Posturas em Corpos Ativos

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POSTURAS EM CORPOS ATIVOS Luísa Meyer



Sobre a artista

L

uísa Meyer nasceu em Porto Alegre, RS, em 1964. Formou-se em Artes Plásticas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS, em 1986. Atualmente, vive e trabalha em São Paulo.

Desde o início, Luísa usa a pintura como meio de expressão e expandiu para outros meios, como madeira, relevos de gesso e objetos de concreto. Ela deu continuidade à quebra do suporte tradicional da pintura em diversas exposições individuais e coletivas, como Cometa Arte, na Pinacoteca Barão de Sto. Ângelo, Instituto de Artes e Oitenta. Participa também de dois salões: IV Salão Paulista de Arte Contemporânea, no Pavilhão da Bienal de São Paulo, Parque Ibirapuera e do VIII Salão Nacional de Artes Plásticas, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Em 1986, realiza sua primeira exposição individual no Espaço Investigação do Museu de Arte do Rio Grande do Sul (MARGS), como resultado de seu projeto de graduação, sob a orientação de Carlos Pasquetti. Participou ainda nos anos 90 do Arte Construtora que ocupou o Solar Grandjean de Montigny no Rio de Janeiro, o Parque Modernista em São Paulo e a Ilha da Casa da Pólvora em Porto Alegre. De 2008 a 2019, dedica-se principalmente à pintura em seu atelier, com paisagens urbanas e suburbanas, perfis e corpos humanos em posturas, em dimensões variadas, especialmente em óleo sobre tela.

Luísa Meyer (11) 99212 1418

luisa@comum.com

https://www.instagram.com/luisaleiameyer/


Pinturas Variáveis

Recortes referências


Das Pinturas Variáveis

às Posturas em Corpos Ativos

Em 1985, ainda cursando Artes no Instituto de Artes da UFRGS, fiz uma série de articuláveis que chamei de “Pinturas Variáveis”. Nas aulas de desenho do Professor Carlos Pasquetti, recortei os exercícios de observação a partir de modelos vivos. A seguir, iniciei a série das pinturas de figuras humanas em madeiras recortadas, baseada em fotos de personagens pops de revistas da época. Os suportes recortados e articulados, com uso de parafusos em pontos estratégicos, davam movimento aos braços, pernas e cabeças, formando um jogo. É significativo relacionar "Pinturas Variáveis" com "Posturas em Corpos Ativos", uma vez que após um período de 40 anos revivi a idéia da construção e desconstrução da figura humana. Não importa tanto para onde o corpo quer ir, o futuro, mas onde ele está, o presente. Luísa Meyer, janeiro de 2022


“Casaco Laranja”, 1985. Óleo sobre tela montado sobre madeira recortada. 83x64cm ©Luísa Meyer


“Casaco Laranja”, detalhe ©Luísa Meyer


“Casaco Azul”, 1985. Acrílica sobre tela emboçada sobre madeira recortada. 100×50 cm ©Luísa Meyer


“Casaco Duro”, 1985. Acrílica sobre madeira sobreposta e com o rosto articulável. 120×45 cm ©Luísa Meyer


“Três Marias”, 1985. Óleo sobre papel cartão recortado com articulações 180×200 cm ©Luísa Meyer


“Break”, 1985. Óleo sobre madeira recortada com articulações . 100x68cm ©Luísa Meyer


“Flávia”, 1985. Acrílica sobre madeira recortada com articulações 115×40 cm ©Luísa Meyer


“Fórmula do Amor”,1985.Acrílica sobre madeira recortada, caminho para um rosto para percorrer o outro 87×72cm ©Luísa Meyer


“Katherine na Praia”,1985. Óleo sobre papel cartão recortado e articulável. 150×102 cm ©Luísa Meyer


“Mulher Invisível”, 1985. Óleo sobre madeira recortada e articulável. 140×30 cm ©Luísa Meyer


“Leila”, 1985. Óleo sobre madeira recortada e articulável. 150×25 cm ©Luísa Meyer


“Envelope”, 1985. Acrílica sobre madeira recortada e articulável. 102×23cm ©Luísa Meyer


“Sopra o Vento”, 1985. Acrílica sobre madeira recortada e articulável. 50×70 cm ©Luísa Meyer


“Visionário”, 1985. Acrílica sobre madeira recortada e articulável. 140×24 cm ©Luísa Meyer



O intuito da instalação é salientar a importância das posições que os corpos assumem durante a yoga e suas interpretações, prática que a artista segue. Posturas em Corpos Ativos é o nome da instalação da artista plástica e fotógrafa Luísa Meyer e é também uma provocação às pessoas. O que a palavra “postura” significa para cada um de nós? A postura, enquanto atitude, refere-se aos pensamentos das pessoas, isto é, manter a postura é saber se comportar em público. As normas de comportamento e as regras sociais têm uma grande incidência nas posturas que se adotam frente aos outros. A proposta da artista com a série de 100 pinturas é reconhecer a pluralidade dos significados do corpo como indivíduo e como grupo. São corpos humanos, braços e pernas que determinam gestos e ideias. Sendo assim, a instalação Posturas em Corpos Ativos propõe um ambiente imersivo para reflexões sobre diferentes gestos produzidos pelos corpos retratados. O conjunto é formado por elementos de diferentes dimensões, sendo alguns próximos à dimensão do corpo humano. Outros são miniaturas de gestos, pintados com cores, não necessariamente tons de pele. O espaço da exposição é constituído por elementos derivados do desmembramento de corpos em posturas de yoga, que simulam um ambiente contrário ao de uma boa postura social. É um lugar para acolher pensamentos suspensos no ar, que nosso corpo não pede nada para si, apenas quer se expressar. Um grito do corpo a dizer que existe. A exposição Posturas em Corpos Ativos foi contemplada no edital ProAC Expresso Lab - Lei Aldir Blanc, “Prêmio por Histórico de Realização em Artes Visuais”,realização da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Governo do Estado de São Paulo e Secretaria Especial da Cultura e Ministério do Turismo do Governo Federal do Brasil. Bea Limberger



A instalação Posturas em Corpos Ativos

é

composta de 130 pinturas em óleo sobre tela estruturada sobre mdf, recortadas e montadas em um painel de 400cm x 800cm na quadra de esportes da EMEF

Amorim

Lima




Imposturas Não, não se trata de nada impróprio ou presunçoso o que temos para ver nessa exposição. A impostura aqui é uma forma de sugerir que essa série não se parece exatamente com a grande maioria das pinturas que conhecemos. São telas pintadas como normalmente são as pinturas, mas são telas recortadas. Elas não se assemelham às “janelas” que os quadros pintados sugerem. As telas recortadas dessa série foram montadas em painéis de madeira, ganhando um pequeno relevo, de forma que, quando presas numa parede ou painel, transformam esses suportes em um fundo para as figuras. São pinturas sem fundo. E, como não estão sujeitas a um fundo determinado, como em um quadro convencional, também não têm uma orientação espacial definida. Não têm um lado “de cima” ou “de baixo”, nem um lado esquerdo ou direito. São figuras de corpos em liberdade, mas não a liberdade hoje defendida pelos que apostam na submissão das instituições e dos corpos a uma tirania. Não. Trata-se da liberdade do movimento, da amplitude, da conquista de um espaço no próprio corpo. Um corpo que atua no aperfeiçoamento de seu conjunto. As Posturas do título dessa exposição de Luisa Meyer referem-se às posições que os corpos assumem durante a prática da yoga. Como muitos aprisionados à frente das telas nos períodos mais incertos e mortais da pandemia, Luisa iniciou esta prática milenar que se impôs como assunto para seu trabalho, dando origem a essa série de pinturas. Os gestos de cada uma das diferentes posições foram registrados primeiro fotograficamente e, depois de impressos sobre tela, pintados pela artista. Algumas das pinturas deixam transparecer uma certa aparência fotográfica por trás das finas camadas de tinta, mas o que vemos sempre é uma pintura, com os traços inequívocos da fina e inventiva matéria pictórica. E não se trata de uma pintura com pretensões naturalistas, apesar da base fotográfica. O conjunto é formado por elementos de diferentes dimensões, sendo alguns próximos à dimensão do corpo humano. Outros são miniaturas de gestos, pintados com cores que não buscam uma correlação direta com a pele branca, preta ou de outras tonalidades que configuram o tecido de cobertura dos nossos corpos. A série, com uma grande quantidade de peças de diferentes tamanhos, permite à artista uma montagem do conjunto nas situações mais inusitadas, como nessa primeira exposição, em uma quadra de esportes de uma escola pública de São Paulo. Com essa decisão de montagem, ocorre uma apropriação reversa da que estamos acostumados no universo das artes plásticas. Não se trata de um trabalho de apropriação de um objeto industrial, trouvé, encontrado pronto e descontextualizado de seu lugar original para ser exposto como arte no ambiente das exposições. Trata-se, ao contrário, de uma produção no campo da pintura descontextualizada do circuito


das artes – ou seja, apresentada fora do âmbito dos museus, galerias e outros espaços culturais. A quadra de esportes escolhida evoca os corpos sempre ativos, lugar onde os limites físicos são testados, onde o corpo se expande. Sim, seria possível ilustrar esse procedimento com o de outros artistas que também se aventuraram a trabalhar em situações e com grupos descolados da cena artística. E é nisso que essa iniciativa merece atenção, pois ela representa o mesmo esforço de conferir visibilidade à obra, normalmente feita no âmbito das instituições culturais, mas com o objetivo de aproximar a produção artística dos locais onde ela raramente tem presença e protagonismo. E, apesar de registrar diferentes gestos produzidos pelos corpos retratados, não se trata aqui do registro de performances, tal como vemos no contexto das práticas performativas. As posturas pintadas por Luisa Meyer são apreensões do instante de suspensão de um determinado movimento, no qual pernas, pés, braços, cabeças, troncos, mãos e coxas fragmentados no espaço estão concentrados em uma pose, separados de sua unidade corporal como se desmembrados. Sobre isso seria possível também lembrar de outros artistas que igualmente isolaram um detalhe, um gesto ou uma parte do corpo para representar o todo, a unidade da figura humana. Essa fragmentação não é uma novidade nos trabalhos da artista. Desde os anos 1980 suas pinturas e seus relevos de gesso se apresentam publicamente pelo acúmulo e pela multiplicidade, visando compor uma unidade em meio a uma variedade de formas. Se antes Luisa Meyer se apropriava de modelos prontos para criar um mosaico de padrões combinados à exaustão, agora ela retoma uma articulação das partes do corpo tal como já havia ocorrido no início de sua produção artística. Naquela época, sempre focada na pintura de superfícies planas ou tridimensionais, o que encontramos é uma organização da quantidade, das semelhanças e diferenças, do volume das coisas que são agregadas para formar um conjunto, cuja unidade se dá pela organização ou articulação das partes. Assim, a “impostura” sugerida por esse trabalho é a de parecer fora do lugar da pintura, fora do campo harmônico dos limites do quadro, fora da unidade ideal entre as coisas no espaço e no tempo, fora do lugar da arte. As Posturas de Luisa Meyer, num sentido contrário ao da fragmentação do sujeito pós-moderno, parece nos dizer que, pedaço por pedaço, poderemos reunir nossos músculos, glúteos, coxas, seios, bocas, quadris e braços em uma unidade perdida para as muitas horas frente aos espelhos de tela preta. Você também pode.

Mario Ramiro, setembro de 2021




























Como parte da instalação do Posturas em Corpos Ativos, a aula de yoga na escola Escola Municipal de Educação Fundamental Amorim Lima estimulou nos adolescentes a ativação do corpo e o alongamento da mente. Ao ativar e oxigenar cada parte do corpo, a mente é beneficiada com um espaço receptivo e cada um será uma “casa para novas ideias ou criações “ . Em conjunto com os professores de artes da escola , foi proposto uma atividade baseada no conceito em que a mente idealiza e o corpo executa. As fotos das aulas de yoga foram recortadas, pintadas, desenhadas e reinventadas. Com uma série de troncos, braços,pernas, pés , cabeças em movimento , todas em atitude ativa foram surgindo novas composições e configurações visuais. O estudo da proporção e movimento do próprio corpo físico e mental treina o olhar e aguça a capacidade de expressão, importante para a compreensão da vida.







recortes aulas











EXPOSIÇÃO Projeto e Execução Luísa Meyer Montagem Elvis Pereira da Rocha Texto Mário Ramiro Release Bea Limberger Fotografia e Filmagem Luísa Meyer Saldanha Mujica Rochelle Costi Projeto Gráfico Monique Schenkels Aulas de Yoga Rosana Seligman Noah Brandsch Júlia Bravo Professores de Artes da Escola Amorim Lima Mônica de Carvalho Borges Tamara Takaoka Paulo Vinícius Paiato

CATÁLOGO

Projeto Gráfico Ester Meyer Tratamento de Imagem Expoarte Fotografia Luísa Meyer Saldanha Mujica Marina Sheetikoff Rochelle Costi


AGRADECIMENTOS

Agradeço a todos que de alguma forma contribuíram para a realização deste projeto : Escola Municipal de Ensino Fundamental Amorim Lima - Diretora Ana Elisa Siqueira e Talita Karen Pereira

Centro Iyengar Yoga - Rosana Seligman

Francisco Zelesniskar Fernando Limberger Monique Schenkels Rochelle Costi Carlos Freitas Regina Araki David Meyer Anita Meyer Lúcia Koch


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