Rui Facó

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ANOS DE

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DISCURSO DO DEPUTADO

PAULO FACÓ

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4 de outubro de 1913. Nasce em Beberibe,

litoral leste do Ceará, o advogado, escritor e jornalista Rui Facó, filho de Gustavo e Antonieta Facó. 15 de março de 1963. Morre Rui Facó em um acidente de avião nos Andes. Também neste ano é lançado sua obra de referência, Cangaceiros e Fanáticos.

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DISCURSO DEPUTADO PAULO FACÓ (PTdoB - CE) EM HOMENAGEM AOS 100 ANOS DE RUI FACÓ

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ostaria da atenção dos colegas parlamentares, dos telespectadores da TV Assembleia, dos ouvintes da Rádio Assembleia, da imprensa, para prestar uma homenagem, nes-

te momento, a um grande intelectual cearense, militante político, advogado, ideólogo mas que, há 50 anos nos deixou, vitima de um acidente aéreo na Cordilheira dos Andes. Este acidente aconteceu há anos, no dia 15 de março de 1963, quando este intelectual, jornalista e escritor, realizava uma série de reportagens e entrevistas pela América Latina, para publicação no jornal semanário Novos Rumos, com sede no Rio de Janeiro. Me refiro ao advogado e escritor Rui Facó, um dos mais intensos intelectuais brasileiros, atuando como jornalista e pesquisador focado nas causas sociais e militando nos bastidores do PCB. Rui nasceu a 4 de outubro de 1913, em Beberibe, Ceará. Morreu às vésperas de completar 50 anos e nos deixou uma obra de referência, o clássico livro Cangaceiros e Fanáticos, onde historiciza e analisa eventos da história do Brasil 3


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localizados no Nordeste, o fenômeno do Cangaço e o fenômeno da religião. Cangaceiros e Fanáticos foi lançado postumamente já que quando Rui nos deixou a obra estava no prelo. Curioso é que, antes de iniciar sua maratona de viagens pelos paises da América Latina, Rui havia aprovado a impressão de livro que seria autografado em sua volta. Rui Facó estudou no Liceu do Ceará, depois ingressou no Curso de Direito em Fortaleza mas logo, em 1935,

no segundo ano,

foi morar em Salvador

onde graduou-se ao mesmo tempo em que militava no PCB e atuava na imprensa local. Em 1937 é dado o golpe, em que Getúlio Vargas assume o governo brasileiro. Instaura-se o Estado Novo. Rui Facó é preso, em Salvador, ao lado de valorosos militantes de oposição. Salvador era grande centro de ebulição política. “Constante e infatigável na sua trajetória”, como observa Moisés Vinhas, em breve e consistente biografia, Rui Facó participou na fundação e colaborou assiduamente nas revistas Seiva e Flama. Lá mesmo contraiu matrimônio com a ex-colega de faculdade Júlia Guedes, irmã de Armênio Guedes, esse ícone vivo remanescente do velho PCB. Júlia Guedes acompanhou Rui 4


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em sua vida agitada. Em 1945 Rui Facó se muda de Salvador para o Rio de Janeiro e torna-se secretário do jornal de esquerda A Classe Operária. Em 1952. Rui Facó parte para a União Soviética onde continua a sua atividade literária e jornalística na Rádio Moscou, em Moscou. Nesse período, Facó, com seu espírito observador, aprendeu muito com a construção do socialismo, mas sentiu o profundo negativismo do sistema do culto à personalidade. Em 1958, Rui Facó retorna para o Rio de Janeiro e ingressa na redação de Novos Rumos, recém fundado para ser um porta-voz do Partido Comunista Brasileiro. Rui Facó escreveu Brasil Século XX a pedido de uma editora argentina. Ali, ele aborda alguns dos principais problemas de nossa formação, dos momentos históricos marcantes, realçando seus aspectos sociais. Brasil Século XX foi traduzido para vários idiomas, para o russo, para o italiano, para o idioma tcheco. No final dos anos 50, a Guerra Fria vivia um dos seus momentos mais críticos. Em seus textos em Novos Rumos. Rui assumia sua posição anti-imperialista de modo claro e não poucas vezes lançou sua pena na 5


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defesa de uma frente regional sul-americana contra a ameaça do Norte. Isto é reforçado no seu ensaio Uma Política independente para a América Latina, em que afirmava que “há indícios cada vez mais evidentes na América Latina de uma tendência dos países deste continente assumirem posição independente em problemas de política exterior.” Rui Facó nos deixou em 1963, não sem antes eternizar-se como pensador preocupado com o futuro do Brasil. À beira do túmulo de Rui, numa manhã morna no Cemitério São João Batista, no Rio de Janeiro, expressões de todos os tamanhos, filiados e não filiados ao PCB, estavam ali agora. Falava-se da perda do companheiro e da falta que ela faria em Novos Rumos e nas fileiras do partido onde se confundia o ideólogo com o militante. Rui baixou à sepultura precisamente às 10 horas da manhã. Além do ex-senador Luiz Carlos Prestes, estavam ali também o teatrólogo Dias Gomes, o escritor Milton Pedrosa e o dirigente operário Roberto Morena. Uma delegação do Sindicato dos Bancários da [então] Guanabara compareceu para render, em nome daque6


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la categoria de trabalhadores, uma última deferência ao intelectual revolucionário. No velório, durante toda a noite anterior, o corpo de Rui Facó estava na câmara 4 da capela Real Grandeza. Luiz Carlos Prestes, o pintor Di Cavalcanti, Valério Konder, do Conselho Mundial da Paz, o advogado Jorge Pires Chaves, entre outras personalidades, passaram ali parte da noite. — Aqui nos encontramos para o testemunho de nosso apreço e amizade a Rui Facó, na última homenagem que lhe prestamos — os que lutamos ao seu lado, os seus admiradores e amigos, os seus familiares, bradou Carlos Marighella, no ato de sepultamento, em nome dos comunistas brasileiros. Rui conheceram Marighella em Salvador, na Bahia, onde militaram juntos no PCB. E continuou Marighella: Representando os comunistas brasileiros, falando em seu nome e em nome de Luiz Carlos Prestes, quero dizer o quanto sentimos pela perda de Rui Facó, tragicamente desaparecido no desastre de avião do Lóide Aéreo Boliviano. Ainda Marighella, nesta diálogo resgatado pelo jornalista Luis Sérgio Santos, em seu livro RUI FACÓ — O HOMEM E SUA MISSÃO, a ser lançado dentro da 7


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programação dos 100 anos de Rui Facó. Pois continua Marighella: “Já agora, não o temos mais em nosso meio. Já não contamos com a sua pena de jornalista e escritor de combate. Sempre haveremos, porém, de recordá-lo. Pelo seu espírito de luta. Pelo seu padrão de caráter. Pela fidelidade à causa do Partido Comunista, ao qual pertenceu desde a juventude e pelo qual lutou incansavelmente. “Ante o contraste gritante da terra em que nasceu no Ceará, entre os camponeses sem terra e os latifundiários sem piedade, Facó manteve-se fiel à sua origem pobre e escolheu o caminho da luta pela liquidação do latifúndio e a emancipação de seu povo. Trabalhando e estudando, fez-se um intelectual de valor, pondo-se a serviço das massas. Seu amor à classe operária e aos camponeses está revelado nos trabalhos e estudos que escreveu. O povo — para ele — era o fator da história. Os acontecimentos decisivos da vida do país, ele via através dos interesses das classes em luta, para concluir pela necessidade da vitória do proletariado e seus aliados.” Em homenagem a Rui, Luiz Carlos Prestes declarou: “A memória de Rui será sempre lembrada pelo exemplo que deixa de intelectual comunista e de homem de combate sempre a serviço do povo.” 8


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Um artigo do jornalista Gondim da Fonseca publicado no dia 4 de abril 1963 no jornal Gazeta de Notícias, de Fortaleza homenageia Rui. Ali, Gondim lamenta que “a imprensa diária, excetuada a Gazeta de Notícias, não deu relevo à morte do companheiro de jornalismo Rui Facó, ocorrida em dias do mês passado, quando regressava de La Paz, num avião do Lóide Aéreo Boliviano”. Escreve Gondim: “Eu o estimava deveras. Além de estudioso de problemas sociais e econômicos, Rui era machadiano arguto.” Numa carta do livreiro e escritor Aníbal Bonavides enviada ao jornalista Blanchard Girão — também resgatada no livro de Luís Sérgio Santos — ele estranha um silêncio da imprensa e, agora, em especial, da imprensa do Ceará, à morte de Rui. Bonavides apela a Blanchard: “Blanchard, gostaria que você desse merecido destaque a este cavaco, pois Rui Facó, jornalista e escritor de vanguarda, foi um dos mais brilhantes e honestos intelectuais que a terra cearense já produziu. Nascido ali, na cidadezinha cearense de Beberibe, filho de uma família ao mesmo tempo simples e ilustre, foi a duras penas que Rui conseguiu fazer seu curso secundário em Fortaleza, para depois galgar os duros degraus da Faculdade de Direito.” 9


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E, em seguida, Aníbal Bonavides faz uma retrospectiva de Rui. Assim foi Rui Facó. Um intelectual totalmente engajado, orgânico, comprometido com uma sociedade justa e igual. 2013 nos traz as duas datas definitivas de Rui Facó. A data do seu nascimento, o dia 4 de outubro de 1913. filho de Gustavo e Antonieta Facó. E a data de sua morte, 15 de março de 1963. É por esse motivo que venho aqui prestar esta homenagem a este grande intelectual que, de certo modo, refez os passos do tio, Américo Facó e que tinha no seu nome, RUI, uma homenagem a Rui Barbosa. É por este motivo que 2013 é o ano Rui Facó. Teremos um Seminário para discutir a obra e a vida de Rui Facó e o lançamento de sua biografia. Já está no ar, também, a homepage de Rui Facó, 100 anos no endereço www.ruifaco.com.br. Nosso mandato entra com requerimento instituindo 2013 como o Ano Rui Facó. Muito Obrigado! 10


O AUTOR O deputado Paulo Facó é líder do PT do B na Assembleia Legislativa do Ceará e vicepresidente da Comissão de Esporte e Cultura.


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Av. Desembargador Moreira, 2807 n BAIRRO Dionísio Torres, Fortaleza, CE n CEP 60170.900 FONE (85) 3277.2500 E-MAIL paulo_faco@al.ce.gov.br TELEFONE 3277.2646 e 3277.2647 SITE PESSOAL www.paulofaco.com.br


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