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Os desafios do imobiliário em Lisboa

João Carvalho das Neves, Professor of Leadership & Finance ISEG Universidade de Lisboa

A pandemia atingiu todos os países com impactos muito diferenciados ao nível da saúde e da economia, tendo em conta a forma como os governos geriram a pandemia, mas também como resultante das características que cada país tem no que respeita ao sistema de saúde e à estrutura económico-social.

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Os ganhadores desta crise começam a ser identificados. De entre os maiores estão as empresas farmacêuticas que têm produtos orientados para o contexto pandémico (em 2 anos as ações da Moderna valorizaram 606% e as da Novavax em 1968%). Também empresas que trabalham as tecnologias de informação necessárias neste contexto pandémico e sociedades que já utilizavam o comércio on-line e que eram já conhecidas do público em geral. Na componente do investimento e da saída da crise económica, perguntamo-nos como fica o imobiliário e em particular a nossa cidade de Lisboa. Lisboa foi reconhecida pela “World Travel Awards” como “The Best City Destination and City Break”. Também foi considerada, nos últimos anos, como uma das melhores cidades para os estrangeiros viverem. Isso já é uma vantagem competitiva notória no contexto atual em que muito do trabalho pode ser realizado remotamente. Curioso que na altura que escrevíamos este artigo saía a revista Visão de 18/3 a 24/3/2021 publicava histórias de americanos que deixaram o “American Dream” para trás e se mudaram para Portugal. As razões são muito explicitas e destacadas pelas revistas especializadas na análise da atractividade dos países e das cidades. Essas revistam identificam em geral 12 vantagens competitivas para Lisboa como cidade europeia: 1. O seu clima ameno e considerado o melhor da Europa; 2. As praias na sua proximidade (juntando a qualidade de clima e as praias, poucas cidades europeias se podem comparar neste parâmetro); 3. A sua tolerância no que respeita ao género, etnia, religião, orientação sexual ou status social. É claramente inclusiva o que faz com os estrangeiros se sintam bem-recebidos. Lisboa é muitas vezes comparada nestes estudos com São Francisco, Amsterdão, Estocolmo, Helsínquia ou Barcelona; 4. O Global Peace Index coloca Portugal como o 3º melhor país do mundo no que respeita a segurança e o melhor da União Europeia; 5. É considerada uma cidade que tem boas condições para o desenvolvimento de negócios, nomeadamente infraestruturas, especialistas altamente qualificados, escritórios com uma relação qualidade preço atrativos; 6. A generalidade das pessoas fala inglês.

Cerca de 90% da população de Lisboa, fala de algum modo inglês; 7. A história, arquitetura e cultura. Há quem a designe Lisboa de “Nova Berlim” ou

“Nova Barcelona” pela capacidade de atração de escritores, músicos, escultores e outros artistas; 8. Nos arredores tem imensas locais para visitar cheios de história e beleza. Bons restaurantes, cafés, museus e lojas de comércio de qualidade e de luxo; 9. Uma cidade com áreas verdes e vilas na sua proximidade interessantes para visitar e viver, como é o caso de Cascais,

Estoril e Sintra; 10. É uma cidade com um custo de vida baixa por comparação com as congéneres europeia, mesmo no imobiliário; 11. Tem boa infraestruturas de transportes e boa rede de metro. A rede de elétricos é também um fator de atração turística; 12. Por fim, a sua culinária é apreciada e os vinhos portugueses de grande qualidade e a preço relativamente baixo. Pelas razões apontadas, Lisboa pode continuar a ser um destino atrativo. Os imóveis premium continuam a manter níveis de procura e a construção também, com os promotores a mostrarem confiança no mercado. Também é evidente a importância que tiveram os vistos gold para a dinâmica do mercado desde a crise de 2010-2013. Alterações legislativas neste domínio podem ser desastrosas, se as outras vantagens competitivas não estiverem bem sedimentadas a assimiladas pelo mercado. O poder político deveria dar sinais favoráveis ao investimento estrangeiro, para dinamizar o mercado. Lisboa tem a oportunidade de se transformar numa cidade verdadeiramente cosmopolita. Basta que o poder político não interferira com legislações que distorçam as expectativas e as oportunidades que os promotores imobiliários identificam no mercado.

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