Ficha técnica
Idealização Raisa Pina Consultoria Elisa Freitas Diagramação Luis Felipe Oliveira Revisão Letícia Miranda Casa Espaço f/508 de Fotografia Artistas Alexandre Heller Ayanne Vieira Bruna Siqueira Danielle Guedes Débora Sabino Fernanda Matos Giullia Chaves Isabela Dutra José Roberto Bassul Laryssa Guilardi Letícia Miranda Luciana Melo Luis Felipe Oliveira Mariana Cerqueira Mário Sena Naiara Pontes Pillar Pedreira Plínio Ricardo Raisa Pina Sabina Dias Sandra Bethlem Sérgio Silveira Sonttè Télio Pacheco
Apresentação Tudo pode ser arte e qualquer um pode ser artista. A história da arte que conhecemos hoje é uma versão hegemônica que se perpetuou no tempo, sendo assim, nossa leitura deve ser sempre no sentido de questionar aquilo que nos foi apresentado como verdade suprema. Para uma meia dúzia de artistas consagrados e aplaudidos, existem milhares de nomes não menos importantes, excluídos dos livros, dos catálogos, das exposições, das coleções e das críticas. Charles Baudelaire disse, há dezenas de décadas atrás, que a obra de arte mais valiosa é aquela que está inserida no seu tempo, que consegue cristalizar a efemeridade do seu tempo. Qual a contribuição que promovemos ao aplaudirmos sempre os mesmos trabalhos exaltados há séculos? Mais rico é estarmos atentos às novas manifestações e aos novos nomes. Nesse sentido, avançamos pouco – para não dizer nada – ao nos remoermos em cima da questão “O que é arte?”. O surgimento da fotografia propiciou uma emancipação das artes plásticas ao libertá-la do dever figurativo mimético. A pintura não precisava mais se parecer com a realidade; agora ela pode ser expressão do artista e, portanto, qualquer coisa. Pode ser abstrata, pode ser gesto, pode ser o que encontramos pelo caminho cotidiano, inclusive aquilo que está quase sempre presente na nossa rotina, como o arroz. Durante o curso de História da Arte Moderna e Contemporânea, parte do programa de pós-graduação em Fotografia como Suporte para a Imaginação, do Espaço f/508 de Fotografia, refletimos sobre o registro teórico com olhar crítico e pensamos em como deve se pautar a produção artística da atualidade. Durante discussão, fui interpelada por um dos alunos que pontuou: “Entendo que tudo pode ser arte, mas parece que a arte contemporânea exagera. Que arte existe em se fotografar um grão de arroz, por exemplo?” O desafio estava posto. Conseguiríamos fazer arte com arroz? O resultado está nas páginas deste Fotozine. Como arte só existe em espaço de liberdade, convido o leitor-observador a tirar suas próprias conclusões, na esperança de provoca-lo a produzir sua própria arte e assim expandirmos a nosso horizonte de conhecimento. Uma sociedade ideal só é possível com intensa vivência artística. Raisa Pina Professora de História da Arte Moderna e Contemporânea
Sérgio Luiz Ilha, 2018
"É Preciso Sair Da Ilha Para Ver A Ilha. Não Nos Vemos Se Não Saímos De Nós". José Saramago
José Roberto Bassul Pérola, 2018
Grande exportador, o Brasil produz por ano cerca de 60 kg de arroz por habitante. Contudo, falta arroz para um número crescente de pessoas. Entre 2014 e 2017, passaram de 5 para 10 milhões os brasileiros em situação de insegurança alimentar. A representação do arroz como signo de riqueza alude a essa contradição.
Entre o Belo e o Horror, Desfaz grão a grão o traço, E a alma aventureira, Transbordada e sem limites, Grita. Entre o Clássico e o Moderno, Perfomancia grão a grão o indivíduo, E a alma desenlaçada, O que dirá até perdida, Sensacionaliza. Entre o Passado e o Futuro, Pulsa grão a grão o arroz, E as almas que apenas são, Inquietas e transformantes, Ampulhetam o Tempo: Tudo pode ser Arte? Tudo que é Arte simboliza a transitoriedade da vida.
Fernanda Matos Relógio de arroz, 2018
Entre o Amor e a Dor, Pinga grão a grão a memória, E a alma esperançosa, Repleta de vontade, Roga.
Télio Pacheco Tríptico do Dia a Dia, 2018
A fotografia como forma de expressão artística pode transformar o ordinário, o comum, o cotidiano. Podemos encontrar nas cenas mais corriqueiras beleza e poesia. Qualquer pessoa pode ser um artista a partir da observação, da contemplação e principalmente da experimentação. É preciso olhar para a vida, para o outro, para o que esta a nossa frente.
Sonttè Abati-uaupé, 2018
Alimento mais consumido do mundo, alimento da alma, da vida, e, dos rituais para alguns povos. Rico em hidratos de carbono, a China seu principal produtor. Rituais de casamento, de nascimento acompanham o seu cultivo a mais de 7 mil anos. O processo de parboilização conserva o grão por mais tempo. Zonas alagadiças são ideais para o seu plantio. ARROZ ARROZ ARROZ ARROZ ARROZ
Débora Sabino Sem título, 2018
Muitas superstições estão enraizadas na cultura japonesa. Por exemplo, acreditase que cravar um par de hashi em uma tigela de arroz atraí azar, pois desrespeita os mortos. Essa ação (hotoke-bashi) faz parte de um ritual budista no qual a família oferece uma refeição ao falecido durante o velório.
Letícia Miranda O alimento, 2018 O alimento não está em seu lugar habitual, tão pouco foi conservado de maneira adequada. Quando colocado sobre uma pá, no meio de um chão áspero, o arroz é lixo. Descartá-lo parece o próximo passo, um movimento natural para os alimentos que já não são comestíveis. Duro, sujo e em péssimo estado esse arroz ainda poderá alimentar alguém. Lixo e luxo. Do luxo ao lixo. O caminho do arroz, alimento tão comum nas refeições brasileiras, chega até as mesas por diferentes vias. Eis o arroz, a única parte orgânica desse cenário ríspido. Estabelecer um outro olhar sobre objetos comuns é uma forma de aterse ao cotidiano. Montar uma cena também nos possibilita repensar e perceber os detalhes.
Plínio Ricardo Sem título, 2018
Grãos de feijão formam a palavra arroz. Procurei explorar a relação entre símbolo, real e convencional. Lemos arroz, pensamos em arroz, sentimos até o gosto do arroz... mas afinal, onde está o arroz?
Naiara Pontes Cristal, 2018
Arroz que mata a fome, arroz que alimenta, arroz que compra, arroz que vende, arroz de todas as culturas, arroz dos povos, arroz das gentes. Sem dinheiro, nĂŁo hĂĄ arroz. O cristal que alimenta o mundo, precisa do dinheiro para brilhar.
Bruna Siqueira Arroz da prosperidade, 2018 Símbolo de fartura, fortuna e fertilidade, o arroz é o protagonista de diversas crenças e rituais. Com a intenção de representar estes elementos foi realizado um reposicionamento deste grão a um contexto diferente do seu cotidiano, manifestando suas simbologias no meio visual.
Mário Sena Sem título, 2018
Arte está em todo lugar, em qualquer lugar. Muitas vezes é o próprio lugar. Esteja você preparado ou não para compreender, ela estará lá. Tal qual o saquê que é transbordado diante dos olhos do convidado celebrando a fartura e abundância, pelas mãos do anfitrião.
Isabela Dutra Fotoperformance Sem título, 2018 Às vezes não sei o que dizer, quando parece que tudo já foi dito Às vezes não sei o que fazer, quando tudo já dito parece que não foi dito Às vezes muito do dito é pouco mas só pouco do que foi dito é ouvido Parece que tudo o que é dito, do que foi vivido É pouco, para afetar quem não vive Parece que o grito, é baixo Para se escutar do alto E às vezes, quando se escuta, incomoda E grita pra baixo: O que me interessa é a raça humana Não vira pauta, vira a página Às vezes vira pó
Giullia Chaves Gosto da Memória, 2018 O arroz tem um papel importantíssimo na cultura asiática. A princípio, quando começaram a cultivar arroz, os povos do Japão deixaram de ser nômades e passaram a ser sedentários, formando verdadeiras sociedades em volta dos cultivos. Por essas e outras razões a culinária japonesa envolve tanto este alimento milenar. O processo da fotografia ao lado envolve algumas pesquisas a respeito do grão, e conversas com conhecidos que descendem de povos japoneses. Já a imagem em si, retrata uma pessoa por quem tenho muito apreço. Luiza Kavamoto perdeu seu avô em 2016. Segundo ela, ele que a ensinou a comer comidas naturais do Japão e o nigiri era uma de suas peças preferidas do prato típico. A imagem tornou-se uma homenagem a ele e um prazer para ela por degustar um prato que a remete a tão boas lembranças.
Danielle Guedes Sem título, 2018
A síntese da foto é a empatia. Tão necessária, mas tão escassa quanto (ainda) o arroz no prato de milhares de brasileiros. Exercitando a empatia, dá nojo imaginar a farinha passando de mão em mão antes de ir ao meu prato. Mas não consigo imaginar a fome, além daquele pequeno espaço entre as refeições
Sabina Dias Cơm, 2018
Nas culturas asiáticas, o arroz tem papel quase mítico e isso é refletido nas línguas. Ao usar a palavra "arroz" para significar "comida" ou "refeição" essas culturas elevam o arroz a um nível mais alto do que o de mero cereal, para representar o próprio conceito de alimento, a essência da vida
Laryssa Guilardi Araújo Indivíduo,2018 Qual característica nos distingue dos demais? Até que ponto somos de fato indivíduos? Na sociedade contemporânea, conectada a todo instante, percebemos cada vez mais o quão iguais somos, mesmo em nossas dissonâncias. A presente imagem traz como proposta a representação da “massa” social na qual estamos todos inseridos. Vistos a partir de um plano aberto, apenas entre luz e sombras, percebe-se como somos os mesmos – apesar de não sermos. A construção da imagem se deu ao contrapor o arroz, grão extremamente popular na cultura brasileira e presente na maioria das casas do país, com a luz da tela de um computador portátil. Buscou-se a representação imagética e abstrata dos indivíduos que, quando colocados na correnteza do todo, perdem sua posição de “seres únicos” e passam a ser parte de uma composição que os extrapola e, ao mesmo tempo, os revela similares aos seus pares. Levanta-se a indagação sobre nossa própria individualidade, se a perdemos em nossa rotina ditada, ou se a fortalecemos ao nos entranharmos na sociedade. Ao nos encontrarmos nesta malha entrecortada por feixes de luz, completa escuridão, e centenas de outros grãos como nós, todos em constante movimento – indo para algum lugar ou lugar nenhum –, somos nós mesmo ou somos os mesmos?
Alexandre Heller 1 real de arroz, 2018
"1 REAL DE ARROZ" foi idealizado pelo artista Alexandre Heller, com o objetivo de destacar o arroz como o produto consumido por mais de 2/3 da população mundial, e ao mesmo tempo tão mal distribuído ao redor do mundo, inclusive no Brasil, onde as taxas de pessoas que passam fome se aproxima de 7 milhões, um número expressivo para um país que é auto suficiente em produção de arroz. Através da fotografia, o desejo é tentar tocar o pensamento de quem contempla o arroz, objetivando uma possível reflexão que nos traga questionamentos e novas respostas ao que se refere ao abastecimento e distribuição de alimentos negligenciados além dos valores exorbitantes. Então o processo inicia com uma analogia do arroz ao cenário político-econômico atual. Inflação, crise, desemprego e corrupção são fatores que favorecem a alta no preço dos produtos de base, além da má distribuição, reduzindo as possibilidades de acesso às minorias. Assim o valor real de nossa moeda pode ser avaliado pelo espectador, evidenciando o real poder de aquisição e sua dimensão no quadrante proposto. Com base nessas desigualdades encontra-se no processo criativo do artista, a equivalência de 285 gramas para cada 1 real. Replicando em formas esféricas, quase sistematizadas, de 120 pontos de arroz que possuem aproximadamente o tamanho de uma moeda de 1 real, na qual a mesma foi alocada ao centro da imagem em um espaço de 51x43cm, mostrando as dimensões que 1 real de arroz realmente ocupa.
Ayanne Vieira Sem título, 2018 Do passado me perco Do futuro me projeto Do presente... Não vejo realmente Vejo apenas a ilusão Do instante que protejo
Pillar Pedreira Luz para Todos, 2018 Há mais de 4 mil anos, povos antigos ofereciam grãos de arroz como forma de desejar saúde, riqueza e felicidade. Originada na China e na Índia, a tradição de jogar arroz ao final da cerimônia de casamento surgiu para que os convidados demonstrassem seus desejos de prosperidade e fertilidade ao casal. Utilizando esse conhecimento, fiz a foto onde o arroz se confunde com pontos de luz e a mão que os alcança representa todos os brasileiros, que têm vivido momentos de sombras.
Luís Felipe Sem título, 2018 O arroz é usado de qualquer maneira para celebrar a fundação que ele tem em sua vida. Quando pensamos na culinária chinesa, a resposta óbvia é arroz. Hoje em dia, o arroz é um alimento muito importante em todo mundo. Para os chineses, não é apenas sua dieta, mas um símbolo da vida. Tem história de cultivo há quase 4.000 anos e acredita-se que seja o grão mais antigo como alimento. É por isso que seu cultivo desenvolveu amplamente uma cultura agrícola dos povos na China. E devido às temperaturas de inverno, só é possível realizar uma colheita de arroz por ano. Desta forma, é muito mais do que uma refeição para os chineses, porque é fundamental em muitos aspectos de suas vidas e tem muita influência na cultura e prosperidade da sociedade chinesa.
Sandra Bethlem Sém título, '2018 Fazendo uma alusão as várias características do arroz, apresenta o universo homoafetivo feminino.
Luciana Melo A Vanguarda Clássica do Sr. Arroz, 2018 Arrasando na avenida vem o Sr. Arroz: elegante, minimalista e esbelto no seu branquinho básico Sempre na moda, ele desfila faceiro, multicultural, para além dos modismos e ditames Carboidrato universal, pequeno e versátil, branco ou preto, humilde e zen Ele reina no sushi, sashimi, no risoto al dente ou no doce com canela Dança sorrindo das estações com sua sabedoria cor de neve e Sapateia na cara da concorrência com seu design atemporal Passeia com seus diferentes figurinos e maquiagem E até em casamento dá o ar de sua graça Antigo, milenar e clássico bem que Poderia ser elitista, mas não é! Preferiu a democracia e de Dentro d'água se articula Faz política de verdade Alimentando bilhões No mundo todo Sem perder O rebolado O charme E a pose ........... Sr. Arroz
Mariana Cerqueira sem tĂtulo, 2018
Nipobrasileiro para comer com os olhos. E se o prato tradicional de arroz com feijĂŁo e farinha tivesse surgido na terra do sol nascente?
Raisa Pina Jonas faz arroz, 2018
Vivemos hoje o mito da igualdade de gênero. Em almoços de família, observo que as mulheres “naturalmente” cozinham enquanto homens são servidos. E quando aponto para essa desigualdade, recebo suspiros impacientes. É assim na minha família e em grande parte desse Brasil. Mulheres se dedicam 73% a mais que homens aos trabalhos domésticos. No meu espaço privado, construo o mundo com o qual luto para um dia transbordar para o espaço público. O pessoal é político, e é do micro que se atinge o macro.