Introdução
Após a frequência de uma acção de formação interessante, muitos professores enfrentam o desafio de pôr em prática as boas ideias aí trabalhadas. Por vezes, uma ideia boa compete com outra. Outras vezes, as novas ideias entram em conflito com procedimentos existentes.
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A semente deste livro foi plantada há vários anos por Barb Heinzman, professora nas Geneva Schools, em Nova Iorque, que vinha sentindo esse conflito entre ideias. Numa oficina de formação intitulada “Ensinar na sala de aula heterogénea”, Barb abordou Harvey Silver e Richard Strong, dizendo-lhes que a sua área escolar tinha realizado oficinas de formação tanto sobre estilos de aprendizagem como sobre inteligências múltiplas. Explicou-lhes que ambos os modelos de aprendizagem tinham sido excepcionais para ela e ainda melhores para os seus alunos. Indicou o facto de os resultados dos alunos serem muito melhores desde que aprendera a integrar os estilos de aprendizagem e as inteligências múltiplas na sua prática de ensino. Até aqui, óptimo, pensaram Harvey e Richard. Barb, porém, continuou a explicar que, ultimamente, se questionava se ambos os modelos poderiam ser usados em simultâneo. Sendo ambos tão produtivos, acabava, no entanto, por ter de escolher um e pôr o outro de lado. Parecia-lhe que ambos os modelos, de alguma forma, necessitavam um do outro. Nas palavras de Barb, tinha de haver uma maneira melhor do que a exclusão mútua de modelos e a questão dela era o que poderia ser sugerido nesse campo. Na altura, Harvey e Richard fizeram algumas sugestões hesitantes acerca de dar resposta às necessidades dos alunos concebendo currículos que tivessem em devida conta os estilos de aprendizagem e as inteligências múltiplas. Fizeram notar que os aspectos práticos da aprendizagem do aluno que apresenta um estilo sensorial frequentemente
correspondem à natureza física do aluno cuja aprendizagem é corporal, cinestésica. Explicaram que os alunos cujo estilo é mais reflexivo frequentemente apresentam inteligências múltiplas de índole lógico-matemática e que os que apresentam um estilo emocional com frequência denotam forte inclinação pelo recurso às inteligências múltiplas de natureza interpessoal e intrapessoal. Porém, enquanto conversavam com Barb, Harvey e Richard repararam que a maior parte das sugestões dadas denotavam a relação entre inteligências múltiplas e estilos de aprendizagem, embora pouco acrescentassem à questão de saber como poderia um professor articular ambos os modelos para integrar as diferentes formas de aprendizagem dos alunos. Mostrar as relações entre os modelos era fácil. Mas que dizer das relações mais profundas entre estilos e inteligências? Esta questão incomodava-nos a todos.
Iniciar a investigação Como resultado da troca de impressões com Barb, demos início a uma análise mais profunda da teoria das inteligências múltiplas e dos modelos dos estilos de aprendizagem. O que queríamos saber era de que forma podem os professores integrar estas duas excelentes abordagens na sua prática de ensino, tendo em conta a necessidade de a diferenciar. Como é evidente, muitas outras questões nos preocupavam. Por exemplo, porque teríamos adoptado uma perspectiva de exclusão mútua destes modelos? É possível conjugar os
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modelos em causa num único modelo de aprendizagem integrado? Os modelos apresentam pontos fortes e pontos fracos discerníveis? A teoria das inteligências múltiplas é mais aplicável à avaliação do que os estilos de aprendizagem? Se tal for o caso, porquê? Os estilos de aprendizagem são mais adequados à fase da instrução do que o são as inteligências múltiplas? Se tal for o caso, porquê? O que podemos aprender com os professores? Terão alguns professores, no contexto da aplicação diária dos modelos no seu processo de ensino, descoberto formas de interligar inteligências múltiplas e estilos de aprendizagem? Uma simples troca de impressões numa oficina de formação esteve na génese de uma catadupa de questões. À medida que revíamos lições, currículos, manuais do professor e vídeos instrucionais, fomos descobrindo que Barb Heinzman poderia estar certa na sua percepção de que, de alguma forma, os modelos necessitavam um do outro. Na nossa investigação, descobrimos lições, actividades de avaliação e currículos de excelente qualidade que integravam as inteligências múltiplas de forma muito interessante e inspirada. No entanto, quase nenhuma destas práticas de ensino fazia a ponte para os diferentes estilos de pensamento dos alunos. Vimos igual número de excelentes trabalhos orientados para os estilos de aprendizagem que foram implementados nas várias salas de aula de escolas dos EUA. Porém, nestas lições, nestas actividades de avaliação e nestes currículos reparámos que os docentes prestaram pouca atenção à forma como a teoria das inteligências múltiplas poderia ser usada para enriquecer e diversificar a aprendizagem. A necessidade de integrar os modelos tornava-se cada vez mais evidente. Os modelos eram demasiado bons e as respectivas descobertas demasiado valiosas para se excluírem. A nossa acção orientou-se no sentido da conjugação destes dois excelentes modelos de aprendizagem de uma forma que facilitasse a sua aplicação por parte dos docentes.
O que é a aprendizagem integrada? A aprendizagem integrada é uma abordagem ao currículo, ao ensino e à avaliação, concebida para apoiar os professores e as escolas a fundir inteligências múltiplas e estilos de aprendizagem de forma significativa e
prática. É orientada pelos seguintes objectivos: • Eficácia, na medida em que maximiza os benefícios e minimiza as desvantagens tanto do modelo dos estilos de aprendizagem como do das inteligências múltiplas. • Praticidade, uma vez que respeita as exigências feitas aos professores de corresponderem aos padrões nacionais, regionais e locais, enquanto gerem salas de aula eficazes e interessantes. • Justiça, dado que fomenta a maior abrangência possível em termos de diversidade académica.
A palavra “integrada” implica todos estes factores em simultâneo. 1. Integrada significa aglutinada num todo
Duas mentes brilhantes do século XX – Howard Gardner (inteligências múltiplas) e Carl Jung (estilos de aprendizagem) – deram origem a estes dois modelos de aprendizagem. No entanto, tal como descobrimos, tanto as inteligências múltiplas como os estilos de aprendizagem apresentam pontos fortes e pontos fracos particulares que correspondem directamente às debilidades e às forças do outro modelo. Isto significa que uma abordagem à educação verdadeiramente holística – que permita que os docentes tomem em consideração o vasto leque da diversidade humana dos seus alunos e dêem resposta a padrões académicos rigorosos – apenas tem lugar se os dois modelos forem fundidos. 2. Integrada significa incorporada como parte de algo mais vasto
Na perspectiva do docente, o valor de qualquer teoria, modelo ou abordagem à aprendizagem depende da sua aplicabilidade. Se não é possível aplicá-lo sem esforço excessivo, não é muito valorizado. A realidade das escolas dita que os professores sigam as estruturas curriculares, correspondam aos padrões nacionais e preparem os alunos para os exames nacionais, bem como para as respectivas orientações académicas e vocacionais. A aprendizagem integrada respeita estas realidades. Esta abordagem é concebida de forma a poder ser facilmente incorporada nas práticas actuais, sem obrigar os professores a repensarem tudo aquilo que fazem. 3. Integrada significa motivada pelo objectivo da igualdade
Vivemos e aprendemos num mundo cada vez mais
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marcado pela diversidade. Quase diariamente, surgem novos alunos, novas questões e novas ideias, fomentando a visão de que todas as formas de diversidade devem ser tidas em conta – diversidade intelectual, física e cultural. Ao reunir os dois melhores modelos disponíveis para compreendermos as diversas formas segundo as quais os alunos pensam e aprendem, a aprendizagem integrada visa criar um ambiente em que todos os discentes sentem que as suas ideias, os seus contributos e o seu trabalho são valorizados e que têm a capacidade de serem bem sucedidos. Este livro mostra aos professores de que forma a aprendizagem integrada pode ser implementada para desenvolver o currículo, a instrução e a avaliação, ajudando também os alunos a serem mais reflexivos e autoconscientes. Enfatiza as aplicações práticas da aprendizagem integrada e, sempre que possível, recorre ao trabalho realizado por professores para demonstrar pontos e ideias-chave. Começamos por, nos capítulos 1 e 2, apresentar cada
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modelo separadamente. No capítulo 3, mostramos a forma como integrámos as inteligências múltiplas e os estilos de aprendizagem, assim como apresentamos os princípios que nos orientam no campo da aprendizagem integrada. O capítulo 4 mostra a forma como os professores podem recorrer à aprendizagem integrada como ferramenta de aferição do currículo, de desenvolvimento de lições e de criação de unidades didácticas. A relação entre aprendizagem integrada e avaliação do desempenho é analisada no capítulo 5, com a tónica a ser colocada no uso de “menus” de trabalhos a serem produzidos por alunos para diferenciar as práticas de avaliação. Por fim, no capítulo 6, mostramos a forma como diferentes professores ensinaram os seus alunos, no que toca aos estilos de aprendizagem e às inteligências múltiplas. Esperamos que considere este livro útil e estamos interessados em conhecer as suas experiências com a aprendizagem integrada.