JORNAL-LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DO CENTRO UNIVERSITÁRIO UNINTER - ANO VI - NÚMERO 38 – CURITIBA, AGOSTO DE 2014 Foto: Alice Gonçalves
Arte da saudade
Cemitério Municipal, em Curitiba, pode ser considerado um museu, com várias obras de arte. pág.6 e 7
Começou com uma fuga
Academia sem saúde
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Foto: Divulgação
Regina Vogue fugiu com o circo para viver seu sonho de ser artista.
Guido Viaro
pág.5
Foto: Isis Maeve
Jovens abusam dos anabolizante e põem a saúde em risco.
pág.10
Foto: Divulgação
O artista continua influenciando a forma de se fazer arte.
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Número 38 – agosto de 2014
OPINIÃO Ao leitor A edição número 38 do jornal Marco Zero traz dados preocupantes. O uso indiscriminado de anabolizantes sem acompanhamento médico por jovens que buscam um corpo mais musculoso vem aumentando, o que pode causar sérios problemas de saúde. A nossa reportagem de capa vai levar você a dar uma volta pelo Cemitério Municipal de Curitiba, considerado um museu a céu aberto, e apresentar o livro “Um olhar... A arte no silêncio”, escrito por Clarissa Grassi, pesquisadora especialista em arte tumular. Nas páginas seguintes, o Marco Zero resgata um pouco da história de Curitiba ao falar de Ildefonso Pereira Correia, mais conhecido como o Barão do Serro Azul. O prédio onde ele morava agora sedia o Solar do Barão, importante espaço cultural da cidade. Você também vai conhecer nesta edição algumas das histórias que fazem parte do imaginário popular de Curitiba: lendas como a da loira fantasma e do pirata Zulmiro são estudadas pela pesquisadora Luciana do Rocio Mallon, que publicou um livro sobre o assunto. Boa leitura!
Equipe Marco Zero O Marco Zero
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Expediente
Na Praça Tiradentes, bem em frente à Catedral, está o Marco Zero de Curitiba, que oficialmente é tido como o local onde nasceu a cidade, além de ser o ponto de marcação de medidas de distâncias de Curitiba em relação a outros municípios. Ao jornal Marco Zero foi concedido este nome, por conter notícias e reportagens voltadas para o público da região central da capital paranaense.
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Ilustres desconhecidos Mahara Paola
Qual a sua opinião sobre os preços dos estacionamentos no centro de Curitiba? Quanto à estrutura dos estacionamentos não vejo problemas e o pessoal sempre cuidou muito bem. A única questão que não acho viável vir de carro para a região central é o trânsito que Davi Oliveira enfrentamos. Estudante
Os estacionamentos na região central são muito caros, porém é difícil achar um local na rua e quando encontra tem que deixar com o Estar. Por segurança, prefiro deixar no estacionamento particular, mas Natália os preços são Concentino abusivos.
Rua Pedro Ivo, no Centro de Curitiba Foto: Fran Bubniak
Fernando Albuquerque
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edro Ivo Veloso da Silveira foi um militar e revolucionário brasileiro. Politicamente, pretendia ajudar os mais pobres e lutou para vencer as injustiças sociais tão comuns naquele tempo como hoje. Juntamente com Borges da Fonseca e Nunes Machado foram derrotados na tentativa de conquistar Recife, à época, capital da província de Pernambuco. Tentou ainda ocupar a Paraíba, mas de novo, foi derrotado pelo Império. Morreu dois anos depois quando fugia para a Europa e teve seu corpo lançado no mar. Hoje, centenas de ruas, avenidas e praças no país levam o nome desse ilustre desconhecido e, assim é com a rua onde moro. Lojas, restaurantes, estacionamentos, barracas de camelôs, o famoso jornal “A Gazeta do Povo” e, acreditem, até uma casa de show, dão vida (vida?) a Pedro Ivo. Estando no coração do centro de Curitiba, terminais de ônibus – Guadalupe, Praça Carlos Gomes, Praça Rui Barbosa, entre outras – todos os caminhos levam à movimentada rua.
Milhares de pessoas transitam pela Pedro Ivo diariamente, de um lado ao outro, buscando o seu lugar ao sol. Olhando para o rosto desse povo humilde, trabalhador e guerreiro, podemos perceber um misto de esperança e frustração; alegria e tristeza; medo e fé. Afinal, quem são, de onde vem, o que fazem e para onde vão? Às vezes até pensamos que as pessoas que estão transitando na Avenida Batel
Pretendia ajudar os mais pobres e lutou para vencer as injustiças sociais tão comuns naquele tempo como hoje ou na Nossa Senhora da Luz são mais felizes e realizadas, em comparação com estas. Mas será mesmo? Às vezes parece que sim; às vezes parece que não. Observando toda a correria dessa gente simples e desconhecida, chegamos à conclusão que, como Pedro Ivo, todos estão buscando seus objetivos e sonhos. Alguns como Pedro, terão sua
O jornal Marco Zero é uma publicação feita pelos alunos do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Internacional Uninter Coordenadora do Curso de Jornalismo: Nívea Canalli Bona Professor responsável: Roberto Nicolato
Estudante
esperança malograda, outros – torcemos por todos eles – alcançarão o que tanto buscam. O fato é que eles, e porque não dizer, nós, temos muito em comum com o revolucionário. Somos ilustres, do ponto de vista das pessoas que nos cercam e nos amam, e, ao mesmo tempo, desconhecidos daqueles que não sabem da nossa história. Só esperamos que no futuro não sejamos apenas um logradouro de uma rua, avenida ou praça, onde todos transitam sem saber ao menos quem fomos, o que fizemos e o que conquistamos.
Diagramação: César Marques
Uninter - Campus Tiradentes Rua Saldanha Marinho 131
Projeto Gráfico: Cíntia Silva e Letícia Ferreira
80410-150 |Centro- Curitiba PR E-mail comunicacaosocial@grupouninter.com.br
Telefones 2102-3377 e 2102-3380.
Não temos opções de estacionamento na região central e aqueles que temos são carterizados, sendo o preço imposto, praticamente tabelados. A prefeitura não fiscaliza, o Procon não asValdir Cruz sume a responProfessor sabilidade e fica Universitário um desleixo. Pra achar vaga na rua é mais fácil à noite, porém gera insegurança. Já nos estacionamentos particulares não considero os preços altos e tenho uma Gilberto garantia maior Bettinelli de segurança. Estudante
Não utilizo os estacionamentos porque acho muito caro e o gasto no final do mês acaba sendo pesado, ainda mais para nós estudantes que pagamos a Graziela faculdade. Alves Estudante
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PERFIL
A arte de viver da arte Regina Vogue revela que será uma eterna aprendiz, porque enquanto estiver aprendendo, estará vivendo.
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Ser artista é pisar em qualquer tablado e transformá-lo em um palco, é ser exibido, ousado e acima de tudo ser persistente. É entrar em cena e ajudar o iluminador. Não é roubar a cena, mas também não é se esconder. Artista é aquele que engrandece o personagem”. E ao ser indagada sobre sua decisão de seguir essa profissão, a atriz Regina Vogue resume: “Quando nasci já queria seguir a área da arte. Sempre fui exibida”. Porém, conta que sua família nunca a incentivou. Sempre que a moça comentava que queria seguir o ramo artístico seus pais a repreendiam dizendo “você quer cair na vida?”. Ela simplesmente respondia: “na vida eu já estou”. Contudo, nada lhe tirou seu sonho, e foi então que aos 16 anos, ela iniciou sua carreira de artista, ao fugir com o circo. Já participou de números como: alvo do atirador de facas, engolidora de fogo, força capilar, domadora de touro,
mãe era uma grande atriz e assim surgiu seu primeiro trabalho em território curitibano. Ao ser indagada sobre o como se tornou essa grande artista, ela conta: “A vida mesmo me ensinou. Não fiz escola, mas aprendi na prática”. E revela que tem uma grande admiração por sua xará Regina Duarte, mas que sua inspiração para criar seus personagens é ir às ruas para ver como as pessoas com tais características, agem no dia a dia. “Esta é a melhor forma de aprender”, afirma. E com carinho ressalta que sua personagem queridinha, foi uma cigana. “Gosto de fazer personagens cínicos”, diz. “E não gosto de ser protagonista, pelo contrário acho ótimo ser coadjuvante. Pois o papel do protagonista já é grande, então não há como ‘aumentá-lo’ muito. Já o artista que faz o personagem coadjuvante tem o poder de deixá-lo grande”. A atriz não concorda quando ouve o famoso estereótipo de que o público da capital é chato. “Isso é uma lenda”, diz. “Me desagrada muito quando alguém fala mal do teatro curitibano, da própria Curitiba, ou mesmo do Brasil. Ouvi falar
Fotos: Divulgação
Alice Gonçalves
dançarina e mágica, entre outros. Sua participação na área teatral teve início em 1959 quando entrou para o teatro Pavilhão, na praça Carlos Gomes. “A partir de então me casei com o teatro”, brinca. E relembra com emoção sua primeira personagem, uma santa. Porém, nem só de espetáculos e sucesso viveu Regina Vogue. Os momentos de apertos e angústias também fizeram parte de sua caminhada. Ela sempre seguiu o ramo artístico. No entanto, em seus períodos iniciais, nesta área, conciliava seu trabalho de atriz com outros serviços para conseguir sustentar seus filhos. E conta que em algumas épocas de teatro, ela se apresentava e após o espetáculo, fazia a limpeza do local. E entre outras profissões que realizou estão as de garçonete, barman e costureira. Mesmo com muitas dificuldades Regina nunca desistiu de seus sonhos. Ela estreou nos palcos da capital, em 1981, quando uma das atrizes de um espetáculo no qual Mauricio, seu filho, que na época estava atuando na peça “gato de botas”, teve um problema e não poderia mais participar. Foi então que o menino anunciou que sua
A personagem queridinha de Regina Vogue
A vida mesmo me ensinou. Não fiz escola, mas aprendi na prática Regina Vogue que os artistas brasileiros são preguiçosos. Discordo pois cada um é cada um. Artista que é artista se estabelece”, desabafa. Além de atriz Regina Vogue é também produtora de teatro infantil desde 1986. Mas foi apenas em 1991 que realizou sua primeira produção exclusiva e a peça se chamava ‘Pluft, o fantasminha”. O espetáculo deu muito certo e a partir de então sua carreira só decolou. Regina não esconde sua paixão pelo trabalho com crianças e conta que objetiva sempre fazer com que os pequenos, tanto atores, quanto o público, aprendam algo com a peça. “Trabalhar com o teatro infantil é maravilhoso, uma dádiva de Deus e agradeço todos os dias por ter recebido esse dom”, declara. “Meu objetivo no teatro infantil é não tratar as crianças como bobas. Mas, sim, mostrar que devem perguntar, pois não é errado ter dúvidas”.
Teatro Regina Vogue
Campanha Vó Gertrudes. A vovó sabidona sempre de olho no trânsito.
Vó Gertrudes, de olho no trânsito da capital Sua personagem mais conhecida, atualmente, é uma simpática senhora que está a todo momento de olho no trânsito. As propagandas veiculadas na tv, no rádio, em outdoors e principalmente em ônibus, fizeram com que a Vó Gertrudes tornasse a queridinha de Curitiba, adorada principalmente pelas crianças. A vovó sabidona também gerou polêmica, pois muitos acham que a personagem não tem relação com o tema proposto e acham que a propaganda é mais engraçada do que educativa. “Algumas pessoas citaram que em outros países as propagandas de trânsito são mais
‘fortes’, mas não acho necessário usar tanta ‘agressividade’ para ensinar”, diz Regina. Ao ser indagada sobre como surgiu essa personagem, ela relembra: “Como o teatro estava mais tranquilo, resolvi me agenciar no DER, e nesse período surgiu o teste para Vó Gertrudes. Quando fui fazer o exame tinham várias senhoras, que também estavam bem aptas a fazer a propaganda. Mas no fim me escolheram, não sei exatamente o motivo. Por isso sempre digo que o que é nosso está guardado e se algo não deu certo, agradeça pois não era pra ser, quando algo é pra dar certo, vai dar”.
O teatro Regina Vogue, localizado no shopping Estação, foi inaugurado em 1º de abril de 2004. Este ano comemora 10 anos de muitas histórias. Regina relembra o quanto ficou impressionada e comenta que até hoje ainda é difícil acreditar que seu sonho, de ter um espaço próprio, se realizou. Ela conta que sempre tentava marcar uma reunião com Miguel Krigsner, pessoa a qual poderia lhe ajudar com patrocínio. Porém, nunca a deixavam entrar em contato com ele. Foi então em um espetáculo, no qual ela estava participando, que ela anunciou que seriam abertas vagas de teste para a personagem Wendy, de sua próxima peça, Peter Pan. A filha de Miguel, que a assistia, se interessou, contudo não deu certo. Porém, Miguel impressionado com a qualidade do espetáculo, aproveitou a oportunidade para dar os parabéns à
artista. A atriz não conhecia Miguel pessoalmente, e após ele ir embora lhe informaram que era ele. Regina que já tinha desistido de falar com o empresário e resolveu voltar a insistir. Após muita insistência ela conseguiu falar com ele. E o que era para ser apenas um patrocínio, virou a realização de um grande sonho. “A minha ideia era ele me emprestar por um tempo um espaço alternativo para que eu montasse uma área para estrear a peça do Rei Leão. Fui com o projeto, apresentei e precisava que ele patrocinasse meu espetáculo, que sairia em média 300 mil reais e ele me ajudou com 100 mil. Na semana seguinte me chamou para conversar. Quando cheguei lá ele já estava com uma maquete pronta do teatro e me passou a ideia, achei tudo fantástico e maravilhoso. Depois de me apresentar tudo ele me passou o nome dos projetistas, para eu acompanhar
Em 2012 é lançado seu primeiro livro intitulado: “No centro da Liça”
a construção do local. Foi então que perguntei, ‘como vai se chamar? Estação?’. A resposta que ouvi me levou mas nuvens não sei nem explicar o que senti. Ele simplesmente respondeu, ‘Terá seu nome’, relembra.
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CIDADANIA
No ritmo da dança e do afeto
Gonçalves
Mais do que diversão, a dança de salão simboliza uma quebra de barreiras para os portadores da Síndrome de Down
Luiz
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Nascimento
Fotos: Alice Gonçalves
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Atividades lúdicas
A gestora de recursos humanos, Alessandra Cassol, que tem uma irmã portadora da SD, revela que a dança faz muito bem à autoestima e percebe que sua irmã fica muito contente ao realizar a atividade, mas que fica irritada ao ser interrompida enquanto está dançando. E confirma que é importante o incentivo de atividades lúdicas, como a dança. Porém, observa que a sociedade ainda é muito preconceituosa. “Há sempre barreiras para separar as pessoas especiais daquelas que se julgam ‘normais’”, diz. E ao ser indagada sobre o investimento em atividades lúdicas para esse público, ela ressalta: “Acho que não seria falta de investimento em atividades lúdicas para pessoas especiais, mas sim nessas atividades em geral e principalmente no capital humano, gerando conhecimento para que se quebrem esses paradigmas de divisão entre pessoas. O preconceito existe e muitas vezes por falta de informação”. Gabriel Becker é professor de dança de salão para portadores de Síndrome de Down. “Trabalhar com pessoas especiais é muito bom, me ajuda a superar dia-a-dia as minhas dificuldades. Pois muitas vezes reclamamos de coisas tão simples, e vendo a força de vontade deles, tenho a certeza que nada é impossível”, revela. O jovem de apenas 16 anos, conta que iniciou seu trabalho com a dança direcionada ao público especial, aos 14 anos, quando sua irmã abriu uma academia de dança e então surgiu a proposta. Para ele, trabalhar com a dança é uma questão de superação, pois percebe o grande esforço dos alunos e como se sentem realizados ao dançar. “Eles não se cansam, dá para perceber que dançam porque gostam”, conta. Para pessoas com SD, a dança tem como principal significado a superação. Dançar é o momento de esquecer as dificuldades. “Sinto muita alegria e felicidade ao dançar, é como brincar, é gostoso. Tira o nervoso e traz muitos sorrisos, dançar é lindo”, declara a estudante Fernanda Cassol, portadora de Síndrome de down.
Ensaios dos alunos do espaço de dança Fernanda Becker
Sinto muita alegria e felicidade ao dançar, é como brincar, é gostoso. Tira o nervoso e traz muitos sorrisos. Dançar é lindo” Fernanda Cassol - Gestora de recursos humanos
As aulas são mais do que ensaios de dança, são um momento de ampliar os vínculos de amizade.
O que você conta dessa experiência? Alessandra Cassol: Não tenho palavras para descrever como é esse convívio, pois é simplesmente maravilhoso e extraordinário. Só quem tem o prazer de estar perto sabe como é. Eles são totalmente amorosos, puros e espertos. O carinho recebido é verdadeiro e não possuem a maldade, inveja, cobiça que vemos atualmente no ser humano. Pelo contrário são
confiáveis, divertidos, carinhosos e inteligentes. Bobo é quem pensa que eles são bobos. Nós nunca sabemos de tudo, diariamente aprendemos uma lição nova, porém com uma criança com Down na sua vida aprende-se muito mais. Eu vivo a imensa alegria de tê-la como irmã, uma pessoa incrível e que possui um cromossomo a mais, o cromossomo do amor.
Foto: Divulgação
m pleno século 21 aceitar as diferenças ainda é um grande obstáculo social, pois muitas vezes os portadores da Síndrome de Down (SD) são vistos como incapazes de realizar determinadas atividades. Porém, há locais de ensino direcionados à educação especial, que objetivam desenvolver o aluno e mostrar à sociedade e a eles mesmos que são capazes de fazer muitas coisas, que até mesmo os próprios portadores desconhecem. Um exemplo é o espaço de dança Fernanda Becker, existente há dois anos e meio em Curitiba, e que conta com uma turma de dança de salão direcionada a alunos especiais. “O objetivo de trabalhar com a dança é oportunizar a modalidade para eles com um trabalho específico, entendendo e respeitando suas limitações e mostrando à sociedade e a eles mesmos o quanto são capazes de fazer”, afirma a professora de dança e proprietária do local Fernanda Becker. “Eles têm muita força de vontade, estudam em casa, procuram vídeos, valorizam cada melhora que alcançam e se ajudam muito”, afirma. A dança, mais do que diversão, proporciona benefícios psicológicos e físicos. “As influências psicológicas se dão por meio da interação de uns com os outros e também há a melhora da autoestima, a partir do momento em que os alunos conseguem realizar os movimentos. E na parte física ajuda na coordenação motora geral, noção espacial e corporal”, diz Fernanda. Ela comenta ainda que em festas eles são os primeiros a se levantar para dançar e os últimos a parar. “Eles adoram música e festa, não se importam se sabem dançar no ritmo ou não, o que eles querem é apenas se divertir”. E o incentivo familiar também conta muito. A proximidade, o elogio, e a demonstração de interesse são de extrema importância para pessoas com Síndrome de Down. “Os pais se envolvem nas aulas. Quando os filhos erram ficam treinando com eles em casa, valorizam cada apresentação e sempre com muitos elogios, aumentando assim a autoestima deles”, conta.
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SAÚDE
A banalização dos ANABOLIZANTES Na busca do corpo ideal, jovens de Curitiba usam hormônios esteroides de forma exagerada sem acompanhamento médico Foto: Isis Maeve
Isis Maeve
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uso de anabolizantes e suplementos alimentares tem sido banalizado por jovens e adultos frequentadores de academias, em busca de um objetivo principal: a boa forma e um corpo escultural, idealizado pela sociedade os que se encontram. O problema está na forma como utilizam o produto, na maioria das vezes, sem acompanhamento médico. Os anabolizantes são hormônios esteroides, naturais ou sintéticos, que têm como função promover o crescimento e a divisão celular de diversos tecidos, em especial a musculatura e o tecido ósseo. Em sua grande maioria são hormônios masculinos (testosterona), que podem ser injetados ou ingeridos via oral. Descoberto em 1930, é utilizado clinicamente por alguns médicos para tratamento de crescimento ósseo, controle de apetite e também para o crescimento muscular. Porém, mais recentemente, espanta o uso em excesso dessas drogas, o que, consequentemente, agrava a saúde na maioria dos casos. Usado especialmente por adeptos a academias e aos esportes, em busca de fácil e rápido resultado, essa procura é cada vez mais perigosa e motivo de preocupações. O uso em grande quantidade pode trazer riscos alarmantes à saúde. Estimular exageradamente o crescimento e tecido celular leva a efeitos desastrosos. Um dos efeitos é a diminuição de produção desses hormônios, uma vez que o corpo recebe o hormônio sintético, passa a entender como suficiente, diminuindo - ou até mesmo deixando – a produção de hormônios naturais. Com isso, ocorrem os casos de impotência sexual, calvície, câncer, diabetes, lesões no fígado entre outras, consequências muitas vezes irreversíveis. F. M. tem 36 anos, é administrador de empresa e frequenta academia desde os 21. Hoje, apresenta músculos grandes e torneados, pega pesado nos treinos e costuma malhar de segunda a sexta. Nos fins de semana, corre em parques ou simplesmente descansa. Conta
Saiba como agem e o que causam os anabolizantes A nutricionista Luciana Valente explica como os anabolizantes funcionam e os riscos que podem trazer quando não usados sob prescrição e acompanhamento médicos.
Como os anabolizantes atuam no corpo humano? Os esteroides androgênicos anabólicos, mais conhecidos como anabolizantes, são produtos derivados principalmente da testosterona, hormônio responsável por muitas características que diferem homem e mulher. Eles atuam no crescimento celular e em tecidos do corpo, como o ósseo e o muscular.
O uso de anabolizantes gera efeitos colaterais, para homens e mulheres. Quais são eles? O uso de anabolizantes gera efeitos colaterais, tanto em homens e mulheres, como aumento de acnes, queda do cabelo, distúrbios da função do fígado, tumores no fígado, explosões de ira ou comportamento agressivo, paranoia, alucinações, psicoses, coágulos de sangue, retenção de líquido no organismo, aumento da pressão arterial e risco de adquirir doenças transmissíveis (AIDS, Hepatite).
No caso de mulheres, podem gerar características masculinas?
O uso de anabolizantes em grande quantidade pode causar a diminuição da produção dos hormônios naturais, além de outras doenças.
que por fazer academia há muito tempo, já apresentava um corpo sarado quando começou a fazer uso de anabolizantes, há pouco mais de dois anos. “Nunca é suficiente”, diz ele. Aumentar os músculos torna parte de seus objetivos de vida, ficar cada vez maior, com os braços grandes é o foco da maioria, que nunca está satisfeita. Quando o assunto envolve medicina, medimos o grau de conhecimento entre os usuários. T.G. tem 27 anos, é secretária de um consultório odontológico. Malha há dois anos, diz que sempre fez o tipo gordinha, por isso resolveu mudar. “Os resultados são demorados, ficava ansiosa pra ter um novo corpo”, conta a jovem. Quando questionada se faz algum acompanhamento médico ou nutricional ela admite que não, mas diz se interessar sobre o assunto, ter feito pesquisas e que só toma as drogas sob os cuidados dos instrutores da academia. Acredita não haver perigo no seu uso, mas fala que não comete abusos. Os usuários estão por toda a parte, há quem garanta que não faz uso algum, leva uma vida sau-
dável, combinando alimentação e esporte. Porém, a venda facilitada desses produtos vulnerabiliza quem está no meio. Influencia diretamente o ambiente de convivência, passa a fazer parte da rotina e do cotidiano dos adeptos aos esportes e academias. O que deveria ser tratado como saúde, passa a ser doença, seja física ou psíquica, os hábitos saudáveis ficam de fora e os jovens se dispõem a passar
Caso Netinho O cantor de axé Netinho já foi internado com um tumor benigno no fígado, causado por anabolizantes no ano de 2013, inicialmente internado na Bahia e depois transferido para São Paulo. Segundo o baiano, ele tomou as “bombas” nos anos 2009 e 2010, com resquícios das consequências até hoje. Netinho assume a culpa pelo o uso de anabolizantes, mas garante que tinha indicação médica do medicamento. Entre a vida e morte, chegou a ficar desacreditado no período de internação. Hoje, o cantor fala abertamente sobre o assunto e acha importante orientar os jovens que fazem uso da droga ou pretendem começar a usar.
No caso das mulheres, o uso de anabolizantes pode gerar características masculinas no corpo, como engrossamento da voz e surgimento de pelos além do normal. Além disso, aumento do tamanho do clitóris, irregularidade ou interrupção das menstruações, diminuição dos seios e aumento de apetite.
Na adolescência, essas consequências podem ser piores? Em adolescentes, as consequências podem ser piores, como comprometimento do crescimento, maturação óssea acelerada, aumento da frequência e duração das ereções, desenvolvimento sexual precoce, hipervirilização, aumento dos pelos púbicos e do corpo, além do ligeiro crescimento de barba.
Esses hormônios podem ser usados clinicamente? Em que casos? Esses hormônios podem ser usados clinicamente e, ocasionalmente, serem prescritos sob orientação médica para repor o hormônio deficiente em alguns homens e para ajudar pacientes aidéticos a recuperar peso. Nos casos de necessidade clínica, os pacientes são indicados a tomarem apenas doses mínimas para apenas regularizar sua disfunção.
Ocorre risco de infecção? O uso das injeções de anabolizantes esteroides pode levar ao risco de infecção pelo HIV e vírus da hepatite, se as agulhas forem compartilhadas. Esteroides Anabólicos obtidos sem uma prescrição não são confiáveis, pois podem conter outras substâncias, os frascos podem não ser estéreis e, além disso, é possível que nem esteróides contenham.
No caso de esportistas/atletas, o uso de anabolizantes pode melhorar o desempenho? Usar anabolizantes sem orientação médica é proibido, além de ser de grande risco para a saúde. Entretanto, por aumentarem a massa muscular, estas drogas têm sido cada vez mais procuradas e utilizadas por alguns atletas para melhorar a performance física e por outras pessoas para obter uma melhor aparência muscular
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ESPECIAL Alice Gonçalves
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m lugar cheio de esculturas, pinturas e principalmente histórias, causando surpresa em quem o visita devido à sua grande variedade cultural. Local de lágrimas, aflições e descanso, mas também de arte. Quando se fala em cemitérios muitos remetem essa palavra apenas à morte, dor e sofrimento, porém em meio ao silêncio há muitos mistérios a serem desvendados. “O cemitério é um museu a céu aberto onde estão adormecidos dados e informações históricos, sociológicos, antropológicos e da própria arte”, afirma a pesquisadora de arte tumular Clarissa Grassi.
Clarissa Grassi crescendo lentamente e já temos visitas em cidades como Porto Alegre, Florianópolis, São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte entre outras”, conta. E com este mesmo intuito de mostrar a riqueza das obras cemiteriais escreveu seu primeiro livro “Um olhar... A arte no silêncio”, lançado em 2006. E ressalta que as visitas guiadas deram muito certo e sempre que abre uma turma, as vagas logo se esgotam. “Participantes comentam com amigos, que ficam interessados e curiosos, gerando uma busca constante pelas visitas”. A pesquisadora observa que ainda há preconceitos em relação ao assunto, porém, diz que seu maior desafio é cativar o olhar das pessoas diante desse grande patrimônio. E histórias é o que não faltam em Curitiba. Um exemplo é o ce-
Além de espaço da saudade, também const
mitério municipal São Francisco de Paula, fundado em 1854, que conta com aproximadamente 80 mil sepultados em uma área de 51.414 metros quadrados, local de sepultamento de grandes nomes como André de Barros, João Moreira Garcez, Generoso Marques, Mariano Torres, João Negrão, entre outras personalidades curitibanas e paranaenses, dentre eles embaixadores, prefeitos, deputados, maestros e até mesmo milagreiros. Recebendo mais de cem visitas diariamente, o túmulo destaque do cemitério municipal da capital é o de Maria Bueno. A capela foi construída por um devoto que diz ter recebido uma graça da milagreira, sendo este o túmulo que atrai a maior parte dos visitantes recebidos pelo local. O comerciante e devoto Gezuel Zeferino (38) conta que passa pelo cemitério municipal pelo menos uma vez ao ano. Porém, afirma que não presta atenção nas obras. “Sempre venho para visitar a santa ou o túmulo de algum parente. Já tenho este foco, e acabo nem prestando atenção no resto”, comenta. “Mas esteticamente acho muito importante essas obras, pois deixam o cemitério mais bonito, traz uma sensação de leveza, e também demonstra a importância dos que ali estão sepultados”. Mesmo pouco observada, a arte está presente desde a entrada do cemitério, onde o mosaico monta a imagem de Jesus e seus anjos representando a acolhida das almas. E as esculturas e arquiteturas vão complementando a arte em cada corredor. As obras esculturais possuem os mais diversos significados, indo desde a representação do luto até a homenagem aos entes que se foram. Como é o caso da obra “Luci”, uma escultura de um metro de altura que homenageia uma garotinha de cinco anos. A imagem retrata uma das cenas vivida pela criança dias antes de falecer. A arquitetura também está refletida nos túmulos, como é o caso das obras verticais e altas, feitas com o intuito de que quanto maior fosse a altura arquitetônica do túmulo mais perto de Deus estariam. As obras cemiteriais dizem muito sobre o período, o local e a cultura em que foram feitas, sendo que cada obra possui um significado, o qual muitas vezes não é possível entender apenas ao olhar de relance. “A arte tumular é repleta de significados”, esclarece Clarissa.
Segundo o coveiro Jorge Fila (53), poucas pessoas veem a arte presente no cemitério. “Geralmente quem observa a parte artística tumular são os estudantes ou turistas”, conta. E ressalta que para quem acha que as esculturas são apenas voltadas ao poder aquisitivo dos familiares, enganam-se pois as esculturas estão presentes em túmulos de todas as classes sociais. Porém, o desafio de transformar a visão do público em relação ao cemitério não é um obstáculo para pesquisadores, mas sim um incentivo. “Existem aquelas pessoas que veem meu trabalho como algo tétrico ou mórbido, mas é justamente para esse público que gosto de realizar as visitas e mostrar que é tudo uma questão de olhar. E confesso que não há melhor retribuição que a de poder modificar a forma como uma pessoa se relaciona com o cemitério”, declara Clarissa.
Foto: Alice Gonçalves
O cemitério é um museu a céu aberto onde estão adormecidos dados e informações históricos, sociológicos, antropológicos e da própria arte
Cemitério Municipal, um Foto: Divulgação
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O que é algo macabro para muitos, se tornou a paixão e profissão de Clarissa, que se dedica ao estudo da arte tumular há 10 anos. Segundo ela, o cemitério é um local de muita paz e tranquilidade. Conta que desde os 19 anos quando se sentia deprimida e nervosa era em meio ao silêncio tumular que buscava refúgio. “Me acalma caminhar por suas alamedas, observar os túmulos, talvez seja uma forma de reflexão”, revela. Clarissa Grassi é pesquisadora e presidente da Associação Brasileira de Estudos Cemiteriais, e organiza grupos para visitas guiadas, desde 2011, com o objetivo de demostrar à população o cemitério enquanto patrimônio histórico, artístico e cultural e a grande parte de nossa história ali presente. “A visitação em cemitérios é um costume muito comum em europeus e americanos, porque envolve diversos assuntos como a arte e a história da própria cidade. Além, é claro, dos túmulos pitorescos ou curiosos. O Cemitério de Père-Lachaise é o quarto ponto turístico mais visitado em Paris, assim como o Cemitério da Recoleta é também um local muito visitado em Buenos Aires. Aqui no Brasil esse costume vem
Gezuel Zeferino: sensação de beleza
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Causos do cemitério Foto: Alice Gonçalves
titui-se em atração turística de Curitiba. Foto: Divulgação
Foto: Divulgação
Capa preta e os encontros misteriosos Garota que ia com uma capa preta nos bailes, dançava com os homens, pedia carona para eles até sua casa. Mas, sempre esquecia a jaqueta com eles. Teve um moço que foi devolver a roupa no dia seguinte. Bateu na casa da moça e ao ver a jaqueta uma menina reconheceu como sendo da irmã que havia falecido. En-
tão mostrou uma foto da jovem para o rapaz e disse que a garota havia morrido três anos atrás. Dizem que o nome verdadeiro dela era Carolina Gata Pretta. Esta lenda ficou conhecida nos anos 70, e algumas pessoas passaram chamar a moça de Carolina “Capa preta”. (Luciana do Rocio Mallon)
Foto: Alice Gonçalves
Maria Bueno é venerada até hoje num bordel, o qual um soldado frequentador deste local se apaixona por ela, a proíbe de trabalhar e a força a ficar com ele. No entanto, a moça não aceita as regras impostas pelo soldado, que fica com raiva e ciúme e mata a jovem, arrancando o seu pescoço. Algum tempo depois, Diniz, o soldado, é decapitado e morto pelas forças armadas.
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Quando adolescente a moça decidiu entrar para um convento, mas ao chegar lá os religiosos a mandaram cuidar de um casal de idosos em Curitiba. Passado um tempo o casal morre. Então, Maria não tendo condição de sobreviver começa a trabalhar como lavadeira, o que não lhe traz lucros para sobrevivência. A solução restante foi trabalhar
Lucy, o retrato de um momento feliz A mãe da menina Luci fez uma plantação de flores no jardim de sua casa, e as cultivou durante muito tempo. Quando floresceram a mãe ficou muito feliz devido ao cuidado e o carinho que tinha com as plantas. Porém, Luci de cinco anos de idade, admirada com a beleza das flores, arrancou todas. E para mostrar aos pais o que ti-
nha feito, a garotinha colocou as flores na barra do vestido. A mãe ficou brava, no entanto não castigou a filha devido a inocência do acontecimento. Uma semana depois, Luci falece. Então os pais resolveram fazer uma escultura em homenagem a criança, retratando o belo momento vivenciado por ela, uma semana antes.
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CULTURA
Uma grande herança cultural O Centro Cultural Solar do Barão e as marcas deixadas pela Revolução Federalista Foto: Divulgação
Luiz Sanzovo
Willian Bruno
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e você chegar para uma pessoa e perguntar se ela sabe quem foi Idelfonso Pereira Correia, provavelmente irá olhar para você franzir a sobrancelha e não saberá a resposta. E então se indagar qual foi o maior legado que ele deixou para Curitiba, novamente ela não saberá. Mas ao falar que ele foi o Barão do Serro Azul e que sua grande herança para Curitiba foi um dos maiores complexos culturais da capital, o Solar do Barão, isso lhe dará um “feedback” e então ela poderá ficar por dentro do assunto. Fundado em 1880 para servir de residência para o ervateiro Idelfonso Pereira Correia (Barão do Serro Azul), e projetado por Angelo Vendramim e Batista Casagrande – dois italianos que seguiram os conceitos artísticos e arquitetônicos da época –, o solar serviu como abrigo para o Barão no período da Revolução Federalista, na qual, de forma inteligente, conseguiu evitar com a
Solar do Barão
Foto: Divulgação Ildefonso Pereira Correia, o Barão do Serro Azul
ajuda de seus companheiros, uma invasão à cidade de Curitiba pelos maragatos. Apesar disso, de uma forma errônea foi considerado traidor e executado e, assim, essa injustiça histórica permaneceu até que em 2008, quando o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou a lei número 11.860, limpando a honra do Barão, e seu nome foi para o Livro dos Heróis da Pátria. De 1880 até 1911, o Solar serviu como moradia para o Barão e a sua família, até que em 1912 foi ocupado pelo Exército Nacional, passando por diversas reformas que alteraram em vários aspectos a sua identidade. Porém, em 1975 o prédio foi adquirido pela Prefeitura de Curitiba e várias reformas foram feitas com o objetivo de resgatar a identidade do local e 1980 foi inaugurado o Complexo cultural Solar do Barão, com a função de promover a criação, a experimentação, a preservação e o exercício da arte e esse trabalho continua até os dias atuais.
Mediação O Solar do Barão é composto pelo Museu da Gravura, da Fotografia, Gibiteca e um centro de pesquisa. O diferencial em relação aos outros museus em Curitiba é o método da mediação que é utilizado, diferente do sistema de monitoração, utilizado na maioria dos
museus da capital. Esse método consiste em mediar a obra com o expectador, independente de onde ele venha, seu histórico com museu e com a arte. Para realizá-la, os mediadores – Gustavo Gusmão, estudante de Teatro na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC/PR), Larissa Moreira, aluno de Artes Visuais na Universidade Federal do Paraná (UFPR) e Débora Borlé, estudante de gravura na Escola de Belas Artes do Paraná – fazem um estudo prévio sobre cada grupo de expectadores para que, dessa forma, preparem uma mediação na qual aquele determinado grupo tenha uma identificação maior com o conteúdo. Outra função da medição é mostrar como aquilo que é visto no museu se relaciona com o cotidiano do expectador. Ela é direcionada para todos os públicos, realizada por agendamento e é gratuita. “A gente propicia que o público interprete a obra de arte”, explica Gustavo Gusmão. O público atendido pelo museu são de colégios, faculdades até instituições sociais, além do Solar fazer um trabalho especial voltado para rede de creches públicas, no qual é desenvolvido um projeto voltado para as crianças. Segundo os mediadores, não existe um público favorável para mediação, pois cada um apresenta características e jeitos próprios.
Uma história para ser contada Ildefonso Pereira Correia, o barão do Serro Azul, foi um grande empresário da erva-mate no Paraná. Durante a revolução Federalista, quando Curitiba foi abandonada pelas tropas legalistas, presidiu a Junta Governativa que dirigiu a cidade. Com a chegada dos maragatos, o barão foi convocado pela população para fazer acordos com os revolucionários, a fim de proteger a população de saques, estupros e outros tipos de violência. A Junta Governativa passou, então, a arrecadar fundos para a proteção da cidade. Esses atos fizeram com que o barão e os comerciantes que o apoiaram fossem considerados colaboradores do movimento rebelde. Em 1894, ele e outros cinco
prisioneiros envolvidos no episódio foram retirados da prisão, porque iriam de trem para o julgamento, no Rio de Janeiro. Porém, na estrada de ferro Curitiba-Paranaguá, perto do Pico do Diabo da Serra do Mar, foram retirados do vagão e executados. O barão do Serro Azul levou um tiro na perna e propôs dividir sua fortuna com os oficiais da escolta para que fosse poupado, mas foi morto com uma bala na testa.
Cursos no Solar Os cursos lecionados no Solar do Barão são: gravura (serigrafia, litografia, gravura em metal e xilogravura), desenho artístico e os cursos de ateliê livre nos quais a pessoa usa por um dia e paga por aquele dia. Os cursos são dividi-
dos por semestres e cada um conta com 14 vagas, com o valor de R$ 45,00. Já a Gibiteca também oferece o curso de História em Quadrinhos (HQ). Segundo Odene Chagas, um dos cursos mais requisitados é o de serigrafia, pois é uma técnica muita utilizada pelo comércio. O aluno do curso de HQ, Rafael Henrique, 12 anos, disse que gosta muito das aulas. “Ensina a gente a fazer histórias que normalmente a gente só lê nos gibis e fazer que nem o cara que escreve a Turma da Mônica (Mauricio de Sousa). Eu gosto muito de ler, é muito legal, e também os professores são muito ‘gente boa’. Se a gente tem alguma dúvida eles vão lá e nos ajudam”, conta.
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As lendas vão muito além do vampiro Curitiba é cheia de lendas e tem até um escritor-vampiro: Dalton Trevisan Cortes
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s lendas curitibanas são conhecidas por suas variações e grande popularidade. Deve-se levar em consideração que a lenda não significa mentira e nem verdade absoluta. Ela tem grande influência sobre as pessoas, que acreditam na veracidade de suas histórias. Basta uma conversa com um morador antigo do local ou conversar com diversas pessoas que transitam no lugar para conseguir algum indício verídico sobre as lendas. Cada bairro da cidade de Curitiba tem uma história, nenhum lugar passa despercebido, com destaque para os do centro da cidade. Na capital paranaense existem pessoas que estudam as lendas, como a escritora e pesquisadora Luciana do Rocio Mallon, 39, que lançou seu primeiro livro intitulado “Lendas Curitibanas”, em novembro de 2013. O interesse e curiosidade por lendas a levou a alguns lugares misteriosos e a pesquisa de relatos e histórias importantes.“Resgatar lendas é
Sinto uma sensação de empolgação, pois sei que de alguma forma estou desvendando um pouquinho da história e da cultura Luciana do Rocio pesquisadora Outro fator que leva a escritora pesquisar as lendas da cidade é que estas histórias têm o dom de elevar a autoestima das pessoas do lugar e são diferentes de contos de fadas. “Antigamente havia o cos-
tume das pessoas se reunirem em torno de uma fogueira para escutarem o mestre que contava lendas. Infelizmente, pouco a pouco essa tradição se perdeu e é preciso resgatá-la de alguma maneira”, diz. Luciana busca encontrar novas histórias e curiosidades nas lendas. “Sinto uma sensação de empolgação, pois sei que de alguma forma estou desvendando um pouquinho da história e da cultura”. Ela conta que as lendas mais famosas e conhecidas na cidade de Curitiba são: Loira-Fantasma, Maria Bueno, Pirata Zulmiro, Tesouro das Mercês e Gato Boris. E revela que mesmo as pessoas que não acreditam em lendas acham divertidas. O jornalista Bernardo Carlini diz acreditar nessas histórias. “Acredito e gosto muito. As lendas têm que ser divulgadas, pois precisamos conhecer um pouco sobre o lugar onde vivemos, sendo contados em lendas ou não”. Já o jornalista Helio Puglielli, destaca que as lendas diferem do caráter de notícia. “As lendas não precisam ser verdadeiras e nem sequer verossímeis. São lendas e não notícias. Valem pela surpresa e o impacto que causam, independente de dizer respeito a fatos que efetivamente aconteceram”.
Foto: Divulgação
Ana Caroline
uma maneira de estudar a história do lugar e passá-la de geração em geração, de uma forma divertida e não monótona”, declara. Muitas pessoas perguntam o porquê do interesse da escritora em pesquisar lendas urbanas na cidade de Curitiba. Luciana revela os vários motivos para pesquisar essas histórias. “Atrás de um causo há um pingo de verdade e muitas vezes esta verdade possui uma razão histórica”, enfatiza.
Luciana do Rocio Mallon
Principais lendas de Curitiba A Lenda da Loira
Pirata Zulmiro
Maria Bueno
Papagaio Rezador
Reza a lenda que nos anos 70, uma loira pediu carona aos taxistas até o Cemitério do Abranches, mas ela sumia na última parada. Dizem que o fantasma, na verdade, era uma loira que tapeava os motoristas para não pagar o táxi.
Lenda de um corsário que roubou um navio com um tesouro e veio para o Porto de Paranaguá. Depois ele chegou a Curitiba com baús de pedras preciosas. Dizem que ele enterrou o tesouro no bairro das Mercês.
Sétima filha de um casal pobre de lavradores. Depois virou lavadeira e trabalhou num lupanar. Reza a lenda que foi morta por um militar chamado Diniz, que tinha obsessão por ela. Hoje está enterrada no Cemitério Municipal e é santa popular.
Rezava Ave-Maria e Pai-Nosso na Igreja dos Passarinhos. Mas, foi roubado e levado até a caverna da Lancinha
Burro Brabo Fantasma de um burro que assusta as pessoas no limite entre o bairro Tarumã e o Jardim Social. Túmulo Maria Bueno
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Mestre de ontem, mestre de sempre Há quase cinquenta anos depois de sua morte, Guido Viaro continua inspirando o jeito de fazer e ensinar arte. Isabela Collares
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o universo das artes plásticas paranaense, o nome Guido Viaro é, sem sombra de dúvidas, um dos mais lembrados. Pudera. O artista, nascido em 1897, na cidade de Vêneto, na Itália, é apontado pelos pesquisadores como um entusiasta que utilizava a criatividade como forma de desenvolvimento e formação do caráter humano. Mas o reconhecimento do trabalho do artista vai muito além do domínio das técnicas que o consagraram como um talento revelador. Além de apresentar uma arte que fugia dos padrões estabelecidos no início do século XX, Guido Viaro foi pioneiro na ideia de criar espaços onde crianças e jovens fossem estimulados a se expressar livremente. O artista dedicava boa parte do seu tempo ensinando aos jovens uma infinidade de técnicas que dominava com maestria. Dessa paixão pelas artes e pelo ensino, surgiu o Centro Juvenil de Artes Plásticas, inaugurado em 1953 e, hoje, subsidiado pelo governo do Estado. O incentivo de Viaro a arte rendeu frutos preciosos à comunidade, já que muitos artistas que hoje moldam o cenário das artes foram alunos do Centro Juvenil de Artes Plásticas. Fernando Calderari e Fernando Velloso são alguns nomes de peso que exemplificam bem essa atmosfera artística. De lá pra cá, a proposta do Centro se mantém na mesma direção “A maioria das crianças que chega aqui desconhece quem foi Guido Viaro. O interesse vem puramente pela arte em si. Só mesmo no decorrer das aulas é que os ideais deixados pelo artista são repassados. Ideais como o despertar de um olhar mais crítico para o mundo e
de uma sensibilidade e criatividade mais apuradas”, diz Débora Bacche, diretora do CJAP desde 2012 e professora do Centro há 13 anos. A menina Vitória Tênius, de 11 anos, confirma direitinho essa história. Ela chegou ao Centro Juvenil de Artes Plásticas aos nove anos de idade motivada pela ideia de, literalmente, fazer arte. Mas o que de início não passava de diversão, acabou por se tornar um dos sonhos profissionais da jovem.“Quando estou no colégio ou em casa, fico pensando nas coisas que eu poderia pintar. Gosto de dar cores e formas diferentes a tudo. Já pintei meu cachorro de todas as cores, porque cada dia eu vejo ele de outro jeito. Eu não conheci o pintor Guido Viaro, mas acho legal que ele tenha criado um lugar só pra fazer arte”, conta. Segundo Vitória, a professora lhe explicou que ele gostava muito da maneira como as crianças pintam. “Quando eu for mais velha, vou querer ensinar desenho para outras crianças. A maioria delas já sabe desenhar. Mas é bom aprender novos jeitos e aqui a gente aprende a fazer isso.” E as oficinas oferecidas no Centro Juvenil de Artes Plásticasvão muito além das pinceladas. Das tantas opções que podem chamar a atenção dos jovens talentos estão desenho, escultura, teatro, modelagem e múltiplas linguagens. Nessa última, as crianças experimentam vários tipos de práticas artísticas para transmitir uma mensagem e dar vida a um pensamento. Atividades que deixariam o mestre Viaro pra lá de satisfeito. Os únicos requisitos para frequentar as aulas é ter entre seis a dezessete anos de idade e estar estudando. Aos interessados, vale tomar nota: o Centro Juvenil de Artes Plásticas fica na Rua Mateus, número 56. Tel: 3323 5643. Embora nascido na Europa, o trabalho artístico de Guido Viaro foi praticamente todo desenvolvido no Brasil. Viaro foi desenhista, gravurista, escultor e um eterno pesquisador. Ele foi o responsável por introduzir a pintura moderna no Paraná. Suas principais obras foram “A Polaca”, “O medo” e o “Homem sem Rumo”.
Guido Viaro ensinando no Centro Juvenil de Artes Plásticas (Foto: arquivo do CJAP)
Alunos em plena atividade nas aulas de pintura e desenho do Centro Juvenil de Artes Plásticas. (Foto: CJAP)
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RESENHA A verdadeira história de um mentiroso Foto: Divulgação
@TÁ NA WEB Sandro Cesar
Adeus Robim Willians Fotos: Divulgação
“Vips - Histórias Reais de um Mentiroso” é um ótimo registro de até onde a mentira pode levar uma pessoa
Felipe Ponce
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curiosa história do estelionatário paranaense Marcelo Nascimento da Rocha foi transformada em documentário pela escritora Mariana Caltabiano. Lançado em 2010, o filme traz depoimentos de testemunhas que sofreram com as armações Marcelo. Durante alguns anos, a escritora realizou entrevistas com o golpista diretamente da prisão. A própria Mariana chegou a ser enganada pelo trapaceiro, quando disse que recebeu uma proposta melhor do que a dela para a produção do longa. No começo do filme, podemos ver os primeiros golpes dado pelo paranaense. Ele fingiu ser filho do dono da companhia de ônibus para viajar de graça, e se passou por policial. Conforme a história se passa, notamos a incrível a quantidade de falcatruas feitas antes de seu maior golpe. Passou-se por um falso repórter da MTV, olheiro da seleção, e integrante das bandas “Nenhum de nós” e “Engenheiros do Hawaii”.O documentário mostra a transições de fases das armações do malandro. Morando perto do aeroclube da cidade, começou a frequentar o local e aprendeu como pilotar aviões. O malandro conseguiu uma falsa carteira de piloto para não pagar passagem de avião, e começou a fazer contrabando.
Depois de quase ser morto, Marcelo Nascimento decide mudar o foco de suas armações. Ao descobrir um carnaval fora de época em Recife, ele decide fingir ser o dono da companhia aérea “Gol” para entrar na festa. O ator global Ricardo Marchi ficou amigo do golpista durante a folia, e o apresentador Amaury Jr. fez uma entrevista pensando que ele realmente fosse o dono da companhia. A mentira não durou muito tempo, pois acabou sendo desmascarado e preso no Rio de Janeiro. Durante uma rebelião no presídio Bangu II, o vigarista disse à polícia que era líder do PCC, e negociou a insubordinação. Durante uma nova rebelião, consegue fugir da prisão, mas foi preso novamente em São Paulo e transferido para Curitiba. Um dos pontos fortes do filme é em relação aos depoimentos das vítimas dos golpes de Marcelo. O testemunho torna a história dos golpes muito mais interessantes. Enquanto os fatos são narrados, são mostradas várias animações que tornam a narrativa mais divertida. Curiosamente, Mariana Caltabiano pede para Marcelo analisar o acidente com um Airbus A-320, da TAM, em 2007. Com a análise de Marcelo, podemos notar seu amplo conhecimento por aviação para verificar as causa do acidente. A diretora perdeu dois irmãos na tragédia.
“Patch Adams”, “Sociedade dos Poetas Mortos” e “O Homem Bicentenário”. Esses são apenas alguns filmes de sucesso do gênio Robim Willians. O ator que ensinou que o drama e a comédia podem andar lado a lado se foi, e o assunto tomou conta da web
Secret da confusão Um novo aplicativo tem tomado conta da web: é o“Secret”. Com ele, o usuário pode postar o que quiser, anonimamente usando a sua lista de contatos do seu facebook. Como não aparece o nome ou a foto do usuário, as pessoas
se sentem livres para escreverem o que lhes vem à cabeça. A intenção do aplicativo, a princípio, seria que os usuários postassem segredos seus sem sentir culpa ou vergonha. Mas o que se vê no aplicativosão ofensas e mais ofensas.
Existem casos em que os usuários citam nominalmente outros usuários ou até trazem fotos de pessoas do seu “circulo de amizade” com as inscrições “vadia”, “drogado” e por aí vai. Ixiii...
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ENSAIO FOTOGRÁFICO
Olhe mais para o alto
Quantas vezes por semana você percorre o mesmo trajeto? E quantas dessas vezes você olhou para o alto? Não precisa nem parar, pode dar uma olhadinha andando mesmo. É incrível perceber detalhes que jamais são vistos normalmente, quando se olha apenas para baixo. Fran Bubniak
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