Gestão rural edição 6, janeiro, fevereiro e março

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Edição N° 6 - www.affectum.com.br

Jan / Fev / Mar 2015

Sucessão como base da estratégia Case GAP - Genética

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Economia e seus reflexos no agronegócio PÁGINA 10

l i s a r B o n a j o s a e r b o s s e i Royalt ICMS na cadeia produtiva do arroz PÁGINA 6

PÁGINAS 4e5


Gestão Rural

Apresentação

Expediente

A Revista Gestão Rural é uma publicação da Affectum Consultoria. Endereço: Rua Coronel Bordini, 689 \ 502 CEP 90440-001 - Porto Alegre Fone: (51) 3388.8981 Site: www.affectum.com.br Email: affectum@affectum.com.br Diretores Ben-Hur Risso Xavier Sidnei Peres Gonçalves Feliciano Almeida Neto Ricardo Paz Goncalves Daniel Paz Gonçalves Administrador e Coordenador Editorial Luis Carlos Kobielski Filho Jornalista Responsável Ubaldina Prestes Leal- MTB 5181 dinajor.leal@gmail.com Projeto Gráfico Insaith - insaith@insaith.com.br Imagem de capa Dollar Photo Club Quer receber a revista Gestão Rural? Envie um e-mail para: affectum@affectum.com.br com seu nome, endereço e telefone, ou ligue para 51 3388-8981.

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Sempre há espaço para melhorias Nós, da Affectum, entendemos que o sucesso é resultado de um trabalho bem feito. Estamos tentando fazer isso com a Gestão Rural e, felizmente, estamos testemunhando bons resultados: feedback positivo de nossos leitores, bons relacionamentos estão sendo criados ou fortalecidos e, sobretudo, temos tido a oportunidade de aprender bastante. Modestamente, cremos ainda que temos conseguido compartilhar com o público do agronegócio aquilo que entendemos possa agregar ao negócio de cada um. Sempre há espaço para melhorias e, em 2015, estamos buscando-as. Para isso, resolvemos ampliar o conteúdo da revista e criar espaços de colunas fixas. Nossa linha editorial vai ter uma sutil mudança: resolvemos abordar cada vez mais conteúdo de interesse do nosso leitor e cada vez menos falar de nós mesmos, pois nosso objetivo principal é ser referência em informação e conhecimento, sobretudo, em questões jurídicas e tributárias, que estão em nosso DNA. A matéria de capa desta edição tenta dar ao leitor um panorama atual de uma das mais rumorosas batalhas judiciais envolvendo o agronegócio nos últimos anos: o questionamento sobre o pagamento dos royalties sobre as sementes de soja à empresa Monsanto. Como de costume, tentamos trazer uma abordagem isenta e didática da questão. Abordamos, ainda, as perspectivas econômicas para o agronegócio em 2015. A ideia de trazer o tema à revista partiu da análise do relatório econômico 2014 e perspectivas para 2015, elaborado pela assessoria econômica da Farsul. O estudo é leitura obrigatória para quem atua no setor e traz uma radiografia precisa e fidedigna de nossa realidade econômica. Para traduzir o tema aos nossos leitores, convidamos o economista-chefe da assessoria econômica da Farsul, Antonio da Luz, que nos brindou com sua peculiar inteligência e conhecimento. Apresentamos, também, o verdadeiro case de sucesso da GAP Genética, uma secular história de pioneirismo e qualidade na pecuária gaúcha e brasileira. Recebemos João Paulo Schneider da Silva, diretor comercial da GAP Genética em nosso escritório em Porto Alegre, para uma conversa onde conhecemos melhor como a família vem conseguindo atravessar o tempo mantendo o negócio próspero e produtivo. Por fim, estamos recheados de conteúdo, com o qual pretendemos cada vez mais atender ao nosso propósito de informar e orientar nosso público. Aproveitamos para incentivar nossos leitores a continuarem interagindo e se comunicando conosco, pois tal contribuição, ainda que para nos criticar, é sempre bem-vinda e nos ajudará a construir um resultado melhor.

Boa leitura. Ricardo Paz Gonçalves


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Gestão Rural

Índice

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Conteúdo Sempre há espaço para melhorias

Royalties Monsanto e as discussões jurídicas

O ICMS na cadeia produtiva do arroz no RS

GAP - Genética: Gestão, família e negócio

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Agronegócio - Panorama econômico

Como está o Brasil, soja salvadora da pátria? - José Luiz Tejon

Notícias da Affectum

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Jurídico

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Royalties Monsanto e as discussões jurídicas Ricardo Paz Gonçalves

Introdução A rumorosa discussão envolvendo o direito à cobrança dos royalties sobre as sementes de soja RR1 da Monsanto parece não ter fim. Acompanhamos de perto cada movimento desta disputa tendo em vista os imensos reflexos patrimoniais e mercadológicos que dela decorrem. A segurança jurídica é um valor fundamental para o desenvolvimento de um ambiente de negócios estável e confiável. Ninguém quer investir seu capital e seu esforço em um ambiente de negócios sujeito a regras desconhecidas ou imprevisíveis. Essa premissa é fundamental ao desenvolvimento das principais economias de mercado do mundo. Os produtores

rurais, por exemplo, hoje nem tanto, mas em grande medida há alguns anos, viram-se oprimidos pela incerteza da validade de seu direito de propriedade face às constantes investidas do movimento dos trabalhadores sem-terra, cuja ação contava com a leniência do Poder Executivo e, em alguns casos, com o beneplácito do Poder Judiciário. Pois o caso dos royalties da Monsanto é exemplo eloquente de como pode ser complicado fazer negócios no Brasil, face à incerteza quanto à aplicabilidade das leis, muito embora, a nosso sentir, o Poder Judiciário de modo geral tenha agido bem ao julgar a matéria.

O que se discute A primeira coisa a ser dita a respeito do litígio envolvendo produtores x Monsanto é que não se trata de um litígio, mas sim de vários litígios. Relacionamos abaixo, em linguagem simples e

• Quando expirou a patente da RR1 (as ações propostas afirmam que a expiração ocorreu em 2010) ? • É abusiva – por ser excessiva - a cobrança de 2% a título de royalties? • É legal a cobrança na moega para royalties pósplantio? • É legal a reserva de sementes próprias? • Aplica-se ao caso a lei de cultivares, segundo a qual somente a primeira aquisição de sementes poderia ser cobrada pela multinacional, ou a lei de propriedade intelectual, que autoriza a cobrança indefinida dos royalties até que expire a respectiva patente?

didática, algumas das questões que estão sendo discutidas nas ações propostas pelos agricultores contra a empresa:

É preciso dizer a respeito do tema que todas as questões ao lado postas são de significativa complexidade jurídica e, por essa razão, é normal que suscitem decisões divergentes. É o que de fato ocorreu. Em primeira instância, pelo país afora, boa parte dos magistrados reconheceu a expiração da patente e deferiu liminares para suspender a cobrança. Já nos tribunais estaduais, as opiniões começaram a se dividir restando, ao fim, assentado no STJ, ao menos um importante precedente reconhecendo a expiração da patente em 2010.


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Acordos Antes da decisão, a Monsanto buscou produtores de todo o país para firmar junto a eles acordos através dos quais os desoneraria da cobrança dos royalties em troca do compromisso de não contestar em juízo a cobrança em períodos anteriores. A CNA e federações de diversos Estados, entre elas a FARSUL, apoiaram esse acordo e transferiram para o produtor a decisão de comprar ou não a briga. A FAMATO (Federação do Mato Grosso) e diversas Associações de produtores continuaram na briga até que, após a decisão do STJ, a Monsanto decidiu suspender a cobrança dos royalties para todo o país, facultando aos produtores cumprir ou não com o acordo anteriormente firmado. Em uma nova rodada de negociações a FAMATO acordou com a Monsanto o fim da disputa judicial envolvendo a instituição e a empresa. Como parte do pacto, desistiu do processo em troca de um bônus de R$ 18,50 por hectare no pagamento de royalties pela adoção da semente transgênica de segunda geração durante quatro anos. O problema agora é que o Poder Judiciário não definiu em caráter definitivo qual é a lei que se aplica aos direitos da Monsanto sobre a reserva de sementes próprias. Se aplicável, for a lei de cultivares, o produtor não teria de pagar à Monsanto nada sobre essas sementes chamadas de pós-cultivo. Se aplicável for a lei de propriedade intelectual, os royalties seriam devidos. Além disso, há questionamentos acerca da legalidade do sistema de cobrança na moega, onde a indústria fiscaliza para a Monsanto e cobra em nome dela, os royalties pós-produção eventualmente devidos pelo produtor. O site da revista Exame divulgou, em julho de 2014, que o impasse com a Monsanto vinha dificultando o recebimento da soja com a tecnologia RR2 Pro. A indústria teme que haja questionamentos sobre os pagamentos de uma carga já embarcada, por exemplo, com arresto de navios em sua chegada aos portos de destino. Em outubro de 2014, o mesmo site da Exame divulgava que persistia o impasse.

“São Paulo - As grandes indústrias de soja do Brasil ainda não chegaram a um acordo com a empresa de biotecnologia Monsanto, em um impasse que se arrasta há meses, para a cobrança de royalties sobre uma nova variedade de soja transgênica, informou nesta quinta-feira a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove).”

Na época, havia a ameaça de que as principais “trandings” e processadores da soja se recusariam a receber a RR2 que, estima-se, esteja presente em 25% da soja plantada no país. A tendência é de que a Monsanto pague às indústrias para que elas fiscalizem e cobrem os royalties no momento do recebimento do grão.

Júrídico

Mais insegurança Enquanto isso, mais liminares vêm sendo deferidas pelo país em desfavor da empresa detentora da patente da RR2. Recentemente, no oeste baiano, os produtores de soja da região de Luís Eduardo Magalhães (LEM) obtiveram no Tribunal de Justiça a suspensão de duas cláusulas dos contratos de venda da tecnologia Intacta RR2 PRO. São elas que obrigam os produtores a informarem à empresa a existência de sementes reservadas para a reprodução e consequente plantio nas safras seguintes; e a que obriga o produtor a renunciar a eventuais direitos às restituições e indenizações junto à Monsanto, em decorrência de algum problema relacionado à utilização da soja Roundup Ready 1 (RR1). Veja-se que, neste caso, já se fala em questionar não mais a legislação aplicável, mas sim o descumprimento dos acordos firmados pelos produtores. No Mato Grosso, o Sindicato Rural de Sinop obteve também liminar semelhante ratificada pelo Tribunal local, que desonerou os produtores do pagamento de royalties sobre a RR2. Evidente que a empresa não é vítima nessa história. Parece muito claro que ela continuou cobrando os royalties sobre a RR1, mesmo após haver expirado as patentes em 2010. A esse benefício (indevido) a empresa parece destinada a ter que arcar, seja reembolsando mediante desconto comercial a quem com ela acordar, seja judicialmente, repetindo o indébito das safras 2011/2012 e 2012/2013. Já com relação aos seus direitos sobre os royalties da RR2, no caso das sementes reservadas para a reprodução, a nós parece que há certo exagero por parte de nosso judiciário. Acreditamos que é preciso remunerar o investimento no desenvolvimento da tecnologia. Sem isso, o tiro pode sair pela culatra e o êxito nas ações que questionam a cobrança, em longo prazo, podem se reverter em perda de produtividade pela defasagem tecnológica. Uma dificuldade que permeia essa discussão, e que pode ser vista com muita clareza, inclusive em alguns votos de Desembargadores de Tribunais que apreciaram a matéria, é que se está discutindo quem, entre o produtor rural e a multinacional, é moralmente mais virtuoso. Aparenta tratar-se de uma briga entre a mão violenta do capital contra o pobre e oprimido trabalhador rural. Esse tipo de visão, que despreza argumentos jurídicos e técnicos em prol da subjetividade política do juiz, em outras circunstâncias, é a mesma visão que prejudica outros setores – entre os quais os próprios produtores rurais – como ocorre na Justiça do Trabalho, por exemplo, onde o empregador é tido como um vilão inescrupuloso. Em conclusão, essa inacabada batalha judicial envolvendo os royalties das sementes transgênicas de soja deixa várias lições. A primeira delas é que é digna de elogios e aplausos a atuação da FAMATO no imbróglio. Os resultados de seu justo inconformismo beneficiaram produtores de todo o país. O acordo, atualmente contestado por alguns, além de desonerar dos royalties da RR1 ganharam na forma de desoneração sobre a compra da RR2, a justa recomposição sobre os pagamentos indevidos sobre aquela tecnologia, após a expiração da patente em 2010. O que se segue, desde então, nos parece ter mais a atrapalhar do que a beneficiar a agricultura brasileira em longo prazo. Os royalties são a remuneração de quem investe em pesquisa e desenvolvimento. Não creio que precisemos nem de uma legislação que desprotege quem investe em pesquisa e produção, nem tampouco de um Poder Judiciário que nutra ranços ideológicos contra quem prospera através disto. Ricardo Paz Gonçalves


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OPINIAO

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O ICMS na cadeia produtiva do arroz no RS A competitividade do arroz importado A guerra fiscal entre os Estados da federação (guerra dos portos) foi determinante para o Senado Federal ter editado a Resolução 13/2012, estabelecendo a alíquota do ICMS de 4% nas saídas interestaduais com mercadorias importadas do exterior, a partir de janeiro/2013. A medida trouxe restrições para a concessão de benefícios dos Estados na utilização de “portos” de importação. Entretanto, tais mudanças deram melhor competitividade às empresas importadoras de arroz estabelecidas no RS, com reduzida tributação do ICMS, para que pudessem realizar vendas interestaduais do arroz importado, em detrimento do produto cultivado em

solo gaúcho. Frente tal situação tributária, as entidades do setor orizícola mobilizaram-se e obtiveram junto ao Governo do Estado benefícios fiscais para a comercialização do arroz gaúcho e alcançar competitividade no mercado nacional. A indústria gaúcha e o benefício fiscal atual O Estado do RS concedeu às indústrias gaúchas o benefício de redução na base de cálculo, ou seja, diminuiu a carga tributária nas “vendas ou transferências interestaduais de arroz beneficiado de produção própria”. A carga tributária efetiva do ICMS ficou de 7% (sete por cento), quando a alíquota aplicável for 12%, e de 4% (quatro por cento), quando a alíquota aplicável for 7%.

Objetivando esclarecer principais dúvidas de produtores rurais e industriais do arroz, que são constantemente objeto de questionamentos em nosso escritório, reproduzimos uma breve síntese de perguntas e respostas do setor: 1) Nas vendas de arroz em casca do produtor rural para o industrial gaúcho tem de pagar o ICMS? Resposta: Nas vendas de arroz em casca destinadas a estabelecimento industrial, comercial ou de cooperativa, desde que o destinatário tenha firma Termo de Acordo com a Secretaria da Fazenda-RS, aplica-se o “diferimento” (sem o pagamento do ICMS), ou seja, o pagamento do ICMS fica transferido para o adquirente da mercadoria. Entretanto, caberá ao produtor rural buscar informações no site da Secretaria da Fazenda – RS www.sefaz.rs.gov.br, consultando se efetivamente o comprador está listado como integrante das empresas que possuem Termo de Acordo. Na hipótese do destinatário não ser integrante das empresas listadas, deverá o produtor rural realizar o pagamento do ICMS sobre o arroz em casca no ato da venda. Acesso à relação dos Termos de Acordo: https://www.sefaz.rs.gov.br/SAT/TAA-Sel.aspx 2) Como a empresa do setor poderá obter um Termo de Acordo com a Secretaria da Fazenda do RS? Resposta: Empresas do setor orizícola podem manifestar o interesse em receber o arroz em casca do produtor rural com o “diferimento” do ICMS (sem o pagamento) e assim, mediante compromisso de recolhimento do ICMS nas suas vendas ou transferências na forma prevista no Regulamento do ICMS/RS, firmam Termo de Acordo – TDA - com a Secretaria da Fazenda do RS. Para tal, deverá fazer o preenchimento de um formulário padrão, direcionado ao Subsecretário da Receita Estadual, do ICMS.

3) O incentivo fiscal concedido pelo Estado aos industriais de arroz beneficiado é em caráter permanente? Resposta: Não, o benefício atualmente vigente tem validade até 31 de março de 2015. A renovação do benefício de redução na base de cálculo do ICMS fica condicionada a que o total da arrecadação de ICMS das indústrias beneficiadoras do setor, no período de 1º de novembro de 2014 a 28 de fevereiro de 2015, seja, no mínimo, igual à verificada no período de 1º de novembro de 2013 a 28 de fevereiro de 2014. 4) O estabelecimento industrial poderá utilizar o benefício fiscal nas saídas de arroz beneficiado que tenha conteúdo de arroz importado? Resposta: O benefício aplica-se às empresas beneficiadoras que tenham adquirido nos três meses anteriores ao mês da saída, pelo menos, 90% (noventa por cento) do arroz em casca de produtores ou de cooperativa de produtores, produzido neste Estado, ou em leilões da CONAB realizados neste Estado. Se a quantidade do arroz importado não ultrapassar o limite da legislação, poderá a empresa importadora utilizar o benefício nas vendas interestaduais. 5) O industrial do arroz que possui dívida de ICMS poderá utilizar o benefício fiscal? Resposta: Cabe esclarecer que fica vedada a utilização do benefício por contribuinte que tenha crédito tributário constituído, relacionado com o ICMS, inscrito como Dívida Ativa nos últimos 5 (cinco) anos, exceto se esse crédito estiver parcelado ou garantido por depósito em dinheiro, fiança bancária, hipoteca ou penhora de bens imóveis devidamente registrada no Registro de Imóveis;

Conclusão Alertamos os industriais gaúchos da cadeia produtiva do arroz que existem outras condicionantes para usufruir dos benefícios fiscais e, também, é necessário avaliar as hipóteses de exigências do ICMS na entrada do Estado destinatário do arroz beneficiado. Já o produtor rural, adquirente de insumos (adubos, fertilizantes, defensivos, energia elétrica), cuja operação foi onerada anteriormente com tributos não recuperáveis, ou seja, integram o custo de aquisição, deverá buscar nos Governos as alternativas de transferências dos tributos a terceiros ou a sua desoneração, como única forma de reduzir o custo da lavoura. Feliciano de Almeida Neto Diretor Affectum


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GAP Genética Apresentação Decidimos na Affectum, para esta edição de nossa revista, apresentar um case de sucesso na agricultura e pecuária que desmistificasse boa parte dos preconceitos que leva uma parte significativa dos produtores rurais a não estruturar-se do ponto de vista organizacional e jurídico tal qual deveriam fazer (ao menos em nossa modesta opinião). Há mais de vinte anos, a Affectum, seja na pessoa de seus diretores fundadores Sidnei e Ben-Hur, seja na segunda geração, na qual me incluo, testemunha o aparecimento e desaparecimento de negócios rurais familiares. A fonte do sucesso e do insucesso costuma ser a mesma: a família. Em determinadas situações, as características dos negócios familiares são capazes de alavancar sua prosperidade com tanta força, quanto são capazes de levar a seu fracasso em outras circunstâncias. Nossa escolha para exemplificar o acerto das práticas organizacionais e de planejamento que tanto defendemos não poderia ter sido melhor. A GAP Genética é, sem dúvida, um dos melhores exemplos da cultura de vanguarda e pioneirismo que o agronegócio gaúcho é capaz de produzir. Em grande parte, segundo conta nosso entrevistado, devido a visão à frente de seu tempo do líder do grupo, Dr. Eduardo Macedo Linhares, que soube transmitir a seus descendentes algo ainda mais valioso do que um patrimônio, a saber, uma cultura de profissionalismo e valores que primam por colocar os interesses do negócio acima dos interesses individuais. A GAP conseguiu colocar o tema da sucessão na base de sua estratégia e, hoje, colhe os frutos. Segundo Kaju, nosso entrevistado, o grupo atualmente é maior do que era antes de se separar de outro núcleo familiar, que acabou dividindo a propriedade entre seus membros, do modo como tradicionalmente ocorre no meio rural. Recebemos o Kaju, como gosta de ser chamado o Diretor Comercial do grupo, em nosso escritório em Porto Alegre, para uma conversa franca e descontraída, de cerca de uma hora. Tempo suficiente para reforçarmos nossa admiração pela obra do Dr. Eduardo Macedo Linhares e de toda família, que tão bem leva adiante a credibilidade desta marca. Quanto ao Kaju, fica nosso agradecimento pela confiança, simpatia e carisma dispensados ao nos conceder essa entrevista. Ricardo Paz Goncalves

ESPECIAL


ESPECIAL

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GAP Genética Gestão, família e negócio Onde buscar inspiração para falar sobre a Gap Genética, tendo como foco questões como sucessão familiar, gestão e negócios, senão nos próprios valores norteadores das ações da empresa rural, em seus respeitáveis 100 anos de existência. Estes são: amor, harmonia, pioneirismo, respeito e verdade. A visão que vamos levar aos leitores é a João Paulo Schneider da Silva (Kaju) 56 anos, casado com a Ângela, uma das filhas de Eduardo Macedo Linhares. Há 31 anos, ele está no grupo e tem a função de diretor comercial, membro do conselho administrativo da empresa e presidente do conselho operacional de pecuária. Então, com a palavra, Kaju:

Sucessão familiar “Meu sogro, um cara visionário, nos colocou num rumo bom em termos de gestão. Primeiro ele passou toda a empresa para uma sociedade anônima. Todos os filhos, após consulta e comprometimento, concordaram que o patrimônio fosse dividido em ações, sem dar nome aos bois: este pedaço é meu, aquele é teu....”. A sucessão foi planejada há 25 anos e tratada como um assunto importante para manter a harmonia familiar e dar continuidade aos negócios. Nessa época, os filhos começaram a casar. A criação do conselho teve como objetivo permitir que todos ficassem no mesmo nível como sócios. No topo, está o Dr. Eduardo, “como líder, timoneiro e mestre”. Kaju salientou que o sogro está preparado e sabe que o conselho é o herdeiro dele do ponto de vista das decisões. Cada um tem seu lugar na gestão, conforme as suas especialidades e aptidões. Para isso existe um organograma funcional de responsabilidades.

Nova Geração O tempo passou e os netos já estavam na faculdade ou se formando e foi necessário encontrar uma forma de ir incorporando os jovens ao negócio. Então se desenvolveu um trabalho de orientação profissional, por meio de entrevistas, com a nova geração, para saber o que eles imaginavam para o futuro e como achavam que as coisas iriam acontecer. Um diagnóstico da familiar para subsidiar decisões e condutas futuras. Na opinião de Kaju: “Qualquer empresa que se preze deve ter em seus quadros pessoas novas, que estão “antenadas” e com vontade de trabalhar. A gurizada tem uma cabeça completamente diferente. O mundo mudou. Imaginar que a GAP vai continuar tendo sucesso sem a companhia deles é impossível”. Descreve como um momento importante, o que está ocorrendo agora, que é a possibilidade de um sobrinho ser um dos

elos da renovação que estão buscando. O primeiro passo foi dado. Em março, foi a Jaciara, Mato Grosso, levar o jovem agrônomo para passar uma temporada na Fazenda Sereno e ficar com o “mestre dos mestres”, referindo-se ao veterinário Jorge de Oliveira Santana, natural de Santana do Livramento e com mais de 30 anos atuando como colaborador da GAP. Garantiu que o sobrinho já está com “toda a corda” para participar do negócio. De conquista em conquista, o trabalho de integrar as novas gerações vai se concretizando. O grande desafio é passar o mais rápido possível o bastão para os mais novos, concluiu.


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ESPECIAL

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Estatuto Familiar Quase que simultaneamente ao trabalho de identificar jovens que tivessem interesse e aptidão para se integrar na gestão do negócio, foi elaborado um estatuto familiar com regras para diversas coisas, como trabalhar na empresa, sobre comportamento, sempre baseadas em um elenco de valores da família a serem preservados. Para preparar o acordo, foram necessários vários encontros familiares, entrevistas e palestras, até que ficasse pronto. Para consolidar o que se chama “protocolo familiar”, realizou-se uma reunião, durante a Expointer, para assinatura do mesmo. Nele é definido, claramente, o negócio, a família e patrimônio. A recomendação é de que ele seja lido ano a ano, principalmente nos dias que antecedem as reuniões de conselho, realizadas para formalizar decisões, aprovar estratégias globais, a médio e longo prazo, além da apresentação e análise dos resultados. Kaju disse que para a convivência familiar ser harmoniosa é preciso “saber engolir sapos”, como costuma dizer o Dr. Eduardo. Isto é um dogma, um mandamento, afirmou. Cada pessoa que trabalha na empresa precisa saber as limitações dos outros. É justamente o somatório de todos os perfis que irá alavancar a empresa.

Mercado atual Sobre o mercado, Kaju observa que “ninguém mais compra gato por lebre e os compradores já sabem quais são os problemas. Nós também já sabemos orientar, temos mais cultura e cuidado para aconselhar na hora da compra”. Um dos canais de comercialização é o leilão anual, evento tradicional que atrai compradores de várias regiões do RS e de outros Estados, além das vendas particulares, em eventos e através do GAP Shop, onde o comprador faz suas aquisições pelo catálogo à disposição no site. Para dar uma dimensão do compromisso com os compradores, chamou a atenção para a tradição da GAP, “olha quanto tempo nós temos, 100 anos, completados em 2006”. E prosseguiu “imagina só a responsabilidade, todo esse trabalho, toda a genética, esse grande rebanho que temos para preservar, é preciso ser muito sério”.

Parceria bem sucedida Uma parceria com a empresa argentina Comega, em 1984, foi um divisor de águas, em termos de gestão e aperfeiçoamento genético. Em função do numeroso rebanho da raça Angus e pelo seu conceito dentro da pecuária, a Cabanha Azul veio a ser a parceira ideal para um programa de cruzamento a nível nacional. “Criamos essa possibilidade e fomos muito bem sucedidos. Imaginem tudo que aconteceu depois de conquistar novos mercados”. Kaju explicou que o projeto proporcionou uma profissionalização da pecuária na GAP. Quando foram criados cargos, começaram a trabalhar com marketing, desenvolveram uma marca de carne embalada a vácuo, a primeira de uma empresa agropecuária, entre outras inovações. Tudo veio no bojo do programa Natura.

Eduardo Macedo Linhares

Desafios Na opinião de Kaju os grandes desafios da empresa são a sucessão e a capacitação de novos colaboradores, aliadas a uma boa gestão dos recursos humanos. “Estamos sempre prospectando gente para trabalhar na GAP”. Atualmente, mais de 30 funcionários estão com 25 anos de trabalho, em todas as áreas, como o capataz, pessoas que trabalham no escritório, nos silos e outros locais.


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Economia

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AGRONEGÓCIO

Panorama econômico

No início de 2015, recebi um e-mail enviado pelo economista chefe da FARSUL, Antônio da Luz, contendo o Relatório Econômico 2014 e Perspectivas para 2015, da entidade. Após iniciar uma leitura despretensiosa do material, só pude parar após terminar a última linha. O resultado é que o relatório foi parar na caixa de toda a equipe da Affectum e virou objeto de debates e subsídio para planejamentos e estratégias. Duas semanas depois, atendendo gentilmente a nosso pedido, me dirigi ao escritório da FARSUL no centro de Porto Alegre, onde Antônio da Luz nos atendeu e

concedeu uma valorosa e elucidativa entrevista, que compartilhamos com nossos leitores nesta edição. O entrevistado sabe como ninguém fazer o link entre o contexto macroeconômico e a realidade da agricultura e pecuária. Sempre didático e fugindo da linguagem hermética própria dos economistas, a entrevista foi uma excelente oportunidade de aprendizado e um material bastante rico para nossa revista. Mais do que isso, fica a todos a sugestão de ler o Relatório Econômico 2014 e perspectivas para 2015 da FARSUL e, com os próprios olhos, tirar suas conclusões.

Leia sobre:

Ricardo Paz Gonçalves

A soja e o aumento da rentabilidade do produtor “O que não se investe hoje, não se produz amanhã” O jogo de forças entre o mercado e a produção As medidas macroeconômicas

A soja e a rentabilidade

Um dos movimentos econômicos mais influentes na economia gaúcha nos últimos tempos tem sido o avanço das áreas ocupadas pela soja sobre a metade sul do Estado, tradicionalmente destinadas a pecuária e arroz. Ao tratar do assunto, Antonio lembrou que a produção agropecuária de hoje, diferente do que era 50 anos atrás, não é qualquer um que faz. Argumenta que a pessoa tecnicamente tem que saber o que está fazendo. Referindo-se à pecuária observou que “aquela produção que se joga os bois no pasto e deixa que a natureza faça seu papel, não existe mais há décadas. Agora a produção é extremamente sofisticada e tecnificada”. Por isso, para trocar de atividade produtiva deve-se buscar índices de produtividade que remunerem o esforço, o capital investido e o risco da mudança. Disse que algo semelhante ocorre quando o produtor sai de uma atividade que pode ser a pecuária ou o plantio do arroz, que está acostumado a fazer e encontra-se no topo do conhecimento, para outra que ele não sabe muita coisa. “Ele vai correr um risco imenso, na medida em que precisará aprender. Este aprendizado da produção é difícil, em função da complexidade e variáveis diferentes, que exigem um conhecimento muito grande”. Sendo assim, a troca de atividade se dará, se o retorno for compatível com o risco.

Retorno positivo Avalia que o produtor, quando toma a decisão, não é por moda, por onda, é uma decisão extremamente pensada. Quando ele faz essa mudança, sabe exatamente o que está fazendo. “Ele está buscando renda, aumento da rentabilidade do negócio”. Afirma que a decisão do produtor em trocar de atividade, tem influências além da lavoura e traz mudanças no comércio e serviços de uma determinada região, gerando um impacto na economia, com reflexos em toda a comunidade. Quando questionado sobre se esse movimento é positivo para a economia local, Antonio é taxativo: “O movimento na lavoura vai mexer com o comércio e as indústrias locais. Isto deve ser visto como uma coisa boa, muito positiva”.

Novos investimentos Antonio da Luz avalia que a própria pecuária tem tido um enorme beneficio com a vinda da soja, pois trouxe uma receita nova e maior ao produtor, o que permite fazer investimentos na primeira. “Um dinheiro que antes não existia em termos de investimento”. Nessas condições é viável reduzir a área destinada à pecuária, sem diminuir o rebanho e a produção de carne. A integração lavoura-pecuária tem trazido resultados positivos para a economia do Estado e para as regiões produtoras, garantiu. Entre as culturas de inverno e verão são plantados 9 milhões de hectares, desse total 5 milhões são destinadas à soja. “A explicação é simples: tem sido o produto com mais rentabilidade”.


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Economia

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Expansão da cultura

Mercado Segundo ele, em 2014, o preço da soja no mercado internacional caiu e uma das causas foi a alta produção americana. Em função da estrutura que os Estados Unidos dispõem, principalmente em termos de logística, o produto chega mais rápido ao mercado. Avaliando o comportamento do mercado nos últimos anos, observou que até 2013, existia uma grande diferença entre a rentabilidade da soja em comparação à pecuária. “Agora não é mais assim. A tendência é que o avanço da soja continue em 2015 e 2016, mas num ritmo bem menor”.

Ainda existe muito espaço para expansão da cultura, considerando que no RS existem 20 milhões de hectares de terras para a agricultura, livres de questões ambientais, e atualmente 9 milhões são plantadas. Mas ainda existem 11 milhões para a expansão da agricultura, incluindo as áreas utilizadas para a pecuária. Na opinião do assessor econômico do sistema Farsul, o movimento de expansão do plantio da soja veio para ficar. Porém, a velocidade vai ser menor nos próximos anos, justamente pela melhoria do mercado da carne, que passou a exportar mais. Em seu comentário ele falou que antes se exportava 16% da produção do Brasil, e em 2014 este índice aumentou para 21%. Explicou que no caso da carne, não é a produção e sim a exportação que valoriza o preço e isto fez com que a rentabilidade da pecuária tivesse aumentado bastante. Antônio da Luz

Competitividade da soja brasileira Estados Unidos têm 6 milhões e 500 mil km de rodovias, o Brasil conta com 1 milhão e 200 mil de Km, sendo que quase 80% não são pavimentadas. Dados da CNT – Confederação Nacional dos Transportes. Aquelas que são pavimentadas, conforme pesquisa realizada com os usuários, 64% são consideradas regulares, ruins ou péssimas. De acordo com o economista, a questão da logística, hoje, talvez seja o maior gargalo para a competitividade do produtor brasileiro, que somada a outros fatores, pode influenciar o mercado.

DOLLAR PHOTO CLUB

Nos primeiros meses de 2015 o mercado internacional ainda se encontrava abastecido com a produção mundial do ano passado, que superou as expectativas. Os Estados Unidos costumam influenciar o mercado global e tiveram uma safra muito boa, fora dos padrões. O país dispõe de vários meios para escoar a produção, como rodovias ótimas, ferrovias e hidrovias. O Brasil utiliza apenas as rodovias para o produto chegar até o porto. Antônio ressaltou que as condições de trafegabilidade das estradas impacta diretamente a competitividade. Enquanto os


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“O que não se investe hoje, não se produz amanhã” O economista discorda que a causa do problema na economia brasileira é o contexto internacional. “Não é: teve uma crise mundial”. Os fundamentos da economia americana são diferentes da brasileira. Na verdade, ele considera que o País vive uma crise de confiança, na qual nem os brasileiros estão confiando no Brasil. A previsão para 2015 é de PIB negativo. Os Estados Unidos se recuperaram da crise e o país deve crescer 3%. Essa situação, por si, já justifica a valorização do dólar. “São os fundamentos da economia americana contra os fundamentos da economia brasileira”. Outro aspecto que salientou é o fato de existir uma redução drástica de investimentos. Isso faz com que o problema

seja de hoje, mas que se estenda por mais tempo. “O que não se investe hoje, não se produz amanhã”. Mais de uma vez, ele afirmou que a crise não está lá fora. “A crise está aqui dentro e muito bem instalada por decisões equivocadas que foram tomadas. Dizer que a crise é lá fora, é querer fugir das nossas responsabilidades e das escolhas que foram feitas”. Para ele, é justamente esse conjunto de fatores que termina contaminando o Dólar. Antônio chamou a atenção para o fato de a economia americana estar bem melhor e que as taxas de juros deverão aumentar. Diante desses fatores, o investidor internacional prefere ganhar pouco com risco baixo, ao invés de ganhar muito com risco alto, que é o caso do Brasil.

Perspectivas Antônio da Luz desenha um quadro para 2015, onde o Dólar se valorize ainda mais frente ao Real, o que é bom para a agricultura, se ela está vendendo, mas é péssimo para a agricultura, quando está comprando. A maior parte dos insumos é importada, fazendo com que o custo de produção seja maior.

As medidas macroeconômicas Quanto ao cenário macroeconômico, Antonio ponderou que o governo seguiu o calendário eleitoral e não o econômico. Tanto que após as eleições, mudou tudo. Como exemplo, compara a economia com um grande navio, que começa a frear lá em alto mar para não bater na costa, mas demora até parar. “É difícil trancar uma economia. Depois que para é muito difícil voltar. A economia tem um componente inercial muito forte”. A situação poderia ser diferente, caso fossem tomadas medidas para que esse movimento tivesse sido mais ponderado, avaliou. O mecanismo das taxas de juros não foi utilizado. Antonio avalia que o Brasil pensou que era um país de-

senvolvido, que estava tudo bem, tentou vender isso para a sociedade, incentivou o crédito de maneira irresponsável. Prova disso é que o endividamento das famílias é um componente gravíssimo, o que contribui para a demora na recuperação da economia. Ele assegura que a inflação se combate com política monetária. Em sua visão, o Brasil tratou a inflação como se fazia na década de 1980. “A situação de instabilidade econômica é 100% de erro na política brasileira”. Agora, para trazer a inflação para a meta de 6,5% vai ser uma dificuldade enorme e isso vai custar muito para a sociedade, anunciou.


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Gestão Rural Jan/Fev/Mar 15

Economia

O jogo de forças entre o mercado e a produção Feita a leitura do contexto macroeconômico, Antônio, abordou, a pedido da GR, os fatores mais imediatos que deverão afetar os produtores rurais em um prazo mais curto. O resultado disso foi uma série de informações e dados que podem ajudar a subsidiar decisões importantes para os produtores rurais. Quais as consequências das medidas econômicas anunciadas pelo governo para o produtor? O impacto das novas medidas econômicas para o produtor é muito forte, são medidas drásticas, porém necessárias. Nós não negamos a necessidade delas. É melhor passar por isso agora, do que deixar correr. Vão demorar alguns anos para as medidas terem efeito. A macroeconomia não é muito diferente da economia doméstica. Um pai de família, se estiver desempregado, não pode dar o mesmo lazer e infraestrutura de antes. Precisa cortar despesas. Os contratos de venda antecipada de soja, “travando” o preço, são um dilema constante dos produtores. Como o produtor deve tomar essa decisão? Acreditamos que o produtor é um empresário e, logo, não um especulador. Como empresário, ele precisa avaliar o risco e o retorno. Existe o risco de vender e o preço subir. Sempre que o preço do contrato antecipado está num patamar que remunera os custos da lavoura e que dá uma margem de lucro compatível com o mercado, a sugestão é que o produtor tenha mecanismos de “trava”, pelo menos em parte da produção. Procure utilizar os mecanismos de bolsa, por serem mais transparentes e seguros que o mercado físico. Este ano a taxa de travamento está baixa, 10%. Como existia e existe uma perspectiva de valorização da taxa de câmbio e como ela foi drástica, os produtores viram o preço da soja em real se apreciar. O produtor pensa: “Todo dia está um preço novo, então vou esperar”. Tudo em função da instabilidade. O RS deverá ter um desempenho econômico melhor do que o Brasil, em razão das boas perspectivas para o agronegócio? O Estado deve “descolar” no Brasil em termos de crescimento econômico? Sim, o RS deverá descolar do Brasil. Acredito que o RS, dentro do agronegócio terá um desempenho melhor que o restante do país. O “drive” do crescimento do RS deverá ser o agronegócio, em função o aumento da safra. A perspectiva de mercado é melhor em 2015, e isto deve fazer com que a receita seja maior, o que não significa que a rentabilidade será maior em função do custo e produção. No relatório da Farsul, é apresentado um estudo, sobre a melhor época de comprar adubos e insumos? Explique melhor como foi feito e fale dos resultados? Para se chegar aos dados, foi feita uma análise dos últimos dez

anos e verificou-se que existe um padrão muito sazonal desses produtos, o que se justifica em função do crédito rural que entra na conta do produtor em julho, época em que se intensificam as compras dos insumos. Então, tem muita gente comprando naquele momento. Em maio, pouca gente está comprando, então faz com que o preço caia, em função da oferta e da demanda. No estudo, a situação ficou bem desenhada. Logo, se o produtor conseguir comprar em maio, vai comprar melhor. A questão é como se organizar para comprar nesse período? Acreditamos fortemente que o produtor ganha dinheiro quando compra os insumos e não quando vende o produto. O preço é de mercado e o produtor não tem gestão sobre ele. Porém, sobre os custos, ele tem. O que deve ser feito para mudar a data de compra dos insumos? Não é uma medida para todos. Destina-se a produtores com escala maior de produção, com receita consequentemente maior, o que lhe permita fazer determinados ajustes de caixa, para mudar os períodos de compra. Existem muitos médios e grandes produtores que podem fazer isso. Ainda assim, com um esforço bastante grande. Em maio, terá que pagar dois fertilizantes. Quando ele colhe a safra, vai começar a pagar as contas, primeiro o crédito rural e os fertilizantes comprados no ano passado e o desse ano também. Consequentemente, ele terá um desembolso pós-safra muito grande. Ele vai ter que fazer adequações para que seja possível manter isso todos os anos, não é fácil, mas necessário. Os gráficos demonstram que embora o custo diminua 4 ou 5 %, a rentabilidade, irá aumentar, 10 a 15 %. É um esforço que vale a pena fazer, mas não é todos que podem. A partir do momento em que organizar o fluxo de caixa, o produtor terá mais rentabilidade. Hoje, o produtor já conhece melhor o mercado para o qual vende seus produtos? Nos últimos 10 anos, o produtor passou a ter mais conhecimento do mercado. Acompanha os mercados externos, sabe da importância do Dólar na vida dele, sabe como o mercado funciona, se comunica com outros segmentos em outros países, isto não é problema. O próximo passo é entender as variáveis macroeconômicas no consumo dos produtos dele, além de esclarecer o quanto a inflação é importante na demanda dos produtos.


LEGISLAÇÃO

Gestão Rural Jan/Fev/Mar 15

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Como está o Brasil, soja salvadora da Pátria? José Luiz Tejon

Segurança do trabalho Por meio de quatro cursos novos, o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural do Estado (Senar-RS) busca auxiliar os produtores gaúchos a adequarem seus domínios e capacitarem os funcionários conforme normas regulamentadoras de trabalho em espaços confinados (NR 33), altura (NR 35) e com inflamáveis (NR 20). O motivo é evitar notificações e garantir a segurança na propriedade. www.senar-rs.com.br ou pelo fone: (51) 3215 7500.

Plano ABC libera R$ 2,5 bi em crédito O Plano Agricultura de Baixa Emissão de Carbono (ABC) realizou, entre julho de 2014 e fevereiro deste ano, 5,3 mil contratos com a liberação de R$ 2,5 bilhões em crédito. O total geral financiado pelo programa de julho de 2010 até junho do ano passado foi de 27 mil contratos, no valor de R$ 7,5 bilhões. Os números foram divulgados durante a Conferência sobre Governança do Solo do Tribunal de Contas da União (TCU). O ano de 2015 foi declarado Ano Internacional dos Solos pela Organização das Nações Unidas (ONU).

Estimativa de produção A produção de grãos no Brasil estimada em 200,08 milhões de toneladas é 3,4% superior à obtida na safra 2013/14, quando atingiu 193,55 milhões de toneladas. Se estes números se confirmarem, representa um aumento de 6,53 milhões de toneladas. O acréscimo se deve, principalmente, ao aumento de 9,8% (8,46 milhões de toneladas) na produção da soja. A previsão da produção é passível de alterações, pois depende das condições climáticas e do plantio das culturas de segunda e terceira safras. Fonte: Conab

Bioma Pampa e o CAR O prazo para fazer o CAR vai até o dia 06 de maio de 2015, podendo ser estendido por mais um ano através de um decreto presidencial. Segundo informações divulgadas em fim de março, apenas 0,32 % das propriedades rurais do Rio Grande do Sul fizeram o CAR. O motivo seria a indefinição sobre as regras do Bioma Pampa, localizado nas regiões Centro e Sul do Estado. As normas sobre o assunto deverão ser definidas por meio de decreto, que segue em discussão no governo.

Enquanto o Brasil se divide entre os brasileiros da sexta-feira, e os do domingo, com panelaços, no Mato Grosso, que sozinho representa quase 10% dos grãos do planeta – Tangará da Serra, Barra do Garça, Sinop, Lucas do Rio Verde, Sorriso e Cuiabá, também ocorreram manifestações, com predominância do Muda Brasil, pedindo fim da corrupção, gestão pública eficaz e sistema eleitoral transparente. Não aderem ao impeachment da Presidente, mas, enquanto isso, como estamos na comercialização da soja salvadora da pátria neste momento? Com o dólar a R$ 3,28, temos ótimas vendas da soja brasileira nestes últimos dias. Os preços da soja brasileira nos portos subiram de 1,38% a 4,35%, com preços acima de R$ 70,00 a saca, apesar dos preços internacionais apresentarem redução, com a oferta brasileira (US$ 9,70 o bushel – 27,2155 kg: 60 libras - contra preços recentes de US& 11/12). Em Santos, por exemplo, a saca de 60 kg da soja atingiu R$ 72,00, em março. No interior do Brasil, os preços também subiram, variando entre R$ 57,00 a R$ 62,00. O efeito positivo do câmbio no Brasil, faz com que a safra corra em boa comercialização. Deveremos superar as 91 milhões de toneladas, chegar quase em 92 milhões de toneladas de soja nesta safra. E a tendência da continuidade da desvalorização do Real, para as culturas de exportação, ajuda quem está vendendo agora. Por outro lado, a formação do custo da próxima safra, 2015/2016, já sofrerá o efeito da alta do dólar, pois o Brasil, por exemplo, é dependente em cerca de 80% de importação de fertilizantes. Os produtores estão reclamando, pois o crédito para fechar o custo da próxima safra, idealmente, já deveria estar sendo feito neste momento. Há um gap para que o aumento do dólar seja repassado nos insumos. E produtores do Mato Grosso reclamam que os recursos não chegaram aos bancos. Do jeito que o governo está enroscado, cortando custos, não se estranha isso. O que iremos assistir será o aumento dos preços das hortaliças e legumes, pois o efeito, dos custos já bate nessas lavouras de mercado interno, bem como o efeito do corte de água para irrigação. Quer dizer, mesmo com o agronegócio de exportação, a coisa não vai ser fácil não.


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Gestão Rural

AFFECTUM

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Palestra e Workshop sobre Planejamento Tributário de Empresas Rurais Nos dias 1° e 2 de junho, o Diretor da Affectum, Ricardo Paz Gonçalves, estará em Uruguaiana para palestra e workshop, cujo tema será “Planejamento Tributário de Empresas Rurais”. Os eventos são promovidos pelo Sindicato e Associação Rural de Uruguaiana, em parceria com a Unipampa – CTPEC (Centro de Tecnologia em Pecuária). A palestra será dia 1° de junho, a partir das 19h, no Salão Nobre da Pastoril, em Uruguaiana e faz parte da “Noite da Pecuária”, encontros mensais destinados aos associados e interessados, nos quais comparecem convidados para falar sobre temas da atualidade relacionados ao agro-

negócio. A “Noite da pecuária” já está consolidada junto aos produtores rurais e o número médio de participantes tem sido em torno de 200 pessoas. Com intenção de realizar uma ação continuada da palestra, no dia seguinte, 2 de junho, manhã e tarde acontecerá o workshop sobre “Planejamento Tributário de Empresas Rurais”. O evento é por adesão e se destina àqueles que desejam aprofundar seus conhecimentos sobre o assunto. As inscrições serão realizadas junto ao Sindicato e Associação Rural de Uruguaiana e as vagas são limitadas.

Instituto Universal de Marketing em Agribusiness No dia 25 de abril, o diretor da Affectum, Ben-Hur Risso Xavier, fará palestra no I-UMA- Instituto Universal de Marketing em Agribusiness, de Porto Alegre. O tema a ser abordado será “Holding Familiares e a Sucessão no Agrone-

gócio”. Na oportunidade, ele falará sobre a importância das sociedades “Holding” como meio de facilitação nos processos sucessórios e segurança jurídica nos acordos societários, bem como planejamento tributário na exploração e na sucessão.

Curso na Escola Espanhola de Negócios Em março, o diretor da Affectum Ricardo Paz Gonçalves, viajou a São Paulo e Rio de Janeiro, a convite da Escola Espanhola de Negócios, para ministrar cursos sobre “ Empresas Familiares e Sucessão”, “As Holdings como Estratégia de Negócios e Relações Societárias” e “ Proteção Patrimonial”, cada com 8h aula. Nos encontros compareceram representantes de grupos econômicos familiares, advogados, administradores, contadores e contabilistas. No módulo sobre “Empresas Familiares e Sucessão”, foram apresentados os principais instrumentos usados para administrar os conflitos e desafios que cercam as empresas familiares em suas relações entre si e a terceiros. No referente às “Holdings”, os participantes receberam informações sobre como essas sociedades podem ser usadas como estratégia de administração de relações societárias, planejamento tributário e desenvolvimento de empresas.Na parte sobre “Proteção Patrimonial”, os participantes puderam aprender sobre como funcionam os mecanismos de responsabilidade patrimonial e conhecer as ferramentas jurídicas disponíveis para minimizar riscos da atividade empresarial. Em maio, estes mesmos cursos serão promovidos em Porto Alegre.

Reunião O diretor da Affectum, Feliciano Almeida, participou da reunião-almoço com o secretário Adjunto da Fazenda, Luiz Antônio Bins, o presidente da Fecomércio-RS, Luiz Carlos Bohn e os Conselhos de Assuntos Tributários e de Economia da Federação. A pauta econômica e tributária marcou o encontro, que aconteceu dia 04 de março na sede da Fecomércio, em Porto Alegre.

Tributos

Na coluna do Jornalista Danilo Ucha, Painel Econômico, de 26 de fevereiro, do Jornal do Comércio, a nota sobre o aumento da tributária para o comércio atacadista, a partir de abril. A seguir, reproduzimos um trecho da matéria, que diz .....“É uma metodologia que aumenta a carga tributária”, confirma o especialista em tributos Feliciano Almeida Neto, da Affectum Auditoria e Consultoria Empresarial, “e é perversa para os pequenos varejistas do segmento, cujo fornecedor é um comercial atacadista. Terão preços majorados e poderão ficar fora da concorrência comercial dos que adquirem diretamente da indústria”.

Visita

Os diretores da Affectum Sidnei Gonçalves, Ricardo Paz Goncalves, Ben-Hur Risso Xavier recepcionaram João Paulo Schneider da Silva, da Gap Genética quando esteve na sede da Affectum em Porto Alegre.

Novo sócio Leonardo Hartmann da Silva, 29 anos, é o novo sócio da Affectum Consultoria, que atuará na área tributária. Ele é Bacharel em Ciências Contábeis pela Unisinos desde 2010. Chega a empresa com a experiência de mais de 5 anos como consultor tributário. A sua expectativa em relação à nova atividade é agregar valor a todos os processos dos clientes atuais e prospectar novos. Além disso, dar suporte à tomada de decisão da classe empresarial, tomando como ponto de partida a consonância com a legislação vigente, a pontualidade e a inovação. Dessa forma, pretende trazer à empresa resultados e diferenciais competitivos em todas as oportunidades.


Negócios Familiares: o desa�o da sucessão A sucessão é um processo natural no qual o negócio, o patrimônio e o poder são transmitidos entre as diferentes gerações de uma família. São necessários muitos anos de trabalho e dedicação de uma família para construir um patrimônio e solidificar um negócio, mas, com o passar do tempo, importantes decisões devem ser tomadas para garantir a continuidade de toda esta obra. Nada é pior para uma família do que deixar uma sucessão ser decidida sobre um inventário. Este processo pode consumir até 20 por cento de todo o patrimônio construído, desestruturar o negócio e causar conflitos irreparáveis entre os familiares.

Pensando nisto, há mais de 20 anos a Affectum trabalha ao lado de empre s a s e f am ília s pre s t ando consultoria em planejamento sucessório. O planejamento da sucessão nos negócios familiares, através de um trabalho multidisciplinar, atua preventivamente preparando a família, o negócio e o património para a transição entre as gerações. A conciliação dos interesses dos sucedidos e sucessores é feita através de reuniões e da elaboração de regras de convivência societária com o objetivo de garantir a integridade das relações familiares e a continuidade do negócio.

O processo sucessório sem planejamento Disputas entre os familiares pelos bens e pelo poder. Altos custos com tributos, honorários profissionais e custas judiciais. Inventário com seus altos custos financeiros e emocionais. Alto risco de desagregação da família. Degradação do patrimônio. Degradação do negócio. A falta de uma sucessão planejada faz com que o governo e terceiros interessados ganhem, somente quem perde é a família.

O processo sucessório com planejamento Regramento dos direitos e deveres de cada herdeiro no contexto societário. Redução ou eliminação dos altos custos financeiros e emocionais de um processo de inventário.

DOLLAR PHOTO CLUB

Garantia dos direitos do sucedido sobre o patrimônio, Proteção dos bens da família contra conflitos internos e contra terceiros. Grande economia financeira. Conciliação dos interesses do sucedido e dos sucessores. Profissionalização do negócio e da família.

Affectum C O N S U LTO R I A

Rua Cel. Bordini, 689/502 - Auxiliadora | Porto Alegre/RS - CEP 90440-001 (51) 3388-8981 | affectum@affectum.com.br | www.affectum.com.br


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