Se essa rua fosse nossa

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Se essa rua fosse nossa: como a mulher se sente ao andar na rua Meninas de universidades do Rio Grande do Sul se unem para abordar o tema de assédio sexual. Por Luiza Marques

No início de março, estudantes de Arquitetura da UFRGS criaram a página “Se essa rua fosse nossa” no Facebook a fim de que outras mulheres contem seu depoimento de como se sentem andando nas ruas de Porto Alegre. Em uma semana, a página já contava com mais de 7 mil curtidas e novos depoimentos de outras meninas que se sentem desconfortáveis andando, sozinha ou não, na rua. O objetivo do grupo de meninas é ter cada vez mais força e voz para mostrar que não é apenas uma ou outra mulher que se sente desconfortável em andar na rua, mas grande maioria. Para a estudante Vanessa Renck, se trata, principalmente, de impotência e vulnerabilidade. “Para mim uma das palavras que veem a cabeça é impotência, que quando a gente está andando na rua, a pé, de ônibus ou qualquer outra coisa, principalmente a pé que a gente é vulnerável a essas coisas, a esses assédios, a vontade que eu tenho normalmente é de falar alguma coisa, de xingar ou de mandar para algum lugar, a gente não pode porque alguma coisa pior pode acontecer se a gente falar. O que a gente faz é não falar nada e andar mais rápido”. A questão em pauta não é simplesmente o medo de ser assaltada ao andar na rua, e sim de acontecer algo com si própria, como diz Laura Wainer, uma das organizadoras do projeto. No Dia Internacional da Mulher, as organizadoras do projeto se uniram com outras meninas que simpatizam

pela causa no Parque da Redenção, em Porto Alegre. Também distribuíram adesivos e espalharam cartazes com os dizeres “você se sente segura aqui [rua]?”. Pesquisas realizadas pelo Instituto Avon e Data Popular, em 2014, mostram que 78% das jovens brasileiras afirmam terem sido assediadas em locais públicos. Os assédios variam de comentários ofensivos e beijos à força. Como diz a psicóloga, Viviane Tesche, o medo de andar na rua surge ao ter que andar de táxi mesmo estando perto de casa, por insegurança de andar sozinha, ou ainda ao ter que mudar sua roupa dependendo do horário que for voltar para casa. Atualmente, a página já possui mais de 20 mil curtidas em menos de um mês. E o grupo que começou apenas com estudantes de Arquitetura da UFRGS, agora conta com a participação e apoio de mais de 80 meninas de diversas universidades e de diversos cursos. As organizadoras afirmam terem conversado com mulheres que não percebem estarem sendo assediadas ao andarem na rua, mas que perguntadas se nenhum homem nunca falou nada quando estavam andando na rua, elas respondem que “a toda hora”. O mais importante dessa proposta é levar o tema assédio sexual em locais públicos a reflexão para que a sociedade tome consciência do que a mulher enfrenta no dia a dia e que as mulheres passam por isso percebam que não estão sozinhas.


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