. Este, é importante pois promove a geração de novas soluções. O processo do HCD divide-‐se entre estes dois mundos durante as três etapas principais. Para melhor compreensão, a figura 03 visualiza esta relação:
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Figura 03: Processo de projeto HCD
Sendo assim, tanto no Design Thinking quanto no HCD, é preciso observar as pessoas e captar seus sinais mesmo que estes sejam sutis. Brown (2009) reforça a importância dos comportamentos. Mais do que isso, não se pode julgar estes comportamentos, eles não estão nem certos nem errados, apenas são carregados de significados. Então, precisam ser interpretados para gerar futuras soluções de problemas dificilmente entendidos. A Inovação pode estar na lacuna entre o que as pessoas dizem que fazem e o que elas efetivamente fazem. Frente a isso é necessário entender o que leva os seres humanos a agirem desta maneira, através de uma abordagem etnográfica criativa. Concluindo, Brown (2010) entende que as questões tecnológicas são relevantes para o processo de inovação. Além disso, o autor compreende o designer como parte de todo o processo. Este, encontra-‐se no mesmo nível das pessoas as quais está sendo proposta uma solução, sugerindo que estas podem gerar interpretações sobre seus próprios problemas. Em outras palavras, considera o usuário peça fundamental para o processo. Entendida esta abordagem, existe ainda uma outra perspectiva que pode ser relevante para o presente estudo: o Design Estratégico. Neste, pode-‐se compreender uma nova visão que traz insights projetuais focado no mercado, mas com pesquisas não focadas no problema e que se propõe a uma análise de cenários futuros. Sendo assim, esta pode complementar as outras perspectivas.
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Outra abordagem que relaciona o Design e a Inovação é o Design Estratégico. De acordo com Celaschi e Deserti (2007) este método visa a solução de um problema de forma criativa através de uma análise de dados existes e de referências externas que não necessariamente remetam ao contexto do problema abordado. Nessa medida, esta abordagem tem uma visão holística da situação e projeta através do conceito sistema produto que envolve: produto, serviço e comunicação. Da mesma maneira, Meroni (2008) refere esta forma de pensar o Design como uma atividade de projeto que visa a criação de um sistema produto integrado (produto, serviço e estratégias de comunicação) atingindo resultados estratégicos e não isolados. Sobretudo, a autora traz que o principal impacto do Design Estratégico nas suas inovações esta relacionado ao âmbito sócio-‐cultural. Dentro desta perspectiva, comenta-‐se sobre as Inovações Sociais como sendo um resultado de uma ação de projeto estratégico. Pode-‐se citar também Borba, Giorgi e Galisai (2008) que referem a Inovação através do Design como a produção de novos valores para o consumidor e também para a empresa. Nisso, destaca-‐se o papel do designer estratégico dentro desta concepção. Este, tem como objetivo entender a interação que ocorre entre a empresa e seus pontos de contato com o público e como ela entrega sua missão e valores. Desta maneira, ele pode reconfigurar sua estratégia propondo uma oferta completa e alinhada ao conceito determinado. Além disso, o designer deve ter a capacidade de entender aquilo que se gostaria de obter por parte da empresa e de seus clientes, e ainda, entender quais os recursos disponíveis para aquele projeto. Sobretudo, conseguir colocar em ação a estratégia para alcançar os resultados com estes recursos. Ainda quanto a conceituação do Design com visão estratégica, Zurlo (2006) afirma que o Design já possui uma tendência ao novo, não podendo ser separado do conceito de Inovação. Confere que o designer consegue extrair da sociedade interpretações que aumentam sua capacidade de visão projetual.
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Sendo assim, a Inovação do Design não segue mercados, mas tende a criá-‐los, não está condicionada a tecnologia, mas tende a desenvolvê-‐la e para além disso, não está ligada a uma empresa mas pode situar-‐se dentro de um sistema produtivo local. Sobretudo, o autor destaca que dentro desta concepção de Design o método adequado para a construção do conhecimento é a pesquisa-‐ação. O autor explica que a pesquisa em Design é uma pesquisa aplicada, que dedica-‐se a refletir sobre a ação projetual. Em seu processo ela pode (ou não) envolver um processo participativo. Celaschi e Deserti (2007) explicam que o Design Estratégico é separado por duas grandes fases seqüenciais: metaprojeto e o projeto. No metaprojeto são geradas as ações, coletas de dados e insights para futuramente desenvolver o projeto. Através da figura 04 pode-‐se visualizar melhor a fase metaprojetual:
Figura 04: Design Estratégico, metaprojeto.
Como se percebe, no método do Design Estratégico parte-‐se de um briefing inicial para que seja possível realizar a coleta de dados. Esta ocorre de distintas formas, mas traz muitas das ferramentas do marketing e da
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administração para realizar uma análise critica da situação. Deste modo, o designer pode pensar em um contrabriefing que caracteriza-‐se por uma re-‐ interpretação do problema sugerido. Paralelo a este processo, ocorre a pesquisa Blue-‐sky que tem como objetivo trazer estímulos inusitados para geração de insights de projeto. A pesquisa Blue-sky é, de acordo com Parode e Scaletsky (2008), associada a ideia de visão lateral. Esta, busca exemplos de estímulos de distintas áreas para a realização de raciocínio analógico. Desta forma, consegue-‐se obter indicativos do que poderá ser um cenário a fim de responder um problema de design. Ainda explicando o modelo metaprojetual, Moraes (2010) afirma que a metodologia é o intermédio da formatação teórica que antecede a fase de projeto, sendo a fase onde são elaborados um ou mais cenários através das propostas estudadas. Deste modo, a etapa metaprojetual confere os conhecimentos prévios que gerenciam a próxima fase de projeto, concluindo ser “o projeto do projeto”. Para completar o autor afirma que o profissional deve estabelecer limites e analisar o processo, além de realizar sínteses em cada etapa já efetivada. Ao par disso, Moraes completa que o Design é um agente transformador quando se trata de tecnologias e dos âmbitos sociais e humano. Sendo assim, a metodologia do Design Estratégico, traz o olhar sobre a empresa visando o mercado. Entretanto, Ana Meroni defende a metodologia do Design Estratégico agente de transformação social, da mesma maneira como o Design Thinking aborda este conceito. Porém, o Design Thinking tem uma visão centrada no ser humano, já o Design Estratégico afirma o resultado de suas ações pode causar uma mudança no ser humano, ou não. Tendo em vista o Design sobre a perspectiva da Inovação, entender os conceitos destas metodologias e suas relações foi fundamental para o presente projeto.
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No que diz respeito ao tema Inovação Social, Manzini (2008) define esta como resultado de novos comportamentos e novas maneiras de pensar. Entendendo que a atual conjuntura traz problemas relacionados as questões sociais e ambientais, o autor sugere que esta área é um dos meios como deve-‐se atingir o Desenvolvimento Sustentável. Desta forma, pode-‐se referir como a transição rumo a Sustentabilidade, especificamente a modos de vida sustentáveis. Tendo em vista um processo de aprendizagem social, a partir desse contexto, defende que a Inovação Social quebra barreiras num determinado contexto social transformando a inércia do fazer existente. Para este autor, a Inovação Social deve ocorrer, em primeira instancia, em escala local, pois visa mudanças de comportamento, que por sua vez, estão diretamente ligados aos contextos culturais. As mudanças significam uma quebra de tradições na forma com a qual continuamente eram realizadas determinadas ações. Nessa medida, são introduzidas novas perspectivas sobre uma rotina que promovem atos essencialmente sustentáveis. Entretanto é importante entender como pode-‐se persistir nestes novas formas de agir. Sobre esse aspecto, Manzini explana que para as inovações sociais perdurarem, normalmente devem surgir a partir do modelo “de baixo pra cima” (bottom-‐up), que envolve as pessoas no processo desde o início e faz delas peça fundamental na geração de soluções. Porém, defende que deve existir interação entre este modelo e outros dois: “entre pares” (peer-‐to-‐peer) e “de cima pra baixo” (top-‐down). O primeiro deles é quando ocorre troca de informações entre organizações que estão no mesmo patamar. O segundo citado acontece na relação entre empresas, organizações cívicas e instituições para promoção de resultados. Esta relação pode ser fundamentalmente rica para que a Inovação Social siga em um processo orgânico de amadurecimento. Dentro deste contexto, Murray (2009) também defende que exista uma conexão entre a Inovação Social e as mudanças sociais que devem ocorrer em uma determinada comunidade. Sobretudo, afirma que estas terão um papel fundamental
na
geração
de
mudanças
ambientais
vinculando
ao 26
Desenvolvimento Sustentável. Além deste aspecto, este autor informa que o tema vem sendo trabalhado com maior intensidade nos últimos cinco anos. A partir disso, pode-‐se compreender que este é um assunto novo e que ainda está em fase de desenvolvimento de pesquisas, ações, métodos e resultados. Desta forma, entende-‐se a relevância do presente trabalho em abordá-‐lo. Ao par disso, Murray; Coulier-‐Grice e Mulgan (2010) explanam que a Inovação Social tende a responder questões referentes a problemas que tem sido cada vez mais abordados no século XXI. Podendo citar tais quais: alterações climáticas, epidemia mundial de doenças crônicas e desigualdade crescente. Explorando, em diferentes aspectos, a dimensão social deste conceito entendendo questões que devem ser respondidas por ele. Ainda estes autores explicam que a Inovação Social se diferencia por seus resultados e as relações que ela constrói durante o processo, pois aposta em novas maneiras de cooperação e colaboração. Durante o procedimento é necessário envolver as pessoas para que seja definido o real problema que ali existe. Desta forma, consegue-‐se junto da comunidade propor uma solução inovadora e construída por muitos, e principalmente pelos que dela fazem parte. Resumindo, Thackara (2008) defende que ainda o conceito de Inovação está normalmente relacionado a acrescentar novas tecnologias, entretanto o autor reflete-‐se a respeito deste pensamento. Nesse sentido, coloca que em algumas vezes esta inovação tecnológica pode reduzir a qualidade de vida da população. Sendo assim, o autor propõe que é preciso que a tecnologia vire cada vez mais humana e não os humanos cada vez mais tecnológicos, revelando o conceito de Inovação Social.
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Tendo em vista o entendimento sobre o conceito de Inovação Social, é relevante compreender como o Design pode contribuir para esta área. Já em 1972, Vitor Papanek começa a desenvolver um novo pensamento sob a perspectiva do Design. Em contraposição dos conceitos que prezam pela estética e o mercado relevantes na época, considera importante entender o Design para além da forma e da função. Implica a área questões de responsabilidade social e ambiental, questiona a respeito da influência dos projetos de Design na sociedade e como eles poderiam ser voltados para a construção de um mundo melhor. Tenta alinhar a ética a estética. Nessa medida, podemos ressaltar que a Inovação Social pretender responder a questionamentos de cunho social e ambiental, aos quais o autor levantou. Lembrando que estas soluções são complexas e que envolvem diferentes partes, consideradas desta forma, sistêmicas. Para Capra (2006), a sociedade pode ser vista como uma trama de redes projetuais, justificando as sobreposições que existem entre estes problemas complexos que a Inovação Social pretende desenvolver. Defendendo este ponto na perspectiva do Design, Thackara (2008), explica que os sistemas naturais, humanos e industriais são irreversivelmente interconectados. Ou seja, para que o Design possa propor soluções é preciso primeiramente entender como ocorrem estas relações, num primeiro momento em determinados casos, e conseguir desatar estes nós. Sobretudo, o autor defende a ideia de independência da condição humana sobre as amarras que o prendem para melhoras suas condições pessoais. Isto é, se as pessoas desenvolverem habilidades para atentar seu próprio bem-‐estar, elas dependeriam menos dos serviços prestados pelo Estado, por exemplo. Com este movimento, o Design pode criar projetos que condicionem estas pessoas a este nova situação de independência. Para isso são necessários projetos que entendam quais os reais problemas, conversando diretamente com o público.
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Então, ao compreender os problemas que envolvem uma situação de risco para a população, o Design pode projetar novas maneiras de solucionar isto. Para tanto, é necessário que o usuário tenha um papel ativo tanto no processo quanto na interação com o produto, ou sistema, final. Sendo assim, Thackara (2008) propõe que “a estética cria a necessidade, mas o Design proporciona os meios”. Ao par disso, entende-‐se que o Design, como articulador de desejos atraídos por questões de gosto e que proporcionam sensação agradável ao olhar, pode se prevalecer desta característica para criar projetos atrativos relacionados as necessidades citadas nos problemas relativos a Inovação Social. Completando esta ideia, Brown (2010) discute sobre como a dimensão da experiência pode atrair a população para consumir esta solução inovadora socialmente. Reforça que para criar este tipo de solução é preciso ter empatia, que significa o designer colocar-‐se no lugar do outro para entender tudo que possa envolver aquela situação. Desta forma, cria-‐se um sentimento alinhado ao projeto que acaba transparecendo durante o processo e no resultado final, que comove as pessoas e as envolve de maneira diferenciada num novo jeito de entender o mundo através do Design. Partindo deste pressuposto, pode-‐se citar Manzini (2008) quanto a concepção de protótipos. Estes, podem ser protótipos de solução, que mostram quando uma ideia de serviço é viável e está em prática, requerendo tempo ainda para efetivamente poder afirmar que funciona. Ainda propõe-‐se protótipos de solução que ele chama de modernas, as quais representam ideias que continuaram a longo prazo e que podem servir de inspiração para novos projetos. Sobretudo, destacando o papel do designer como agente para desenvolver estes projetos criando melhores condições dentro destes contextos. Então Manzini(2008) propõe a inserção do Design como agente deste movimento relacionado a Inovação Social. O papel do designer interfere em diferentes partes destes projetos. O autor refere as habilidades da área para proporcionar soluções implementadas que são sistemas de produtos, serviços e comunicação. Para Krucken (2009) o papel do designer se modificou ao longo do tempo. Hoje, ele pode assumir problemas que envolvam soluções sistêmicas. Em outras palavras, o principal desafio é alcançar soluções para questões de alta
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complexidade. Entre estas, pode-‐se incluir comportamentos sociais. Desta maneira, o autor explana que em um contexto dinâmico o design pode contribuir para o desenvolvimentos de caminhos distintos e a criação de cenários futuros. Para concluir, Thackara (2008) explica que o design colaborativo envolvendo pessoas dentro de uma rede deve prosperar a partir da mudança também de modelos de negócios. As características do Design antes eram, como Papanek (1972) já havia ressaltado, conectadas as questão de forma e função. Com esta nova perspectiva deve-‐se entender o Design como um processo que continuamente define as regras de um sistema em vez de seus resultados. Frente a isso, é relevante a breve compreensão histórica do Design Gráfico para contextualização da área. Sobretudo, do Design Gráfico pois o presente trabalho preza por características visuais e estéticas que encontram-‐se dentro desta área.
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Para o presente trabalho toma-‐se como necessária uma breve descrição histórica e conceitual do que é Design, fundamentalmente o Design Gráfico, e como ele se desenvolveu. Para isso, de acordo com Newark (2008), o Design vai além de um acontecimento moderno ou capitalista. O autor sustenta este argumento pois as manifestações gráficas presentes em locais públicos ou essencialmente na própria escrita eram íntimas aos egípcios, italianos da Idade Media ou ainda para a Rússia Soviética. Demonstrando deste modo, que estas manifestações eram projetadas e podem ser consideradas demonstrações estéticas de valores de uma certa época. Entrementes, o autor ressalta que esta nova área que vinha surgindo tinha uma função: comunicar ou informar algo. Dentro deste contexto, em 1922, o norte-‐americano Willian Addison Dwiggins (1880 – 1956), considerado um dos pais do Design Gráfico, escreveu:
“Em relação ao layout, no começo esqueça a arte e uso o senso
prático. A função do designer gráfico é apresentar a mensagem de forma clara – transmitir as ideias importantes e fazer com que as menos importantes não deixem de ser percebidas. Isso requer um exercício de bom senso e uma aptidão para a análise e não para a arte.”
A partir desta citação pode-‐se perceber a diferença, inicial, entre Design e Arte. Frente a isso, a Arte não tem objetivo de comunicar algo de forma clara a um cliente ou público, ela é por si só, não necessita de razões para existir. Em outras palavras, é uma expressão pessoal de quem a promove. No anunciado o designer tenta definir quais são as funções que devem ser executadas pelo design. Sobretudo, destaca a relevância de um diagnóstico sobre aquilo que pretende-‐se mostrar, para que possa ser exibido de maneira clara. Em contrapartida, o britânico poeta e tipógrafo Francis Meynell (1891 – 1975), em 1923 escreveu em seu artigo Com Vinte e Seis Soldados de Chumbo Conquistei o Mundo, resumidamente que tudo que existe no mundo é cercado, limitado e organizado em uma combinação trivial de letras. Em contraposição a Dwiggins, Meynell enfatiza o conteúdo poético e estético do Design. Nesta
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medida, começam a ser encontradas discussões entre função e possibilidades estéticas do Design. Onde o Design funcional prioriza as necessidades do cliente acima de tudo e o Design estético permite a valorização e exploração do potencial expressivo do designer. Para complementar este contexto, Lupton (2008) explica que ainda nos anos de 1920, surge a Bauhaus, na Alemanha. Esta tem como objetivo “explorar o design como uma linguagem da visão, universal e baseada na percepção”. Pode-‐ se analisar que este conceito ainda conforma os ensinamentos do design pelo mundo. Em outras palavras, percebe-‐se a fundamental influência que a Bauhaus teve na história do Design. A Bauhaus tentava, de acordo com Lupton (2008), entender as formas geométricas elementares básicas numa perspectiva mais simples da linguagem da visão. Partindo deste pressuposto parecia ser a maneira correta de alcançar uma universalidade, criando a partir destes aspectos padrões estéticos que transpassavam a clareza e a simplicidade de uma elemento gráfico. Pensando nesta linguagem disponível a todos, a Bauhaus tentou entender quais eram as ferramentas universais. Estas, estariam presentes de forma igualitária no imaginário da sociedade objetivando sua interdisciplinaridade em seu poder descritivo. Richard Hollis (2001) explana que o principal papel do Design Gráfico é a identificação, que pretende expor o que é algo, ou de onde veio. A sua segunda função é fornecer informações e instruções para melhor entendimento sobre um aspecto. E o terceiro desempenho é relativo ao uso, relativo a promoção e apresentação. Entretanto é importante destacar que a maioria das vezes os casos envolvem estes três aspectos, em diferentes níveis e de distintas formas. Concluindo, as funções do Design Gráfico são classificar, diferenciar e informar. Sobretudo atua nas nossas emoções e ajuda a dar forma aos nossos sentimentos em relação ao mundo que nos cerca, é uma expressão cultural que está ligada a conseqüência das ferramentas temporais de um determinado contexto, de um dado momento e seus fatores. Ainda o Design Gráfico esta muito ligado a uma questão de escolhas estéticas, mas pode-‐se perceber nesta breve explicação que ele transcende este tipo de pré julgamento.
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Redig (2004) afirma: “Todo o design é de informação, mas uns são mais e outros menos. E essa é a diferença que me interessa”(p.60). A partir desta constatação, percebe-‐se que o Design que se quer desenvolver no presente trabalho, vai além das questões gráficas. Isto porque, pretende entender qual a maneira que as informações necessárias devem ser dispostas em um dispositivo que tem por objetivo a visualização do estado de saúde dos pacientes. Sendo assim, este capítulo tenta compreender os conceitos e fundamentos do Design de Informação através de alguns autores. Com isso, Martins (2007) explica que o Design da Informação é uma atividade paralela ao Design Gráfico convencional. Diferencia que o Design da Informação tem por objetivo fazer com que as mensagens da informação sejam entendidas pelo interprete. Entretanto, quanto mais livre a busca por objetividade e mais a liberdade formal puder ser estabelecida, mais próxima é a conexão com o Design Gráfico. Sobretudo, o autor completa que o Design tem resultados tangíveis e intangíveis, e que estes veiculam informações. Completando que o Design da Informação não independe do Design Gráfico, mas também não faz parte somente ao seu escopo. Para compreender melhor o conceito de Design de Informação e a sua diferença entre outras áreas, Shedroff (1994) explana que somos bombardeados por dados freqüentemente. Entretanto, estes não são considerados informações. Isto porque a informação deve ser organizada, codificada e apresentada de maneira significativa, assim sendo o papel do designer da informação. Frascara (1997) contribui para o entendimento do Design da Informação dizendo que ele geralmente está conectado a projetos com cunho de benefícios sociais. Completa que esta área possui um impacto no espaço público, adquirindo uma responsabilidade por parte do projetista. Ainda neste contexto, Redig (2004) diferencia que o Design Editorial ou Corporativo tem relação com lucratividade de mercado. Porém, o Design da Informação lida com questões de
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âmbito público então, está ainda ligado a serviços públicos. Embora, atualmente, algumas empresas começam a se voltar as reais necessidades do consumidor, das quais uma das mais importantes aspectos é a informação clara, precisa e verdadeira. Com isso, a área vem sendo desenvolvida não apenas relacionada ao setor público, mas também ao privado. Para além de tudo, Frascara (1997) conclui que é necessário mais do que a habilidade técnica para atingir um projeto de Design da Informação. Sendo assim, é importante compreender o que deve efetivamente ser entregue para o interprete, de maneira clara e objetiva. Pois, a finalidade do Design da Informação é a compreensão, e não a estética. Completando este raciocínio, Martins (2007) comenta que esta disciplina possui afinidade com as áreas da Ciência da Comunicação, entre estas a Publicidade e o Marketing, sobretudo a Psicologia Cognitiva. Além destas, a Lingüística, incluindo a Semiótica e a Antropologia, as quais tem por finalidade estudar a relação entre os indivíduos e a produção e interpretação de cultura expressa na comunicação. Sobretudo, o Design da Informação tem conexão íntima com a Educação, pois diz respeito a elaboração e entendimento de mensagens. Em outras palavras, visa a aprendizagem através de meios. Sendo assim o autor afirma que esta disciplina tem uma função social e manifesta-‐se de forma racional. Exemplificando este raciocínio, Martins (2007) cita a importância e necessidade desta área em casos como a comunicação visual nos transportes públicos. Nessa medida, comenta sobre acidentes que poderiam ter sido evitados se a informação tivesse sido exposta de maneira correta. Exemplo disso, e o caso do ônibus em chamas onde passageiros ficaram presos por não terem compreendido as instruções de segurança para quebrar a janela. Além destes aspectos, outro fato propulsor do Design da Informação foi a disseminação mundial da informática. Por conseqüência, o crescimento da área de Web Design. Visto a relevância desta área para a sociedade, em 2002, na cidade de Recife, foi fundada a Sociedade Brasileira do Design da Informação. A partir disso, representa-‐se o início do processo de institucionalização da disciplina no país. Sendo assim, SBDI define que o Design da Informação: “…tem por objetivo equacionar os aspectos sintáticos, semânticos e pragmáticos que envolvem os sistemas de informação através da contextualização, planejamento, produção da
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interface gráfica da informação. Seu princípio básico é otimizar o processo de aquisição da informação efetivando os sistemas de comunicação analógicas e digitais.”
Aperfeiçoando estas definições, Inácio (2005) indica que o Design da Informação esta ligado a um constante exercício de conhecimento e entendimento. Sobretudo, explica que é uma disciplina que pretende dominar o conteúdo necessário para determinado projeto e que, só depois disso, a forma é pensada. Concluindo que esta seria apenas uma conseqüência do que precisa ser comunicada, adquirindo formato quase que naturalmente. Dentro deste contexto, Knemeyer (2003) refere que o Design da Informação adquire um papel integrador entre distintas áreas, criando soluções de informação de alta qualidade. Concluindo, desta forma, que este possui um caráter esclarecedor, que visa construir significado para o receptor da mensagem. Aprofundando as questões de significado que o Design da Informação se propõe a cumprir, Frascara (1997) explica que perceber estas mensagens é uma questão organizativa. Nessa medida, os diferentes públicos receptores tentam, em primeira instância, entender a mensagem. Ou seja, interpretar signos e criar conexões entre estes. A partir dessa premissa, o designer de informação deve facilitar os processos ordenadores que o sistema perceptual-‐cognitivo requer. Lembrando que a percepção tem relação com a inteligência, e a compreensão implica desenvolver um processo de aprendizagem. Visto que, mais uma vez, a disciplina tem relação com a Educação. Na medida em que os conceitos e características do Design da Informação são abordados, pode-‐se tentar compreender as distintas composições que estas informações atingem. Por tal motivo, Maia (2005) explica a respeito de duas formas de apresentação de mensagens: textual e pictórica. A primeira é relativa ao uso de textos para explicar algo, e a segunda vale-‐se de desenhos ilustrativos com o objetivo de passar alguma situação. Dentro deste contexto, Spinillo (2000) aborda as SPPs, que são representações de instruções por meio de ilustrações. Estas, são representações de instruções por meio de ilustrações. Sendo assim, seu conteúdo informacional pode ser dividido em: processual (passos) e não-‐ processual ( proibições ou precauções). Estes maneiras de expressar a informação são constantemente usadas em nossa sociedade como avisos de placas de trânsito ou em embalagens de produtos alimentícios.
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Ainda neste aspecto, o autor Horn (1998), fez um estudo sobre a subdivisão da linguagem informativa. Concluindo que esta existe em dois níveis: primitivo e propriedade. O primeiro deles envolve palavras, formas e imagens. Entendendo que palavras são referentes a abordagem lingüística e podem ser uma palavra, uma frase, uma sentença ou um bloco de texto. E, sendo formas pontos, linhas, setas, formas abstratas e espaços entre estas formas. E imagens são definidas como formas visíveis que parecem com o mundo real. Quanto a propriedade, esta é composta pelas características dos elementos primitivos: valor, textura, cor, orientação, tamanho, localização no espaço bidimensional e tridimensional, movimento, espessura e iluminação. A partir destes fundamentos, pode-‐se compreender que existe uma classificação referente aos distintos elementos que compõe um projeto de Design Gráfico. Compreendendo que, o Design da Informação, se propõe ao uso adequado deste em um determinado contexto. Ou seja, ele se prevalece destas ferramentas de maneira ordenada e organizada, propondo-‐se a entrega da informação. Ao par disso, pode-‐se concluir que deve-‐se procurar um equilíbrio entre estes elementos para conseguir projetar um dispositivo eficiente. Agregando o contexto, Redig (2004) traz os fundamentos da informação quanto a forma e tempo. Primeiramente, o autor discute a importância que o Design da Informação dá ao receptor da mensagem. Concluindo que o objetivo principal é o entendimento da mensagem por parte deste, sendo assim projeta-‐se esta de acordo com o público. Quando refere-‐se ao conceito forma, desdobra esta em outras características. São elas: analogia, clareza, concisão, ênfase, coloquialidade, consistência e cordialidade. Ainda quanto ao tempo, o autor subdivide-‐o em senso de oportunidade e estabilidade. O presente trabalho visa apenas um entendimento breve destes. Então, desenvolvendo os conceitos abordados pelo autor, analogia tem o caráter de relacionar as informações que devem ser descritas com o contexto do receptor, propondo-‐se a estabelecer clareza e rapidez de leitura. Ainda, clareza, para o autor, é o mínimo que se deve exigir de um design de informação. Para atingir este, é necessário encontrar o equilíbrio entre as formas e, sobretudo, entender o público que deve ser atingido. Tendo em vista a simplicidade e lembrando que o foco é na informação e não na estética. Em outras palavras, o
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fundamental é que funcione e não que seja tratado por belo ou feio. Isto porque, estes atributos são de cunho pessoal, e não interessam ao Design da Informação. Outro conceito abordado pelo autor é a concisão. Ou seja, o design projetado deve “ir direto ao ponto”. O excesso pode diluir a informação principal. Além deste, a ênfase é reconhecida como fundamental pois a mensagem deve ter caráter heterogenia e não ser homogenia. Nessa medida, deve ter legibilidade e identidade. Ainda referindo-‐se a estas características, a coloquialidade é abordada para explicar que deve-‐se usar palavras já estabelecidas e não inventar novos nomes para algo que já existe. Entre outros fatores, a consistência implica os padrões que pode-‐se identificar em mensagens, são as repetições que ocorrem que fazem com que as mensagens façam sentido e ganhem força através do uso recorrente. Neste aspecto, o autor enfatiza que a propaganda e a decoração, por muitas vezes, acabam ofuscando a informação, que por sua vez, perde o sentido. Para concluir os características que consistem a forma das informações referencia-‐se a cordialidade. Esta, deve ser usada de acordo com o contexto adequado se não pode vir a se tornar confusa e desrespeitosa. Quanto ao tempo, o autor divide em o senso de oportunidade e estabilidade. O primeiro refere a não utilizar a informação quando desnecessário, pois isto distrai o olhar do receptor com mensagens desnecessárias. O segundo conceito, diz respeito ao uso continuo do conceito de uma palavra. No caso, o sentido de uma palavra pode mudar, ele não é estagnado. Porém, isso ocorre com o tempo. Sendo assim, é preciso utilizar mensagens que façam sentido de um dia para o outro, podendo estabelecer compreensão pelos receptores. Em suma, a revisão bibliográfica aqui descrita revela uma discussão fundamental para o presente trabalho. Para responder ao problema de projeto e promover uma inovação orientada pelo design, foi necessário compreender os conceitos referentes a design de informação e design gráfico, uma vez que o projeto precisa reduzir a complexidade da informação existente adequando-‐a a as dificuldades de compreensão do público. Portanto, esses conhecimentos são essenciais para propor um cuidado com saúde dos diabéticos através da informação adquirida claramente, e ainda, para conseguir sintetizar em um projeto o estado de saúde destes pacientes.
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Para o presente trabalho optou-‐se pelo método de Pesquisa-‐ação. Justificando a escolha, Thiollent (2005) define que esta abordagem explora o contexto para que a partir destas observações seja possível compreender a questão valorativa. Com toda a certeza os valores vigorantes na comunidade estudada interferem no teor das propostas inicialmente colocadas na Pesquisa-‐ ação, explica o autor. Sobretudo, os pesquisadores desempenham um papel ativo na compreensão dos problemas encontrados naquele contexto, e propõe-‐se a realizar ações que possam ser realizadas pela comunidade. Por conseguinte, devem acompanhar e avaliar o andamento destas. Portanto entende-‐se que este método de pesquisa não limita-‐se a simples levantamentos de dados ou de relatórios, os envolvidos possuem papel ativo na realidade e andamento dos fatos acontecidos. O projeto aqui indicado, encaixa-‐se no caso citado na obra de Thiollent (2005), que ele descreve como sendo organizado em meio aberto e com uma maior iniciativa por parte dos pesquisadores. No entanto, estes devem se acautelar de plausíveis inclinações “missionárias”, posto que a pesquisa e os participantes precisam ter objetividade. Quanto aos objetivos, existem os práticos e os de conhecimento. O primeiro deles visa entender o objetivo principal e propor ações que correspondam a soluções. O segundo, serve para obter informações relevantes que seriam de difícil acesso por outros procedimentos. Principalmente não resolve o problema imediatamente, também pode abordar o desenvolvimento de uma consciência coletiva a qual demanda médio a longo prazo. Frente a isso, escolheu-‐se este método de pesquisa para o desenvolvimento do trabalho de conclusão pois seria o mais adequado para propor um produto que respondesse as questões que ainda não tinham sido compreendidas. Por sua vez, o briefing do presente trabalho encontra-‐se dentro do contexto de desenvolvimento de um projeto de Doutorado o qual tem o objetivo de propor através da co-‐criação, um serviço que melhore o atendimento
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aos pacientes com Diabetes Mellitus da Vila Gaúcha em Porto Alegre. A partir dessa premissa, foi realizado um Workshop com principais atores da comunidade e deste surgiu a ideia de projetar um dispositivo o qual mostra-‐se o estado de saúde dos pacientes com Diabetes. Dessa maneira, de acordo com Macke (2006) a estrutura da Pesquisa-‐ação é dividida em quatro fases descritas a seguir: •
Fase Exploratória: esta fase visa compreensão teórica dos temas a
serem desenvolvidos no projeto. Para isto, foi realizado uma revisão bibliográfica de alguns autores que abordam o tema, descrita antes na fundamentação teórica do trabalho. •
Fase de Pesquisa Aprofundada: tem como objetivo descobrir o
campo de pesquisa, os interessados e suas expectativas, sobretudo fundar um primeiro levantamento da situação tentando entender os problemas prioritários e possíveis ações (Thiollent, 2005, pg. 52). Nesta fase, foi realizada uma visita guiada pelo pessoal da equipe de saúde, análise dos dados existentes nas fichas dos pacientes com Diabetes e um primeiro entendimento da Vila Gaúcha. Também nesta etapa foi realizada, a partir do a partir do olhar da antropologia, uma observação participante, para entender mais profundamente as pessoas, o local e os problemas da comunidade. Para isso, acompanhou-‐se o dia-‐a-‐dia da UBS da Vila Gaúcha, além de entrevistas em profundidade com a equipe de saúde, pacientes e ainda visita a casa de alguns dos pacientes. •
Fase de Ação: nesta momento pode-‐se propor ações que
pretendiam mudar o comportamento dos envolvidos com o objetivo de resolver os problemas diagnosticados. Dentro desta fase foi necessário realizar o projeto de Design. Para isso, a metodologia do Design Estratégico e do Design Thinking foram utilizadas. Deste modo, primeiramente foi realizado a pesquisa contextual que se propõe a uma revisão bibliográfica para maior entendimento sobre definições de saúde e sobre a doença. Após, foi feito o braistorming que tem objetivo de trazer a tona as ideias que foram captadas nas primeiras fases de pesquisa, podendo desenvolver ideias em conjunto. Próximo passo foi a pesquisa blue-sky que é caracterizada pela busca de estímulos não diretamente conectados com o problema para trazer insights para o projeto. Logo depois, foi desenvolvido um mapa de polaridades que ajuda na compreensão dos conceitos
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abordados no brainstorming para pode realizar a fase de concepts. Nesta, foram criadas quatro ideias para cada quadrante do mapa de polaridades. De acordo com a pesquisa antes feita, optou-‐se pelo desenvolvimento de um destes concepts. Com isso, pode-‐se partir para o desenvolvimento desta ideia a partir de protótipos testados com a comunidade. Esta fase visa maior compreensão dos conceitos abordados na metodologia do Design Thinking. Tendo em vista maior compreensão da Ação, foram realizadas entrevistas em profundidade com os principais atores que tiveram contato com o projeto. Desta maneira, pode-‐se propor melhorias e uma avaliação conjunta de todo o processo. Finalizando, foi proposto um protótipo final, que responde as questões levantadas durante todo o processo. •
Fase de Reflexão: esta etapa serviu para entender como o projeto
influenciou na vida destas pessoas e se ele respondeu as questões levantas. Para além de tudo, foi realizada uma avaliação critica de como ocorreu cada etapa do processo e se este foi efetivo. Dentro deste contexto, é importante ressaltar que todo o procedimento aconteceu com sobreposições de cada fase e que estas foram complementares. Tendo em vista a complexidade de expressar como estes momentos estão conectados foi desenvolvido um gráfico que pretende demonstrar de forma visual a ordem destas etapas:
Figura 05: Processo de Pesquisa-‐ação sistêmico.
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Figura 06: Processo de Pesquisa-‐ação sintético, da fase 01 a fase 03
Figura 07: Processo de Pesquisa-‐ação sintético, da fase 04 a fase 05
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Para a realização da Pesquisa-‐ação foi feita uma primeira fase baseada em uma Fundamentação Teórica dos temas de Inovação aliada ao Design, Inovação Social e um maior entendimento do Design, preferencialmente o Design Gráfico e o Design da Informação. Dentro destes aspectos foram estudados os principais autores: Brown, IDEO (Design Thinking); Deserti, Celaschi, Borba, Galisai, Giorbi, Zurlo, Meroni, Moraes (Design Estratégico); Kazazian, Manzini, Thackara, Papanek, Murray (Inovação Social); Martins, Redig, Frascara, Hollis (Design da Informação e Gráfico). Os quais, tratavam destes assuntos e forma relevantes para melhor compreensão dos conceitos e como eles se conectam. Frente a isso, primeiramente, foi abordado o tema Inovação e Design. Procurando entender conceitos de Design partindo da ótica da Inovação estudou-‐se o Design Thinking. Por sua vez, este desenvolve uma abordagem centrada no ser humano, a qual parece ser bastante interessante para o presente trabalho. Afinal, tem como objetivo entender quais são os reais problemas da comunidade estudada. Sobretudo, tenta-‐se compreender teoricamente como ocorre o processo de Design Thinking para poder aplicar na parte de Ação do método de Pesquisa-‐ação. Junto desta lógica, aborda-‐se também o Design Estratégico na mesma fase do projeto com o intuito de trazer conceitos que enriqueceriam o processo através da pesquisa blue-‐sky. Para além disso, foi estudado que a Pesquisa-‐ação é uma maneira de alinhar a pesquisa de Design junto ao projeto de Design Estratégico, sendo assim optou-‐se por esta para a realização do trabalho. Resumindo que neste capítulo tentou-‐se entender o que era Inovação sobre distintas perspectivas e como estas possuem metodologias para atingi-‐la. Partindo deste pressuposto, o seguinte capítulo faz um recorte dentro do conceito de Inovação e tenta entender a Inovação Social. Nessa medida, pode-‐se supor que a teoria aborda o tema como um meio de atingir o Desenvolvimento Sustentável através de mudanças comportamentais. Nesse sentido, percebe-‐se grande conexão com o resultado final do trabalho: atingir uma mudança social, que acontecerá a partir de um projeto de Design. Foi compreendido que para
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atingir esta mudança, é preciso entender as pessoas de maneira mais profunda, justificando a escolha do método de Pesquisa-‐ação, já que esta possui abordagens que correspondem a estes objetivos. Conforme abordado no capítulo anterior, o Design Thinking propõe-‐se a realizar um design voltado ao ser humano. Quando se trata de Design e Inovação Social é constantemente referenciado a importância que o Design tem de repensar seu foco para tentar decifrar o ser humano e com isso projetar para seus reais problemas. Dessa forma, buscou-‐se a partir da revisão teórica como deve ocorrer a interação entre Design e Inovação Social e quais metodologias poderiam ser abordadas para atingir uma transformação no público do projeto. Enfim, o último capítulo faz uma verificação breve da história do Design, prioritariamente o Design Gráfico, e como ele evolui durante o último século. Ao par disso, entende-‐se que seu papel vem sendo repensado e reformulado neste contexto tendo em vista a transcendência da formalização estética e funcional. Dentro deste tema, opta-‐se pela desenvoltura mais profunda do Design de Informação. Este, tem como objetivo trazer os fundamentos do tema e explana sua importância para a sociedade. Em suma, os temas escolhidos se completam em teoria e através desta revisão e reflexão bibliográfica pretende-‐se aplicá-‐la em um projeto de Design que busca os conceitos aqui explicados pelos distintos autores.
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A Unidade Básica de Saúde que foi acompanhada para o trabalho situa-‐se em Porto Alegre, no morro Santa Tereza na Vila Gaúcha. A administração da UBS foi delegada para o Hospital Mãe de Deus, que também oferece auxilio na UBS quanto a gestão e médicos para atender naquele local. Além disso, ajuda o Centro Comunitário da comunidade. Este, realiza trabalhos de cunho social com crianças e jovens do local, proporcionando um trabalho integrado com a UBS para a melhoria da qualidade de vida daquela população. A vila possui cerca de 5 mil moradores, os quais se encontram na Base da Pirâmide. O local foi basicamente povoado por pessoas do interior, da cidade de Cerro Largo, Soledade e Sarandi. A Vila Gaúcha encontra-‐se em uma área nobre de Porto Alegre, próxima de terminais de ônibus, taxis e lotação. Ainda, está a 30 minutos de caminhada do centro da cidade e tem como vizinhos as principais empresas de telecomunicações do Rio Grande do Sul. Apesar disso, dentro da vila quase não existe urbanidade e as escolas públicas mais próximas estão a quilômetros de distancia. Para receber a correspondência, é preciso contar com a ajuda dos moradores do início da rua, pois o carteiro não entrega a correspondência dentro do lugar. Para além de tudo, a eletricidade só chega através de fios clandestinos instalados pelos próprios moradores e a água passa por canos a céu aberto chegando as moradias improvisadas da região construídas em área verde. Antes de entrar em contato com a comunidade, foi oferecido pelo Hospital um DVD produzido pelos adolescentes da própria Vila Gaúcha dentro de um projeto ofertado pelo Mãe de Deus. O objetivo do curta era apresentar a Vila e suas peculiaridades. Neste, pode-‐se identificar que a maioria das pessoas se conhecia e, principalmente, possuía orgulho de morar naquele local. Também soube-‐se que existia um Associação de moradores. Esta, realiza ações de melhoria para os moradores e pelos próprios moradores. O líder poderia ser comparado a um sindico, que cuida dos interesses públicos a políticos do local. Desta forma, identificou-‐se esse líder como um dos stakeholders relevantes para a pesquisa de campo.
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Sobretudo, o DVD tinha um clima informal que demonstrava atividades cotidianas da vila, como: jogar bola no campinho, ir na UBS, fazer parte do Centro Comunitário, da Associação de moradores, tomar chimarrão com os vizinhos e apreciar o por do sol, pois a localização geográfica permite uma vista privilegiada deste fenômeno. O Centro Comunitário realizou um inquérito com as famílias envolvidas em seus projetos. Este, tinha o objetivo de compreender um pouco mais a saúde, educação, alimentação e vida pessoal destes. Como era preciso entender o contexto, foram analisados os dados desta pesquisa. SASE é um dos programas realizados pelo Hospital Mãe de Deus, que ocorre no Centro Comunitário, ao lado da UBS. Este, propõe-‐se a cuidar de crianças de 7 a 13 anos no horário inverso da escola. Em 2007, foi realizado uma pesquisa para entender a comunidades na perspectiva da saúde, hábitos e cultura. Sendo assim, aplicaram em 84 famílias três tipos de questionários diferentes. Destes, apenas 1 tipo perguntava a respeito do Diabetes na família. Este questionário tinha a seguinte divisão: 1.
Identificação do entrevistado
2.
Dados pessoais
3.
Dados sócio-‐econômicos
4.
Saúde
5.
Saúde da Criança
6.
Lazer
7.
Hábitos alimentares em casa
8.
Hábitos alimentares (na escola e no SASE)
9.
Espaço para observações
Entre estes, apenas 7 famílias tinham diabetes na família. Entretanto, todos os 84 questionários foram lidos e analisados. Nesta fase, propõe-‐se uma visualização através de ícones para compreender de outra perspectiva os dados ali encontrados. No Anexo 01 pode-‐se visualizar as fichas. Em suma, esta análise ajudou na compreensão do contexto onde os pacientes estão inseridos.
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Depois da analise de dados secundários, foi combinado com a equipe de saúde uma visita guiada pela vila para observar o contexto de vida das pessoas da Vila. Desta forma, partiu-‐se para uma primeira analise macro e seguido disso seria realizado um entendimento mais aprofundado das situações. O encontro foi registrado e pode ser encontrado no Anexo 02 Ao chegar na UBS, observou-‐se que esta tinha uma sala de espera externa com grades e um banco de madeira. Percebeu-‐se que havia uma porta com cadeado. Ainda neste espaço ficavam os avisos importantes, para que toda a comunidade tivesse acesso. Logo ao entrar, encontra-‐se outra sala de espera com mais bancos. Naquele momento, a sala estava relativamente cheia, com pacientes a espera de atendimento. Na parede verde existia um quadro do hospital. Sobretudo, já notou-‐se que as pessoas conversaram informalmente e pareciam se conhecer, tanto os pacientes ali presentes e as pessoas da equipe. Nesta sala havia uma mesa, onde o porteiro ficava sentado e cuidava da porta e do controle das fichas. Estas, eram retiradas pelos pacientes para espera de atendimento ou para marcar consultas durante a semana. Ficou-‐se um certo tempo esperando para que a equipe pudesse realizar a visita. Então, durante este período pode-‐se observar um pouco o funcionamento da UBS. O espaço, de maneira geral, não parecia muito grande para tantas pessoas. Logo, ao lado da sala de espera interna, fica a sala do coordenador do posto e enfermeiro. Neste mesmo local ficam os arquivos com os prontuários e existe uma porta para o estoque de remédios. Este espaço, em especial, possui um grande fluxo devido as atividades constantes de entrega de remédio e consulta as fichas dos pacientes. A equipe apresentou as outras salas do local, sendo estas: uma sala de triagem, duas de curativo, uma de nebulização, a sala do médico, uma banheiro para os pacientes e um para a equipe e, por fim, a cozinha. Tendo em vista melhor entendimento foi feito um desenho com vista superior do espaço (figura 09).
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Figura 08: Vista Superior da UBS
Depois do reconhecimento da equipe e do local de trabalho fomos a visita. Esta, aconteceu pelo principal acesso da vila, o único que entra carros. Devido a localização geográfica do local, em cima do morro, não é possível a entrada de carros ou caminhões, apenas neste acesso e até uma parte. Sendo assim, o caminhão de lixo, por exemplo não recolhe os dejetos dali. Devido a este fator, alguns habitantes depositam o lixo em um terreno baldio próximo a UBS e o caminhão do lixo recolhe esporadicamente. Os outros moradores depositam os dejetos espalhados nos caminhos da vila, que são prioritariamente de chão batido. A caminhada pelos acessos ocorreu junto do médico e do enfermeiro da UBS. Logo em primeira instancia, notou-‐se que havia canos espalhados pelo local, onde corriam água. Foi questionado se as pessoas tinham acesso a saneamento básico e a resposta foi que todo o complexo não tinha acesso, apenas havia esses canos a céu aberto transportando água. Além disso, notou-‐se que o acesso a luz parecia restrito, pois havia muitos fios emaranhados que chegavam a vila por meio de “gatos”. O médico explicou que a comunidade não tinha luz elétrica legalmente, sendo assim tinham que arranjar uma maneira de conseguir eletricidade. Outro aspecto peculiar foi quanto a entrega das correspondências. Explicou-‐se que o carteiro não entrava na vila para entregar as cartas, apenas nas
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casas mais próximas das entradas. Então, era preciso dar o endereço de algum conhecido que morasse ali, ou ainda o da própria UBS ou do Centro Comunitário. Ao perguntar o motivo do carteiro não entrar no local para distribuir as cartas a resposta foi por falta de segurança. Durante a visita encontrou-‐se o líder comunitário, identificado no DVD. Este, foi muito acessível e contou um pouco da história daquela comunidade. Explicou que os problemas mais graves relacionados a drogas e homicídios haviam sido superados, e que hoje o índice era pequeno. Sobretudo, afirmou que atualmente a Vila Gaúcha é um local seguro para se morar, e que isto só pode acontecer devido a realização de projetos realizados pela Associação junto do apoio de parcerias. Comentou também sobre alguns problema políticos que ainda então em andamento, como a certeza de que a vila não seria retirada daquele local devido as obras da Copa 2014. Notou-‐se a relação muito próxima existente entre a equipe de saúde e os moradores do local, e também com o líder comunitário. Todos pareciam ser familiarizados uns com os outros. Além deste aspecto, o projeto foi explicado para o médico, o enfermeiro e o líder comunitário durante a caminhada. Estes, pareceram entusiasmados em ajudar e curiosos para entender como poderia proceder o processo. Locais de encontro como o bar da comunidade e o mercado onde fazem as principais compras, foram visitados. Além deste, foi constatada a existência de duas igrejas no local: evangélica e católica. Foi comentado que os moradores freqüentam este tipo de estabelecimento regularmente. Demonstrando serem religiosos e apegados a este tipo de crença. Ao final da visita, chegou-‐se ao campo de futebol, um dos principais locais de convívio da comunidade. Este, localiza-‐se ao fim da vila e apenas algumas casas ficam ao seu redor, seguidas de mato. Em uma área próxima, há um espaço onde alguns moradores plantam feijões e vegetais. No que diz respeito as moradias, estas eram construídas na sua grande maioria de tijolo sem reboco ou de madeira. Também possuíam telha de cimento amianto. As casas ficavam em área verde e em um morro, inclinadas, não parecendo ter algum tipo de planejamento para a construção. Havia muitas árvores pelo caminho e o chão era de terra batida. Também existia muitos varais
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pelo local, onde os moradores penduravam suas vestimentas. Nota-‐se que a grande maioria das pessoas tem animais em casa, alguns até galinhas. Concluindo, ficou claro que as condições de vida daquelas pessoas poderia ser categorizada como precárias quanto as condições básicas de moradia. O local pareceu ser seguro entretanto ainda ficava a dúvida de porque o carteiro não entrava na comunidade, por exemplo. Além disso, as pessoas pareciam sentir-‐se a vontade de residirem ali, sendo simpáticas com quem estava no grupo realizando a visita guiada.
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Neste dia, os prontuários dos pacientes com diabetes foram analisadas para uma compreensão a partir da perspectiva médica. Estes, encontram-‐se no arquivo localizado na sala do coordenador (enfermeiro) da UBS. Dentro desta, encontra-‐se a farmácia, que causa bastante movimento devido a freqüente retirada de medicamentos para os moradores. Sendo assim, a sala não possui espaço para tanta circulação e não tem privacidade. Para a ação de leitura das fichas, foi necessário certo esforço pela equipe e pela designer devido ao uso de uma das cadeiras, um banco e a mesa. A sensação era de que aquilo estava atrapalhando o trabalho da equipe, apesar destes não falarem isto. Para além disso, conversavam e pareciam contentes de estar acontecendo algo novo, constantemente perguntavam se era necessário ajuda. Deste modo, deixaram a designer a vontade. Para encontrar as fichas foi necessário consultar um fichário especial onde os pacientes com diabetes estavam catalogados. Neste, encontrava-‐se o número de ficha de cada um e com isto era possível encontrá-‐las em arquivos que localizavam-‐se na sala do enfermeiro. Por sinal, ocupavam bastante espaço. Para entender o funcionamento da UBS, foi perguntado como era articulado este movimento (pegar a ficha do paciente) durante os atendimentos. Foi respondido que cada paciente decora sua ficha para facilitar o trabalho da equipe. As fichas preenchidas pela equipe de saúde permaneciam com eles na UBS, e os pacientes não tinham acesso a esta. Nela, continha todo o histórico do paciente desde a primeira vez que ele foi atendido. Entretanto, não era fácil compreender o que estava escrito por conta da grafia daqueles que preenchiam. Sobretudo, não havia uma ordem lógica na hora de anotar as ocorrências. Em outras palavras, os exames estavam escritos próximos dos medicamentos tomados seguido dos sintomas. E em outro dia a ordem mudava, os dados não eram preenchidos por completo, como: 39 mas sem os graus, dificultando o
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entendimento do que era aquele número. Além do mais, era utilizada a linguagem médica, que não era de fácil compreensão por qualquer um.
Então, pode-‐se concluir que as fichas pareciam servir de protocolo e que não eram estudadas freqüentemente pela equipe, para que fosse proposto melhorias na saúde do paciente. Para além de tudo, não pareciam ter um objetivo que ajudasse o paciente de alguma maneira, apenas continha as informações em forma de histórico e desordenadas. Certamente era importante para caso a equipe tivesse de consultar algum dado excepcional do paciente, por exemplo: alergia a algum remédio. No fim, ela acabava ocupando espaço e não agilizava o trabalho da equipe de saúde. Porém, era extremamente necessário obter um histórico dos pacientes e um controle sobre seu estado de saúde.
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Durante duas semanas de observação participante na UBS da Vila Gaúcha percebeu-‐se as atividades peculiares daquela comunidade (Anexo 03). Em primeiro lugar é importante descrever o local. Como antes já explicado, o lugar não possui muito espaço. A sala do coordenador (enfermeiro) é a mais acessada, devido a farmácia ao lado e o arquivo com os prontuários dos pacientes (figura 09).
Figura 09 – Técnica na sala do enfermeiro conferindo prontuário
Esta, acabou sendo mais utilizada como corredor ou local de transição do que um espaço destinado a conversa com pacientes ou de gestão (figura10). Ali encontra-‐se uma mesa com telefone e computador com acesso a internet. Em relação a esta questão, ficou claro durante a observação, que eles devem sempre preencher muitos formulários tanto para o hospital quanto para a prefeitura. O enfermeiro comentou que acaba perdendo muito tempo nisso, tempo que poderia ser utilizado para os pacientes.
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Figura 10 – Porta para farmácia na sala do enfermeiro
Ainda neste local, junto da farmácia, ficam a maioria dos documentos do estabelecimento. A farmácia é uma sala com prateleiras e um refrigerador com remédios. Estes estão organizados por ordem alfabética. O enfermeiro contou que uma vez ele organizou os remédios por ordem de maior uso. Entretanto a UBS recebeu uma multa por isso, já que é lei organizá-‐los por ordem alfabética (Figura 11) . Ali ficam também alguns documentos e materiais. Em um dos dias de observação havia chovido e entrado água nesta sala. Alguns remédios estragaram e foi preciso fechar o posto para organizar tudo de novo e deixar alguns materiais e remédios secando. Foi um caos. Além deste acontecimento, comentou-‐se que algumas vezes ocorria de alguns medicamentos não serem entregues a UBS. Como por exemplo o anticoncepcional, que chegou a ficar durante 3 meses em falta.
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Figura 11 – Remédios
Nas outras salas encontram-‐se materiais referente ao uso médico. A sala de triagem serve para atender os pacientes e compreender quais são os seus problemas, podendo ou encaminhá-‐lo ou doutor ou tratá-‐lo ali mesmo. A porta do local está com defeito e fecha com dificuldade. Neste, possui mais um computador e telefone. Também encontra-‐se uma balança, uma maca e objetos como seringas e aparelhos. Nas salas de curativos são realizados procedimentos não muito complicados e na sala de nebulização são atendidos os pacientes com dificuldade de respiração. A sala do doutor tem ar condicionado, uma maca, uma mesa, materiais de uso médico, e é o local de maior privacidade do estabelecimento. Os banheiros são separados entre a comunidade e a equipe de saúde. Estes não encontram-‐se no melhor estado de uso, entretanto são bem limpos. A cozinha é um cômodo informal de convivência entre as pessoas que ali trabalham. É um espaço pequeno, mas de muita conversa entre todos. Ali encontra-‐se uma pia, geladeira, fogão e utensílios domésticos. A rotina do local procedia da seguinte maneira: de segunda a sexta das 8h até o 12h, com horário de almoço até as 13h e depois até as 17h. Na segunda-‐ feira era preciso que os moradores chegassem cedo para retirar as fichas para atendimento do dia e marcar consultas isoladas durante a semana com o médico. Geralmente a agenda era preenchida já no primeiro dia. E era difícil não ter atendimento acontecendo. Entretanto, sexta-‐feira era o dia mais calmo da UBS.
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Dentro destas observações, foi analisado a comunicação que ali existia. Muitos cartazes eram dispostos no local, primordialmente de propagandas promovidas pelo Estado referindo-‐se a saúde. Quanto a estes, percebe-‐se uma linguagem não adequada ao público devido ao uso exacerbado de palavras, sendo que a maioria da população não sabe ler. Além deste aspecto, as pessoas presentes nos cartazes não eram semelhantes a população ali presente, não havendo identificação com a comunidade. Para além disso, usa-‐se figuras populares e famosas para o incentivo de algumas ações. Encontrou-‐se também o adesivo da campanha do crack e do Sport Club Internacional, na porta da sala do médico (Figura 12).
Figura 12 – Porta sala do médico
Existiam também outros avisos dados pela UBS para a comunidade. Estes, ficavam no mural na parte externa para toda a comunidade poder ter acesso. Nestes utilizava-‐se uma fonte usual, com letras grandes, sem uso de cor em tamanho A4. Já os do governo, eram em tamanho A3, com muitas cores, grande uso de fotografia, muitas letras e informações de diferentes tamanhos. Alguns possuíam mensagens mais diretas e outras mais abstratas. Refere-‐se aqui a
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importância desta análise para compreender como e quais informações são dadas aquele público. A sala de espera possui um banco e o porteiro situa-‐se sentado em uma mesa de fronte ao banco. Nesta sala há uma televisão pendurada na parte de cima na parede. Geralmente está passando ou jornal, ou desenho ou casos de família (um programa popular famoso na comunidade). Entre as observações, notou-‐se que muitas vezes os programas que ali passavam eram assunto dos que ali esperavam. Uma situação que chamou a atenção foi quando havia muitos pacientes esperando atendimento e estes começaram a falar mal da equipe de saúde. Logo, a técnica em enfermagem foi ali e usou um tom de voz acima do normal para explicar o motivo da demora. Com isso, os moradores ficaram quietos e intimidados. Este exemplo foi relevante para compreender como acontecia a relação da equipe com a comunidade em momentos mais extremos.
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Nesta etapa do trabalho foram distribuídos convites para os 38 pacientes cadastrados na UBS para um encontro com os designers envolvidos. Para isto, foi necessário a ajuda da equipe de saúde e do líder comunitário. Além dos convites, foram pendurados cartazes nos principais pontos da comunidade: UBS, Associação de moradores e no bar. O encontro foi realizado no Centro Comunitário, que encontra-‐se de fronte a UBS, já que não é possível realizar encontros no local destinado para este fim devido ao espaço que já é ocupado pelas atividades rotineiras. Foram convidados o médico e o enfermeiro para o encontro, assim passou-‐se confiança aos pacientes a respeito do projeto. Neste dia, compareceram 8 pacientes, e todos se interessaram em participar. A atividade proposta para maior entendimento do contexto dos pacientes requeria a distribuição de uma câmera descartável KODAK e um caderno com diferentes ações que deveriam ser demonstradas através de fotos seriam tirada por eles (Anexo 04). Para que todos entendessem a atividade, a primeira foto era do próprio paciente e para isto cada um treinou tirando uma foto do outro. Com isso, pode-‐se perceber algumas dificuldades destes durante o processo. Os pacientes não sabiam ao certo onde ficava o botão para tirar a foto, demonstrando não ter muita intimidade com a máquina. Entretanto, ainda era importante compreender os limites destes sobre as distintas atividades para que fosse proposto uma solução que correspondesse a estas necessidades. O prazo para a realização foi de uma semana, e em seguida marcou-‐se encontros com os pacientes em suas casas para uma entrevista em profundidade. O objetivo da entrevista era conversar de maneira informal com o paciente para entender como ele lidou com a atividade e perguntar os motivos de tais imagens terem sido retratadas. Para aproximar o contato com os pacientes e não depender da UBS para isto, requereu-‐se os telefones de casa e celulares das pessoas. Sendo assim, seria mais fácil de marcar os encontros seguintes.
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Nesta etapa do processo conseguiu-‐se que 6 pacientes realizassem a atividade do caderno, podendo assim realizar as entrevistas em profundidade com estes. Deste, visitou-‐se a casa de 3, e as outras 3 entrevistas aconteceram ou no Centro Comunitário ou na UBS. De maneira geral, os pacientes tiraram algumas fotos do caderno. Nenhum deles conseguiu tirar todas as fotos. Sobre as perguntas, todos os pacientes moram com pelo menos um membro da família. Os objetos que apareceram quando se questionava o que era preciso comprar ou qual objeto é mais utilizado apareceu televisão, rádio e computador. As comidas que surgiram nas imagens foram saladas verdes, tipo folhas de alface, tomate e cenoura. Quanto aos almoços, maioria come arroz, feijão e algum tipo de carne. Todos comem churrasco pelo menos uma vez por semana. As refeições não adequadas foram relacionadas a doces. A fruta que mais gosta, de modo geral, é a banana. E a bebida Coca Cola apareceu como um gosto preferencial. Todavia, era sabido que não fazia bem para o Diabetes. Ainda foi respondido que a maior parte da renda é destinada a alimentação. Também, nenhum dos pacientes trabalha. Estes, recebem algum tipo de auxilio do governo. Todos comentaram que gostam de morar na Vila Gaúcha, e que o que mais apreciam lá é o pôr-‐do-‐sol e a UBS. A equipe de saúde foram referidas como amigos e pessoas que cuidam deles, completando que seu trabalho é excelente. Os pontos que não gostam da vila são o lixo, que está por toda a parte e o caminhão não passa pra recolher. E também os becos escuros, não existe iluminação nas ruas durante a noite. Então, os moradores não procuram sair de casa. Apesar de ainda acharem seguro morar lá. Em relação aos hábitos, costumam cuidar da casa, tomam chimarrão, vêem televisão e escutam rádio. Suas vidas se passam, em grande parte, dentro de suas próprias casas. Fazem todas as atividades domésticas como: lavar, passar, cozinhar, varrer... Quanto as profissões, as mulheres foram ou
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empregadas domesticas e trabalhavam com limpeza. Já os homens, trabalhavam em construção civil. Depois de entendidas respostas do caderno, a entrevista foi organizada a partir de um roteiro flexível para compreender melhor as questões referentes ao Diabetes. Basicamente o que era preciso entender: •
Como ficou sabendo
•
Há quanto tempo tem a doença
•
Possui algum sintoma
•
Que remédios toma, qual horário, toma regularmente
•
Qual freqüência vai a UBS
•
O que sabe sobre a doença
•
Qual a maior dificuldade
•
Quais exames já fez
•
Que outros médicos teve que visitar devido ao Diabetes
Dentro destes aspectos, constatou-‐se que existem diferentes níveis de entendimento da doença pelos pacientes. Entretanto, de maneira geral, sabem pouco. Entendem que tem relação com alimentação e com o sangue, basicamente. Percebeu-‐se também que existe a presença de analfabetos no grupo, e alguns que sabem ler mas, tem dificuldade de compreensão textual. Sendo assim, revela-‐se a dificuldade da educação para o entendimento do Diabetes, que ainda é considerada critica e uma incógnita. Tudo que os pacientes sabem sobre a doença ouviram na UBS ou na televisão. Para além disso, todos possuem casos de familiares que morreram de complicações causadas pelo Diabetes. Com isso, também compreendem algumas questões devido a estes acontecimentos. Quando surgia este assunto, morte de familiares, os pacientes afirmavam querer ainda viver muitos anos. Nota-‐se que a família é um importante bem deles. Todos tem netos, e querem ver estes crescer. Os pacientes ficaram sabendo da doença devido aos sintomas já avançados como: dor constante nas pernas e na cabeça, visão turva ou tonturas. Todos já sabiam da doença há mais de 5 anos. Também, todos descobriram na UBS da Vila Gaúcha. Assim que souberam tiveram uma consulta com o doutor e alguns visitaram outro médico como um nutricionista ou endocrinologista. Entretanto, a visão que os pacientes tinham destes médicos era negativa.
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Explicaram que não foi compreendido nada durante a consulta, apenas que não poderiam comer mais nada e que os alimentos saudáveis eram caros demais. Sobretudo os diabéticos revelaram que o profissional fazia com que eles se sentissem culpados de ter aquela doença. Esta foi uma das causas dos pacientes desistirem dos cuidados. Em relação a isso, o mais difícil é a alimentação. Os pacientes, tomam os remédios de maneira correta. Entretanto, nenhum sabia quais eram os remédios que tomavam (nome comercial ou genérico), apenas compreendiam qual tomar (“aquele branquinho e comprido”) e o horário. Foram encontradas diferentes prescrições medicas para cada paciente. Eles pegavam com freqüência na UBS os medicamentos. Aliás, esta é a única freqüência que eles vão ao local: para pegar remédio. Nenhum tinha o costume de verificar sua pressão e glicose. Por isso, nenhum sabia exatamente como estava seu estado de saúde.
Quanto a atividade física, alguns praticavam mais que outros. O exercício realizado era caminhada, basicamente. Constatou-‐se que os pacientes ficavam confusos quanto a influencia da atividade física na melhora da doença, pareciam não entender direito. Ainda, não sabiam quais exames já haviam feito. Tinha dificuldade para pronunciar. Concluindo que, nenhum sabia seu real estado de saúde e muito menos, entendia quais as conseqüências de seu comportamento no Diabetes. Compreendiam que não podia comer doce. Mas, não sabiam da relação com a glicose nos alimentos. Tratando-‐se de hábitos não saudáveis, os pacientes ou fumam ou estão tentando deixar de fumar. Todos sabem que este costume não faz bem a saúde de maneira geral. Para além disso, alguns bebiam freqüentemente também. Todavia, já havia sido superado este vício. As entrevistas em profundidade com a equipe de saúde aconteceram durante o processo de observação participante no posto. Para esta, não realizou-‐ se um roteiro formal e sim uma lista de fatos que era preciso entender melhor. Entre eles:
•
Quem eram os pacientes
•
Como eles ficaram sabendo
•
Como eles eram 60
•
Com que regularidade vinham ao posto
•
Como os pacientes lidavam com seu estado de saúde
•
Quais atividades já tinham sido realizadas na UBS voltada para
Diabéticos •
Qual era a maior dificuldade dos pacientes em se cuidar
•
Qual era o caso mais grave
•
Quais eram os sintomas mais comuns
•
Os pacientes tomavam os remédios
Com o tempo foi explicado que a maioria dos pacientes descobriram a doença a partir dos sintomas já evoluídos desta. Ao persistirem estes sintomas, alguém da equipe de saúde realizava o exame de verificação de glicose capilar e se estivesse alta (maior que 200 HGT) era quase certo que aquela pessoas tinha o Diabetes. Então, para comprovar, era requerido um exame de sangue pelo médico. Constatada a doença, marca-‐se uma consulta com o médico para explicar com mais calma o que é e quais as ações devem ser tomadas. Nesta, o doutor conversa sobre a importância de ter uma alimentação saudável e a pratica de atividades físicas. Além disso, fala ao paciente que é preciso que ele venha pelo menos uma vez ao mês numa consulta para checar como anda seu estado de saúde. A equipe toda concorda que seria fundamental que eles pudessem verificar sua glicose diariamente em diferentes horários do dia. Entretanto, o equipamento é caro e a própria UBS possui apenas um. Foi comentado sobre uma das situações que acontece freqüentemente na UBS e é considerada um grande problema. O caso é que muitos dos atendimentos realizados poderiam ser evitados caso os pacientes soubessem o que fazer com a ocorrência. Ou ainda, se eles tivessem o material para tratá-‐la em casa. Como exemplo, cita-‐se um paciente que foi até o local pois havia cortado o dedo da mão. Ele apenas precisava lavar e colocar um curativo. Foi preciso que a técnica parasse o fluxo de pacientes com urgências imediatas, para atender este tipo de acontecimento. Importante ressaltar que não é feita uma critica a situação, é compreendido que a população não possua este tipo de equipamento em casa. Entretanto, é fundamental reconhecê-‐la para poder vencer esta necessidade na fase de Ação.
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Retornando ao assunto do Diabetes, explicou-‐se que além da consulta com o médico era recomendado uma conversa com um nutricionista. Antes, a UBS tinha acesso a um profissional desta área que vinha atender uma vez por semana estes e outros pacientes. Porém, aos poucos, eles deixaram de aparecer e o profissional não veio mais. Sendo assim, agora eles tem de ir em outro local procurar este tipo de atendimento. Foi descrito que mesmo depois da consulta, para os que iam, os pacientes pareciam não entender o que deveriam ou não comer. Isto porque, seu nível glicêmico era, na grande maioria das vezes, muito alto (maior que 300 – nível adequado fica entre 100 e 150). Estes casos foram contados de maneira geral. Quanto ao fato de os pacientes deixarem de ir uma vez por semana consultar com a nutricionista, o mesmo aconteceu com o grupo de caminhada que o doutor montou. Na primeira vez, vieram vários. Já na segunda, o numero caiu muito. E, na terceira semana ninguém veio. O médico explicou como era difícil que os diabéticos, ou até mesmo qualquer um dos moradores da vila, aderir a uma nova prática. Contudo, a equipe em geral não tem tempo para ir atrás dos pacientes, fazendo com que eles participem. Deste modo, ocorre que a ação depende da outra e como nenhuma delas acontece, nada muda. O que foi colocado pela equipe é que os pacientes devem cuidar de si mesmo, pois eles não tem tempo para isso. Todavia, acontece que os pacientes não compreendem o que podem fazer para melhorar seu estado de saúde. E, ainda, a equipe não tem muito tempo para explicar e fazer os pacientes entenderem. Com isso, torna-‐se um ciclo vicioso de estagnação. Além deste aspecto, a equipe contou como os diabéticos recebiam a notícia. Na maioria das vezes, pareciam tristes. Todavia, não entendiam bem o que era a doença e nem quais suas conseqüências. Sobretudo, tanto os que ficavam tristes quando os que pareciam ignorar o que estava acontecendo, com o tempo acabavam não praticando nenhuma ação diferente de pegar os remédios na UBS para o Diabetes. Existe apenas um caso de paciente que vai todos os dias, de segunda a sexta, no local para verificar sua glicose. Esta, deve tomar insulina, por isso segue indo e cuidando de sua saúde desta forma. A técnica de enfermagem, contudo, afirmou que a paciente só ia todos os dias lá devido a
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relação de amizade que elas tinham. Quando a diabética ia a UBS ficava tempo conversando com toda a equipe. É uma mulher mais velha que morava sozinha. A partir das observações e das conversas informais, pode-‐se tirar algumas conclusões. Entre elas que a equipe ressaltou apenas os aspectos negativos do comportamento dos pacientes. Além disso, demonstraram conhecer muito bem estes, chegavam a descrever os comportamentos indicando o número dos prontuários.
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Realizada a etapas de Pesquisa Bibliográfica, Exploratória e Etnográfica, parte-‐se para a fase de Ação. Nesta, realizou-‐se o método de projeto do Design Estratégico e Design Thinking. Sendo assim, partiu-‐se de um briefing para realização de uma Pesquisa Contextual, e paralelo a isso uma Pesquisa Blue Sky até alcançar um concept. Nessa medida, a ideia é testada no uso com a comunidade para melhor compreender como ela responde as necessidades constatadas.
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Posto que o projeto visa o controle dos Diabetes é preciso entender este a partir de uma perspectiva medica. Para isto, fez-‐se a leitura do livro Diabético: cuide de seus pés! do doutor Celso Gomes, especialista na área (Gomes, 2005) Logo em primeira instancia, o autor aborda que o Diabetes é uma das poucas doenças agressivas em que o estado de saúde depende quase que exclusivamente do desejo, comportamento e cuidado do próprio doente diabético. Isto acontece pois a doença requer a gestão de uma alimentação saudável, alinhada a prática de atividades físicas e o uso correto dos medicamentos. Com estas precauções, é viável ter uma vida normal, apesar da doença não ter cura. Tendo em vista este não cuidado, o Diabetes pode ser fatal. O doutor explica que os seus principais alvos são: vasos sanguíneos, o coração, os rins, os olhos, o sistema nervoso – comprometendo a cabeça – e, sobretudo, pernas e membros inferiores. As causas da doença são uma mistura de fatores. Entre eles o fato de existir algum diabético na família, aumenta as chances da pessoas desenvolver a doença depois de certa idade. Além deste, encontra-‐se o fator nutricional inadequado. Em outras palavras, quando a pessoas não possui hábitos alimentares saudáveis abusando do álcool e de refeições ricas e glicose e gordura. Também, dentro deste aspecto, encontra-‐se as pessoas obesas, que são mais propensas ao Diabetes. Ainda outra ação que pode ajudar no desenvolvimento da doença é, melhor dizendo, justamente a falta de ação: inatividade física. É preciso realizar atividades físicas todos os dias, com moderação ela pode modelar e formar o corpo saudavelmente. A partir destes fatores aqui descritos a pessoa pode ou não desenvolver o Diabetes. Nesse sentindo, é fundamental ressaltar que este é um inimigo silencioso. Isto porque não é notado desde o início do seu desenvolvimento. Se a pessoa não tem o costume de fazer exames regularmente para saber como anda seu estado de saúde, é provável que ela só vá descobrir que possui a doença em estágio mais avançado. Ou seja, quando um dos sintomas já se manifestar. O
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doutor divulga que 50% das pessoas que tem Diabetes, não tem consciência disto. Frente a isso, é preciso compreender exatamente o que ocorre em nosso corpo quando se depara a este problema. É explicado que os elementos energético que fornecem as calorias devem ser retirados do sangue e transformados para conseguirem entrar nas cadeias metabólicas, ou seja, sistemas metabólicos. O responsável por isso é a insulina, produzida pelo pâncreas. Se, por alguma razão, a insulina não cumpre sua tarefa, a glicose não é retirada dos vasos sanguíneos. E vai aí se acumulando até chegar a níveis indesejáveis. Por isso é preciso verificar a concentração de glicose no sangue. A medida que os níveis de glicose no sangue aumentam e perduram durante um certo período de tempo, as paredes dos vasos são danificadas. Ou seja, elas endurecem e engrossam fazendo com que passe menos sangue pelos vasos e perdendo sua elasticidade. Em outras palavras, podemos chamar este aumento do nível da glicose de hiperglicemia, um dos maiores causadores de complicações do Diabetes. Outro problema que pode acontecer é a hipoglicemia: o nível de glicose no sangue fica muito abaixo do normal. Quando isso decorre, o paciente fica tonto e deve comer algum doce, para aumentar os níveis. Ao par disso, o doutor explica um dos sintomas mais conhecidos pelas decorrências de hiperglicemia: o pé diabético. Isto decorre da falta de sensibilidade que o paciente vai adquirindo devido aos altos níveis de glicose no sangue. Ele começa a ter muitas dores nas pernas e pés. Depois começa a deixar de senti-‐los. Isto é um grave problema, porque a pessoa não sabe quando o pé esta cortado, por exemplo. Ou ainda, em estados mais extremos, pode não perceber que o pé está queimando! Este tipo de acontecimento traz sérias complicações aos pacientes pois o Diabetes faz com que a cicatrização demore a acontecer, devido a engrossamento e inflexibilidade das paredes dos vasos. Sendo assim, os dedos ou partes dos pés, começam a gangrenar e os médicos são obrigados a amputá-‐los. Todavia, não é uma ação garantida de melhoria, pois ainda assim a pessoa pode não se salvar. Em outras palavras, a pessoa vai perdendo os membros, ficando inválida, passando por diferentes procedimentos cirúrgicos e por fim pode vir a falecer ou ficar em cima de uma cama ou cadeira
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de rodas pelo resto de seus dias. Frente a isso, percebe-‐se quão devastador pode ser a doença, se não for cuidada. Devido ao contato com muitos pacientes diabético por causa de sua profissão, o médico consegue traçar um perfil psicológico destes. Afirma que o medo é uma constante no diabético. Assim como este, o susto também pode ser considerado freqüente. Isto decorre pois freqüentemente é informado ao paciente, por exemplo, que deverá amputar seu pé, que perderá a visão, que seu rim não funciona mais, que seu coração está seriamente danificado e que seus vasos sanguíneos não são canos lisos e elásticos por onde circula o sangue. Frente a isso, a ansiedade e a incerteza são suas companheiras. Entretanto, é importante ressaltar que a grande dificuldade que se tem em diminuir ou evitar os problemas do diabetes não é com a doença em si. O difícil é convencer e motivar o paciente. (pg.35) Depois de compreendido teoricamente o Diabetes, vê-‐se necessário um maior entendimento do seu oposto: a saúde. Para além de tudo, o bem-‐estar. Para tanto, estudou-‐se o livro Wellness dos autores Alberto Ogata e Ricardo Marchini, ambos médicos (Ogata, Marchi, 2008). Logo no início do texto eles lembram o que é saúde de acordo com a Organização Mundial da Saúde: completo bem-‐estar físico, mental e social, e não somente a ausência de doenças. Sobretudo, que a saúde é um recurso para a vida diária, que acentua as capacidades físicas e sociais do individuo. Partindo dessa premissa, o livro destaca uma ação que deve acontecer por parte das pessoas muito relevantes para o presente trabalho. Explica que alguém que queira assumir maior controle no gerenciamento de sua saúde precisa ter consciência do seu estado atual. Além disso, deve compreender os benefícios que a mudança do estilo de vida pode trazer e como ela pode proporcionar a si mesmo esta melhora. Os autores explicam que temos o poder de controlar mais de 50% da nossa qualidade de vida, bem-‐estar e saúde. Ou seja, temos no mínimo metade de responsabilidade pelo que acontece no nosso corpo, podendo potencializá-‐lo em um pleno equilíbrio. O resto que sobra é determinado pela herança genética, pelo tipo de assistência médica e pelo ambiente em que vivemos. A grande questão aqui abordada é que a maioria das doenças pode ser evitada devido aos nossos
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hábitos de vida. Conservar costumes que trazem benefício ao nosso corpo e mente só trarão satisfação em curto, médio e longo prazo. Entre estes costumes destaca-‐se a prática de atividades físicas regularmente. Esta, deve acontecer durante cinco vezes na semana e por 30 minutos. Outro hábito crucial que pode-‐se destacar é manter uma alimentação saudável. Coloca-‐se que no Brasil 40% da população está acima do peso. Isso quer dizer que estas pessoas tem maior probabilidade de desenvolver doenças ao longe de suas vidas, debilitando seu próprio corpo. Para adquirir um equilíbrio alimentar é preciso ingerir 5 porções de frutas e vegetais diariamente, beber muita água, evitar o açúcar refinado e industrializado e as gorduras. O último costume recomendado pelos autores para adquirir uma vida plena é não fumar. Este hábito pode causar sérios riscos a saúde e não traz nenhum benefício ao corpo, bem pelo contrario. Frente a isso, é explicado que esses fatores estão diretamente conectados as diferentes dimensões de qualidade de vida, as quais envolvem os 4 principais aspectos: físicos, emocionais, sociais e espirituais que compõe todos o ser humano. Recomenda-‐se que a receita é a integração, harmonia e equilíbrio entre todas estas áreas. Os autores referenciam o livro de Dean Ornish que comprova através de pesquisas a relevância as emoções dentro deste conceito de bem-‐ estar. Este, revela que a falta de amor, amizade, perdão, apoio fraternal e comunicação entre as pessoas possui forte relação com doenças gastrointestinais, cardiovasculares, problemas imunológicos, câncer e tempo de vida. Concluindo que estes sentimentos são tão importantes quanto comer, dormir e respirar. Nesse sentido, o livro aborda um conceito chamado de Psicologia Positiva de Martin Seligman. Esta confirma que as emoções boas funcionam como previsão de saúde e de longevidade. Para além de tudo, explica que pessoas felizes possuem um estilo de vida melhor, pressão arteriais mais baixa e um sistema imunológico mais ativo. Certamente é relevante ressaltar que este tipo de atitude pode ser desenvolvida em qualquer individuo, promovendo melhorias no seu próprio bem-‐estar e saúde. Para isto pode-‐se citar atos como gentileza, capacidade de perdoar, humildade, autocontrole, liderança, perseverança,
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integridade, vontade de aprender e humor. As pessoas otimistas vêem os problemas como temporários e procuram soluções criativas para sair deles. Todavia é sabido que não é plausível alcançar uma vida feliz sem assumir as responsabilidades que esta traz, tais como: cuidado com o nosso próprio país, com pessoas ao nosso redor, e com o mundo em geral. Para exemplificar, os autores trazem o modelo de John Travis chamado Continnum da qualidade de vida. Este, conta com o conceito de que o ponto zero (ou neutro) acontece quando não é manifestado nenhum problema de saúde aparente, tudo parece estar normal. Entretanto, o ponto abaixo do zero representa algum tipo de sintoma como dor de cabeça, mal-‐estar ou qualquer coisa que deixe-‐nos sentindo mal. Porém, o interessante do estudo para o presente trabalho é o ponto acima do zero (positivo). Este está alinhado ao desejo de uma melhora na qualidade de vida, para isto é necessário aprimorar o conhecimento, o vigor físico e a conexão espiritual. Por sua vez, a partir do ponto zero, os médicos e o sistema de saúde de maneira geral, estão pouco preparados para ajudar as pessoas. Dentro deste contexto, os autores refem Kabat-‐Zinn dizendo que a concentração ajuda-‐nos a valorizar sentimentos como alegria, tranqüilidade e felicidade. Isto porque eles geralmente passam despercebidos aos olhos, acabam acontecendo rotineiramente, e não lhes é dado o devido valor. O importante ponto aqui é que ao manter-‐se consciente é lembrado de olhar, sentir e ser durante todos os dias. Só assim é possível atingir uma melhora, uma mudança. Para acrescentar a discussão os autores revelam que o conceito de saúde e responsabilidade pessoal já causou discórdia em distintos momentos da história. Entra em questão a medicina moderna e a ajuda desta para a promoção da saúde, sendo suas tecnologias avançadas fundamentais para a sociedade em geral. Porém, este movimento traz as pessoas uma sensação de conforto e inatividade para com seu próprio bem-‐estar. Leva-‐se a crer que os médicos vão cuidar de tudo e que o problema será resolvido.
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Paralelo a fase de Pesquisa Contextual, foi realizado um Brainstorming para desenvolver ideias e conceitos vistos e estudados no contexto de projeto (figura 13). Participaram da atividade o enfermeiro, a técnica em enfermagem e o médico. Este etapa serviu para interpretação de conceitos vistos no processo anterior da Pesquisas Etnográfica. O Brainstorming ocorreu na UBS, no horário do intervalo do almoço junto da equipe. Houve alguma dificuldade para compreensão da atividade, que foi realizada de maneira informal. Os conceitos foram escritos pela designer mas, descritos pela equipe. Para início da geração de idéias foi perguntado aos participantes como eles viam o Diabetes hoje e como ele deveria ser tratado. Na atividade, foram levantadas as questões sistêmicas relativas a saúde. Como: família, bem-‐estar e até mesmo cuidado. Sendo assim, pode-‐se analisar que esta etapa reflete uma visão diferente da que pode ser percebida em primeira análise, nas etapas anteriores. Já projetando um cenário futuro que não parece existir no atual momento.
Figura 13: Brainstorming
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Depois, parte-‐se para uma Pesquisa Blue Sky (Anexo 05). Esta tem por objetivo sair do contexto saúde e doença para trazer insights projetuais e para melhor compreender alguns aspectos referidos no Brainstorming. Além disso, a pesquisa serviu como estímulo projetual quanto a cores, formatos, uso e funcionamento de alguns objetos e situações. Para expressar a pesquisa foram utilizados moodboards, que são imagens organizadas e que visualizam o conceito que se quer abordar. Primeiramente, optou-‐se por entender alguns objetos que nos dão feedbacks sobre a ação realizada. Entretanto, nota-‐se que estes são muito frios e distantes das pessoas. Então, procurou-‐se também por objetos que traziam emoções e eram mais pessoais, mas que ainda revelando informações importantes para o dia a dia. Assim como calendários e agendas. Ao par disso, foi feita uma pesquisa de maneiras de organizar informações pessoais, como álbuns de fotos e cadernos. Pensando na expressão que as pessoas agregavam aquele objeto. Principalmente, como as informações eram dispostas de maneira única por cada um, posto que existia uma lógica emocional envolvida no objeto. Nestes tópicos foram avaliadas cores, formatos e uso. Quanto a primeira perspectiva, estes objetos pessoais eram coloridos, diferentemente dos objetos que apenas traziam feedbacks, como o termômetro. Nesta comparação, pensou-‐ se como as cores poderiam, efetivamente, ajudar quanto a informação. Isto porque ela deveria ter um papel funcional e também emocional, prezando por objetividade. Em relação a formatos, os tamanhos eram diversos, entretanto reparou-‐se que quando era necessário transportar o objeto ele não passava do tamanho de uma folha A4 (210 x 297 cm). E, por fim, referindo-‐se ao uso, os objetos tinham as mais distintas maneiras de manusear. Alguns possuíam “orelhas” para levar a pessoa ao local preferido, outros eram visuais e objetivos, contendo apenas as informações necessárias. Ainda existia aquele que era decorativo, os que tinham a possibilidade de adicionar novas páginas e informações.
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Para tanto, foi relevante a pesquisa Blue Sky quanto a estes aspectos para sair do problema central e adquirir estímulos visuais diferenciados. Deste modo, pode-‐se começar a refletir a respeitos das questões visuais do futuro produto. as pessoas poderiam se expressar a partir daquele objeto e c Ainda, era preciso compreender um pouco mais como as informações chegam para estas pessoas. Principalmente, com que tipo de linguagem eles estão habituados. Sendo assim, imagens que trouxessem estes programas de televisão e campanhas que são oferecidas, os quais visualizam o conceito. Observou-‐se como as pessoas conversavam com o público e como isto poderia ser introduzido no projeto. De maneira geral, a linguagem pareceu alegre, direta e paciente. Eram repetidas palavras e tinham caráter informal. Tendo em vista o bem-‐estar e a promoção da saúde, foi importante trazer aspectos que pudessem representar isto. Tais como a importância da alimentação saudável, atividades físicas e contato com a natureza, relações com outras pessoas, coisas simples da vida. Estas imagens foram relevantes para construir o clima que poderia ser projetado no produto final. Em outras palavras, foi importante uma compreensão abstrata de bem-‐estar para trazê-‐las ao futuro projeto. Para além disso, compreende-‐se que a família é fundamental para a saúde e o bem-‐estar. Todavia, durante a busca de imagens que pudessem representar estas famílias depara-‐se com um choque de valores. Fundamentalmente as imagens encontradas são de pessoas brancas, com status social médio para avançado, sorrindo e magros. Porém, compreende-‐se que não é este o contexto que encontram-‐se os pacientes. Ao procurar por imagens de pessoas com menor poder aquisitivo as imagens mudam bastante. Por isso, esta comparação entre felicidade e distintas famílias revela-‐se de importante devido a reflexão do que é felicidade e como ela é expressada em diferentes famílias e pelas imagens. Em outras palavras, foi questionado por que parecia que as famílias com maior poder aquisitivo sorriam. Sobretudo, foram analisadas as cores, que eram mais claras e existiam mais iluminação nas famílias ricas. A Pesquisa Blue Sky foi importante para o trabalho pois, contribuiu com reflexões a respeitos dos conceitos extraídos do Brainstorming. Além disso, começou-‐se a visualizar estas idéias, criando um imaginário dos conceitos.
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Após realizada as etapas iniciais, consegue-‐se montar um diagrama de polaridades de acordo com os conceitos trabalhados anteriormente (figura 14). Nesta fase, é importante ressaltar a entrevista realizada com o líder comunitário da Vila Gaúcha, já que teve grande interferência no futuro do projeto. O presidente da Associação contou que seriam realizados projetos para inclusão digital dos moradores. Os computadores e a sala, a qual aconteceria a aula, foi conhecida. Ele comentou como seria uma oportunidade para os moradores com Diabetes aprender a usar os computadores. Foi conversado que esta poderia ser uma maneira de aumentar sua auto-‐estima e, de abrir novas portas para aquelas pessoas. Além disso, seria mais um estímulo aos cuidados com a doença. Não obstante, foi pesquisado previamente alguns aplicativos para computadores e smart phones que utilizavam a plataforma digital para o auxílio a autogestão do Diabetes.
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Figura 14: Diagrama de Polaridades com imagens
Vistas estas oportunidades, foram escolhidas as polaridades online e offline para trabalhar pois era sabido que a Associação de Moradores estava oferecendo um curso de inclusão digital. Sendo assim, seria possível desenvolver as competências de cuidado com a doença alinhado a novas práticas midiáticas. As polaridades sofrer e fazer a ação foram requeridas pois nos estudos bibliográficos compreende-‐se que é uma oportunidade fazer com que as próprias pessoas desempenhem procedimentos de cuidado sozinhas (figura 14, 15, 16).
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Figura 15: Diagrama com cenários
Figura 16: Diagrama de cenários definidos
Para cada quadrante pensou-‐se em um cenário diferente gerando quatro visions e quatro conceitos (figura 16 e 17). O primeiro deles trata-‐se de algo que pudesse ser desenvolvido em conjunto com a Associação de moradores para incluir os pacientes as novas praticas desenvolvendo mais de uma competência (cuidado com Diabetes e inclusão digital). Este cenário pareceu interessante em primeira análise, porém seria preciso mais tempo para desenvolver um aplicativo e a Associação ainda não havia conseguido instalar internet no local.
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O segundo cenário referia-‐se a execução de um novo software para a UBS. Desta maneira, eles poderiam organizar melhor seus horários e dedicar mais de seu tempo aos pacientes crônicos. Além disso, seriam desenvolvidas tabelas e gráficos para a equipe preencher, estes visualizariam o estado de saúde do paciente. Entretanto, este cenário não foi escolhido devido ao estudo realizado anteriormente na pesquisa contextual. Considerando a saúde e o bem-‐estar algo que deve ser alcançado pela pessoa, desenvolver algo que ficasse na UBS pareceu ainda deixar muita responsabilidade sobre a equipe, o que não era recomendado devido as pesquisas. O terceiro cenário tratava de uma nova solução para os prontuários que ficavam na sala do coordenador do local. Estes, ocupavam muito espaço e eram preenchidos de maneira aleatória. Vê-‐se ali uma oportunidade de melhorar a sua existência e objetivar o trabalho da equipe. Entretanto, o cenário não foi escolhido devido ao mesmo critério citado anteriormente: o cuidado deve ficar por conta do paciente, ele deve sentir-‐se responsável por si mesmo. Por fim, o último cenário envolveria o desenvolvimento de algo que pudesse visualizar o estado de saúde do paciente e que ficasse com ele. Era preciso que fosse algo como uma agenda, já que deveria ser alimentado de informações de diferentes profissionais. Além deste ter de corresponder a ter alguma familiaridade com o objeto pelo paciente. Sendo assim, é conferido a este cenário a maior chance de responder as questões descobertas durante todo o processo. Então, parte-‐se para o desenvolvimento do concept de projeto.
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Figura 17: Cenários e visions
A partir do cenário escolhido optou-‐se por desenvolver o conceito de agenda: um espaço de diálogo entre profissionais e pacientes.
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Ao definir o concept que seria trabalhado, procura-‐se saber se existe algum tipo de material semelhante disponibilizado no SUS. Encontrou-‐se dois objetos que são semelhantes a ideia escolhida: a caderneta de saúde da pessoa idosa e da menina. Ambas foram encontradas através de mecanismos de buscas na internet. Ou seja, não existiam na UBS estudada. Mesmo assim, foi relevante a análise de como as informações eram dispostas e que tipo de informação continha nos casos. Quanto a caderneta da pessoa idosa, o primeiro capítulo faz uma apresentação da caderneta (figura 18). Entre as informações dispostas está escrito que esta serve como um acompanhamento da pessoa, contem informações sobre a condição de saúde, requer que a pessoa ande sempre com sua caderneta e que faça também sua parte na sua saúde. Logo após, encontra-‐se uma parte com identificação de dados pessoais. Segue uma avaliação que deve ser realizada pelo próprio paciente quanto ao seu estado de saúde e este deve preencher uma lista de seus problemas. Apos, uma lista com os medicamentos que o paciente toma e se já houve alguma internação ou queda. Em seqüência, informações sobre alergias ou intolerâncias do paciente e uma lista de coisas que não de pode esquecer, algo como deveres. Ainda, uma agenda de consultas e verificação de pressão, peso e glicemia (figura 19). Ao final, um espaço para anotações importantes.
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Figura 18: Caderneta da Pessoa Idosa – Dados
Figura 19: Caderneta da Pessoa Idosa – Controle de Glicemia
Analisando este produto, nota-‐se que ele não possui mais que uma cor, ou seja, não faz uso das cores para informar diferentes situações. Além disso, a maioria das informações estão dispostas apenas em listas, não tem uma classificação mais exata. Entretanto, percebe-‐se a relevância da ocorrência de algumas das informações requeridas ali. Sobretudo, utiliza a linguagem textual com apenas uma fonte, excluindo os que não podem ler de sua compreensão. O segundo caso, também possui dados pessoas no início. Seguido por dados referentes da gravidez e sobre o recém-‐nascido. Logo após, utiliza-‐se desenhos para informar o estado bucal da criança, de forma mais didática. Ainda explica sobre saúde bucal, expõe um espaço para informar sobre consultar gerais e dá dicas de saúde em geral. Além disso, existe uma parte que usa gráficos para
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compreender o crescimento do feto e da criança (figura 20). Logo após, segue dicas de alimentação saudável e como a menina pode se desenvolver (figura 21). Por fim, possui o calendário de vacinação e os direitos da criança.
Figura 20: Caderneta da Pessoa Menina – Gráfico de desenvolvimento
Figura 21: Caderneta da Pessoa Menina – Explicações
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Pode-‐se perceber que utiliza-‐se de duas fontes, uma para o titulo e outra de apoio. Assim como o primeiro, não possui mais de uma cor. Entretanto, existem desenhos ao longo dos capítulos em preto e branco e que são meramente decorativos. Algumas informações estão dispostas em opções que devem ser respondidas, e não apenas em forma de lista. Além disso, é importante ressaltar que utiliza gráficos para informar o crescimento da menina e a utilização de cores para entender se o crescimento está adequado ou não. Resumindo, esta avaliação foi relevante para o projeto para avaliar como são as cadernetas hoje direcionadas para a área da saúde. Além do mais, ter uma noção de informações que eles disponibilizam para o paciente e como estas estão dispostas. Sendo assim, foi possível através do desenvolvimento do concept testar as ideias geradas nesta fase no contexto do Diabetes.
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O conceito de agenda tem a possibilidade de suprir as necessidades anteriormente estudadas. A caderneta leva consigo um significado agregado, ela pode representar para o paciente o Diabetes. Sendo assim, ele deve cuidar daquele objeto, levá-‐lo para qualquer lugar e principalmente olhar para ele, analisá-‐lo. Sendo assim, consegue-‐se criar uma relação visual entre paciente e doença, fazendo com que este compreenda que ela está sobre seus cuidados. Fundamentalmente, ela não fica na UBS, e sim com ele mesmo, o tempo todo. Além deste aspecto, ao constatar que os pacientes não sabem quais medicamentos tomam, que tipo de exame já realizaram e qual foi o resultado, é relevante ressaltar que o dispositivo pode conter este tipo de informação. Sendo assim, outros profissionais que não tem acesso ao seu prontuário podem conferir as peculiaridades relativas ao seu estado de saúde. Criando, por fim, uma comunicação entre paciente, equipe de saúde da UBS e profissionais de outros locais. Avalia-‐se também que o uso de um caderno como material de utilização para carregar as informação é valido, já que foi conferido como familiar pelos próprios pacientes. Durante a pesquisa etnográfica notou-‐se que ocorria o manuseio de anotações em papel no próprio sistema da UBS. Sendo assim, está lógica de anotação já era dominada pelos profissionais da equipe e os pacientes já eram familiarizados com estes objetos. Com isto, parte-‐se do vocabulário e da cultura já existente para projetar um objeto novo. Os pacientes conhecem este tipo de material, apesar de nem todos terem domínio da leitura. Para além de tudo, facilita o manuseio da equipe de saúde fazer um caderno organizado que confira as informações que eles precisam naquele momento. Com isto, eles agilizam seu trabalho e não ocupam espaço físico dentro da UBS. Ao par disso, o concept escolhido deveria passar por uma fase de teste de uso. Deste modo, poderia ser compreendido quais informações deveriam conter naquele dispositivo, que verdadeiramente ajudariam a equipe de saúde e os pacientes. Além disso, era necessário compreender qual a ordem que elas
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poderiam estar dispostas e, sobretudo, agrupadas em grupos para facilitar seu uso. Tendo em vista estes objetivos, analisou-‐se quais informações seriam relevantes para a Caderneta. Esta reflexão foi realizada a partir de todo o material antes coletado. Desta maneira, em primeira análise as informações que deveriam conter no objeto seriam: •
Entender a doença
•
Visualizar o estado de saúde do paciente (pelo paciente, pela
equipe e por outros profissionais) •
Ações que poderiam melhorar o estado de saúde
•
Remédios que tomavam
•
Linguagem acessível
•
Exames realizados, seus resultado e quais deveriam ser feitos
Nesse sentido, a caderneta abrange as seguintes características: informal, visual, ergonômica e prática. Em outras palavras, era preciso que fosse informal pois o objeto ficaria com o próprio paciente e este deveria compreender o que estava ali descrito, não utilizando apenas a linguagem medica, como era de costume. Deveria ser visual pois a maioria dos pacientes tem dificuldade de leitura. Sobretudo, fica mais fácil de compreender o que está acontecendo com seu estado de saúde de maneira também visual, e não apenas textual. Nesse sentido, tem de ser ergonômica. Ou seja, ser projetada para que todos que a utilizem compreendam para que serve e o que pode agregar de informações da melhor maneira possível. Por fim, prática para facilitar o trabalho dos profissionais da saúde do SUS pois eles não tem tempo a perder. Para a formalização do concept foram realizados sketchs. O desenvolvimento destes ocorreu a partir das análises e reflexões a respeito dos conceitos e propósitos que a caderneta deveria ter. As informações que deveriam existir neste dispositivo foram retiradas das etapas anteriores. Em primeira análise, os capítulos que deveriam existir estavam divididos em: •
Doença o O que é o O que faz
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o Porque tem o O que deve fazer o Quem pode ajudar Este capítulo seria relevante devido a falta de entendimento dos pacientes sobre o Diabetes. A maioria deles não soube responder o que era a doença e que tipo de sintomas ela poderia desenvolver no pessoa. Concluindo a relevância de uma explicação visual destes aspectos, para que os analfabetos também pudessem compreender (figura 22).
Figura 22: Sketch Caderneta – Sobre o Diabetes
•
Dados que a equipe de saúde deve preencher o Exames o Medicamentos o Consultas o Pé diabético o Dores
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Nesta parte da caderneta, sugere-‐se ações que deveriam ser preenchidas pela equipe para obter resultados quanto ao estado de saúde do paciente. Era preciso que os profissionais indicassem naquele dispositivo algumas informações que seriam de extrema relevância a todos que tinham contato com aquele paciente. Com isso, pode-‐se obter até mesmo um histórico do estado de saúde daquela pessoa. Vê-‐se a importância de esclarecer quais medicamentos aquele paciente toma, quais exames ele já realizou ou vem realizando junto com seus resultados, como foram as consultas com os diferentes profissionais que visitou e ainda que sintomas ele está sentindo. Sobretudo, o objetivo é demonstrar de maneira clara e objetiva estas informações (figura 23).
Figura 23: Sketch -‐ Sintomas
•
Alimentação: o Tabela IMC o Agenda o Receitas o Dicas
Partindo das análises da pesquisa etnográfica e da pesquisa contextual, entende-‐se que a alimentação é relevante para a melhora do estado de saúde em
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geral. Sendo assim, dedica-‐se um capítulo apenas para isto. Para que seja compreendido se o paciente está com peso adequado é indicado que uma tabela de índice de massa corporal esteja presente nesta parte. Além disso, pensou-‐se em criar uma agenda onde os pacientes, através de adesivos com ícones, pudessem expressas ações e sentimentos do seu dia-‐a-‐dia. Como: tipos de alimentos que comeram naquele dia, como estão se sentindo, se praticaram atividade física, se haviam ido muitas vezes ao banheiro e se por acaso tiveram que tomar insulina. Esta parte tem o objetivo do paciente compreender de maneira direta a influência de seus atos na doença. Ainda, agrega-‐se receitas saudáveis como opção de melhora na alimentação e dicas saudáveis que podem ajudar. Pensados os capítulos e quais informações deveriam conter em cada, a primeira versão foi utilizada como instrumento de conversa entre as designers. Desta maneira, ficava mais fácil de compreender como estas deveriam estas dispostas e se poderia ser acrescentado algo a mais. As informações foram agrupadas por semelhança e pensou-‐se na ordem que elas deveriam estar. Entretanto, ainda era preciso verificar com a equipe da UBS a opinião a respeito de tudo. Com isso, seria possível agregar informações ou fatos relevantes levantados por eles. Então, partiu-‐se para o desenvolvimento projetual da Caderneta, tomando decisões iniciais a respeito de tipografia, espaçamento, margens, e os outros fundamentos estudados na fundamentação teórica. Esta, tem o objetivo inicial de apresentar para a equipe de saúde uma primeira versão.
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Nessa medida os capítulos ficaram definidos da seguinte maneira: •
Dados pessoais
Usou-‐se como referência inicial para a linguagem e as informações a serem dispostas a caderneta da pessoa idosa (figura 24 e 25). O objetivo era o uso de uma linguagem informal. A equipe de saúde concordou com a inclusão de todos os dados.
Figura 24: Mockup Caderneta do Diabético – Dados Pessoais – Página 01
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Figura 25: Mockup Caderneta do Diabético – Dados Pessoais – Página 02 e 03
•
Doença
Para explicação do que é o Diabetes de maneira visual optou-‐se por usar a linguagem de história em quadrinhos (figura 26). Tem o objetivo de explanar, brevemente e informalmente, o que acontece dentro do corpo do individuo. Abaixo dos desenhos texto explicativo, e a esquerda em cima números que facilitam a compreensão da ordem dos fatos.
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Figura 26: Mockup Caderneta do Diabético – Doença – O que é
Visualização através do corpo humano relacionado a ações que o Diabetes pode causar no corpo humano. Demonstra os sintomas que podem ocorrem através de desenhos (figura 27). Os bonecos criados para as explicações durante toda a caderneta não tem intuito de representar o humano de maneira realista, sendo assim obtém-‐se um resultado mais amplo e abstrato da figura humana. Com isso, os aspectos sociais não são aparentes, ressaltando apenas as características principais. Esta abordagem foi requerida devido a avaliação da comunicação realizada na UBS, nas quais os pacientes não se identificavam.
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Figura 27: Mockup Caderneta do Diabético – Doença – O que ele faz
Compreensão dos motivos pelos quais pode se ter Diabetes( figura 28). A partir disso, o paciente pode pensar a respeito de como ele obteve esta condição, também de forma visual e através de bonecos.
Figura 28: Mockup Caderneta do Diabético – Doença – Porque
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A próxima explicação referia-‐se a ações que deveriam ser exercidas pelo paciente, algo como dicas de como lidar com a doença. Primeiramente é preciso aceitar a doença, por isso a enumeração (figura 29).
Figura 29: Mockup Caderneta do Diabético – Doença – O que fazer
A parte que diz respeito ao motivo de cuidar-‐se tenta apelar para o lado emocional das pessoas(figura 30). Aquele espaço fica dedicado a inserção de uma foto de sua família, tirada na pesquisa etnográfica. Por fim, ao explicar quem pode ajudar a cuidar do Diabetes explana-‐se que a doença deve ser vencida junto de diversas pessoas, e que a primeira delas é o próprio paciente (figura 30).
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Figura 30: Mockup Caderneta do Diabético – Doença – Cuidar – Ajuda
A equipe da UBS deu um retorno positivo neste capítulo e avaliou que poderia ter o uso de cores em cada capítulo para distinguir diferentes informações, além de inserir cores nos bonecos. Os próximos capítulos referem-‐ se a alimentação e a parte que a equipe deveria preencher. •
Diabetes e o paciente
Neste momento, tem-‐se uma lista que deve ser preenchida pela equipe com o valor do peso, a altura do paciente e o IMC deste. A figura do humano foi colocada para que o paciente pudesse compreender que o IMC é uma relação entre seu peso e sua altura. Desta forma, não fica associado apenas a um numero e uma informação que ele desconheça (figura 31).
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Figura 31: Mockup Caderneta do Diabético – Informações de exames semanais
Nesta parte da caderneta foi informado pela equipe que a altura não precisaria ser repetida. Sendo assim poderia ser retirada da lista e ser inserida a pressão. Outro aspecto ressaltado foi o uso da figura humana, julgada como desnecessária para aquela situação. •
Tabela IMC
Esta tem a intenção de facilitar o trabalho da equipe de saúde na hora de preencher qual o IMC do paciente( figura 32 e 33). Utiliza-‐se cores para que o próprio paciente note que quanto mais escuro, pior a situação. Deste modo, ele pode avaliar seu estado de saúde. A equipe sugeriu inserir titulo do capítulo.
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Figura 32: Mockup Caderneta do Diabético – Tabela IMC 01
Figura 33: Mockup Caderneta do Diabético – Tabela IMC 02
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•
Medicamentos
Também é preenchido pela equipe. Com o objetivo que os pacientes também compreendam quais medicamentos toma, foram utilizados ícones ao invés de texto (figura 34). Nessa medida, entende-‐se que a primeira coluna é referente ao comprimido, a segunda ao horário que deve tomar e a terceira aos dias da semana.
Figura 34: Mockup Caderneta do Diabético – Medicamentos
Foi explicado que a coluna com os dias poderia ser retirada, já que os paciente tomam os remédios todos os dias. Deveria ser acrescentado o dia que o paciente tirou aquele remédio e se ele o tomou. •
Exames
As páginas que referiam-‐se aos exames trimestrais e anuais foi dividida em quatro colunas que deveriam ser preenchidas pela equipe. Na primeira era necessário escrever qual exame foi ou deverá ser realizado, depois como este exame ocorre (sangue), ainda onde e por fim quando (figura 35). Nesta etapa, foi
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ressaltado que a lista de exames básicos poderia estar já escrita, e que ali deveriam estar os exames já realizados com os resultados.
Figura 35: Mockup Caderneta do Diabético – Exames Trimestrais / Anuais
•
Gráfico de exames
A parte dos gráficos de exames foi divida em eixo y valores (ainda não colocados) e eixo x tempo. O objetivo deste era maior compreensão por parte do paciente de acordo com outra linguagem que não apenas textual para visualização do estado de saúde. Ficaria mais fácil o entendimento da relação de um exame para o outro. Esta parte também fica de responsabilidade da equipe de saúde preencher. Além disso, foi requerido que eles colocassem os possíveis resultados de cada exame ao lado, para facilitar o uso do gráfico. Os exames abordados foram: colesterol, hemoglobina glicada, HDL, LDL, triglicerídeos, glicemia, pressão, peso e cintura. Todos tinham este mesmo modelo de layout, apenas mudava o exame (figura 36).
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Figura 36: Mockup Caderneta do Diabético – Gráfico de exames
•
Consultas
O capítulo das consultas é de extrema importância pois foi identificado nas outras pesquisas, que os pacientes não sabiam ao certo explicar o que havia acontecido em visitas a outros médicos (figura 37). Sendo assim, tem-‐se um espaço para o próprio profissional preencher como aconteceu aquele encontro. Abaixo possui um escore para o médico avaliar como foi a consulta. Isto tem o intuito de estimular o paciente na compressão do estado de saúde.
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Figura 37: Mockup Caderneta do Diabético – Consultas
•
Sintomas
Para tratar do quesito pé diabético foi realizado uma escala de sintomas, sendo 1 o mais fraco e 7 o mais forte. Desta forma o paciente poderia indicar qual sintoma estava sentido nesta escala. Ao lado, tem-‐se um pé que a pessoa pode indicar em qual parte exatamente do pé isto acontece (figura 38). A equipe comentou que poderiam existir dois pés, o direito e o esquerdo. Além disso, acharam desnecessário a escala de sintomas do pé pois seria mais fácil escrever tudo no próprio desenho.
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Figura 38: Mockup Caderneta do Diabético – Sintomas pé diabético
Na parte do teste de visão foi colocado apenas um exemplo para que o paciente pudesse ter sua visão testada pelo médico constantemente e de forma mais eficiente (figura 39). Entretanto, a equipe disse que era preciso encontrar a referencias correta para expor este sintoma. Outra parte adicionada é o desenho de um corpo humano com alguns locais circulados (figura 39). Desta maneira, a pessoa pode explicar ao profissional da saúde se possui alguma dor ou desconforto em outro local do corpo. Sendo assim, pode-‐se apontar o local da dor, ao invés de fazer uma lista.
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Figura 39: Mockup Caderneta do Diabético – Sintomas visão e dores
•
Agenda
A agenda é divida nos sete dias da semana e nos três principais turnos. O objetivo é que o paciente pudesse colar adesivos em casa expondo seus sentimentos, questões referentes a alimentação e ações. Sobretudo, a equipe poderia preencher algumas coisas levantas por eles (figura 40). Estas ações tem o objetivo de compreender um pouco melhor os comportamentos do paciente e como isto influencia no Diabetes. A equipe avisou que era provável que os pacientes não preenchessem os dados, mas era relevante tentar.
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Figura 40: Mockup Caderneta do Diabético – Agenda
•
Dicas de Alimentação
Por fim, o espaço de receitas e dicas ficou em branco para que e equipe pudesse sugerir algo. Levou-‐se este mockup para que os profissionais pudessem avaliar e incluir suas ideias no desenvolvimento do projeto. Para além do mais, queria-‐se que esta versão estivesse o mais “crua” possível para que a equipe se sentisse à vontade para intervir em distintas questões. Para tanto, foi escolhido o tamanho A6 (105 mm de largura e 148 mm de altura), para que ficasse fácil de transportar e, ao mesmo tempo, as informações conseguissem adquirir um tamanho legível. O mockup ficou durante uma semana com a equipe. As considerações foram relevantes e principalmente foi ressaltado que seria importante um período de adaptação por parte da equipe e dos pacientes. Só assim poderia ser avaliado como o projeto ajudaria a comunidade. Após a avaliação da Caderneta, foi criado um protótipo cujo propósito era a avaliação da experiência de uso por parte dos pacientes.
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Nesta versão do protótipo (Anexo 06), a capa com o logotipo utilizado mundialmente do Diabetes. Como a caderneta deveria abranger o tempo de um ano, o número de páginas foi criado de acordo com esta demanda. Nesse sentido, podia-‐se visualizar qual o tamanho que teria o objeto e como se daria o manuseio com muitas páginas. Para conseguir manusear a caderneta foram inseridos adesivos referentes a cada capítulos com distintas cores e ícones. Escolheu-‐se o azul para os assuntos da doença pois, é a cor já utilizada para este fim. O verde sobre dados que a equipe em priori deveria preencher, porque também já é referido a assuntos médicos e de saúde. Tons roxo e rosa para cuidado diário. Por fim, amarelo, laranja e vermelho para gráfico de exames esporádicos, sintomas e receitas com dicas saudáveis. Todos as paginas tem uma borda com a cor escolhida. A ordem das informações também foi modificada: capa, dados pessoais, diabetes, exames, medicamentos, consultas, tabela, agenda, gráficos, sintomas receitas e dicas. Para tanto, foi pedido aos pacientes que eles viessem segundas, quartas e sextas na UBS. Nestes dias seria verificado a glicose capilar, pressão, peso e cintura. Estas informações eram relevantes para que pudesse ser compreendido como estava o estado de saúde dos pacientes. Acordado isto, foi entregue a caderneta para sete pacientes que quiseram participar. Estes, tinham dever de realizar este procedimento e em troca eles poderiam participar do estudo do novo serviço de saúde que estava sendo realizado junto a este projeto. Ocorreram observações participantes do uso nas manhãs, durante três vezes por semana no período de um mês. Com isto, foi possível compreender quais informações eram relevantes e quais deveriam ser repensadas. As modificações nesta versão foram, em síntese, apresentadas no quadro 01.
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Forma
Informação
Uso de cor para diferenciar os
Troca da ordem dos capítulos
capítulos Uso de cor nos desenhos
Inserção de lista de exames
Substituição de ícones por texto
Inserção de pé esquerdo e direito
Quadro 01 síntese das modificações protótipo 01
Já na primeira semana sentiu-‐se dificuldade de preencher os gráficos devido a falta dos valores no eixo y. Sendo assim, foi realizado um ajuste para facilitar este. Esta versão foi avaliada como fase de adaptação, tanto da equipe, quanto dos pacientes e da designer. Muitos insights foram retirados durante o uso. Frente a isso, reconheceu-‐se muitos enganos e informações que poderiam estar bem melhor distribuídas e que ainda faltavam. Entre outros fatores, os pacientes foram aos pouco se apropriando do objeto, interessando-‐se e conscientizando-‐se sobre seu estado atual. Então, com o aprendizado sobre a experiência de uso da Caderneta foi realizada uma nova versão desta, em forma de sketch. Desta forma, foi possível incorporar as questões descobertas. Uma das mudanças que deveria acontecer era adicionar a informação da ficha da UBS nos dados pessoais. Além desta, no capítulo de medicamentos deveria ser divido de outro modo (figura 41). Ainda em colunas principais, a primeira com o nome do comprimido, a segunda informando a dose, a terceira com a quantidade, a quarta referindo quando o remédio deveria ser tomado. Além destas, uma coluna com o mês de retirada do remédio. Sobretudo, as informações do cadastro e da revisão, acima. Desta forma, facilitaria a leitura da equipe de saúde pois as informações estavam separadas de maneira objetiva, e não colocadas em lista simplesmente.
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Figura 41: Sketch 02 -‐ Medicamentos
Foi adicionado um novo capítulo que tinha o objetivo de informar em lista a data, hora, glicose e pressão. Estas ações eram relativas as idas semanais dos pacientes na UBS. Por isso, elas deveriam ser práticas e ter uma linguagem a qual a equipe estivesse acostumada. Ou seja, agilizando o trabalho dos profissionais. Deste modo, as informações ficavam registradas e futuramente eram repassadas para o gráfico, em um momento menos conturbado que o dia-‐a-‐dia. Outra adição foi um espaço para escrever um planejamento alimentar e de atividade física. Este espaço ficou dedicado a algum dos profissionais da saúde e deveria ser preenchido em um encontro de consulta. Também foi adicionado um local para observações, caso fosse necessário ressaltar algo que não estava nos capítulos. Os gráficos semanais informavam a pressão, glicose e peso. Como foi observado que a cintura não variava de semana para semana, ela deveria ser medida apenas mensalmente. Em geral começou-‐se a repensar as cores. Neste momento o azul era utilizado para dados pessoais e informações da doença, o vede referente a ações que a equipe deveria preencher durante visitas cotidianas e o roxo era associado a uma visita mais reflexiva do estado do paciente. Ainda, o vermelho continuava existindo para informar as dicas saudáveis e receitas. Em suma, as alterações foram:
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Forma
Informação
Mudança nas cores dos capítulos para
Adição da informação da ficha da UBS,
construir uma identidade
no capítulo de dados pessoais
Capítulo dos medicamentos alterado
Novos capítulos: exames semanais, planejamento alimentação e atividade física, observações
Retirada do capítulo agenda
Quadro 02 síntese das modificações protótipo 02
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Optou-‐se por imprimir apenas uma versão para teste e pela alteração manual da ordem das informações nas Cadernetas dos outros pacientes. Isto porque ainda não se tinha certeza de que aquelas alterações iriam funcionar. Isto decorre porque as mudanças foram bastante diferentes dos outros protótipos, sendo assim era preciso um período de adaptação da equipe com aquela nova forma de intervenção (Anexo 07). Frente a isso, foi um momento de bastante reflexão para que a próxima versão pudesse conter todas as informações que facilitariam o trabalho da equipe e que pudessem realizar a visualização do estado de saúde do paciente. Durante o uso, observou-‐se que o uso de “orelhas” para o manuseio da caderneta não era viável, já que estas acabavam estragando. Desta forma, penso-‐ se na inserção de um índice. E, para isso, seria preciso adicionar numero nas páginas da caderneta. Ainda neste momento, encontrou-‐se em pesquisa em dados secundários a representação adequada para expressar o teste de visão. Desta forma, ela poderia estar junto do capítulo de sintomas (pé diabético e dores). Sobretudo, foi lembrado que poderia ser adicionado cores no gráfico para melhor compreensão dos níveis de glicose e pressão. Além destes, nos gráficos trimestrais e anuais. Deste modo, ficaria mais fácil para os pacientes entender se estavam mantendo o nível correto ou não. Em síntese, as modificações necessárias para a próxima etapa foram: Forma
Informação
Cores nos gráficos
Inserção de índice
Número de páginas
Inclusão do teste de visão no capítulo de sintomas
Quadro 03 síntese das modificações protótipo 03
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Nesta etapa do desenvolvimento do projeto todas as alterações foram avaliadas e criada uma versão nova para os seis pacientes (Anexo 08). Esta versão deveria ser testada durante um mês, para que depois pudessem ser realizadas entrevistas com os envolvidos. Desta maneira, seria possível compreender a partir de um feedback direto as análises de todos. Realizou-‐se entrevistas com os pacientes e os profissionais da saúde para avaliar a adequação do protótipo para o gerenciamento da condição do diabético.
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Primeiramente, foram realizadas entrevistas com os seis pacientes que participaram desde o início do projeto. Estas aconteceram no Centro comunitário e foram gravadas. O roteiro de entrevista era: •
Mostrar na caderneta: como a doença está, como anda o seu nível
de glicose e pressão, quais são seus sintomas •
A partir dos gráficos o que pode perceber. Consegue visualizar a
doença? Por que ? Como? •
Considera a caderneta importante? Por que?
•
Pretende continuar usando? Por que?
•
Está conseguindo vencer o Diabetes? Como? Por que acha isso?
Como resultados pode-‐se identificar que os pacientes, de maneira geral, conseguem visualizar seu estado de saúde. Entretanto, para isso é necessário que alguém demonstre os gráficos semanais para eles e principalmente onde ficam na caderneta. Consegue-‐se compreender melhor o estado pois a relação do verde e do vermelho facilitou. Frases como: “Sei que a glicose ainda não está no verde mas está bem perto. Antes minha diabetes dava 400 e hoje ela não passa de 210” confirmam a afirmação. Nesse sentido, é importante ressaltar que para que o gráfico pudesse ser preenchido era necessário um esforço do próprio paciente em ir duas a três vezes por semana verificar pressão, glicose e peso. Sem esta atitude, nada adiantaria a caderneta. Deste modo, percebe-‐se que a caderneta traz essa obrigação ao paciente. Um dos entrevistados comentou: “ir toda a semana está ajudando a ver o que está acontecendo comigo. Fico sempre esperando dar menos, antes eu nem sabia quando estava”. Outra frase que demonstra como a caderneta influenciou nas escolhas do dia-‐a-‐dia: “hoje eu tenho mais controle. Quando olho algo que gosto de comer, penso: não vou comer isso porque se não minha diabetes vai dar muito alta”. Em outras palavras, com o dispositivo os pacientes efetivamente conseguiram entender que suas ações influenciam na doença. Ao enxergar que não estão bem procuram melhorar sua condição, até mesmo perguntam a equipe de saúde como o fazer. Um dos pacientes comentou que o que ele gostava eram das consultas em
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que alguns dos profissionais da saúde conversavam sobre como estavam se sentindo e marcavam os números nos gráficos. Neste espaço ele podia explicar suas dificuldades e o profissional sempre incentivava a melhorar. Além da parte dos gráficos, outro capítulo que foi ressaltado como importante foi o dos medicamentos. Os pacientes afirmaram que conferiram quais remédios deveriam tomar e quando caso esquecessem. Também a parte das consultas medicas. Antes era preciso decorar o que o médico dizia, e muitas vezes não compreendia. Hoje ele não precisa se preocupar com isso pois sabe que as informações estarão escritas corretamente na caderneta e que o médico da UBS vai entender tudo. Outras características ressaltadas quanto ao uso da caderneta foram as explicações dadas. Durante o período de observação os pacientes perguntavam sobre alguns aspectos que não compreendiam na caderneta. Tanto a designer quanto as profissionais da saúde explicavam as duvidas, desta forma os pacientes entendiam e não se sentiam “burros”. Isto porque acontecia um dialogo entre todos, comentaram que pareciam fazer parte do que estava sendo criado. Frases como está representam a explicação: “o que foi importante também era a maneira como vocês explicavam tudo pra gente, aí dava pra ver que aquilo ia nos fazer bem. Dava mais vontade de aprender o que tinha ali.” Sobretudo os paciente pareceram compreender que seu papel deve ser o principal no cuidado com o Diabetes. Alguns disseram: “eu sinto que tenho responsabilidade sobre a caderneta”, “o remédio ajuda, mas e a pessoa não se ajudar não adianta nada”, “sei que vou morrer de qualquer jeito, mas sei que será com qualidade de vida”, “hoje me sinto com mais qualidade de vida”. Além destas, foram realizadas entrevistas com os profissionais de saúde da UBS: médico, enfermeiro e técnica em enfermagem. O roteiro era igualmente flexível como o dos pacientes, mas algumas questões deveriam ser respondidas:
•
Qual parte a equipe preenche?
•
Qual parte acha mais importante? Por que?
•
Como está o visual da caderneta?
•
O que pode mudar?
•
Quais as qualidades e defeitos?
•
O que ela representa? 109
De maneira geral os profissionais da UBS concordaram que a caderneta serviu como um instrumento que demonstra que o paciente está cuidando de sua saúde. Conseguiu que a responsabilidade ficasse depositada em grande maioria no diabético e não apenas na equipe. Hoje em dia eles pedem pra fazer os exames, e antes era o contrario. Mesmo que eles não compreendam algumas coisas pois alguns são analfabetos, pedem para que alguém explique a eles. A caderneta dá ao paciente o papel principal “ele leva, é dele, ele cuida”. Sobretudo, a caderneta traz todo o histórico do paciente. Isto ajuda muito no trabalho dos profissionais pois, podem adequar os conselhos para cada caso e não precisam perguntar aos pacientes tentando compreender o que exatamente se passou com este. Acharam que a solução o índice foi adequada pois as “orelhas” acabavam estragando. Entretanto ainda está um pouco confuso quem preenche qual capítulo: médico, técnico ou enfermeiro. Por isso, sugeriram que fosse adicionada uma introdução em cada capítulo dando uma breve explicação e quem pode preencher aquela parte. Comentou-‐se que a parte das consultas é muito relevante pois os pacientes não sabiam dizer o que tinha acontecido em outras encontros e isso facilita o trabalho do médico. Isto porque dependendo do caso ele tinha que telefonar para o médico para tirar alguma duvida, ou ainda pedir para o paciente ir de novo na consulta. Contudo, a parte do escore da consulta foi considerada desnecessária. Outra parte importante foi a dos medicamentos. Com este capítulo fica mais fácil de dar os remédios aos pacientes não precisando procurar no prontuário, agilizando o trabalho. Foi recomendado que tivesse algo que lembra-‐ se os pacientes de levar o cartão do SUS, pois muitas vezes eles esqueciam. E, não era mais permitido atender pacientes sem o cartão. Para além destes aspectos, os profissionais comentaram que o visual era adequado. Durante o período de teste do protótipo 03 da caderneta, um dos pacientes teve de realizar uma consulta de rotina com o médico vascular no Hospital Conceição pelo SUS. Optou-‐se por acompanhar o paciente nessa consulta para que um médico externo ao projeto avaliasse a Caderneta. Desta maneira, era possível ter novas perspectivas da Caderneta.
110
Como o dia-‐a-‐dia do hospital é corrido, não foi possível realizar a entrevista naquele dia. Entretanto, foi marcado em outro local para uma conversa informal. A entrevista foi gravada e levou-‐se a caderneta para que a medica pudesse contribuir mais facilmente tendo o objeto a sua frente. O roteiro foi: •
Qual a sua especialidade?
•
Conte como foi a consulta com o paciente X. Ele entregou a
caderneta em que momento? O que ele explicou? •
O que foi compreendido? Qual parte olharam? Por que?
Preencheram algo? Qual? Por que? •
Qual a parte mais importante? Por que?
•
Que informações podem ser inseridas? O que pode mudar? O que
pode melhorar? •
Qual a importância de saber o histórico do paciente?
A medica, em primeira análise, ressaltou o quanto é importante ter um instrumento que preze pela prevenção das complicações do Diabetes. Explicou que trabalha já há um tempo no SUS na parte dos problemas vasculares, então ela tem muitos pacientes diabéticos, a maioria. Conta que eles realmente não compreendem o que é a doença e que muitos morrem aos poucos devido ao pé diabético. Ficam internados meses e sofrem muito. Entretanto, tudo isso poderia ser evitado se o próprio paciente se cuidasse. Para além disso, é um custo altíssimo para o governo fazer estas cirurgias, deixar o paciente internado e cuidar com os curativos e hora de trabalho para os profissionais. Além disso, conta que é fundamental ter um dispositivo que leve o histórico do paciente a qualquer lugar. Eles perdem muito tempo da consulta perguntando ao paciente como ele está e o que já aconteceu quanto a sua saúde. Desta maneira pode-‐se otimizar o trabalho e sobretudo, dar as recomendações corretas. Foi sugerido adicionar as cirurgias prévias dos pacientes, se ele possui outras doenças e algum tipo de alergia. No caso do paciente em questão, a medica explica que eles atendem tanta gente que ela sinceramente não lembrava bem o que havia acontecido. Explicou que a caderneta ajudou na parte dos remédios, nas consultas que ele já havia realizado e no gráfico semanal da pressão e da glicose. Expõe também que a
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parte dos sintomas é fundamental pois facilita muito o seu trabalho. Fica mais rápido de compreender o que aconteceu no pé diabético e como ele está, ao invés de perguntar ao paciente, que muitas vezes não sabe explicar. No capítulo das consultas pode ser retirado o escore e algumas linhas, como a dos medicamentos. Em outras palavras, deixar apenas um espaço para recomendações pois fica mais livre. Além disso, assim como a equipe da UBS, achou um pouco confuso quem tem que preencher qual parte. Também sugeriu uma introdução ou algo que explicasse isto.
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Depois de testar as diferentes versões e entrevistas os principais atores envolvidos, pode-‐se entender com profundidade quais informações realmente ajudariam na melhor compreensão do Diabetes e do estado de saúde de cada paciente. Sendo assim, o protótipo final visa todas estas contribuições e principalmente as definições gráficas finais do projeto (protótipo entregue em modelo físico). A solução final da Caderneta do Diabético não foi testada em uso com os pacientes até a entrega do presente trabalho. Entretanto, tem o intuito de fazê-‐lo. Quanto as informações, foi avaliado que o capítulo sobre a doença não era utilizado pelos pacientes em sua rotina. Sendo assim, ele foi retirado da Caderneta. Pensou-‐se em realizar um outro tipo de material gráfico que pudesse contes aquelas informações, mas que elas não eram requeridas dentro da Caderneta. Além deste, as dicas de alimentação saudável e receitas também não era utilizadas pelos pacientes. Por isso, estes também foram retirados da Caderneta. Nessa medida foi definido o uso de 4 cores principais para destacar as distintas partes da Caderneta (figura 42). Na capa foi utilizado um tom de azul que é o mesmo do logotipo oficial do Diabetes. Já dentro da caderneta, as cores escolhidas foram o azul, em outro tom mais aberto, para informações de apoio no início e ao final. Além deste, o verde foi utilizado para a primeira parte das informações que são relacionadas a momentos cotidianos do paciente. Pensou-‐se no verde devido ao já uso deste para referencias de saúde. As outras informações, que tratavam de uma maior reflexão do estado de saúde do paciente, foram relacionadas ao roxo. Isto porque o roxo está associado a calma e a tranqüilidade, ou seja, era preciso transmitir estas sensações para aquele momento especial de repensar o seu estado e suas atitudes.
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Figura 42 – Especificações Cores
Para além disso, foi definido que o tamanho utilizado ( A6 ) era adequado a situação devido a dimensão reduzida que facilitava o transporte da Caderneta. Sobretudo, as informações conseguiram ser diagramadas de maneira clara e objetiva para que mesmo com este tamanho fosse entendido o que era preciso passar (figura 43).
Figura 43 – Especificações Dimensões
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Sendo assim, dentro deste enquadramento pensou-‐se no espaçamento adequado para as informações de maneira geral (figura 44). Deixou-‐se uma margem colorida como borda e um espaço maior de um dos lados para a encadernação. Além disso, o espaço para títulos era adequado a um tamanho que pudesse ser de maior destaque. Ao par disso, o titulo sempre fica no mesmo lugar e existe espaço para um subtítulo, ou ainda caso o titulo seja muito extenso pode-‐ se utilizar aquele local. Sendo assim, logo abaixo o conteúdo principal da página é inserido. Neste recorte optou-‐se pelo fundo branco, e não colorido, devido a facilidade da leitura e clareza para o texto. Deste modo, ainda deixa-‐se um espaço de respiro entre o conteúdo principal e margem colorida. Isto facilita a leitura e deixa a diagramação harmônica e não sufocada. Por fim, ainda era necessário inserir os números de página. Para que pudesse ser encontrado rapidamente optou-‐se por usar a parte inferior do canto de externo pois, é neste local que normalmente aparecem estas informações. Com isto, todos estariam mais habituados a procurar ali agilizando o trabalho de manuseio. Sobretudo, era necessário uma fonte grande para facilitar o encontro.
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Figura 44 – Especificações Hierarquia e Espaçamento
Quanto as fontes, foram escolhidas duas para serem utilizadas (figura 45). A primeira delas é inserida em títulos e no numero das páginas. É uma fonte que serve para destacar algo. Entretanto, não deve ser utilizada como fonte de leitura neste caso, já que tem algumas curvas não convencionais que poderiam atrapalhar a leitura. Esta fonte tem um aspecto orgânico nas curvas que traz uma leveza e suavidade, por isso a escolha. Desta maneira, o assunto não fica pesado e flui mais claramente. Por sua vez, a escolha da fonte de apoio para leitura do conteúdo principal preza por características distintas, como clareza e regularidade. É uma fonte usual, que aparece freqüentemente em textos trazendo uma familiaridade com o seu uso. Desta maneira, era adequada ao projeto.
Figura 45 – Especificações Fontes
Na medida em que são definidas estas características também foi pensado nas questões referente a impressão da Caderneta (figura 46). Desta forma, presumi-‐se que o projeto pode ser produzido em grande escala, tendo estas definições já acertadas.
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Figura 46 – Especificações Impressão
Projetadas as particularidades gráficas, ainda era necessário rever algumas questões referentes as informações da Caderneta constatadas nas entrevistas e no uso da última versão. São essas: a inserção de uma parte para transportar o cartão SUS junto da Caderneta. Ainda, um índice com cores bem definidas e separadas para melhor compressão das informações. Sobretudo, um capítulo de introdução em cada parte para explicação do uso e de quem deveria preencher os dados requeridos. Também, a adição de perguntas sobre a saúde do paciente nos dados pessoais. Pode-‐se ainda referir a parte da consulta medica, onde foi retirado o escore e aumentou-‐se o espaço em branco para o médico escrever. Optou-‐se também pela diminuição de texto no capítulo de sintomas e a divisão mais clara do que era do lado direito e do lado esquerdo. Houve a troca de ordem das colunas no espaço reservado para os exames trimestrais e anuais, deixando o resultado logo após o nome do exame. Ainda o gráfico de exames foi modificado para um degrade suave do verde para o vermelho, amenizando a informação percebida. E, por fim, foi adicionado o capítulo de telefones úteis ao final. Por fim, as modificações, em sua totalidade, foram:
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Forma
Informação
Contenedor do cartão SUS
Introdução em todos os capítulos
Cores definidas
Inserida mais uma página ao capítulo de dados pessoais
Definidas dimensões finais
Modificação do capítulo de consulta médica
Definido
layout,
hierarquia
e Modificações no capítulo de sintomas
espaçamentos Definidas impressão
particularidades
de Modificações no capítulo de exames trimestrais e anuais
Degrade de cores nos gráficos de Inserção do capítulo de telefones úteis exames Quadro 04 síntese das modificações da solução final
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Para que pudesse ser melhor compreendida as relações entre os capítulos e o uso da Caderneta do Diabético, foi realizado um storyboard representando a utilização desta (figura 47, 48, 49 e 50).
Figura 47 – Storyboard 01 ao 12
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Figura 48 – Storyboard 13 ao 24
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Figura 49 – Storyboard 25 ao 36
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Figura 50 – Storyboard 37 ao 41
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Após realizado o projeto é importante realizar um exercício de reflexão para que se possa analisar como cada etapa do projeto contribui e, sobretudo quais resultados foram gerados. Primeiramente, quanto ao processo. A fase de Pesquisa Bibliográfica foi extremamente relevante para maior compreensão dos conceitos que seriam abordados no projeto na prática. Com isto, teve-‐se uma breve revisão dos temas sob a perspectiva de diferentes autores. Desta forma, adquiriu-‐se um entendimento teórico de como poderia ser desenvolvido um projeto inovador visando a Inovação Social visando a entrega de informação eficientemente. Apos esta etapa foi realizada uma Pesquisa Exploratória. Este, foi fundamental para o primeiro contato com a comunidade, sendo uma maneira de se aproximar aos poucos da comunidade. Sendo assim, os limites de respeito e espaço da comunidade foram respeitados dando tempo para que pudesse ser conhecida e para que ela pudesse conhecer. A parte da Pesquisa Etnográfica foi certamente uma das mais importantes para efetivamente entender o contexto real do problema. Sobretudo, foi difícil pois era necessário ter uma visão antropológica. Ou seja, era preciso se livrar dos pré conceitos e identificar os sinais. Além disso, era complicado interpretar estes sinais gerando leituras para o projeto. Para além deste aspecto, era preciso manter o foco apenas em um problema que referia-‐se aos objetivos do trabalho. Desta forma, ignorava-‐se todas as outras complicações do contexto e absorvendo-‐as como barreiras que deveriam ser vencidas no projeto. Então, identificou-‐se, em primeira análise, as carências que deveriam ser supridas. Quanto a fase de Ação, pode-‐se tirar distintas lições. Na primeira parte desta fase o Design Estratégico foi utilizado como uma forma de análise projetual das pesquisas realizadas. Portanto, através de seus métodos consegue-‐se visualizar os diferentes caminhos que poderiam ser seguidos. Principalmente, fez com que se saísse do contexto para uma diferente visão de projeto, mais analítica
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e objetiva. Decidido o caminho que deveria ser seguido, procurou-‐se o uso de parte da metodologia do Design Thinking. A fase de empatia, que é a primeira fase desta metodologia, já havia sido realizada nas Pesquisa Exploratória e Etnográfica. Sendo assim, foi visto como uma oportunidade exercer a fase de protótipos e testes para o projeto. Esta forma de criar foi interessante para efetivamente descobrir e projetar o Design da Informação da Caderneta. Com isso, pode-‐se identificar o que era útil e o que respondia as questões constatadas anteriormente. Esta é uma questão relevante para ser discutida aqui pois a etapa de protótipos e testes pode ser vista como a co-‐criação da Caderneta. Isto porque era sempre requerido aos envolvidos se poderia haver modificações e como ela deveria melhorar. Chegou-‐se a um consenso entre os distintos atores envolvidos e que efetivamente iriam se beneficiar com o projeto. Entretanto, é fundamental ressaltar que as decisões projetuais quanto ao Design Gráfico e Design de Informação da Caderneta foram tomadas pelo designer. Sobretudo, tinham embasamento nos estudos aprendidos durante toda a graduação. Concluindo, acredita-‐se que este tipo de projeto acaba ganhando mais se cada um participa da maneira que pode contribuir. Porém, quem toma as decisões finais acaba sendo o designer com o seu papel integrador. Analisadas as questões referentes ao processo, deve-‐se também explanar quais foram as análises do produto final. Partindo do objetivo geral do projeto, afirma-‐se que o protótipo final consegue fazer com que o paciente visualize seu estado de saúde. Fundamentalmente isto acontece no capítulo de gráfico de exames semanais, onde consegue-‐se enxergar através do gráfico as variações dos níveis de glicose, pressão e peso. Além deste, o capítulo de medicamentos foi importante para maior controle da UBS sobre os medicamentos que eram distribuídos e do próprio paciente para verdadeiro entendimento de quais remédios ele toma. Ainda pode-‐se dizer que o capítulo de consultas medicas é de extrema importância pois consegue trazer a informação de um lugar a outro sem que ela se perca, enriquecendo o tratamento do paciente. Ao retomar o objetivo geral do trabalho: desenvolver um produto para facilitar a autogestão do Diabetes tipo 2 pelos usuários do SUS, nota-‐se que a Caderneta do Diabético consegue facilitar a visualização do estado de saúde do
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paciente. Porém, entende-‐se que a Caderneta não funciona sozinha. É necessário um interlocutor que forneça as informações ao paciente, alguém que demonstre exatamente o lugar que as coisas estão e que estimule o paciente. Para além disso, precisa-‐se de profissionais que preencham os dados requeridos. Em outras palavras, ela facilita a autogestão do Diabetes envolvendo o pacientes e os profissionais da saúde neste objetivo comum. É relevante ressaltar que ao conseguir visualizar a doença o paciente consegue refletir a respeito do seu estado de saúde. Desta maneira, a Caderneta pode gerar uma mudança no diabético mostrando que ele poderia estar melhor. Relembrando que, para isso, é necessária a ajuda dos profissionais da saúde. Porém, agora quem está no controle agora é o paciente, não mais o sistema. Ou seja, ele controla o sistema da maneira que achar mais importante para si, e não é controlado pelo sistema, e sim, requer sua ajuda e auxílio para mudar seu estado de saúde. Para que estas reflexões sejam comprovadas cientificamente, o próximo passo seria testar a solução final com os outros diabéticos cadastrados na UBS da Vila Gaúcha. Isto porque, no presente trabalho participaram 6 pacientes do início ao final do projeto. E, futuramente, em maior escala. Para tanto, é necessário patrocínio para promoção do projeto de saúde como um todo, o qual está inserida a Caderneta do Diabético. Deste modo, é importante ressaltar que se os pacientes conseguirem controlar seu estado de saúde com o auxílio da Caderneta e do novo sistema de promoção de saúde, o governo poderá economizar em distintos aspectos. Podendo citar desde os financeiros (curativos, horas de trabalho de profissionais da saúde, cirurgias...), até os humanos, com a promoção da saúde e estabilidade da doença. O projeto poderia ser replicado em outros pacientes diabéticos, que não do SUS, ou até mesmo com outras complicações crônicas. Isto acontece pois a metodologia utilizada é centrada nas pessoas. Então, a lógica que envolve o projeto mudaria de acordo com as necessidades constatadas naquele determinado contexto. O Design, de maneira geral, consegue organizar as informações necessárias para promover a mudança comportamental desejada. Concluindo, a Caderneta também pode ser vista como um dispositivo de conversa entre profissionais da saúde. Sendo assim, ela é definida como um
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produto que promoveu uma mudança comportamental nos envolvidos. Da maneira geral, comprova-‐se, através desta prática, que o Design pode ser utilizado como uma das maneiras de gerar Inovação Social trazendo resultados positivos a sociedade.
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