GenoPolis [Genus + Polis] Genus
+ Polis
= GenoPolis
Agrupar segundo uma taxonomia, em que taxonomia é a classificação segundo uma regra, lei ou uso. Antiga Cidade Grega. Cidade murada e regida segundo uma lei oikos . Uma lei de administração sábia da unidade privada e o controlo dos relacionamentos privados. Cidade/metro polis do século XXI, uma cidade genérica murada na esfera social e espacial, que se rege sobre uma lei económica.
I
RESUMO Palavras chave: metropolis, não-lugares, global, genérico, expulsões, favelas.
GenoPolis, o ultimo organismo da cidade que se divide entre lugares e nãolugares, entre local e global, entre identidade e não-identidade, genérico e único, igualdade e desigualdade, onde os paradigmas nos perseguem e a cidade é o espaço atingido. Como reação à industrialização do século XIX, as cidades expandem-se. Esta expansão é um crescimento de quase dois séculos e o planeamento, foi e continua a ser a forma das cidades reagirem à realidade que nos é trazida pelas circunstâncias. Com a expansão, surgiu uma nova realidade através da reação, a reutilização do espaço urbs na cidade. Esta reutilização do vocábulo fez, por sua vez, mudar o significado da palavra cidade, de civitas, espaço do palco político, para passar a chamar-se urbs , designandose a uma esfera material e económica. A cidade influenciada por esta mudança passou a representar um interesse privado, uma lei económica, que se aproveitou e aproveita da cidade através do urbanismo, para tentar produzir mais lucro. Esta forma de economia parece prevalecer em todos os sistemas políticos, independentemente do regime ou população. No capitalismo, os lucros e a prosperidade da riqueza são os principais objetivos de quem tem o capital. É esta filosofia, forma de pensar e agir, que dá origem à GenoPolis. A economia materializa-se na forma de urbanização, os excedentes apropriam-se de um direito de todos, o solo. A economia do conhecimento é o organismo socioeconómico da atualidade, que se traduz numa luta por um conhecimento. A especialização do homem liderou e lidera o acesso à nova sociedade. As cidades tornam-se em cidades-nação, onde o conhecimento passa a trazer esse estatuto. A centralização é a forma de atingir o estatuto, criando assim uma cidade global, integrada na nova sociedade. As Cidades Globais, agora, mais do que nunca, ligam-se através de redes. Esta ligação ao conhecimento forma um caminho, que tem como objetivo que a cidade se torne num ponto nodal, um nó de intersecção na rede global. Esta interseção trouxe um paradigma, que sempre esteve presente na sociedade, a igualdade, ou melhor, a desigualdade, que só que agora foi levada ao extremo, onde o solo se torna no palimpsesto por uma reivindicação perpétua da cidade, e divide a cidade. O espaço da Genopolis são os lugares, onde uma cultura se espalha e se homogeneíza e que causa a polarização e a fragmentação da cidade, onde limites se impõem. Os limites outrora físicos transformam-se, atualmente, numa barreira social onde uma grande maioria é excluída. Contudo, esta maioria nutre a esperança e sente a necessidade de ter a oportunidade de um dia ter espaço na cidade. A fragmentação e a segregação são os problemas que emergem na GenoPolis, a metropolis do século XXI. Foucault inventou a palavra heterotopia para criticar a perda da humanidade no modernismo e a criação de uma cidade de produção em massa. Desta forma, a Genopolis vive também na heterotopia, uma realidade segundo a ciência heterotópica. Surge a oportunidade da materialização da realidade através de uma contra-realidade, onde, por via de um manifesto, se cria uma inclusão social e espacial nos centros das metrópoles, emergindo uma cidade diferente, que tem como objectivo ser a solução, ao tornar a cidade mais justa.
II
ABSTRACT Keywords: metropolis, non-places, global, generic, expulsions, slums.
GenoPolis, the last organism of the city that is divided between places and non-places, between local and global, between identity and non-identity, generic and unique, equality and inequality, where paradigms persecute us and the city is the affected space. In reaction to nineteenth-century industrialization, cities expand. This expansion is a growth of almost two centuries and the planning, was and still is the way cities react to the reality brought to us by the circumstances. With the expansion came a new reality brought by the reaction, which reused the urbs space in the city. This reuse of the word changed the meaning of the word city, from civitas, space of the political stage, to be called urbs, assigning itself to a material and economic sphere. The city influenced by this change came to represent a private interest, an economic law, which took advantage of the city through urbanism to try to produce more profit. This form of the economy seems to prevail in all political systems, regardless of regime or population. In capitalism, profits and prosperity of wealth are the main goals of those who have capital. It is this philosophy, way of thinking and acting, that gives rise to the GenoPolis. The economy materializes in the form of urbanization, the surplus appropriates a right of all, the soil. The knowledge economy is today’s socioeconomic organism, which translates into a struggle for knowledge. The specialization of man led and leads access to the new society. Cities become nation cities, where knowledge comes to bring this status. Centralization is the way to achieve status, thus creating a global city, integrated into the new society. Global Cities now, more than ever, connect through networks. This connection to knowledge forms a path, which aims to make the city a nodal point, a node of intersection in the global network. This intersection has brought a paradigm that has always been present in society, equality, or rather inequality, which has now only been carried to an extreme, where the soil becomes the palimpsest for a perpetual claim of the city and divides the city. The space of Genopolis is the places where a culture spreads becomes homogeneous and that causes the polarization and fragmentation of the city, where limits are imposed. Formerly physical boundaries nowadays become a social barrier where a large majority are excluded. However, the majority nourish hope and feel the need to have the opportunity to one day have space in the city. Fragmentation and segregation are the problems that emerge in GenoPolis, the 21st-century metropolis. Foucault invented the word heterotopia to criticize the loss of humanity in modernism and the creation of a mass-produced city. Thus, Genopolis also lives in heterotopia, a reality according to heterotopic science. The opportunity arises for the materialization of reality through a counter-reality, where, through a manifesto, social and spatial inclusion is created in the centers of the metropolises, emerging a different city, which aims to be the solution, by making a fairer city.
III
AGRADECIMENTOS
Agradecer aos meus pais, pela educação, pelos valores que espero transparecerem em mim, por desejarem o melhor de mim e me terem dado a oportunidade de crescer e conhecer um mundo. E agora outro mundo, o meu maior desejo é que tenham orgulho em mim, dessa forma agradeço: À minha mãe por me ensinar a lutar as minhas batalhas e por me ter tornado no que, hoje, sou. Sempre me instrui a ser melhor, a acreditar que a seguir ao esforço vem sempre a recompensa. Obrigado por todos os esforços e sacrifícios que me permitiram completar esta etapa, sem ti não tinha sido possível. Ao meu pai, em especial por sempre me ter alertado, direcionado, advertido, e aconselhado de todos os perigos que podia encontrar nesta vida e principalmente por me ter incutido disciplina e um dos valores pelos quais mais prezo, a justiça. Ao meu irmão, que sempre me acompanhou, a pessoa que as palavras não chegam. Agradeço pela ajuda nos piores momentos e permitires as risadas nos melhores, um alicerce nos momentos mais vazios. Obrigado por me teres acompanhado desde o momento em que nasci, e me teres tornado uma pessoa mais forte, e que o nosso amor seja eterno. À minha irmã pela companhia e ajuda que prestou sempre comigo, e por me ter mostrado muitas vezes o que é a empatia e o verdadeiro altruísmo, na complexidade encontramos a simplicidade, assim se resume a nossa relação. Ao meu irmão de essência, Mariano, agradeço por todos os gestos, porque quando palavras não chegavam demonstra-te estima, apreço, respeito, irmandade e amizade. Sempre acreditas-te em mim, mesmo nos momentos mais complicados, um infinito obrigado. Interminavelmente serviste de inspiração contínua para me tornar o que sou hoje. Obrigado por me teres permitido aprender o sentimento de força de vontade, persistência e acima de tudo coragem, pois no momento em que surge o impossível, tornas-te numa fonte de vida. O meu desejo é que tenhas o mesmo orgulho por mim que nutro por ti quando te chamo irmão. A minha vontade é que o sentimento seja perpétuo. À Gabriella, Bia e Dali, que assim que entraram na minha vida tornaram-se família, proporcionaram-me momentos incríveis e inesquecíveis, risos infinitos e conselhos determinantes, ensinaram-me e demonstraram o que há na vida nos piores momentos, e tornaram o meu coração mais cheio. Sou uma pessoa muito mais plena por vos ter como família, e estarem presentes na minha vida. À minha segunda família, Mariana, Miguel, João, Ricardinho, Tixa, Carina, Sr. Sérgio, D.Ema, porque sempre me estimaram, e como um trabalho depende de um fruto diário, agradeço por me terem acolhido, ajudado a lutar pelos objetivos, por me terem proporcionado crescer tanto a nível profissional como pessoal ao vosso lado. Finalmente, mas não menos importante, por me proporcionarem mais que uma casa, um lar. Por tudo isto e por muito mais desejo-vos o melhor que a vida permita, e espero uma família para a vida.
IV
À família Mendes por todo o acolhimento e carinho que me ofereceram estes anos na Capital, um obrigado de coração cheio. Ao meu orientador e professor José Crespo, um eterno agradecimento, por acreditar em mim, perceber a minha cabeça confusa, e acima de tudo pela amizade e pessoa que demonstrou ser. Mais que professor mostrou um ser humano, sempre disposto a ajudar e a procurar o melhor de e para mim. Ao meu orientador e professor Jorge Nunes, agradeço pelo tempo disponibilizado sempre comigo, pelas longas conversas que me permitiram desenvolver este trabalho, pelo rigor e por todo o conhecimento transmitido que me enriqueceu e foi fundamental, sem ele não seria possível a sua realização deste trabalho. À professora Isabel Rosa, por toda atenção e carinho que demonstrou para comigo durante o meu percurso. Agradeço por me ter dado a oportunidade de aprender consigo e me ter ajudado a tornar no futuro profissional que me irei tornar. Mais que uma professora demonstrou ser uma amiga, um eterno agradecimento. À Cat por toda a ajuda preciosa e por toda a preocupação na reta final, que me permitiu entregar o trabalho. Nos momentos mais difíceis vemos os verdadeiros amigos. Por fim, mas não menos importante, porque foram companheiros de jornada, nas entregas e nas noites sem dormir, tiveram paciência e vontade de me dar força para chegar a este momento. Por toda a ajuda, companheirismo e amizade nua e crua que permitiram momentos inesquecíveis, que me aconchegam a alma, a estes Rita, Marcelo, Ribeiro, Pedro, Lourenço, Guida, não é um fim mas um esperançoso começo ao vosso lado.
ÍNDICE
RESUMO
I
ABSTRACT
II
AGRADECIMENTOS
III
A
INTRODUÇÃO A.1 A.2 A.3 A.4
B
Questões de Trabalho Objetivos Metodologia Estrutura
O ENTRE-LUGAR B.3 O Entre-Lugar
28
03 34 46 54
A MATERIALIZAÇÃO DA CIDADE GLOBAL 04 D.1 D.2 D.3 D.4 D.5
A Cidade Genérica 65 O Urbanismo como impulsionador do Genérico 80 O Modernismo como Genérico e fragmentador da Cidade 90 A Cidade Genérica como um Tipo 97 As Favelas Genéricas como produto da Economia do Conhecimento 102
A GENOPOLIS E.1 E.2 E.3 E.4
F
02 18 22
C.1 Das cidades às metrópoles C.2 Das metrópoles às Cidades Globais C.3 A Cidade Global como expressão da Globalização
E
12 14 15 16
B.1 O Lugar B.2 O Não-Lugar
C A GLOBALIZAÇÃO E AS CIDADES
D
06
A GenoPolis A Gentrificação e as “Expulsions”, os problemas da GenoPolis A GenoPolis como lugar Heterotópico O Manifesto como materialização da Heterotopia: Open Civitas
05 115 124 136 142
CONSIDERAÇÕES FINAIS
06
BIBLIOGRAFIA
07
ÍNDICE DE FIGURAS
08
APÊNDICE
09
10
A.
INTRODUÇÃO
A cidade e o indivíduo, que inerentes e mesmo intrínsecos se relacionam e inevitavelmente, formam e moldam o mundo, a sociedade e o espaço da cidade. Com este pressuposto e com a inevitabilidade de todo o ser humano tentar e, ou, ter o sonho de mudar o rumo da humanidade, surge a possibilidade de observar e criticar a cidade ou, pelo menos, a tentativa de com o processo a melhorar e tentar perceber as suas dificuldades, que se tornaram a preocupação neste trabalho. Apesar de o trabalho ser uma reflexão individual, a tese aborda um tema coletivo, a cidade, ainda assim como dizia Janet Abulughod, “a mensagem que nós passamos na nossa escrita é o coração da perturbação que encontramos no nosso mundo”, desta forma a visão sobre os problemas é influenciada pelos olhos que a vêm. A cidade, com a grande expansão urbana, tornou-se a solução futura para o Homem. A urbanização e a expansão urbana são fatores com os quais lidamos mais frequentemente e gradualmente o espaço urbano tornou-se no espaço de convivência (consultar gráfico de população urbana versus a rural, no Apêndice). Exemplo deste pressuposto são alguns estatutos como Urban Fabrics. Estes temas têm sido bastante abordados, há já imenso tempo por inúmeros autores. O facto de, enfrentarmos problemas na cidade como a congestão, o grande fluxo, a poluição, a perda do controlo do crescimento, a necessidade de mais construções no mesmo espaço, levou-nos às metrópoles e às cidades que encontramos e observamos pelo mundo, cidades que reagiram e se transformaram. A noção de cidade é, atualmente, cada vez mais vazia e vulgarizada. Isto é uma consequência dos novos dualismos e dos paradigmas, que as cidades enfrentam. Temos como exemplos a identidade versus a não-identidade, o Local e o Global, o Individual e Coletivo, a igualdade e a desigualdade. A cidade transforma-se em espaços de grandes fluxos, de grandes acontecimentos, de experiências, e de partilha de conhecimento, o espaço onde as coisas acontecem. Esta ideia é reforçada com uma robusta e famosa frase de Jean Atalli, “Everywhere More Things and Less Important” (Koolhaas, 2000:26). Para produzirmos uma cidade melhor para os cidadãos é necessário termos uma preocupação com os problemas e a maneira que estes afetam e influenciam o planeamento e o pensamento da cidade. Para produzir uma crítica exige-se que se entenda a natureza da cidade, a sua história, em que contexto se desenvolve e o estado do seu desenvolvimento. Só assim conseguimos chegar às melhores estratégias, e ultrapassamos todos os obstáculos, para que seja realmente possível atingirmos o propósito inicial.
11
GenoPolis A cidade genérica como palco da fragmentação das metropolis e a polarização da sociedade.
1
GENOPOLIS
Tema Sub-tema
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A.1
A
INTRODUÇÃO
QUESTÕES DE TRABALHO Estaremos nós perdidos, ou melhor, distraídos com as banalidades que predominam no mundo? Vivemos numa era do quanto maior e mais rápido, numa era altamente tecnológica, instantânea e imediata, onde tudo parece acontecer a uma grande intensidade. O mundo tornou-se num lugar em que a empatia deixou de ter espaço e foi substituída por um pensamento individualista que a sua preocupação é apenas com o lucro. Não terá sido o séc XX, onde predomina uma importante evolução do mundo, devido à rápida evolução da sociedade, um século de esquecimento? “(…) perdemos a espontaneidade do sentimento (…) contra a doença furtiva da regularidade rígida e geométrica, nada mais eficaz que o antídoto da teoria racional.” (Sitte, 1945:36). Será que este racionalismo nos levou a um mundo repetido, e assim à generecidade? O genérico pressupõe uma ordem, onde o único não tem espaço para acontecer. Não nos teremos esquecido do funcionamento da cidade? Foram desenvolvidos modelos para a cidade que partem do pressuposto de que somos uma tábua rasa, e que, a partir daquele momento será possível deixar de parte a cultura, o eu, e todo o conhecimento que o homem assimilou, e passamos a viver como máquinas em contradição a individualidade do homem. Comparativamente, temos o caso das cidades projetadas por Le Corbusier, em que separa a população pelo espaço que lhe é confinado, através de regras rígidas e um limite que não é suposto ser ultrapassado ou mudado, onde os espaços, a partir daquele momento, não se adaptam ao homem mas vice-versa. Por outro lado, o Homem tende a reagir a limites, impondo uma ordem na reação. Na maioria das vezes pensamos que conseguimos prever as situações, mas na verdade o ser humano apenas reage, e não prevê. Todos os movimentos reacionários por que a sociedade passou, desde a cidade no seu significado etimológico até à cidade que conhecemos atualmente, foi a evolução de um núcleo que reagiu. Este tipo de pensamento aplica-se a tudo o que envolve o Homem, a ideia de que nós conseguimos prever é uma ilusão, impomos limites, uma ordem, e reação após reação surgem as cidades e a evolução do organismo. Então, as questões que surgem são: Que tipo de ordem foi imposta através da reação que levou à cidade dos dias de hoje? Como é que chegamos a esta generecidade, que tudo parece cada vez mais similar? Será que existe mesmo homogeneidade? Que tipo de ordem foi imposta através da reação que levou à cidade dos dias de hoje? Terá sido a falta de identidade o problema que criou a generecidade? A cidade, hoje em dia, parece perdida com falta de identidade devido a uma suposta globalização. A globalização tinha como objetivo inicial a troca de informação e de técnicas, a ideia de ter um mercado comum, um turismo global, transformaram a globalização numa universalidade de valores, de direitos do homem, de cultura, de regime político, e mesmo de liberdades (Bau- drillard, 1997). Desta forma a globalização é acusada de criar uma homogeneidade no mundo e nas cidades. As Cidades Genéricas, que como o próprio termo indica, não trazem particularidade de nenhuma cultura ou país mas sim de todos, as cidades globais, são compostas por não-lugares que, por sua vez, são lugares que existem mas onde a sua espacialidade não determina um lugar específico, mas sim lugares com uma não-identidade, que refletem o fluxo da população genérica destas cidades que hoje se formam pelo mundo devido à globalização. As cidades globais surgem da reflexão de uma economia capitalista, onde a sua única preocupação é o lucro e são desta maneira o resultado de um mundo industrializado e universalizado, que competem numa rede, em que cada cidade forma um ponto central numa competição para ser a cidade predileta, a mais global. Numa tentativa de
13 GENOPOLIS
chegar de atingir esse estatuto, as cidades têm que se tornar mais homogéneas nesta cultura global, e materializam-se cidade globais em cidades genéricas. Cidades onde a horizontalidade transforma-se em verticalidade e se torna “more a necropolis than a metropolis, a sterile landscape of asphalt and cement; inhuman in every respect.” (Hilberseimer, 1932:20). A verticalidade expressa-se em torres, que parecem ser o organismo final de uma cidade que reflete a imagem de um mundo e de uma sociedade. Essa imagem de cidade reflete a materialização de uma economia que funciona à base de conhecimento. A informação e os “data” já se tornaram os produtos mais desejados e mais caros da sociedade. Esta era de conhecimento em rede traz consequências como a fragmentação das metrópoles. A rede de conhecimento obriga atualmente à centralização das cidades que consequentemente resulta na segregação da cidade e numa sociedade que está cada vez mais polarizada e desigual. Serão as torres, os organismos centrais da cidade, os únicos espaços genéricos desta sociedade? Esta centralização não provoca, por parte da população excluída, uma reação nas metrópoles, em que reivindicam o seu direito à cidade, formando no limite da mesma um processo ele próprio também genérico? Se assim é, que cidades temos atualmente? Que tipo de ordem pode ser imposta nos dias de hoje nas mesmas?
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A.2
A
INTRODUÇÃO
OBJETIVOS O trabalho surge enquanto uma crítica ao organismo atual da cidade. Após observarmos que as cidades estão cada vez mais similares, onde a distância deixou de ser um fator característico de cada cidade e onde a identidade de cada cidade parece cada vez mais genérica, uma vez que as características da cidade surgem através de uma relação da sociedade com o espaço que formam uma identidade, é necessário entender essa relação de similaridade que se traduz em generecidade. Inicialmente o objetivo foi perceber a influência que a identidade tem perante o espaço desta forma foi necessário estudar o seu começo. Chegamos aos “lugares antropológicos” de Marc Augé, onde pessoas distintas, devido à proximidade e à necessidade de proteção, de ajuda e de comunicação, começaram a formar os primeiros grupos/ comunidades de pessoas. Neste lugares encontramos identidade e, ao mesmo tempo, um paradigma atual, os não-lugares, que são espaços sem identidade, da sobremodernidade, espaços de fluxos e de repetição. O estudo passa por entender como é que estes lugares e não-lugares se relacionam com a cidade. Desse objetivo resulta um estudo da cidade, desde o seu surgimento, até às metrópoles, em que uma cidade passou a agregar mais cidades até à cidade global que parece ser o organismo atual e final identificado. As Cidades Globais são o espaço que agregam e materializam o genérico. Desta forma o terceiro objetivo passa por perceber o que é uma Cidade Genérica, onde as torres, espaços isotrópicos e enclaves, preenchem as cidades, através da repetição do mesmo objeto infinitamente, espaços onde a generecidade e a homogeneidade predominam e o imprevisível não tem praticamente espaço para acontecer. A consequência é a cidade tornar-se num lugar monótono e solitário, que se traduz na forma de não-lugares. O quarto objetivo é compreender a metrópole genérica do século XXI, com a procura e o objetivo de identificar as causas que levaram ao estado onde a cidade se encontra hoje. Entender de que maneira o espaço influencia e molda a sociedade, dita, em rede. Identificar os movimentos que têm como objetivo reivindicar a cidade e a razão pela qual, hoje, a mesma é caracterizada por injusta e é dominada por uma economia capitalista global. O objetivo final seria criar um manifesto, em que a sociedade se torna mais consciente dos seus problemas, numa cidade acessível a todos, em que o solo deixa de ser um poder da economia capitalista e começa a ser um direito de todos.
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A.3
Este trabalho surgiu de uma preocupação inicial com as cidades atuais, que cada vez mais se assimilaram umas às outras, e que parecem criar uma distância entre os Homens e, ainda, a perda da preocupação destes no espaço urbano. Desta maneira observou-se a ideia de que tudo está cada vez mais igual, não só as cidades mas também o Homem, uma cultura e costumes que parecem homogeneizar-se. Faz-se uma revisão bibliográfica das principais obras e autores dos temas em debate, para tentar produzir um argumento crítico coerente e atual destes problemas. Essas cidades trazem-nos novos lugares, que por sua vez leva ao aparecimento de novos espaços, que Augé (2005) intitulou de espaços da “sobremodernidade”, isto são os não-lugares, em que as pessoas deixam de ter identidade e deixam de se relacionar umas com as outras, surge, então, o espaço da solidão do Homem. Ironicamente, é precisamente nos lugares com maior taxa populacional por metro quadrado que se denota mais frequentemente esta realidade. É exatamente este facto que cria um paradigma e uma preocupação: a perda da cultura e da identidade são a causa desta solidão? Para percebermos como se chegou ao ponto em que aparentemente estamos é necessário e, praticamente, obrigatório perceber profundamente a natureza da cidade, a sua história, em que contexto é que esta se desenvolveu e o estado do seu desenvolvimento, apoiando-nos em autores como Aureli (2011), Giddens (1999) e Sassen (1991 e 2007). Após se dissecar tudo isto, chegamos às cidades globais que se materializam em cidades genéricas, através de uma aparente globalização. Daqui partiu a necessidade de explorar uma nova análise da cidade genérica que Koolhaas (2005) tinha identificado em “Generic City”, originalmente publicado em 1995, numa procura de entender o que é uma cidade genérica nos dias de hoje e quais os problemas que essas podem trazer e trazem à sociedade. Outros autores estudados que abordam estes temas são Davis (2006), Hilberseimer (2012), Aureli (2011) e ainda Rossi (1984) onde se abordam temas, respetivamente como favelas genéricas, a modernidade, o urbanismo e a definição de tipo. De seguida, procurou-se identificar os principais problemas que a cidade e a sociedade atual estão a enfrentar e que formam a nova metrópole através de autores como Sassen (1991, 2007, 2014 e 2015) e Harvey (2010 e 2014). Após a identificação desta metrópole atual o objetivo torna-se a procura de resolução de problemas na forma de um manifesto escrito e visual, que está localizado no lugar heterotrópico de Foucault (2013), capaz de sensibilizar o leitor a olhar para a cidade de forma diferente.
GENOPOLIS
METODOLOGIA
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A.4
A
INTRODUÇÃO
ESTRUTURA Num primeiro momento em “O ENTRE-LUGAR” o trabalho incide sobre lugares que existem e se formam com a relação entre pessoas, espaço e tempo, que impõem limites. Estes lugares opõem-se à existência de não-lugares, dando abertura para que emerja um paradigma. Paradigma que surge com a identidade do espaço, onde os lugares têm identidade e os não-lugares têm uma não-identidade. Existe uma identidade homogénea, que concebe experiências repetitivas em que a interação do homem não é, em momento nenhum, incentivada e estimulada, muito pelo contrário, e que transforma e conduzo mundo a uma identidade globalizada. Mas o que acontece entre estes espaços, aliás, o que acontece na junção dos dois espaços? Surgem, os entre-lugares que são espaços que intersetam e que ligam estes dois lugares, que se baseiam em cidades que encontramos atualmente, as cidades globais que têm uma cultura global e ao mesmo tempo local. Mas até que ponto é que estes espaços transformam os cidadãos? Em “A GLOBALIZAÇÃO E AS CIDADES” explora-se o termo cidade e a sua definição etimológica e figurativa. Esforçamo-nos por perceber, assim, a evolução e a reação do núcleo da cidade até ao momento em que as cidades começam a ter problemas devido à sua expansão, levantando questões sobre a insalubridade e a falta de habitação nas cidades, e desses problemas nasce o urbanismo. Surgirão desta forma as metrópoles, que partem do pressuposto de uma conexão entre as cidades a uma cidade-mãe, sendo uma reação à industrialização, onde a procura por uma vida melhor e um trabalho leva as pessoas a migrar até às cidades. As metrópoles surgem como solução a esta nova forma de produção que evolui e ergue-se como capitalismo global. Este último depende inteiramente destas cidades que, com o processo Globalização, num momento final através de uma sociedade em rede, há uma mudança no conceito de espaço e de tempo, formando-se Cidades Globais e uma Economia Global. No terceiro momento, em “A MATERIALIZAÇÃO DA CIDADE GLOBAL”, nestas Cidades Globais, onde se gera o conhecimento através de uma rede, as cidades materializam-se e tornam-se em Cidades Genéricas. As cidades pós-contemporâneas são, desta maneira, produto de uma crescente urbanização que reage criando estruturas homogéneas, mas de uma maneira aparentemente anónima. Esta imagem da nova forma da metrópole é partilhada, não só pela arquitetura, mas também pela economia e pela sociologia, sendo vista como uma imagem de cidade a atingir. Explora-se o processo de urbanização e de que maneira é que este influenciou a repetição do mesmo módulo. Foi alvo de pesquisa a forma como o modernismo criou uma ideologia e uma cultura que nos é vendida como imagem de felicidade individual, atrás da implantação de um racionalismo e funcionalismo. O conceito de tipo, neste trabalho, foi utilizado como objeto para reproduzir uma imagem de cidade cujo objetivo seria a reprodução em modelo, isto é, a cópia. Para fechar o capítulo analisa-se um movimento através de um processo de assentamento das pessoas nestas cidades, as favelas, que surgem da reação à reprodução destas cidades genéricas influenciadas pela nova economia, a do conhecimento. Num último momento foi identificada a nova metropolis, a “A GENOPOLIS”. A seguir foi descrito os processos e os problemas que são identificados na nova metropolis, a gentrificação e as “expulsions”. A GenoPolis é um lugar heterotrópico, descrito por Foucault, um espaço de muitos espaços, onde o tempo é uma junção de tempos, onde uma ordem individual é incutida num contra-espaço que tem como objetivo criticar a sociedade. Para finalizar o trabalho expressa-se um manifesto enquanto declaração pública de uma possível intenção, uma mudança da atitude através do entre-lugar, cujo intuito é devolver e reivindicar o espaço civitas comum a todos, à cidade e às pessoas.
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B.
GENOPOLIS
O ENTRE-LUGAR
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B.1
O LUGAR
B
O ENTRE-LUGAR
1. DIAGRAMA CIDADES NÓMADAS
Se seguirmos a linha de pensamento de Fernando Távora em que “se sem Homem não há Cidade, também sem Cidade não há Homem” (Távora, 1969:3), então seria possível dizer que a cidade começou no Homem e o Homem na cidade. Desta forma o espaço que representa a cidade está ligado desde o início ao Homem. Assim no momento em que o Homem pensa e reage impondo um limite, ou seja toma autoconsciência do seu “eu”, dos “outros” e das restantes coisas como nos mostra Furetière (Augé, 1992:47), é quando o lugar e a cidade nascem, assim como os limites que o homem impõe para ordenar o espaço. Nas cidades nómadas, os abrigos dos homens eram cabanas dispostas umas ao lado das outras, sem existir ordem na sua distribuição, nem existir estrutura espacial. Quando surgiam situações complicadas, como a estação da seca, os campos de abrigos reagiam, formando-se grupos, através de uma configuração diferente das cabanas (normalmente viradas para o centro), estas passavam a ter uma interação entre elas onde, agora, os grupos começavam a funcionar como uma unidade social.
As primeiras comunidades surgiram desta forma, através da relação espacial, temporal e da comunicação, evoluíram ao longo da história, até aos dias de hoje. Atualmente é possível presenciar “cidades verticais”, que surgiram de uma evolução tecnológica, elas próprias reações aos limites demográficos impostos pelas cidades. Mesmo nas cidades gregas e romanas, onde surge a etimologia da palavra “cidade”, pela primeira vez, surge enquanto reação a uma necessidade, sendo a solução a imposição de limites. Assim no sentido etimológico a cidade surge de polis, que vem da cidade grega e significa a espacialidade entre o indivíduo, ou grupo de indivíduos que formam uma comunidade de pessoas que se conectam pela sua localização espacial e preservam o seu interesse próprio. O espaço divide-se entre o privado, que é destinado a procriar, e pelo espaço público, destinado a discutir questões políticas. Já está presente um limite forte entre público e privado. O limite também está presente na cidade romana, pois as cidades surgem com dois espaços civitas e urbs , em que civitas indica a comunidade de residentes, o escopo social e político de pessoas de origens diferentes que decidem coexistir na mesma lei. Urbs indica a componente espacial e física dessa comunidade, é a infraestrutura da cida-
Podemos ir a qualquer escala, do lugar antropológico desde a casa cabila, que têm uma parte em sombra e outra parte em Sol, à cabana mina ou ewe em que temos a parte interior que protege o homem dos seus impulsos, e a parte exterior que protege o homem de todos os perigos, estes foram sempre reações a necessidades e resultaram num acontecimento que se materializa com a imposição de limites. Estes espaços caracterizam-se e definem para Augé (1992) um lugar, onde encontramos sempre certas características comuns nos espaços. Essas características são a identidade, ou seja o “eu”, a
GENOPOLIS
2. DIAGRAMA DE IDENTIDADE
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de (Aureli, 2011). Surgem dois opostos de comunidades, uma construída em Roma, em que o grupo de pessoas toma a decisão de se relacionarem, e outra na Grécia, em que pessoas do mesmo sítio entram em comunicação. Apesar disso, entre as duas comunidades diferentes a grega e romana, conseguimos encontrar o espaço comum, onde se cria relação e identidade. Da mesma maneira no “lugar” etimológico, que reivindicamos como nosso e em que se deu a origem dos grupos foi e ainda é a identidade que as reuniu e uniu. Estes espaços são os lugares onde os grupos devem defender-se contra ameaças externas e internas para conservar um sentido de identidade, a fim de ter uma sociedade na sua totalidade e na sua localização. Deverá funcionar a cidade desta maneira? Devemos defendermo-nos contra tudo o que ameaça a nossa identidade? Nos lugares temos transparência na cultura, na sociedade e no indivíduo, o mesmo já não se pode dizer dos lugares de hoje. Pois já não temos uma “ilha” como cita Marc Augé (1992:45), que se refere à ilha como uma cidade nómada em que temos por excelência uma totalidade cultural, e onde os limites da envolvente, neste caso ilustrados pelo “mar”, estão bem definidos. Mas também, já não temos um Arquipélago como é o caso do império grego ou romano, em que temos diferentes ilhas e assim diferentes identidades, mas que conseguimos desenhar, sem hesitação os contornos de ilha em ilha no arquipélago. Os circuitos de navegação e de trocas económicas eram conhecidos e permitiam perceber um limite. Esse limite era a fronteira de identidade relativa, pois tínhamos uma identidade que era reconhecida por aqueles que reivindicam o lugar e uma identidade de relações instituídas entre um grupo, que delimitavam o arquipélago e deixaram um limite em aberto para o inexplorado. Então, seria a cidade de hoje o quê? Talvez uma península, onde já não existem ilhas com identidades, mas sim existem várias ilhas dentro de uma grande ilha, que se prologam e se misturam com as outras ilhas. Onde os limites deixam de ser a água e passam a ser terra, onde essa distinção deixa de ser nítida e passa a ser ilegível e vaga. Desta maneira se caracteriza e ilustra o mundo atual: um mundo onde não há limites de identidade e que só passamos a ter limites se houvesse vida para além deste mundo. Nesse momento a identidade passaria a ser uma ilha com água ao seu redor, outra vez.
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3. DIAGRAMA DE LUGAR ANTROPOLÓGICO
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relação com ele próprio. Outra é a relação que o mesmo tem com os outros que ocupam o mesmo espaço, a sua capacidade relacional. Por fim a última característica é a história que ambos têm em comum num espaço e num tempo, que reagem e criam uma evolução que representa a totalidade da existência humana. A identidade, que pertence ao indivíduo como identidade pessoal, no caso, torna-se no seu “lugar” de nascimento. Essa relação entre o homem e o espaço, a imposição de um limite entre o mesmo e o espaço, são o que caracteriza a sua identidade. Temos como relação aquilo que o homem cria com outros homens no mesmo espaço. Desde a evolução da casa, onde se começa a ter espaços privados/comuns, às praças públicas em que são formadas por um vazio, que engloba por obrigação uma massa, encontramos limites espaciais e sociais, surge assim o espaço público e a sua identidade, neste caso partilhada, que é o seu aspeto relacional. Desta forma conseguimos perceber que pertencemos a um lugar quando a língua, atitudes, costumes são reconhecidos com sentimento de pertença. Por fim temos a História, que surge na intersecção do aspeto relacional, através do espaço, com a identidade e com o tempo. Encontram-se pontos de referência perceptíveis a todos e por isso comuns. Ficam, então, estes lugares de memória, a casa dos avós ou dos pais, que se tornam história porque nela outrora vivemos e hoje recordamos o que já fomos e somos. Se muitas vezes nos questionamos em relação à identidade, é porque trazemos no nosso interior essa necessidade de sentido e essa ausência de pertença, e de relação com o espaço.
Se tivéssemos geometricamente que definir, caracterizar e descrever um lugar antropológico chegamos (Augé, 1992), a uma linha que simboliza um itinerário, a uma intersecção de linhas que simbolizam eixos e caminhos. A maneira como o itinerário é traçado justifica-se pela circulação de um “lugar” para outro “lugar”. Por fim, e não menos importante, e talvez muito contrariamente, temos o ponto de intersecção que significa encruzilhada ou cruzamento de homens, que se encontram ou reúnem, por qualquer motivo, seja ele político, económico, religioso. Estes espaços definem em contra partida um limite e um espaço, que consideramos comum e que definimos como lugar. Desde as aldeias, em que tínhamos espaços como a Héstia e o Hermes, em que o primeiro simbolizava o espaço virado para si próprio, o centro da casa, e a relação consigo mesmo; e o Hermes, que representava o Deus da porta que relacionava e impunha limites no espaço como o público e o privado. Estes limites ficaram enraizados na nossa sociedade há muitos anos, na verdade desde sempre, e foi e é através dos limites que impomos consciente ou inconscientemente a identidade. Para haver identidade seria preciso haver limites entre identidades? A resposta seria por um fim na procura de uma identidade Global, como temos visto acontecer? São estes lugares que “formam a experiência humana, que ela se acumula e é compartilhada, e que o seu sentido é elaborado e assimilado. Surge nos lugares, e é graças aos lugares, que os desejos se desenvolvem, ganham forma, e são alimentados pela esperança de uma dia se realizarem, e correm risco de decepção - e, a bem da verdade,
4. JUNK SPACES, ESPAÇOS SEMI-PRIVADOS
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acabam dececionados, na maioria das vezes.” (Bauman, 2005:13). Nesta ligação e interligação do homem, entre ele e o espaço, surge à sua volta o espaço público, como ponto principal. Quando falamos de espaço público estamos a falar de cidade, porque a história deste espaço é a consequência da origem da cidade (Rossi, 1984). Em todos os exemplos desde os campos nómadas, ao fórum Romano, à ágora Grega, ao largo da igreja, os lugares são locais de encontro, espaços sociais, monumentos que transmitem história, através de festas religiosas e acontecimentos políticos. Nestes espaços, hoje, denominados históricos, comparativamente ao objetivo das suas colunas e altares, tornam-se espaços intocáveis e permanecem no tempo. Será este o problema que sofremos hoje em dia? Os espaços de comunicação parecem distantes e intocáveis, já não os conseguimos recuperar porque pertencem ao passado, e até tendemos a dar-lhes o nome de Centro Histórico. Imortalizamos a cidade e com o processo aniquilamos o espaço público? Mas consequentemente, conseguimos ver que o “lugar” evoluiu, o espaço comum que interseta a cultura, o homem e a sociedade muda, e a identidade também tem a possibilidade de mudar? Poderá este novo espaço, que vamos abordar a seguir, que Augé chama de “não-lugares” ser capaz de substituir o lugar? Hoje em dia as cidades contemporâneas começam a surgir como “campos de batalha” (Bauman, 2005:13). A disputa acontece entre os espaços que chamamos de não-lugares que têm uma identidade global ou uma não-identidade, e os lugares, que nos trazem uma identidade do lugar e, por isso, local. Confrontam-se e, segundo Bauman, a solução satisfatória para os dois, ou que pelo menos a que é aceitável, é encontrar uma maneira em que os lugares conseguem relacionar-se e conviver juntos. Porém essa solução apenas permite que o espaço que está a perder tente se revelar necessário e “reorganizar as unidades de combate” (Bauman, 2005:13) para se tentar apoderar da cidade. Com esta analogia não podemos perder nenhum dos dois, mas não estamos a perder um dos lugares para sempre? A cultura das cidades evolui e a consequência é este dualismo entre cidades como por exemplo Houston, o privado prevalecer sobre o público, e se perdermos o espaço público perdemos a identidade no espaço. Este tipo de experiências como acontece em Houston foram referidas por Jane Jacobs (2009) que descrevia: irmos ao parque ou descermos a avenida para fazer compras, coisas normais e naturais, que encontrávamos em cidades e vilas, foram perdidas nos anos 50 e deram lugar ao nascimento dos não-lugares. Estas mudanças levaram ao esquecimento do que eram os lugares compostos por esses espaços, que contêm união e bem-estar através do relacionamento, onde não se ignoravam as diferenças, mas sim, eram superadas e ainda ganhavam destaque. O lugar, descrito como espaço público, são espaços que só conseguimos encontrar quando o público é dado como privilegiado sobre o privado. Estes não-lugares que vamos ver a seguir são espaços que se caracterizam por semi-privados, que parecem estar a prevalecer na luta sobre os lugares e a transformar a identidade, a relação dos cidadãos e, consequentemente, as cidades.
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O NÃO-LUGAR Nos tempos que correm, a identificação do poder exercido é feita através de espaços, de monumentos, que albergam os seus representantes. É o discurso atual e temos como exemplo nomes como: a Casa Branca, Kremlin. Lugares monumentais, homens e estruturas de poder formam assim uma nova centralidade. Muitas vezes denominamos um país pela sua capital, pelo seu edifício, ou governante que ocupa o lugar, ou seja, a centralidade revela a importância de um lugar. Se pensarmos em França, pensamos num país centralizado, as redes viárias e ferroviárias ligam o país ao seu centro, a Paris à sua capital. Podemos afirmar que como capital é a mais bem sucedida, não há nenhuma cidade Francesa que não aspire ser Paris. Estas construíram ao longo dos anos um centro monumental, “Centre-Ville”, na tentativa de recriar essa imagem dada pela capital. Desse pressuposto, observamos que todas as aldeias e até as cidades mais modestas Francesas, têm sempre um “Centre-Ville” onde encontramos a Igreja, autoridade religiosa e a Maire (autoridade civil, a Câmara Municipal), que, muitas vezes, juntas formam uma praça. A igreja à sua volta contém essa praça, que nunca está muito distante da Maire. Com o passar do tempo começam a surgir cafés/serviços/hotéis e entre outros, no limiar desses espaços contrapondo-os com as cidades “novas”, onde não temos uma história, e onde surgem esses espaços de convívio, mas onde agora os itinerários se cruzam e ficam confusos. Conseguimos observar esta facto quando ao Domingo nesses espaços, no dia de mercado, nas províncias francesas, esquece-se por instantes a solidão e trocam-se palavras ao balcão do café, voltamos ao sentimento das cidades antigas, ao sentimento dos lugares, onde conseguimos ter relação nos espaços e identidade. Qualquer cidade tem potencial para promover a sua história. As ruas têm nomes que antecipam e relembram os momentos mais importantes e a história, Rue de La Gare, Place de la Maire, que invocam referências espaciais que são história. Será pela falta de história e pela grande quantidade de cidades novas que surgem que, hoje em dia, se está a perder a identidade e a criar não-lugares, lugares que são caracterizados por não terem identidade (Augé, 1992)? A falta de história no espaço é suficiente para se perder a identidade? As cidades com história parecem carecer do mesmo problema, estamos sempre a mencionar o passado e a não vivermos o presente. Vemos a paisagem que vem ao nosso encontro e relembramo-nos os monumentos que indicam autenticidade, deixando os lugares no passado. Com a mudança dos fluxos e dos itinerários vemos placas ilustrativas que explicam a paisagem, nos distraem e nos desviam da verdadeira questão em si. Paris é uma capital (França) e é ao mesmo tempo uma cidade que contém 20 Bairros, onde em cada 6 pessoas apenas uma é de nacionalidade francesa (Koolhaas, 2000). Os centros são vários, isto, leva mesmo a França a pensar nos seus fundamentos e no seu Centro. O facto de haver tantos monumentos e ruas que levam a sítios importantes é como se fosse uma tentativa de tudo se tornar monumento e, assim, centro. Cada vez mais vivemos menos em Paris e a relação que temos dos sítios com a história é cada vez mais artificial e estética. Acontecimento que se repete em todas as cidades, “as cidades são museus iluminados e expostos” (Augé, 1992:64). O mundo moderno torna os palácios iguais à habitação, cidades sem arte, não têm um caráter distinto. Misturam-se gostos e ideias, hábitos do sul e do norte, até mesmo as próprias pessoas se misturam. As características locais desaparecem e fica o mercado, a câmara e a fonte, aqui e ali, intactos com a tentativa de demonstrar que a identidade ainda persiste (Sitte, 1945:11).
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Terá sido esta tentativa de criar monumentos, praças e espaços públicos em todo o lado e em lado nenhum, para que nos pudessem transmitir uma identidade, que nos levantou a questão da perda da identidade e dos lugares? Na verdade esta solução, apenas agrava o problema da perda do lugar ao tentar criar lugares com identidade, leva-nos a outros espaços, os não-lugares. Jacques Le Goff disse, “Desde a idade média, construímos em torno da igreja e do campanário, através de uma paisagem recentrada e um tempo reordenado” (Augé, 1992:66), a modernidade não nos apaga mas sim apenas nos põe num plano mais recuado, tornando todos os monumentos como indicadores de um tempo e do passado. Esse tempo que passa e sobrevive, a modernidade em arte preserva todas as temporalidades do “lugar”, mas a identidade só é preservada com história, monumentos, e relação no espaço. Assim a consequência é que esta solução não é suficiente para preservar uma identidade. Um lugar é definido como identitário, relacional e histórico, como já vimos anteriormente. Se essas condições não se verificarem, então, segundo Augé estamos presentes de um não-lugar. Espaços que não são eles próprios, são descritos como lugares de memória, que ocupam uma área específica e que muitas vezes são caracterizados, como o centro antigo de uma cidade. Hoje nascemos numa clínica e morremos num hospital, a nossa passagem é feita por pontos de trânsito e de estadia temporária. Estes pontos multiplicam-se em modalidades com luxo e desumanas como hotéis, clubes de férias, campos de refugiados, bairros de lata, consumos em grandes superfícies, cartões de crédito. Uma individualidade solitária, devido à passagem, ao provisório, em que tudo é de curta duração (Augé, 1992). Visto desta maneira, que tudo é temporário e provisório, hoje em dia somos apenas clientes, usuários e passageiros. Com esta experiência e com a conexão global encontramos o “não-lugar” de Augé e o “lugar” que são espaços que permanecem. Estes não-lugares são quantificáveis, são espaços nas superfícies, são volumes, autoestradas, habitáculos móveis, meios de transporte e meios de comunicação que se tornam estranhos porque contrariam o lugar e tentam substituí-lo, no sentido, em que muitas vezes só nos põem em contacto com uma imagem de nós próprios pela individualização forçada por a sociedade. No lugar temos um conjunto de elementos que coexistem na ordem e no espaço, é desta maneira que um espaço passa a ser um lugar “praticado”, quando surge o cruzamento de coisas móveis (pessoas), transforma-se assim espaços em ruas e vazios em praças, a comunicação de pessoas, como acontece na cidade, onde temos o espaço público constitui o espaço para o encontro, para a reunião, para a confluência dos corpos dos cidadãos que habitam a cidade (Borja, 2002). Assim conseguimos perceber que o espaço público é onde se forma o coletivo e que, pelo paradigma, o não-lugar se torna num espaço privado. O que na verdade acontece muitas vezes, não é existirem só espaços privados mas sim espaços públicos onde damos preferência à privacidade invés do relacionamento coletivo. Quando “praticamos um espaço” é sermos outro nesse lugar e quando vamos a outro espaço passamos a ser outro, é a viagem a que Augé se refere, de regressarmos à infância, reconhecemo-nos a nós e aos outros, impomos limites e tornarmo-nos em nós, como indivíduo, ao nos apercebemos desse mesmo limite. Mas a pluralidade de lugares e essa experiência que impõe um olhar e uma descrição, onde tentamos ver tudo são o que impede uma fotografia nossa no lugar, por mais minuciosa que seja, de realmente vivermos o lugar. Quando viajamos, fazemos um itinerário e referimos ou pensamos em nomes de espaços, sem saber muito a respeito dos mesmos. Isto pressupõe ao lugar uma obrigação vinda de outra pessoa, ou de uma fotografia, como uma história e essa utilização do espaço é suficiente para criarmos uma modificação do lugar, ou uma erosão, e com isso criamos um não-lugar.
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Esses nomes dão-nos sentidos e direções. Na utilização desses nomes, que transmitem uma história, criamos nos lugares não-lugares, porque até ao momento em que não existiu um itinerário era tudo imprevisível e praticávamos o “lugar”. Mas não terá a cidade sofrido o mesmo? Passamos da cidade medieval, na qual não havia planeamento, ou seja regras, era tudo imprevisível, para passamos a ter uma racionalidade e uma previsibilidade em tudo, que nos levam a experienciar os lugares como outros lugares, e por isso a transformá-los em não-lugares. A racionalidade e as regras retiraram-nos a imprevisibilidade e apenas trazem-nos não-lugares? No século passado a modernidade levou à perda do sujeito na grande multidão, o não-lugar trouxe laços aos indivíduos que passam de palavras a imagens, se dissermos Taiti, a paisagem passou a ter uma distância associada. Ao vermos uma placa a dizer Rio Tejo, mesmo sem o vermos, pode trazer-nos felicidade. Então a arquitetura, a história, e as coisas naturais, passaram a ser textos e só a sua proximidade no espaço trouxe-nos felicidade. As autoestradas trazem-nos cultura, os aeroportos também, através de estações de serviço ou lojas de souvenir. Sem presenciar o lugar temos uma imagem para o mesmo, e dão-nos a passagem pelo mesmo sem o vivermos, dessa forma a cultura parece tornar-se vazia. Quando viajamos nessas estradas, que por vezes parecem quase infinitas e passamos várias vezes pelos mesmos locais, o espaço que era abstrato torna-se familiar, lemos mais cartazes e placas de sinalização do que olhamos verdadeiramente para as coisas. A cidade é invadida pelo texto que troca a relação e a fala no supermercado. Vemos os preços das coisas, temos máquinas que fazem o trabalho que outrora pessoas fizeram, ou então pessoas silenciosas, que apenas passam o produto na máquina e aquela relação do lugar foi perdida. Os bancos tornam-se em caixas automáticas, e transmitem-nos instruções, “Introduzir Cartão”, na estrada “Reduza a Velocidade”, são ordens que nos são transmitidas e individualizam-nos, da mesma maneira que é individualizada a mesma pessoa que deseja levantar dinheiro, ou o mesmo condutor apressado que circula a uma velocidade superior à legal. Desta forma cria-se uma certa identidade partilhada dos passageiros, dos clientes, dos condutores, e o ato de falar e partilhar, os pontos de referência da paisagem, as regras não formuladas do saber-viver, que nos transmitem a identidade e fazem de espaços “lugares”, são consumidas por esta partilha de identidades conjunta. Nestes momentos somos alguém que quer levantar dinheiro, alguém que está a transgredir a lei, e não somos ninguém ao mesmo tempo que somos toda a gente. Temos sempre uma identidade provisória, que resulta num anonimato, mas, não será esta na verdade, a criação de uma nova identidade, a não-identidade, assim como a cidade de Londres sempre foi conhecida por ser em si uma cidade sem identidade, criando assim a sua própria identidade. Temos a mesma identidade, que se torna numa não-identidade. A individualização comum, de uma cultura global, transforma o espaço e o privado apodera-se do comum. Existe um contrato entre o utilizador e o não-lugar, que por vezes é relembrado, através de situações como: apresente o seu bilhete ou BI, que refere-se à identidade individual, e temos que provar a “inocência” e apresentar o bilhete no comboio, ou o Bi no Check-in. Assim na verdade não há direito, ao anonimato. É impossível haver individualização sem controlo de identidade. Podemos então controlar a identidade de uma cidade da mesma maneira? Se da mesma maneira que para nós, a identidade resulta daquele solo que nos viu nascer, podemos controlar a identidade da cidade, ao controlar o espaço público? Considerando esse o nascimento da mesma. Como já vimos anteriormente este espaço seria tanto o espaço de comunicação com os outros, como seria a limitação do eu com o redor, esse seria o espaço onde se criaria a verdadeira identidade de um lugar e a cultura de uma população. A cidade pode ser individualizada só em certos espaços, como nós em certos momentos, e nos restantes pode ser igual, um anonimato de edifícios, mas isso apenas as torna em não-cidades, assim como fazemos com os lugares em que tornamos os espaços em não-lugares.
A Sobermodernidade surge para trazer capital e acontecimentos para as cidades e resulta num excesso de acontecimentos, de espaços e a individualização de referência. Dá-nos a ideia de que estamos sempre em algum lugar, mas nunca estamos. Temos a necessidade de globalizar e universalizar as coisas, como a língua, o Inglês por exemplo. Fazemos do antigo um “espetáculo” e misturamos o antigo com o novo, em que fazemos de todos os estrangeiros locais, e no fim só conhecemos indivíduos, clientes, passageiros, que se tornam iguais e por isso talvez não-pessoas. Estamos num mundo global em que passamos grande parte da vida em estações, aeroportos, autocarros, auto-estradas, espaços em que não nos relacionamos, não criamos história e não nos trazem identidade. Pois não nos diferencia dos outros, espaços aos quais Koolhaas chama de espaços-lixo (Koolhaas, 2015) que caracteriza por serem todos iguais, onde as escadas rolantes encontram os ar-condicionados, espaços em que o tempo passa e não reparamos, preparados para quando ficamos cansados do consumo nos fornecerem descanso. Espaços que nos fazem acreditar que participamos numa cultura de luxo, como shoppings e estações onde o tempo passa mas o ambiente é o mesmo, fica escuro no exterior mas não nos apercebemos. Nestes espaços mostramos a nossa “máscara social”, o nosso melhor comportamento público e cívico, cujo objetivo é individualizar-nos e não nos deixarem ter interação e relação com outros, como as
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4. ESPAÇO DE FLUXOS DE LAGOS
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Muitas vezes ficamos apenas com a nossa imagem e a nossa voz, naquele diálogo silencioso, com a paisagem-texto que nos dirige da mesma maneira que a todos. Com regras que nos são impingidas e nos controlam, da mesma maneira a que todos os outros. Mesmo em lugares em que é exigida uma identidade como na portagem ou no Check-in de um voo, obedecemos a um código, a regras condicionantes, a mensagens que todos os outros obedecem e respeitam e não criamos no lugar identidade singular, mas sim semelhança, uma semelhança homogenizada. Estas imagens transmitidas, regras, etc., são sistemas que desenham um mundo que qualquer pessoa pode fazer seu, porque é atropelado por ele e pode “fazer como os outros para si próprio” (Augé, 1992:89). Assim não há uma identidade singular, ou melhor há mas será essa a mesma para todos nos dias de hoje, uma não-identidade. Segundo essa lógica deixamos de ser Homens e passamos a ser máquinas com os mesmos propósitos, objetivos e desejos. Foi esta a base da modernidade, criou a cultura da felicidade em espaços que eram iguais para todos, que Marc Augé classifica como espaços da sobremodernidade. Espaços onde temos uma solidão, um esquecimento e um anonimato do homem, que apenas importa o movimento e os fluxos, a velocidade e a instantaneidade. Esta sociedade de consumo sobrepõe-se aos valores da história e da memória dos sítios, e origina os não-lugares.
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barreiras do metro. Os espaços tornam-nos iguais e repetem experiências, apanhamos o autocarro todos os dias e não partilhamos muitas vezes uma relação com ninguém. Os não-lugares são a passagem por objetivos, ir de um ponto de partida até ao objetivo, perdeu-se o caminho, que, como vimos, caraterizava os lugares. Tornamo-nos todos iguais, com o mesmo objetivo, a agir da mesma maneira, “estamos em contacto mas não nos relacionamos” (Sá, 2006:181), esses espaços são caracterizados por uniformizados, como aeroportos, cadeias de hotéis, centros comerciais, grandes cadeias de supermercados, onde quer que estejam são iguais. Não nos fazem sentir estrangeiros, mas para Teresa Sá, quando o espaço se assemelha passamos todos a ser estrangeiros de certa forma, porque já nada nos identifica (Sá, 2006). Com a leitura de Augé (1992), conseguimos assim simplificar algumas das normas que formam e opõem estes diferentes espaços (consultar tabela no Apêndice). “Everything has turn into comsunism. Whole cities are big malls that are stipulated by private actors. That way, shopping is defined as the ultimate form os public activity” (Koolhaas, 2015:72), num mundo em que o consumismo lidera os espaços, que são não-lugares, o acesso é limitado por estes espaços semi-privados, em que o poder de compra se resume ao acesso à cidade. Começamos a ter leis e símbolos universais, o estrangeiro consegue reconhecer logótipos de marcas, que para ele são referências tranquilizantes devido ao seu anonimato profundo. Criamos espaços iguais em todo o lado, desta forma a tentativa de regresso ao “lugar” é o sonho de todos os habitantes dos não-lugares. Assim sonham o regressar a casa, à cidade Natal, nem que seja como residência temporária, numa procura pelo conforto de uma identidade, talvez, perdida ou esquecida. Mas então quando é que estamos em casa? Quando estamos deslocados não estamos em casa? Só quando partilhamos a existência e estamos à vontade com essas pessoas, quando gestos ou sentimentos deixam de ser percebidos então, estamos longe. Não é uma linha traçada, ou seja, não existe um limite bem definido, mas talvez uma mancha nas zonas de mudança. Mas então essas manchas são que tipo de lugares?
5. DIAGRAMA DE ENTRE LUGAR
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Segundo Augé (1992) estes não-lugares de hoje são os lugares de amanhã e, até lá, o objetivo é passar pelos não-lugares para os transformar e alcançar lugares. Da mesma maneira que segundo Koolhaas (2015) basta uma pessoa não se conformar com estes espaços, para o libertar e para mudar a experiência. Há lugares em todos os não-lugares, assim como não-lugares em todos os lugares, segundo Teresa Sá (2006) e os restantes autores analisados tem tudo a ver com uma postura, atitude, relação entre os indivíduos. Será que na verdade na intersecção dos dois espaços, não encontramos uma mancha como referimos anteriormente como um novo lugar? Ou melhor, não novo mas identificado agora, um entre lugar. 6. O ESPAÇO ENTRE OS LUGARES
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O ENTRE-LUGAR
O ENTRE-LUGAR Conseguimos ir de várias definições de lugar, desde Lefebvre (2012) em que “estar num lugar, é habitar o mesmo, estar presente, ocupar o lugar, ou seja envolve uma presença no mesmo”, a de Borja “Na cidade, o espaço público constitui o espaço para o encontro, para a reunião, para a confluência dos corpos dos cidadãos que habitam a cidade.” (Borja, 2002:25) ao de Augé (1992) que, como já vimos, este lugar é constituído por pessoas e objetos que se relacionam e onde a comunicação serve para criar uma identidade e cultura. Mas o problema dos dias de hoje são os espaços da sobremodernidade, não será que “Hoje (...) é designado praça qualquer espaço vazio entre quatro ruas (...) sob o ponto de vista artístico, um terreno vazio não é uma praça.”(Sitte, 1945:47), espaços vazios não são praças do ponto de vista artístico nem são espaços públicos, lugares no ponto de vista social não são espaços onde é criada uma identidade, uma relação entre Homens e uma cultura, a cultura da “Vida pública antiga era em espaços abertos, hoje atuamos em espaços fechados” (Sitte, 1945:16), esses espaços são a expressão dos não-lugares, os Junk Spaces. Os halls de edifícios, espaços privados tentaram substituir os lugares, espaços homogéneos que não nos trazem identidade, nem nos trazem cultura. Mas a verdade é que podem trazem e nós é que não queremos admitir, uma nova cultura, a global. Homogénea, que é referida nos não-lugares, que se materializa por edifícios verticais, por viadutos, por viajantes, pessoas homogéneas, por comunicação em vez de linguagem. O resultado desta não-identidade são espaços da sobremodernidade e cidades genéricas. Mas será que uma cidade consegue só se constituir por não-lugares? Será que na verdade, esta nova cultura, uma ligação destes lugares aos não-lugares? Onde temos parcelas de cada um e que fazem das cidades, hoje, espaços dos quais podemos chamar Entre-Lugares. A relação e a espacialização destes não-lugares com os lugares, o campo de batalha, que vimos anteriormente, criam as cidades que chamamos de glocais (Koolhaas, 2004). São os espaços de intersecção e de necessidade de coexistência dos dois espaços. O não-lugar, segundo Augé (1992), nunca está completo e o lugar nunca é completamente apagado, o presente não nos completa e o passado sempre vai fazer parte de nós. É este paradigma e sentimento de deslocação, em que não queremos nenhum dos espaços que cria a relação espacial entre os dois e, consequentemente, os entre-lugares. Contudo, existe nesses espaços, na verdade alguma identidade? Ou apenas uma mistura de duas, uma falta de identidade e uma identidade, que transforma os lugares em espaços de não-identidade, em que a identidade é universal. Se temos uma não-identidade, que seria uma identidade universal, temos uma língua universal, que seria o inglês. Será que utilizamos a língua para nos relacionar ou apenas fazemos uso da mesma ao comunicarmos? Numa reunião de negócios internacional, onde todos utilizamos a mesma língua, a palavra “yes”, pode simplesmente querer dizer que estamos a acompanhar como é o caso dos alemães, ou pode querer dizer que concordamos como é o caso dos americanos, estes não-lugares na verdade apagam a identidade, e simplesmente nos dão a percepção de que temos uma. Porém, nesta intersecção de identidades nasce uma não-identidade, pois não estamos nós muitas vezes mais próximos de pessoas de outros países pertencentes à nossa classe social, do que de pessoas do mesmo país numa classe social diferente? Uma situação que é o produto duma sociedade com a cultura do consumismo, temos os mesmos objetivos e experiências que essas pessoas. Não seremos nós também cidadãos homogéneos? A classe da população genérica, que vive nestes entre-lugares, que pertence à cidade genérica (analisada mais à frente).
Nas grandes cidades o que acontece é que invés ao das pessoas partilharem muito, não partilham nada. Isolam-se dos vizinhos, pois o contacto implica que alguém se intrometa na vida de alguém. Mas desta maneira as pessoas deixam de fazer as obrigações públicas comuns, como cuidar das crianças à sua volta, levando a situações extremas de indiferença. O problema é que as pessoas só se preocupam quando criam afeto, que vem do relacionamento e da partilha com outros no lugar. Jane Jacobs (2009) cita uma história acerca de uma senhora que conhecia toda a gente do prédio, que passou por uma situação em que o seu filho ficou preso no elevador e ninguém o acudiu durante 2h. No dia seguinte a senhora pergunta aos vizinhos a razão na demora e obtém a resposta: “Ah era o teu filho? Se soubesse tinha-o socorrido” (Jacobs, 2009:70). As pessoas colocam limites para garantir a segurança, para a proteção em relação ao desconhecido. Não deixamos os filhos saírem sozinhos, não nos aproximamos com medo do que vão
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7. DIAGRAMA/TABELA DE CIDADES GLOCAIS
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Talvez, nas comunidades mais antigas onde a comunicação com outras culturas ainda não emergiu, como as cidades proibidas da China e da Índia, as colónias primitivas em África, serão os únicos espaços onde ainda poderíamos dizer que existe lugar, com cultura local e identidade local. Mas ao percorrermos qualquer cidade, apenas com algumas raras exceções, conseguimos encontrar estes espaços submersos numa cultura de homogeneização, espaços definidos como não-lugares, desenvolvidos pela globalização. Ainda assim, na realidade, o que está a existir é uma mistura de uma identidade global com a local, que se traduz no espaço da cidade. Temos o diálogo e a comunicação entre as duas, cidades às quais chamamos glocais, que ocorrem em todos os lugares e não só em certas cidades de grande importância, como alguns autores defendem. Como vemos através do exemplo dado por Michael Peter Smith (Geddes, 2002), durante uma viagem recente a Copenhaga, com uma única hora de estrada, encontrou “pequenos grupos de imigrantes turcos, africanos e vindos do Oriente Médio” e viu “inúmeras mulheres árabes, algumas veladas, outras não”, reparou em “letreiros escritos em várias línguas não europeias” e “num pub inglês que ficava junto ao Tivoli, teve uma interessante conversa com o empregado irlandês”. Estas experiências de campo mostram-se muito úteis (disse Smith durante a conferência sobre vinculações supranacionais que fez naquela cidade) “quando um interlocutor insiste em dizer que o supranacionalismo é um fenómeno que diz respeito apenas às ‘cidades globais’, como Londres ou New York e tem pouco a ver com lugares mais isolados, como Copenhague”. Estes entre-lugares que se manifestam nas cidades glocais estão a acontecer na maioria das cidades, sejam elas globais ou não.
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dizer de nós, ou fazer contra nós. Estas relações de vizinhança têm necessidade de existir e surgem nestes entre-lugares, onde existe uma mudança de atitude e de postura, que passamos a ter empatia, empátheia do grego que é paixão, a capacidade que temos de nos preocuparmos e nos pormos no lugar dos outros. Numa cultura homogénea, que podemos considerar de todos pois não é de um povo específico mas sim de todos, diz-se com uma não-identidade, porque com a quantidade de simbologias e costumes que cada cultura tem, quando se juntam várias algumas coisas têm que prevalecer sobre outras. No fim, claro que há mesmo coisas que ficam esquecidas. Mas o que é em si cultura? Vem do Latim culturae , que significa ação de tratar, cultivar e cultivar os conhecimentos, e que surgiu de um outro termo latino colere que significava cultivar as plantas. Em Roma, o seu sentido etimológico era Agricultura. Mais tarde, Edward B. Taylor (1871), definiu cultura como “todo aquele complexo que inclui o conhecimento, as crenças, a arte, a moral, a lei, os costumes e todos os outros hábitos e capacidade adquiridas pelo homem como membro da sociedade. Muitas coisas que consideramos culturais, muitas vezes não o são, mas sim são produto de uma cultura dos últimos 3 séculos, ou mesmo mais recente, da modernidade que nos trouxe mudanças inalteráveis. A roupa dos escoceses, por exemplo, foi produto da revolução industrial (Giddens, 2000:43). Mas até que ponto é que uma coisa é cultural e identitária apenas quando nasce com o país? Ou será que quando começa a ser aceite pela maioria da população se transforma em cultura? Para Augé (1992), sabemos que estamos em lugares quando percebemos e conseguimos relacionar-nos com as pessoas que estão à nossa volta. Tradição, costumes e identidade são temas muito pouco abordados. Muitas vezes falamos no moderno, mas então o que é o tradicional? Com o iluminismo chega a “má-fama” do tradicional. “Deixemos as vãs quimeras dos homens serem abandonadas, e logo as ideias razoáveis se farão valer por si próprias, nessas cabeças que se pensou destinadas para sempre ao erro” (Barão d´Holbach, 1775). A cultura e a tradição que resultam de uma identidade podem pôr-se de lado com facilidade, pelo menos, nos dias de hoje. Tradição vem da palavra do latim tradare que significa transmitir ou dar para ser guardada, e foi utilizada na República Romana para a propriedade que passava de geração em geração. Era, supostamente, para ser entregue e guardada, pois existia a obrigação de a proteger e guardar. O conceito de tradição de hoje em dia vem da modernidade, quando os iluministas utilizaram esta palavra, para justificar a fixação por tudo o que era novo. As tradições usadas como força de poder, obedecem a um plano, e são inventadas numa sociedade, foram inteiramente tradicionais. Reis, imperadores, padres, militares inventam tradições como forma de poder. Exemplo disso é a continência, uma maneira de saudar utilizada pelos militares, para mostrar respeito, mas esta tradição foi adotada e modificada para demonstrar poder. Pois, inicialmente como o filme “The Last Castle” (2001) afirma, era um movimento que foi criado quando dois cavaleiros na época medieval, se cruzaram em circunstâncias imprevisíveis e, num dia de chuva, levantaram com a mão o capuz que os protegia da chuva, para se verem mutuamente e se identificarem, assim no lugar criaram identidade. Posteriormente esta tradição evolui para a que conhecemos hoje. Este movimento foi inicialmente utilizado para criar um lugar, e foi agora convertido numa forma de obter respeito e poder. É impensável pensarmos que a identidade, a cultura e a tradição não evoluem com o tempo, estas são sim inventadas e reinventadas, mas também por vezes perdidas. Claro, que há algumas que estagnaram e que se mantêm iguais há muitos anos, mas a sua continuidade implica uma mudança, em como é interpretada e obedecida, como acabamos de ver no exemplo descrito em cima. Tradição pura não existe, é como dizermos que muitas das nossas tradições não vieram dos romanos, gregos, persas, entre outros. Conseguimos ver isso no planeamento urbano da praça, seja ela de origem grega (ágora) ou romana (fórum), foi apoderada por nós e tornada no espaço público como conhecemos hoje em dia, espaço esse sofreu uma evolução desde o lugar antropológico.
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A identidade (consciência de quem somos) é alterada quando deixamos de ter costumes e tradições. Terá sido o que aconteceu? Com a nova cultura de Consumo? Teremos substituído lugares por não lugares, shoppings ou halls de entrada, comunicação por linguagem ou símbolos, cultura por espetáculo, com diz Debord (2012)? Quando falamos em sociedade, temos que falar no homem, no espaço e numa ordem, que considerada incorreta ou correta, sofre de um planeamento. Tudo junto forma a sociedade em que vivemos. Sociedade vem do latim socieetas e define-se como a maneira amistosa que nos associamos a outros. A cidade é então o espaço da sociedade, onde se dá a relação do homem com o tempo, com o espaço, com ele mesmo e com outros. Assim a cidade, que é o espaço onde definimos a sociedade e que de certa maneira organiza a mesma, sofreu uma evolução e uma reação até aos dias de hoje. Agora encontramos pessoas de lugares distintos a relacionarem-se, produtos de qualquer lugar do mundo a serem consumidos em qualquer lugar e uma cultura que é formada por uma mistura de várias, uma política que é aceite por todos, ou pelo menos por quase todos os países, que tem como objetivo a paz e o bem-estar mundial. De uma maneira muito sucinta e simplificada explicamos os efeitos da Globalização que com positivos ou negativos, independente de uma opinião, conseguem-se observar e que segundo Giddens (1999) existe e não podemos negar. Na arquitetura este efeito de globalizar o mundo leva à criação de esta não identidade e destas cidades glocais, que formam estes entre-lugares, lugares que dependem dos não lugares e lugares, espaços que com a mudança de postura e com uma tentativa de nos relacionarmos e termos empatia pelos outros conseguimos criar melhores lugares. “São esses espaços públicos que, reconhecendo o valor criativo das diversidades e sua capacidade de tornar a vida mais intensa, encorajam as diferenças a empenham-se num diálogo significativo” (Jacobs, 2009:40). Este entre-lugar seria um espaço público que permite o acesso a homens e a mulheres, sem que haja a necessidade de seleção, onde não precisamos de passes para registarmos entradas e saídas. Espaço de pessoas estranhas e desconhecidas umas com as outras, onde estrangeiros, como chama Teresa Sá (2006), se encontram, condensam-se e formam o fim do espaço urbano e começo do espaço comum. É nos locais públicos que a vida urbana e tudo aquilo que a distingue das outras formas de convivência humana, atingem a sua mais completa expressão, com alegrias, dores, esperanças e pressentimentos que lhe são característicos (Bauman, 2009). Os entre-lugares surgem com a preocupação agora com o caminho e não só com o objetivo, característico dos não lugares, desta forma mudam a visibilidade sobre o mundo. Ficamos mais próximos da ágora grega, o lugar em que o objetivo era o bem-estar comum e a preocupação com os problemas do mundo, e menos com o objetivo do não-lugar que é a criação de uma cultura individualista e consumista que serve de usufruto para a economia. São o resultado de espaços que precisam um do outro, um porque não se apaga totalmente e o outro porque nunca está completo. No meio surge o entre-lugar, um lugar completo. Geddes (2002) vê Edimburgo como um biólogo, procura uma solução para a pergunta e estuda assim a cidade como uma célula no microscópio. Quando estuda a cidade o mesmo afirma que consegue obter conhecimentos específicos e genéricos. A nível específico procura os aspectos locais e a identidade local e regional no seu interior, e a nível generalista procura a “cultura do mundo, a herança comum da civilização” (Geddes, 2002:76), e diz que os aspectos estão sempre intimamente ligados e só conseguimos perceber e entender um com e através do outro, ou seja só percebemos o não-lugar com o lugar, e o local com o global, e Geddes afirma que o mundo inteiro funciona e é entendido da mesma maneira, na Europa, na América, em todo o lado. Desta forma nunca conseguimos estar só presentes sobre um, mas sim sobre os dois que na verdade formam novos lugares, sejam eles as cidades glocais pela cultura ou os entre-lugares pela identidade.
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Em suma:
O lugar surge no momento em que o homem cria limites com ele mesmo, com outro e com o espaço. Um espaço de relação que surge na reação a uma necessidade. Através de um limite de identidade, o homem apercebe-se do limite dele próprio nesse espaço. A sua relação com o espaço e com outro Homem, cria o espaço relacional. Essa intersecção de espaço e homens num tempo criam a história. Desta forma obtemos um lugar. Nesse lugar antropológico a identidade pode ser ilustrada através do espaço como uma ilha. Uma ilha em que a sua principal característica é estar completamente circundada pelo mar. A identidade não é assim posta em causa, ela existe. Surgem outros lugares no decorrer da evolução humana, através de uma reação do homem, como é o caso casa cábila, das cidades medievais, ou da héstia e do hermes. Qualquer que seja o momento, o homem reage e impõem um limite, criando assim uma identidade e um espaço com identidade, que se traduz num lugar. Desta forma nasceu o espaço público através de limites no espaço, criou-se identidade. Chegamos às cidades dos impérios, Grego ou Romano, neste momento a identidade já não é uma ilha, pois já existe um fluxo maior e trocas entre espaços. Apercebemo-nos que existe alguma coisa para além do espaço que temos diante de nós. Nesse momento a identidade é ilustrada como um arquipélago, que apesar de todas as ilhas existirem, assim como a sua relação entre elas, ainda se consegue traçar um limite de identidade entre as mesmas, através do mar. O problema que sofremos nas cidades deve-se ao espaço privado parece prevalecer sobre o público, e a consequente perda de identidade, temos que nos relacionar para criar identidade. As cidades atuais sofrem uma batalha de identidade. A identidade já não parece ser separada pelo mar, encontramos penínsulas e limites que já não conseguimos traçar, e mesmo quando os traçamos tornam-se manchas, limites indefinidos e confusos. O motivo para encontrar espaços assim vem do problema de não encontrarmos só espaços com identidade mas sim, também, espaços sem identidade, que servem apenas o fluxo onde as pessoas se interseccionam mas não se relacionam. Estes espaços que aparentam surgir através da globalização e que tentam transparecer um identidade global, transformam-se em espaços da sobremodernidade. Aparecem em todo o lado da mesma maneira, com a mesma experiência, uma repetição sem fim. A diferença entre os espaços, está que nos lugares que são espaços públicos, de relação, comuns a todos, e os não-lugares parecem surgir em espaços privados, ou semi-privados,se é que realmente existe esse espaço, e são a consequência de uma privação por parte de alguns e de uma relação distante por parte de todos. A cultura moderna individualista e consumista lidera a sociedade e na cidade parece, cada vez mais, restar estes espaços que servem estes prepósitos. O acesso é limitado pelo poder do indivíduo numa nova sociedade. Estes são espaços que nos tratam da mesma maneira, somos todos iguais, e só em certos momentos é que somos individualizados, quando apresentamos um bilhete de identidade num check-in, mas mesmo nesse momento somos individualizados como todos os outros. Resta apenas uma individualização igual e comum. Desta forma os não-lugares quando nos estão a dar uma identidade, uma individualização, dão-nos a mesma identidade que a todos os outros, que não se resume numa sem-identidade mas agora numa não-identidade. Quando criamos uma cultura comum, ou uma identidade, há sempre aspectos que se sobrepõem, na mesma medida em que outros ficam esquecidos. Desta forma a não-identidade, que se reflete numa cultura global e em não-lugares, formam uma identidade, que é dada como diferente e igual ao mesmo tempo, que apenas sobrevive com identidade enquanto ainda houver lugares de oposição de identidade. Os entre-lugares, um novo lugar identificado, são uma intersecção espacial entre os lugares e os não-lugares. Nos lugares, como estes nunca são apagados completamente, e nos não-lugares, que nunca estão completos, surge então na interseção destes dois os entre-lugares. Um lugar em que o objetivo deixa de ser voltar ao lugar, e deixarmos de viver os não-lugares, mas sim um espaço público e não privado, como acontece nos não-lugares, que surge na mudança de atitude e a relação destes dois lugares no espaço, na tentativa de criar novos lugares. O entre-lugares surgem com preocupação agora com o caminho e não só com o objetivo, característico dos não-lugares. Têm como pressuposto perceber o mundo durante o caminho e como objetivo mudar a visibilidade sobre o mesmo. Ficamos mais próximos da ágora grega, o lugar em que o objetivo era o bem-estar comum e a preocupação com os problemas do mundo, e menos com o objetivo do não-lugar que é a criação de uma cultura individualista e consumista que serve uma economia.
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DAS CIDADES ÀS METRÓPOLES
O processo da industrialização foi o principal motivo para a expansão urbana, que contribui para a evolução e a reação das cidades, há pelo menos um século e meio. Perceber esta evolução ajuda-nos a refletir e permite-nos repensar nos conceitos inerentes na nossa sociedade. Desta forma, perceber a cidade pré-existente à industrialização, a cidade industrial e a sua evolução até hoje torna-se fundamental. Desde a cidade oriental (ao modo de produção asiático), à cidade antiga romana e grega, em que a troca de escravos era o centro do início de uma economia (sendo a casa da política), à cidade medieval, uma cidade fundiária, onde não pudemos esquecer-nos do escopo político, já existente. Tinham todas na sua base o comércio, o artesanato e as trocas comerciais. Desta forma a economia, como um organismo que sofre evoluções, está presente na nossa sociedade há muito tempo. O termo cidade surge por todo o lado para definir um conjunto de sistemas e organismos complexos. Mas a pergunta que surge é: Qual é a sua definição? Ou melhor ainda, quando e onde se começou a utilizar esta palavra, para caracterizar um sistema como o que conhecemos hoje? Vamos então à Grécia antiga e à cidade dos impérios, para perceber o seu significado etimológico. Polis, cidade grega, civitas e urbs, cidade romana, são as palavras que definem a origem etimológica das cidades na forma que ainda, hoje, as conhecemos. Aristóteles faz uma clara distinção entre elas, para percebermos a relação entre economia, política, homem e cidade. Polis é a definição etimológica da cidade grega e representa a cidade em que as decisões são tomadas a pensar no público e naquilo que contribui para um bem comum. Surge como o espaço que permite que as pessoas tenham a possibilidade de comunicar, socializar e viver em comunidade, “é um espaço de muitos” (Aureli, 2011:3) e ainda é “o espaço que os divide e que os une, quando estão em grupos”. O homem é um “animal político” diz Aristóteles por isso, este espaço de muitos é também de conflito. No entanto, pode e deve-se transformar em coexistência. Como a política fez e faz parte da polis, esta possibilidade de conflito e resolução do mesmo está sempre incorporada na cidade, “é uma base muito ontológica” (Aureli, 2011:4), deste forma o espaço da cidade serve para resolver os conflitos gerados, da mesma maneira que já serve há muito tempo. Na cidade grega conseguimos distinguir oikos, que diz respeito à unidade, ao espaço privado, espaço onde as relações humanas são dadas e que são disputadas pelo sujeito que as governa, que tem como objetivo respeitar e fazer uma administração sábia da casa e do controlo sobre os relacionamentos dos seus membros. Assim distinguimos oikos de polis da mesma maneira que distinguimos a economia da política. A economia não atua sobre o interesse público mas sobre o seu próprio privado. Não se podendo questionar porque pertence ao espaço privado da casa. Um permite o espaço social para a reprodução de membros oikos, uma aglomeração de casas e outro o confronto em prol do interesse público, a ágora grega. O ultimo é o espaço onde se trocam opiniões e onde as decisões são tomadas. A história das nossas cidades hoje em dia, muito resumidamente, pode ser vista da mesma maneira debatendo-nos com os interesses públicos versus os interesses privados, polis versus oikos (Aureli, 2011:3), o conflito que hoje encontramos está e sempre esteve presente nas cidades. Hoje debatemo-nos com a influência que uma economia capitalista tem na cidade e na sociedade. Na cidade romana ocorreu uma luta entre urbs e civitas. Urbs significa cidade, mas apenas na constituição material, o espaço formal, surgiu como uma aglomeração de
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casas sem qualquer qualificação política. Civitas, vem de cives e por sua vez é o espaço político, a esfera política, o corpo social da cidade onde é necessário, pela sua decisão, coexistirem unidos segundo uma lei. Urbs entende-se como “uma estrutura destinada a suportar a simples agregação de casa” (Aureli, 2011:6). Urbs é a estrutura que está no espaço entre a agregação, é o espaço “infra ”, a rede, infraestrutura, que permite agregar as casas dentro de um espaço. Já civitas é a reunião de indivíduos livres que decidem reunir-se, e desse modo reconhecer e partilhar uma esfera política. Enquanto polis vem de uma comunidade existente, urbs vem de qualquer lado, “transcende qualquer comunidade” (Aureli, 2011:5), é fundada numa nova condição. Urbs revela assim uma condição genérica de coabitabilidade e proteção, que se reduz a uma simples necessidade material de casa. A consequência desta diferença é que enquanto a urbs se expande a polis fecha-se em muralhas. A primeira tem o objetivo de crescer, enquanto a segunda tem a consequência de estagnar. Nomis para os gregos é a lei que enquadra a política dentro da cidade, dentro do perímetro das muralhas, e que faz distinção entre o espaço público e privado, a lei que limita e controla os relacionamentos entre os seus habitantes. Na cidade romana, por sua vez, temos Lex, a lei romana de consenso entre partes. Era usada para a expansão do território, para permitir às populações a realização de alianças, sempre a pensar numa inclusividade para a própria Roma, cidade representativa do império. Desta forma, a polis é um arquipélago (Aureli, 2011), urbs , ao contrário, é um termo usado para designar Roma como símbolo universal do império, não se delimita apenas à área habitada, como a polis. Urbs chega mesmo a designar a maneira genérica da condição de coabitar e agregar pessoas, pois a sua infraestrutura permite a agregação sem qualificação política. Esta ideia de agregar, contrário à exclusão oferecida pela Polis foi a inspiração para a generecidade utilizada por Cerdà, como inventor do urbanismo, ou pelo menos da palavra urbanismo, que substituiu o termo cidade, que até aquele momento tinha a simbologia de civitas, assim surge uma reação de abrir a cidade. A grande diferença entre polis e urbs é simplesmente uma escolha: integrar ou não deixar entrar. Em urbs temos uma comunidade onde pessoas do mesmo local, devido à proximidade, formam uma comunidade e em polis temos um espaço onde pessoas exteriores não têm o direito de entrar na comunidade. Assim urbs permite que pessoas exteriores se juntem, formem e que tenham também o direito a pertencer a essa comunidade. Urbs permite a agregação genérica de pessoas e o crescimento do império através da ligação de espaços. Com a introdução da palavra renovada urbs , passamos de um sistema político civitas a um sistema material. Dentro da urbs encontramos civitas, que significa o direito à cidadania, em que não se refere a uma materialidade, a um espaço habitado como urbs, mas sim ao relacionamento de habitantes, um espaço que, hoje, consideramos público. Um encontro de pessoas diferentes que decidem coexistir na mesma lei, e onde é de direito de todos uma cidadania dada. Dessa maneira a cidade no seu significado era apenas um lugar social que permitia ter uma cidadania, que se transpõem para um espaço material, formal, através de urbs . Urbs como infraestrutura tem o principal objetivo de agregar casas, espaços materiais, e “ignora qualquer espaço político” (Aureli, 2011:7). A sua função e objetivo é apenas o bom funcionamento do sector privado, o espaço privado. Urbs e civitas representam dois fundamentos e espaços com objetivos diferentes, são irredutíveis. Espaços que demonstram que já no início da cidade coexistiam e que tinham a intenção de se sobrepor. Espaços que deram continuidade no organismo da cidade e mostram o dilema e o impasse da cidade atual, entre os paradigmas que dividem o público do privado, como político e material. Hoje, formam a luta entre o político e o económico. Ao contrário de polis e civitas, que a sua origem se dá por uma decisão de cohabitação, e deste modo política, sofre uma evolução, como consequência às evoluções agrícolas, ao artesanato industrial, contribuírem para uma expansão demográfica, e a cidade passa a ser influenciada pela economia. O modo de viver e trabalhar sofrem mudanças substanciais.
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Civitas é o espaço político, a esfera política, o corpo social da cidade onde é necessário, pela sua decisão, coexistirem unidos segundo uma lei.
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Urbs é a infraestrutura e tem o principal objetivo de agregar casas, espaços materiais, e “ignora qualquer espaço político” (Aureli, 2011:7).
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8. PROJETO HAUSSMANIANO
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Com a industrialização inicia-se o “capitalismo concorrencial” (Lefebvre, 2012:17), que é introduzido com a ascensão da burguesia. No entanto, já existia a cidade enquanto realidade. As cidades foram acumulando riquezas e os mercados foram elegidos como centros, ou pelo menos os que restavam dos antigos mercados. Através das mudanças ocorridas nos sistemas de produção, o artesanato passa nesta altura a ser encarado como bem comercial. “A cidade começa a orientar-se para o dinheiro, para o comércio, para as trocas, para os produtos” (Lefebvre, 2012:18). Há um investimento na cidade como forma de produção de riquezas através do aproveitamento dos excedentes da economia, a cidade começa a ser um ponto fulcral da economia. Ao mesmo tempo que isto acontece, o capitalismo torna-se comercial e bancário, permitindo, assim, trocas e transferências de dinheiro, começa aqui os primórdios de uma rede económica. A Burguesia ascende no centro da riqueza, que deixa de ser só imobiliária, assim como agricultura e a propriedade fundiária deixam de ser dominantes. Os “capitalistas passam a controlar as terras feudais que agora se vêm enriquecidos também pelo comércio, pela banca e pela usura” (Lefebvre, 2012:18). As cidades começam a estar ligadas por estradas, vias fluviais e marítimas, por relações comerciais e bancárias. Sobre este sistema projeta-se o Estado, um poder centralizado, que leva a que uma cidade assuma superioridade sobre as outras, a cidade capital. São as disputas das classes sociais, as desigualdades e a procura de abrigo que fazem nascer um novo quadro urbano. Esta nova forma de interesse na sociedade, através do comércio, é marcada pelo interesse privado da burguesia e da revolução industrial. Desta forma a industrialização “assalta” (Lefebvre, 2012) a cidade, movimen-
tos analisados por Lefebvre (2012) em Paris e por Peter Hall (2002) na cidade Victoriana em Londres. Mas apesar de parecer sem intenção para alguns, o processo cria voluntariamente novas facções de classe, que possuem capital e investimentos produtivos. A nova burguesia conquista a cidade. Um exemplo explícito desta mudança é a cidade de Paris, em que a burguesia, uma classe não homogénea, ganha acesso à cidade. O bairro Marais em Paris, que até então era aristocrático, com esta tomada de posse do seu lugar na cidade, torna-se num bairro em que mansões são substituídas em poucos anos por oficinas, prédios de renda/aluguer, armazéns, etc. Nasceu uma nova classe social, que está a pensar no crescimento económico e que através da democracia substitui a exploração por opressão. Conseguem em 1848 ter os meios de ação sobre os bancos e o Estado.
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Com esta situação, os novos trabalhadores que viviam no exterior da cidade, chegaram à mesma, e passam a viver em prédios com pessoas de classe superior. Estes trabalhadores, intitulados assim, discordavam da sua situação e da segregação social, apenas eles ocupavam os andares superiores. Desta forma, os trabalhadores estão na origem da revolta de 1848, reivindicando melhores condições de trabalho e de habitabilidade e que terminou com vários incêndios em Paris. Revolta que resultou na reestruturação da cidade promovida por Haussman. Projetaram-se grandes e longas avenidas, uma cidade cheia de espaços “belos”, cujo intuito era servir a burguesia. Depois de todos estes esforços o problema continuava a existir e persistir, não conseguiam expulsar o proletariado da cidade, pois o proletariado, tendencialmente, voltava para reconquistar o que também lhe pertence: a cidade. A congestão e a insalubridade eram os problemas das cidades viradas, agora, para a economia. Surgem então os subúrbios como forma de responder a estes problemas, obtendo-se uma expansão da cidade. O Estado promove através destes subúrbios o conceito de Habitat, devido às fracas condições de habitabilidade vividas nas cidades. Uma ideia que passa mais do que uma questão em relação ao trabalho, o conceito abrangia também o de propriedade, o direito da propriedade começou a surgir, não só numa questão moral. Este pensamento dos subúrbios em França fez emergir uma luta das classes mais abastadas contra a cidade. Estes moveram-se para os arredores residenciais. Em consequência deste movimento, resultou um centro que se esvaziou e o que restou foram só escritórios. Surgiu então uma nova maneira de viver e planear impulsionada principalmente pelo papel da economia, que vem através das melhorias na agricultura e uma ascensão artesanal e assim a consequente expansão demográfica. Criam-se agora novos espaços para viver e mesmo para trabalhar. Numa ordem rural e feudal, surge uma nova ordem que se expressa numa rede de transações económicas. A nova ordem permite uma burguesia em ascensão que se assume pelo papel da economia que definiu e ainda hoje define na verdade a identidade da cidade, um sistema económico pensado para prosperar. Em 1867, Cerdà teoriza um conceito, e introduz o conceito de urbanização, como uma resposta a um novo sistema económico trazido pelo capitalismo e à congestão espacial; os novos sistemas de transporte que para Cerdà permitiam “um vasto oceano rodopiante sem precedentes de pessoas, de coisas, de interesses de todo tipo, de milhares de elementos diversos que estão sempre em trabalho constante”. A urbanização passava então a ser a nova maneira de organização do território urbano. Com esta nova maneira de organização Cerdà cunha a palavra urbanização para substituir o papel político da cidade, porque agora mais do que civitas, estava-se a tratar de uma dimensão material. Urbs absorveu a ideia de civitas de tal maneira que “we have witnessed the triumph of a new form of human association based entirely on the mastery of the urbs ” (Aureli, 2011:8). Para Cerdà a nova forma de habitar não era no centro da cidade mas sim nos subúrbios. Estes traziam melhores condições de vida e a tarefa passava a ser agora expandir a infraestrutura ao máximo, para construir habitats além da estrutura simbólica, “Ruralizar a cidade e urbanizar o campo” (Aureli, 2011:28). A teoria só foi escrita posteriormente com o planeamento da expansão da cidade de Barcelona. Esta é considerada a primeira cidade a usar planos e critérios científicos, tais como estatísticas. Critérios homogéneos para a redistribuição da riqueza social e económica. Nasceram assim blocos isotrópicos de 133 metros por 133 metros que articulam uma distribuição igualitária. O objetivo de Cerdà passava pela disposição de atividades pela cidade toda com o objetivo de equilibrar a diferença entre as classes, dar acesso a toda a esfera social. A revolução foi a grelha em tabuleiro de xadrez que permitiu a mudança do conceito histórico da cidade como centralidade,e passar agora a cidade a ser um espaço que se expande e estende potencialmente até ao infinito, até onde a economia e a capacidade de produzir da sociedade o permitirem.
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41 10. BARCELONA, VISTA AÉREA
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9. PLANO DE CERDÀ PARA BARCELONA
O objetivo de Haussman era que este pretendia ligar a Barcelona velha às cidades nos seus arredores, e assim passar ligar os centros separados de uma vez por todas. Criou assim uma metrópole. Os centros, agora, passavam a distribuir-se segundo certas normas sobre a cidade, para não criar centralidades, e ao mesmo tempo serem acessíveis a toda a população da cidade. As cidades passavam a ser XL, sem um limite definido pelo centro, o centro passava a estar em diversos locais e as cidades a terem a oportunidade de se expandir. Podemos argumentar que na urbanização, de Cerdà, estava implícita a supressão da dimensão política da sociedade, que deu lugar ao poder da economia, assim urbs passou ao seu sentido original e a cidade passou a ser administrada por uma componente privada e material, a economia. Passou-se assim a governar com economia em vez da política. Paradigma que se formou agora na gestão da cidade. A pergunta a fazer então é: estamos a ser governados pela política? Vivemos um processo gerido de maneira totalitária com base na economia, seja da ditadura seja em democracia. Essa razão levou a Ludwing Hilberseimer (2012) a afirmar que a cidade consiste a partir deste momento numa coordenação de dois extremos, um plano para as forças produtivas e económicas e uma única célula habitável, em que os extremos se materializam no seu projeto de Cidade Vertical, a Hochhausstadt, uma metrópole para a nova era. Ao mesmo tempo que surgem as metrópoles surge também o movimento City Beautiful, que nasce de uma imagem Haussmaniana, através da criação, de grandes avenidas com a tentativa de representar a supremacia de um império. New Dheli é uma cidade exemplar no modo como foi transformada pelos princípios desse movimento. Pertencente ao Raj Britânico, tornou-se na nova capital da Índia e substituiu a anterior Calcutá. Surgiu devido à sua localização central, à sua salubridade e ao seu clima, “Uma cidade que não será inglesa, nem indiana, nem romana, mas sim imperial”, escreveram os arquitetos Baker e Lutyens na sequência de uma conversa. Dheli em 1911 estava dividida em duas partes, a parte Nativa e a parte de influência Britânica, onde havia um “acantonamento” de tropas vazio. Existe um eixo entre o palácio do Vice-rei e o edifício do secretariado, que se situa no topo do monte e os eixos que conectam a praça da estação ao arco da memória da Guerra.
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Dentro dos reticulados hexagonais restantes, distribuíram-se as casas de acordo com uma formula “desconcertante” e complicada, em que as variáveis eram a raça, o nível profissional e o estatuto socioeconómico. A espacialidade deu-se do vice-rei, ao comandante chefe, ao membros do conselho executivo, aos oficiais, aos superintendentes, aos soldados rasos, aos varredores, etc. A ordem espacial foi calculada de acordo com a pirâmide da estrutura social. Deste modo, surge um planeamento abstrato que nada tinha a ver com a Índia, mas com um modo de vida britânico, muito comum nas colónias Inglesas. Todos os planos coloniais europeus tinham em comum o uso do solo e a sua estrutura social, um núcleo onde fica a sede do governo ao lado da área empresarial e que, junto a ambos, encontrávamos o centro de compras. Projetava-se um esquema geométrico formal para as vias com vias grandes, as avenidas, que acabavam ou começavam em “anéis” de tráfego. Cercadas por estas vias estão as casas habitacionais de baixa densidade e só depois existe a parte nativa segregada numa das partes da cidade, com limites através das linhas de caminho de ferro. Na parte nativa ou “pobre” consegue-se ainda encontrar um pequeno comércio centrado. Desta maneira com a segregação deste planeamento considerava-se que os nativos, ou aqueles que não eram empregados domésticos, não existiam, como verificamos em Lusaka. Conseguimos ver neste momento que o planeamento tinha como objetivo segregar o espaço da cidade, assim como excluir as camadas inferior da sociedade. A imposição de limites, da mesma forma que observamos no projeto de Haussmaun ou na cidade Victoriana, tinham como objetivo contribuir para criar uma desigualdade social, sempre com o intuito de dominar e aproveitar a parte inferior da pirâmide social, o poder económico já se tinha instalado nas cidades, e a segregação social de acordo com o poder na sociedade era visível. Com o surgimento da 1 a Guerra Mundial a situação muda através do surgimento da pressão demográfica, o contínuo movimento de habitantes para a cidade e do contínuo impulso da industrialização. Tudo ajuda e com uma nova necessidade o Estado assume os problemas e começa a construir habitações que surgem através de bairros novos e de cidades novas. O direito à habitação passa de um direito moral para um direito cívico. Em Paris, trocaram-se espaços residenciais de vivendas, com jardins e cercas que davam a sensação de liberdade, por novos conjuntos habitacionais em altura, em que a única coisa importante era a habitação. Instalou-se uma maneira de viver este no seu estado puro, a única preocupação era o espaço. Desenhar o ambiente e o espaço onde vivemos é das tarefas mais importantes da humanidade. Nesse sentido o Estado e Urbanismo constituem os elementos essências para a sua realização. Os Estados e as cidades estão sempre mutuamente ligados. Metrópoles e cidades do mundo são os centros que produzem a energia, tanto para o Estado como para o mundo, são os espaços de cruzamento de fluxo, sejam eles de economia, sejam de atividades humanas ou de espírito do homem. Desta maneira, nunca podemos ver a metrópoles como um sistema independente, mas sim devemos ver, como um sistema dependente e interligado a outros maiores ou menores. O significado, em si, metrópole, explica essa relação. Metropolis é uma palavra grega que vem de meter, cujo significado é “mãe”, e de polis, que significa “cidade”, então é uma cidade mãe, que tem o objetivo de controlar os seus progenitores. Com a evolução das metrópoles e através da interligação das cidades localmente que já existiam, elas começam a formar infraestruturas que permitem a sua conexão, inicialmente a nível nacional e posteriormente a nível internacional. Através da evolução da tecnologia nos sistemas de transporte, começam-se a construir e a desenhar redes de transporte que têm como objetivo proceder e aceder as trocas económicas, e atender a necessidade que se começa a encontrar na pessoas, o fluxo. O desenvolvimento de cidades à volta destas infraestruturas e principalmente no cruzamento das mesmas, como o caso das linhas férreas e os portos marítimos, tornou-se assim a principal influência para construir cidades.
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11. MAPA DE REDES DE TRANSPORTES ,NA CONEXÃO NO MUNDO,1925
A queda do feudalismo e a ascensão da burguesia deram lugar ao domínio da economia no mundo. Foram estas as causas para a mudança de produção que se viu no séc XIX. As nações não conseguiam responder aos problemas gerados pela organização da produção e implementam medidas insuficientes. Com a abundância, excesso de população, as metrópoles eram aclamadas e instigadas. Em vez de se tentar resolver os problemas, considerando as necessidades públicas, apenas se satisfez as demandas fugazes e deixaram-se de lado os interesses públicos. A longo prazo foi tudo deixado a iniciativas privadas, cujo único interesse era financeiro e por isso era essencial o aumento do valor do “solo” e ter o maior lucro de aluguer do mesmo. Nunca houve um objetivo geral em deixar a metrópole como um organismo funcional. Sempre houve, desde o início, uma procura por parte da burguesia de a transformar num organismo rentável. Razão pela qual a sua falta de organização ainda, hoje, ser uma das principais características e problemas. Os bairros residenciais eram invadidos, infiltraram-se fábricas barulhentas e poluentes, assim como edifícios comerciais que produziam tráfego. As ruas eram esquematicamente planeadas, os centros não tinham uma organização a pensar nos distritos residenciais. A construção e as suas normas aplicaram-se em todo o lado, sempre da mesma maneira sem se pensar e ter em consideração os usos e as atividades dos edifícios. A cidade não foi vista como um meio de relação de homens, como um espaço público mas apenas como um espaço material, influenciado pela economia. “Apesar de tudo, a metropolis pode ser abusada como todas as coisas e não falamos contra a metropolis, mas contra o agressor. E o agressor é o capitalismo” (Aureli, 2011:87). A única preocupação do capitalismo era o lucro e a rentabilidade, as pessoas não entram na equação, a não ser como utensílio para a sua utilização na indústria. Contudo não se conseguia resolver os problemas das metrópoles, em termos de tráfego, higiene e habitação e o problema de habitação proletária foi desconsiderado e não recebeu muita atenção. Hoje continuamos a ter os mesmos problemas, e por isso, devemos considerar sempre os dois juntos, porque são os aspetos mais importantes da complexidade de planeamento. Neste problema urbano, de ampla extensão, os centros da cidade devem de ser reformados e a população deve de ser redistribuída. Dessa forma criaram-se bairros residenciais ao redor de toda a cidade, os interiores da cidade foram libertados para dar lugar à vida comercial, as ruas passaram a ser regulamentadas e todos os edifícios insalubres eram demolidos e reconstruídos. A renovação de uma cidade não deve ser dificultada por uma consideração sentimental pela história, porque a nossa tarefa não é conservar o passado, mas sim prepararmos o caminho para o futuro, defendia Hilberseimer (2012).
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A metrópole surge como um produto da economia que foi desenvolvida na era moderna. Foi o resultado de uma industrialização global. A grande diferença entre cidades do passado e as metrópoles está no fundamento da economia. As cidades sempre corresponderam às forças produtivas do seu trabalho e à sua estrutura económica que eram determinadas pela sociedade que as produzia. Dessa maneira não podemos comparar as cidades antes da industrialização com a cidades após esse momento. Foi este preciso momento que mudou e marcou a sociedade para sempre. De acordo com Friedrich Engels (1848), a sociedade imperial romana chegou ao seu cume na simples produção de mercadorias, e desmoronou-se num limiar capitalista de produção. Enquanto a metrópole, em si, implica e precisa do modo capitalista de produção. As cidades passaram a estar ligadas ao espaço Urbs e o espaço Civitas parece desaparecer sobre uma influência económica. O conflito inicial transforma-se numa sobreposição de um dos espaços. O número incessante de grandes metrópoles comparado às cidades do passado forma o resultado da nova organização económica. “De facto, há uma tendência de estender a metropolis num país inteiro - em toda a civilização mundo” (Aureli, 2011:85). Hoje em dia, essa tendência é um fenômeno que surte, que se deve à exploração de interesses privados especulativos, que carecem de organização no modo de planeamento. Apesar disso, o objetivo dessa tendência é que todas as pessoas possam fazer parte deste organismo económico colectivo. É importante percebermos assim que a metrópole não se distingue apenas pela sua dimensão, que não é só uma ampliação do modelo urbano que existia anteriormente à industrialização, e que com a industrialização as cidades tornam-se XL, mas que tem características que a diferenciam. Uma cidade só se pode tornar numa metrópole quando introduzimos algumas dimensões, principalmente a concentração de capital e de pessoas, para a exploração industrial. Se retirarmos esses motores, a metrópole acaba por se dissolver, “apenas pessoas e uma cidade grande, não fazem uma metrópole” (Aureli, 2011:86). As sociedades humanas produzem formas organizadas que correspondem às capacidades de produção. Neste formato as sociedades foram evoluindo e reagindo a problemas que surgiram, através da junção de circunstâncias. Desde as cidades tribais, pouco definidas, que foram substituídas pelas vilas articuladas, estas marcadas pelo nível de produção agrária, à cidade organizada que emerge com a produção a nível artesanal, à era moderna, com a indústria no seu “estágio final”, até à organização social que se encontra, hoje em dia, surgiram novos sistemas de organização espacial, e o principal momento surgiu com as metrópoles, que através da industrialização e da nova forma económica: o capitalismo, transformaram as cidades num espaço económico e trouxeram uma nova forma de planeamento, gerado e impulsionado por esta nova necessidade económica.
12. O INÍCIO DE UMA NOVA ERA - NEW YORK, METROPOLIS
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DAS METRÓPOLES ÀS CIDADES GLOBAIS
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13. ÁREA METROPOLITANA DE LONDRES
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O modernismo, a época/estilo que marcou a primeira metade do século XX, foi a consequência da industrialização até à 1a Guerra Mundial. Foi marcado por um momento em que a autoconfiança no progresso e no desenvolvimento do conhecimento era extremo. Isto levou a uma expansão do pensamento e do desenho racional da ordem social. Houve neste momento uma tentativa, boa ou má, de um desapego e esquecimento de tudo o que era passado, e surgiu a tentativa de criar uma sociedade completamente nova, que satisfizesse o ser humano, que este fosse o ponto central, e tentava assim, o Estado, impor e mesmo representar esta nova sociedade. Era difícil encontrar um não modernista, que não fosse a favor de todas as inovações na sociedade, no final do século XIX, quem é que na sua perfeita consciência não ficava impressionado com todo o leque de revoluções que estavam a acontecer, devido aos grandes avanços, principalmente na indústria e nos transportes. Hoje, mais afastados e num discurso pós-modernista podemos dizer que era totalitário, e que houve custos sociais e espaciais, entre outros como nos mostra James Scott. Não podemos ignorar apesar disso, o facto de essa era nos ter dado e permitindo novos discursos e ideias revolucionárias que ainda temos predominam.
O caminho do ponto de vista Iluminista foi criar uma nova cultura que reflita menos as práticas e costumes da mesma, ou seja uma independência da sua localização e criar uma nova comunidade. Uma comunidade que estava codificada e era o mais generalizada possível, ficava na maioria com os costumes racionais, sendo os outros costumes mais obscuros e bárbaros, supridos. A implementação de leis gerais como os Direitos Humanos, que são genéricos e que visam todo o ser humano a ter direitos, é um exemplo desta nova cultura. Assim, certas culturas tinham que deixar de lado os seus princípios e costumes para o bem estar do homem e da sociedade, criou-se uma generalização.
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14. AXONOMETRIA DA VILLE RADIEUSE, LE CORBUSIER
Estabelecemos novos padrões de peso e medição, até mesmo da língua. Não nos podemos esquecer que o inglês, cada vez mais, é uma língua genérica e universal, sendo consequência da globalização. Surgiu nessa altura normas, leis e regras que pretendem criar uma só unidade. Em meados do século XIX as ideias de generalização de Condorcet, surgem mais presentes na sociedade. As regras já não eram só utilizadas em medidas, mas está racionalização era utilizada também era agora aplicada ao desenho da sociedade, que era projetada e ambicionada pelo Estado e pela Nação. Passou a ser o objetivo do Estado melhorar a sociedade, ou melhor dizendo dos seus membros através da sua saúde, da educação, da longevidade, da produtividade, da sua moral e da sua vida familiar. A utilização da ciência e da estatística foi inovadora. Esta utilização foi benéfica não só para o Estado mas para toda a sociedade. Melhorou as taxas de emprego, fertilidade, homicídio, etc. Foram um passo, que parece simplificado mas serviram para desenhar uma manipulação da sociedade, de forma a melhorá-la (Scott, 1999). Se com estatísticas conseguíamos remodelar a Natureza e criar uma floresta mais adequada, o mesmo se passa com o Homem. Passamos a utilizar estatísticas e percentagens, que eram comuns e que podiam ser modificadas para criarmos uma sociedade mais adequada. A sociedade começou a ser projetada de acordo com certos padrões ou melhor, com os mais avançados princípios. A ordem social começou a ter critérios e a ser comparável. Consequentemente começou a tornar-se genérica, porque os parâmetros comparativos resultam e levam à evolução de um sistema que pode projetar a sociedade segundo certos critérios. Neste sentido, foi a comparação e a exposição em critérios que levou à generecidade, pois esses critérios eram consistentes, racionais e científicos. Cada sítio da ordem social podia ser melhorado, como a higiene, a reprodução, a habitação, a educação, a estrutura familiar e, ainda mais cientificamente avançada, a herança genética de uma certa população. Começaram a surgir as cidades das torres genéricas e racionais, que atribuímos a Le Corbusier como o grande impulsionador desta época. Le Corbusier desenvolveu
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15. IMPLOSÃO DE PRUITT-IGOE
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os seus projetos sobre o paradoxo de que se há um aumento populacional é necessário aumentar a densidade construída. Para aumentar a densidade é preciso melhorar a circulação e aumentar os espaços livres. Assim a solução era a construção de edifícios altos que ocupassem áreas mais pequenas. Surgiu a exigência de construir em espaços novos, ou melhor, livres, porque os antigos não eram geométricos e não estavam a permitir a cidade progredir. A ideia nesta altura passava por: se as estatísticas nos mostram que o comércio é predominante no centro então temos que “demolir” os centros, e construir grandes avenidas, a cidade era uma tábua rasa, podíamos apagá-la para começar de novo. A cidade era criada para a classe média e para as suas necessidades, os edifícios eram, agora, devido às circunstâncias do mundo atual, uma nova “célula”. Uma célula que funciona sempre da mesma maneira e que consoante a necessidade surgia a mudança para uma exatamente igual. Conseguímos observar em projetos de Le Corbusier como a “unité de habitacion” uma globalização da habitação. Com essa convicção na sociedade surgia uma cidade que incorporava o “povo”. Não era a nível anarquista. Havia uma hierarquia e era um sistema ordenado, onde todos eram iguais no coletivo. Viviam todos em prédios coletivos, “unités”, e os apartamentos não eram dados consoante o estatuto mas sim eram dados consoante as necessidade de espaço. Coube a Le Corbusier projetar a nova capital da Índia e com a sua tentativa de implantar o seu pensamento ocorreu uma segregação da cidade em classes sociais, da mesma maneira que já tinha pensado para a Ville Radieuse. A classe média vivia nos arredores do centro em prédios altos e a classe pobre em quarteirões com espaços públicos no interior. O problema de Chandigarh foi o mesmo que ocorreu em Brasília, começou a crescer uma nova cidade informal junto da cidade planeada, na tentativa de ter acesso à cidade que era projetada para não as incorporar. Apesar das favelas do Rio de Janeiro serem as mais conhecidas, em Brasília também surgiram favelas. Estas representam a apropriação do solo por parte de pessoas à procura de terra urbanizada. Em Brasília surgiu Taguatinga como favela, que inicialmente tinha sido pensada como uma cidade livre e projetada para os trabalhadores. Na realidade, surgiu mais uma vez, a segregação da sociedade, como resultado de um planeamento.
Chegou mesmo a surgir a construção de edifícios modernos. Estes, mais tarde, foram levados ao abandono. Alguns chegam a ter uma taxa de desocupação entre 30 a 40%. Um forte exemplo disso foi o complexo habitacional de Pruitt-Iogle, que foi construído em 1955 e premiado. No entanto, foi demolido após 17 anos. Com a passagem dos anos a ocupação começou a ser segregada e acabou mesmo num desastre, a sua população era constituída na maioria por menores e mulheres como chefes de famílias.
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A maioria da pessoas que habitavam Pruitt-Iogle eram de raça negra (Hall, 1988:277), e chegou ao ponto de estar tão degradado, que a taxa de ocupação era de 35%. Então o inevitável aconteceu, o edifício foi implodido (como vemos na imagem 15) e marcado como uma referência de desastre moderno. O problema da cidade das torres corbusianas foi que podem até funcionar bem para os habitantes da classe média e para os habitantes que já viviam em apartamentos, mas o problema maior surgiu porque estas habitações foram dadas a habitar a pessoas que não conseguiam lidar com o seu funcionamento. Era uma população constituída por mulheres, mães da Geórgia, muitas delas solteiras ou viúvas, eram socialmente assistidas e tinham muitos filhos. Revelou-se ser mais uma catástrofe urbana. Esta época proporcionou o desaparecimento da realidade urbana “ruas, praças-monumentos, espaços de encontro. Até os cafés suscitam o ressentimento dos adeptos dos grandes empreendimentos residenciais, movidos por um gosto, pelo ascetismo e pela redução do habitar ao habitat”(Lefebvre, 2012:14). Nos anos 50 surgiu de Peter Hall (1988) a “Cidade da Teoria” e a ideia de planeamento mudou completamente. Mesmo antes desta época, verificou-se uma mudança de alguns sectores no planeamento, mas foi o momento crucial onde surgiram mais e novos ramos da arquitetura em universidades da Europa e dos Estados Unidos. Estes ramos sugeriam o planeamento como uma matéria autónoma. Mais tarde, nos anos 50, tudo começou a ficar fora de controlo, devido a um surto económico. O surto foi consequente à 2a Guerra mundial, as cidades reagiram com a construção de fábricas e escritórios, que levaram a uma sociedade de riqueza e de alto consumo. Seja do carro à casa própria, a nova ideologia envolveu o consumo do solo. Não tardou muito a todo o planeamento, às técnicas e métodos começarem a ser utilizadas no sentido de controlo de fluxos e previsões de tráfego, mas também não tardou a que começarem a existir também modelos locacionais de atividades comerciais, industriais e residenciais. O planeamento surgiu neste momento como um processo “por meio do qual os programas, durante a sua implementação, vão-se adaptando na medida e no momento em que a entrada da informação exige tais mudanças.” Apesar de tudo isto o planeamento ainda era “parcial, experimental, incremental e resolvia problemas à medida que estes surgissem” (Hall, 1988:393). O capitalismo esteve e ainda está associado a crises recorrentes e cada vez mais marcantes. Neste momento de rotura o “capital” chamou o Estado para este se tornar no seu agente. Este procedimento serviu para corrigir a desorganização do trabalho, a produção de mercadorias e auxiliar a reprodução de trabalho. O planeamento surgiu como resposta social à necessidade de organização. Para a existir uma concretização objetiva tentou-se criar infraestruturas imprescindíveis e serviços urbanos básicos. No fim da década de 60, os urbanistas de sistemas perdiam a legitimidade devido ao facto de haver uma desconfiança no geral de que o planeamento era feito de cima para baixo. Os urbanistas tiveram então uma grande mudança de papéis. Em 1955 faziam diagramas de uso de solo e em 1965 estavam a analisar dados estatísticos. Em 1975 falavam com as pessoas da comunidade na tentativa de organizar resistência contra as forças hostis do mundo. Apesar de todas estas evoluções no pensamento e na prática das cidades, surgiu uma contradição. Acontece uma inadaptação que o planeamento resolve ou tenta resolver mas, no entanto, surgirem novos problemas, tais como os zonamentos norte-americanos, que limitavam o uso industrial do solo (Hall, 1988). Nos anos 80, o planeamento deixou de controlar o crescimento urbano e começou a encorajá-lo. As cidades eram vistas como máquinas de produção que levavam à riqueza, a cidade voltava e volta a ser o centro de uma economia, anteriormente industrial e agora de que tipo? Será que o planeamento pode deixar de existir? “O planeamento sobrevive nos países avançados, porque têm uma grande clientela política.”(Hall,
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1988:468). Quando os povos e as sociedades enriquecem exigem mais do ambiente onde vivem. Nunca irá desaparecer, da mesma maneira, que nunca vai deixar de ser político. Hoje, sofremos novos e alguns dos mesmos problemas, para quais, o profissional continua a não está preparado. Esses problemas são de ordem económica e estrutural, como construir uma economia de igualdade e o problema urbano das pessoas que querem estar na cidade, que acabam por viver em subúrbios precários e bairros ilegais nos limites da cidade. Enquanto a cidade cresceu, a tecnologia de informação impulsionou ainda mais o capitalismo, acelerou a internacionalização e surgiu com uma nova agenda política. O objetivo passou a ser e ainda é criar acumulação de capital a custo da redistribuição social e espacial. A redistribuição traz como consequência a descentralização das funções de produção. Isto é, devido à fácil implantação da concentração das indústrias informacionais, em sítios como Silicon Valley e o Tagus Park. Estes meios de inovação, não surgem só em sítios desurbanizados, mas também estão em meios mais antigos como Paris, Boston, Munique, que são a força da economia capitalista. O poder de decisão está concentrado, enquanto as outras atividades se espalham e descentralizam por todo o lado. Esta nova “substituição dos lugares por uma rede de fluxos de informação” (Hall, 1988: 476) revela uma era que é caraterizada por feitos humanos extraordinários como as inovações tecnológicas, mas também uma desintegração de uma parte da sociedade. A consequência dessa desintegração é a junção de uma violência sem sentido, como guerras e terrorismo, ou pelo menos sem sentido social para o ser humano, que pensa no bem estar comum e não na economia proveitosa para si próprio. As indústrias estão cada vez mais descentralizadas e a cidade industrial morre, mas a atividade financeira internacional e a transação de serviços está cada vez mais centralizada, assim nasce a cidade do conhecimento. Estas atividades centralizam-se na maioria dos países em cidades específicas, que têm quase um controlo pleno do mundo no campo económico. Esta descentralização foi provocada pela nova sociedade em redes. As cidades rodeiam-se de grandes bancos e escritórios centrais onde existem os maiores aparatosos locais de indústrias e serviços, como a publicidade, a contabilidade, a assistência jurídica, a engenharia, a arquitetura, os serviços bancários, etc. Estes focam-se em transações internacionais. Nos anos 80 surgiu esta mudança na indústria, surgiram estas novas atividades no setor secundário que substituíram nas cidade as indústrias; Surge o setor terciário, os serviços e são estes que comandam a transação de mercadorias. Neste momento comprar e vendar tornou-se um fim em si mesmo, pois gera lucro. As cidades de Tokyo, New York e Londres emergiram inicialmente como líderes nesta centralidade. O produto passou a não ser tão importante e a dar esse lugar ao processo. Assim começaram a surgir as cidades que, hoje, chamamos de Cidades Globais. Com o aparecimento destas cidades foram criadas novas polarizações sociais. Cidades como New York e Londres, ricas nesta nova indústria de conhecimento ganharam popularidade, e “morrem” Birminghams e Detroits, outrora das cidades mais importantes na sociedade industrial. Mas, mesmo dentro dessas cidades há polos ricos e pobres em informação, que consequentemente são os pobres em dinheiro e que vivem em conjuntos habitacionais de aluguer, pessoas que necessitam de ajudas sociais. O facto de homens pobres classificados como trabalhadores “braçais”, que trazem no seu gene a força do trabalho, são os que sofrem com a maior taxa de desempenho. Esta substituição na economia foi um momento crucial para falência das famílias mais pobres nas cidades norte americanas, que consequentemente eram na maioria afro-americanas. No livro When Work Disappears, de William J. Wilson, o autor retratou esse fenómeno, que deu origem a pesquisas na Europa e nos Estados Unidos. As pesquisas mostravam claramente, que este fenómeno era comum em todo o lado. As oportunidades de emprego viradas para o Homem desapareciam, como resultado surgiu uma taxa maior de criminalidade e de dependências de drogas ou álcool.
O desenvolvimento urbano sustentável surgia nos anos 90 mas apesar de todos o procurarem ninguém tinha noção de qual era o seu significado ou as suas implicações. Podemos ir de encontro ao relatório de Brundtland de 1987 que dizia que “devíamos de satisfazer as necessidades presentes sem comprometer as necessidades futuras” (Hall, 1988) mas, a verdade era que ninguém tinha noção do que isso significava. Os objetivos gerais eram fáceis, passavam por desenvolver meios de transportes públicos e individuais, que reduzam o uso do carro e o consumo de energias “limpas” . Na década de 90 surgiu também novamente um problema em toda a Europa. O aumento do número das habitações, não como na década de 50 ou 60 devido ao cres-
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16. SAN FRANCISCO COMO CENTRALIDADE
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A tentativa de mudar a condição física dos espaços e criar de espaços melhores, onde não houvesse criminalidade, ou redesenhar os existentes, não era suficiente (Hall, 1988). Pois o crime era deslocado para outro lugar, havia a necessidade de criar programas sociais com estas mudanças físicas. Mas, apesar dessas iniciativas o desemprego continuou, e foi a principal causa da criminalidade. Só um projeto realizado com vários especialistas, nas diversas áreas, como psicólogos, arquitetos, engenheiros, agentes de segurança, políticos, tinham a possibilidade de fazer algo para mudança. Para os especialistas a crise dos anos 80, não se voltaria a repetir, pois surgiram novos setores que não eram só financeiros, como as artes, o entretenimento cultural, os serviços de saúde e educação e o turismo. Surgiu ainda a ideia que um fluxo de informação ia acabar com as cidades dos anos 90, devido à passagem e troca de informação de aparelhos, miniaturas acessíveis. Qualquer um podia desempenhar qualquer atividade em qualquer lado. As universidades substituíam professores por professores à distância, a bolsa de valores era substituída por uma rede, etc. Apesar dessa preocupação tornou-se evidente em meados da década de 90, que isso não ia acontecer. Pois começaram a surgir cada vez mais a centralização desses sectores industriais, como Sillicon Valley, Londres, New York, S. Francisco, etc. Estes movimentos surgiram por uma dependência da comunicação cara-a-cara. A comunicação, a troca da informação e de conhecimento na rede não o permitiram e permitem esse contacto necessário. Os lugares escolhidos precisavam de ser de alugueres baixos, a dependência de outros serviços, a necessidade de partilhar o conhecimento encontravam o seu lugar no meio dos arranha céus. Um processo que trazia implícito uma centralização. Essa centralização levou a uma pronunciada polarização da economia, da sociedade e da cidade. Neste momento teme-se que a polarização continua a ser o problema urbano contemporâneo, e não será?
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17. REDE DE CIDADES GLOBAIS
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cimento populacional, mas sim uma fragmentação de lares mais numerosos e menores. Houve pessoas solteiras que deixaram as suas casas para ir estudar ou trabalhar, houve um aumento dos divórcios, um aumento da idade média de vida. Outro tema, foi a campanha pela qualidade de vida urbana, abordado na mesma década, que criou uma nova conceção de cidade em termos de imagem urbana. Enfatizou, também, uma competição na escolha da melhor cidade para se viver. O planeamento assumiu um papel secundário e surgiu a recuperação da cidade. Quase um século depois surgiram novamente as ideias da cidade bela, em que a aparência é o tema principal enfatizando a decoração da mesma. Agora, surgia então uma preocupação, o tratamento de espaços públicos centrais. Ficando para trás problemas como os bairros menos qualificados que surgiam com a polarização provocada pelas novas centralidades dos anos 80. Com este retroceder e aproximação na história do desenvolvimento das cidades e da sociedade e, consequentemente, no tempo, percebemos que o planeamento moderno continua com inúmeros problemas. Alguns foram substituídos, mas outros continuam por resolver. As economias tornaram-se mais ricas e desenvolveram-se, e criaram uma rede económica global entre cidades.
O palco são as cidades globais, que são a forma atual de uma metrópole que deve a sua configuração a uma economia capitalista, devido à colaboração com as tecnologias e com a Ciência, permitem que as economias nacionais se movam para uma economia capitalista global. A produção deixa de ser suficiente para as necessidades e começamos a encorajar as superproduções. O foco já não está em satisfazer as necessidades, mas sim passamos a estimulá-las. O resultado do poderoso capital é a forma urbana, a metrópole, que devido à característica do seu anonimato, a maioria não se apercebe mas instala-se na sociedade através de formas urbanas, com características muito singulares. Estas compartilham características umas com as outras e vemos um internacionalismo na sua aparência, fazem e têm como propósito não representar a fisionomia nem a imagem do seu Estado-Nação, como até certo momento, mas sim é representar cidades pertencentes a uma rede de cidades globais, ligadas por uma economia e mesmo sociedade.
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A confusão que criou o capital e a sua necessidade da metrópole tem vindo a criar um processo, a “metropolização” (Aureli, 2011:87), que chega a todos os países. A diferença, agora, é que os países são vistos apenas como consumidores e não como produtores, mas, de facto, é que ao construirmos uma metrópole , não percebemos a verdadeira essência da mesma. A metrópole tem como objetivo acelerar a produção económica e fazer um controlo económico da mesma. Conseguimos perceber, nesse sentido, que as metrópoles de hoje em dia são formadas com mais força nos países e nações em que as últimas gerações tiveram um desenvolvimento industrial. É necessário perceber que a verdadeira razão da formação das mesmas é puramente económica. Assim as cidades localizam-se onde estão os desenvolvimentos económicos. O problema não reside nesse ponto, mas sim no ponto, em que o grupo de pessoas menos afortunadas não têm grande representação nelas, “Muitas vezes ficam mesmo do lado de fora a olhar para dentro”(Hall, 1988:523). Grupos que não têm acesso ao sistema educacional e, consequentemente, à economia informacional. Estes jovens estão cercados pela cidade iluminada mas vivem na cidade da noite (Hall, 1988). A não ser que o dia também nasça na cidade das trevas, continuará a ser um problema sem solução para os engenheiros sociais e para os urbanistas. Estas cidades emergem pelo efeito da industrialização tardia, como por exemplo na África do Sul e na América Latina. Em consequência, nascem nos arredores das cidades, os bairros de lata. As estruturas da agricultura ficam na retaguarda e eventualmente desaparecem, os antigos camponeses que já não têm forma de subsistência, devido ao efeito deste novo mercado a nível mundial, albergam-se onde têm espaço, nos limites destas cidades. Deu-se a “implosão-explosão”(Lefebvre, 2012:23) da cidade, seja na Europa ou na América. O tecido urbano torna-se mais apertado e as concentrações urbanas tornam-se gigantes. A consequência é a chegada da megalópole a todo o lado, isto é,a concentração em densidades enormes. Formam-se novos centros, não só de densidade, mas também e principalmente, de poder. Centros estes que estão inteiramente dependentes da nova rede económica que formam uma sociedade de conhecimento. Esta nova sociedade surge através de uma globalização que permitiu, além de ligar a sociedade, conectar a economia globalmente.
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A GLOBALIZAÇÃO E AS CIDADES
A CIDADE GLOBAL COMO EXPRESSÃO DA GLOBALIZAÇÃO
A globalização é um assunto atual, que está a ser discutido em todos os campos, desde a filosofia à economia, à ecologia, à sociologia, à arquitetura, etc. Este processo, que se revela em muitos campos, tendo por essa razão muita força, é uma grande fonte de preocupação ou muitas vezes usado como instrumento de progressão. O mundo divide-se muitas vezes no paradigma, de ser um bom ou mau processo. Mas o que é em si, a globalização? Temos definições muito vastas de globalização e vão desde organizações a autores. Para a maioria é a integração económica, social, cultural e política de todos os países, que com essa integração, apresentam-se sem limites. Mas se assim for como última consequência todos os países passarão a um só?; Será que ainda temos limites? Segundo o FMI (Fundo Monetário Internacional), os aspetos básicos da globalização são a livre transação comercial e financeira, o movimento de capital e investimento, a migração e fluxos de pessoas e a disseminação de conhecimento. A partir do primeiro momento em que falamos em Global opomo-nos a Local. Torna-se inevitável não criarmos este paradoxo, como já vimos anteriormente que as cidades já estão a ser o espaço de confronto entre estas duas opções. Mesmo em questões como a identidade, a globalização está então a afetar as cidades e, consequentemente, o mundo em que vivemos. O discurso encontrado é sempre dividido em opostos, entre os que acreditam que é para um futuro melhor e os que acreditam que se está a destruir esse futuro. Com o surgimento da globalização existem entidades que surgem como resposta ao processo e que sustentam essa teoria, cujo seu objetivo é contribuir para a união. A União Europeia é um exemplo, que hoje une economicamente e politicamente 28 estados membros. Nasceu num momento crítico da sociedade, após a 2a Guerra Mundial, no qual a Europa tinha sido destruída. Desconfiança e confrontos surgiram, após esse tempo terrível, marcados por massacres da humanidade, dificultavam a reconciliação dos países. O caso era ainda mais agravado pelos países que espacialmente tinham a inevitabilidade de lidarem uns com os outros, que não é o caso dos Estados Unidos. Robert Schuman, político e democrata, com três nacionalidades distintas (francesa, alemã e luxemburguesa), sugere no dia 9 de maio de 1950 que fosse criada uma autoridade, para passar a existir a transação económica comum e unificada das produções de aço e carvão. O intuito era prevenir confrontos entre os países, pois se o mesmo acontecesse afetava diretamente e em grande escala a economia. Nasceu a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço composta pela Alemanha, Bélgica, França, Itália, Luxemburgo e Países Baixos. O objetivo era que a troca de matérias primas provocassem uma autonomia e uma independência de entidades exteriores. Em 1957 surge o tratado de Roma que tinha como objetivo, a nível social, político e económico, uma colaboração e um mercado comum de fluxos livres de capital, bens e pessoas. Começaram-se a juntar novos países e surgiu a união que hoje conseguimos observar. Temos de dar especial importância à razão pela qual a sociedade, as nações e, infelizmente, o mundo de hoje ainda se move, que desde o nascimento de uma nova classe com a revolução industrial, a Burguesia, ao modernismo até à atualidade, todos os movimentos são baseados na economia. A economia tornou-se a razão e ainda, hoje, lidera e controla a política e a sociedade. A criação da ONU, Organização das Nações Unidas, surgiu com o objetivo de
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manter a paz mundial e obrigar o cumprimento dos direitos do “homem” em todos os lugares do mundo, no entanto surgiram questões como uma cultura global e universal, uma cultura genérica. Como dito anteriormente, o facto de surgir este fluxo de pessoas e bens sem controlo leva a discursos mais conservadores, ou melhor críticos em relação ao assunto. Surgem dessa maneira o caso do Brexit e do discurso de Donald Trump, que acredita que este tipo de economias e fluxo de pessoas, no qual se incluem as migrações, desfavorece o espaço local onde nos encontramos, e consequentemente cria falta de empregos, maior criminalidade, menores salários, etc. Estes discursos são utilizados por países que são considerados potências mundiais, e que se fecham em “limites” com o apelo aos cidadãos de temas como a segurança, a economia, e a física das famílias. Mas será assim tão errado pensarmos que todos merecemos os mesmos direitos? Será que os imigrantes não têm o direito de ter as mesmas oportunidades que um americano? Que tenham o direito a viver em segurança, independentemente do país onde nascem? A construção de um muro, que restrinja essa passagem, não é um discurso egoísta? Será que o mundo perdeu a empatia? Será que já não temos empatia pelos outros ou perdemos a capacidade de nos relacionarmos, interagirmos e, consequentemente, mostrarmos compaixão? Como dizia Mónica Ferro (diretora regional da ONU) numa entrevista ao Jornal de Notícias, o problema “é não nos pormos no lugar dos outros”, a característica psicológica que a mesma define como “empatia”. O fundamentalismo foi criado no início do séc XX. Para Giddens é a “tradição encostada à parede” (Giddens, 1999:53). O movimento defende-se dando a tradição como justificação para a validade do ritual. Surgiu como um filho da globalização, no sentido, em que lhe responde e se serve dela. Usam as tecnologias para propagarem e se comunicarem, contraditoriamente à sua posição contra o sistema de redes, e muitas vezes incitam a violência (Giddens, 1999). Fazem discursos nacionalistas que têm como objetivo manter-se no poder. Hoje em dia, temos cada vez mais partidos de extrema direita nos parlamentos, pelo mundo, com este tipo de discurso. Foi o caso das eleições em Portugal em que o partido “Chega” ascende ao parlamento. “A tolerância e o diálogo devem ser valores universais, e todos nós temos que estar comprometidos com uma razão para viver, se não tivermos, não existe razão para não morrermos. Temos de sair em defesa destes valores” (Giddens, 1999:60). A sociedade de hoje em dia, é chamada ou caracterizada de informação ou de conhecimento. O seu fundamento não está correto, estas características fizeram sempre parte dela. A diferença, hoje, está na tecnologia que fornece novas capacidades, as “redes” como Manuel Castells denomina (Castells e Cardoso 2005). Com a nova rede de comunicação, hoje, não existe necessidade de centralização, permite transcender fronteiras e torna-se global. Esta economia em rede parece ser eficiente e tornou-se na forma de organizar a produção, a distribuição e a gestão. A rede parece só aumentar na sua maneira de crescer e chegar a todo o lado (Castells e Cardoso, 2005). De que maneira a sociedade está a ser afetada por este fenómeno? E a cidade? E “Será que todas as angústias que passamos, não são uma cópia de outros tempos? Será o mundo assim tão diferente neste século dos anteriores?” (Giddens, 1999:5). As mudanças aceleradas estão por toda a parte. A ciência, a tecnologia e o pensamento racional lideraram as grandes mudanças desde o séc. XVIII. O iluminismo baseava-se num pensamento muito simples: quanto mais racionais formos para entender o mundo, mais o homem se torna capaz de moldar a história à sua medida. Pois segundo Giddens (1999) só dessa maneira é que conseguimos ser livres no futuro, se nos libertarmos da história. O mundo é cosmopolita e como consequência vivemos, vemos e lidamos com diferentes culturas que formam uma complexidade impressionante. Por oposição, temos os fundamentalistas que, como já referimos anteriormente, consideram este processo perigoso e refugiam-se muitas vezes numa tradição, que leva à intolerância. Mas estará o cosmopolitismo a ganhar? Não estamos, cada vez mais, a ter tolerâncias culturais sobre a diversidade, e não está a democracia a chegar a todas as
18. DEPRESSÃO ECONOMICA, 24 DE OUTUBRO DE 1924
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partes do mundo? A Globalização está a provocar um paradoxo na nossa era (Giddens, 2000:15), pois apesar da democracia, um dos princípios fundamentais desta nova era, estar a chegar a todo o lado, será que existe mesmo democracia? Devido à popularidade que é assumida pela mesma, torna-se cada vez mais vulgar. Para os céticos, a globalização não passa de uma palavra que descreve o avanço da tecnologia e das redes de fluxos, a todos os níveis. Esta rede serve em si este propósito que, na realidade, provoca este fluxo, como é o caso da economia, mas na verdade não é assim tão diferente do que antes aconteceu. Para estes, a economia capitalista já tinha encontrado o seu caminho, só que atualmente, com as tecnologias e a velocidade incutida nas mesma, surgiu em todo o lado e tornou-se Global. A maioria do comércio externo é feito entre regiões da América do Norte, da União Europeia, etc. A realidade é que esta relação sempre aconteceu, não sendo uma inovação dos dias de hoje. Já no fim do séc XIX tínhamos uma economia global com grande troca comercial entre países, só que nessa altura, era feito a partir de uma rede de infraestruturas, em que a velocidade era limitada através do tempo de barcos, linhas férreas, avião, etc. Por sua vez, para os “radicais”, no “mundo na Era da Globalização” (Giddens, 1999:20), a globalização existe e está a transformar completamente o mundo. A economia já não é a mesma e as fronteiras já não controlam o sistema. As nações e os políticos ficam agora com menos poder de decisão e como defende Sassen (2007), perde-se o objetivo dos mesmos. O facto é exemplificado na recessão de 2008, que afetou o mundo inteiro e é a prova viva de que cada vez mais as crises não são nacionais mas sim globais. Redes entre pequenas e médias empresas permitem hoje a conexão às grandes empresas, e formam uma economia em rede. Temos “pontos nodais” (nós entre a rede) de controlo que são empresas que se ligam ao mercado, global e local, e assim ligam-se à instabilidade do mesmo. Por essa razão, nos dias de hoje ter um emprego estável já não é muito comum (Castells e Cardoso, 2005). A globalização é, então, uma reação às tecnologias? Mas, se assim é, porque motivo é que a grande depressão económica de 24 de Outubro de 1924 afetou o mundo e a economia capitalista de uma maneira nunca antes vista? Qual terá sido a causa dos países todos entrarem em recessão? Será que já estamos num mundo globalizado há algum tempo e ainda não nos tínhamos apercebido?
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Para Giddens é simples, hoje em dia a troca comercial internacional é maior que nunca e os bens e serviços são muito mais extensos. Desta forma a globalização só está a acontecer agora. Nota-se assim, ainda mais no dinheiro digital, a que hoje em dia temos acesso, as criptomoedas, o sistema bancário fundado que funciona como um banco “mundial”. Acessível em todo o lado e com o mesmo funcionamento, basta termos acesso à internet, a moeda universal (Giddens, 1999).
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Neste mundo, os trabalhadores que não aproveitam o máximo das suas capacidades, normalmente, tornam-se meros executantes de uma era industrial tradicional. Transformam-se então em trabalhadores genéricos, que podem ser substituídos por máquinas, por imigrantes, por mulheres, por mão-de-obra mais barata, muitas vezes chegamos mesmo a mudar a sede trabalhadora para outras zonas do globo. Muitas economias de países, têm sido projetadas por este desenvolvimento global, o caso da China, da Índia, do Médio Oriente. No entanto, temos cada vez mais pessoas desligadas destas redes. Esta projeção em rede traz consequências, na crise Asiática de 1997 vimos pessoas a movimentar dinheiro e a acabarem com a economia de países num “piscar de olhos”. De qualquer maneira o problema de muitos é associarem a Globalização apenas à economia. Céticos e radicais ignoram o facto de toda a sociedade estar a sofrer efeitos. Desde a evolução de como nos comunicamos, principal fundamento da sociedade (relação/comunicação com outros), foi na realidade o catalisador e trouxe consequências noutros setores. Desde enviarmos cartas por transporte, até ao primeiro telégrafo, até hoje, que nos comunicamos e tornamos dois espaços distintos num só, a evolução tecnológica e de comunicação tornaram-se no principal fator que afeta a maneira como nos relacionamos. Para muitos, a Globalização é mais uma ocidentalização ou uma americanização. Muitos consideram que é centralizada e só acontece nalguns sítios. Mas as Cidades Globais contrariam esse pressuposto, surgem em todo o lado, seja para aumentar a riqueza de uma minoria e a pobreza de uma maioria. A realidade é que a taxa dos mais pobres tem vindo a decrescer (Giddens, 1999), mas será esta realidade verdadeira? Ou começou a existir um novo tipo de pobreza? (Sassen, 2014). Conseguimos ver análises que dizem “um bilião de pessoas saiu da pobreza”. Uma frase tão vulgar atualmente. Desses 1 bilião, segundo Sassen (2014), 600milhões são da China, 200 milhões são da Índia e quase toda a restante percentagem pertence ao Brasil. Mas, na verdade, o que aconteceu foi a saída de pessoas de uma economia minimalista, em que faziam a sua própria produção. A maioria das coisas trocavam e o restante vendiam nas proximidades, passaram para um mundo onde tornaram-se pessoas que têm trabalho mas com pouca remuneração. Foram para as centralidades urbanas por obrigação ou por opção, de qualquer forma, traziam o desejo de uma vida melhor. Mas será que a sua qualidade de vida melhorou? Em muitos dos casos, o que acontece é que comem menos, têm menos horas de descanso, e muitas vezes são mesmo explorados. Dormem menos, pois passam mais horas nos transportes, e em alguns casos, apenas, por troco de melhores condições como canalizações e acesso a uma economia capitalista (Sassen, 2012). Deixaram estas pessoas de ser pobres? Ou criamos nós uma nova pobreza? Claro que a maioria das pessoas quando diz que a Globalização causa um mal estar na sociedade, apenas está a falar da parte económica, que abriu as fronteiras e consequentemente trouxe um significado em que a subsistência depende das inflações da economia global. Com uma economia que descontrola completamente os países através da ligação a esta sociedade de rede, será que as nações de hoje, ainda têm poder ou simplesmente estão a tornar-se organismos indiferentes? Segundo Giddens “Claro que ainda têm poder e ainda influenciam o país.” (Giddens,1999:29). Mas será mesmo o país ou as grandes corporações que se instalaram nas novas cidades? Como vimos anteriormente conseguem fazer países caírem. A verdade é que, cada vez mais, temos instituições que reconhecíamos e funcionavam de uma maneira, e atualmente apesar de por fora parecerem iguais, estão completamente diferentes, pois tiveram que evoluir para continuarem a desempenhar as mesmas tarefas. A Democracia é dos pensamentos mais motivadores do séc XX. A globalização permitiu chegar a um ponto onde há poucos países que já não se dizem democráticos. Mas o que é em si a democracia? “Democracia é um sistema que envolve competição
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19. FAVELA DE MUMBAI
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efetiva entre partidos políticos que querem ocupar posições de poder. Em democracia há eleições regulares e honestas, em que todos os membros da população podem tomar parte. Estes direitos de participação derivam das liberdades civis: liberdade de expressão e discussão, a que se junta a liberdade de pertencer a grupos ou associações de natureza política.” (Giddens, 1999:69). A democracia é o melhor sistema e tem-se propagado a uma velocidade impressionante, um sistema que muitas vezes tem progresso e regressões. Mas será essa a única razão desta evolução? Mas para respondermos a isso temos que responder ao paradoxo da democracia, que enquanto se está a expandir, a sua cópia pelas democracias maduras estão supostamente a ser uma desilusão. Há cada vez menos gente a votar, os jovens dizem-se desinteressados. O que é que tem levado a esta desilusão, que contraria a expansão em todo o mundo? A razão é simples, a vida já não tem um destino para uma grande quantidade de pessoas no mundo, já não há um percurso fixo e determinado (Giddens, 1999:71). Num mundo em que a base é a comunicação, o poder só flui, mais uma vez do topo para a base e a economia não é acessível à classe inferior da pirâmide. A globalização parece apenas esconder a economia capitalista atrás destes paradoxos, para confundir o mundo da verdadeira questão. Pensamos que a população e a sociedade estão cada vez mais fragmentadas e desorganizadas, mas para Giddens é falso. Segundo o autor, cada vez há mais associações e mais pessoas envolvidas em organizações. Falarmos de democracia a nível mundial, há mais de cem anos, levou-nos, em vez de harmonia, às grandes guerras do século XX. Mas o mundo evoluiu e a sociedade não é a mesma. A Organização das Nações Unidas tenta levar a democracia a todo o lado e acredita que assim a liberdade do indivíduo é a base onde quer que habitemos, hoje em dia, somos influenciados, por uma sociedade global. E até que ponto isso pode ser positivo? O que é que perdemos e o que pudemos ganhar? Sempre existiram riscos, fosse na Idade Média, devido à insalubridade provocar uma vida áspera e curta, ou como aconteceu muito recentemente em sítios de muita pobreza, ou incidentes como vemos hoje em dia, em que a irregularidade climática cada vez é mais recorrente ( Global Warming ). Surge como um tema que preocupa o mundo, que talvez por nossa culpa, devido à revolução industrial continuar a degradar o mundo, em que os nossos atos consumistas e poluentes criaram a incerteza e deixam-nos sem uma resposta certa. O mundo, a vida e a cidade são riscos no efeito da globalização. As pessoas acreditam na astrologia, na magia ou no acaso, mas será possível que as coisas aconteçam só porque sim? Será que existe uma razão para tudo? Um sistema de ordem? O risco é a dinâmica que nos permite poder ganhar ou perder, mas que concebe sempre uma mudança e, na opinião de Giddens, esse risco é o que diferencia a economia global atual de todas as outras passadas (Giddens, 1999). O risco evoluiu e surge como o conhecemos, hoje, e torna-se a base para se assumir um risco e ter a possibilidade de acreditar num futuro. Simplesmente transferimos o risco para uma identidade que assume como risco de perda, a nossa perda. Mas hoje em dia para Giddens sofremos de dois tipos de risco: “o risco exterior, que vem de fora, das imposições da Natureza” e o risco provocado “o risco resultante do impacto dos nossos desenvolvimentos tecnológicos sobre o meio ambiente” (Giddens, 1999:34), riscos que não temos a história para nos exemplificar e que derivam da globalização, como o aquecimento global. Antigamente apenas tínhamos que nos preocupar com as incertezas causadas pela natureza, pragas, fomes, inundações, etc. Mas hoje preocupamo-nos não com o que a Natureza nos faz, mas com o que fizemos à mesma, e é aqui que se sobrepõem os riscos. Por exemplo, cada vez que entramos num automóvel conseguimos ter uma estatística do risco da nossa vida mas o acidente de Chernobyl, na Ucrânia em 1986, foi um acontecimento novo do qual ainda não sabemos as verdadeiras consequências. Os argumentos utilizados para justificar o aquecimento global, que pensamos ser provocado
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por nós, foram os mesmos que foram utilizados pela ciência ortodoxa que nos dizia que a Terra estava num arrefecimento global. As vagas de calor e frio, as condições não habituais, a verdade é que segundo Giddens (1999) não podemos ter a certeza que somos nós os provocadores, pelo menos até ser tarde de mais. Mesmo nesse momento não conseguimos ter a certeza porque só conseguimos ter a certeza quando percebermos o organismo e ainda não o percebemos, nem sabemos se vamos chegar a percebê-lo na totalidade (Giddens, 1999). Temos um paradoxo, se formos muito alarmistas e reduzirmos os riscos, se não acontecer nada não passa de alarmismo. Mas o contrário também é problemático, pois seremos acusados de impostores e ocultadores. Assim surge o princípio da precaução, que assumimos os riscos mesmo sem ter a certeza. Não seria esse pensamento o correto para lidar com a globalização? Na sociedade em que vivemos temos que assumir os riscos e aceitá-los para sermos dinâmicos e inovador. No Português a palavra “risco” levou ao uso de outra que é “ousadia”. Mas a pergunta que se faz é: podemos mesmo nós assumir os risco de destruição das cidades, através da sua fragmentação e da polarização da sociedade? Ou devemos ter a ousadia de criar novas soluções para os problemas que nos assombram? Mas será que já não passamos os riscos? Já não estamos perante cidades globais que estão a destruir a sociedade? A Globalização aparenta ter sido o principal fator influenciador das transformações na economia e a razão para o aparecimento do conceito de cidade global no fim dos anos 70 e início dos 80. As empresas industriais começaram a perder poder no mercado sobre as novas empresas de tecnologia e de informação. O conceito formou-se para expressar o posicionamento estratégico, destas novas empresas, em certas metrópoles, para terem acesso à economia global. Este conceito trouxe uma crise de centralidade, pois as metrópoles perderam as atividades industriais, mas posteriormente estas começaram a ser substituídas por novas atividades. O aumento do desemprego, a crise fiscal e a solução para os contínuos problemas urbanos punham em causa o futuro das grandes cidades até ao momento em que a economia mudou de era. Ao mesmo tempo que surgia todo este panorama, a economia em si estava a mudar, as indústrias estavam a ser substituídas por empresas de serviço, empresas financeiras, empresas de telecomunicação e de tecnologia. Desta maneira, em si, as cidades não estavam a perder centralidade mas sim um nascimento de uma nova centralidade económica. As atividades industriais que fugiam das cidades e as descentralizavam, começaram a ser acompanhadas por esta nova centralidade que mudava para sempre a economia global. As metrópoles passavam a não estar ligadas apenas fisicamente com outras cidades na sua área metropolitana, mas sim agora começavam a estar ligadas a outras metrópoles. Assim podemos dizer que nasceram as Cidades Globais (Sassen, 1991). Em meados dos anos 80, alguns autores (Sassen, 1991) utilizaram essa centralidade e essa posição das cidades globais na economia mundial para expressarem as consequências que estas novas cidades tinham. A substituição das atividades industriais por estas novas atividades traziam uma maior “polarização” nas classes sociais. Tínhamos de um dos lados empregos qualificados e com uma remuneração boa, devido à estrutura que implicava a nova economia. Do outro lado começava-nos a ter trabalhos sem qualificação e consequentemente mal remunerados. Essa divisão veio revelar-se no “solo” da cidade com a produção de mudanças no mercado imobiliário, no uso do território e no consumo. Surgiu uma nova configuração espacial e social da cidade, “é o nascimento de uma nova segregação e o risco, que vem da globalização passa a perda” (Sassen, 1991:136). Ao termos começado a transformar a metrópole em cidade global surgiu um paradigma. Negamos completamente a horizontalidade económica e passamos apenas a ter uma vertical. Desta forma não só os edifícios tornam as cidades verticais, mas deixamos de ter uma conexão horizontal nos organismos da esfera social e passamos a ter uma esfera vertical. A verticalidade, que começou pelo global implica deixarmos
de acharmos que a informação e o conhecimento podem ser facilmente trocados pelo conceito de novas tecnologias, que permitem, hoje, com a evolução da comunicação, a distância não trazer praticamente nenhuma limitação, a evolução das tecnologias apenas permitiu trocar informação. Pois o conhecimento “novo”, (Conventz, 2014:59) ou a evolução do mesmo só pode ser obtido com aprendizagem interativa e, desta forma,
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completamente de lado a ordem local. Este fator, começou a causar a segregação urbana e a polarização da sociedade, ao mesmo tempo que as cidades globais se estavam a materializar. Neste momento, é importante percebermos que a cidade global não surge apenas pela segregação provocada pelas mudanças no mercado de trabalho, que surgiram com a nova economia global, mas, sim também, pela forma como esta se traduzia na cidade. Essas mudanças na cidade passam por intervenções urbanas que foram executadas, onde o texto “Generic City” de Rem Koolhaas (1995) trouxe-nos um pouco mais perto das consequências da cidade, deste mundo dito global. Com esta consciência de tornar as cidades mais globais neste mundo competitivo, surge como preocupação a imagem da cidade, e as cidades globais surgiram como uma competição. A tentativa de ter uma imagem global levou a homogeneidade que surge neste momento, ou assim pensamos nós. Na economia do conhecimento, para haver troca, produção e uso de conhecimento, está implícito uma associação a um local físico (Conventz, 2014:58). Os serviços, um novo sector económico, têm como objetivo utilizar o conhecimento e a informação para processos de outros sectores. Os serviços gerem, analisam, e trocam informações e são os principais intermediários do conhecimento económico através do homem. Este torna-se no produto, pois vende o seu conhecimento através de serviços. A economia exige funcionários altamente qualificados e especializados. Apenas os especializados com conhecimento têm acesso assim a esta economia. As empresas de alta tecnologia e de informação, ascenderam, desta forma, ao patamar mais alto na venda de produtos, foram os pilares desta nova economia. O conhecimento é o fator dominante para as empresas crescerem e, portanto, serem mais lucrativas (Conventz, 2014:59). As cidades globais tornaram-se nos espaços que albergam o papel principal desta economia, que obriga à conexão à rede. As cidades industrias com a evolução das redes de transporte, levaram à centralidade económica, que consequentemente produziu um “boom” imobiliário, mas posteriormente as atividades industriais dispersaram-se no território. Hoje voltamos a ter um processo de centralização e para percebermos a necessidade desta, temos que fazer a distinção entre informação e conhecimento. Apesar
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o contacto pessoal é assim imprescindível. Surge assim a necessidade de centralizar a economia. Surgiu o planeamento estratégico, onde “as cidades só se tornarão protagonistas privilegiadas, como a Idade da Informação lhes promete, se, e, somente se, forem devidamente dotadas de um Plano Estratégico capaz de gerar respostas competitivas aos desafios da globalização (...), e isto a cada oportunidade (...) de renovação urbana que porventura se apresente na forma de uma possível vantagem comparativa a ser criada. Seria, portanto, uma resposta a uma conjuntura histórica marcada pela desindustrialização e consequente desinvestimento de áreas urbanas significativas, a terceirização crescente das cidades, a precarização da força de trabalho remanescente e sobretudo a presença desestabilizadora de uma classe inferior fora do mercado”. (Arantes, 2000:31). A preocupação foi então inserir as metrópoles na rede que tinham os investimentos e que dominavam a economia. Um estudo realizado pelo Instituto Europeu de Economia Urbana, onde metade das pessoas ouvidas eram empresários e a outra metade “especialistas, universitários, investigadores, etc” (Borja, 2002:15), apontavam fatores para o qual a cidade precisava de investir se tivesse como desejo tornar-se competitiva. A infraestrutura, seja de comunicação, sejam infraestrutura de internacionalização económica, exposições, aeroportos, hotéis, ambiente urbano e a vida na rua, procuram transmitir uma “buena imagem, que la ciudad este de moda, que tenga prestígio al nível internacional” (Borja, 2002:16), conseguimos ver assim investimentos das cidades, para se tornarem parte destas cidades globais, ou pelo menos aparecerem no mapa. Apesar da mudança do termo de metrópole para cidade global, não mudou a maneira como a maneira como a cidade se apropria do espaço urbano, que é através dos interesses do capital. Desta maneira o planeamento estratégico é desempenhado para começarem a aparecer mais cidades globais. Cidades Globais são assim os sítios de produção para as indústrias informacionais, que lideram a indústria dos dias de hoje. Estas firmas especializadas formam redes globais de parceiros, que resultam numa passagem de fronteiras, de cidade para cidade. Uma troca transacional e uma rede. Esta necessidade da rede nos mercados globais e mesmo de investimentos internacionais, levam a um papel reduzido por parte do estado na regularização da economia internacional. Na verdade é quase impossível regularizar uma coisa que não se sedeia em lugar nenhum, transforma-se a pertença da rede àquele que participam nela. Surgem novas arenas institucionais, mercados globais e centros de corporações que se ligam por essa rede. Desta maneira a economia da cidade desconecta-se da economia nacional e das fortunas económicas. A importância dos grandes centros, hoje, formam-se por esta conexão à rede que permite uma troca transacional urbana e global de conhecimento. Esse conhecimento, hoje, traduz-se em economia. Não existe para Sassen (1991) apenas uma cidade global, como víamos nas capitais dos impérios que comandavam sozinhas a economia, mas vemos sim várias cidades que se conectam e controlam esta nova economia. Para o indivíduo se estabelecer neste novo mundo, surge a necessidade de ser um profissional de alto nível para ter acesso a empresas de grande lucro especializadas em serviços, que criam uma nova ordem espacial social. Sempre existiu uma ordem, mas agora demonstra-se de outra maneira, que é a desigualdade nestas cidades. Apenas ascendem os profissionais que percebem e que se especializam nestas novas atividades económicas, onde o conhecimento e a informação são os valores da nova economia do conhecimento que utiliza a rede global para progredir e segregar países e espaços.
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Com o recuar aos impérios, romano e grego, conseguimos perceber melhor a evolução da cidade e os seus espaços. Características e diferenças entre público e privado, económico e político. A diferença entre as cidades dos impérios é feita por uma escolha. A civitas tem o objetivo de integrar enquanto a Polis tem o objetivo de não integrar. Desta forma, Polis é vista como uma cidade murada, enquanto civitas é uma comunidade aberta em que, segundo uma lei, todos têm direito à cidadania. A interligação entre um lugar político, civitas, e o lugar material, urbs, perde-se, e prevalece um: o urbs. Dessa forma o lugar que preservava o bem-estar dos cidadãos e a participação dos mesmos na sociedade, que parecia e é importante, aspecto que fica ligado ao passado. Com a introdução da urbanização introduziu-se uma característica material à cidade, assim como um sistema de circulação, que tinha como objetivo ligar as cidades na sua área metropolitana. Essa rede permitiu a criação de um sistema de trocas na industrialização, onde a burguesia assumiu um papel importante no controlo de capital. O nascimento da classe média teve como objetivo a acumulação de capital e utilizou o centro das metrópoles, não para resolver os problemas da era industrial, mas sim para deixar a metrópole mais funcional e rentável. A necessidade de mão-de-obra na cidade surgiu com a industrialização, assim como as más condições. Para resolver este problema, a cidade moderna criou avanços na tecnologia para uma construção em massa. O problema está, hoje, à vista de todos com o aparecimento de uma arquitetura genérica. Com a mudança da cidade de espaço político para espaço material, surgiu esta agregação genérica e uma a cidade como espaço económico. O facto do capitalismo precisar da metrópole e a metrópole precisar de planeamento, causam a generecidade introduzida por Cerdà, como moderna. Maior racionalidade e funcionalidade foram incutidas. Surgem normas, regras e estatísticas que servem o propósito de afirmar o colectivo sobre o individual, que segregam a cidade nos seus espaços e na sua sociedade. A comparação e a reação funcional a estas cidades geram a Era da Cidade das Torres. Cidades estas que foram marcadas por uma segregação, como é o caso da cidade projetada por Le Corbusier. A globalização e as novas tecnologias apenas aumentaram a velocidade e o impacto dos problemas. Este processo começou a encorajar o crescimento das metrópoles, o espaço onde está a riqueza, ou seja, as Cidades Globais, onde o capitalismo é impulsionado pela tecnologia e tem como único objetivo o acumular de capital. As cidades passam, então, a desejar ser globais para terem a oportunidade de pertencer a uma economia promissora. Surgem mesmo listas que enumeram nomes e rankings, cria-se uma ideia de que são a porta de entrada para a riqueza, como mostram a China e a Índia, por exemplo. Nos últimos anos têm-se criado cidades globais e têm cada vez mais multimilionários, mas a classe social mais baixa sofre agora uma nova pobreza (Sassen, 2007). A lógica da cidade pós-moderna é criar uma boa imagem e, assim, tornar-se competitiva neste conjunto de cidades globais, para atrair investimentos estrangeiros, criando assim capital. Sassen (2007) chega a dizer que, aparentemente, com o avanço das tecnologias, numa economia em rede já não existe a necessidade de se criarem polos de zonas económicas. Mas o que está a acontecer é que esta sociedade parece crer na existência dessa necessidade de centralidade, para partilha de conhecimento, informação e serviços. Apesar do termo metropolis ter sido mudado para cidade global, o capital continua a surgir como o fator causador da apropriação urbana. Consequentemente, essa apropriação exprime-se na cidade, como já o fazia antes, na forma de segregação social e fragmentação urbana. A economia evolui e, de uma maneira geral, apenas os especializados conseguem ter acesso à essa nova rede de conhecimento. O processo da globalização económica aparece no epicentro como principal influência do território. A cidade global aparece assim como um espaço de conflito com uma troca de culturas, tradições e diferenças sociais. Gradualmente temos um espaço mais homogéneo e que causa mais exclusão social. Aparentemente, os lugares tornaram-se em espaços que ficaram na História e que os não-lugares parecem, hoje em dia, tornar-se um estatuto a atingir através das cidades globais. Essas cidades globais caracterizam-se por espaços genéricos que servem de modelo para ser exibido, para se tornarem no acesso a uma sociedade de conhecimento, que tem como objetivo servir o capital e gerar economia.
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Hoje em dia, temos cidades fragmentadas, cidades globais que se dividem no que já foram e no que atualmente são. São a junção daqueles espaços em que temos identidade e uma não-identidade. Como vimos anteriormente Augé (1992) retrata a expansão urbana como forma de resolver os excedentes desta nova economia capitalista que urbaniza o espaço a uma velocidade alucinante. Claro que as redes de comunicação tiveram um grande impacto, pois foram o catalizador das cidades em que nos encontramos atualmente. Esta urbanização e esta rede espacializam-se em cidades globais, a cidades que Rem Koolhaas (1995) define como genéricas. Cidade Genérica, denomina o efeito que está a ser submetido nas cidades, hoje em dia, a homogeneidade do espaço. A palavra genérica vem do Latim genus, tem o seu significado etimológico em unidade de taxonomia, que permite agrupar segundo certas características. Koolhaas utiliza este termo para definir uma cidade que agrupa todas as outras, devido às suas características. Chega mesmo a perguntar: “Funcionará a cidade contemporânea como o aeroporto contemporâneo, igual a todos os outros?” (Koolhaas, 2015:60). Para Koolhaas (1995) isto só pode acontecer com a perda, se existir perda de uma identidade. Não é isso que está a acontecer nos não-lugares de Augé? Para podermos lidar com a perda de alguma coisa temos que ter em conta as vantagens e desvantagens que isso nos traz. Se “no mundo tudo se resume a uma simples balança, tudo o que se pode ganhar e tudo o que se pode perder.” dessa maneira que vantagens temos em ter identidade? E em ter a não identidade? Será que esta homogeneização que se deu a nível internacional, aparentemente acidental, é uma forma ingénua de não culpar o capitalismo, acusando a globalização? Não terá tido a economia um papel consciente na tentativa de criar semelhanças e afastar as diferenças? Se assim for, o que sobra não é, então, o genérico? Mas se tudo é genérico “Será que podemos construir lugares especiais no século XXI?” (Goldberger, 2015). Para construir lugares especiais temos que construir lugares diferentes e, portanto, temos de fugir a esta não-identidade que existe nos não-lugares. Como pudemos então criar os entre-lugares, falados anteriormente? Em S. Francisco, para Goldberger (2015) é fácil, é a Bay Area. Dá-nos a sua vista natural e os seus ícones, como pontes, torres, os edifícios clássicos, etc. Nunca se confundiu a Bay Area com outro sítio. Vemos paisagens urbanas que se parecem com outras paisagens urbanas. As obras na Fontes Pereira de Mello, onde temos uma calçada larga, árvores, via automóvel, árvores e o seu inverso, são maneiras genéricas de, nos dias de hoje, construirmos uma boa cidade. Um sítio que parece outros sítios e que depende quase na totalidade do automóvel. Os subúrbios são assim sítios que podem estar em qualquer lado através de lojas, hotéis, casas, parques, etc. O exemplo de Sillicon Valley, o sítio que trouxe mais saúde e mais criatividade, demonstrava ser exatamente igual a tantos outros, através das vias largas e dos centros comerciais. O problema não foi as empresas terem surgido do nada, vindo de garagens em certos casos, nem as pessoas se sediarem em espaços baratos, mas sim, porque as pessoas não se importavam com o aspecto dos espaços. Com a nova sede da Apple, parece haver uma mudança nesse as-
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A CIDADE GENÉRICA
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peto com a preocupação visual das empresas, motivo esse que desencadeou uma série de novos projetos, como o de Foster, consequentemente o de Frank Gehry para o facebook, assim como outros para outras empresas. Começa a surgir a preocupação das pessoas que criam o mundo virtual e a sociedade do conhecimento a reconhecer e a querer uma presença física melhor no mundo. Razão pela qual, segundo Goldberger, está a tornar, hoje, Silicon Valley menos genérico. Dizer que as cidades estão mais parecidas tornou-se comum e evidente. Chegamos a aeroportos iguais e vamos para o centro em estradas parecidas. Quando chegamos ao centro vemos arranha-céus parecidos, desempacotamos as coisas num hotel, que pode ser em qualquer lado, seja um Ritz,um Marriot ou um Íbis. Temos a mesma experiência e sentimento de cidade em cidade, que em si se parecem as mesmas. As cidades já não são trazem a mesma imagem visual mas sim a mesma experiência. Vamos às compras na Zara ou comer um hambúrguer no McDonald´s, conseguimos encontrar as mesmas coisas que na nossa cidade. Essa experiência não é só espacial, ligada aos sítios, acontece connosco também. Quantas vezes temos mais parecenças com a classe média de um país de que com a classe alta do nosso próprio país, ou a classe baixa e vice versa? A razão disto acontecer é porque fomos moldados mais pela cultura do mundo, a que nos expomos, do que a cultura individual e local em que vivemos. Estas experiências são a consequência de estarmos expostos, em todos os momentos, à tecnologia e ao capitalismo na forma de consumismo. Não devemos negar ou desvigorar o facto dos sítios parecem os mesmos. A razão, talvez seja, porque possivelmente cada vez mais nós somos os mesmos, estamos a tornar-nos, ou talvez já somos, cidadãos genéricos. “A identidade deriva de uma substância física, do histórico, do contexto e do real” (Koolhaas, 2015:64), então de que maneira é que algo contemporâneo pode contribuir para ai identidade? Em certo momento, o passado não vai ter tamanho suficiente para o grande crescimento e não conseguiremos viver nele, se virmos a identidade neste sentido, em certo momento perdemos a identidade, é só uma questão de tempo. Para Koolhaas (2015) esse procedimento da perda de identidade surge como uma corrida, em que a chegada à meta resulta numa perda total. A história deposita-se na arquitetura e surge a crescente procura da identidade, neste caso da história, onde esta se torna cada vez menos significativa. Essa é talvez a razão pelo grande surgimento e procura dos turistas, que procuram o “caráter” identitário de uma cidade ou de um lugar. O turismo consome as identidades bem-sucedidas até ficarem como “poeira insignificante”. Os sítios que ainda têm identidade são invadidos por turistas, nessa incessante procura de identidade, a necessidade de encontrar alguma coisa característica e única. Quanto mais poderosa for a identidade mais prisioneiros somos, pois resiste à expansão, à interpretação, à contradição, à renovação. A identidade é uma coisa fixa que é determinada por vários fatores, que quando se mexe mesmo que pouco, porque também não é possível de outra forma, destabiliza-se. Paris só se pode tornar mais Paris, está quase uma “híper-Paris”, uma caricatura polida de cidade, a cidade nem sequer consegue crescer está fechada e a identidade condicionada e fixa, só com um destruição é possível acabar com a identidade desta cidade. Mas há exceções como Londres. Em Londres a identidade é a falta de uma, e está cada vez a tornar-se menos Londres, numa cidade mais aberta e assim a sua identidade é a falta de uma. Na verdade estamos todos a tentar ser como Londres, que na verdade não é não ter uma identidade mas sim uma não-identidade, uma identidade homogénea. Todos os sítios são um produto do seu tempo, surgem como uma reação em todas as escalas ao momento, assim como a identidade do lugar é dada pela reação do homem às circunstâncias, e a introdução de um limite, nas cidades acontece da mesma forma, reagem aos acontecimentos e impõem limites, e dentro da pluralidade de cidades criam uma cidade. No século XVIII as cidades na América tinham similaridades, assim como as cidades do séc XIX e do XX. O objetivo não é negar a cultura, a localidade
21. DIAGRAMA DE ESCALA DA CIDADE GENÉRICA
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dos sítios e as diferenças geográficas, mas sim, para afirmar que o tempo sempre teve um papel em moldar a identidade de um lugar. Hoje, o tempo está a ficar cada vez mais importante, enquanto as diferenças territoriais e culturais menos importantes, porque todos os sítios estão expostos às mesmas circunstâncias. Será que a identidade está a tornar-se igual, porque reagimos às mesmas circunstâncias? As forças que faziam os lugares diferentes talvez já não existem, as características e os factores que faziam Tokyo ser diferente de Nova York, Istambul ou Londres. Cada vez mais essas forças são as mesmas e a cultural global continua a homogeneizar-se, e aconteceu talvez como um produto da cultura moderna. Desde a “Global Village” que Marshall McLuhan falava, e a partir do ano de 1932, onde Philip Johnson falava do Estilo Internacional como forma de expressão representativa de um estilo minimalista que estava a difundir-se para todo o lado no mundo, começam a ser momentos que serviram para mostrar que o mundo estava a relacionar-se internacionalmente e a afetar as cidades por todo o globo. Naquele momento em que se caracterizava a arquitetura como um todo igual, com características similares devido à industrialização e à evolução das técnicas construtivas, passamos a ter edifícios que se caracterizavam e que se incorporavam num grupo/tipo de arquitetura internacional/global. Todos sabemos o que é a globalização, muitas vezes referida como ocidentalização, mas saberemos os seus verdadeiros efeitos? Pelo menos nas cidades, cada vez é mais difícil os sítios parecerem-se diferentes entre eles, existe uma linguagem universal de cidade. Startchictecs foi o termo cunhado por Witold Rybczynski, que se referiu aos arquitetos que chegam de qualquer lugar do mundo e que construíram qualquer forma em qualquer lugar. Arquitetos, segundo o mesmo, como Norman Foster, Jean Nouvel, Zaha Hadid, Rem Koolhaas, Frank Gehry, entre outros, arquitetos que em vez de enfatizarem a cultura local, constroem obras que, aparentemente, podiam estar em qualquer outra parte do mundo, por não respeitarem a identidade, se ela ainda existir, de um lugar. Maioritariamente acontece porque não compreendem os sítios onde constroem os edifícios. A prioridade e o interesse transformou-se somente a forma do objeto que construíram e a relação urbana perdeu-se. Mas será mesmo essa a causa? Se observamos bem, o que acontece, na verdade, é que os edifícios que foram feitos por estrangeiros foram os que marcam a diferença, como Cezar Palace na Malaysia, TV Tower em Shanghai, Mori Tower em Tokyo, Jean Nouvel Tower em Barcelona, Frank Ghery´s Eight Spruce Street em New York, Renzo Piano em Londres. A torre da Toranomona, Hills Tower, foi desenhada por uma mega empresa Japonesa Nihon Seiki e parece-se muito com o ângulo das torres de vidro de quase todas as cidades dos Estados Unidos. O mesmo acontece com Kajima Design Ntt Docomo Yoyogi, o oitavo edifício mais alto do Japão, que parece-se com o Empire State Building de New York. Não existiu procura de herança cultural e o problema não aconteceu apenas nas torres, mas também em museus, óperas, concert halls, universidades, entre outros, que deveriam transmitir um significado especial, e apenas demonstram um estilo internacional. Estes exemplos não foram desenhados por um arquiteto local. Será que o museu em Bilbao de Frank Gehry é melhor que o de Los Angeles? E será que a torre Gherkin, projetada por Norman Foster, em Inglaterra é melhor que a Hearst Tower em New York? Será que os projetos se relacionam com o seu lugar local? Será que é realmente assim? Estruturas icónicas dão-nos um sentido de identidade assim como a refletem. Cria-se então um paradoxo, pois podemos afirmar que não havia nada particularmente parisiense até à construção da torre Eiffel. Então se essa obra icónica define Paris, o que é que a tornou parisiense? Como é que uma nova estrutura se introduziu na identidade da cidade? A altura? Paris nunca foi de estruturas altas. Será que foi o facto de ter trazido uma engenharia brilhante com uma beleza incrível, e foi isso que a definiu como parisien-
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se? Talvez, mas não podemos dizer o mesmo de Eero Saarinen em S. Luis, ou de obras de Niemeyer, que são edifícios icónicos da cidade e modificam o comum e vulgar skyline dessas mesmas cidades, tornando-as diferentes do que eram outrora. O mesmo se passa com o Empire State Building, que em 1931, devido à sua altura refletia New York. Hoje em dia, esse marco identitário atribui-se à Estátua da Liberdade, pela sua técnica, significado e altura sem precedentes. O problema, afinal, não são os arquitetos famosos mas sim os edifícios banais e sem imaginação desenhados pelos arquitetos no geral. São a consequência do facto do skyline ser um conjunto de muitos edifícios, que são muito altos e que se parecem todos iguais, quase os mesmos. Massas que se repetem pela cidade através de uma possibilidade de técnicas sem precedentes e globais. Constatamos constantemente este facto. Talvez, se os edifícios fossem melhores e não fossem tão altos já não haveriam tantas queixas. O problema para muitos, não é existirem muitos edifícios iguais, mas sim, muitos e muito altos. O problema reside, então, no facto de a urbanização ter permitido a introdução de uma infraestrutura que tem como objetivo expandir a cidade para cima. A consequência disso é uma questão de escala, a criação de muitos edifícios que, numa grande escala, parecem similares. Retrocedemos alguns anos até chegarmos ao período da Beaux-Arts e do Classicismo, quando os arquitetos estavam a transformar os edifícios históricos em bibliotecas, museus, etc. Os edifícios não eram assim tão diferentes, o skyline de Cleveland por muitos anos foi determinado pela sua Terminal Tower, que copiaram a sua coroa do edifício municipal de McKim, Mead and White. Ninguém se queixou nessa altura que eles eram demasiado parecidos ou genéricos, os edifícios eram apreciados pelas pessoas numa época, em que a escala e a quantidade não interferiam, e que os edifícios altos eram a exceção e não a regra. Só começou a ser um problema quando surgiu a densidade e foram precisas leis de zoneamentos e de edifícios para toda a gente ter acesso a um padrão vivível, para não existir apartamentos pequenos com quartos de banho partilhados, como a (des)ordem natural deixou acontecer, surgiu a necessidade das cidades crescerem. Em sítios nos EUA em que há 100 anos atrás não era preciso planeadores intervirem ou leis limitativas referente à construção, foram os que restaram com identidade individual como George Town ou BeaconHill (Goldberger, 2015). Apesar disso, estes sítios partilham coisas comuns, não só os seus bairros residenciais, mas também museus e State Capitals, e o mesmo acontece em todo o país, de cidade para cidade. Os edifícios eram na altura admirados e aceites pela população, mas já os críticos deste tempo, Sullivan e Frank Loyd Wright, acabavam por se aperceber destes aspetos e começaram a criticar. Sullivan acabou por ter sido sucumbido ao erro e construiu edifícios parecidos, sem identidade. Apesar da genialidade dos seus edifícios, faltava o genius loci , isto é, o espírito do lugar, a sua insubstituibilidade e a sua unicidade (Abreu, 2016). Wright, quando construiu o Guggenheim de Nova Iorque, considerada uma das obras mais bem concebidas por muitos, não estava a demonstrar o espírito da cidade, estava a fazer o contrário. O objetivo era dar um novo espírito à cidade, e não aproveitar o espírito existente. Com o tempo, passou a ser uma peça chave para a identidade da cidade. Existem arquitetos a construir pelo mundo todo, a construírem sem pensar na identidade do local, como McKim, Mead and White no fim do séc XIX e início do XX. Chegaram mesmo a construir um edifício em Londres que é tudo menos britânico, se o observarmos com cuidado (Goldberger, 2015). Mas, a sociedade mudou no meio desta internacionalização e globalização, e muda também a Arquitetura e o Urbanismo. Daniel Burnham propôs um novo plano para São Francisco, onde defendia que a sua malha ortogonal original é genérica, e dessa forma não demonstrava a paisagem e a topografia da cidade. Mas em si é essa malha ortogonal nesse terreno inclinado e irregular que faz parte da identidade da cidade, território que não existe em mais nenhum lugar e põe em ênfase o contraste entre a Natureza e o mundo do Homem. Se o plano tivesse ido para a frente, e passasse a existir uma malha curva, que permitia as ruas subirem devagar na inclinada colina, não se conseguia demonstrar esse paradoxo visível entre a natureza e homem e, provavelmente, São Francisco não seria distinguível
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22. SAN FRANCISCO
de outras cidades como é hoje. Será que às vezes, a melhor maneira de trazer carácter a um lugar é fazer o convencional? Antigamente, os projetos demoravam meses a serem expostos e eram apresentados a quem os visse apenas fisicamente. Atualmente, saem dos computadores e ficam disponíveis para o mundo todo instantaneamente, são visíveis e os produtores imobiliários querem sempre criar ícones para terem uma margem maior de lucro. A arquitetura, como a maioria das coisas, nunca é imune à “moda”, mas está agora mais presente que anteriormente. A razão, não é devido aos famosos arquitetos, mas sim, à ligação a uma rede que é materializada na cidade um estilo internacional/genérico, e no espaço urbano, cada vez mais, cria-se a homogeneização em tudo, e a arquitetura não é imune. Para Koolhaas (2015) a identidade tem a capacidade de centralizar. Mas a identidade tem que ter uma essência, que com esta crescente urbanização, o centro parece ficar maior, efeito mais sentido nas metrópoles. O centro já é demasiado pequeno para cumprir as suas obrigações e transmitir identidade. Assim, já não consegue arcar com as obrigações da periferia, e a consequência é não temos um centro real. Simplesmente, hoje, o centro serve para negar que o centro é outro lugar da cidade, como os outros centros que começam a nascer na periferia. Se pensarmos numa configuração cêntrica da cidade, conseguimos perceber o significado e valor do centro e não conseguimos resolver o problema da expansão, é impossível. Assim como o facto de o centro ter que se manter constantemente o mais velho e, ao mesmo tempo, mais novo, mais dinâmico e fixo. A consequência é que, com tantas camadas, no fim, torna-se irreconhecível. Dito isto, parece que o problema do Centro não tem solução, a não ser que o mundo pare de se expandir, porque a expansão urbana resulta no aparecimento de outros centros e na perda de reconhecimento do verdadeiro centro. Então, com o não-reconhecimento do centro significa que para a identidade continuar a existir, teria que acontecer uma estagnação espacial da cidade, como em Zu-
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23. URBAN FABRIC, EXEMPLO: PLANTA DE BARCELONA
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rique, por exemplo. Encontrou-se nesta cidade uma forma de o centro se expandir, mas espacialmente continuar com a mesma área, através da construção de parques e centros comerciais debaixo do próprio centro. A cidade genérica é, assim, uma cidade libertada do isolamento do centro e do espartilho da identidade, segundo Koolhaas (2015). Uma cidade sem história e que tem dimensão suficientemente grande para toda a gente. Se ficar pequena expande-se, se ficar velha renova-se, é uma cidade “superficial” que cria uma nova identidade todas as “segundas-feiras”. A arquitetura deixou de ter um papel importante e foi substituída por uma lógica de racional urbana. Dessa forma criou-se uma distância da cidade, ou até mesmo uma separação. “Será que o papel principal passa pelos arquitetos?” (Goldberger, 2015). Talvez não como um “livre-passe”, mas sim com uma missão importante e difícil de criar edifícios diferentes, no fundo. Também precisamos de edifícios especiais que provoquem grandes emoções porque “that cause people to hold their breath for a stabbing moment or that restore them to the equilibrium by offering them a prospect of space and form joyfully mastered” (Mumford, 2015:544). Claro, que se tentarmos criar uma cidade só com esses edifícios, o resultado seria o caos. Dessa maneira, os edifícios de Frank Gehry apenas devem servir de inspiração para o mesmo e funcionam melhor numa Urban Fabric. Hoje em dia, estamos em perigo de perder estes edifícios especiais porque exigimos demasiado deles: pedimos que carreguem o fardo de construir cidades e eles não o devem fazer. Em que momento é que acreditar numa Urban Fabric e na capacidade dos arquitetos nos trazerem momentos e sensações únicas se tornou incompatível?
Temos que acreditar que as cidades têm que ter a ideia base de Urban Fabric devido ao seu rápido crescimento, pois parece ser a única solução para o problema. As cidades são constituídas de estradas, de parques, entre outras coisas decentes, mas não é uma arquitetura espetacular que está na base da sua fundação. Se tudo funcionar da mesma maneira, como uma Urban Fabric , perdemos o desejo que os edifícios acabem com o padrão, as exceções à norma e, se assim for, nós falhamos com a cidade e connosco. “A cidade genérica não é só o sítio com torres de vidro iguais, autoestradas e centros comercias, também é o lugar que paramos de nos preocupar com coisas que são diferentes e deixa-se de construir-se edifícios que quebram as regras, e nos fazem-nos sentir que estamos num sítio que não é outro sítio, e esse sentimento de um sítio especial é um dos melhores presentes que qualquer cidade nos pode dar” (Goldberger, 2015). A Vernacular Architecture é uma linguagem comum da arquitetura a nível local e, nos dias de hoje, falta-nos uma boa linguagem identitária que outros períodos já tiveram. Talvez o grande falhanço da arquitetura moderna não foi não saber fazer bons edifícios, mas sim nunca ter feito uma arquitetura vernacular. Se olharmos para as
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pedras castanhas de New York da época Georgian Architecture of London , mesmo nos edifícios mais normais, conseguímos ver uma beleza geral e o formular de uma cidade bonita. No período moderno não conseguimos criar o equivalente a esse sentimento e esse foi, talvez, o problema da quantidade de preservação que queríamos, em que muitas vezes preservamos edifícios pelo medo do edifício que o poderia substituir. Ainda assim, o problema também pode ter surgido pelo facto de, hoje, a linguagem ser global e standarizada, marcada assim por uma não-linguagem. O que nos falta e que nos distingue nos dias de hoje das coisas iguais às do séc. XIX e às do início do séc. XX é a falta de uma parte da cultura local. Uma identidade que foi esquecida pela homogeneização da cultural global e da tecnologia. Os lugares tornam-se menos viáveis na afirmação de uma identidade e, muitas vezes, nem criam uma em primeiro lugar. Será que é possível mantermos os sítios diferentes? Ou a solução seria os arquitetos tornarem os edifícios diferentes em lugares distintos, como falamos anteriormente? Koolhaas (2015) tenta expressar as cidades genéricas sobre um conjunto de normas características que as formam. Começa com a estatística e afirma que a cidade cresceu muito nas últimas décadas, perguntando-se se “será que nasceu na América?” (Koolhaas, 2015:54). Só pode ter sido importada, no entanto, já existia a Ásia, a Europa, a África e a Austrália. Barcelona, uma cidade antiga e singular, simplificou excessivamente a identidade e tornou-se genérica. Tornou-se icónica como um logótipo (a sua malha ortogonal é reconhecida em qualquer lado), a maneira e o surgimento do Urbanismo, onde nasceu a ideia de termos uma cidade que se expande até ao infinito, através do mesmo módulo. Terá sido esta a causa de termos chegado à generecidade que encontramos hoje em dia? Em que a ideia de utilizarmos regras e normas para expandir a cidade foi a razão pela sua homogeneidade? A urbanização trouxe-nos lugares de sensações sem valor, ou pelo menos com pouco, emoções escassas e distantes. “A cidade genérica é fractal, uma repetição infindável do mesmo módulo estrutural simples.” (Koolhaas, 2015:56). O aeroporto surge como o centro da cidade genérica porque tem uma neutralidade máxima, é a repetição da mesma funcionalidade cidade após cidade. São estes os elementos, que deviam ser mais singulares e característicos da cidade, que têm que marcar a diferença, já que muitas vezes é a única coisa que uma pessoa ficar a conhecer de uma cidade. Proporcionam o primeiro choque de identidade e também o último. Distante, confortável, exótico, regional, oriental... São as características que ficam. O aeroporto tem uma concentração tanto global como local, são sítios onde temos produtos que não encontramos na cidade, assim como outros noutros lugares do mundo. Cada vez estes sítios têm mais serviços que substituem os serviços da cidade, encontramos bancos, restaurantes, dormitórios, etc. Os aeroportos têm milhões de habitantes, tendo em conta os seus serviços, para Koolhaas (2015) são como “bairros” da cidade genérica e formam assim o centro da cidade. Já não precisamos de nos deslocar ao centro pois temos a diversidade de atividade e de população concentrada neste edifício. O seu tamanho não influencia o desempenho: grandes ou pequenos são calculados consoante o número de visitantes que têm por ano. Da mesma maneira, o tamanho de um bairro e as suas atividades são calculadas pelo número de pessoas que dão uso ao bairro. O avião e o carro permitiram uma mobilidade nunca antes conhecida, mudaram a noção tempo e de lugar. Mudança que não era conhecida pelos nossos ancestrais. Levou a uma conexão aos lugares diferente de antigamente, muito mais rápida e eficaz. Contudo, esta tecnologia que encontramos, atualmente, ainda vai mais longe, pois permite-nos ser outra pessoa no mundo e estarmos virtualmente presentes em qualquer lado. Tem também um efeito negativo porque, por vezes, faz-nos sentir “menos do que somos” (Goldberger, 2015). A tecnologia faz todos os lugares parecerem-se mais ou menos iguais. Antigamente, com os telefones com fio sabíamos o espaço físico ao qual
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este se interligava, era ligado a uma rede física e a um espaço. Hoje em dia, com os telemóveis ligados através de rede, quantas vezes a pergunta começa com um “onde é que estás?”. Tanto podemos estar na piscina, como na rua, na América ou na Europa, são espaços que significam o mesmo, apenas um ponto numa rede. Para Koolhaas (2015), numa cidade genérica desta forma, também o seu centro é um desses pontos nodais na rede, daí intitula o aeroporto como um centro. Mas, a verdade é que o centro, atualmente, aparece em muitos lugares, talvez não na forma de aeroporto, mas como outros organismos homogéneos como shoppings. Espaços que existem por todo o lado, estruturas privadas que surgem nos subúrbios e nas cidades. O resultado é tirarem a força do antigo centro, um lugar público, central, de encontro. O problema é a falta de vitalidade nos subúrbios, que passado uma geração morrem (Jacobs, 2009). Achamos que a qualidade equivale à quantidade, criamos parques em todos os sítios. A consequência é um vazio verde, porque estes espaços têm que ser influenciados pela identidade do bairro em que se insere, pelas pessoas que os usam e que têm uma cultura que deveria unir as pessoas. Os parques genéricos, por exemplo, são só um chamariz para quem quer viver lá, pois na verdade eles tiram vida aos bairros e às pessoas que lá habitam. Pela variedade de outros usos, o que se sucede é o aumento da monotonia e, consequentemente, do perigo e do vazio. Os parques têm que ter diversidade de usos e de usuários, para darem algo maior que mais um vazio na cidade. “Faltam atividades menores, coisas que as pessoas fazem escondidas, como fazer buracos no chão, ou cabanas, ou até festas. Coisas que às vezes procuramos fazer no interior, em pátios, para escondermos a nossa cultura e educação, para não ser transparecida como má para os restantes.” (Jacobs, 2009:100). No fim parece que ficamos com as zonas verdes como pulmões do asfalto construído, mas que não servem como pulmões da cidade, pois as pessoas não vivem a cidade. Apesar de estarmos a perder a centralidade do centro na cidade, a uma escala diferente está a acontecer o inverso. Conseguimos hoje observar uma nova centralidade , uma escala de centralidade diferente nas metrópoles, onde os subúrbios têm vindo a perder ou ganhar força, dependendo da perspectiva. A era do conhecimento e da consequente economia capitalista global, formam hoje as cidades globais e trazem-nos uma nova centralização. A cidade volta a assumir o seu papel perante os subúrbios, mas agora chega-nos com uma falta de acessibilidade geral. Apenas as classes superiores conseguem ter acesso. Formam-se cidades em que o problema não passa pela não existência de centro, mas sim pelo acesso à cidade, como vamos refletir mais adiante. A população na cidade genérica tem que ser multirracial e multicultural, encontramos templos e igrejas no meio de prédios. Os cidadãos são genéricos porque já não importa a raça, a sua religião ou a sua cultura, identificam-se com os sítios, pois como já vimos, estão em num lugar como em qualquer outro lugar. A língua universal, o Inglês, permite principalmente comunicarmo-nos com qualquer pessoa, em qualquer lugar. O cidadão genérico parece ter encontrar a sua língua. No urbanismo, a tendência está em abandonar o que não funciona (o que não sobreviveu ao seu uso) e construir outra coisa no seu lugar. Hoje temos construções enormes que privatizam as cidades e criam novos espaços públicos, sejam eles halls de entrada de grandes edifícios de escritório ou shoppings. Tudo o que fica, que costumava significar estar na cidade tornou-se primitivo, e aquilo que fica é futurista, e são todas as coisas que nascem e nos despertam interesse. “A cidade Genérica é a pós-cidade que nasce no lugar da ex-cidade” (Koolhaas, 2015:42). A rua morre, assim, com todas as tentativas de ressurreição, como a rua de Le Corbusier. A rua só serve para o fluxo daqueles que a matam, não queremos comunicação, só fluxo. Os edifícios passam da horizontalidade para a verticalidade e podem existir em qualquer lado, até num arrozal. As torres já não têm a necessidade de estar juntas, podem estar separadas, o importante é transparecer uma imagem da cidade. Quanto à
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24. GHOST CITIES
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habitação, ou foi resolvida, como é o caso de torres e prédios, que por resolvida vamos considerar legal, e se centraliza nas cidades globais, ou então foi deixada ao acaso como são o caso das barracas/slums. No ilegal começam a surgir desigualdades. Hoje, a gentrificação surge como resultado desta nova centralidade e da tentativa de os cidadãos de classes mais pobres terem acesso à cidade, que não é concretizada e que resulta numa exclusão. As cidades genéricas surgem como uma tábula rasa: aquilo que não existia cria-se, e se já existe, então substitui-se tudo para nada se tornar histórico. O objetivo é ter sempre uma cidade nova, remodelada, de “cara lavada”. Surgem cidades genéricas em todo o lado, e se já existia alguma cidade então destrói-se e cria-se uma nova imagem dessa cidade. Casos assim podem ser exemplificadas com as Ghost Citys na China. As “cidades fantasmas” surgem no final dos anos 2000 enquanto um fenómeno. Não eram apenas cidades com grande densidade populacional como é o caso de Ordos ou Shanghai, mas também cidades “comuns”, como por exemplo Changzhou. A base passa pela estrutura conceptual da “máquina do crescimento”, que é própria da China, e por sob um governo empreendedor. O resultado é a acumulação excessiva de produtos imobiliários, que se materializam na cidade genérica e passam a dominar quase na totalidade a paisagem das cidades. No contexto presente, da desaceleração económica da China, o excesso de construção é devido ao mau funcionamento do clássico modelo de expansão urbana, que o governo liderou. Assim, a cidade genérica glorifica a escolha múltipla, é planeada como se as coisas caíssem ao acaso e para socorrer a população urbana formam um conjunto: as Ghost Cities.
A nível político a cidade tem uma relação com um regime, seja ele local ou nacional, autoritário ou não, essa relação é mais próxima ou mais afastada, sendo que a única coisa em que é comum, é que normalmente pessoas influentes promovem um pedaço urbano na periferia ou mesmo uma nova cidade no meio do nada (Koolhaas, 2015). O regime passa a criar um grau de invisibilidade, parece que devido à sua permissividade. Se analisarmos bem, de um lado da “moeda” vemos que a política é a “cara” e na “coroa” temos a economia capitalista que cria estas cidades. Atitudes como vemos, por exemplo, o presidente George W. Bush que “tomou a atitude extraordinária de aparecer num comercial coletivo das companhias aéreas, a pedir a todos para esquecerem os medos e continuarem a viajar de avião. Embora as interrupções fossem temporárias, devido ao incidente do 11 de Setembro, tinham de ser revertidas, porque a falta de movimento a
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longo prazo, prenuncia-se numa crise do capitalismo.” (Harvey, 2010:42). A política já não tem influência na economia, trocaram-se os papéis, onde a economia influencia a política. Não importa o regime político as cidades globais materializam-se como genéricas, parecem ser hoje o novo limite territorial que permite influenciar um país. Temos sempre bairros, que permanecem com a ideia de se conservar o mínimo do passado, através de coisas desse tempo. Os eléctricos como é o caso de Lisboa, ou cabines telefónicas vermelhas como é o caso em Londres. Têm o objetivo de permanecer para nos tentar lembrar do que já fomos, é uma cidade que se lamenta com uma necessidade de voltar ao passado, que vê o futuro e assim o genérico como uma ameaça. Os programas da cidade genérica, passam por uma invasão destes “pontos nodais” na rede, chamados cidades globais. Temos grandes corporações, que se centralizam, e todas as cidades competem entre si para ter o maior poder na hierarquia, onde tudo tem a ver com a proximidade espacial e funcional dos programas da cidade para poderem partilhar conhecimento e informação. A arquitetura nas cidades genéricas traduz-se de algumas formas. Por exemplo, as torres e as “ slums”, ou favelas, surgem e dependem da classe social. Num dos fragmentos da cidade, nas favelas, por falta de poder económico, os habitantes utilizam as suas capacidades (as suas mãos), para criarem a sua própria arquitetura. Acabamos com identidades específicas dependendo da sua inserção geográfica e dos materiais disponíveis. Apesar de se tornarem cada vez mais iguais, devido aos materiais e se estarem a tornar genéricas, as favelas parecem ainda conservar alguma identidade. Em contradição, nas zonas boas das cidades surgem torres e uma identidade de construção, como chama Aureli (Hilberseimer, 2012:287). Apesar de hoje surgir, em todo o lado, a identidade ligada à arquitetura sempre existiu. A construção e a materialidade são pré-condições físicas da arquitetura e estão sempre inter-relacionadas, hoje é só completamente global. Na cidade grega, a pedra ditava a arquitetura. As formas horizontais e verticais interagiam consoante a possibilidade ditada pelo do corte da pedra. Os romanos surgiram com inovações do trabalho, com a pedra, a mesma passou a servir de preenchimento e revestimento. Os edifícios começaram a ter aberturas e revestimentos de pisos em pedra. Posteriormente surgiram os edifícios com vários andares em pedra, da forma de organizar a estrutura em colunas, surgiu a sobreposição de vários pisos. Com o crescimento das cidades a metrópole sentiu a necessidade de criar novos materiais que, pudessem dar um melhor uso ao espaço e, ao mesmo tempo, tivessem maior resistência e solidez. Surgiu, assim, o ferro, o betão e, posteriormente, o betão armado. Permitiram a atender às necessidades da cidade, através de grandes gabinetes horizontais, vigas em consola para permitirem estruturas autossuficientes para espaços amplos. Hoje em dia, estes materiais não impõem quase restrições nenhumas aos edifícios, quase todos os impedimentos físicos são ultrapassados com fundições. A distinção da cidade pode ser vista nos seus edifícios, nos seus “órgãos individuais” (Hilberseimer, 2012:285) que as diferenciam. As necessidades estruturais e espaciais, que surgem agora como novas, para criar os diferentes usos são a razão da produção de novas formas. Assim, como o edifício de Ludwing Hoffmann, em Berlim, foi feito através de esquemas decorativos do renascimento, tem sérios problemas porque não podemos transferir estes esquemas para prédios de apartamentos, de armazéns ou de escritórios, só para não se perder o significado ou a identidade nas cidades. A identidade parece aparecer sempre como fator contra a inovação, num mundo global. Nas cidades, hoje, tudo surge através de uma planta baixa, cujo o importante é o contorno do edifício. Esse contorno que se traduz na metragem simboliza capital, quanto maior, mais capital pode produzir ou valer. Dessa forma, o espaço ocupado por uma construção tende a torna-se cada vez mais cúbico, para optimizar o espaço. Isto resulta na passagem dos detalhes sempre para segundo plano, e a perda do objeto arqui-
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tetónico na cidade. Assim surge a ideia de criar uma fórmula que seja igual para todos os elementos, para formar grandes massas cúbicas o planeamento. O resultado é o que presenciamos hoje em dia nas cidades, suprime-se a multiplicidade e cria-se uma lei geral. Essa lei geral é a definição do estilo de Nietzche. Transpõem-se em primeiro lugar por pôr de lado a exceção, a lei deve ser respeitada e sublinhada, a seguir as subtilezas são mandadas para longe. A medida torna-se mestre e o caos é forçado a tornar-se formal, lógico, inequívoco, matemático e standarizado. Nesta forma de projetar as cidades, tornando-as genéricas, os materiais tornam-se “uniformes” e são utilizados onde quer que seja, porque primeiro vem a funcionalidade. A variedade destas torres, apesar do contrassenso em que vivemos, tornam-se quase normais e banais, a cidade tem como principal objetivo fornecer uma economia onde o solo representa dinheiro. A torre começa a surgir em todo o lado, torna-se uma repetição do mesmo módulo, a massa mais rentável. Nas cidades da história, as coisas acontecem no mesmo sítio, as mudanças, o melhoramento, o florescimento da cultura, o degradamento, os saqueamentos, triunfam, renascem, são humilhadas, tudo no mesmo lugar. Com a arqueologia, camada após camada, descobre-se a história das cidades, mas na cidade genérica é um esboço que nunca se acaba, não se melhora, simplesmente abandona-se. Por isso não há camadas, a sua camada seguinte é noutro lugar, que pode ser mesmo ao lado ou até noutro lugar completamente diferente. O arqueólogo precisa mais, hoje em dia, de bilhetes de avião que de pás e vassouras para acompanhar a história e perceber a evolução das cidades, a cidade evolui não num lugar mas sim em todos os lugares. Hoje o mundo está atulhado de diferentes maneiras de mostrar a mesma coisa à sua maneira. Para Rem Koolhaas (2015) a cidade não existe se retirarmos o barulho da cidade e todas aquelas distrações que nos dispersam do verdadeiro problema: em vez de vermos apenas humanos, começamos a ver espaço entre eles. Apercebemo-nos que o centro está vazio e que a cidade está morta. As coisas que fundamentavam o nascimento da cidade começaram a desaparecer e apenas ficaram vazias. O espaço central, de ajuda contra as ameaças nas cidades nómadas, o espaço de reunião e decisão na cidade grega, começou a desaparecer e fica só um vazio. Na verdade nem um vazio fica porque foi substituído por outro módulo genérico, num planeamento que pensa rentabilidade e, por isso só na economia. A perda progressiva de identidade, como encontrávamos nas cidades clássicas, e o facto de hoje em dia, ter havido uma homogeneização das tendências, diminuiu os valores intrínsecos das coisas e a transformou as coisas em meros objetos funcionais e pragmáticos, que apenas servem para cumprir um objetivo: a economia. Francoise Choay, alertou em 1994, para a crise de valores que estamos a passar nas cidades contemporâneas. Choay sugere que o urbanismo, enquanto disciplina, é responsável por esse resultado homogéneo e que nem sempre é sinónimo de produção de cidade enquanto “pertença recíproca entre uma população e uma entidade espacial discreta e fixa”, isto torna-se num ”lugar ou suporte estático de uma tripla comunicação que se relaciona no intercâmbio de bens, de informações e de afetos” (Choay, 1994:61-62). Mas, então terá sido o Urbanismo o causador desta cidade em que vivemos hoje em dia? Parece que a generecidade surge como reação, como todas as evoluções na história. Mas reação ao quê?
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O URBANISMO COMO IMPULSIONADOR DO GENÉRICO
Cerdà (1860) introduziu uma resposta ao capitalismo e à expansão urbana que o mundo estava a sofrer. As cidades estavam caóticas e surgiu a reação para a cidade, e nasceu uma nova visão de cidade, materializada em Barcelona. Inversamente ao pensamento inicial do autor, a partir desse momento, a cidade rendeu-se ao capitalismo. O objetivo tornou-se em transformar o excedente de capital em urbanização para criar lucro. Surgiu uma malha geométrica e consequentemente surgiu a possibilidade de criar uma cidade infinita, o infinito como forma de produção, como descreveu Aureli (2011). Os métodos da economia passaram a fronteira entre o espaço público e privado, aproveitaram-se da administração do último e utilizaram-no como uma maneira de urbanizar e assim governar o espaço urbano. A essência que Cerdà queria atingir era a destruição de qualquer limite ou forma na e de cidade, a resposta foi uma repetição infinita dessa maneira de reprodução de cidade. A urbanização serviu para controlar o crescimento e, da mesma forma, dar acesso a toda a gente. Urbs foi a maneira encontrada para controlar este processo infinito, era possível a cidade crescer sem se tornar caótica e desorganizada. Desde o minimalismo de Andy Warhol, à cibernética de Robert Smithson, a ideia sempre foi ir atrás deste infinito através de uma repetição. Para certos autores esta estratégia é um bad infinit , como é o caso de Hegel, que apesar de contrariar o finito, o facto de as coisas acontecerem através de uma forma, na verdade já levam mesmo a um finito. Um fim que se repete uma e outra, e outra vez, que só leva, na verdade, a perdermos “especifidade material”. Assim chegamos as cidades genéricas: a organismos que se repetem vezes sem conta, que nem sequer trazem em si um objetivo específico, a não ser esta produção em massa, só para consumirem o “novo”(Aureli, 2011:18). O projeto que levou esta lógica do urbanismo até às últimas consequências, em que a urbanidade era infinita, foi o projeto “No-Stop City”, em 1970, dos Archizoom. O modelo mostrava uma urbanização total, onde passávamos de um centro como uma acumulação de uma economia e a periferia como local de produção, para agora ser substituído por uma urbanização que ia para todo o lado e preenchia o espaço todo. Uma urbanização que retirava a necessidade de existir em si um centro. “Era a urbanização dentro da urbanização”, fenómeno que hoje conseguimos observar e perceber, com a acumulação de população urbana em pontos específicos no mundo inteiro. O projeto era uma estrutura neutra, que se estendia em todas as direções. As estruturas da cidade diluíam-se na sua infraestrutura e dessa forma os pilares e os elevadores escondiam completamente a iluminação artificial e o ar condicionado. O mundo deixava de estar limitado, os paradigmas dissipavam-se, como interior e exterior, cidade e rural, vida e trabalho, eram completamente iguais, uma norma e ordem genérica, onde as excepções eram extinguidas. Uma cidade sem paradigmas e ilimitada. O objetivo, como explica Aurelli (2011), era uma “terapia de choque”, uma crítica a uma metrópole capitalista que prezava por uma centralidade de industrialização e consumo. A característica principal da metrópole passou a ser uma expansão sem limites, tornavam-se em cidades ilimitadas. A metrópole desta maneira começou a servir todas as classes sociais, e não só a uma burguesia. Esta revolução capitalista trazia assim mais vantagens à classe trabalhadora, uma cidade em que todos os limites deixavam de narrar a vida do homem. Uma cidade sem limites onde não existe dentro nem fora, não
Koolhaas para criticar esta ideia de rede isotrópica e constante, a repetição do enclave, o estado em que a metrópole se tornou, criou então um projeto intitulado como The City of the Captive Globe e uma crítica à cidade de New York no livro Delirious New York . No ultimo criou dois conceitos. O primeiro “Lobotomy” (Koolhaas, 1978), que elimina a relação da arquitetura interior com a exterior urbanizada, então a monumentalidade de um edifício deixava de depender da função do edifício, glorificava a arquitetura. O edifício podia ter novos desempenhos, e a torre era o organismo que o mesmo criticava em Delirious New York (Koolhaas, 1978), que passava agora a ter uma divisão entre a sua aparência e a sua performance, não mudava a sua aparência, mas sim constantemente o seu desempenho. “Schism” (Koolhaas, 1978), surgiu como o segundo conceito, em que todas as bases tornavam-se auto-suficientes, o “podium” e podiam, a partir deste momento, ter uma função diferente. Também passou a existir separação entre a função que habita cada piso. Cada piso pode tornar-se diferente e ter uma autonomia funcional sem gerar mudanças na grelha urbana, desta forma não afetava o princípio da urbanização. A grande diferença no projecto de Koolhaas, além de, em si, ter trazido uma nova função para o organismo e um mix de funções para as unidades que se repetiam, trazia também a identidade, contrariamente aos projetos de Cerdà ou de Archizoom. A diferença estava numa identidade que o projeto continha, como crítica ao sítio que o mesmo observava. Trazia no seu centro um vazio caracterizado como o mundo, que neste caso específico era ilustrado pelo Central Park. Assim, além de ter introduzido identidade às unidades como espaços privados, albergava também identidade no espaço público.
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26. NON-STOP CITY, ARCHIZOOM (1970)
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existe público nem privado, velho nem novo. Uma cidade como um supermercado, uma infraestrutura isotrópica como vemos nos supermercados ou nos estacionamentos, só que repetia-se de uma maneira infinita. O objetivo desta cidade era retirar e libertar a cidade de todos os seus poderes e domínios que tinham na sociedade, que na verdade eram a simples economia. Uma infraestrutura que tornava todo o território homogéneo, os monumentos deixavam de ter necessidade de existir, assim como as excepções à regra. A regra era, então, a ideia de expandir uma unidade individual, para todo o lado, com o objetivo de não descriminar e de dar uma acesso querido por todos, o solo da cidade. Apenas não conseguiram prever dois aspectos nesta crítica: o marco que se destacava e o enclave que se repetia.
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27. THE CITY OF THE CAPTIVE GLOBE, REM KOOLHAAS (1972)
Koolhaas (2015) deu o nome de arquipélago ao projeto onde a grelha se tornava num mar e os edifícios em parcelas que eram as ilhas. O espaço entre as ilhas era o mar, e o facto é que definia os edifícios como ilhas, e pressupunha um espaço entre os edifícios. Esse espaço materializava-se como um limite entre os edifícios. As cidades não eram em si só edifícios, mas sim os edifícios tornavam-se em cidades miniaturas, “cidades dentro das cidades” (Aureli, 2011:24), surgiu então a ideia que, hoje, nos é conhecida, as torres como cidades verticais. Com este projeto Koolhaas introduziu o “podium” à torre, um espaço que começou a ser restrito, semi-privado, e que tinha como objetivo ligar o edifício à cidade, mas que na verdade apenas o restringia e restringe através de um limite. O enclave, isto é, cidade dentro de uma cidade, é a consequência da economia capitalista, que conecta e integra o espaço urbano e que, quando o mesmo absorve o território, explora-o e controla-o de maneira a transformá-lo em lucro. O enclave é diferente: é um espaço restrito, que torna o espaço urbano, em si, desigual na acessibilidade. Ao contrário da polis grega de que havia uma clara separação entre o interior e o exterior, mas que o interior era autossuficiente, o espaço de enclave não é bem separado do lado de fora, mas sim segregado, fragmentado. O seu acesso apesar de ser restrito depende da urbanização para existir. Criou-se a descriminação e a seleção, a partir deste momento, já não se baseava numa política e sim numa economia. Quando estamos num regime económico capitalista a lógica da inclusão e exclusão acaba com o conflito, a solução é a coabitação do mesmo conflito. Essa cohabitação leva a urbanidade a criar uma indiferença em coabitar como modo de vida. Se a cidade em si, como já vimos, começa com o dilema entre civitas e urbs , entre a possibilidade de os mesmos se encontrarem e entrarem em conflito, a possibilidade de entrarem em conflito foi, assim, absorvida pelo infinito no processo de urbanização pelo poder absoluto da economia. Hoje em dia temos o planeamento das cidades a pairar sobre a teoria da urbanização, que deixou de ser apenas uma teoria e passou a ser uma prática. Como refere Aureli, “não chegou a hora de reivindicarmos a cidade?” (Aureli, 2011:27). Nessa perspectiva temos que criticar esta ideia de infinito que leva ao poder económico que é exercido atualmente nas cidades. A solução é criticarmos conceitos como política e a forma.
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O político surge através do formal, que quando o espaço se forma a tradução é a formação dum limite. Nunca temos a política a acontecer dentro do homem, acontece sempre fora dele, através da relação entre homens. A política ocorre quando decidimos como organizar as relações, os espaço “in between”, o infra-espaço. Este espaço passa a ser formal a partir do momento em que pomos peças umas contra as outras, “the space in between is formed by the decision of who is a friend and who is an enemy” (Aureli, 2011:27). Não encontramos uma posição nesse momento, mas a mesma surge pela maneira que cada posição assume uma das partes que formam o espaço. Quando tomamos uma decisão, que vem do latim caedere que significa cortar ou cortar a ligação, decidimos qual é o inimigo e lutamos conscientemente contra o “inimigo”, através desse corte. Assim, desta maneira, a noção de antagonismo surge através da contraposição de peças. Nesse momento temos a oportunidade de fazer uma reivindicação de autonomia política, mas temos que perceber quem são as contrapartes, ou seja antes de reivindicarmos temos que perceber contra “o que é” ou “quem” nos estamos a afirmar. De um ponto de vista económico não tem muito interesse esse antagonismo, assim como na política. Na Guerra Fria onde tínhamos o socialismo contra o capitalismo, é o momento que o socialismo se torna inimigo, porque na verdade não é lucrativo. Dessa maneira acaba por se transformar em guerra para deixar de ser inútil e agora regressa de uma maneira lucrativa. A política é uma atitude, é agirmos contra alguma coisa, mas consiste em conhecimento, pois temos que saber “quem” e “o quê”, para nos podermos opor a alguma coisa. No fim, não passa de uma tarefa que é transformarmos o conflito numa coexistência, para se tronar num fim lucrativo. O formal, em si, escreve-se pela experiência que temos quando estamos limitados, como por exemplo a relação de interior e exterior. A forma é o limite que se estabelece e segundo Hersch é um paradoxo: “índica simultaneamente unidade, por um lado, e por outro lado a diferenciação espacial, o caráter parcial, a limitação, a determinação, e a mudança.” (Aureli, 2011:30). Conseguimos definir o formal através de limites e ao nos preocuparmos com esse limite, por si só, já indica que existe. Dessa maneira o formal conta a totalidade de concepções genéricas de multiplicidade na cidade. “Deve ficar claro: não há como voltar da urbanização e ir à procura da ágora contemporânea, é um esforço patético que apenas manifesta a fraqueza da nossa compreensão da política e da cidade. Ao mesmo tempo, devemos construir a integridade política e formal da cidade, que não consiste em uma reconstrução nostálgica de um lugar ideal que nunca existiu. O que poderia ser uma forma de referência para uma compreensão política e formal renovada da cidade e sua arquitetura? ” (Aureli, 2011:32). Em vez de recorrermos a cenários, a utopias, a estruturas que muitas vezes reduzem, simplificam e totalizam as representações, Aurelli (2013) propõem que se comece pela ideia principal de construção de cidade, que é feita a partir de limites da forma arquitectónica. Hilberseimer (s.d.) radicalizou, através do genérico, a maneira do funcionamento de habitar um lugar. Como diz Albert Pope que apontou que os seus planos urbanos não foram feitos de “forma” mas sim de “espaço”. Conseguimos perceber isso pela maneira como o mesmo desenha os seus planos em que a sua principal preocupação não era a forma mas sim os sistemas de circulação e as características do território. Assim tudo o que restava da “cidade, dos seus lugares, das suas fronteiras, das suas formas - estão completamente dissolvidas no sistema urbano”(Aureli, 2011:37). Nesta ideia surgem cidades que, em si, são genéricas, e já foram projetadas há algum tempo, como a cidade de Hilberseimer e de Le Courbusier, como vamos ver no capítulo a seguir. Mies e o “silêncio” da sua arquitetura aparenta surgir através da cidade genérica que Hilberseimer projetou. Não é uma arquitetura que em si é de esperança contra o genérico ou de celebração, até porque os seus edifícios são massas ortogonais. Massas
Dessa maneira as intervenções que Mies fez, principalmente, nos projetos como o Seagram Building em New York, o Federal Center em Chicago, Westmount Square em Montreal e o Toronto-Dominion Centre, assumiram especial importância no sentido em que ainda são o exemplo de como construir. Mostram-nos a possibilidade que temos de construir um edifício num mar de urbanização. A solução é, através das torres, criar o seu finito e assim criar uma identidade. Que tipo de arquitetura então representa o arquipélago de hoje? O edifício icónico que, como já falamos anteriormente, permite assim criar uma identidade e um limite num mar que tende a querer ser ilimitado pelo capitalismo? O edifício que afirma a sua presença através da sua imagem única, o seu princípio é ser “único e irrepetível” (Aureli, 2011:44).
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29. DIAGRAMA DO SEAGRAM BUILDING, MIES VAN DER ROHE (1958)
que são teimosas, mas ao mesmo tempo, como diz Aurelli, “dóceis e simples”(Aureli, 2011:38), que surgem nesta imensidão de espaços genéricos na metrópole moderna. Embora os seus edifícios fossem uma reprodução da cidade genérica, através de paralelepípedos, surgem de maneira diferente em cima de pilares. Não tornam o edifício ilimitado mas sim limitado através dos pilares, que insistem em limitar e enquadrar o edifício através da forma. Não funcionam como uma norma mas como uma arquitetura que foge à regra e se torna uma exceção. Excepção essa que obriga de certa maneira o genérico a adaptar-se à sua forma finita, contrariando o infinito. A própria localização e o lugar que os pilares ocupam são, em si, o resultado da arquitetura genérica no seu contexto, mas quando temos os pilares, “elementos que formam um rodapé”(Aureli, 2011:39), que criam experiências únicas, devido ao facto dos pilares abrirem um espaço no meio do espaço urbano, criam o único. Apesar de estar a ser totalizado pelas forças que a urbanização cria, o rodapé, o embasamento, o espaço que fica por baixo da torre em consola, como espaço livre, permite entender o espaço urbano de maneira diferente. Não como um espaço tirano, com regras e sem exceções, como o conceito introduzido por Cerdà, mas sim como algo que pode ser enquadrado e situado, como “uma coisa dentro de outras coisas” (Aureli, 2011:41), ou seja, único e, portanto, contrário ao genérico, uma excepção. O rodapé cria um género de moldura que desta vez, contrariamente a anteriormente, não serve para separar e para isolar, mas sim, através de uma ilimitação pensada pela abertura, permite uma nova relação de confronto. Ao contrário de Cerdà, Hilberseimer e Archizoom, Mies não se preocupa apenas com a generecidade, mas sim também com o limite pois a arquitetura reinventa-se e acaba numa obsessão de se repetir, característica influenciada pela civilização capitalista.
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30. SEAGRAM BUILDING, MIES VAN DER ROHE (1958) – à direita 31. MANIFESTO PODIUM – página seguinte
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O Estado já não constrói esse tipo de edifícios, pelo seu elevado custo, apenas as grandes corporações que querem ter uma exclusividade, que respondem à lei do lucro, e se na forma são diferentes então por si só tornam-se exclusivos. Ao serem exclusivos tornam-se mais rentáveis e são a novidade de serem diferentes dentro da cidade genérica. “O ego e o carácter do arquiteto, resultando na sua criatividade para se opor a polis, na sua forma formal, é assim formar um espaço de diferença, que confronta as peças” (Aureli, 2011:45). Em vez de sonharmos com uma sociedade que é perfeita devemos olhar para o capitalismo, reconhecermos e limitarmos a arquitetura. Para limitarmos é preciso criarmos diferenças, que a palavra em si já traz uma oposição. Desta forma ter uma potencial separação política, dentro do “mar” da urbanização, é a maneira de nos manifestarmos através das fronteiras, que são essas que definem a possibilidade de termos uma cidade. A arquitetura deve definir as fronteiras, entendê-las e criá-las, confrontar e julgar os arquipélagos. Tem que ser um instrumento de separação através da diversidade oferecida pelo ícone, tornando-a assim num instrumento político.“Se tivéssemos que resumir a vida numa cidade e num edifício, num gesto, seria atravessar fronteiras, limites. A vida seria a passagem de espaços que estão limitados por paredes.”(Aureli, 2011:47) Dessa forma, a diferença está na criação da excepção através de uma fronteira no formal. Aureli partiu desse pressuposto e criou o projeto Stop the City (2013) que tinha como objetivo impor um limite à economia com o objetivo de formalizar o espaço urbano através do vazio para a cidade não crescer e se tornar uma cidade sem limites. A cidade “é um arquipélago de ilhas de alta densidade” (Aureli, 2013:18). O projeto concebia uma unidade que tinha a capacidade de albergar 500.000 habitantes, em edifícios com 8 pisos, de 25 metros de largura por 500metros, que impunham um limite à economia, e demarcavam a área não urbanizada, vazia. Cada edifício era “city inside a city” (Aureli, 2013:18) que permitia incorporar várias atividades e programas, uma “City immeuble” (Aureli, 2013:18). Os edifícios definiam um quadrado, cujo o seu interior não podia ser urbanizado, era apenas floresta, jardim permeável, como um pedaço de esperança do mundo. Stop the City, noutras circunstâncias criticava o modelo dos Archizoom de uma urbanização sem limites. Criticava a cidade que permitiu a economia apoderar-se do espaço para materializar os seus excedentes. Da mesma forma que serviu de critica, hoje encontramos limites. A Stop the City é uma cidade genérica cujo objetivo não é ir contra a modernidade, na questão de uma produção igual, no campo da arquitetura, mas sim dar continuidade aos projetos de Cerdà e de Hilberseimer (Aureli, 2013). O Modelo de cidade “Stop the City” é um modelo irónico do que está a acontecer nas cidades atualmente que, apesar de se continuarem a urbanizar sem limites, as cidades parecem criar centralidades através de barreiras no espaço urbano, criadas pela economia, pelo conhecimento, apenas fluir no interior da cidade, e ter como objetivo expulsar ou excluir as pessoas através desse limite para o exterior.
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O MODERNISMO COMO GENÉRICO E FRAGMENTADOR DA CIDADE Com o modernismo, surgiu a tentativa de criar uma sociedade completamente nova, uma sociedade que satisfizesse o ser humano e onde este fosse o ponto central. Desta forma, o caminho traçou-se do ponto de vista Iluminista, foi criar uma nova cultura onde se refletisse menos as práticas e costumes da mesma. A ideia passava por criar uma nova comunidade que seria codificada, de maneira a ser o mais generalizada possível, desta forma só os costumes racionais permaneciam e os restantes eram suprimidos. A implementação de leis gerais, como os Direitos Humanos, que são genéricos e que visam os direitos a todo e qualquer ser humano, são a tentativa de criação dessa sociedade. Para isso acontecer, foi preciso que certas culturas deixassem de lado os seus princípios e costumes para abraçar o bem-estar do homem e da sociedade. Claro que visto desta maneira tendenciosa, entende-se que serve apenas para generalizar. No entanto, também serve para atribuir os mesmos direitos a todos, sendo que não nos devemos esquecer que as declarações das Nações Unidas, tentam evitar certos costumes mais desumanos. Foram Estabelecidos novos padrões de peso, medição e até mesmo de língua. A língua inglesa, que ao longo dos últimos anos se tornou numa língua genérica e universal é a consequência disso, bem como normas, leis e regras que pretendem criar uma só unidade. Em meados do séc. XIX, as ideias de Condorcet, de generalização, surgem mais presentes na sociedade aparecendo não só em medidas. A racionalização utilizada passou a ser aplicada ao desenho da sociedade, sociedades que eram projetadas e ambicionadas pelo Estado e pela nação. A ideia de que o objetivo do Estado era melhorar a sociedade, ou por outra, melhorar os seus membros, a sua saúde, a sua educação, a sua longevidade, a sua produtividade, a sua moral e, também, a sua vida familiar, era uma ideia nova. A utilização da ciência e da estatística não eram usadas só para o Estado, mas também, para toda a sociedade, como, por exemplo, as taxas de emprego, as taxas de fertilidade, assim como as de homicídio, entre outras, foram um passo simplificado de design para uma manipulação da sociedade, com o intuito de a melhorar. Se com estatísticas conseguíamos remodelar a Natureza e criarmos uma floresta mais adequada, o mesmo se passaria com o Homem. Passamos a ter estatísticas e percentagens comuns que podiam ser modificadas para criarmos uma sociedade que alguém acredita ser mais adequada. A sociedade podia, então, começar a ser projetada de acordo com certos padrões. Indo um pouco mais longe, podia começar a ser projetada com os mais avançados princípios controladores. A ordem social começou a ter critérios e a ser comparável, e assim, a tornou-se genérica. Ao ser genérica, os parâmetros serviam para comparar e levar a evolução de um sistema, para que fosse possível projetar a sociedade segundo certos critérios. Deste modo, a comparação e a exposição em critérios, levou à generecidade. Estes critérios são conscientes, racionais e científicos, onde cada sítio da ordem social pode ser melhorado, indo desde a higiene, à criação, passando pela habitação, educação e estrutura familiar e, um pouco mais desprezível, a herança genética de uma certa população (Scott, 1999). Frederick Taylor, que decompunha minuciosamente o trabalho dentro de uma fábrica em movimentos repetitivos, precisos e isolados, de uma maneira revolucionária,
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32. METROPOLIS, FRITZ LANG (1927)
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encontrou uma possibilidade através de linhas de montagem a utilização de mão-de-obra não qualificada e, ao mesmo tempo, a controlar ritmos de trabalho e de produção em todo o processo. Na Europa surgiu a questão “energetics” que se focava na fadiga, movimentos, medidas de descanso, higiene e nutrição. A questão surgia com o trabalhador, no centro, como uma máquina que, por sua vez, era bem alimentada e estava em boas condições, assim, os trabalhadores tinham as mesmas necessidades e as mesmas capacidades, era tudo padronizado. Foi no seu todo uma maneira de aumentar a eficiência, tanto na indústria como na frente de Guerra, racionalizando o corpo humano. Esta nova maneira de padronizar, na indústria, já tinha sido abordada anteriormente. A ideia de como as pessoas devem viver segundo certos padrões e direitos, que por sua vez deveriam ser iguais para todos, foi o contributo para que seja possível sentir que tudo está cada vez mais igual. Metropolis é um filme futurista, realizado por Fritz Lang em 1927, onde este tenta retratar uma metropolis no séc. XXI. Cem anos após a sua realização, em pleno 2026, o filme retratava essa questão da sociedade estar a tornar-se mais genérica através da racionalidade impingida, por isso, na cidade já existiam objetos verticais e o trabalhador era retratado como uma máquina. Este é um filme onde a classe mais abastada vive em arranha-céus e governa a cidade, opostamente, os trabalhadores com menos posses vivem de baixo da terra. A classe alta dirige e controla a massa trabalhadora para a sociedade funcionar. O filme baseia-se num exagero e num irreversível futuro, onde critica o modernismo, onde tenta alertar a sua continuidade e o desenvolvimento deste. Era o capital a única preocupação e as pessoas, que eram “máquinas”, comportavam-se da mesma maneira, existindo assim, uma ideia de racionalizar tudo. O coletivo passa a prevalecer sobre o individual, para contribuir para uma rápida expansão das cidades, e uma economia enriquecida às custas da classe trabalhadora. Fritz Lang diz que o filme surge como uma crítica quando visitou a cidade de New York. Esta é uma cidade, que já na altura, os arranha-céus predominavam e criavam uma sociedade consumista, que encontrava um equilíbrio nestas condições. A 11 de Dezembro de 1924, Fritz Lang, descreve que a motivação do filme serve como crítica à essa sociedade retratada: “Vi uma rua iluminada como se estivesse em plena luz do dia por luzes de néon e, no topo delas, anúncios luminosos superdimensionados a moverem-se, a girar, a piscar, a ligar e a desligar, em espiral (...) Eu sabia que tinha que fazer um filme sobre todas essas sensações.” (Lang, 1924).
33. METROPOLIS, RACIONALIDADE, FRITZ LANG (1927)
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34. 35. ILUSTRAÇÕES, DE HARVEY WILEY CORBETT E HARY PETTIT
A MATERIALIZAÇÃO DA CIDADE GLOBAL D
A densidade, a congestão de tráfego, o consumismo e os avanços tecnológicos permitiam revelar a preocupação e permitir a influência do modernismo nas cidades. A crença de que para um futuro melhor, os meios e os fins eram justificados, era uma das bases fundamentais dos modernistas. A miséria e a desordem levaram à necessidade de acreditar nesse futuro melhor. Esse foi o perigo que a sociedade enfrentou. Acreditarem em tal premissa, levou certas elites a utilizaram as suas próprias intenções para desenvolver a sua própria visão da sociedade. Com todos os problemas que as cidades enfrentaram, sugiram planos genéricos que ajudaram e contribuíram para a sua resolução. Problemas como a expansão urbana e excesso de população eram os fundamentos de uma sociedade subjugada à tentativa de atingir “a felicidade”. Todos os cidadãos eram genéricos e, por isso, tinham as mesmas necessidades, o que implicava que podiam viver da mesma maneira. Ludwig Hilberseimer e Le Courbusier desenharam assim maneiras genéricas de como a cidade se podia expandir.
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Os problemas da congestão dos arranha-céus e o tráfego que a cidade estava a sofrer, foi ilustrado por Hugh Ferris. Esta ilustração representava uma proposta executada por Harvey Wiley Corbett que explorava a confusão do empilhamento vertical dos diferentes congestionamentos, desde pessoas, aos carros, passando pelos transportes públicos. A solução era submergir a ferrovia e subir a rua pedestre, para assim começarem a criar diferentes níveis e, também, um sistema complexo que pudesse resolver o problema das metrópoles. Com o caos que as cidades estavam a passar, Hilberseimer fez uma proposta que ambicionava a solução, pois segundo o mesmo, “the task of the architect is to bring order and clarity to the chaos”( Hilberseimer, 2012:17). O caos estava instalado nas metrópoles e era a principal preocupação. A sua congestão e a falta de espaço expressavam-se nas cidades, assim, como o seu modelo económico que não podia dispensar da mesma, pois “the metropolis itself accelerates economic production processes by drawing economic control ever faster and more consciously to itself”( Hilberseimer, 2012:18). As metrópoles do passado já não conseguiam responder à industrialização e ao novo sistema económico. Os problemas que surgiram foram “a consequência natural e necessária da industrialização do mundo” (Hilberseimer, 2012:42). Hilberseimer utilizou a análise de Martin Machler´s para dar resposta a estes problemas. A análise consistiu na especulação imobiliária criada e no facto de terem utilizado a célula de habitação apenas como um todo, sem criarem habitações singulares. Não consideraram os edifícios como elementos orgânicos dentro de um grande organismo, a cidade, mas sim, criaram uma separação estrita de locais de trabalho e de locais de habitação. A cidade tinha de se expandir na horizontalidade, a solução foi criação de cidades satélites. Desta forma esta resposta criou o princípio da dispersão espacial. Para Hilberseimer, o edifício individual não era apenas um elemento desconectado, mas sim um elemento que fazia parte desse organismo maior, que é a cidade. Dessa maneira, a tarefa passou de desenhar edifícios únicos a ser desenhar “uma massa muitas vezes monstruosa e heterogénea material” (Hilberseimer, 2012:46). Hilberseimer criou, assim, um modelo abstrato de como a cidade tinha oportunidade de se desenvolver. Para criar grandes massas foi preciso criar uma lei geral, “no caso geral, a lei é respeitada e enfatizada; a exceção no entanto é posta de lado, as nuances são varridas para longe; a medida torna-se mestre, o caos é forçado a ter uma forma: lógica, inequívoca e matemática” (Hilberseimer, 2012:90). Desta maneira, o importante passou a ser a concepção urbana do espaço e não a do objeto arquitetónico, onde o elemento único foi desvalorizado e não tem, sequer, espaço para ser criado. Tanto Hilberseimer como Le Corbusier foram influenciados pela ideia de circulação ilustrada por Ferris. Apesar de Hilberseimer criticar o sistema de circulação de Le Courbusier, como imperfeito e que tinha aumentado a densidade no centro da cidade, levando ao aumento do congestionamento na circulação, a cidade de Hilberseimer também dependia da sobreposição de zonas funcionais, que pelas suas palavras eram “duas cidades empilhadas verticalmente, por assim dizer.” (Hilberseimer, 2012:107). A cidade de Hilberseimer, baseava-se em longas lajes que serviam uma cidade para 1 milhão de habitantes. A parte inferior destinava-se para as funções e para o comércio, enquanto os quinze andares superiores à primeira laje serviam para habitação. As lajes elevadas, influenciadas por Cobert, serviam para fazer a divisão da zona habitacional. Desta forma o carro passou a estar no solo, enquanto que as ferrovias no sub-solo. O objetivo era que os moradores pudessem viver em cima da cidade onde trabalhavam. A natureza, no pensamento de Le Corbusier conjuga-se com a cidade, para Hilberseimer, devido à centrificação da cidade e à sua concentração, como não eram precisas longas horas de viagem para chegar ao campo, a natureza estava logo a seguir a cidade, estava a um alcance rápido e não era preciso aparecer no seu interior. Surgiu uma cidade densa que era organizada na verticalidade. A cidade vertical que trazia diversidade e densidade a uma área metropolitana dentro de uma região urbana maior.
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A MATERIALIZAÇÃO DA CIDADE GLOBAL
36. VERTICAL CITY, LUDWIG HILBERSEIMER (1924)
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As principais críticas à cidade de vertical de Hilberseimer, baseavam-se na subordinação do individual em prol do coletivo. Esta subordinação individual eram princípios que organizavam e pressupunham um mundo mecânico, um homem mecânico, e onde as suas influências eram apenas os princípios Corbusianos de concentração máxima, que criavam na verdade, uma cidade completamente homogénea. Sem a unicidade era uma cidade genérica, que se repetia e podia, assim, resolver o problema das metrópoles na altura, “the vertical city? It is a cemetery! A row of houses shaped like gravestones enclosed by a green fence.” (Hilberseimer, 2012:110).
Os projetos de Hilberseimer para a metrópole revelaram uma prioridade de contexto urbano sobre a lógica da arquitetura, era uma unidade ordenada por leis, nas suas palavras, em que as medidas conseguiam governar o caos das cidades e estas, ganhava agora forma e finalmente a racionalidade e a lógica prevaleciam. Hoje, não estaremos muito cedo, ou na verdade, muito tarde, a ver estas hipóteses já testadas? Le Corbusier planeou uma cidade genérica que tinha como princípio ser aplicada, assim como a de Hilberseimer, em qualquer lugar. Le Corbusier projetou o plano numa superfície plana para não serem observados problemas de obstáculos topográficos, onde o seu propósito era resolver os problemas das metrópoles, e não do lugar em questão. Le Corbusier planeou uma cidade para 3 milhões de habitantes e divide a população em três categorias. O espaço urbano, o suburbano e o espaço misto. O espaço urbano destinava-se aos moradores que trabalhavam e viviam na cidade. Os mistos aos que trabalhavam na cidade, mas viviam nas cidades jardins. Os suburbanos, eram destinados aos que trabalhavam na zona industrial mas viviam nas cidades jardins. Entre o centro e estas cidades jardins tínhamos áreas verdes, as áreas ajardinadas. O objetivo era densificar o centro devido à pressão exercida pelo mercado. Desta forma o arquiteto propôs vinte e quatro torres de ferro e vidro, com setenta andares de altura. Cada edifício estava capacitado para suportar entre 17.000 a 25.000 postos de trabalho, mas o objetivo desta verticalização era libertar o solo. O solo ficava liberto para construir parques com restaurantes, lojas, cafés e monumentos. As florestas serviam para uma futura necessidade de expansão da cidade. A cidade funcionava apenas com dois tipos de edifícios, um de blocos empilhados verticalmente e outro de edifícios com três andares, a decisão passava por viver de uma das duas maneiras. O sistema rodoviário e ferroviário controlavam a cidade e o plano urbano. Com a nova amplitude das ruas tínhamos um sistema de tráfego melhor e menos congestiona-
O modernismo foi libertador, seja de que natureza for, até mesmo no homem, mas é importante refletir e ter em conta que as intervenções do modernismo foram feitas em nome dos cidadãos, tiveram o seu apoio na reação e na procura de solução, e temos que ter em consideração que ainda beneficiamos desses esquemas na atualidade, desse ponto de vista foi um período bastante importante para os dias de hoje. A sociedade de consumo surgiu nesta época, através desta maneira, de planear o modo de vida urbano no estilo dos promotores. Estes apenas se preocupam com o lucro da cidade. Já não se vende só imóveis, mas sim urbanismo, uma maneira de viver. O urbanismo trouxe consigo a felicidade na vida quotidiana, e era vista em textos e publicidades como “um novo estilo de vida”. Mas, o que não nos apercebemos é que a sociedade
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37. PLANTA DA VILLE RADIEUSE, LE CORBUSIER (1930)
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do. O primeiro nível subterrâneo era constituído pela ferrovia e a rede de metro, que passavam logo abaixo de todos os arranha-céus. No segundo nível subterrâneo estavam as linhas de longa distância, assim como os autocarros e os veículos pesados que passavam também para o subsolo. Os edifícios passavam a estar apoiados sobre pilares para permitirem que o nível do solo fosse aberto, com grandes ruas e autoestradas para movimentos acelerados de veículos. Estas estradas conectavam-se ao nível da rua por rampas, onde tínha-mos a circulação pedonal e o tráfego lento, e assim a cidade ganhava forma. Para Le Corbusier esta foi a maneira de melhorar qualitativamente, mas também, quantitativamente em relação à cidade. A cidade passa a ter espaço e a estar organizada. O caso de New York, como foi ilustrado anteriormente por Ferris, parecia ter ficado resolvido. O aumento populacional no centro e o alargamento das vias nessa zona foi uma das principais críticas ao projeto. Passávamos a ter um centro vertical com uma acumulação de pisos, em vez de reduzir a densidade populacional no centro, esta era aumentada. Apesar de Le Corbusier pensar que estava a triplicar a densidade, a utilização de edifícios de cinco andares podia ter o mesmo efeito. Na verdade, a decisão passou apenas de um tipo de cidade, da vertical para a horizontal.
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38. CIDADE GENÉRICA, VERTICAL CITY, LUDWIG HILBERSEIMER (1927)
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de consumo são ordens, as quais seguimos com a ideia que trazem uma felicidade. Surgiu como uma estratégia global criar da teoria a prática desta nova sociedade. Construção de centros comerciais e centros privilegiados, que trazem a felicidade pelo consumo, parecem ser o propósito do urbanismo (Scott, 1999), e os espaço onde nos relacionamos. O urbanismo tornou-se, assim, genérico para fornecer uma economia capitalista, tornando-se na forma do capitalismo se materializar nas cidades. Cria-se generecidade tanto nas pessoas, como na cidade. Projetos de cidades genéricas foram abordados como inspiração e resolução dos problemas e da resultante evolução da cidade. As consequências que estamos a sofrer hoje, são e foram, impulsionadas pela maneira como o urbanismo se tornou racional e dessa forma lucrativo. Chegaram as teorias de que estas visões de planeamento resolviam o objetivo passava de uma produção em massa, e nasceram os edifícios verticais, da racionalização, da organização e da standarização. São estas características que ainda predominam nas nossas cidades e criam os mesmos problemas que, na verdade, já existiam em visões futuristas e na estratificação social. Se observarmos com atenção conseguimos verificar que estes projetos, predominados pela generecidade e impulsionadores das cidades que observamos diariamente, sempre trouxeram uma separação social, para trazer racionalidade e funcionalidade na metrópole. Le Corbusier faz uma polarização horizontal por segregação de áreas. Fritz Lang cria uma polarização vertical. E, por último, Hilberseimer cria uma polarização vertical mas a nível funcional. Estas reações a uma funcionamento económico que pretendia uma expansão espacial, para gerar lucro, foi a influência dos problemas nas cidades que levaram a estas projeções de cidades genéricas. Estas reações foram a base da generecidade para chegar ao ponto que pudemos observar nos edifícios e nas cidades atualmente e deram, também, ênfase aos problemas que retratam as cidades genéricas do nosso tempo: a segregação social e espacial.
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A palavra tipo apareceu, pela primeira vez, na arquitetura durante o século XVIII. Chegou-nos através dos gregos, com o significado de modelo, matriz, marca ou figura de relevo. Tipo implica originalmente uma lei universal ou um princípio natural e tem diversos significados. A sua noção, isto é o seu princípio, pode explicar como é que determinadas formas que são geradas, e foi uma noção que ganhou grande importância durante o estilo iluminista. No artigo “Tipo”, que Quatremère de Quincy escreveu para a sua Enciclopédia, esta publicada em 1825, tipo trazia implícito a ‘forma característica’ ou ‘fisionomia particular’ que permitia que o edifício passasse a ser lido como o “seu objetivo fundamental”. Começou, então, a ser designado como o processo de formação de um edifício em particular e o seu o significado, quer de um processo como de um objeto, que “reivindica uma justiça funcional” (Jacoby, 2011:22). Assim, no final do século XIX e início do século XX, começou-se a evocar este conceito, não com o objetivo de imitar ou aspirar, mas sim como uma ideia que estava sempre sujeita a mudanças funcionais e programáticas. Frequentemente tipo e tipologia são confundidos e entendidos de uma maneira similar, são muitas vezes entendidos na arquitetura como classificação de edifícios que correspondem a um certo uso, ou seja hospitais, prisões, escolas, etc. Mas tipo não deve ser confundido com tipologia. Tipologia vem da junção de tipo com o ologia, que vem de lógia do grego e significa “um discurso, tratado, teoria ou ciência” (Jacoby, 2011:17). Desta maneira conseguimos entender que tipologia, na verdade, é um discurso, uma teoria, é assim a ciência do tipo ou do método. Pelo seu sentido de ideia surge sempre como abstrato. Dessa forma tipo é impreciso e é difícil de entender o seu significado formal, e existir apenas uma única forma de o definir. Reduzir o significado de “tipologia” àquilo a que chamamos “categorias” limita o seu uso, pois os edifícios não dependem de uma função nem do tempo, como afirma Aldo Rossi (1984) e o neorracionalismo. Um edifício não tem necessariamente que agregar a mesma função com o passar do tempo, podemos passar de armazéns a apartamentos, de fábricas a museus e assim sequencialmente. Desta maneira, quando reduzimos tipologia de um edifício apenas a uma característica funcional, estamos a limitar e a impedir que outra forma de conhecimento possa ser obtido. Se não limitarmos a palavra tipo, temos uma nova capacidade do edifício nas características de mudança e transformação, em vez de apenas limitações formais e funcionais. O tipo, segundo Quatremère, é um elemento que deve servir de regra para um modelo, não deve surgir como uma cópia. Segundo o mesmo, tipo incorpora uma ideia com uma série de regras abstratas que podem ser encontradas na natureza. O conceito torna-se, assim, abstrato e conceptual, e deixa de ser concreto e literal, como explica Jacoby (2011). A sua ideia então passa a ser gerir e determinar as regras do modelo. Apesar disso, Quatremère defendia que era um ideal, em que o arquiteto devia ter a preocupação de procurar o tipo mas nunca chegar a materializá-lo. Surgiu a ideia de “modelo”, por parte Durand, quando este desenvolve um método de desenho tipológico da “Précis des leçons a arquitetura”, desenho doado à l’École royale polytechnique (1802-05). No Précis, Durand tentava encontrar um método sistemático para classificar os edifícios através de géneros com diagramas. Propôs que estes
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A CIDADE GENÉRICA COMO UM TIPO
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39. ESTUDO TIPOLÓGICO, JEAN-NICOLAS-LOUIS DURAND
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novos tipos fossem utilizados como resposta aos requisitos de uma sociedade que estava a sofrer grandes mudanças a nível social e urbano. Passou a existir a possibilidade de os edifícios se adaptarem às restrições que os lugares sofriam. Esta definição de tipo como modelo, através de diagramas, revolucionou a nova forma de trabalhar tipologicamente, através de “precedentes, classificação, taxonomia, repetição, diferenciação e reinvenção.” (Jacoby, 2011:18). O facto de ter existido um mal entendido entre tipo e tipologia, levou à rejeição deste conhecimento na época. Durand conseguiu, através de um método, passar a classificar formas geométricas como edifícios, assim como todas as partes que faziam parte do mesmo. O processo passa pela identificação de elementos típicos no edifícios, mas como partes separadas. Conseguiu criar um processo que era compreendido por todos, como a linguagem da arquitetura, padronizando o processo e desenvolvendo tipos em grafismo. Contudo, o problema que se colocava é que a partir do momento em que se trabalhava apenas com a individualidade dos elementos do edifício, e não com a sua relação com a cidade, perdia-se o edifício como um todo.
Marina Lathouri no livro ‘A cidade como um projeto: tipos, objetos e tipologias típicos”, forneceu uma discussão crítica e histórica do papel de tipo, como definição de objeto arquitetónico e da sua relação com a cidade. Esta noção foi posteriormente complementada pelo projetos do UNStudio no livro “Instrumentos tipológicos: A conexão da Arquitetura e Urbanismo” de Ben van Berkel e Caroline Bos, onde esclareceram e exemplificaram respostas na demonstração de como “modelos tipológicos têm a capacidade, e exigem mesmo, a sua transformação e hibridação para cumprir as exigências da arquitetura no contexto urbano.”(Jacoby, 2011:19). Quando temos tipo como ideia e modelo temos a possibilidade de utilizar este instrumento no contexto urbano, e adaptá-lo a cidade. A palavra urbanismo significa “viver ou estar situado, numa cidade ou metropolis” (Jacoby, 2011:19), conceito cunhado por Cerdà, como já vimos anteriormente. Desta forma, para Cerdà, urbanismo é a ciência que regula e gere o crescimento da cidade, através de uma unidade de habitação que se repete e de atividades económicas. A intenção da palavra urbanização é passarmos de nos preocupar com a centralidade da cidade para os subúrbios, ou seja, olharmos de dentro para fora, e não de fora para dentro. O plano urbano inclusivo foi diferente do plano diretor, este baseou-se numa autoridade e controlo do elemento singular, o quarteirão. Aqui o tipo foi usado como instrumento no processo, para regular e administrar o espaço urbano, que agiu de uma maneira flexível e com alguma instrumentalidade no processo para se visualizar, regular
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e administrar o plano urbano residente. Os diagramas de tipo são representações do plano urbano, mas com uma nova organização e um novo significado de tipo , que trazia novas soluções para o desenho da cidade. Em “Tipo, campo, cultura, práxis” (Jacoby, 2011: 38–45), Peter Carl esclareceu que o tipo são fragmentos isolados de uma estrutura profunda, muito rica e de características típicas, “tentando relacionar objeto arquitetónico como uma situação humana”. Tipicidade define-se por “aqueles aspetos comuns a todos”, ou seja são objetos que em si, são comuns e genéricos, que se podem agregar com características típicas e, assim, serem comuns. Surgiu então uma generecidade na palavra tipo, apesar de contraditória, porque ao mesmo tempo tipo oferece uma liberdade no sentido do que é comum a todos, ao mesmo tempo exige um fator comum. Hoje, em não-lugares e cidades genéricas como vimos anteriormente é mais o que nos é comum do que o que nos diferencia, dado que o fim foi terem se criado cidadãos genéricos e a formado cidades genéricas. As cidades históricas foram o resultado de uma “centrificação” da economia através de produtos, de funções cívicas e simbólicas que representavam e necessitavam de um assentamento e uma coexistência humana. As características das cidades derivam das condições tipográficas e geográficas em que se encontram, e ligaram-se a outras cidades para a existir a troca de recursos e produtos, formando assim um caráter. “Traditional cities are defined by their relationships to river banks, sea-ports, railways, highlands (hill towns) and so on. Today we see cities that position themselves as knowledge cities, financial cities, medical cities, sport cities and so on.” (Jacoby, 2011:20). Esse carácter é que permite acomodar as diferenças que trazem um significado coletivo de cidade. Com o tempo, as pessoas mudam e evoluem consoante reações às circunstâncias, a sua história permanece através da arquitetura, em marcos ou edifícios públicos, que nos trazem uma identidade comum. Desta forma, através desses edifícios e dessa identidade comum, o tipo dominante, como uma ideia, reage em relação às condições socioculturais e históricas. De Manhattan em que temos as torres, a Barcelona onde temos os blocos, conseguimos perceber as cidades através destes tipos dominantes. “Através de Rossi, aprendemos que um prédio, como um elemento de ‘permanência’ é capaz de atuar como o repositório tipológico da história, da construção e da forma de uma cidade.” (Jacoby, 2011: 22). Assim, o tipo não depende da função é flexível. Conseguimos ver essa flexibilidade na análise de Martino Tattara que na “Superquadra de Brasília: projeto piloto e o Projeto da Cidade” (Jacoby, 2011:46-55) propõe que o “Protótipo” funcionava como um exemplo daquilo que não se deve reproduzir através de um conjunto de normas, prescrições ou regras, mas através da autoridade do próprio protótipo. Assim o protótipo tornava-se o tipo como ideia a seguir, como alega Jacoby, a “semente” (Jacoby, 2011:49) de alguma coisa maior e mais complexa. Desta maneira, o modernismo com a utilização de tipo como “objeto” e “produto padrão” foram a expressão da cidade genérica que temos hoje. A arquitetura teve um papel na articulação e na expressão das mudanças consoante as necessidades que surgiam, como “espaciais, materiais, económicas e sociais” e reagiu ao criar uma standarização, através de regras. Manfredo Tafuri e Francesco Dal Co, afirmaram que, com o modernismo, as necessidades externas e as mudanças foram internacionalizadas, e a noção de típico foi identificada como o padrão para se construir uma cidade que tentava dar uma resposta a todos os problemas, e a consequência foi que chegamos, mais uma vez, a cidades genéricas. Walter Gropius (1965) diz que os edifícios “típicos” servem de aproximação para um processo de fabricação de edifícios, em que o “edifício típico” se torna então idêntico ao objeto e, assim, serve como tipo no sentido de cópia. Este foi o resultado de uma fabricação industrial, uma fusão de formas, que eliminaram a individualidade pessoal dos designers e, também, a unicidade dos edifícios. Todos os recursos que não eram genéricos eram considerados não essenciais, para, desta forma, eliminar o único, que simbolizava a capacidade de distinção e a “arma” contra generecidade que a cidade está a consentir atualmente.
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40. ARTEFACTO URBANO, ALDO ROSSI (1984)
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Essa forma de produzir edifícios, através da standarização, ia de encontro aos problemas e às necessidades de uma sociedade, cujas necessidades eram uma construção rápida e em massa, devido à grande ocupação urbana que a cidade estava a sofrer. Criou-se uma transição na forma de produzir o espaço urbano, a padronização, que Gropius (1965) descreve como “norma”, era a ideia de uma nova cidade. A produção industrial interseccionava-se com a capacidade de termos uma “estrutura normativa”(Jacoby, 2011:26) para uma cidade em crescimento e obtermos o típico e o tipo de objeto. Eles forneciam uma nova maneira de produção urbana, uma lógica pré-condicional que trazia regeneração e felicidade. O “típico” oferecia mais que apenas um modelo para a produção de edifícios, servia também para a reprodução de certos produtos que até então eram únicos. Como se o único fosse dispensável, pois se fosse relevante copiava-se e se fosse irrelevante desaparecia. Temos como exemplo do “típico” o mobiliário, as unidades de habitação ou até mesmo os edifícios. A arquitetura e esse valor de tipo modernista combinaram na perfeição com uma economia capitalista cujo o objetivo era uma produção em massa. Assim esta ideia de ter uma norma que implicava uma padronização, servia para que os elementos arquitetónicos tivessem a oportunidade de tornar-se genéricos, com a ideia de viver na cidade moderna, uma centralidade económica. Assim, no modernismo tivemos no centro a palavra tipo e objeto, que permitiu um procedimento pelo qual várias funções ou atividades repetidas foram impostas ao indivíduo e “para incorporar o indivíduo, era assim controlá-lo, dentro de um sistema, foi garantir o crescimento desse sistema (pela multiplicação dos elementos tipificados) e regulados (pela repetição de funções). De maneira sucinta, o indivíduo tornou-se típico, para contribuir para as operações geradoras e reguladoras da cidade, ou seja, um tipo de desenvolvimento.” (Jacoby, 2011: 27), desenvolvimento esse que a economia utilizou e utiliza como meio para atingir um fim. Assim surgiu a cidade genérica com um tipo de desenvolvimento de cidade. Uma cidade que foi criada à imagem do conhecimento e da racionalidade e que o seu objetivo não foi funcionar como uma ideia, mas sim como um objeto de reprodução, uma cópia funcional. O modernismo apoderou-se da palavra tipo para urbanizar cidades em que a economia pudesse prosperar, e a consequência foi a racionalidade incutida neste processo de urbanizar, e as cidades atuais transformadas pelo mesmo.
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Rossi (1984) rejeitou o funcionalismo e a racionalidade, argumentou que o capitalismo utilizou esta projeção de cidade para materializar os excedentes de capital no espaço urbano. O resultado foi uma cidade livre de estilos. Tentou então arranjar uma forma de contrariar este planeamento totalitário, que foi utilizado no modernismo e urbanismo, através de processos como a tecnografia para controlar não só as pessoas mas também os edifícios. Para Rossi a ideia de tipo é “algo que é permanente e complexo, um princípio lógico que é difícil de formar o que o constitui” (Rossi, 1984:32). Tipo transformou-se desta maneira num conceito comum e universal, não contém o rigor de um modelo, porque não contém a obrigação de uma cópia, mas sim de uma ideia. Rossi introduziu tipo como um artefacto urbano, não é um elemento isolado na cidade, mas sim faz parte e interage com o espaço urbano. Um fragmento da cidade que se entende pela sua história e pela sua forma física. O tipo arquitetónico é assim, para Rossi, uma relação com a sua forma, com a localização, com a história, com a geografia, com a estrutura física e a dinâmica da cidade (Rossi, 1984:32). Nas palavras de Rossi, “tipo é, portanto, uma constante e manifesta-se com um caráter de necessidade; mas, embora seja predeterminado, reage dialeticamente com a técnica, função e estilo. Bem como com o caráter coletivo e o momento individual do artefacto arquitetónico”. O objetivo era provar e contrariar o modernismo e o urbanismo, que permitiram e incitaram a arquitetura e a cidade a transformar-se em elementos que não se relacionam, ou seja, distintos, e tornar não em elementos separados, mas sim unidos e relacionados. Quando não utilizamos tipo como artefacto urbano, não percebemos o seu valor na totalidade e a sua relação intrínseca com a cidade. A preocupação só tipológica sucede e provoca essa perda. Deixamos de nos preocupar com a relação do tipo com a cidade, assim, quando tipo surge como ideia passamos a nos aperceber da relação das formas e das mutações com a cidade, surge sempre como base em relações abstratas e não como um modelo. Desta forma o problema do urbanismo e do modernismo, além de terem criado uma ideia de projeção de massas-padrão através de normas e uma cultura de felicidade universal, levou à incorporação de edifícios que se esqueciam da sua ligação à cidade. Projetos como o “The City of the Captive Globe”, de Koolhaas, representam a preocupação com o edifício mas não com as estruturas isotrópicas que estes formavam. Os edifícios passavam a ser enclaves sem ligação nenhuma entre eles, cidades dentro de cidades, e por isso perdeu-se a ligação do edifício à cidade. Talvez se observarmos com atenção, através de uma mudança de escala, apercebemo-nos que, na verdade, os edifícios são diferentes mas a sua falta de conexão com a cidade e a rigidez do urbanismo, como espaço económico, tornaram-os iguais. Neste momento devemos olhar novamente para o edifício de Mies, que através da excepção à regra da cidade que vimos, tínhamos uma tentativa de interação do edifício com a cidade, com a transformação do espaço económico e formal, em que o formal revelava o político e o homem se tornava o elemento de conexão. Mies concebeu um projeto em que o espaço formal possibilitava a inclusão do espaço político, um espaço público e aberto. Passamos, finalmente, a ter edifícios diferentes e não massas homogéneas, o identificável e dessa forma com identidade dentro da identidade da linguagem internacional.
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A MATERIALIZAÇÃO DA CIDADE GLOBAL
AS FAVELAS GENÉRICAS COMO PRODUTO DA ECONOMIA DO CONHECIMENTO A Cidade Global emergiu como um espaço de fronteira, onde existiam dois atores: o global padronizado, que na economia corresponde ao espaço de negócios, e o outro ator o local, uma economia nacional fixa. A fronteira entre os dois, o espaço onde se interseccionam, são as Cidades Globais. Temos a padronização de relatórios financeiros, contabilidade, negócios, e mesmo assim continua tudo confuso. Hoje, já não encontramos os espaços de fronteira nos limites de um país, mas dentro da cidade. Estes limite s começam a trazer consequências, como a formação de habitação mais precária, ou em alguns casos favelas, que parecem decorrer pela procura deste novo espaço urbano. As cidades estão em contínuo crescimento, um problema que assombrou e assombra as cidades. Mas, na verdade, de onde vêm essas pessoas? E mais importante, porquê? Será que, hoje em dia, as pessoas que procuram as áreas urbanas ainda vêm à procura do modo de vida e da felicidade vendida pela época modernista? Saskia Sassen abordou este tema e fez pesquisas sobre os motivos que provocam estes movimentos. O primeiro surge da desapropriação de terras. Sassen descobriu que existem milhões e milhões de metros quadrados onde existem “fazendas”, as quais podemos denominar de pequenas comunidades, que são completamente extintas para a criação de plantações sejam elas de soja, arroz, etc. E para onde é que essas pessoas se dirigem? A resposta é: para as cidades. Esta deslocação está ligada a uma “violência” não-urbana que produz população urbana, pois são estas pessoas não-urbanas, pessoas que não ficam com traços da sua história e passado. A segunda razão para a procura intensa das cidades é que, apesar de haver dispersão territorial de atividades económicas, as tecnologias levaram a uma comunicação diferente que dispersa as atividades, mas apesar disso os processos de controlo de operações concentraram-se. Surgiu assim uma centralização, onde as grandes cidades são locais estratégicos para a localização de todos os setores. A Centralização, hoje e sempre, levou à marginalidade: “Quanto maior o nível de desenvolvimento provavelmente mais alta será a taxa de urbanização.” (Sassen, 2007:52). Um novo sistema surge, o sistema urbano, que opera através de pontos nodais, pontos centrais que coordenam internacionalmente e nacionalmente a economia. A prestação de serviços por parte das empresas e os mercados são os lugares mais importantes de uma economia globalizada, e concentram-se no território das cidades globais. O território transformou-se, não é mais fechado dentro de si mesmo, mas ele constitui um nó (ponto nodal) na rede de conhecimento, que se coneta com outros territórios. Desta forma criamos um arquipélago mundial, uma conexão de rede, que a centralização na rede, forma as cidades globais. A cidade deixou de ser um lugar fechado na Nação, é aberta pois é local e mundial ao mesmo tempo, não existem obstáculos para não vermos o seu interior, os muros caíram. Estar num lugar significa estar em muitos lugares, a noção de espaço, de distância e proximidade mudaram. Criamos uma ausência e uma presença diferente, podemos vivenciar diferentes lugares ao mesmo tempo. Quando observamos pesquisas vemos que existe centrificação, grandes parques onde se concentram as atividades económicas, que socialmente contribuem para um mundo que continua dividido. A economia de aglomeração ( clusters) constitui o modelo da economia atual.
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A economia capitalista global que hoje encontramos espalhada pelo mundo e interligada através de uma sociedade em redes, que permite o efeito da Globalização, estimula a criação destas cidades globais. Cidades que lutam por um lugar numa rede. Esse posicionamento na rede diz respeito ao poder que hoje vemos a traduzir-se em conhecimento. No fim, é tudo resumido à possibilidade de ter uma importância funcional e espacial para trocar conhecimento neste mundo, e como vemos pela visão de Richard Florida no livro Hubs (2014), mostra-nos que o mundo está concentrado, e, presenteiam-nos um índice do quanto a infraestrutura física influencia os negócios e as operações numa economia capitalista, que se baseia no conhecimento. A realidade é que uma desigualdade de infraestruturas, como aeroportos ou outros meios de transporte modificam e criam acumulações e centrificações. Quanto maior a acessibilidade maior são áreas de mercado que a cidade em si têm. Quanto maior a área de mercado maiores são as empresas que se sediam nos espaços. Como o objetivo é promover o desempenho económico, a sua finalidade permite ainda mais investimentos de infraestruturas físicas. Além do mais, quanto mais intensas são as áreas de conhecimento mais exigem a presença física de trabalhadores de conhecimento, que geram na cidade uma imagem economicamente apetecível (Conventz, 2014:49). O tipo ideal que se construiu para definir a cidade global partiu das características comuns observadas nas metrópoles que sofreram o impacto da globalização da economia (Levy, 1997). Na verdade, o que inicialmente tínhamos como aspecto histórico das metrópoles, centralidade económica, passou a ser agora o requisito para o qual passamos a chamar de cidade global. Determinadas cidades, tornavam-se globais se fossem um nó na rede da economia, que se começava a formar através destas cidades. Começaram assim a nascer os pontos nodais que conectavam uma economia nacional a uma mundial. Estes pontos trazem-nos consequências, a substituição da indústria por empresas especializadas na nova economia de conhecimento e de informação. A informação que é intrínseca ao conhecimento é a razão da evolução das cidades atuais. O mercado de trabalho com esta substituição, começa agora a formar novas exclusões e desigualdades que resultam em segregações urbanas. O homem tornou-se o produto, através do seu conhecimento, e é a partilha do mesmo com outros sujeitos, que para criam e aprendem coisas para criar e gerar inteligência, e esse inteligência é necessária nas tecnologias e nos serviços, para criar mais economia (Boni, 2014). Os serviços especializados, tornaram a relação do homem com os habitantes da cidade necessária para a partilha de conhecimento, e dessa forma a centralização destas cidades é a única resposta possível. A substituição dos sectores pressupôs intrinsecamente essa polarização na esfera social. Dum lado temos trabalhos bem remunerados e altamente qualificados e no lado oposto, temos serviços que não requerem qualificação e que são mal remunerados. Nos estudos feitos por Sassen (2014) sugere-se que a fragmentação da cidade não é propositada, é uma consequência de uma realidade económica que não segrega a partir do espaços, mas agora a partir dos salários auferidos, que como consequência restringe o acesso à cidade. Desta forma surge a terceira razão do movimento de criação de favelas, que é a expulsão da cidade pelo poder económico Empresas e empreendedores públicos criam hoje imagens atraentes das cidades, para que possam resultar em um investimento estrangeiro, ou mesmo nacional dependendo dos casos em questão. Universidades, presidentes da câmara pelo mundo inteiro, dobram-se perante grandes corporações e tornam o mundo em que vivemos numa desigualdade extrema, como vemos nos exemplos de Harvey (2014). Nos países desenvolvidos, principalmente na Europa, temos uma cidade anel, que gentrifica o espaço e coloca a classe inferior no seu exterior. Esta classe, são a população de imigrantes ou desempregados, que nos dias de hoje não têm possibilidades económicas, obrigados pela economia, a viver em grandes aglomerações exteriores à cidade. No limite das cidades surgem prédios altos cheios de andares, para alojarem o máximo de pessoas possíveis.
41. DIAGRAMA DOS PROCESSOS DE FORMAÇÃO DAS FAVELAS
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Embora este tipo de situação aconteça, com maior frequência no exterior da cidade, muitas vezes também acontece no interior da cidade. Como exemplo disso, temos o caso dos Estados Unidos, em que as cidades se polarizam dentro da cidade, em casos como o Harlem. Aqui, a classe média vê-se obrigada a deslocar-se para condomínios fechados e para as chamadas “cidades periféricas” (Davis, 2006:42). Apesar de este tipo de situação ser cada vez menos recorrente, deve-se às grandes cidades, as quais chamamos de globais, terem o objetivo expulsar a classe inferior, como foi o caso de Brooklyn em New York (Davis, 2006). Na abordagem de Davis, temos os moradores expulsos a contarem histórias de como vivem em más condições. Exemplo dessas situações, é o caso de Cairo, em que os moradores não encontram espaço e utilizam sepulturas para dormir, denominada a cidade dos mortos. Outro exemplo é em Hong Kong, os chamados “homens engaiolados” (Davis, 2006:45) que utilizam as coberturas ou os poços de ventilação fechados no centro dos prédios, para dormir, onde o espaço vital é 1,8m2 per capita. Hoje, conseguimos ver as classes sociais a serem limitadas, em certos pontos por barreiras sociais, que aparentam tornar-se físicas. Em qualquer dos casos, a consequência é a não interação social por parte das classes, e a consequente falta de diversidade nas cidades. Surgem nestas cidades espaços e torres com o mesmo funcionamento, organismos homogéneos. Apesar disso, no envolvente destas cidades que se tornam globais e que se materializam como genéricas, começamos a ver o surgimento de favelas/slums ou bairros precários que surgem à procura de um lugar na cidade, um processo ao qual chamamos gentrificação, As favelas surgem como a única forma de ter acesso a uma cidade cujo o “solo” não está disponível a todos os membros da sociedade. É a forma explicada por Sassen em relação à população limitada de “hackear” a cidade, e aqui quando dizemos hackear, significa mudar o rumo inicial da cidade, assim contrariam a gentrificação e criam este tipo de movimento pelo mundo todo. Estará a favela a tornar-se genérica? Pelo menos global já é o, segundo Sassen (2014). Conseguimos ver que o sistema moderno, do tipo industrial, enriqueceu a Europa, a América e o Japão, no entanto, empobreceu os sistemas imperiais anteriores, que se tornaram colónias, espaços de valor para a extração de matérias-primas e riqueza. À medida que os impérios europeus desapareceram, muitas cidades ex-coloniais, como 42. HOMENS ENGAIOLADOS
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43. VILA MISÉRIA, MEXICO CITY
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Mumbai, São Paulo, New Dheli, City Of Mexico, Daca, Lagos, Karachi, etc., apresentaram-se como as megacidades da ONU. Como exemplo mais preciso, destas cidades, temos Mumbai com mais de 20 milhões de habitantes e que abriga 8% da população urbana global. Estas megacidades são mais pobres que os seus antecessores europeus, triplicaram o seu tamanho, no entanto a estrutura da cidade é a mesma, o problema só se agravou. A maioria da população urbana global, prevista para 2020, serão alojados em cidades menores, de um a dois milhões, com muitos deles a construírem a sua própria habitação, como nas favelas do Rio. Na América Latina, a cidade ilegal como solução em forma de vilas urbanas, cresceram de tal forma, que já preenchem os espaços como o campo, as encostas, e pântanos em torno das antigas cidades coloniais. Os planeadores parecem não se ter preocupado com esta ocupação, ignorando completamente estas áreas urbanas ditas ilegais.
Esta solução, em colónias britânicas, chegou a tomar precursões diferentes, segundo o Habitat I da ONU, uma análise realizada por John F Turner (professor na Architectural Association). Este terá chegado a argumentar que as favelas são a morfologia auto construída da cidade, que funcionam de baixo para cima e não de cima para baixo, na pirâmide económica e social. Este tipo de solução oferece uma maior flexibilidade aos países pobres, pois não implica investimento por parte do Estado no fornecimento de habitação. Turner consegui mesmo em 1949 convencer o primeiro ministro da Índia, Nehru, a aceitar as favelas que se construíram da divisão britânica da Índia (Davis, 2006:130), segundo o mesmo era a maneira de tornar a cidade híbrida. Em contrapartida empírica, por parte do Banco Mundial, advertiram e avisaram na década de 1990 que a pobreza urbana ia tornar-se “o problema mais importante politicamente explosivo do próximo século” (Davis, 2006:92). Desta forma chegamos ao mundo de hoje, onde cerca de um terço da população vive neste tipo de condições. Movimento estudado por Davis. Atualmente já não parece ser a solução para dissimular a pirâmide social, mas sim só uma maneira de ter acesso a uma cidade fechada. A palavra slum apesar da aparecer constantemente no contexto urbano, teve a sua primeira definição em 1812, quando um escritor, James Hardy Vaux foi preso. Nessa época slum tinha o significado de “ladrão” ou “comércio criminoso”. Apesar disso, entre 1830 e 40, época da cólera, a população mais pobre já vivia em slums, só não sabiam ainda que nome atribuir ao espaço. Nas cidades mais populosas, de Londres a Paris, no século XVIII, surgiu este problema, das slums. Aparecia em todo o contexto urbano como um grande problema. Em meados do século XIX já se conseguia identificar favelas na América, Índia e França, e passou a ser reconhecido como um fenómeno internacional, e atribuiu-se o nome de favelas, a habitação ilegal, com condições de vida muito fracas.
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As favelas “clássicas” (Davis, 2006:33) como tratou Davis no livro “Planeta Favela” eram lugares que tinham habitação pobre, excesso de população, de doenças, de pobreza e vícios. Apesar dos “favelados” (Davis, 2006:34) serem só 6% da população na altura em áreas urbanas nos países desenvolvidos, já correspondiam a 78,2% dos habitantes em países menos desenvolvidos. Hoje em dia correspondem a um terço da população urbana Global. Refletindo sobre esta realidade, emerge uma grande preocupação porque estamos a caminhar para nos tornarmos todos urbanos (consultar tabela no apêndice). A chamada capital das favelas está em Mumbai com cerca de 10 a 12 milhões de “favelados”, seguida da cidade do México e Daca com uma estimativa de 9 a 10 milhões de habitantes deste espaço Urbano. Segue-se Lagos, Cairo, e muitas outras (Davis, 2006). Já começamos a ter termos como “megafavelas” (consultar tabela no apêndice), que significa o agrupamento de favelas na mesma área. Bairros pobres e comunidades invasoras criam grandes barreiras contínuas, de moradias precárias e auto construídas, cuja maioria, geralmente, esta localizadas no exterior das cidades. Só no Sul da Ásia temos 15 mil comunidades de favelas com mais de 20 milhões de “favelados” (Davis, 2006:37).
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Hoje, com as novas cidades que intitulamos do conhecimento (globais) , chegamos ao extremo das favelas ocuparem áreas no solo de grande valor económico, devido à sua proximidade da rede de conhecimento. O Banco Mundial tem vindo a alertar que não há informação quase nenhuma, do mercado de habitação destes espaços urbanos. As favelas já têm valor imobiliário, não só para as cidades, mas, também para os favelados. “A locação, na verdade, é uma relação social fundamental e divisiva na Vida favelada do mundo todo. É o principal modo para os pobres urbanos gerarem renda com o seu patrimônio (formal ou informal), mas, com frequência, numa relação de exploração de pessoas ainda mais pobres.” Esta classe social utiliza muitas vezes a favela como “mercadoria de habitação informal, que provoca o crescimento rápido de distintos subsetores da locação. A construção entre as casas das favelas mais antigas ou prédios multifamiliares em loteamentos clandestinos são os espaços utilizados.” (Davis, 2006:52). Mumbai é um caso extremo, 90% da terra é dos ricos. Estes vivem em grande conforto e com boas áreas, tendo espaços exteriores e espaços públicos. “Os pobres são espremidos em 10% da terra” (Davis, 2006:104), e vivem em condições muito precárias
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44. FAVELA, RIO DE JANEIRO
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e desumanas. Com 10% de ocupação do solo, um solo que pela sua espacialidade junto à cidade, ser de um grande valor económico, a expulsão parece, já se ter tornado uma realidade. A palavra “infraestrutura”, segundo Jeremy Seabrook (Davis, 2006:108) é a nova palavra utilizada para destruir e expulsar num estilo haussmaniano. Esta palavra é utilizada neste caso, pelo Estado, para sem pedirem autorização eliminar este tipo de habitação, que consideram ilegal e sem direito à cidade, tornou-se cada vez é mais recorrente e acontece maior número de pessoas, a remoção (consultar tabela no apêndice). O livro The Challengc of Slums, elaborado por Annan (2003) explica-nos resumidamente a causa das cidades estarem a ser afetadas por esta gentrificação. As cidades, ao contrário, de se tornarem num lugar de acesso igual e de direito, de todos, à sociedade de conhecimento, as metrópoles parecem tornar-se num depósito de lixo de uma população “excedente que trabalham nos setores ínformais de comércio e serviços, sem especialização, desprotegida e com baixos salários”(Annan, 2003:14). O crescimento deste sector informal, cada vez maior, e com a população urbana em expansão, surge o perigo, já é encontrado hoje, de estas áreas se tornem na única forma do acesso da maioria, à cidade. Segundo os estudos do livro declaram que “O crescimento deste [] setor informal é resultado direto da liberalização” (Annan, 2003:14). As cidades globais têm um objetivo específico, levar atores a conectarem-se a uma rede para extração de conhecimento. Esse conhecimento, simboliza nos dias de hoje o capital. O solo das cidades é o local escolhido e necessário para o capital se prosperar na centralidade da rede. Todas as cidades globais têm favelas globais, as pessoas querem ter acesso a essa rede e o governo não deixa. Como são os casos que já vimos anteriormente. A cidade Global é a zona de fronteira com um novo território. O que estamos a ver segundo Koolhaas, é uma cidade que se espalha em todas as direções e sentidos, numa rede. Essa rede parece organizar o inabitado, assim como aconteceu com o império Romano, que através da rede prevaleceram sobre os macedónios, os gregos e os persas. Hoje, encontramos uma rede de conhecimento, que utiliza esses “pontos nodais” para controlar e retirar lucro sobre todo o território. A riqueza concentrasse devido à centralidade, que é necessária para a nova economia que depende inteiramente do conhecimento, a partilha depende duma troca tanto na cidade como na rede. Além, de depender ainda cria as maiores riquezas, as empresas com maior valor já se tornaram as de novas tecnologias, de informação e de dados. A sociedade do conhecimento é assim marcada por exclusão social e espacial.
45. IMAGEM AÉREA FAVELA DE MUMBAI
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Em Suma:
A globalização é acusada de criar cidades genéricas. Os edifícios são mais parecidos e homogéneos e formam cidades genéricas. Contudo, hoje, o problemas não ficam só nas cidades genéricas mas vão mais além, chegam aos cidadãos que são acusados de serem eles próprios também genéricos. Os edifícios outrora já criaram a identidade das cidades. A identidade traz a unicidade que se opõem desde logo ao genérico, através do edifício ícone como a Eiffel Tower e o Empire State Bulding. O problema do genérico parece surgir com o urbanismo, através de Cerdà, que transformou a cidade em cada vez mais edifícios iguais e consequentemente com a evolução mais altos. A generecidade não é uma coisa de hoje, já existiu noutras épocas, como o classicismo em que Frank Loyd Wright e Sullivan chegaram mesmo a elaborar uma crítica. A crítica era a revisão do “ Genius Loci” na arquitetura, que implicavam certas características no edifício para se tornar em arquitetura, como o espírito do lugar, a sua insubstituibilidade, ser único e identitário (Abreu, 2015). Desta forma já tínhamos a preocupação com a generecidade. A Globalização trouxe um acesso maior ao conhecimento e à informação, que se materializaram no urbanismo. Nasceu a cidade com o pensamento Urban Fabric, para resolver o problema criado pela globalização, que provoca o crescimento urbano e o excedente populacional. Com a fábrica urbana chega o problema da perda do centro e da homogeneidade dos lugares. Surgem as torres, as auto-estradas e deixamos de nos preocupar com o que é único ou diferente. Neste sentido abre-se a possibilidade de os arquitetos assumirem o papel de criar uma identidade, e não repetir o mesmo módulo vezes sem conta, como Cerdà fez em Barcelona. A escala do centro mudou por influência da nova sociedade de conhecimento. Temos hoje cidades centralizadas numa rede, como um nó que lhes permitiu dar uma ideia de centro, contudo as cidades genéricas fragmentam-se. Surgiu e surge o movimento de favelas genéricas, que estão no limite destas cidades também genéricas. Massas iguais são a maneira do capitalismo rentabilizar e produzir lucro. Como espaço significa dinheiro vemos as cidades através de estruturas isotrópicas, que têm o objetivo de dar o máximo de lucro, e tendem a ocupar o espaço cúbico máximo do lote correspondente, tornam-se massas na cidade. Surgiu a lei de Nietzsche que eliminou a excepção e deu total ênfase à funcionalidade. A funcionalidade tem o propósito de criar lucro, e é precisa para haver organização nos excedentes populacionais, que são cada vez mais frequentes nas cidades que tentam e têm acesso à sociedade do conhecimento. O urbanismo surgiu com o objetivo de criticar a cidade capitalista e a sua centralidade, problemas que surgiram com a revolução industrial. Os Archizoom criaram uma teoria em que a cidade surge sem limites e que se expande, com a repetição do mesmo módulo, até ao infinito. A Non-Stop City surgiu como uma cidade ilimitada, que através do urbanismo tinha como objetivo servir todas as classes sociais, através da descentralização da cidade principal. O problema que surge com a evolução dessa ideia de urbanizar é a repetição da mesma estrutura isotrópica sem fim, que resulta na generecidade. Koolhaas como crítica a esta urbanização sem precedentes cria o projeto The City of The Captive Globe. O projeto é denominado pelo mesmo como um arquipélago, porque implica a repetição de uma enclave, mas a diferença está na identidade. Este projeto contrariamente traz identidade através do Central Park, no caso ilustrado, a cidade de Manhattan. São cidades dentro de cidades, enclaves, que segregam e fragmentam a cidade. O urbs , a urbanização passa a ser um espaço económico, enquanto o Polis, cidade, era um espaço político. A centralização leva à segregação e o co-habitar dos dois leva à exclusão. Urbs e civitas começaram como um espaço de conflito e relação, a urbanização na forma de urbs absorveu o conflito e a relação transformou-se na cohabitação, visível agora como um poder da economia. A cidade forma-se através do político e do formal, um entre-espaço. Ao escolhermos um obrigatoriamente estamos a tornar o outro num inimigo. Foi assim visto o socialismo, uma oposição à economia. Ao contrário de utopias devemos de ir a traz dos fundamentos que criaram a cidade, e foram o limite entre o formal e o político.
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Mies tentou fugir do genérico através do genérico. Através do formal criou limites. Com a criação de edifícios com rodapés, onde o rodapé surge através de pilares, criou a excepção, fugiu à regra mas através do formal criou um limite, e o limite é a sua experiência única, a unicidade. Um espaço que permite entender o espaço não como uma regra ou obrigação, sem excepções, mas sim como único. A excepção não serviu para isolar mas sim abriu o espaço para a cidade. O limite passou a ser importante e não só político. A excepção do edifício mostra-nos como fugir à generecidade e ao ilimitado, e através do formal criar um limite. O limite é a diferença entre o político enquanto regra e o formal enquanto espaço. O modernismo trouxe-nos uma nova cultura que enfatizava o homem como peça principal na sociedade. Uma era que foi marcada por uma racionalidade e um funcionalismo, que aproveitavam o aparecimento das ciências e das estatísticas para melhorar a mesma. Este aparecimento permitiu projetar a sociedade segundo certos padrões. Passamos a ter uma sociedade comparável que permitiu a evolução, tudo podia ser melhorado. As pessoas funcionavam da mesma forma que as máquinas, permitindo uma racionalização da produção e do trabalhador. A consequência foi, mais uma vez, o genérico. Defendia-se que era preciso uma sociedade melhor, pois a miséria e a desordem predominavam nas metropolis, devido ao excesso de população e à recente expansão urbana. Desta forma os projetos que surgiam viam-se como uma tentativa de atingir a felicidade humana e resolver os problemas. A ideia de que éramos todos iguais, permitiu e esteve na base das primeiras cidades genéricas. Como a economia precisava das metropolis para prosperar houve a necessidade de impingir ordem e organização para as cidades crescerem como centralidades económicas. Para Hilberseimer e Le Corbusier os edifícios eram elementos desconectados da cidade e por isso o trabalho não era desenhar edifícios únicos mas sim massas homogéneas que resolvessem os problemas. Criou-se o modelo de massas, onde não há espaço para excepções, somente para as normas. O problema passou, desta forma, para a concepção urbana e não do objeto arquitetónico. Hilberseimer propôs uma cidade vertical, uma sobreposição de duas cidades. Uma segregação das atividades através de uma laje, onde no seu inferior ficava a zona de trabalho e do comércio e na parte superior a zona habitacional. A questão da congestão ilustrada por Ferris era pensada. A solução passava por pressupor um mundo mecânico, homogéneo e o princípio urbano estava acima da Arquitetura, como uma lógica do urbanismo. A ideia repetiu-se com a cidade de Le Corbusier, uma cidade que se dividia em 3 espaços destintos, que também implicava uma segregação não só funcional mas também social. Desta forma o modernismo ficou marcado pela ideia de planear novas cidades mecânicas e iguais, que vendiam a felicidade através da crítica dos problemas das metrópoles. Este tipo de movimentos e pensamentos genéricos têm como intuito servir-se do urbanismo para atingir objetivos duma economia que só preza pelo lucro. Uma cultura de massas em que a arquitetura é esquecida para dar ênfase ao urbanismo, assim como o individual em prol do colectivo. A economia no modernismo já utilizava a generecidade para criar fragmentação espacial e, em certos casos, uma polarização social. A palavra tipo apareceu no século XVIII como modelo, por parte de Quatremère. Defendia que tipo é a fisionomia particular, a forma característica para lermos um objeto. Desta forma percebemos assim o processo de formação de um edifício. Os edifícios não dependem nem do tempo, nem da função. A sua função muda no tempo e não interfere na sua tipologia, a ciência que estuda o tipo. Quatremère defendia que tipo é um elemento serve de regra para um modelo, tornou o conceito de tipo abstrato e não concreto. O objetivo de tipo é determinar as regras dum modelo, serve como ideal e nunca como uma materialização de um objeto. Prince definiu posteriormente que tipo é um método sistemático para classificar edifícios através de diagramas e esta maneira de pensar tipologicamente revolucionou o conhecimento da palavra tipo. O tipo no contexto urbano serviu de instrumento de controlo para transformar o objeto arquitetónico, assim surgiu a tipicidade que se definia por aspectos comuns a todos. Em Brasília temos a super quadra, um protótipo como tipo, o objetivo não é ser
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reproduzido da mesma maneira infinitamente, mas sim funcionar como uma ideia. Mas com o modernismo as necessidades externas provocaram mudanças, e a maneira de reagir foi internacionalizada. O tipo mudou o seu significado para ser utilizado como padrão, para dar resposta à sociedade. Houve uma apropriação da palavra para se criarem edifícios iguais e uma standarização da cidade, Gropius chegou mesmo a chamar de “norma” para a cidade, que implicava a repetição do mesmo módulo. A palavra tipo e objeto modificaram assim o sistema e criam um tipo de desenvolvimento da cidade. O desenvolvimento através da economia nas cidades que, hoje, vemos transformarem-se em cidades genéricas. Chegamos a um tipo de desenvolvimento de cidades genéricas, que através de uma economia capitalista global, utilizaram o tipo como objeto para replicar uma cultura e um urbanismo de produção em massa, com o intuito de se tornarem cidades que tentavam ascender à rede, ou mesmo, chegar à cidade mais Global na rede. Rossi, acrescentou ao conceito tipo o significado de artefacto urbano como crítica a este racionalismo e funcionalismo, marcados na cidade. Tinha a função de caracterizar o edifício como um fragmento urbano, não isolado, mas sim, conectado à cidade. O objetivo passou a ser utilizar tipo, não como um modelo que serve de objeto de cópia ou imitação, mas sim uma ideia, que está conectada à cidade, pois a preocupação só com o elemento tipológico levou à perda da relação com a cidade. O urbanismo e o modernismo perderam essa conexão, mas mesmo as proposta que criticaram a Urban Fabric, o processo que estava a tornar a cidade genérica, como o projeto The City of the Captive Globe, não se aperceberam do facto dos edifícios não estarem ligados à cidade. No projeto de Koolhaas, que o mesmo define como um arquipélago, que são diferentes ilhas num espaço urbano, onde o urbano é caracterizado pelo mar, que traz um conjunto de regras, o urbanismo pressupõe uma Urban Fabric, edifícios que não se relacionam com a cidade e, como consequência não se relacionam com a cidade, desta forma consequentemente não se relacionam entre si. Projetos como os edifícios de Mies, a excepção à norma do urbanismo, tentavam conectar-se com a cidade, tornaram-se na excepção de edifício para a cidade. O edifício onde devolvíamos o espaço político/ público à cidade, a coexistência dos mesmo. O problema de ambos os projetos foi não nos apercebemos que na regra estávamos a criar enclaves, cidades dentro de cidades, que se repetiam e que por si só já implicam uma desconexão com a cidade. A excepção, hoje, deveria assim ser a conexão do edifício à cidade. As Cidades Globais materializam-se em Cidades Genéricas. O objetivo destas é criar uma imagem de cidade, que surge como uma necessidade através do modernismo e do urbanismo, para pertencer à nova economia do conhecimento. Essa imagem tornou-se genérica. Quanto mais infraestruturas estas cidades tiverem mais preparadas estão para partilhar o conhecimento e albergar as pessoas que necessitam do fluxo constante. Estas cidades genéricas parecem estar a sofrer movimentos genéricos, que se espacializam na formação de uma barreira nos seus limites: as favelas globais/ genéricas. Surgem através de um estudo, a identificação do processo de assentamento por três movimentos. O primeiro surge por uma economia globalizada, que provoca desapropriação de território, como analisa Sassen (2014). A economia está a expulsar as pessoas de ambientes regionais, e estas pessoas ficam sem habitação, sem acesso a uma produção e consequente mente à economia, a única solução é dirigirem-se para as cidades. Com uma centralidade económica nas cidades, assentam-se nos espaços que restam e que têm acesso: as favelas. O segundo movimento surge da ideia de “estar numa cidade global”, pertencer à economia e à rede. Produz um movimento de migração, com o objetivo de terem acesso à economia do conhecimento, só que a cidade sofre de gentrificação e, desta forma, as pessoas sem especialização não têm acesso e ficam no limiar da cidade. O terceiro e último movimento é a expulsão das pessoas com trabalhos mais precários da cidade. A expulsão surge pela falta de poder económico, que provocam a incapacidade de viver nas cidades. A nova economia de conhecimento cria uma distinção económica entre duas esferas sociais. A classe média, vista como a terceira, está cada vez mais a desaparecer (Sassen 2014). A distinção é feita pela qualificação do trabalho, os trabalhos bem remunerados são os necessários na era do conhecimento, onde as empresas são, agora, especializadas e precisam de trabalhadores especializados. Os antigos trabalhos industriais tornam-se precários e substituí-
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veis, transformam-se em trabalhos mal remunerados. A sociedade, hoje exige uma especialização para pertencer à economia, aspeto visível na sociedade diariamente, através da população hoje com ensino superior, que cada vez é maior, assim como a sua procura. As pessoas com os trabalhos mal remunerados, devido, mais uma vez, à centralidade criada, num boom imobiliário, não têm possibilidade de se sustentar na cidade e, portanto, são excluídas e expulsas. Desta maneira percebemos que a polarização social que a cidade enfrenta, manifesta-se entre os empregos mais especializados e os empregos mais precários, que se polarizam economicamente pelo salário auferido. A cidade ou expulsa as pessoas, ou não as deixa entrar. Surge então uma forma de hackear a cidade segundo Sassen (2011), em que a população tenta ter acesso à cidade através das favelas. As favelas tornaram-se num processo de assentamento e num movimento genérico, surgem pelo mundo todo nos países em que a revolução industrial foi mais tardia. Nos países desenvolvidos a exclusão é feita pelas mesmas razões mas, de outra forma. As pessoas instalam-se em bairros de imigrantes, bairros de grande aglomeração, cidades satélites, e em alguns casos em bairros de lata . Acontece, desta forma, a gentrificação, cidades anéis, que impõem limites não físicos mas sociais e económicos. A diversidade da cidade é perdida. Hoje já está num nível tão extremo, que começamos a ter as chamadas megafavelas, uma junção espacial de estes assentamentos precários. (Davis, 2006) As favelas são a maneira da população ter acesso à habitação, através da construção na esfera política, desta vez, de baixo para cima e não de cima para baixo, pois a mesma se constrói, embora ilegalmente, pelos habitantes. Atualmente os “favelados” correspondem a um terço da população urbana do mundo, o problema neste momento está num extremo, e a tendência é agravar-se ainda mais. A capital das favelas, intitulada dessa forma, por representar a favela mais global é em Mumbai, com 12 milhões de habitantes. O movimento genérico enfrenta outro problema, nos dias de hoje, deixa de os “favelados” não terem acesso e formarem habitação ilegal, como até aqui, mas passa a ser que o espaço que ocupam fora e, nalguns casos cada vez mais raros dentro da cidade, são áreas que se tornaram muito valiosas. Desta forma o ilegal tornou-se num negócio imobiliário, tanto para os que vivem nas favelas, como para aqueles que querem expandir a cidade. Surgiu assim a palavra infraestrutura por parte dos Estados, que tem o intuito de expulsar as pessoas das favelas, pois têm de construir infraestrutura para a cidade, e se os lugares são ilegais então não têm direitos nenhuns. As pessoas começaram a ser expulsas e as favelas removidas. Os próprios espaços que criaram para terem acesso a uma cidade, que não permite o acesso a uma sociedade e a uma economia, são agora removidos. Conseguimos dentro da exclusão criar ainda mais exclusão.
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A cidade Genérica, uma cidade global ou melhor globalizada. Uma cidade, que existe da mesma maneira em todo o lado. Hoje tornou-se num fenómeno que se repete e que atualmente pode produzir-se num “arrozal”(Koolhaas, 2015). A cidade surgiu como resultado da colonização, da união, e do aumento da população. A maior parte das cidades resultaram desta rápida expansão, e hoje, ainda estamos a sofrer dessa expansão urbana a nível global. Desta maneira a cidade genérica não reflete a forma de nenhuma cidade, mas sim, integra evidências de todas, no sentido, em que a economia de conhecimento permite e exige a conexão a uma rede, em que o principal objetivo é a partilha deste conhecimento entre todas as cidades. Como reação surge uma nova metropolis. Esta metropolis tornou-se genérica e cria atualmente, a sua transformação na GenoPolis. Devido à economia depender de cidades em rede para a troca de conhecimento, o seu interesse passa agora, em criar estas cidades genéricas, como pontos centrais que tentam ficar cada vez mais importantes na rede. Surge assim a tentativa de criar a imagem de uma cidade do conhecimento que agrega uma generecidade, pois, é uma cidade que evidência todas as cidades Globais. Deste problema surge o termo Genus, como já vimos anteriormente. O termo Polis surge para caracterizar os problemas sociais e espaciais da cidade. Hoje, estamos todos regidos, muitas vezes inconscientemente, a esta rede económica que cria a sociedade do conhecimento. Assim, como na cidade Grega que utilizavam o termo Polis, para definir um espaço envolvido numa muralha e regido sobre uma lei, oikos, que implicava a exclusão espacial. Apenas era permitida a inclusão na cidade, os cidadãos que faziam parte da comunidade. Atualmente a muralha, na maioria das vezes, não é física, mas sim monetária e social. Esta barreira isola a cidade e cria uma fragmentação, o limite passa de físico a social, e a lei que hoje é económica é a causa, como nos Gregos, destes problemas. Desde a genericidade dos projetos oferecidos por Le Corbusier, ao de Hilberseimer, até ao filme Metropolis, como vimos anteriormente, as metrópoles evoluíram até às cidades globais. Hoje expressam-se em metrópoles genéricas que polarizam a sociedade através das desigualdades de classes, e formam a fragmentação do espaço através da gentrificação. Este tipo de problemas sempre tiveram espaço para estarem presentes numa ordem caracterizadora da cidade. Por esse motivo conseguimos encontrar na história uma reivindicação eterna da cidade. As redes urbanas desempenham um papel importante na estruturação das economias destas cidades. Há já muito tempo, em 1927, muito antes de alguém definir o mundo como cidades de redes, o Sr.McKenzie argumentou que as cidades, na altura Estados-Nação, foram os principais focos para “o mundo rapidamente se tornar numa região fechada […] na qual centros e rotas estão a ganhar precedência sobre fronteiras e áreas políticas, são pontos de interesse na distribuição espacial”. (Conventz, 2014:204). Já Friedmann dizia que as cidades mundiais eram utilizadas pelo capitalismo global como “pontos base” que permitem organizar o mundo numa “hierarquia espacial complexa” (Friedmann, 1986:71).
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Mas, hoje em dia, já é uma certeza de que as cidades funcionam numa economia em rede, e devido a estas trocas económicas, conseguem mesmo moldar o mundo e mudar os desenvolvimentos económicos nas suas regiões a um nível global. A centralidade é identificada, hoje, como uma das características principais para esta economia. Esta centralidade está inteiramente dependente da sua localização no meio da rede, para a obtenção de trocas com outras cidades. Estas cidades que se conetam na rede acabam com as problemáticas que já referimos anteriormente, e que vamos analisar a seguir, e formam as GenoPolis. Cidades em que o conhecimento exige a centralidade e são o palco, que levam resumidamente, à gentrificação e à polarização da sociedade, uma sociedade de desigualdades sociais extremas. Desde os anos 80 que existe uma expulsão de pessoas das cidades. Esta expulsão foi feita através do sector económico, que se instalou na sociedade. Atualmente o principal problema não é o facto de acontecerem, mas sim, terem-se tornado neste século uma dinâmica normal e necessária, e dessa forma genérica. Anteriormente, o objetivo da economia, apesar de já ter existido a exclusão social como já referimos anteriormente em algumas situações no século das luzes e mesmo nas cidades colonias, a cidade tinha a tendência de incorporar os trabalhadores, operários, como forma de produção e benefício para a sociedade, segundo Sassen (2014) este período é denominado keynesiano e faz um estudo sobre os diferentes movimentos. Hoje, apesar de no norte do globo e no sul as situações serem diferentes, como a autora explicita, a cidade expula as pessoas. A migração da classe média na Espanha por explosão da zona de prosperação económica do país não é a mesma coisa que proprietários agricultores serem expulsos das suas terras e migrarem para favelas. O que é comum entre estas cidades, em países em desenvolvimento e desenvolvidos, é que, as cidades globais estão a criar condições e a ter impacto para a exclusão na esfera social e a expulsão das pessoas das cidades. Como diz Sassen “Empurrar as pessoas para fora”(Sassen, 2014:78). Estes acontecimentos não são culpa de uma identidade, ou de uma corporação, ou de várias, ou de um indivíduo, mas sim, de uma lógica económica que cria um sistema com todos esses atores. Hoje em dia, temos inúmeras privatizações que provêm de uma sociedade neoliberalista. O problema é que quando atingimos uma sociedade assim deixamos, de fazer as coisas sem interesse próprio. Como é o caso do Estado que o faz pelos cidadãos, o que acontece é que, passamos a tomar decisões com interesses próprios. O caso foi ilustrado por Sassen (2014), onde as prisões, a partir do momento que se tornaram instituições privadas,mudaram a sua lógica. Passou de prender pessoas perigosas para a sociedade, só quando e pelo tempo necessário, também, porque os impostos não devem ser utilizados de maneira inconsequente, para passar a começar a ter a mesma lógica como as pessoas que vão para um hotel. Cujo o objetivo passa a ser, ter os quartos com a máxima ocupação e por um maior período de tempo. Desta forma com o neoliberalismo a lógica económica passa a prevalecer sobre uma lógica social (Sassen, 2014). Este problema é familiar e tornou-se tão extremo, que as análises e estatísticas, hoje em dia, deixaram de o captar. A situação acontece como o desemprego de longa duração, continua a existir, mas deixa de ser medido, fica fora do sistema e restringimo-nos a menos pessoas (Sassen, 2014). Sassen (2014) analisou também uma aquisição maciça de espaço na cidade, que incoerentemente aumentou num período pós-crise 2008. Este tipo de aquisição levou a que muita da economia nacional fosse perdida, como a agricultura de pequeno porte, ou mesmo fábricas rurais, foram apagadas com a aquisição de território, para fins de grandes corporações internacionais, com o intuito de provocar o aparecimento da cidade como um ponto nodal na rede global económica. Segundo Sassen esta aquisição é dos principais factores que levou à perda do controlo territorial nacional. Este tipo de compras, poderiam na verdade, levar a aspectos muito positivos para a economia local e do país, mas está visível que tem provocado exatamente o contrário, “Expulsions”. Tem
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causado expulsões de pessoas, tanto a nível urbano como a nível regional. Com esta expulsão nas duas direções, o único espaço que resta hoje em dia é o limiar de uma cidade que expulsa pessoas e os limites de um espaço regional que se estende até esse limite. A grande diferença dos dias de hoje, em relação a outros períodos, é o surgimento da especulação imobiliária num estado extremo. Atualmente, a economia corre muitos mais riscos. Conseguimos perceber que os excessos do mercado financeiro, não conseguem ser regulados e transmitem-se no espaço das cidades. A diferença social ou seja a polarização social que sofremos atualmente tem uma grande amplitude e já se vê materializada no espaço urbano. Os lucros ou os excedentes, chamados assim por David Harvey, da nossa economia não chegam ao patamar inferior da pirâmide social. A resposta passa, segundo Sassen (2014), por começar a criar instituições financeiras que têm a capacidade de distribuir igualmente o capital. O problema que surge é que são essas instituições que provocam a especulação, e que às custas disso enriqueceram a classe superior da sociedade. Segundo o autor, a China é um exemplo disso. Conseguiu provocar uma diminuição de pobreza quando fez investimentos em infraestruturas, fábricas e novos mercados e economias materiais (Sassen, 2014). Distribuir o capital é a solução e não usar o capital para obter mais capital, como acontece, diariamente, nas empresas que fazem parte desta economia capitalista global. Nos últimos vinte anos a pobreza aumentou, incoerentemente ao que se aparenta. Diz-se que um bilião de pessoas saiu da pobreza, mas atrás dessa fachada criada para enganar a população, o que realmente aconteceu é que o significado de pobreza mudou. A pobreza passou de pessoas que trabalhavam num terreno e não tinham muita produção, nem acesso a uma economia consumista, para os 2 biliões de pessoas que a única coisa que possuem são “seus corpos” (Sassen, 2014:115). Hoje em dia existe a possibilidade de podermos alimentar todas as pessoas do mundo, mas por algum motivo isso não acontece. Agravando-se, o facto, que a pobreza está a crescer não só nos países em desenvolvimento, mas também nos países mais desenvolvidos, “that the move from Keynesianism to the global, era of privatizations, deregulation, and open borders for some, entailed a switch from dynamics that brought people in to dynamics that push people out.” (Sassen, 2014:211). A autora descreve esse movimento como a troca de um sistema económico keynesiano para um sistema neoliberal, as privatizações, entre outras consequências, empurram as pessoas para fora do espaço cidade. Em vez de haver uma regularização da situação, estamos a observar o inverso. As novas dinâmicas económicas adotaram lógicas antigas, e continuamos, hoje em dia, a descriminar a população e acabamos por expulsar pessoas em vez de as incorporar. A incorporação que acontecia na cidade com a revolução industrial, em que o trabalhador tinha um papel importante para a produção e o consumo em massa, e dessa forma eram vistos como atores de grande importância no mercado, levou ao crescimento abrupto das cidades, pois já estavamos num sistema que o interesse era o lucro, agora diferencialmente de antigamente, a lógica é expulsar pessoas em vez de as incorporar, pois apenas os trabalhadores especializados conseguem pertencer à cidade. Sassen (2014) revelou condições extremas de exclusão nas cidades que muitas vezes ainda não experienciamos na nossa vida comum, mas parece que estamos a percorrer para um caminho inevitável. Estamos a expulsar pessoas de economias pequenas e de espaços de vida. A pergunta que fazemos, agora como estudo espacial e não económico é: Qual é o espaço para os expulsos? Podemos fazer manifestações de reivindicações da cidade, mas de que maneira podemos contribuir espacialmente para estes problemas? Neste momento parece que estes espaços são invisíveis, implaneados e ilegais. Qual será a solução para criar espaços visíveis e já agora inclusivos? São “potencialmente, os novos espaços para fazer acontecer, fazer economias locais, novas histórias e novas modos de associação” (Sassen, 2014:221).
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Temos uma “grande muralha”, a muralha do conhecimento, um limite que cria nas cidades de hoje, a fronteira do acesso ao conhecimento e à tecnologia. A fronteira espacializa-se num bloqueio da migração para as cidades, ficando apenas como espaço restante e inclusivo as favelas. Na maioria dos países, ou pelo menos naqueles que parecem e mostram evidências de que não conseguem resolver o problema de outra maneira, as favelas tornam-se na solução para armazenar a humanidade, chamada de excedente. A população das favelas continua a crescer de acordo com a UN-Habitat, cresce em proporções nunca antes vista, e o pior é que é sem uma solução. O mais preocupante, é que não surge uma procura de solução por parte dos organismos competentes. Torna-se uma “marginalidade dentro da marginalidade”, artigo do New York Times (3/4/2005), que descreve a agonia de um homem que vive numa favela em Bagdá. A frase surge por parte das pessoas desesperadas que se sentem completamente excluídas do mundo, sem formas de produção, sem um acesso a serviços básicos, e que vivem no exterior das cidades assim como da sua vida económica, social e política. Atualmente enfrentamos um problema e deve-se à mudança política/pública do espaço da cidade, para formal e privado. A economia impulsionou e utilizou a cidade. A cidade que um dia foi civitas atualmente não depende de política, desde o momento em que o urbanismo ( urbs ) se apoderou e tornou a cidade num sistema económico. Agora a cidade parece incapaz de combater a economia, que se materializa numa expansão urbana, que causa uma falta de espaço para certas esferas sociais. Não conseguimos garantir o que podemos chamar de local adequado, para os grupos que estão no patamar de baixo da pirâmide económica, e consequente social. Essa exclusão, apenas, fortalece o núcleo da cidade ao não permitir acesso a infraestruturas básicas. Vivendo o centro da cidade numa sociedade de conhecimento, o maior centro de serviços e oportunidades de prosperar, a sociedade torna-se assim injusta e desigual. A exigência de reorganizarmos as metrópoles radicalmente é necessária. Com o capitalismo que opera da seguinte maneira, começam o dia com uma quantidade de capital, e acabam o dia com mais capital, o lucro. No dia a seguir, a decisão passa por o que fazer com o capital excedente, que devido à concorrência e à sua força, a escolha é fácil, tem que se reinvestir, porque se não se reinvestir alguém com o seu lucro certamente o irá fazer. Desta maneira a ideia concentra-se numa reprodução contínua de excedentes, que se manifesta na cidade através da sua transformação e expansão, e implica que a classe inferior, com menor possibilidade de competir no mercado, seja encaminhada para o exterior da cidade, e por sua vez, expulsa (Harvey, 2014). A pergunta que devemos fazer é que relação pode o capitalismo ter com o processo de urbanização para que se garanta uma cidade inclusiva, que garanta espaço para todas as classes sociais? Qual seria o tipo de morfologia que permitiria aos investidores reformar a cidade? Que contributo poderia trazer a um mundo em que tudo se retrata por uma balança, e onde o mais importante e com mais peso, é o lucro? Só conseguimos ter projetos de habitação social para as classe mais baixas, em terrenos rurais ou zonas sub-urbanas mas isoladas (Harvey, 2014), devido aos limites da cidade e do seu crescimento. Esses limites têm um impacto grande sobre o preço do solo, tornando-o bastante elevado nessas zonas centrais. A centralização contribui para uma cidade fragmentada e pessoas sem acesso à cidade e habitação com um padrão que consideramos decente, acesso a infraestruturas básicas e serviços, criando a Genopolis que se caracteriza por uma fragmentação e desarticulação da polis com a restante área metropolitana. Segundo Aldo Rossi e James Scott, a arquitetura da cidade tornou-se num planeamento totalitário e começamos a utilizar a tecnografia e estatísticas para controlar o desenvolvimento da metrópole. Rossi está contra a expansão urbana da cidade pois eventualmente acaba sempre por submeter uma racionalização, que cria uma homogeneização na forma da cidade e regularmente exclusão na esfera social.
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A GENTRIFICAÇÃO E AS «EXPULSIONS», OS PROBLEMAS DA GENOPOLIS Um dos grandes problemas da GenoPolis é a sua materialização nas metrópoles da sociedade do conhecimento. Esta sociedade é formada através das conexões em rede, que nos trazem novas preocupações relacionadas com a centralidade. A rede permitiu uma dispersão geográfica por parte das organizações em causa, pois a centralidade histórica que conhecíamos como o centro da cidade, deixou de existir. Não temos uma relação de centralidade relacionada ao “Central Business District” ou com a baixa, como até muito recentemente, que o centro estava sempre ligado a estas identidades da cidade. O centro foi alterado pela inovação nas comunicações e na economia global, que estão intrinsecamente ligadas, e formam e assumem a centralidade, Sasken assume assim 4 formas de centralidade: O CBD continua a ser um local estratégico, mas foi completamente reconfigurado pela tecnologia e pela troca económica. Desse modo mudou os padrões e reconfigura o centro da cidade. De outra maneira, o centro pode-se estender para a área metropolitana através destes pontos nodais de atividades empresariais intensas. Mas será que esta dispersão pode ser considerada uma nova centralidade ou apenas uma convencional suburbanização e dispersão geográfica? Estes pontos nodais representam mesmo uma nova forma de organização de território em relação aos centros. Na medida em que estes novos pontos estão ligados à rede, para passarem a representar novos pontos de correlação com os novos centros, mais avançados, e assim a sua disposição no território, na verdade, surge destes espaços centrais, peripheralized como chama Sassen (Koolhaas 2000:110). Esta grelha regional que surge de pontos nodais, na verdade não neutraliza a geografia, mas sim está embutida na mesma, a rede surge como forma convencional de infraestrutura e comunicação, através de vias rápidas e autoestradas, que nos conectam aos aeroportos, e ajudam os efeitos na economia derivada das inovações. Problema que se perdeu nesta discussão com a neutralização de território. Vemos a formação de centros que vão além do território nacional, parte devido ao espaço digital e devido a intensas trocas económicas entre a rede das cidades globais. Esta nova rede criou uma nova centralidade geográfica, que está sempre ligada aos maiores centros financeiros internacionais, como Hong Kong, New Yourk, Seoul, Londres, Paris, Bangkok, São Paulo, entre outros. Esta intensidade de troca de transações, aumentou rapidamente e envolveram ordens de outra magnitude a nível territorial. Ao mesmo tempo que isto acontece, surgem pontos altos de desigualdade de recursos e atividades entre estas cidades e outras do mesmo país. Uma condição que reforça estes espaços, de centralidade, e levam-nos a ultrapassar os limites do país numa cidade. No caso da Europa, que é complexo, conseguimos ver geografias de centralidades globais, outras continentais e outras regionais. Cidades como Paris, Frankfurt, Amesterdão, Londres, Zurique, que se tornaram centros da economia, da cultura, e de outros serviços, provocam marginalidade geográfica, apesar disso algumas cidades apresentam apenas uma característica, enquanto outras apresentam todas. Novas formas centrais da economia estão mesmo a ser constituídas em espaços eletrónicos. A relação entre o espaço digital e o “real” varia dependendo do sector eco-
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nómico. Apesar disso, é evidente, que estas novas configurações económicas localizadas nestes espaços digitais contêm pontos de coordenadas e de centralidade. Como é o caso do Facebook, Google, entre outros, que renovaram e tornaram o Sillicon Valley uma região central de poder. Na época medieval, tínhamos um sistema de estado-cidade, agora há uma troca para cidade-estado. Os estados com a ajuda de organizações internacionais perderam o poder de tomar decisões sozinhos, o que trouxe em parte uma impertinência no mesmo, e as cidades emergiram com maior poder. A cidade Global surge assim, com uma nova relação e alinhamentos político-culturais, a incorporação de cidades nas novas barreiras e limites que vão além de países e nações, permitem surgir políticas paralelas que não dependem da geografia. As grandes cidades surgiram como espaços que emergiram como capitais globais, e como lugares transnacionalizados de novas formas de trabalho e de comunidades e identidades transnacionalizadas (sem um território específico). A perda de poder nacional, produz agora uma nova possibilidade de novas formas de poder e políticas que ligam espaços de uma maneira sub-nacional às cidades, assim, são estes novos limites de território que criam nos a possibilidade de participar num mundo global. A questão seria perguntar quando e como é que vamos ver as cidades a criarem políticas transacionais? As cidades poderiam criar políticas mundiais sem passar pelos países? Hoje em dia já conseguimos ver por exemplo Barcelona a tentar criar uma independência devido à centralidade que atingiu. A razão pelo qual isso acontece é ser uma cidade que internacionalmente e globalmente tem muita influência. O distrito da Catalunha detêm quase cerca de um terço do PIB(Produto interno Bruto) da Espanha. Essa potência económica e a sua centralidade numa rede de economia do conhecimento global seria suficiente? A imigração, por exemplo, é o resultado explicito disso, a maior parte dos imigrantes estão localizados nestas cidades. O capital global e os novos imigrantes como força de trabalho são a maior influencia para a desterritorialização que acontecem dentro das nossas cidades, e a unificação que está a acontecer no mundo e leva a contestação se as cidades realmente pertencem à sua Nação (Sassen, 2014). Uma implicação política desta transação nestes espaços são as novas reivindicações do mesmo, as cidades são utilizadas para criar uma cómoda organização do mundo. Esta reivindicação do espaço por parte de grandes empresas e “denationalizing” (Sassen, 2007:109) levanta questões muito importantes, porque se as influencias políticas mudam a economia, esta já não prospera o país e deixa mesmo de ter essa intenção. Se a sociedade é agora feita por membros que não são nacionais, surge a questão, “De quem é a cidade?”(Sassen, 2007:109). São espaços colocados estrategicamente centrados, e que não estão ligados a um território, conectam cidades que geograficamente não têm nenhuma conexão, mas que estão intensamente conectadas. Quando examinamos a cidade global, apercebemo-nos que o conceito é mais amplo do que a homogeneização dinâmica que está a acontecer. Começamos a ver problemas e apercebermo-nos de coisas como o poder e a desigualdade. O estudo desta cidade da qual Sassen chama global passa muito mais pelo crescimento das desigualdades, que chegam aos dois extremos, onde encontramos a desvantagem nos sectores e nos espaços, que traz novas fórmulas e particularidades políticas e sociais nas nossas vidas. A cidade Global está muito ligada à ideia de uma rede económica, assim naturalmente as indústrias têm cada vez mais a necessidade de se centralizarem nessas cidades. As indústrias mudam e, hoje, são as finanças e serviços especializados, e empresas do ramo tecnológico e mediático, que funcionam à base do conhecimento, e da transmissão do mesmo no espaço pelos indivíduos. Essas empresas globais que se relacionam por essa rede de conhecimento, muitas vezes mesmo dentro
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da mesma empresa, de país em país formam verdadeiramente um sistema global. A rede cresceu e levou à troca, agora não só económica, mas sim política, cultural, e social. As migrações não são um movimento recente, sempre aconteceu, a deslocação de escravos dos países coloniais foram um fenómeno recorrente, como o caso de Portugal, Inglaterra, etc. Hoje em dia, temos refugiados sírios e anteriormente do Médio Oriente. No hemisfério sul temos a expansão da mineração, da agricultura, da disputa de água que resultam em expansões de cidades. Cidades onde os deslocados encontram lugares, como favelas, que os abrigam e recolhem. Chamamos de imigrantes, mas na verdade não são imigrantes, são fruto de uma “expansão económica” como explica Sassen (2014), do Estado, da economia. Em 2014 houve um aumento de investimento nas supostas 100 melhores cidades, houve mais de 600 biliões de dólares, só em aquisições superiores a 5 milhões de euros. Amesterdão por exemplo viu em 2014 um aumento de 248% maior que no ano anterior. No ano de 2015 mundialmente o investimento quase dobrou e chegou quase a 1 trilião de dólares (Sassen, 2015). Co o investimento surge a privatização, com o crescimento de parques empresariais, de shoppings que se tornou um fenómeno e que apaga a morfologia urbana. O espaço é privatizado, deixa de ser público e utilizável por qualquer um, torna-se restrito e com um limite, que descrimina a sua utilização. Mesmo assim surge a oportunidade das pessoas que são “sem acesso” afirmarem-se e mudarem a situação. Nas cidades as pessoas com muito pouco, normalmente no seu bairro, deixam o seu carimbo em cultura, como comida, música, etnia, e muito mais. Se continuarmos com esta compra de “solo”, vamos perder completamente o cosmopolitismo nas nossas cidades, aquele que ainda existe, porque algum já se terá perdido. A violência que muitas vezes é utilizada, em sítios como os Estados Unidos e o Brasil, levantam questões públicas de muita afluência política. Devido a situações mediáticas que ocorrem, vemos mais marcado a injustiça, não só na desigualdade financeira, mas na desigualdade de direitos e visão sobre certos cidadãos. Este tipo de situações pode influenciar um pouco esta luta de reivindicações de que a cidade é uma cidade para todos, e todos temos o mesmo direito. Mas a verdade, é que é esta a capacidade de fazer história, criar cultura, justiça e igualdade que está a ser destruída pelas grandes compras em massa das grandes corporações. O investimento pós 2008 é “mais do mesmo” no que toca à privatização da cidade (Sassen, 2015). No início dos anos 90 também se viu um crescimento nas compras nacionais e internacionais das grandes cidades. Prédios e hóteis foram comprados em cidades como Nova Iorque e Londres. Grande parte dos prédios da cidade de Londres pertenciam a pessoas estrangeiras, fenómeno que é abordado no livro Global Citys com um estudo profundo. As empresas de países estrangeiros perceberam a centralidade destas cidades a nível económico, e para aceder ao mercado da Europa, começaram a fazer investimentos. Hoje em dia o fenómeno e a tendência volta a existir, cidades com grande impacto, estão a ser invadidas por grandes investimentos de grandes corporações, exemplo desta situação é Londres. Hoje Londres está a ser comprada por Chineses, (consultar mapa de Londres no Apêndice). Antigamente, a compra de edifícios tinha como objetivo a compra de edifícios de qualidade, como por exemplo Rockefeller Center, etc. Agora, os edifícios são comprados e destruídos e substituímos por edifícios altos, corporativos e luxuosos, transformam-se em escritórios e apartamentos de luxo. O novo Quarteirão da Portugália, na Almirante Reis, é um forte exemplo de como estão a surgir novos empreendimentos destinados a servirem apenas um extrato da sociedade, e a limitarem a cidade. Muitos destes projetos acabam com a morfologia do lugar, destroem e matam muito do tecido urbano, como pequenas ruas e praças, assim como a densidade de lojas no nível da rua e escritórios modestos, etc. Estes megaprojetos aumentam a densidade da cidade, mas na verdade ao contrário de a urbanizarem, desurbanizam-na. Questão
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Exclusão Espacial
Acesso à cidade do conhecimento
que levanta um facto muito discutido e argumentado, que é a densidade sozinha não faz cidades. As pessoas são expulsas das cidades para dar lugar a arranha céus. Módulo que cada vez mais se repete e é visível nas cidades, não só naquelas às quais chamamos de genéricas, mas em todas elas, é um fenómeno presente. A densidade, em si, já tem um efeito de desurbanizar a cidade, é pegarmos em muitas pessoas e colocá-las num espaço fechado. Ficam os espaços de relação como os grandes halls , onde continuamente pessoas relacionam-se nesse novo espaço público-privado, o problema é que continuam a ser espaços de acesso restrito, de limite, e como consequência de exclusão urbana. As cidades são organismos complexos e sempre incompletos, assim existe sempre a possibilidade de se renovar e incorporar diversas pessoas, lógicas, políticas, etc. As cidades, de hoje em dia, são o espaço de fronteira, onde o mundo se conecta através das mesmas à Nação. Temos uma mistura de todo o tipo de coisas e pessoas, que apesar das suas diferenças, há momentos e espaços de encontro. Atualmente, com a privatização, com a nova cultura de cidadãos globais, os espaços são ocupados apenas por metade do tempo, devido a habitantes internacionais, que são temporários. Estes habitantes representam apenas pessoas bem sucedidas, pertencentes a uma classe restrita da sociedade. Pessoas que são praticamente homogéneas, onde o idioma não é um problema ou mesmo o país de origem. Esta ocupação do espaço leva ao desaparecimento da classe média e da classe trabalhadora das cidades. Traz problemas como a perda da diversidade, e criamos extremos de desigualdade, em que a nova classe média perdeu o objetivo de alcançar o status de outrora, onde a possibilidade de prosperar era possível. Em vez disso, de termos uma grande diversidade no interior das nossas cidades, como era previsível, cada vez temos mais edifícios monótonos, em que o objetivo é gerar mais dinheiro. Essa exclusão de propriedades para pessoas com uma renda mensal baixa atingiu níveis enormes, nos Estados Unidos, 14 milhões de pessoas perderam a casa entre 2006 e 2014, deixando muitos zonas vazias ou pouco ocupadas. Os mais pobres surgem em espaços de favelas, nos bairros de imigrantes e aqueles ainda com algum poder económico em cidades satélites, ou bairros de grande aglomeração vertical de habitação. Estão a tentar contrariar a economia e a exclusão impingida pela GenoPolis. Criam espaços urbanos, comunidades, e assim cidades. Cidades com história, cultura, e economia, e acima de tudo com a interação do próprio homem nas estrutura social da cidade, onde empresas, estados, e outros tipos de organismo não têm controlo, porque são muitas vezes consideradas terras ilegais, onde o ilegal cria
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50.FRAGMENTAÇÃO DA CIDADE
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um género de cidade à parte. Nestes locais a etnia, religião, a classe social, são temas ultrapassados e as diferenças além de serem reconhecidas são aceites. Não é isso uma boa comunidade? Sitte via as cidades como um aglomerado de prédios, em que cada um tinha uma individualidade, o seu próprio fim no espaço e nutria de ter a característica de ser único e diferente (Sitte, 1945). As pessoas têm o direito, como a arquitetura, de serem aceites como as encontramos, seja qual for a sua classe, a cidade deve ter um lugar para todos. Para Sitte a maneira como a época moderna se apoderou do planeamento “é artificial, e uma proposição do impossível” (Sitte, 1945:197), a cidade parece que se esqueceu do homem, e perdeu o seu valor como diz Jane Jacobs, que a cidade para funcionar além de densidade precisa de diversidade (2009). Na procura da diversidade serão as favelas a solução?
Ao expulsarmos pessoas perdemos a diversidade e ficamos com o genérico, as coisas tornam-se mais homogéneas e iguais. Temos que usar um urbanismo de opensource, que nos mostra que as cidades não precisam só do hardware, ruas, praças e edifícios mas também do software que são as coisas praticadas pelos atores, e os seus atores. Os órgãos verticalizam o poder, a solução seria “hackear” a cidade, que significa originalmente mudar o seu rumo original, desta forma trazer experiências dos locais, da rua, da praça, dos bairros, para forçar uma abertura, fazer uma troca de informação não de baixo para cima, para criar uma cultura, e não uma não-identidade. Hoje em dia, em grande parte do mundo capitalista, já não temos os trabalhadores correntes aos quais chamávamos de proletariado, trabalhadores tradicionais das fábricas, mas sim, temos como chama Harvey, “precariado”(Harvey, 2014:17) Esta urbanização como resultado do capitalismo está a afastar a classe operária das cidades, as fábricas desapareceram, ou são muito menos hoje em dia. Ficamos com trabalhadores precários, que trabalham em períodos de meio expediente, com maus salários e ainda com uma grande competição entre eles. A centralidade tradicional da cidade perdeu-se com a urbanização, mas agora estamos com uma nova centralização a uma escala diferente, sente-se uma necessidade por parte das cidades para se centralizarem, e se tornarem em cidades globais, pontos na rede económica. Com a cidade global, aparecem os problemas da cidade privatizada, o espaço político foi submetido a uma organização racional económica, e dessa forma esquecido. As pessoas, atualmente, procuram espaços como a antiga ágora grega, es-
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paços para serem ouvidos e acima de tudo fazerem exigências e queixas, reivindicam a cidade. Temos o exemplo das praças centrais do Cairo, de Barcelona, Atenas, etc, onde as pessoas saem à rua para reivindicar os seus direitos, ou pelo menos para que a sua opinião seja ouvida. Estas manifestações são cada vez mais recorrentes, mas a partir do momento em que a população não vai de encontro aos objetivos e à visão do Estado, a violência e a tentativa de acabar com estes movimentos nasce, e as pessoas são expulsas do espaço público, muitas vezes com violência. Robert Park refere que a cidade é “... a tentativa mais coerente e, em termos gerais, mais bem-sucedida de refazer o mundo em que vive, e de fazê-lo de acordo com seus mais profundos desejos. Porém, se a cidade é o mundo criado pelo homem, segue-se que também é o mundo em que ele está condenado a viver. Assim, indiretamente e sem nenhuma consciência bem definida da natureza da sua tarefa, ao criar a cidade o homem recriou-se a si mesmo .(Davis, 2006). Desta forma não podemos separar o tipo de pessoas que somos com a cidade que queremos, por isso sempre que pensamos em reivindicar a cidade temos que pensar nos valores que a cidade vai ter. O que vamos então fazer, em relação às abundâncias económicas e a todas as privatizações que a economia capitalista permitiu nas cidades? Como nos descreve Mike Davis no “planeta de favelas”(2006). Mas como diz David Harvey para produzir mais-valia, os capitalistas têm de produzir excedentes de produção. Isso significa que o capitalismo está eternamente a produzir os excedentes de produção e a materializá-los na urbanização (Harvey, 2014). A economia capitalista histórica sai sempre a ganhar. O resultado deste grande investimento é a expansão da produção que causa excedentes, e as favelas são o resultado físico desses excedentes. Projetos urbanísticos absurdos, em certos aspectos assombrosos, surgiriam no Médio Oriente, em lugares como Dubai e Abu Dhabi, como forma de tornar seus os excedentes de capital da riqueza proveniente do petróleo, da maneira mais ostentativa, socialmente injusta e ambientalmente prejudicial possível (como uma pista de esqui construída no meio de um deserto escaldante) (Harvey, 2014). O resultado físico desses excedentes são a cidade que estamos a presenciar atualmente, uma mudança de escala, parecida com a que Haussmann administrou em Paris? Em que não interessa o que existe só interessa o que vai ser e com o propósito de criar e gerar através dos excedentes mais economia e consequente lucro. “A qualidade da vida urbana tornou-se uma mercadoria para os que têm dinheiro, como aconteceu com a própria cidade, num mundo no qual o consumismo, o turismo, as atividades culturais foram baseadas no conhecimento, assim como o eterno recurso à economia do espetáculo, tornaram-se aspectos fundamentais da economia política urbana,” (Harvey, 2014:46). O novo urbanismo que surge através de shopping centers , vende um estilo urbano e satisfaz agora as estimulações criadas por ele mesmo mas, apenas têm acesso a este mundo quem tem o poder de se proteger da privatização e da nova redistribuição da riqueza, em que muitos são deixados de fora. Ficamos assim com cidades fragmentadas. Um mundo que se divide em duas visões que são oposta e dadas pelo consumismo, surge a visão pelo acesso e pelo lado da cidade onde nos encontramos. A classe que se encontrava no meio destas visões está a desaparecer, e a sociedade a polarizar-se. Após a crise de 2008, dita por muitos a pior crise da história, a crise dos ativos imobiliários (Harvey, 2014), surgem bilionários por todo o lado, onde se destacam países como a China, Rússia, e a Índia. Essa polarização, seja ela feita pela riqueza, que hoje em dia está acompanhada diretamente pelo poder, cria as metrópoles do século XXI, as GenoPolis. Temos cidades fragmentadas, e pior que isso “comunidades muradas” (Harvey, 2014:48) a cidade “está a ser dividida em partes distintas, com a formação aparente de muitos “microestados”(Harvey, 2014:48). Os bairros ricos, que contam com todos os tipos de serviços, como escolas exclusivas, campos de golfe, campos de ténis e segurança privada nas ruas, vêm-se cercados por ocupação ilegal onde a água só é disponível nas
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51. FRAGMENTAÇÃO URBANA CHINA
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fontes públicas. Não há serviços básicos de saneamento, a eletricidade é pirateada pelos poucos privilegiados, as estradas transformam-se em lamaçais sempre que chove, e onde várias famílias partilham a mesma casa, situação que não é a excepção mas sim a regra. Cada segmento, favela, parece viver e funcionar autonomamente, “agarrando-se com todas as forças ao que conseguiu para si na luta quotidiana pela sobrevivência”, disse Jim Yardley e Vikas Bajaj na entrevista “Billionaires Ascent Help India”, do New York Times (2001), desta forma as favelas são sociedades criada para sobreviver à falta de acesso à sociedade global.
Como foi dito no documentário The Great Hack, a única maneira de criar uma nova sociedade é destruir a existente, tal como aconteceu em Paris no tempo Haussmaniano. Em Paris deu-se um golpe de estado em 1851. Deste movimento político surgiu um imperador, Napoleão III. Devido à crise que se deu em 1848, na Europa, que foi marcada pelo “excedente de capital e excedente de trabalho”(Harvey, 2014:33) Napoleão III enfrentou o problema e a solução passou por perceber o que se ia fazer com este excedente de capital. Foi simples deu-se o projeto Haussmaniano em Paris, que tinha como objetivo, além de resolver os problemas do capital excedente deixar a nova classe social no centro da sociedade, com um novo estatuto. A sua construção teve o objetivo de absorver este excedente de capital e criar uma estabilidade social, transformando Paris na cidade da luz. O problema desta solução com os excedentes de capital, como em Paris, é que a transformação de excedentes em expansão e construção de uma nova cidade afeta sempre a classe mais desprotegida. Neste caso concreto do séc XXI, a classe mais desprotegida seriam os que vivem nas favelas, e o seu direito à cidade iria ser retirado. Na verdade, a burguesia só tem um método para resolver o problema da habitação, e o método utilizado é uma resolução temporária, na qual a solução recoloca eternamente os mesmos problemas, a cada nova tentativa. Esse método é chamado de “Haussmann” por Harvey, que refere-se à prática que atualmente está a existir. Que por quaisquer motivos erradicam os espaços onde as classes mais desprotegidas vivem, mas por qualquer que seja o motivo o resultado é o mesmo, estes espaços desaparecem para a alegria das classes mais altas, o problema é que acabam por aparecer sempre noutro lugar. “A mesma necessidade económica que os produziu nas vezes anteriores, volta à produzir em outros lugares.” (Engels, 1848), já referia Engels. Assim a solução não se resolve, simplesmente é escondida e levada para outro lugar, o que aconteceu em Paris, irá acontecer e está a acontecer em todo o lado quando
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utilizamos esta solução. O problema surge numa escala, numa cultura, e numa velocidade diferente consoante o país. O problema volta a surgir nesses subúrbios de imigrantes, bairros precários ou as favelas que são a consequência de uma economia capitalista, e levam sempre a uma marginalização. Este acontecimento, cuja reação foi a destruição que foi exemplificada no caso de Robert Moses em Bronx, em New York. A destruição de Bronx foi mais do que a destruição de um tecido urbano, como Jane Jacobs (2009) defendia, de comunidades, de integração social e em si de cultura. Hoje em dia, este tipo de soluções só iriam abrir caminho para as cidades genéricas, pois colocaríamos em perigo a perda de identidade, pois a partir do momento em que perdermos estes momentos de identidade na cidade acabamos só com uma não identidade. A consequência seria que numa identidade totalitária deixaríamos de ter identidade, pois em si deixa de ter um oposto e o significado morre, torna-se vazio pela primeira vez. Em certas áreas, sobretudo nas que ficam nas proximidades do centro, o desenvolvimento das grandes cidades modernas atribui à terra um valor artificial e abusivo que aumenta continuamente. Os edifícios nelas construídos diminuem esse valor em vez de aumentá-lo, pois, eles já não atendem às novas circunstâncias modernas, por isso são derrubados e substituídos por outros. Esta situação acontece particularmente com as casas dos trabalhadores, que ficam adjacentes ao centro, o resultado desse processo é que são derrubadas e no seu lugar, surgem lojas, casas comerciais de diversos tipos e edifícios públicos. Apesar de Eagles (1848) ter escrito no fim do séc XIX, quase um século e meio depois, o mundo continua a reger-se da mesma maneira, e estes continuam a ser os fundamentos da economia em que vivemos, que acabam por criar gentrificação, a uma escala diferente, em áreas como Mumbai, São Paulo, Nova York, Paris, etc. Na Índia, em Mumbai, com esta tentativa de criar uma cidade Global, que tenha uma imagem e que consiga competir com cidades como Xangai, deu-se o “boom” imobiliário. A ocupação das favelas torna-se agora um problema, pois existe necessidade de expandir e a cidade está cercada por esta tipologia de habitação, o valor ocupado por uma das favelas de Mumbai chega a ser 2 milhões de dólares (Harvey, 2014:53). Apesar da constituição da Índia defender que tem que haver uma proteção do bem estar social de toda a população, com este aumento do preço do solo, a economia deseja a “expulsions” (Sassen, 2014) da população que ali reside ilegalmente. O Estado reage e afirma que se é ilegal não tem direitos, pois “Admitir esse direito, afirma o Supremo Tribunal, seria o mesmo que recompensar os ladrões de carteiras pelas suas ações.” (Harvey, 2014:54). Em 1990, em Seul, as empresas de construção contrataram “gorilas” para destruir as casas e tudo o que lhes pertencia nessas favelas junto à cidade. Todos aqueles que não tinham direito legal e onde o terreno era valioso foram despejados para dar lugar a arranha-céus. “Esses exemplos advertem-nos sobre a existência de toda uma bateria de soluções aparentemente “progressistas” que não resolvem o problema, mas levam o problema para longe, que consequentemente é fortalecido, como já vimos no exemplo da solução Haussmaniana, e da destruição do Bairro Bronx. Surge um fortalecimento que é explicado por Harvey, que este tipo de demolição “apenas fortalece a cadeia dourada que aprisiona as populações vulneráveis e marginalizadas dentro da órbita da circulação e acumulação de capital.” (Harvey, 2014:57). Conseguimos ver ao longo da história, que esta assimilação, por excedentes de capital, que a economia utiliza de base, tem tido um papel importante no “jogo” do direito ao solo de muitas pessoas, pois grandes aglomerados de gente, a uma escala geográfica ampla perdem “o direito à cidade” (Harvey, 2014:59). Estaremos nós à espera então de uma revolta como em 1871 ou em maio de 68? Será essa revolta que se irá opor a esta economia? Será a resolução para as cidades de hoje? Esse tipo de movimentos iria permitir “adquirir um maior controlo sobre os usos do excedente (para não falar das condições em que se dá a sua produção). Um passo
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rumo à unificação dessas lutas - ainda que de maneira alguma o último - consistiria em concentrar-se clara e inequivocamente nesses momentos de destruição criativa nos quais a economia de acumulação de riquezas se transforma violentamente na economia de expulsão e, ali proclamamos, em nome dos expulsos, o nosso direito à cidade, que implica, o direito a mudar o mundo, a mudar a vida e a reinventar a cidade de acordo com os nossos mais profundos desejos.” (Harvey, 2014:65). Será essa revolta que atualmente começa a surgir? Começam a existir movimentos que acreditam que há um mundo melhor, que ambicionam e ousam por mais feitos nesta urbanização que resulta deste capitalismo global. Um movimento que ocupou a rua de Wall Street, e se transformou numa luta, “Occupy Wall Street”. O movimento expandiu-se e percorre as ruas e praças do mundo todo, em que as pessoas ocuparam as praças centrais, junto aos locais onde existe poder. A aglomeração de um grande número de pessoas nesses espaços começa a transformar o espaço comum num espaço político, onde as pessoas querem ser ouvidas. Um espaço que já vimos em civilizações anteriores, civilizações onde o que movimentava o mundo não era a economia urbs , mas sim a política civitas. Com este tipo de movimentos os habitantes têm como intuito voltar aquela ágora grega ou ao espaço civitas , onde se iniciam discussões, agora, sobre a melhor maneira de nos opormos a este poder capitalista. Estes movimentos da praça de Tahir no Cairo alastram-se pelo mundo, um mundo que se reconhece injustiçado. O movimento viajou até Madrid, na Puerta de Sol; a Atenas, à praça Sintagma; a Londres, à catedral de São Paulo; até chegar a Wall Street. O que conseguimos retirar com estes movimentos é a consequência do destes espaços cibernéticos, aos quais muitos acreditam que contribuem para nos comunicarmos e relacionarmos e criarmos comunidades, mas na verdade ficam muito longe dos espaços onde há comunicação física do homem com outro homem, e outro, e por aí em diante. Warren Buffet afirma “Há uma luta de classes, tudo bem, mas é a minha classe, a classe rica, que está a fazer a guerra e estamos a ganhar.”Warren Buffett, o “sábio de Omaha” (Harvey, 2010:211), no livro Enigma do Capital. Na verdade, não é que não exista a possibilidade de haver um bem estar comum, é que para isso acontecer, ou seja, para a maioria de nós ter essa possibilidade, os “ricos”, que por si só já são pessoas com capacidades tinham que deixar de enriquecer, como Buffet reconhece. Existe a necessidade da classe mais abastada de preservar a riqueza e criar mais riqueza. A desigualdade de renda mostra-nos que desde os anos 70, 90% da parte de baixo da pirâmide detém apenas 29% da riqueza, e os outros 10% detêm o resto. Chega mesmo ao extremo de o 1% do topo deter 34% das riquezas. Este valor triplicou, e isso explica-nos que estas desigualdades extremas, além de não afetarem as classes altas e privilegiadas, ainda nos afirma, que estes beneficiam com a desigualdade e que ainda alcançam mais poder, através desta ascensão económica. Conseguimos observar um exemplo com dois agentes, George Soros e John Paulson, que após a dramática crise de 2008, onde muita gente perdeu dinheiro, um dos momentos mais dramáticos da nossa economia, estes tiveram a possibilidade de ganharam 3 biliões de dólares cada um (Harvey, 2010:45). Num dos piores momentos da história económica do mundo, a classe mais abastada gerou mais lucro, é assim uma consequência de uma economia capitalista. Este movimento tenta assim contrariar a economia capitalista que está a prevalecer na cidade, e luta por um objetivo simples, que é “recuperar o país” deste poder exercido pela economia. Lutam contra ao que Warren Buffet diz, o movimento afirma que a classe dos ricos não vai ter a possibilidade de ganhar sempre, querem danificar e mudar a história, e afirmam como vemos em muitos cartazes, “somos os 99%”, que está implícito no discurso de Buffet. Com este discurso afirmam, com toda a convicção que são muitos mais que o 1%, e por serem a maioria, pela sua força, irão prevalecer. Esta é a razão, porque ocupam o espaço da cidade, na procura de serem ouvidos e a tentarem que as suas carências sejam resolvidas. Tentam, assim, mudar o mundo com a voz de
A sociedade precisa imprescindivelmente de mudar, a justiça e a igualdade são leis universais, não são direitos morais ou cívicos, mas sim direitos individuais, de cada um de nós, e temos direito, todos, a uma sociedade mais justa. A cidade tem que projetar esses direitos na sociedade e por esse motivo, esta luta não é nossa, nem é tua, esta luta é de todos como um conjunto, é Global e Local. É dos americanos que lutam contra a compra de eleições por uso das tecnologias, contra as desapropriações que acabam com economias, contra uma cidade limitada por uma sociedade especializada, e acima de tudo contra a injustiça social do mundo. A luta é contra o estado do Chile, que apesar Mubarak ter ditado o fim da ditadura, eles continuam sem direitos à educação, continuando a estar presos sobre as asas de um poder capitalista. Dos indignados de Espanha. A luta é de todos os lados onde o movimento chega e onde ainda não chegou, a economia pode ser liderada por uma lógica, mas somos nós que a fazemos, assim como somos nós que fazemos as injustiças e justiças, por isso tem de partir de nós mudar o mundo, e as cidades que hoje formam a sociedade fechada em que vivemos. A Solução é a procura de uma cidade que não segregue, mas será essa projeção exequível? Como já vimos anteriormente a cidade é marcada há muito tempo, talvez desde sempre, por injustiças, fragmentações espaciais e exclusão social. A pergunta que surge é: Será que algum dia vamos alcançar uma ordem na cidade na qual as pessoas não são divididas e excluídas por espaços? Poderá a cidade tornar-se num espaço justo?
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52. MOVIMENTO OCCUPY WALL STREET (2016)
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uma maioria prejudicada, lutam com a crença de que a relação dos homens pode mudar o espaço da cidade. Mas, o Estado chega ao extremo de querer retirar o “lugar” ao homem e afirma convictamente, devido às influências da classe alta, que o espaço vazio, as praças, o espaço público, que é de todos e não é de ninguém, são seus e têm direito de o regulamentar (Harvey, 2010:283), pessoas são expulsas, vozes são caladas e apenas fica um mundo, com cidades oprimidas. Mas será a cidade um espaço privado, que implica por si só, que pertence a alguém? O Estado afirma que o “nosso” espaço só pode ser utilizado quando e com o motivo que eles querem? Mas onde está a liberdade? Onde está o nosso livre arbítrio de utilizar um espaço nosso, claro que sempre pacificamente, quando desejarmos? Onde é que está a liberdade? Se foi nesse mesmo espaço onde nasceu e onde já não tem liberdade? Citam leis que lhes dão o poder de o fazer pelos seus interesses, mas quem cuida dos interesses dos 99% oprimidos?
GenoPolis surge como a metrópole do século XXI, o ultimo organismo da cidade que se traduz em cidades genéricas, fruto de uma imagem criada pela economia para se tornarem em cidades globais. As cidades globais materializadas como genéricas são consequência de uma economia capitalista e uma sociedade em redes, que se tornam o palco de problemas, outrora existentes, que se agravam e, atualmente tornam-se extremos. Assim a GenoPolis é uma critica à sociedade e à cidade atual. As pessoas são expulsas da sua cidade no momento em que a economia Local (nacional) se transforma em Global. As cidades transformam-se no espaço limite entre o mundo e o país, e passam a agregar um novo alinhamento político-cultural, através da rede de conhecimento. Surgem desta forma novas centralidades, a uma escala diferente, a das cidades globais. Esta nova centralidade cira privatizações na cidade, que são o resultado do novo sistema político, o neoliberalismo, como analisa Sassen (2014). Estas cidades começam a ser os espaços de fronteira entre uma rede global e uma rede local. Este limite é formado pela barreira do conhecimento, o motivo dos processos que fragmentam as cidades e que fomentam a desigualdade social. O problema que se coloca é que ao expulsarmos as pessoas, qual é o espaço daqueles que foram expulsos? Criamos uma muralha de conhecimento, que consequentemente gera a polarização e a fragmentação social. Desse modo, retiramos o acesso ao solo da cidade e criamos marginalidade dentro da marginalidade. O urbs prevaleceu sobre o civitas, isto é, a cidade transformou-se completamente num espaço económico e, hoje, mostra-nos que o espaço político perdeu o lugar na cidade.
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Em Suma:
53. MANIFESTO WALL OF KNOWLEDGE, AXONOMETRIA
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Apenas os espaços privados parecem predominar. Esta economia expressa-se na cidade na criação de exclusão mas, se assim acontece, que tipo de espaços serviam para criar inclusão e ao mesmo tempo serem aceites por esta economia? Grandes investimentos privatizam as cidades e retiram um direito universal, o direito que nos pertence a todos: o solo. As pessoas que estão a ser expulsas, são as que deixam o seu carimbo cultural nas cidades. A cidade é destruída na cultura, na história, na justiça e na igualdade. Estes investimentos, na maioria das vezes, trazem-nos novas morfologias aos espaços, privatizando-os. Destroem os lugares e desurbaniza-os, acabam com a diversidade e somente edifícios não fazem uma cidade, fica apenas um limite que diferencia o pertencer do não pertencer. Espaços públicos tornam-se espaços privados, criam exclusão urbana e a resposta, por parte dos habitantes deixados de fora, é a construção de favelas ou bairros de imigrantes, nos países em que a evolução foi mais tardia. Serão as favelas a solução para criar diversidade e acabar com a homogeneidade? David Harvey (2014) explica que este tipo de problemas apenas vem de uma sociedade anterior onde já existia polarização social e segregação na cidade, como analisamos no modernismo, na época imperial e colonial. A mudança na segregação da cidade foi uma consequência da economia ter-se tornado uma economia de conhecimento à custa de uma rede global e, hoje, os trabalhos precários deixam de ser precisos na cidade, e invés de os incluirmos, de maneira segregada, como outrora, apenas os expulsamos, e consequentemente as pessoas que os executam. A marginalização económica acaba sempre por encontrar outro espaço, é a forma de uma economia capitalista produzir os excedentes. Este processo de destruição dos fragmentos da cidade, e das suas favelas que temos visto a acontecer, onde ainda há identidade, vai acabar com a oposição à não-identidade da cidade. A partir do momento que acabarmos com essa oposição, a identidade morre.
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A GENOPOLIS COMO LUGAR HETEROTÓPICO
Foucault para definir heterotopias, usou a definição de uma utopia com o espaço. São utopias que têm um lugar real e preciso, que podemos espacializar num mapa: “No entanto, acredito que há — e em toda sociedade — utopias que têm um lugar preciso e real, um lugar que podemos situar no mapa; utopias que têm um tempo determinado, um tempo que podemos fixar e medir conforme o calendário de todos os dias.” (Foucault, 2013:19). Assim como temos espaços físicos que servem para coisas completamente diferentes, e que se distinguem de certa maneira, como ruas, praças, lojas, hotéis, etc, temos também aqueles aos quais Foucault chama absolutamente diferentes. São lugares que se opõem a todos os outros e cujo seu objetivo é “apagá-los, neutralizá-los ou purificá-los.” (Foucault, 2013:20). São espaços que Foucault denominou de contra-espaços, espaços de prazer que quando a realidade nos atinge somos punidos, como acontece quando vamos para a cama dos pais. Os contra-espaços são os segredos, as utopias situadas, os lugares reais que estão fora de todos os lugares. Lugares que são uma contestação mítica e ao mesmo tempo real do espaço em que vivemos. A ciência que estuda esses espaços, não os que não têm lugar como as utopias, mas sim espaços que são absolutamente outros, é a heterotopologia, e tem princípios segundo Foucault (2013:21), o primeiro é que: Não há sociedade que provavelmente não tenham construído heterotopias ou heterotopia, assumem formas diferentes e variadas,e não são constantes. Não existe só uma heterotopia, mas sim várias, não é universal. A sociedade podia se caracterizar pela heterotopia que prefere e que constitui, não existe só uma heterotopia mas sim várias dependendo da sociedade, e do indivíduo que a constitui. É específica a cada indivíduo, é uma imagem nossa do mundo. Existem heterotopia de crise, lugares proibidos que são reservados aos indivíduos em crise, como por exemplo casas de adolescente, colégios para rapazes ou locais militares. E heterotopias de desvio, quando o comportamento é diferente da média ou da norma, que são por exemplo prisões ou instituições psiquiátricas. A heterotopia tem como regra justapor um lugar em vários espaços, que normalmente seriam ou deveriam de ser incompatíveis (Focault, 2013:24). O teatro é assim uma heterotopia em que o objetivo, é numa única cena ter uma quantidade de lugares estranhos, assim como um cinema que sobre um retângulo de 2 dimensões se projeta um lugar de três dimensões. Mas, a heterotopia mais antiga é o jardim tradicional persa, que representa a maneira como o mundo se compõe. Em quatro espaços, em que na intersecção dos quatros retângulos, se encontra o espaço sagrado, uma fonte ou um templo, e à volta dessa intersecção estaria toda a vegetação perfeita do mundo. O tapete voador, móvel, que representava esse jardim tinha como objetivo mostrar a perfeição e as belezas todas, que se juntavam nesse espelho, que ligava a realidade a não realidade. Desta maneira a heterotopia é um espaço que representa vários espaços. A heterotopia são recortes no tempo, vários pedaços de tempo no mesmo tempo, acumulam-se esses recortes até ao infinito. (Focault, 2013:25) Como por exemplo os museus ou as bibliotecas, são espaços de todos os tempos, que o espaço passa a estar
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fora do tempo, temos um arquivo de todos os tempos num só lugar. Mas há heterotopias que se ligam a um tempo específico e não a uma eternidade, que não são eternas mas sim crónicas, hábitos com muito tempo, são a repetição no tempo. O quinto e último princípio da heterotopia é que são sempre sistemas abertos e fechados, que as isolam em relação ao espaço à sua volta. Não entramos numa heterotopia por querer mas sim porque somos obrigados como nas prisões, ou quando somos submetidos a purificações (Focault, 2013:26). Há heterotopias que não são fechadas mas são abertas para o mundo exterior, permitem abertura pura e simples (Focault, 2013:27). Quando entramos percebemos que era uma ilusão, um livro aberto que tem a característica de nos deixar de fora. É estarmos abertos para o exterior sem estarmos realmente dentro, e assim estarmos inteiramente no exterior como nos aposentos da casa do século XVIII, na América do Sul. Há heterotopias que parecem abertas, são nessas que encontramos o fundamental, pois são “a contestação de todos os outros espaços”. Podemos manifestarmo-nos de duas maneiras, criarmos uma ilusão em que toda a realidade se manifesta, como uma ilusão, ou então criarmos outro espaço tão perfeito, muito meticuloso, ordenado, ao contrário do que temos no nosso espaço, mal disposto, desordenado, como o contrário do que vivemos. Como o caso de Foucault, que cria assim a contra-realidade, uma crítica à perda de humanidade como nos diz Choay “A cidade como totalidade formal ou racional não foi deslocada pelo capitalismo? O espaço não é uma imensa página em branco onde se escreve, desde há cerca de dois séculos, a metanarração do capital? Não está aí o impensado geral, o não dito de todas essas divisórias construídas entre as classes, os sexos e as gerações?” (Focault, 2013:38), Foucault reage assim contra os promotores das cidades racionais, que estavam a inventar o consumo em massa, que racionalizam o consumo como uma ocupação de espaço. Essa racionalização provocava a fragmentação do espaço, fosse ele homogéneo ou heterogéneo, e a uma visível espacialização do capital. A heterotopia não é inevitável, pode desaparecer, a sociedade tem o poder de a diluir e fazer desaparecer, ou organizar uma que ainda não existe. Segundo Soja a heterotopia “são utopias localizadas” e a partir do momento em que damos uma localização, estamos a espacializar a utopia, e a dar-lhe assim um lugar no espaço, a materializá-la. “São espaços diferentes que são a contestação dos espaços que vivemos”. São os espaços que são outros (Foucault, 2013:34). O termo que se opõe À utopia, que é “não lugar”, é não eu-topia. As utopias narram lugares imaginários, que não existem, ou seja um discurso como diz Foucault, “Há países sem lugar e histórias sem cronologia; cidades, planetas, continentes, universos, cujos vestígios seria impossível rastrear em qualquer mapa ou qualquer céu, muito simplesmente porque não pertencem a espaço algum. Sem dúvida, essas cidades, esses continentes, esses planetas nasceram, como se costuma dizer, na cabeça dos homens, ou, na verdade, no intrínseco das suas palavras, na espessura das suas narrativas, ou ainda, no lugar sem lugar de seus sonhos, no vazio dos seus corações; numa palavra, é o doce gosto das utopias.” (Focault, 2013:19). A heterotopia então é a forma de mantermos juntas as coisas e as palavras. Foucault cria assim uma noção de heterotopia, em que não analisa discursos como utopias, mas sim espaços como o espelho. Espaços-tempos, atemporal, que acumulam temporalidades, como o museu ou a biblioteca. Estes espaços-tempos são lugares onde estou e onde não estou como o espelho, ou onde somos outros como nas colónias de férias. Analisam os desvios e localizam-nos nos contra-espaços, que só são interpretados pelos espaços que os contestam. Como materializamos assim esse sonho, como o filósofo evocava como primeira figura da heterotopia, a cama dos pais que as crianças gostam de invadir com um prazer de transgressão e de sonho das origens? (Focault, 2013:30). A heterotopia, nunca materializada por Focault, seria a materialização através
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do manifesto, da heterotopia da GenoPolis. Daqui a 50 anos a população urbana no mundo será o dobro da existente. Hoje em dia, “os planeadores precisam de mais do que apenas projetos, mas sim imagens que os consigam orientar” (Friedmann, 2000). Desta forma cria-se um manifesto visual que permita sonhar com a materialização de um mundo melhor. Onde acreditamos num futuro incerto, num mundo mais adequado à nossa sociedade, porque se temos uma noção do que está acontecer temos um dever de propor essas imagens (Friedmann, 2000). “Temos a responsabilidade de relembrar ao mundo o que a sociedade deve ser” (Friedmann, 2000:462). Seria então um contra-espaço, uma contra-realidade, que contesta não agora “as utopias pré-urbanistas, das cidades operárias de Haussmann, da Bauhaus, do funcionalismo, dos grandes conjuntos, das cidades novas: por toda parte que afirma perigosamente uma racionalização do espaço inerente à extensão universal do capital, uma propensão de sua ordem de troca, ou da ordem simplesmente”, (Focault, 2013:44) e ainda o modernismo, que não lidava com formas da arquitetura, mas sim com modos de produção em massa, com tecnologias de poder e o capitalismo da época da “arquitetura em máquinas” (Focault, 2013:45) mas sim, agora, uma polarização social e uma fragmentação espacial. A Heterotopia é, então, uma crítica a esta sociedade. Um espaço heterotópico que materializa uma contra-realidade da GenoPolis, uma utopia localizada, um espaço perfeito com uma ordem individual. Uma ordem em que “cada coisa tem o seu sítio e há um sítio para todas as coisas” (Gorjão Jorge, 2015, s.p.), que o objetivo nasce da consciência de que lidamos com uma sociedade desigual. No sentido que a “consciência é a bússola de um homem” (Vicent Van Gogh) procura-se agora a criação não de uma ordem regular, porque “o que serve para curar não é a regularidade do traçado, mas a justiça da arquitetura.” (Focault, 2013:44). Uma heterotopia de crise emerge pela mesma razão que as casas de correção, que acreditam que podem mudar o homem, da mesma forma que acreditamos que pudemos mudar o mundo. O objetivo é a todo o custo mudar um mundo que enfrenta uma crise de valores, onde a base é fundada sobre uma igualdade, mas onde na verdade encontra-se uma desigualdade, uma injustiça. A justiça social é a base de qualquer sociedade democrática. A cidade justa é o objeto apropriado de planeamento, a justiça era o valor que todos escolhíamos se não soubéssemos em que classe social iríamos calhar. Não deveria a justiça ser a discussão da norma para o planeamento? (Fainstein, 2005). Desta forma a falta de igualdade social leva-nos a uma necessidade de correção, a uma mudança extrema. A GenoPolis torna-se num espaço que a norma não produz um valor de pertença, e retira-nos o acesso à cidade. O limite que cria a desigualdade expira, morre por uma norma que se baseia na inclusão social. A GenoPolis localiza-se numa sociedade de conhecimentos, que não tem um espaço mas sim uma rede de espaços, aespacial. Uma heterotopia que tenta recuperar não um espaço, mas sim um conjunto de espaços, desta forma cria-se um espaço para contrapor a Genopolis. Uma expressão e manifestação da realidade de exclusão, através da fragmentação e da generecidade criada no espaço. Torna-se num espaço que caracteriza muitos espaços, nos centros de muitas metrópoles, e agora nos mostra a perfeição do mundo. Um recuperar de todos os espaço políticos que foram contrapostos pelos espaços económicos, ou seja, formais na GenoPolis e nos têm retirado a visão. E “a racionalidade substitui a visão, e ficamos com falta de visão, a racionalidade não nos faz ir mais além, não nos dá oportunidade de imaginar. A visão traz em si um significado, um propósito, um valor, alguma coisa que não conseguimos alcançar mas que vale a pena lutar e aspirar.” (Fainstein, 2005:124). A heterotopia, um conjunto de tempos, num mundo em que a realidade está a acontecer, num aglomerar de tempos e acontecimentos. Que o acontecimento já acontece há tanto tempo, que hoje é extremo, mas parece passar despercebido e livre de reconhecimento. Que a reivindicação da cidade é feita através de um palimpsesto, um
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procedimento que é rescrito eternamente, desde Lefebvre (2012) com o Maio de 68, Ao Ocuppy Wall Street através de David Harvey, que desencadearam várias revoluções. Uma utopia que agora encontra o seu tempo e se pode espacializar numa cidade justa, e tornar-se pela primeira vez localizada. A heterotopia fechada, a Genopolis, que quando se materializa torna-se num espaço aberto. Uma abertura que permite por fim à desigualdade. Não estamos neste espaço fechado por uma decisão, mas sim por uma sociedade que é movida por uma economia que o permitiu. O conhecimento passa a ser acessível, assim como o acesso ao mundo através da rede. O genérico passa a ter identidade e tornar-se numa imagem de cidade cujo objetivo é finalmente unir, e não excluir. A heterotopia nasce do entre-lugar, o espaço que usa os lugares e os não-lugares, espaços indispensáveis e que a sua intersecção, cria a espacialização da heterotopia, uma contra-realidade que surge da necessidade do mundo mudar a sua perspectiva e o comportamento de indiferença para preocupação, o renascer da empatia. A devolução do espaço público como político à cidade, que permite uma humanidade livre das desigualdades.
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O MANIFESTO COMO MATERIALIZAÇÃO DA HETEROTOPIA: OPEN CIVITAS O manifesto, é a declaração pública dos motivos e as intenções para dissipar e acabar com os problemas que incitam e tornam imprescindível a materialização do lugar heterotópico, o espaço onde vive , a GenoPolis. A materialização do lugar heterotópico, a utopia localizada de uma nova cidade, uma Opens Civitas. Uma contra-realidade da metropolis do nosso tempo, que não vive num lugar espacial, mas sim aespacial. Essa realidade representa-se através de uma rede de espaços, cujo objetivo tornou-se representar um espaço igual a muitos espaços, uma cidade genérica que centraliza e parte a cidade através de um limite. O limite define o acesso à cidade, o ser incluído e ser expulso da cidade. Esse limite é uma divisão, uma barreira de acesso, a um mundo, a uma sociedade e a uma economia, que no seu encontro formam a cidade. Uma cidade segregada e uma sociedade desigual, uma repetição que continua a decorrer na história, projetos perseguem soluções para a cidade, mas não encontram forma de lidar com a influência da economia. Criam um mundo injusto, como nos mostra Paolo Virno (2001:25) e “descreve o fascismo contemporâneo como, o poder econômico que serve para apreender e orquestrar a totalidade da subjetividade e se aproveitar para se reproduzir - agora desconsidera a utilidade anterior da classe inferior”. As sociedades segregadas, sempre tiveram o objetivo de utilizar a parte inferior da esfera social como forma de produção e criar lucro, como as cidades dos impérios e as coloniais através dos escravos. Sociedade após sociedade a segregação continua, e vemos na cidade industrial, a segregação feita pelos “operários”. Limites são impostos, independentemente do estatuto político da sociedade, da monarquia, aos impérios, aos governos democráticos ou autoritários, terminamos sempre com limites que segregam, espacialmente e socialmente a sociedade. A sociedade presente, substitui uma economia industrial por uma economia de conhecimento, afasta-se
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da necessidade de depender de produtos, e os habitantes tornam-se no próprio produto, porque já não se fabrica produtos mas sim produz-se conhecimento, e apenas os especializados incorporam a sociedade do conhecimento. A partilha do conhecimento com outros habitantes, para criar e aprender coisas, com a finalidade de gerar inteligência (Conventz 2014), é a base economia de serviços especializados. A relação do homem com os habitantes da cidade torna-se obrigatória, e consequentemente a centralização é a única resposta possível. A integração a partir da segregação da era industrial, transforma-se em exclusão, e chega a um extremo, a expulsão de pessoas. Sempre houve segregação, mas com este exagero a reivindicação na cidade é, hoje, vital. Surge então a reação do homem, as favelas, que se foram formando na história, devido à segregação por parte da classe inferior da pirâmide social. Tornam-se hoje as favelas num movimento genérico? Nos países em desenvolvimento, que o seu desenvolvimento industrial foi tardio, foram-se cada vez mais e mais rápido à volta das cidades Globais, são vista como a única solução, e os seus habitantes já são um terço da população urbana (UnHabitat, 2013). Este movimento é a tentativa das pessoas terem acesso à cidade, mudarem o seu rumo inicial que é expulsar, como chama Sassen (2013) “Hack the city”, e o que resta é um urbanismo informal, ilegal, pessoas consideradas “ilegais” que são excluídas do acesso a uma rede de conhecimento, que está fechada por um muro de conhecimento. Esta barreira já não é física mas sim, agora, educacional/ social, provoca esta polarização na sociedade. Mas a verdade é que não existem pessoas ilegais, existem pessoas, excluídas por um limite. Nos países desenvolvidos, surge a exclusão através da formação de cidades anéis, na quais a gentrificação também é visível, a solução para esta expulsão é a formação de bairros de imigrantes ou sociais, cidades periféricas e prédios altos para aglomerarem o maior número de pessoas sempre no exterior destas centralizações económicas. A economia influenciou o urbanismo para tentar produzir uma cidade igual em todo o lado, através de normas e métricas comparativas, que foram utilizadas pelo modernismo para criar a standardization na arquitetura. A consequência foi uma Urban Fabric, em que a cidade é projetada, por normas e regras, a arquitetura tornou-se em massas que ocupam um espaço na norma. O resultado é que a cidade se tornou numa repetição de blocos homogéneos,
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iguais, assim como cidades iguais, a cidade genérica. Com o urbanismo a cidade tornou-se num espaço apenas material (urbs), formal que representa uma economia, e afastase do político (civitas). Desta forma, os enclaves que se repetiam eram preenchidos na sua totalidade, para se retirar o maior lucro possível. A cidade, urbs, passa a considerar o vazio na cidade intolerante, apenas a forma de massa na sua totalidade tem o direito de preencher a malha. Desde a reformulação da palavra urbs por Cerdà, ao projeto de Le Corbusier a Ville Radieuse, à Vertical City de Hilberseimer, ao Arquipélago de Koolhaas, à Stop City de Aureli, não conseguimos contrariar um espaço, que apesar de se impor ou retirar um limite, esse limite acaba sempre por ser utilizado numa forma de segregar o mundo. Esses espaços tornam-se responsáveis para que a cidade seja feita de momentos onde o limite, que outrora não impedia, passa a impedir o encontro, a empatia, e a relação que permite que juntos, os habitantes, criem o sonho de um mundo e uma sociedade menos excluída. Visto que a responsabilidade e a conexão com os outros é o que torna livre e igual, atraente e cativante. Sem essas características os objetivos perdem o encanto e sucessivamente o interesse, porque essa relação faz-nos constituir parte de um mundo de familiares, de amigos, de colegas, de camaradas, de pessoas com as quais criamos afeto e que temos empatia (Friedmann, 2000). A nova metropolis é a consequência de uma economia e que utilizou e despendeu do modernismo e o urbanismo para criarem um tipo de cidade, a cidade genérica, uma imagem de cidade global, no qual a empatia social parece não ter espaço para pertencer. Criado um type na e de cidade, como modelo que elimina a exceção, e repete o modelo, massas minerais que ocupam o máximo de espaço da cidade, e que não deixa espaço para o político (civitas) acontecer. As cidades ambicionam tornar-se genéricas para pertencer a uma sociedade em rede, que permite o acesso a uma economia Global. Desde a praça Real em Paris (1605), o nascimento de um espaço comum (Jacoby, 2011), envolvido em arcadas, que a rua interior servia como espaço comercial, até ao modernismo em que se pressupunha um uso livre do piso, e que é dado como não funcional, porque a sua base não trás nenhum valor económico, o planeamento dos espaços que interligam a cidade aos edifícios têm sido ligados ao fator económico. Desta forma a economia sempre teve presente como o fator dominante no desenvolvimento da cidade, e assim o urbanismo com a ajuda do modernismo
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conseguiram encontrar uma maneira da cidade ser acima de tudo lucrativa, mas ao mesmo tempo racional e funcional. A economia do conhecimento através de centralidades, atualmente, utiliza o limite, incutido por uma racionalidade, para segregar o acesso à cidade e à sociedade. Uma cidade fechada por um muro de conhecimento, que divide a legalidade da ilegalidade, o genérico do informal, o acesso do não acesso. A cidade tornou-se numa Urban Fabric e que a exceção deixou de ter espaço, o único é absorvido no genérico. Mies van der Rohe escapa à norma, e contraria as regras da economia. Projetou um edifício, o Seagam Building, em 1958, uma “grama” diferente no “mar” do urbanismo, a exceção da norma, o único. Numa lei económica, que representa o espaço formal ( urbs), o lote, deixa de representar uma massa que ocupa a totalidade do lote, e cria espaço para o político ( civitas) voltar a acontecer, Mies van der Rohe oferece o vazio urbano ao espaço formal. Ao mesmo tempo que deixa esse vazio para se conectar com a arquitetura, utiliza uma massa genérica, um paralelepípedo, para criar também a exceção. Cria pilares que abrem o primeiro piso do edifício e que pressupunha que o edifício se conectasse com a cidade. Mas apesar dessa conexão mais clara o limite ainda existe pela parede de vidro que define exterior de interior. Mas apesar desse limite entre a cidade e arquitetura, Mies criou um limite no formal, pois deixou espaço para o político, e através do genérico criou a exceção. Criou o limite no ilimite da urbanização, um edifício que pode ser situado visualmente como diferente e que agora passa a ter espaço para o civitas, e é a exceção. No projeto de Rem Koolhaas, The City of the Captive Globe, de 1972, intitulado pelo mesmo “O Arquipélago”, tenta relacionar a cidade com a arquitetura, uma evolução do projeto de Mies van der Rohe. A cidade é um arquipélago, num mar urbano, os arquipélagos são as estruturas isotrópicas que se tornavam cidades dentro de cidades, as cidades verticais. A partir deste projeto e do manifesto Delirious New York (1978), Rem Koolhaas cria uma definição Schim, que introduz um conceito, além dos pisos passarem a ter um independência nas atividades entre eles, a sua base, o podium, tornava-se auto-suficiente, e passava a ter uma função diferente da atividade da Torre. A base passaria a condensar, e a ter atividades e que se passavam na cidade, e dessa forma permitia uma integração do espaço urbano com a arquitetura, através de espaços que hoje intitulamos de semi-privados. Mas na verdade O
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podium são espaços que segregam e criam mais uma vez limites, dividem a cidade em ilhas, e a arquitetura perde a conexão com a cidade, o mar, o espaço urbano. O edifício torna-se numa cidade, que restringe automaticamente a sua entrada, e que perde a ligação e a diversidade da cidade, a criar uma cidade no interior da mesma. Neste projeto a regra continua a ser dirigida pelo espaço urbs da cidade, Rem Koolhaas glorifica a arquitetura no espaço urbano, através do ícone, introduz o conceito Lobotomy criando edifícios exceções, este domínio da super arquitetura em detrimento da cidade, agrava a desconsideração da necessidade do espaço civitas na cidade. O problema é que perde o contacto do edifício com o espaço urbano, pois apesar do podium ser uma tentativa de conectar a arquitetura à cidade continua a impor um limite, e a segregar e restringir. No contexto em que nunca podemos reagir sem um limite, mesmo quando o retiramos estamos a impor um limite o ilimite. Os limite são sempre a forma de dividir, e são a causa da segregação como já vimos, trata-se sempre de uma questão de escala. Agora, o objetivo é utilizar o limite, e transformá-lo num contra-limite, em que contra vem do latim, e significa oposição e contrariar. Neste momento passarmos a utilizar esse limite para o contrariar a sua utilização, passamos então a opormo-nos ao limite que está a dividir a metropolis, e utilizá-lo como um limite que o seu propósito não é dividir mas sim o oposto, unir. Vamos utilizar então o limite para criar a inclusão, abrir a cidade a todos aqueles que tentam entrar, e tornar esse limite num espaço político, o espaço que não tem espaço na nova metropolis. Esse espaço é o entre-lugar da cidade. Um lugar de relação, de corpos que se cruzam e interligam, um espaço não semi-privado, como o podium, mas sim agora um espaço político, como o espaço do edifício de Mies van der Rohe. Com a atitude do podium de criar uma relação da arquitetura com a cidade, e o espaço civitas, que transponde o urbs, infringimos e transgredimo a norma através da exceção. Posto isto, temos a oportunidade de devolvermos o espaço político ( civitas) à cidade, pelo qual as reivindicações são feitas. O Ocuppy Wall Street já não precisa de percorrer espaços, da praça de Tahrir a Manhattan, porque hoje encontra um espaço que deixa de ocupar, mas, que tem como propósito esses direitos, uma igualdade não dos 1% da sociedade mas sim dos 100%. A cidade volta a ser civitas, onde o objetivo é um bem-estar comum, uma cidade justa e a discussão e relação entre os habitantes da cidade, pois
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a diversidade é que faz uma cidade (Jacobs, 2009). O espaço político, que utiliza os limites para quebrar o limite da urbanização, é absorvido pela barreira, que a relação e a confluência de corpos é o importante e surge uma mudança de atitude. Assim este espaço transformase no entre-lugar. Um espaço onde já não podemos voltar ao lugar (relacional) de Augé (1992), mas que também que não podemos ficar no não-lugar (não-relacional) de Augé (1992), o espaço que representa não só o caminho mas também não só um objetivo, um espaço de intersecção, onde os dois lugares importam e são imprescindíveis. Um espaço que, hoje, a necessidade se torna no objetivo, desfragmentar a cidade, e que o espaço se mantém vivo por eventos. Espaços onde as pessoas se conectam, onde podem procurar as suas reivindicações, mas acima de tudo que o homem pode utilizar livre de um limite, que outrora limitava a sua entrada. O lugar que começou com a interseção e relação de dois homens, agora, transforma-se no entre-lugar a relação e intersecção da multidão da cidade. Desta forma a finalidade não é agora utilizar os edifícios como massas, cidades dentro da cidade, mas sim utilizar o significado de artefacto urbano. Em que Aldo Rossi (1984) define que a cidade são fragmentos urbanos que se ligam e relacionam na história, no espaço e no tempo, cujo pretexto é provar e contrariar as estruturas isotrópicas e os enclaves. Utilizar o objeto arquitetónico e o espaço urbano, ou seja a cidade, não como elementos separados, mas sim como elementos interligados. Numa barreira civista, unida e única, a generecidade das massas é interrompida, por uma ligação dos edifícios ao espaço urbano, e tornam-se todos na exceção que escapa à norma. Um conhecimento, um produto em que todos nos tornamos produtos, um produto que finalmente se encontra ilimitado, a passagem de conhecimento descobre o seu espaço. Uma cidade em que paradigmas se desvanecem, pois retiramos o elemento oposto e acabamos com a necessidade de oposição, aniquilamos um, e a balança económica fica sem peso de medida, torna-se inútil e o resultado é uma sociedade que já não tenta igualar o desigual, mas que acaba com o conflito, e o igual é o único que resiste. A muralha do conhecimento é então elevada, para retirar o limite ao solo da cidade e as favelas ganham o direito à cidade, e invadem-na. As massas genéricas são possuídas pela informalidade das mesmas, pela identidade e cultura. A barreira transforma-se, agora, no
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espaço civitas, de encontro e a cidade numa Open Civitas. Apesar de elevarmos o muro que agora se transformou no espaço de encontro, de discussão, Civitas, continua a limitar até que ponto os favelados têm direito à cidade. Pois esta barreira do conhecimento segrega, agora, verticalmente a cidade, da mesma forma que referimos anteriormente no projeto de Hilberseimer, Vertical City, a laje segregava os espaços e dividia a cidade no espaço habitacional e no económico/trabalho. A resposta é, neste instante, o limite, o espaço político ultrapassar não só o limite horizontal da cidade mas também o limite vertical, para que a cidade não se volte a polarizar e a segregar espacialmente. Então a Open Civitas é a premissa da nova metropolis, onde o muro do conhecimento não cria segregação, nem limite, dado que passa a ergue-se até ao ponto mais alto da cidade, acima de todas as torres, tornando o espaço civitas por fim mais importante que o urbs, como no início da cidade romana. As favelas elevam a barreira do conhecimento até ao Céu. O espaço comum é verticalizado e só agora a metropolis deixa de estar limitada, transforma-se numa plena Open Civitas. Se a muralha no solo era um espaço de conflito, porque tínhamos oposição, o desfecho é verticalizar a muralha ao céu, onde já nada se opõem. Torna-se o momento em que o conhecimento se tornou acessível pelo espaço comum/ político a todos e que a arquitetura se liga através desse espaço à cidade, e agora utilizam o limite da cidade para a ilimitar. Um espaço acessível a todos através dum limite. Simbolicamente o civitas atingiu o seu auge, está no topo, e o 1% da sociedade passa, agora, a ser o centro do civitas do homem, a piramide social não se inverte, mas deixa de existir. A nova cidade materializa a sua heterotopia, através de uma Open Civitas. A diversidade descobre o espaço de encontro. Um espaço de pessoas com um direito, mais que um direito uma realidade, tem acesso a uma cidade justa, que segundo Leonie Sandercock, em Towards Cosmopolis, “uma sociedade inclusiva, vive onde a indiferença não é tolerada, mas sim tratada com respeito e reconhecimento.”. Não é preciso criar uma exceção da cidade, a cidade torna-se na exceção, no momento em que devolvemos o espaço civitas à cidade, passa a conetar o espaço urbano com a arquitetura. Agora, a excepção de cidade é utilizada como um tipo, não como modelo mas sim como ideia, e reproduz-se nas metropolis, nos seus diferentes lugares. Que vemos agora, da mesma maneira que olhamos para um espelho, representam vários espaços apenas num. Assim nasceu a Genopolis.
MANIFESTO VISUAL
«A century during which the vast majority of the world’s population will have to live in urban environments cries out for images of the good city. (…) And city-builders need not only blueprints for their work, but guiding, normative images (…) imagine a future that departs significantly from what we know to be a general condition in the present. It is a way of breaking through the barriers of convention into a sphere of the imagination where many things beyond our everyday experience become feasible» Friedmann 2000: 462-464
em ordem: 55. CENÁRIO 1 56. CENÁRIO 2 57. CENÁRIO 3
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MURO DO CO
ONHECIMENTO
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OPEN
CIVITAS
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Nasceu a
a GenoPolis...
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F.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Com este trabalho, através da crítica e da análise de acontecimentos na história, foi possível perceber a razão pela qual as cidades e os lugares, progressivamente, se estão a tornar mais homogéneos e, desse modo, genéricos. Não só as cidades, mas também nós mesmos cada vez mais parecidos uns com os outros. O mundo acusa a globalização de ter criado uma cultura universalizada e homogénea. Deste modo a análise dos lugares e dos não-lugares levou-nos à identificação de um entre-lugar, que nos traz esperança de um mundo onde as pessoas se voltam a relacionar. Um mundo que não é sem-identidade, mas sim que tem uma não-identidade, pois somos individualizados da mesma forma e, apesar de parecer que estamos a perder cultura, tradição ou costumes, na realidade, quando impomos uma não-identidade é inevitável que certas coisas se percam pelo caminho. Num mundo em que gradualmente temos cada vez mais as mesmas experiências repetitivas, experiências de grandes fluxos, em que nos é implantada na cultura um individualismo e uma cultura consumista, surge o entre-lugar. Este entre-lugar caracteriza-se por uma intersecção do lugar com o não-lugar, um espaço intermédio que tenta recuperar o relacionamento do lugar e utiliza o objetivo existente o não-lugar. O entre-lugar é um espaço que surge numa mudança de atitude, mais colectiva e menos individualista, que nos relembra uma história que Bauman narra: o que nos distingue dos animais é que, na nossa sociedade, uma pessoa deficiente têm capacidade para sobreviver, pois temos compaixão e cuidado com as pessoas ao nosso redor, em que “a preocupação contemporânea está toda aí: levar essa compaixão e esse cuidado gentil para todas as esferas do planeta. Sei que gerações precedentes já enfrentaram esta tarefa, mas vocês terão de prosseguir nesse caminho, gostem ou não, a começar pela tua casa, e pela tua cidade - e já! Não consigo pensar em nada mais importante que isso. É por aí que devemos começar.” (Bauman, 2005:88). Desta forma o entre-lugar é um novo espaço comum, que tenta devolver à cidade o espaço Civitas, o espaço onde se dialoga em prol de um bem-estar comum, um espaço político de tomada de consciência e decisões, que despareceu com o reaparecimento do Urbs . O espaço do “eu”, do “ele”, do “nós” e do “eles”, um espaço de todos. Conseguimos investigar a razão pela qual as cidades chegaram a este ponto, que consideradas não-lugares. A definição etnológica da cidade evolui de civitas, um espaço político, para urbs , um espaço material. Essa evolução deu-se com uma necessidade de expansão que, devido à revolução industrial necessitar de trabalhadores, dispunha de graves problemas de habitação, de congestão e de salubridade. A resposta foi o aparecimento do urbanismo, como forma de expandir a cidade para responder aos problemas. As metropolis tornavam-se os lugares mais requeridos. A sociedade de consumo surge como uma maneira de planear o urbano através dos promotores, que a única preocupação é o lucro da cidade. Já não se vendiam só imóveis, mas sim o urbanismo, que trazia consigo a felicidade na vida quotidiana, encontrávamos textos e publicidades como “um
158 CONCLUSÕES FINAIS F
novo estilo de vida” (Fainstein, 2005:5), a sociedade de consumo tornaram-se ordens, onde imperava a ordem de ser feliz. As metropolis cresciam sem precedentes e urbanizavam-se a uma velocidade enorme. Conseguimos identificar a chegada às cidades globais, que através da evolução tecnológica, tornaram-se no último organismo identificado da cidade. As cidades globais tornaram-se num estatuto a atingir, uma imagem de uma cidade para obter investimento e para poder participar na rede da sociedade de conhecimento. Estas cidades tornaram-se cidades centrais numa sociedade de conhecimento que se baseia na troca de informação e serviços, onde o homem torna-se o produto. Dessa forma o seu conhecimento e a partilha do mesmo com outros sujeitos serve para criar e aprender coisas para gerar inteligência. Essa inteligência utiliza-se nas tecnologias e nos serviços, com o intuito de gerar economia, e consequentemente lucro. A urgência de pertencer a esta rede levou-nos a perceber que a cidade genérica surgiu desta necessidade de pertença. O objetivo tornou-se, então, criar um tipo de cidade global, não na sua definição de ideia, mas aqui enquanto modelo ou objeto de reprodução, onde estas cidades começam a competir entre si para atingir o estatuto de Cidade mais Global, sendo a consequência mais grave o facto de se terem tornado, afinal, em Cidades Genéricas. Percebemos que este fenómeno acontece porque, além de formarem pontos nodais numa rede, o urbanismo e o modernismo universalizaram e standerizaram não só a vida, mas também os cidadãos e a cidade, abrindo caminho para as cidades genéricas de hoje em dia. A economia prevê um conjunto de normas através do urbanismo que permitem, para um maior lucro, que as regras prevaleçam e a unicidade e ligação do edilício arquitetónico à cidade desapareçam. A cidade torna-se um conjunto de massas, uma Urban Fabric, num espaço formal que se traduz numa grelha urbana. A necessidade de pertencer à rede de conhecimento levou-nos a entender que a cidade genérica surgia, assim, desta necessidade. Restam, então, no mundo cidades que se parecem com outras cidades, mares urbanizados. Após observarmos esta ligação intrínseca entre as cidades globais e genéricas, analisamos e identificamos os problemas que a nova metropolis estava a sofrer. Observamos o porquê das pessoas estarem a ser expulsas e não terem a acesso à cidade. Identificamos que hoje as cidades sofrem dum processo de gentrificação, através da centralidade formada pela sua ligação a uma rede económica Global. Pertencer ou não pertencer à cidade define um acesso a uma economia de conhecimento. O facto da economia ter sido trocada, na transição dos produtos para serviços e pessoas, levou à polarização social extrema, onde apenas pessoas especializadas têm acesso a esta rede. As pessoas são expulsas e empurradas para fora desta centralidade, e forma-se uma barreira não física mas sim social na cidade, que se reflete no rendimento auferido. A cidade muda o seu modus operandi , o sistema muda e a economia permite que exista uma maioria da classe inferior a ser considerada “descartável”, ou seja, a segregação passa de incorporação para expulsão desta classe que, por não ser uma classe especializada, não corresponde às necessidades da cidade informatizada, onde os serviços necessitam de trabalhadores especializados. Conseguimos identificar e atribuir um significado à GenoPolis como a metropolis do século XXI, o último organismo da cidade, uma cidade anel. A GenoPolis é uma cidade genérica que polariza a sociedade, excluindo a classe inferior. Fragmenta a cidade em espaços, fecha-se uma certa parte da população através de uma muralha de conhecimento, onde o conhecimento não chega à classe que se encontra fora da muralha, assim como a cidade Polis Grega o fez. Temos então um paradigma de classes, que simbolizam o pertencer ou não à GenoPolis. Nos países em que a revolução industrial se sucedeu mais tardiamente, a situação é mais extrema, onde é possível identificar um movimento genérico de formação de
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Favelas. Nos países desenvolvidos o processo existe, mas a condição dos expulsos não é tão descriminatória. Nos países em desenvolvimento a discriminação e a desigualdade são extremas. A cidade sofre de um sistema que privatiza e restringe o acesso aos espaços e retiram o direito à cidade, de todos. Dentro da discriminação existe ainda marginalidade. As pessoas começam a ser expulsas das favelas devido ao seu valor imobiliário. Os “ilegais” são expulsos porque não têm direito a um espaço que foi adquirido ilegalmente, pois analogicamente, seria a mesma coisa que oferecer uma recompensa a um criminoso. Uma sociedade que é utilizada pela economia, como forma de investimento dos seus excedentes, destroem as favelas para ter mais solo e chegamos ao extremo. As pessoas, os “ilegais”, não têm o direito ao solo segregado que a cidade outrora já permitiu, o fundamento é a privatização de espaço por investimentos. Os “favelados” ficam apenas com um pertence o seu próprio corpo e, hoje, tomamos repercussões diferentes, a sociedade cria pessoas sem acesso a um teto. Nestas cidades estudadas, constatamos que não existem pessoas ilegais, existem sim pessoas, assim como não há pessoas genéricas, bem como não devem haver cidades iguais. Deve haver sim um mundo mais igual, onde todas as pessoas devem ter os mesmos direitos e o mesmo acesso que nós (pessoas de países desenvolvidos). A força está na união dos 99% que desejam um mundo diferente e que pensam em mais do que lucro. Pessoas com empatia, o poder de nos pormos no lugar dos outros, que têm o poder de desejar mais pelos outros, pelo 1/3 da população que sofre de segregação urbana e é excluída da sociedade, que deseja o mesmo que nós. Um acesso a um mundo livre e aberto a todos. O impedimento de resolver os problemas, como nos mostra a história, deve-se à falta de contacto público e segurança que causam a segregação (Jacobs, 2009). Podemos criar habitações colectivas em bairros sociais, mas apenas fugimos ao problema e a sua eventual permanência é inevitável. As reivindicações das pessoas pela cidade continuam a ser protestadas. A tolerância e a oportunidade para aparecerem grandes diferenças só é possível quando a cidade permite convivência civilizada, com diversidade, uma vez que só edifícios não fazem uma cidade (Jacobs, 2009). Por conseguinte e mediante o conceito de espaço heterotópico de Focault (1966), a GenoPolis é uma heterotopia, um espaço que representa muitos espaços, como um teatro. Só que neste caso sofre de um problema de desigualdade e segregação social, há já muito tempo. Dá-se uma necessidade de se elaborar uma critica à sociedade atual. A heterotopia não materializada da GenoPolis, tem como objetivo criar uma utopia localizada, através da crítica à metropolis atual onde surge, então, um manifesto, uma declaração pública dos problemas da GenoPolis, que tem como objetivo materializar a heterotopia, nunca materializada por Focault. Surge então uma utopia localizada por meio do manifesto, de uma cidade mais justa e livre que deixa de excluir e passa a incluir. A parede do conhecimento que hoje separa, é utilizada como um contra-limite, e adapta-se para servir como limite que devolve o espaço civitas à cidade. Surge da mesma maneira que o lugar, onde duas pessoas distintas se cruzam, formam uma encruzilhada e um ponto de centralização que simboliza uma relação entre os homens. Agora uma multidão de pessoas cruza-se no entre-lugar e a intersecção dos seus caminhos dá novamente ênfase ao civitas, onde a confluência de pessoas cria novamente uma centralização e uma relação entre a multidão. Este limite sobe até ao ponto mais alto da cidade e esta fica finalmente aberta. As favelas pela sua informalidade possuem as torres genéricas e a cidade deixa de estar segregada, fragmentada e genérica. O civitas retoma o seu lugar enquanto espaço de todos e a reivindicação deixa de ter fundamento. A arquitetura é ligada por este espaço à cidade e, por fim, passa a cidade a ser uma excepção. A heterotopia materializa-se e a utopia da Genopolis morre. A tarefa de projetar a próxima metropolis não se trata de reduzir a arquitetura
160 CONCLUSÕES FINAIS F
a grandes planos e normas, que criam generecidade e a repetição infinita do mesmo enclave, nem por utilizar espaços semi-privados que segregam a cidade através de um limite, mas sim por criar diversidade e utilizar os seus habitantes como parte de um grande sistema, onde não existe apenas 1% da sociedade mas sim 100%. Desta forma o trabalho foi concluído com a vontade inicial, de criar uma manifestação de uma cidade acessível e justa, não apenas a alguns mas sim a todos. A forma de crítica foi concebida através de uma análise da história da sociedade até aos dias de hoje. O estudo da maneira como o organismo da cidade e da relação do Homem com o Homem influenciaram o espaço, permitiu identificar os problemas que a relação entre eles nos trazem nos dias de hoje. O manifesto foi bem sucedido, no sentido do desejo inevitável, que apesar de termos sempre que conviver com as desigualdades, também de certa forma não devemos “tolerar e desprezar o descuido da vida política e social que é o centro da liberdade. Uma boa cidade seria uma cidade que cuida da sua liberdade, e da sua justiça social” (Friedmann, 2000:8). A pergunta que surge no ponto final e no decorrer deste estudo, é: vamos alguma vez resolver estes problemas ou vão estar sempre fora do nosso alcance? A resposta não é simples, na minha opinião. Cada um de nós tem que começar pela sua definição de sucesso. Mas na minha opinião, em última instância, não se trata do que recebemos, damos ou resolvemos, mas sim naquilo que nos tornamos ao percebermos no processo. Desta forma acabamos como começamos, no sentido em que o propósito não é ir de um ponto a um objetivo, como Augé refere que acontece nos não-lugares. Mas, sim conjugar o caminho que surge nos lugares, com o objetivo dos não-lugares e habitar os entre-lugares. Nesses entre-lugares onde aprendermos e mudamos com a jornada, nem que seja a uma quantidade muito limitada de pessoas, incluindo-nos a nós próprios, já é um início de sucesso e uma tentativa de transpor uma norma de desigualdade e injustiça, predominante na sociedade atual. Dessa forma perceber e fazer perceber os problemas do mundo às pessoas que nos rodeiam e mudar o mundo um bocadinho de cada vez, na maneira de pensar e ver a sociedade pensamento, já se tornou no começo de uma mudança.
161 GENOPOLIS
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F
GENOPOLIS
CONCLUSÕES FINAIS
ÍNDICE DE FIGURAS 165
166 ÍNDICE DE FIGURAS
1
DIAGRAMA DE IDENTIDADE: AUTOR
2
DIAGRAMA DE IDENTIDADE: AUTOR
3
DIAGRAMA DE LUGAR ANTROPOLÓGICO: AUTOR
4
ESPAÇO DE FLUXOS DE LAGOS: https://www.google.com/ search?q=LAGOS+NIGERIA+FLUXO+DE+PESSOAS&tbm=isch&source=lnt&tbs=isz:l&sa=X&ved=0ahUKEwiysv_y0ZrmAhWJ2BQKHX69BzUQpwUIIw&biw=1235&bih=611&dpr=2.2#imgrc=TrKA-I3AUaATKM:
5
DIAGRAMA DE ENTRE LUGAR: AUTOR
6
O ESPAÇO ENTRE OS LUGARES: https://photogrist.com/manipulations-hansruedi-ramsauer/
7
DIAGRAMA/TABELA DE CIDADES GLOCAIS: AUTOR
8
PROJETO HAUSSMANIANO: https://www.google.com/search?biw=1235&bih=611&tbm=isch&sa=1&ei=s_XmXcKLF_2ZjLsPxuy50A0&q=haussmann+paris&oq=HAUSSMA&gs_l=img.3.1.0l3j0i3 0l7.198238.200547..201811...0.0..0.99.686.9......0....1..gws-wiz-img.......0i67.8F1PWJL1VyI#imgrc=OJUIPkz5yrG34M:
9
PLANO DE CERDÀ PARA BARCELONA: https://www.google.com/ search?q=CERDA+PLAN+OLD&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ved=2ahUKEwi50NHy0prmAhUx-YUKHY8uBgIQ_AUoAXoECAsQAw&biw=1235&bih=611#imgrc=ey7ZkTrAZBf9aM: BARCELONA, VISTA AÉREA
10
BARCELONA, VISTA AÉREA: https://www.google.com/search?tbm=isch&q=BARCELONA+MALHA+FOTO&spell=1&sa=X&ved=0ahUKEwjwwo2K05rmAhUGmRQKHcWUA-oQBQhFKAA&biw=1235&bih=611&dpr=2.2#imgdii=oai7e_vgDszu_M:&imgrc=uBaylIVmNAK65M:
12
O INÍCIO DE UMA NOVA ERA - NEW YORK, METROPOLIS: NEW YORK, METROPOLIS: https://www.google.com/search?biw=1235&bih=611&tbm=isch&sa=1&ei=pPXmXb2NNYG3gwfHwIzwAQ&q=LUNCH+AT+SKYSCRAPER+NEW+YORK+TIMES&oqCSDVSDVNKNAJVNKF
13
ÁREA METROPOLITANA DE LONDRES: https://www.google.com/ search?biw=1235&bih=611&tbm=isch&sa=1&ei=9vbmXaLqII_gU9z6tJAJ&q=METROPOLIS+PICTURE+FROM+SATELLITE+LONDON&oq=METROPOLIS+PICTURE+FROM+SATELLITE+LONDON&gsCAc&uact=5#imgrc=d978kQMzO-mylM:
14
AXONOMETRIA DA VILLE RADIEUSE, LE CORBUSIER: https://www.google.com/search?biw=1235&bih=611&tbm=isch&sa=1&ei=AffmXeW0BIGBjLsP1tm-yAw&q=AXONOMETRIA+DA+VILLE+RADIEUSE%2C+LE+CORBUSIER&oq=AXONOMEjbvkM78ktmA&ved=0ahUKEwilufDz15rmAhWBAGMBHdasD8kQ4dUDCAc&uact=5#imgrc=fjN-RwO3eSF74M:
15
IMPLOSÃO DE PRUITT-IGOE: https://www.google.com/ search?biw=1235&bih=611&tbm=isch&sa=1&ei=JffmXa6MFqWKjLsPhLad8Ao&q=IMPLOS%C3%83O+DE+PRUITT-IGOE&oq=IMPLOS%C3%83O+DE+PRUITT-IGOE&gs_l=img.3...25369. 2536CAc&uact=5#imgrc=Xi50fdsnzxk_bM:
16
SAN FRANCISCO COMO CENTRALIDADE: https://www.google.com/ search?tbm=isch&q=SAO+FRANCISCO+METROPOLE&spell=1&sa=X&ved=0ahUKEwiditOk2JrmAhWWBWMBHYVgBiwQBQhLKAA&biw=1235&bih=611&dpr=2.2#imgrc=6ibNulLo9s-CuM:
17
REDE DE CIDADES GLOBAIS: https://www.google.com/search?biw=1235&bih=611&tbs=isz%3Al&tbm=isch&sa=1&ei=offmXarmF4ewUom8uuAE&q=DIAGRAM+REDE+DE+CIDADES+GLOBAIS&oq=DIAGRAM+REDE+DE+CIDADESW5O8Y&ved=0ahUKEwjquqnA2JrmAhUHmBQKHQmeDkwQ4dUDCAc&uact=5#imgrc=-6jrP6eCDwu5HM:
18
DEPRESSÃO ECONOMICA, 24 DE OUTUBRO DE 1924: https://www.google.com/search?biw=1235&bih=611&tbs=isz%3Al&tbm=isch&sa=1&ei=EvjmXZKiCuqjgwfyr5L4AQ&q=OCTOBER+24+1924+NEWSPAPER+DEPRESSION&oq=OCTOBER+2gCAc&uact=5#imgrc=ugPv8O7l2MBi1M:
19
FAVELA DE MUMBAI : https://unequalscenes.com/
20
TRANSIÇÃO DE PRODUTO INDÚSTRIA /CONHECIMENTO: https:// www.google.com/search?q=BOLSA+DE+VALORES&source=lnms&tbm=issearch?biw; FORD+COMPANY+PRODUCTION&ogws-wiz-img.......0i67j0j0i30j0i19j0i8i30i19.CAc&uact=5#imgrc=uUGdBczFQ0WqxM:
167
MAPA DE REDES DE TRANSPORTES ,NA CONEXÃO NO MUNDO,1925: World Transport map: https://www.antiquemapsandprints.com/worldtransport-distance--time-chart-from-london-standard-times-1925-map353930-p.asp
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11
168 ÍNDICE DE FIGURAS
21
DIAGRAMA DE ESCALA DA CIDADE GENÉRICA: AUTOR, através de imagem: https://www.google.com/search?biw=1235&bih=611&tbm=isch&sa=1&ei=O_nmXY2rFI27gwfg4Z6gDw&q=GENERIC+CITY&oq=GENERIC+CITY&gs_lKHeCwB_QQ4dUDCAc&uact=5#imgrc=LiE4DT-2Vwx_lM:
22
SAN FRANCISCO: https://www.google.com/search?biw=1235&bih=611&tbm=isch&sa=1&ei=RfnmXf3dHuqjgwfyr5L4AQ&q=SAN+FRANCISCO&oq=SAN+FRANCISCO&gs_l=img.3..0i67l4j0j0i67j0l4.2R7vWEmrbQimM:
23
URBAN FABRIC, EXEMPLO: PLANTA DE BARCELONA: https://www. google.com/search?biw=1235&bih=611&tbm=isch&sa=1&ei=i_nmXZe4LoGkgwe23q6gBQ&q=BARCELONA+PLAN+&oq=BARCELONA+PLAN+&gs_l=img.3..0i19l2j0hUB0uAKHTavC1QQ4dUDCAc&uact=5#imgrc=Zs5ws4wIt5Is5M:
24
GHOST CITIES: https://www.google.com/search?biw=1235&bih=611&tbm=isch&sa=1&ei=kPnmXbv7D4vUUaT-vZAO&q=GHOST+CITIES+IMAGES&oq=GHOST+CITIES+IMAGES&gs_l=i mg.3...57410.63634..63709...7.0..0.104.1236.15j1......0....2j1..gws-wiz-img....... 0j0i7i30j0i30j0i5i30j0i5i10i30j0i19j0i30i19j0i5i30i19j0i5i10i30i19j0i8i30
25
MANIFESTO - CIDADE GENÉRICA: AUTOR
26
NON-STOP CITY, ARCHIZOOM (1970), AUTOR, ATRAVÉS: https:// www.google.com/search?biw=1235&bih=611&tbm=isch&sa=1&ei=0fnmXeSgDq2IjLsPnLGF4Aw&q=NON-STOP+CITY%2C+ARCHIZOOM+%281970%29%2C+AUTOR%2C+ATRAV%C3%89S%3A&oq=NON-STOP+CITY%2C+ARCHI
27
THE CITY OF THE CAPTIVE GLOBE, REM KOOLHAAS (1972): https://www.google.com/search?q=THE+CITY+OF+THE+CAPTIVE+GLOBE,+REM+KOOLHAAS+(1972)&source=lnms&tbm=isZOOM+%2AcwQ4dUDCAc&uact=5#imgrc=w8oCVayPUCM8MM:
28
THE CITY OF THE CAPTIVE GLOBE, REM KOOLHAAS (1972): https://www.google.com/search?q=THE+CITY+OF+THE+CAPTIVE+GLOBE,+REM+KOOLHAAS+(1972)&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ved=2ahUKEwjUh-f02prmAhXByYUKHUzvDuMQ_AUoAXoECAsQAw&biw=1235&bih=611#imgrc=KPUinbAW9oFN_M:
29
DIAGRAMA DO SEAGRAM BUILDING, MIES VAN DER ROHE (1958): AUTOR
30
SEAGRAM BUILDING, MIES VAN DER ROHE (1958): https://www.google. com/search?biw=1235&bih=611&tbm=isch&sa=1&ei=KvrmXZXuDuHRgwe_yLj4Cw&q=SEAGRAM+BUILDIg.3...139405.139405..140157...0.0..0.85.15 2.2......0....2j1..gws-wiz-img.h5xXu5J2qGQ&ved=0ahUKEwiVq9z12prmAhXh6OAKHT8kDr8Q4dUDCAc&uact=5#imgrc=-vI-OqF4b4MLMM:
32
METROPOLIS, FRITZ LANG (1927): https://www.google.com/ search?biw=1235&bih=611&tbm=isch&sa=1&ei=t_rmXZqYDtCdjLsPh56BmA0&q=METROPOLIS%2C+FRITZ+LANG+%281927%29&oq=METROPimg.......0i8i30.IYKr7oVtc2Q&ved=0ahUKEwjaz_m425rmAhXQDmMBHQdPANMQ4dUDCAc&uact=5#imgrc=D9QxugRtaghRCM:
33
METROPOLIS, RACIONALIDADE, FRITZ LANG (1927): https://www.google.com/search?biw=1235&bih=611&tbm=isch&sa=1&ei=t_rmXZqYDtCdjLsPh56BmA0&q=METROPOLIS%2C+FRITZ+LANG+%281927%29&oq=METROPOLIS%2C+FRITZ+LANG+%2CAc&uact=5#imgrc=ZnK22Bao-C4_LM:
34
ILUSTRAÇÃO, DE HARVEY WILEY CORBETT E: https://www.google. com/search?biw=1235&bih=611&tbm=isch&sa=1&ei=4vrmXdXaMI6kgweq7JTIDQ&q=ILUSTRA%C3%87%C3%83O%2C+DE+HARVEY+WILEY+CORBETT+E+&omg.3...66483.66483..67154...0.0..0.145.289.0j2......0... .2j1..gws-wiz-img......5uUxq4FEM:
35
ILUSTRAÇÃO,HARY PETTIT: https://www.google.com/search?biw=1235&bih=611&tbm=isch&sa=1&ei=X_vmXdnFC4S0gweYkomoBg&q=ILUSTRA%C3%87%C3%83O+KINGS+NEW+YORK+CONGESTION&oq=ILUSTRA%C3%87jNDw&ved=0ahUKEwiZ8YSJ3JrmAhUE2uAKHRhJAmUQ4dUDCAc&uact=5#imgrc=OGKilGN33w8njM:
36
VERTICAL CITY, LUDWIG HILBERSEIMER (1924): https://www.google. com/search?biw=1235&bih=611&tbm=isch&sa=1&ei=ZvvmXYTyAdHggwe8lpn4Cw&q=VERTICAL+CITY%2C+LUDWIG+HILBERSEIMER+&oq=Vgws-wiz-img.S-4VplNT6Qc&ved=0ahUKEwiEvaaM3JrmAhVR8OAKHTxLBr8Q4dUDCAc&uact=5#imgrc=XpwYvveNhtE2fM:
37
PLANTA DA VILLE RADIEUSE, LE CORBUSIER (1930): https://www. google.com/search?biw=1235&bih=611&tbm=isch&sa=1&ei=ovvmXfqLG46mUPnFgbgM&q=PLANTA+DA+VILLE+RADIEUSE%2C+LE+CORBUSIER+&oq=PLANTA+DA+VILLE+RADIEUSE%2C+LE+CORBUSIER+&gs_ l=cQ4dUDCAc&uact=5#imgrc=AyxkDvgw30JBUM:
38
CIDADE GENÉRICA, VERTICAL CITY, LUDWIG HILBERSEIMER (1927): https://www.google.com/search?biw=1235&bih=611&tbm=isch&sa=1&ei=7_ vmXbfkCreZjLsP8bObMA&q=VERTICAL+CITY%2C+LUDWIG+HILBERSEIMER+%281927%29&oq=VERTICAL+CITY%2C+LUDWIG+HILBERSEIMER+mTFI&ved=0ahUKEwj3l9nN3JrmAh
39
ESTUDO TIPOLÓGICO, JEAN-NICOLAS-LOUIS DURAND: https://www. google.com/search?biw=1235&bih=611&tbm=isch&sa=1&ei=-fvmXbijHJmGjLsP87SyyAg&q=ESTUDO+TIPOL%C3%93GICO%2C+JEAN-NICOLAS-LOUIS+DURAND&oq=ESTUDO+TIPOL...OaDIkQ4dUDCAc#imgrc=DeSicNx3I-xRDM:
40
ARTEFACTO URBANO, ALDO ROSSI (1984): https://www.google.com/ search?biw=1235&bih=611&tbm=isch&sa=1&ei=ZPzmXc-PHb3kgweCt6C4DA&q=%2C+ALDO+ROSSI&oq=%2C+ALDO+ROSSI&gs_lMcQ4dUDCAc&uact=5#imgrc=yTCtBvGruqYuOM:
169
MANIFESTO PODIUM
GENOPOLIS
31
170 ÍNDICE DE FIGURAS
41
DIAGRAMA DOS MOVIMENTOS DE FORMAÇÃO DAS FAVELAS: AUTOR
42
HOMENS ENGAIOLADOS: https://www.google.com/search?biw=1235&bih=611&tbm=isch&sa=1&ei=v_3mXcaxBq6GjLsP9JadoAk&q=CAGE+MAN+MUMBAI+BAD+LIVING+CONDITIONS&ofurD__8k&ved=0ahUKEwiGjfWq3prmAhUuA2MBHXRLB5QQ4dUDCAc&uact=5#imgrc=jxSEpUyTl_ LR0M:
43
VILA MISÉRIA, MEXICO CITY: https://www.google.com/search?biw=1235&bih=611&tbm=isch&sa=1&ei=_P3mXeHMEoyvUra_jdgM&q=VILA+VILA+MIS%C3%89RIA%2C+MEXICO+CITY+FAVELAS&oq=VILA+VILA+MIS%C3%89RIA%2C+MEXICO+CITY+FAVELAS&gs_l=i mg.3...1804.3544..3664...0.0..0.88.692.10......0....1..gws-w
44
FAVELA, RIO DE JANEIRO: https://www.google.com/search?q=FAVELA,+RIO+DE+JANEIRO&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ved=2ahU
45
IMAGEM AÉREA FAVELA DE MUMBAI: https://unequalscenes.com/
46
MANIFESTO GENOPOLIS, ILUSTRAÇÃO AÉREA : AUTOR
47
MANIFESTO GENOPOLIS, ILUSTRAÇÃO AÉREA II: AUTOR
48
MANIFESTO GENOPOLIS, ILUSTRAÇÃO EM VISTA : AUTOR
49
DESIGUALDADE EXTREMA: urgugallen.unequal,instagram.safoagejag. afasn=1235&bih=611&
50
FRAGMENTAÇÃO DA CICADA MUMBAI: https://unequalscenes.com/
52
OCCUPY WALL STREET (2016): https://www.google.com/ search?biw=1235&bih=611&tbm=isch&sa=1&ei=If_mXZeoLMqCjLsPjcOF2AU&q=OCCUPY+WALL+STREET+%282016%29&oq=OCCUPY+WALL+STREET+%282016%29&gs_l=i mg.3...148934.148934..149929...0.0..0.96.182.2..
53
MANIFESTO WALL OF KNOWLEDGE, AXONOMETRIA: AUTOR
54
DIAGRAMA DE MATERIALIZAÇÃO DA GENOPOLIS: AUTOR
55
CENÁRIO 1: AUTOR
56
CENÁRIO 2: AUTOR
57
CENÁRIO 3: AUTOR
171
FRAGMENTAÇÃO URBANA CHINA: https://unequalscenes.com/
GENOPOLIS
51
172
APÊNDICE
173 1. Gráfico Da População Urbana 2008. Departamento das Nações Unidas para Assuntos Econômicos e Sociais. (Claro: Taxa Urbana, Escuro: Taxa Rural)
GENOPOLIS
https://www.un.org/development/desa/publications/graphic/world-urbanization-prospects-2018-urbanization-around-the-world
2. Tabela de oposição de Lugares e não-lugares, segundo o livro Augé (1992), elaboração própria.
174 APÊNDICE
3. Tabela de população urbana a viver em favela. (Davis, 2006:34)
4. Tabela das maiores favelas do mundo, intituladas de “megafavelas” (Davis, 2006:36)
175 GENOPOLIS
5. Remoção de algumas favelas ao longo dos anos. (Davis, 2006:108)
6. Mapa de privatizações na cidade de Londres, ilustrado por Saskia Sassen numa entrevista em 2015 ao jornal The Guardian. https://www.theguardian.com/cities/2015/nov/24/who-owns-our-citiesand-why-this-urban-takeover-should-concern-us-all