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Lisboa
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Luiza Morgado
Lisboa
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Copyright © de Luiza Morgado Copyright dessa edição © 2015 para Luiza Morgado
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte dessa publicação pode ser reproduzida, arquivada em sistemas de armazenamento ou transmitida em qualquer formato ou por quaisquer meios: eletrônico, mecânico, fotocópias, gravação ou qualquer outro, sem o consentimento prévio.
Editora assistente Luiza Morgado
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Preparação de texto Luiza Morgado Revisão Luiza Morgado Capa Luiza Morgado Projeto gráfico e diagramação Luiza Morgado
Direito de Edição: Luiza Morgado Rua do Rosário, 90 CEP 21941-150 Rio de Janeiro | RJ | Brasil Telefone: (212498-4520 www.luizamorgado.com.br contato@luizamorgado.com.br
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Sumário 10 | Introdução 14 | O Tejo Ponte 25 de Abril O Tejo 18 | Os passos da cidade Rossio 22 | Descobrimentos Torre de Belém Mosteiro dos Jerônimos Padrão dos Descobrimentos
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isboa é uma cidade feiticeira. Cada bairro tem um centro, um carisma, um diferente. De cada entrada se alcança uma colina que a debrua de um jeito singular, dando-lhe uma claridade ora aberta ora cinzenta. Ruas estreitas alternando com avenidas, prédios vulgares entremeados e de flancos envidraçados, manchas de verde escassas e inesperadas, um ou outro jardim perdido num dédalo de telhados e, por entre o encruzilhado de antenas e fios e chaminés, um súbito e arrogante aglomerado de apartamentos. Quem da ponte sobre o Tejo a admira, vislumbra uma cidade de espanto, espraiada no longe e na distância, muito branca muito suave, de curvas insinuantes, perdendo-se em altos e baixos, linda de ver e de tocar. Do sul, também, há que descobri-la num barco de rio, acostar como quem não quer chegar ao Cais das Colunas e inventar a Baixa pombalina que logo dali se imagina estreitando no funil do arco da Rua Augusta. Do interior é outra a graça escorregando ao longo dos carris da linha férrea, ultrapassando feio conjuntos de casas acinzentadas, vislumbrando uma várzea, um certo sufoco, porque daí a cidade não se alarga antes se estreita e se fecha como a proteger-se dessa Europa que a conquista ou descobre. Sobrevoada é luminosa e as casa parecem alinhar-se num jeito de aconchego, apertadas na área do aeroporto, soltas para os voos africanos nas zonas das docas. Vista do seu Castelo, aí onde S. Jorge foi orago, cheira ainda a uma toada medieval e pela encosta das ameias se derramam casebres ou moradias, entre dois muros uma nespereira, um chafariz perdido, um largo de pedra velha maltratada ou reconstruída, tudo misturado num mau senso ou numa magia. De um lado desce ao rio, do outro descobre, quem sabe, as torres de S. Vicente. Marcando a esquadria de uma depressão cujo fundo se atapeta de casario, enfrentam-se ao altos da graça, do Monte de S. Gens e da Penha de França. Em dias de céu claro, deixando poisar os olhos para o poente, eis que de novo se ergue a cidade, pintada de verde no jardim botânico, de pedra majestosa na cúpula da Estrela. Mais ao longe, a silhueta elegante do Palácio da Ajuda; no
vale o quadrado do Rossio, a estátua, a espinha verde do Parque Eduardo VII cortando a direito a cidade na Avenida da Liberdade. Lisboa é assim o Castelo, o casario, os bairros antigos que fados e guitarras mantêm encostados ao passado, as construções modernas de ousadas cores e estilos controversos, os miradouros e o rio. O Tejo que lhe marca o traças das rias e a numeração das casas, que surge de súbito ao voltar de uma esquina ou entre a nesga de dois andaimes, que faz parte do quotidiano das gentes e da visão dos pardais, sossegado, extenso, às vezes parece um mar, outras uma toalha de luz que nos liga ao sul, sulcado de barcos, enfeitado de velas, admirando numa ou noutra esplanada, aprisionando junto à Torre de Belém para logo de novo se soltar até alcançar a barra, entre S. Julião e o Bugio. A fundação da cidade, que o imaginário quer ligada a Ulisses assim lhe explicando o nome, deve-se mais provavelmente ao povo fenício e à sua colónia Alis Ubbe, sita no monte do Castelo de S. Jorge. No ano de 250 a.C., os romanos deram-lhe o nome de Felicitas Julia e deles restam vestígios. Em 714 cai Lisboa na mão dos bárbaros do Norte, mais tarde sob domínio muçulmano, ei-la resguardada entre os muros de cerca moura. Em 1147 D. Henriques conquista-a definitivamente para os cristãos e da cidade se faz rei. Era então Olissibona ou Lissibona. E consta a história de que este primeiro monarca lhe deu as <armas> mandando trazer o Promontório Sagrado, no Algarve, os restos mortais de S. Vicente que, com a barca guardada por dois corvos é, até hoje, o emblema da cidade. Rica de história, sede dos descobrimentos, primeiro aconchegada nas muralhas do Castelo, depois descendo e sucessivos patamares e alargando-se até se juntar aos planaltos do interior, a Cidade é hoje todo um conjunto de velho e novo, sobras do terramoto de 1755, a zona pombalina, as novas construções em que o ousar se confronta com o bom-gosto, um espaço desordenado de casas entre o céu e o rio, e arredores densamente povoados. Ao anoitecer queda-se numa serenidade iluminada aqui e além por monumentos grandiosos e, enquanto o coração da cidade parece adormecer, acordam ruidosos os bairros antigos.
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É do Tejo esta cidade, até ele descendo do alto das sete colinas. Sempre presente num rasgão de uma ruela, ao virar de uma esquina, ladeando-lhe a face sul com uma claridade de água mansa, translúcida, sossegada. O rio largo e profundo te gradações inesperadas de cor, projeta-as na cidade, ora azul profundo, oral sulcado de cinza, ora enfeitado de pequenos veleiros.
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O tejo Esse Tejo que lisboeta considera o seu rio, nasce em Aragão entre Albarracim e Orihuella, banhando Espanha e servindo aqui e ali de fronteira entre os povos. Mas é em Portugal que se torna especial e se vai estreitando, alargando, colorindo ou apenas fazendo esquadria à cidade que nele se repousa. Abre-se majestoso em frente a Sacavém, ganhando uma largura que lhe muda o nome para Mar da Palha, depois, liga Lisboa à Outra Banda, deixando-se sulcar pelos cacilheiros, atravessar pela Ponte 25 de Abril, aprisionar num estaleiro ou num cais de chegada. Na linha imaginária que liga o Terreiro do Paço a Cacilhas começas o estuário e estreita-se o manto de água junto à Torre de Belém para de novo voltar a abrir-se ate à Barra, onde cruzará o mar entre os fortes-faróis de S. Julião e Bugio.
17 PONTE 25 DE ABRIL Inaugurada em 6 de Agosto de 1966, a ponte sobre o rio Tejo cumpria então um velho sonho que dera origem em 1876 a um projeto do engenheiro Miguel Pais. Com cerca de dois mil e trezentos metros de comprimento ela é, apesar do seu perfil esguio, quase delicado, de linhas sóbrias, e parecendo ao longe muito frágeis, uma notável obra de engenharia que detém a nível mundial a façanha de possuir a fundação mais profunda e a viga de rigidez mais extensa. Aquando da Revolução mudaram-lhe os lisboetas o nome e, varando a noite acordados, logo ali lhe retiraram placa e de novo a batizaram... Ponte 25 de Abril. De Almada mostra um perfil que se recorta mágico sobre o casario deitado de Lisboa. Sobre ela é a confusão do verde/azul e rio e céu parece um... Então o tabuleiro paira suspenso no vazio!
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A atual Câmara Municipal de Lisboa começou a ser construída a 29 de Outubro de 1866, após violento incêndio ter destruído os anteriores Paços do Concelho. Sonhou-a o arquiteto Domingo Parente e foi da sua varanda que se proclamou a República a 5 de Outubro de 1910. A lindíssima fachada empresta ao lardo grandeza e equilíbrio e enfrenta um pelourinho do fim do século XVIII, modelando em espiral e coroado em elegante esfera armilar.
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Os Passos da
idade
Rossio
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Hoje como ontem é a <Baixa> onde todas as ruas vão dar. Se de cada entrada se parece desenrolar um caminho que a descobre, de fato ei-la diferente daquela que a sonharam. Em tempos muito antigos, antes mesmo de batizada por cristãos, já a zona, este vale apertado entre o monte de S. Francisco e o Castelo, se cortava de ruas estreitas e tortuosas e, mesmo estriada pela corrida do esteiro do rio, era a parte nobre da cidade. Depois foi 1755 e dela pouco ou nada restou. Sobre os escombros ergueu-se então a área pombalina. Se ao Marquês de Pombal não foi possível reconstruir palacetes e obras grandiosas, que a época era de crise e o tempo de urgência, vislumbra-se porém uma harmonia nessa arte fria e sóbria, uma ordenação geométrica não desprovida de beleza, um rasgar certinho de ruas e esse remate aberto e grandioso do Terreiro do Paço. A Praça D. Pedro IV, a que os lisboetas chamam de Rossio, é o caroço dessa área plana que daí se espraia até o Tejo. Praça retangular enfeitada no centro pela estátua do rei que foi inaugurada em 1870. Construída sob direção do arquiteto Davioud, do escultor Elias Robert e de Germano Sales, com quase trinta metros, a estátua é mármore, é pedra lioz, é bronze. Na base do pedestal entre os escudos das dezesseis principais cidades do país repousam a Justiça, a Prudência, a Fortaleza e a Moderação. D. Pedro IV, coroado de louros ostenta a Carta Constitucional por ele outorgada. Ladeando a estátua dois lagos. Um, lugar de flores, ramos altos ou cestos de violetas, rosas e cravos; outro, poiso de pombos que em revoadas alegram a praça. Num dos topos do retângulo, o Teatro D. Maria II inaugurado em 1846, foi traçado pelo arquiteto italiano Fortunato Lodi.
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Lisboa das descobertas, bairro de Belém voltado ao Tejo. Daqui partiram as naus que descobriram estrada de água até à Índia, daqui, já mais perto de nós, largaram voo ousado Gago Coutinho e Sacadura Cabral. Junto ao rio o paredão desce rente ao chão, ergue-se em proa no Monumento às Descobertas, faz-se rosa-dos-ventos, cheira já ao mar que se aproxima.
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Torre de belém Construída sobre o traçado do arquiteto Francisco de Arruda, a Torre de Belém é um dos mais belos e inesperados monumentos que, assinalando a fisionomia da cidade, a tornam única. Corria o ano de 1521 e era rei D. Manuel e alcaide-mor desse <Castelo de S. Vicente a par de Belém> Gaspar de Paiva. Inspirada num imaginário mourisco era ao tempo despegada de terra, batida em todo o redor por ondas mansas desse rio que aí alarga e se transforma. Hoje ei-la em terra firme e mais parece um grande barco, rendilhado e branco, ogivado nos portais que abrem para amaduras, convés romano-gótico, balcões, varandins. A Torre alia com magia traços e culturas diferentes. Torna-se única semeando-se de decorações manuelinas, ergue-se em cúpulas bizantinas, couraça-se de ameia com a cruz de Cristo, abre-se em frestas ligeiras olhando o mar. Ao centro, claustro de arcos esconde a respiração escondida do porão dessa nau que já foi prisão política, cárcere apenas, depósito de armas. No lado sul, pequena porta manuelina enfrenta um varandim enfeitado a gótico. Vista do mar a Torre assombra pela beleza dessa face que nega aos que de terra a alcançam; mistura-se de Oriente e Ocidente, lembra cruzadas e conquistas, abre um rasto marmóreo no mar que a salpica. Noite dentro parece deslizar num chão de veludo, um escuro de azul muito profundo. Em dia claro abarca a outra margem do rio que o casario cobre e que a espaços desce, por vezes em escarpas esverdeadas, outras ferida de sulcos.
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Mosteiro de jerônimos O Mosteiro dos Jerônimos está situado junto à praia do Restelo, no sítio onde outrora se erguia uma ermida fundada por D. Henrique. Querendo comemorar e agradecer a Deus a descoberta do caminho marítimo para a Índia, El-Rei D. Manuel I o sonhou assim grandioso e em 1502 se lançou a primeira pedra. Dois arquitetos lhe deram traça. Entre 1502 e 1516 Boytac deu-lhe a feição gótico-naturalista com que já havia dotado, entre outros, o Mosteiro da Batalha. Em 1517 é João Castilho que inicia entre nós essa arte da renascença, cobrindo de medalhões, quimeras e temas lombardos os partais, os pilares das naves, parte do claustro. Logo na fachada principal se misturam os dois mestres. No portal principal o traçado do arco, a decoração dos dois nichos laterais têm caráter manuelino de Boytac, mas a estatuária que povoa esses nichos enche-se de conchas, pilastras, motivos renascentistas. Entrando na catedral, transposta a penumbra que o balcão do oro impõe, parece a magia duma gruta marítima. A abóboda sustenta-se por etéreos pilares, raros e delgados. Uma série de confessionários alinham-se no correr de pequenas portas repletas de nichos de uma decoração exuberante. Do interior da nave central para o claustro é a descoberta do maravilhoso. Aí se joga a originalidade genial na mistura de Boytac e Castilho. Os temas decorativos tão diferentes são associados ao mesmo sopro, servem a mesma busca de beleza. Em quatro nichos laterais repousam em sarcófagos de mármore, que elefantes suportam, D. Manuel, D. Maria, D. João III e D. Catarina. Por trás do alto-mor escondem-se os restos mortais de D. Afonso VI, o príncipe D. Teodósio e Infanta D. Joana, seus irmãos e a rainha de Inglaterra D. Catarina de Bragança.
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PADRãO DOS DESCOBRIMENTOS Erguido frente ao Tejo, o Padrão dos Descobrimentos simboliza os feitos dos portugueses e foi inaugurado em 1960 pelo 5º. Centenário da morte do Infante D. Henrique. No chão, junto ao monumento, construída em mármore colorido com 50 metros de diâmetro, uma rosa-dos-ventos evoca, num planisfério central, os sítios onde, mundo fora, chegaram os barcos lusos. Oferecida a Portugal pela República da África do Sul em 1960, a obra foi contudo executada por operários portugueses sob projeto do arquiteto Cristino da Silva. O conjunto lembra partidas e rumos distantes e os olhos divagam pelas figuras de pedra que parecem formar a proa de uma nau, enquanto os pés assentes no chão dançam as rotas na cor do mármore. O monumento é do arquiteto Continelli Telmo e assina a estatuária Leopoldo de Almeida. Ergue-se muito elegante evocando a partida que descobriria terras e gentes. Esforçados marinheiros, fidalgos, cruzados e todos os que de alguém jeito tornaram a aventura possível, parecem representados nos rosto de pedra e convergem na proa desse barco, onde o Infante D. Henrique oferece ao mar a caravela simbólica. É na Praça do Império e todo o conjunto aproxima a cidade de um rio que se alaga.
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Lisboa dorme e no rio atento inventa-se ainda o reflexo dos mastros. Porta aberta ao mundo, olhando o cais imagina-se passado feito futuro...
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...É que, bordejando a cidade, essa estrada líquida mais do que um rio, é entrada e saída, é que, fica já com saudades de chegar.
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Sobre o livro 1ª edição Formato: 25x25cm Tipografia: Gill Sans Papel Miolo: Couchê fosco 120g Capa: Paraná emcapado
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