Escola da Cidade Programa de Pós Graduação Civilização América – Um Olhar Através da Arquitetura Geografia, Cidade e Arquitetura
ESPAÇOS
e exercícios projetuais no território americano Luisa Zacche São Paulo – 2015
LUISA TRAVAGLIA ZACCHE
Espaços e exercícios projetuais no território americano
Monografia apresentada à Associação Escola da Cidade Arquitetura e Urbanismo, como parte das exigências do Programa de Pós-Graduação Lato Sensu Civilização América – Um Olhar Através da Arquitetura.
Especialização Geografia, Cidade e Arquitetura.
Orientadores Prof. Dr. Alvaro Puntoni Prof. Me. Fernando Viégas
São Paulo 2015
RESUMO Nas disciplinas de Geografia e Arquitetura a orientação e a idenƟficação do homem com o lugar decorrem dos conceitos de espaço e de território. Essas definições foram abordadas nas percepções do geógrafo brasileiro Milton Santos e dos arquitetos ViƩorio Gregoƫ e Norberg-Shulz, que propuseram os conceitos de “lugar” e “genius loci”, respecƟvamente. Com esse enfoque, propõe-se relacionar os conceitos com às propostas específicas exercitadas nos território Estados Unidos, Uruguai, Bolívia e Colômbia, com a intenção de aproximar o homem com os lugares das intervenções. Nesse senƟdo, o processo de intervenção arquitetônica foi considerado como uma rede de fatores - ambientais, culturais, sociais e morfológicos - e a parƟr desses fatores foram idenƟficados os temas relacionados com os lugares de cada proposta - torre, margem, borda e intersơcio. Como resultado, os exercícios projetuais em territórios singulares, específicos, em comum desenham o vazio considerando como objeto o espaço público, lugar de convívio, e aproxima a relação do homem com o lugar que habita.
Palavras-chave: lugar; espaço; território; arquitetura.
ABSTRACT In the subjects of Geography and Architecture guidance and idenƟficaƟon of the man with the place stem from concepts of space and territory. These definiƟons have been addressed in the percepƟons of the Brazilian geographer Milton Santos and architects ViƩorio Gregoƫ and Norberg-Schulz, who proposed the concept of “place” and “genius loci”, respecƟvely. With this approach, it is suggested to relate the concepts to specific proposals exercised in the territory of the United States, Uruguay, Bolivia and Colombia with the intenƟon of bringing the man with the places of intervenƟons. In this sense, the architectural intervenƟon process was regarded as a network of factors - environmental, cultural, social and morphological - and from these factors were idenƟfied issues related to the places for each proposal tower, margin, edge and intersƟƟal. As a result, the projecƟve exercises in individual territories, specific, in common draws empty considering the public space as object, a place to socialize and approach the man’s relaƟonship with the place it inhabits.
Keywords: place; space; territory; architecture.
SUMÁRIO INTRODUÇÃO
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1. ESPAÇO/TERRITÓRIO/LUGAR
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1.1 O espaço geográfico para Milton Santos
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1.2 Os conceitos de lugar e genius loci de Vittorio Gregotti e Norberg-Shulz
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2. RECORTES
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2.1 Estados Unidos/Torre
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2.2 Uruguai/Margem
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2.3 Bolívia/Borda
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2.4 Colômbia/Interstício
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CONCLUSÃO
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REFERÊNCIAS
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INTRODUÇÃO O espaço se globaliza, mas não é mundial como um todo, senão como metáfora. Todos os lugares são mundiais, mas não há espaço mundial. Quem se globaliza, mesmo, são as pessoas e os lugares.1
Os conceitos de território e espaço apresentam percepções complementares ao entendimento da interferência do homem e sua relação com o lugar. A par r da proposta do curso de pós-graduação Geografia, Cidade e Arquitetura que busca discu r, através da arquitetura, a ocupação do território americano e suas cidades, este trabalho de conclusão, em sua primeira parte, apresenta as relações entre espaço/território/lugar nas áreas de conhecimento da Geografia – através das reflexões do geógrafo brasileiro Milton Santos –, e Arquitetura, com as percepções de Vi orio Grego
e Norberg-Shulz sobre essência do contexto ambiental por meio
da transformação da forma e do lugar. Na segunda parte, o trabalho apresenta os recortes de cada território estudado: Estados Unidos, Uruguai, Bolívia e Colômbia, com imagens e informações síntese das aulas exposi vas sobre a produção cultural – história, geografia, artes e técnica – de cada país e os resultados dos exercícios de projeto nas áreas definidas, materializados através da expressão da arquitetura. Espera-se contribuir para a discussão dos temas e relacioná-los às propostas específicas, com a intenção de iden ficar e aproximar o homem com os lugares das intervenções.
1 SANTOS, Milton. Técnica, espaço, tempo: globalização e meio técnico-cien fico informacional. São Paulo: HUCITEC, 1994.
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A origem da arquitetura não é a cabana, a caverna ou a mí ca ‘casa de Adão no paraíso’. Antes que um suporte fosse transformado em coluna, um telhado em frontão e pedras amontoadas sobre pedras, o homem pôs uma pedra no chão para reconhecer o lugar no meio do universo desconhecido e, assim, mediu e modificou esse espaço.2
2 GREGOTTI, Vi orio. Território e arquitetura (1985). In: NESBITT, Kate (Org.). Uma nova agenda para arquitetura: antologia teórica 1965-1995. São Paulo: CosacNaify, 2006, p.374
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1. ESPAÇO/TERRITÓRIO/LUGAR 7
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1.1 O espaço geográfico para Milton Santos A escolha de Milton Santos deve-se à sua relevância na geografia produzida no Brasil, principalmente nas concepções de espaço e território, elaboradas a par r dos anos 1970. Foi selecionada a obra Por uma geografia nova: da críƟca da geografia a uma geografia críƟca (1986), cuja primeira edição foi publicada no ano de 1978, e na qual o conceito de espaço é fundamental nas abordagens econômica e polí ca. Milton Santos elege os conjuntos forma, função, estrutura, processo e totalidade como os principais que devem ser considerados na análise geográfica do espaço que, por sua vez, auxiliam no entendimento do território. O espaço é construído no processo, e contém uma estrutura organizada por formas e funções que podem mudar historicamente de acordo com cada sociedade.1 O espaço deve ser considerado como um conjunto de relações através de funções e de formas que se apresentam como testemunho de uma história escrita por processos do passado e do presente. Isto é, o espaço se define como um conjunto de formas representa vas de relações sociais do passado e do presente e por uma estrutura representada por relações sociais que estão acontecendo diante dos nossos olhos e que se manifestam através de processos e funções.2
Nesse sen do, o espaço é o testemunho de um momento, de um modo de produção pela memória construída, das coisas fixadas na paisagem criada. O espaço é uma forma que não se desfaz à mudança de processos; ao contrário, alguns processos se adaptam às formas preexistentes enquanto outros criam novas formas para se inserir nelas. A definição de espaço também é explorada como “instância social” na medida em 1 SANTOS, Milton. Por uma geografia nova: da crí ca da geografia a uma geografia Crí ca. 3ª edição. São Paulo: HUCITEC, 1986 2 Idem, p. 122
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que as caracterís cas que definem uma estrutura social também iden ficam o espaço, capaz de agir e reagir sobre as demais estruturas da sociedade, mas não depende exclusivamente da estrutura econômica. A estrutura espacial, isto é, o espaço organizado pelo homem é como as demais estruturas sociais, uma estrutura subordinadasubordinante. E como as outras instâncias, o espaço embora subme do à lei da totalidade, dispõe de uma certa autonomia que se manifesta por meio de leis próprias, específicas de sua própria evolução.3
O espaço, dessa forma, apresenta uma estrutura que corresponde à organização feita pelo homem. E, por manifestar-se por meio de leis próprias, é também uma forma resultante da interação de diferentes variáveis. O espaço social corresponde ao espaço humano, lugar de vida e trabalho, sem definições fixas. O espaço geográfico é cons tuído pelo homem vivendo em sociedade e cada sociedade produz seu espaço como lugar de sua própria história. Para Milton Santos, os elementos território, povo e soberania cons tuem um Estado-Nação, uma vez que as relações entre o povo e seu espaço e as interações entre os diversos territórios nacionais são reguladas pela soberania e “a u lização do território pelo povo cria o espaço”.4 O território é imutável em seus limites, uma linha traçada de comum acordo ou pela força. [...] Ele se chama espaço logo que encarado segundo a sucessão histórica de situações de ocupação efe va por um povo [...] como resultado da ação de um povo, do trabalho de um povo, resultado do trabalho realizado segundo as regras fundamentais do modo de produção adotado e que o poder soberano torna em seguida coerci vas.5
3 SANTOS, Milton. Por uma geografia nova: da crí ca da geografia a uma geografia Crí ca. 3ª edição. São Paulo: HUCITEC, 1986, p. 145 4 Idem 5 SANTOS, Milton. Por uma geografia nova: da crí ca da geografia a uma geografia Crí ca. 3ª edição. São Paulo: HUCITEC, 1986, p. 189
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Assim, com o entendimento do espaço como estrutura social, com funções definidas historicamente, Milton Santos coloca o homem como questão central na construção do mundo, o qual anima o espaço. Já a noção de território, delimitado e regulado, corresponde ao recorte do espaço pelo processo de formação de um Estado, resultantes da ação do homem nas diferentes formas de ocupação e produção.
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1.2 Os conceitos de lugar e genius loci de Vittorio Gregotti e Norberg-Shulz Foram selecionados os textos Território e Arquitetura do arquiteto da Escola de Veneza Vi orio Grego
e O Fenômeno do Lugar de Norberg-Shulz que, em comum,
consideram a essência do contexto ambiental por meio da transformação da forma. Para Grego , a arquitetura tem início com o gesto do homem no ambiente de fincar uma pedra no chão, no ato de reconhecimento do sí o, demarcando o espaço como lugar. Assim, uma vez que o ambiente demonstra os sinais da história, através da geografia, para o teórico o “projeto arquitetônico tem a missão de chamar a atenção para a essência do contexto ambiental por meio da transformação da forma”.1 [...] a natureza não é vista como uma força indiferente ou inescrutável, ou como um ciclo divino de criação, mas como reunião de coisas materiais, cujas razões e relações cabe à arquitetura revelar. Devemos, portanto, modificar, duplicar, medir, situar e usar a paisagem a fim de conhecer e sa sfazer o ambiente como uma totalidade geográfica de coisas concretas, que são inseparáveis de sua organização histórica.2
O ambiente, com as caracterís cas de um terreno específico, é como um material a disposição do uso para a arquitetura. “É a modificação que transforma o lugar em arquitetura e realiza o ato simbólico original de estabelecer contato com a terra, com o ambiente sico, com a ideia de natureza enquanto totalidade”.3 E, na medida em que define o espaço “formado por diferenças, descon nuidades, entendidas como
1 GREGOTTI, Vi orio. Território e arquitetura (1985). In: NESBITT, Kate (Org.). Uma nova agenda para arquitetura: antologia teórica 1965-1995. São Paulo: CosacNaify, 2006, p. 372 2 Idem 3 GREGOTTI, Vi orio. Território e arquitetura (1985). In: NESBITT, Kate (Org.). Uma nova agenda para arquitetura: antologia teórica 1965-1995. São Paulo: CosacNaify, 2006
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valor e experiência”, Grego
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reconhece uma rede de relações em que se produz
uma intervenção arquitetônica. Já o teórico Cris an Norberg-Shulz5 iden fica no método da fenomenologia aplicado à arquitetura um termo concreto para falar de ambiente (lugar), na medida em que uma “qualidade ambiental” é a “essência do lugar”, ou o “espírito do lugar”, definida pela noção romana do genius loci. A “estrutura do lugar” pode ser analisada pelo elemento “espaço”, que indica a organização tridimensional dos elementos que formam um lugar, dimensão existencial, e “caráter”, que significa a atmosfera geral, determinado pela cons tuição material e formal do lugar, isto é, pela realização técnica - a “construção”. Com isso, Norberg-Shulz6 afirma que “o propósito existencial do construir (arquitetura) é fazer um sí o tornar-se um lugar, isto é, revelar os significados presentes de modo latente no ambiente dado”. A relação entre o homem e o lugar é o “habitar”, isto é, quando o homem habita está localizado no espaço e interage com um determinado caráter ambiental e u liza dos aspectos psicológicos de “orientação” e “iden ficação” nessa condição. “O homem habita quando é capaz de concre zar o mundo em construções e coisas”. A arquitetura começa a exis r quando ‘faz visível todo um ambiente’ [...]. Isso significa concre zar o genius loci. Vimos que isso acontece por meio de construções que reúnem as propriedades do lugar e as aproximam do homem. Logo o ato fundamental da arquitetura é compreender a ‘vocação’ do lugar. 7
4 Idem 5 NORBERG-SHULZ, Chris an. O fenômeno do lugar (1976). In: NESBITT, Kate (Org.). Uma nova agenda para arquitetura: antologia teórica 1965-1995. São Paulo: CosacNaify, 2006 6 Idem 7 NORBERG-SHULZ, Chris an. O fenômeno do lugar (1976). In: NESBITT, Kate (Org.). Uma nova agenda para arquitetura: antologia teórica 1965-1995. São Paulo: CosacNaify, 2006, p.459
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Assim, com a revisão dos conceitos acima nota-se que o ato de projetar e a obra arquitetônica remetem à necessidade de interferência do homem - parte integral do ambiente - no sí o. O sí o, por sua vez, deve ser entendido como um ambiente específico, com necessidades singulares, que será modificado. Toda ocupação e uso dos lugares dependem de diversos fatores, tais como ambientais, sociais, culturais e morfológicos, sinte zados no significado do lugar.
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2. RECORTES 17
Estados Unidos
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308.800.000 hab 9.400.000
território km² arquitetura e escravidão vale do mississipi séc. XIX
Jazz
Andy Warhol
Chicago torre
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2.1
Estados Unidos/Torre
PROFESSORES CONVIDADOS Rafael Marquese Kevin Harrington Marcelo Ribeiro Bento AraĂşjo Tiago Mesquita Marcius Galan Nelson Kon Heloisa Maringoni Vinicius Andrade Carlos Alberto Maciel Studio Gang
GRUPO DE ESTUDO Ariana Tavares Ciro Ghellere Luisa Zacche Marcelo Costa Sandro de Mauro
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Os edi cios altos se tornaram possíveis no século XIX, quando inovações na técnica constru va, aliadas ao uso de novos materiais, foram traduzidas na estrutura de “esqueleto de aço”, sem a necessidade de paredes espessas nos pavimentos inferiores e, em paralelo, com o desenvolvimento do elevador, quando O s inventou um sistema de freios seguros. Após o incêndio que desbastou a cidade de Chicago em 1871, os arquitetos da Escola de Chicago desenvolveram edificações que mul plicaram as densidades do solo urbano. A morfologia da cidade se transformou na configuração “ver calizada”. Em meados do século XX esses projetos veram resistência, como a oposição da a vista Jane Jacobs que, no livro “Morte e Vida de Grandes Cidades”1, inves ga e exalta o mundo a par r da visão que a população tem da cidade, em defesa da diversidade. Para ela, o espaço fundamental onde essa diversidade e intensidade de usos ocorrem é nas ruas, calçadas e espaços públicos. A criação de novos solos urbanos permite maior extração do lucro do solo e, nesse contexto, a ver calização, dentro do sistema de produção capitalista, passa a ser lógica. Porém, o interesse por qualquer relação com o entorno torna-se secundária .2 Cria-se uma nova forma social, econômica e cultural de viver. Para o exercício de projeto foi definido o terreno e o tema: implantar uma torre na cidade de Chicago, com frente ao Rio de mesmo nome e próximo ao Lago Michigan e ao Millennium Park. O entorno é predominante ver cal com edi cios residenciais, de escritório e de uso misto. O sistema viário e de circulação da cidade é projetado em vários níveis:
1 JACOBS, Jane. Morte e vida de grandes cidades. 3ª edição. São Paulo: Mar ns Fontes, 2011 2 NASCIMENTO, Isabella Soares. O arranha-céu: produto ver calizado da globalização. Sociedade & Natureza. Uberlândia, 2000. Disponível em: <h p://www.seer.ufu.br/index.php/sociedadenatureza/ ar cle/view/28524/pdf_119>. Acesso em: 26 fev. 2015
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o sistema da super cie foi complementado por um sistema de vias subterrâneas, construído sob as ruas da cidade entre 1899 e 19063. Por isso, os níveis da base dos edi cios são comumente u lizados como estacionamento e acessos de veículos de carga e descarga. A cidade e a área de implantação são abastecidas por transporte público de diferentes modais. As pistas expressas entre o lote e o Rio Chicago em um primeiro momento impossibilita a conexão sica, como uma ruptura no tecido urbano. O terreno parece enclausurado em frete ao rio, com pouca super cie, mas uma torre no lote escolhido apresenta como potencial o contato visual com o Lago Michigan e o Rio Chicago. A proposta configura os pavimentos mais próximos ao solo - o embasamento - como um caminho de pedestre e ciclistas para as margens do rio, com planos inclinados que transpõem as pistas expressas. O volume do edi cio é fragmentado, desde o nível da rua, como um percurso, até o topo da torre, para criar espaços cole vos, com usos que es mulem o encontro. A forma se desenvolve a par r de planos inclinados, como uma fita desenrolada. A ideia, então, é es mular o uso do transporte público existente, reduzindo a área de estacionamento e mul plicando os térreos com espaços de uso público, mesmo na situação de um edi cio priva vo e diversificar os pavimentos das torres também com usos diversos e abertos à população. No embasamento é proposto uso comercial e lazer, com mercados, galerias e espaços de a vidade com piscinas e sauna. Na torre foram distribuídos os programa de hotel, apartamentos para alugar e 3 SILVEIRA, Tácito Pio da. Chicago; São Paulo: contribuição ao estudo do transporte cole vo no processo de urbanização. 2008. Dissertação (Mestrado em Planejamento Urbano e Regional)- Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2008. Disponível em: <h p://www. teses.usp.br/teses/disponiveis/16/16139/tde-12032010-111538/>. Acesso em: 28 fev 2015
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condomínio. Os vazios entre os pavimentos, pretende-se que sejam ocupados por usos cole vos, como teatro, espaços culturais de exposições e apresentações, livraria, restaurantes/café e pequenas praças com áreas verdes. Dessa forma, o volume é fragmentado espacialmente. Os recortes proporcionam que as visuais dos elementos ambientais da paisagem – a água e o paisagismo urbano – penetrem na torre. Para diferenciar as circulações ver cais foram propostos diferentes acessos – acesso para área priva va das residências e acesso para áreas cole vas, de caráter público. As áreas de acesso ao público foram distribuídas em diferentes alturas da torre, para serem compar lhadas entre moradores e usuários externos. O processo para definir a área construída do edi cio foi baseado no entorno, tanto em altura compa vel com o existente e o recorte do bloco foi equilibrado na altura do edi cio. O estudo de cheios e vazios mostra as formas de ocupação dos pavimentos, interligando as circulações ver cais e os diversos usos propostos. A relação com a infraestrutura existente também foi estudada na escala do pedestre, com detalhes de aberturas para o rio. Assim, a proposta é uma solução possível para trazer a vida urbana de Chicago, nas ruas, para os níveis do edi cio arranha-céu, com as frestas se destacando na paisagem e com a fachada a va em seu embasamento, intensificando a relação com a escala humana no nível do solo.
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Uruguai
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3.500.000 hab 176.300
territ贸rio km虏 pradaria/fronteira/porto mem贸rias
Candombe Torres Garcia
Montevideo margem
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Uruguai/Margem
PROFESSORES CONVIDADOS João Paulo Garrido Pimenta Laura Cesio Mariana Vilaca Ruben Otero Alina Del CasƟllo Guilhaume Sibaud Marcelo Ribeiro Zé Lira MarƟn Cobas Luis Mauro Freire Marcelo Gualano
GRUPO DE ESTUDO Ana Lucia Longato Luisa Zacche Pauline Niesseron Yuri FausƟnoni
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A área de estudo em Montevideo é conhecida como “Rambla Sur”. A Rambla configura-se como uma longa avenida que percorre a costa da cidade, às margens do Rio da Prata, o qual corta os territórios do Uruguai e Argen na. A Rambla Sul inicia-se na Escollera Sarandi, ao sul da Cidade Velha – núcleo original da cidade – e segue até o Punta Carretas. A Rambla foi construída com um projeto de aterro sobre o rio, com obras entre 1928 e 1935, e além de ter alterado a configuração espacial, transformou a composição social da zona, na corrente de “cidade balneária”, dando importância à costa sudeste da cidade1. No aspecto climá co destaca-se o fenômeno da “sudestada”, que ocorre geralmente no inverno, quando ventos da direção sudeste sopram fortes com constantes chuvas. As águas do Rio incidem no calçadão e na avenida, demonstrando o poder da natureza sobre a interferência do homem. A ideia de margem remeteu ao conto de Guimarães Rosa “A terceira margem do rio”. No conto são narradas as aventuras de um pai que embarca em uma canoa fabricada por ele e diz adeus à família. O personagem não atravessa o rio, mas fica “naqueles espaços do rio, de meio a meio, sempre dentro da canoa, para dela não saltar, nunca mais.”
1 PÉREZ PIÑEYRO, Maria del Pilar. Um olhar desde a península: Pela recuperação do território original da Cidade Velha de Montevidéu.Arquitextos, São Paulo, ano 02, n. 014.05, Vitruvius, jul. 2001. Disponível em: <h p://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/02.014/868>. Acesso em: 11 mar. 2015
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Sofri o grave frio dos medos, adoeci. Sei que ninguém soube mais dele. Sou homem, depois desse falimento? Sou o que não foi, o que vai ficar calado. Sei que agora é tarde, e temo abreviar com a vida, nos rasos do mundo. Mas, então, ao menos, que, no ar go da morte, peguem em mim, e me depositem também numa canoinha de nada, nessa água que não pára, de longas beiras: e, eu, rio abaixo, rio a fora, rio a dentro — o rio.2
O narrador se torna o próprio rio, como se o rio se tornasse interior, essencial, inseparável de sua própria condição. O rio não é delimitado pelas margens. O rio é que determina as margens. Com essa reflexão em mente foi realizado o exercício de projeto. A intervenção concentra-se no encontro dos traçados da Cidade Velha com a Primeira Expansão urbanís ca para definir principais eixos de comunicação do con nente com o rio, e criar a situação do encontro, como uma terceira margem do rio. A área apresenta vários elementos vistos como oportunidade – a Plaza España, a Plaza Independencia e a estrutura histórica do Dique Mauá, construído em 1872 com capacidade para manutenção de grandes navios, atualmente desa vada. Apensar da beleza da paisagem natural, as áreas do entorno se encontram vazias, e transmitem sensação de insegurança. Edi cios viraram as costas para o rio. As contenções em pedra que marcam o caminho impedem o acesso direto ao rio e também o acesso à cidade por embarcações. Iden ficaram-se estratégias de desenho urbano mais amplas para o espaço aberto ao longo da margem do rio. O desenho geométrico resultou do prolongamento dos eixos do tecido urbano existente e criou uma grande plataforma de intervenção. Esse trecho da margem do rio atualmente é ocupado por um passeio com poucos
2 ROSA, João Guimarães. A Terceira Margem do Rio. In: Primeiras Estórias, Ficção Completa. Vol. II. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1995
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atra vos e áreas públicas cortadas por uma avenida de trânsito intenso. O obje vo é estabelecer essa área como principal espaço público para o convívio social dos moradores, com diversidade de a vidades e nós de atração, conformando a paisagem com infraestrutura. A proposta é desenhada como uma peça, que abrange as 03 relações: cidade velha x cidade nova; rambla x cidade; rio x rambla, em um parque linear de a vidades espor vas, de lazer e de contemplação. O desenho de um quebra-mar delimita uma área de calmaria propícia para criação de uma marina, por sua vez interligada com o Dique Mauá, cuja estrutura seria recuperada e abrigaria uma Escola de Artes e O cio Naval. O rio adentra a cidade e preenche a Praça da Água. Sobre a praça, um novo objeto abriga um espaço exposi vo - o Museu de História Uruguaia, e o piso rebaixado protege dos ventos da sudestada. Próximo ao Dique Mauá, uma estrutura de galpão existente seria recuperada com novo uso: um grande Mercado Municipal, com feiras, restaurantes e área para eventos. A intenção de uma passarela que transpõe a avenida é conectar a plataforma com a an ga estrutura de um gasômetro, abandonada, e pensada para ser transformada em uma arena musical- o Centro de Candombe. O Candombe é um ritmo proveniente da África, trazido pelos escravos, parte importante da cultura uruguaia até os dias de hoje. No encontro da peça de intervenção com o eixo da Praça da Independência, a avenida é rebaixada, para privilegiar e concentrar a passagem dos usuários. Na escala do pedestre, seriam criadas outras plataformas, algumas perto da água, outros mais afastadas, agrupadas ou solitárias, dando às pessoas escolhas sobre onde sentar e permanecer, dependendo de seus próprios desejos, seu humor e sua atração de acordo com as várias condições climá cas do ambiente.
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Nessa “terceira margem” a água vai explodir, nos dias de tempestade (sudestada), aflorar no con nente pela grande praça e novos planos ver cais criados para proteção dos ventos. Dessa forma, sobre o tecido urbano existente, as soluções propostas conformam um desenho possível para a remodelação da Rambla Sul, para incen var o encontro com a paisagem do rio e diversificar a vida social ao longo de sua margem.
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BolĂvia
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10.500.000 hab
território
1.100.000 km² tiwanaku a rua e a gente
Zamponhas Quíchuas y Aimarás
El Alto-La Paz borda
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Bolívia/Borda
PROFESSORES CONVIDADOS Gilberto Maringoni Igor Fuser Javier Escalante Marcelo Ribeiro Rebeca Grinspum Renzo Borja Marcos Acayaba Marcos Vinicius Guilherme MaƩos Fernando MarƟnez
GRUPO DE ESTUDO Luisa Zacche Rebeca Grinspum Ricardo Braga Rodrigo Carvalho
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A definição da palavra borda indica o extremo ou margem de algo, configurando uma forma na qual se verifica um limite entre o espaço e seu entorno próximo. Porém, na arquitetura a leitura da borda vai além do espaço fechado. No campo disciplinar da arquitetura, o termo borda se associa não só com a ideia de um fechamento que deslinda campos com precisão, como também com um estado ou situação intermediária entre duas áreas ou regiões adjacentes. A borda no espaço arquitetônico é uma franja, uma área ou espaço de borda que se pode produzir e experimentar através de prá cas subje vas como um espaço predominantemente linear.1
Para Arroyo2 a percepção do percurso na borda é representada pela experiência do atravessamento, por isso o autor propõe “deslocar o olhar” das centralidades para às bordas, que marcam o confim do público e ondem se avivam os conflitos sicos e sociais, da cidade contemporânea, símbolos de “degradação ambiental e desvalorização da paisagem e de desfuncionalidade por incompa bilidade de usos, déficit de serviços e obsolescência de infraestruturas”. Nesse sen do, a definição de território como um Estado-Nação, fundado em um sistema norma vo sobre uma extensão geográfica, nesse caso se vê destorcida pela propagação de poderes formais e informais que atuam no espaço público no contexto de uma sociedade contraditória e conflituosa. O território é consequência de feitos de centralidade que o cons tuem (lugares), mas seus efeitos se dispersam em sua extensão espacial e se agravam em suas bordas. A borda é o ponto de ex nção do domínio e da jurisdição que determinam o território; ali o sistema entra em crise ao es pular-se a necessidade de uma ar culação com uma outra territorialidade, diferente.3 1 ARROYO, Julio. Bordas e espaço público: Fronteiras internas na cidade contemporânea. Arquitextos, São Paulo, ano 07, n. 081.02, Vitruvius, fev. 2007. Disponível em: <h p://www.vitruvius.com.br/revistas/ read/arquitextos/07.081/269>. Acesso em: 14 mar. 2015 2 Idem 3 Idem
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A área delimitada de projeto situa-se entre as cidades de El Alto e La Paz, distanciadas nesse ponto por cerca de 400 metros de al tude. A caracterização da área como “borda” vai além do aspecto sico, geográfico, demarca áreas diferentes, gerando separações e suturas. Nessa extensão, em El Alto, o limite é a topografia natural, margeada por vias de acesso – as “carreteiras” –, algumas edificações, uma estação de teleférico e uma via de importante expressão cultural e social – a Avenida Panorâmica. A estação de teleférico insere-se no plano de mobilidade da inicia va pública, que pretende conectar o território acidentado com mais estações. Transversalmente à borda, essa é a única ligação. Já a Avenida Panorâmica, paralela à margem, é palco de manifestações sociais e feira livre, quando a concentração de pessoas parece ficar con da nas bordas da cidade, com pouca estrutura para a vidades. A par r de La Paz, na situação geográfica de “vale”, avista-se apenas uma linha do perímetro de El Alto. Já de El Alto, tem-se visual quase completo da capital e pode ser compreendida sua inserção na paisagem. Por isso, iden ficou-se a área com potencial para “ver e ser visto”. Dessa forma, a proposta reconhece as cidades de El Alto e La Paz como um conjunto interdependente e busca reforçar esse cenário, u lizando os potencias de atração das situações existentes - mercado de rua e estação de teleférico - para propor edi cios de equipamentos que reforcem a diferença de topografia, como objetos anexados na paisagem. Como exercício de projeto, definiram-se dois pontos para situar a intervenção, fincados na borda. Os edi cios seriam plataformas para programas colabora vos e culturais. Na margem, foi demarcado um espaço livre, de contemplação e outras a vidades que despertem interesse, como voo de balão. Os pontos foram conectados pela avenida panorâmica, também alvo de proposta, mas na escala do pedestre.
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Como sugestão de programa para a Plataforma Colabora va: terminal de transporte, passarela, central de cole vos e associações, viveiro, bancos de microcrédito para comunidade, cursos de capacitação, salas de aula, biblioteca e internet livre. Já para a Plataforma Cultural: cinema, galeria de arte, sala de teatro, sala de música, clube espor vo e ringue espor vo. Na Avenida Panorâmica busca-se qualificar o espaço com sombreamento, para diversos usos, os quais seriam es mulados pelo desenho do piso, e privilegiar o pedestre através da separação dos percursos. Por diferença de nível na rua são propostos espaços de armazenagem dos produtos para feira, espaços de permanência e descanso. A estratégia pontual, pensada de forma sistêmica, pode ser replicada e adaptada na extensão da borda, para formar uma trama de equipamentos e infraestrutura na paisagem do território.
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Col么mbia
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47.400.000 hab
território
1.200.000 km² crescimento urbano urbanismo social
cultura paisa Gabriel Garcia Marquez
Medellin interstício
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Colômbia/Interstício
PROFESSORES CONVIDADOS Marcelo Ribeiro Angela Oliveira CrisƟane Checchia Natalia Castano Daniele Pisani Carlos Guzman Agnaldo Farias Camilo Restrepo Ruth Verde Zein Daniel Montandon Anália Amorim Carla Juaçaba L-A-P Laboratorio de Arquitectura y Paisaje
GRUPO DE ESTUDO Camila Paris Luisa Zacche Marcela Honorato Maria Teresa Soubhia Victor Minghini
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A cidade de Medellín destaca-se pela transformação social e urbanís ca através de estratégias focadas em três questões: implementação de um sistema de transporte público e de acessibilidade eficiente e qualificado, provisão de serviços públicos de qualidade para toda a população e planejamento urbano e territorial de longo prazo.1 A área de aproximação é o entorno do Rio Medellín, de grande significado tanto para a vida econômica quanto para a vida cultural da cidade e exerceu grande influencia no urbanismo da cidade. No final do século XIX as an gas pontes iniciaram a intenção de ampliar as vias de transporte. Hoje, com a cobertura das quebradas, a canalização do leito e a construção de novas transposições, a via expressa recebe mais de um milhão de veículos diariamente. Vinculados à formação dos territórios e à fundação da maior das cidades em todo o mundo, os rios estão entre os elementos naturais que há mais tempo par cipam do espaço humanizado. Porém, o crescimento populacional e a forma de ocupação originam por muitas vezes espaços residuais, sem forma. Segundo Guerreiro2, em arquitetura [...] usamos o conceito de inters cio para designar o espaço não edificado resultante da disposição e agregação dos edi cios. [...] estes espaços designam-se por nega vo ou vazios, por contraponto ao espaço edificado, posi vo ou cheio.
Esses espaços podem ser conver dos em espaços potenciais quando estudado como objeto o espaço público, ao invés lugar do edi cio. Isto é, quando desenha-se o espaço vazio. Com esse raciocínio, obje va-se que a malha urbana torne-se com o
1 GHIONE, Roberto. Transformação social e urbanísƟca de Medellín. Minha Cidade, São Paulo, ano 14, n. 166.07, Vitruvius, maio 2014. Disponível em: <h p://www.vitruvius.com.br/revistas/read/ minhacidade/14.166/5177>. Acesso em: 15 mar. 2015 2 GUERREIRO, Maria Rosália. Intersơcios urbanos e o conceito de espaço exterior posiƟvo. Forum Sociológico [Online], 2008. Disponível em: <h p://sociologico.revues.org/218>. Acesso em 15 mar. 2015
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tempo uma estrutura mais orgânica e, portanto, com mais vida. A proposta reconhece e confirma o projeto vencedor para o concurso “Parque Rio Medellín”, de autoria do La tud Taller de Arquitectura e Ciudade3, que parte da premissa de um sistema ambiental de conexão para a cidade, com a implantação de um Parque Botânico (parque cultural, ambiental e espor vo), integrado ao Rio Medellín, com a recuperação dos seus afluentes e priorização do transporte público em suas margens. A proposta se configura como um ensaio de adensamento possível em vários pontos da malha urbana, próximo às áreas do futuro parque, no tecido urbano cortado pelo rio, considerando sua singularidade, e com obje vo de criar novas centralidades e pluralidades de a vidades e moradia. Para isso, estudou-se a densidade de três áreas caracterís cas: 1. área de ocupação industrial (densidade 0,20-27 hab/ha); 2. área de oferta imobiliária (densidade 2754 hab/ha); e 3. ocupação nas áreas de encostas dos morros (densidade 107-135 hab/ha). Com isso, percebeu-se o crescimento urbano expansivo para áreas de encostas – com insuficiência de infraestrutura – e, em contraponto, grandes áreas subu lizadas nas margens do rio, ocupadas por galpões industriais. Foi considerada também a previsão do plano de ordenamento para área, que prevê densidade de 300-390 hab/ha4. Pretende-se que os pontos de adensamento se conectem transversalmente ao rio e formem uma rede, como uma con nuidade bió ca ao parque linear norte-sul. 3 CABEZAS, Constanza. Primeiro Lugar no concurso internacional para o Parque do Rio em Medellín. ArchDaily Brasil, 2014. Disponível em: <h p://www.archdaily.com.br/165814/primeiro-lugar-noconcurso-internacional-para-o-parque-do-rio-em-medellin>. Acesso em: 05 nov. 2014 4 ÁREA METROPOLITANA DEL VALLE DO ABURRÁ. Plan Integral de Desarrollo Metropolitano: Metrópoli 2008-2020 - Hacia la integración sostenible. Medellin, 2007. Disponível em: <h p://www. metropol.gov.co/Planeacion/DocumentosAreaPlanificada/Plan_Metropoli_2008_2020.pdf >. Acesso em: 05 nov. 2014
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Para compreensão da transformação do solo e ocupação do edi cio no espaço, foi necessária a definição da forma e da área de implantação, em um recorte específico. A forma circular escolhida, com pá o interno, expressa a intenção de expansão e mostrou-se mais favorável ao estudo. Com distribuição radial, tem-se maior aproveitamento da área construída, com maior número de unidades e ainda possibilita maior área de pá o interno. Com implantação sobre pilo s, o térreo é valorizado como espaço público e adentra a edificação pelo pá o. Após definida a forma do edi cio, para ver calização foram experimentadas duas propostas, variando o diâmetro e a altura, para a ngir densidades entre 300 e 355 hab/ha, o que gerou 40 pavimentos (400 unidades) e 20 pavimentos (640 unidades), respec vamente. Os serviços básicos de atendimento à população poderiam se localizar nos térreos dos edi cios e as áreas de comércio distribuídas em blocos independentes e ao longo das principais vias. Na área de aproximação ensaiou-se a subs tuição de conjuntos de lotes pela forma de ocupação proposta, em primeira etapa conectando as áreas verdes dos cerros ao rio. A edificação habitacional é implantada sobre área de caráter público que, por sua vez, se conecta por corredores e busca elementos do parque - arborização, contato com a água dos afluentes tratados e criação de áreas alagáveis - para o desenho urbano das quadras. A proposta mostra também que, a par r das primeiras ocupações definidas, podem surgir outras, com diferentes formas e pologias, mas que se conectem entre si como uma rede, e integrem o sistema do parque.
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CONCLUSÃO Se a origem da arquitetura é modificar o espaço, criado a par r do processo da atuação de um povo, em sociedade, no território, e a transformação do espaço deve buscar a essência do lugar, então cabe à arquitetura revelar estes significados. A intervenção arquitetônica – seja o ato de projetar ou a obra construída – se manifesta como necessidade de interferência do homem no espaço. O homem busca a relação com o lugar, e essa interação é o habitar. Nas disciplinas de Geografia e Arquitetura a orientação e a iden ficação com o lugar são interpretadas através da relação entre vários fatores: ambientais, culturais, sociais e morfológicos. Os exercícios de projeto nos diversos territórios caminharam ao encontro dessas relações, e iden ficaram temas com os lugares em cada proposta. No território dos Estados Unidos, a torre foi a questão. A morfologia ver calizada de Chicago com a necessidade de compreender a escala do pedestre quando a torre toca o chão resultou na “mul plicação dos térreos” em um volume fragmentado. No Uruguai, a margem do Rio da Prata já havia sofrido modificação no passado: um aterro alterou a composição espacial e social. Os eixos da malha urbana existente geraram o desenho de uma plataforma de intervenção, com estruturas posicionadas em relação às tempestades de vento em Montevideo. Na Bolívia, o desnível geográfico entre as cidades de La Paz e El Alto sugeria o tema da borda, confirmado além do significado de limite sico e sim como lugar de confim do público e conflitos sociais, separações e suturas. As estruturas de equipamentos propostas podem ser replicadas de forma sistêmica e linear na paisagem do território. Já na Colômbia, onde o Rio Medellin par cipou da formação e ocupação do
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território, buscou-se retomar a relação do homem com este elemento natural. A noção de intersơcio foi tratada no desenho do vazio em um ensaio de adensamento habitacional, conectado ao sistema ambiental do parque do rio. Assim, a questão central abordada pelos conceitos e exercitada nas propostas é a relação do homem com os espaços. O processo de intervenção arquitetônica foi considerado como uma rede de fatores. As propostas em territórios singulares, específicos, em comum desenham o vazio considerando como objeto o espaço público, lugar de convívio e aproxima a relação do homem com o lugar que habita.
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REFERÊNCIAS ÁREA METROPOLITANA DEL VALLE DO ABURRÁ. Plan Integral de Desarrollo Metropolitano: Metrópoli 2008-2020 - Hacia la integración sostenible. Medellin,
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Disponível
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IMAGENS Capa: Território estrangeiro Imagem modificada pela autora. Disponível em: <h p://www.flickr.com/photos/ stefanb/6516149549/>. Acesso em: 19 mai. 2015 Figura 1, p.05: Christo e Jeanne Claude, Running fence Disponível em: <h p://pixshark.com/christo-and-jeanne-claude-running-fence. htm>. Acesso em: 19 mai. 2015 Figura 2, p.20-21: Olympia Center e Park Hya , em Chicago, envoltos pelo nevoeiro Disponível em: <h p://www.flickr.com/photos/sie en/3727509725/>. Acesso em: 19 mai. 2015 Figura 3, p.40-41: As águas furiosas do Rio da Prata Disponível em: <h p://www.flickr.com/photos/jikatu/6041852900/in/ photostream/>. Acesso em: 19 mai. 2015 Figura 4, p.62-63: El Alto, La Paz. Bolívia Disponível em: <h p://www.flickr.com/photos/kevinvasquez/8661010379/>. Acesso em: 19 mai. 2015 Figura 5, p.82-83: Medellin. Colômbia Disponível em: <h p://www.flickr.com/photos/romerogris/14556784841/>. Acesso em: 19 mai. 2015 Figura 6, p.98-99: Proposta para o parque do Rio Medellin Imagem modificada pelo grupo. Disponível em: < h p://www.archdaily.com. br/165814/primeiro-lugar-no-concurso-internacional-para-o-parque-do-rio-emmedellin>. Acesso em 12 nov. 2015 As demais imagens foram produzidas pelos grupos de estudo de cada módulo.
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