Diário de Franz Ebert

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bert E z n a r F ce a n e t r e P haus “ u a B la o c ue q Es u , d r a o m ã i r e do G 1921 W lo e t s a C , burg n r o D 2 2 9 1 ar. “ m i e W sen de Sach "Este trabalho se trata de um exercício experimental aplicado na disciplina de História do Design da Universidade Federal de Pernambuco, no segundo semestre de 2014, ministrada pela prof. Dra. Oriana Duarte, com monitoria da aluna Hannah Sá. A proposta é desenvolver uma narrativa autoficcional ambientada na escola Bauhaus na primeira metade do século XX e tem como objetivo uma outra possibilidade de apreensão do saber histórico. Os conteúdos aqui apresentados não devem ser considerados estritamente como fatos históricos e não devem ser usados como documentos históricos."

Trabalho realizado pelas alunas: Analu Lira e Luiza Amorim. História do Design 2014.2


Este é o Diário de Franz Ebert um estudante da Bauhaus, que atualmente reside em Dornburg, onde estuda no Atelier de Cerâmica. O texto a seguir contém uma carta escrita para a sua mãe, que durante alguns dias relata as experiências cotidianas da vida desse jovem alemão.


Sábado, 12 de Setembro de 1922. Olá família, Como estão as coisas por Berlim? Bem por aqui o dia começou chuvoso, desci da cavalariça, que agora funciona como meu dormitório e dos meus colegas, e fui tomar café na cozinha central, como faço diariamente. Sinto saudades do conforto do dormitório de Weimar, mas como eu e todos que fazem parte do atelier de cerâmica somos hospedes não podemos reclamar da hospitalidade dos irmãos Krehan. Encontrei-me com Theodor e Otto, eles discutiam com ânimo sobre o conselho de mestres, que estava por vir, e as ideias do diretor Gropius sobre mudanças na produção, algo que ele chamava de ‘‘Nova Unidade Bauhaus ’’. De inicio estranhei, pois Walter afirmava a necessidade de criar produtos capazes de serem fabricados em série, algo que não estamos acostumados a fazer. ¹Os mestres ficaram divididos, Marcks, tradicionalista do jeito que era, não aceitava muito bem essa ideia de Gropius, uma vez que este achava nossos métodos muito “romancistas”, menos industrias. Gropius, a meu ver, estava seguindo o fluxo natural da industrialização, já que a Bauhaus não produzia ‘’arte pela arte”. Então, nosso próximo passo seria expandir.

¹ TRECHO BASEADO NO LIVRO: BAUHAUS Jeannine Fiedler e Peter Feierabend


Sábado, 12 de Setembro de 1922. De tarde teríamos aula com Max Krehan, então ainda pela manhã fomos às instalações do castelo coletar nossa matéria prima: a argila. E como eu amo o clima que o outono traz!!! Com as folhas espalhadas pelo nosso jardim e na floresta aqui perto. Aproveitamos e também fomos pegar lenha para o forno ¹Kassel, onde cozinhamos nossas peças. E quanta lenha é preciso! ²As aulas do mestre Krehan são sempre mais rigorosas e práticas do que as de Marcks, pelos métodos utilizados como a coleta de material. Tirar água do poço, que ficava de frente para o jardim, e esvaziar a fossa do castelo quando necessário eram também outras tarefas. Diferente dos outros Ateliers que ficam na sede da Bauhaus, em Weimar, o de cerâmica fica localizado em Dornburg, a 30 km de Weimar. Moramos no castelo dos Krehan onde eu e meus seis colegas possuímos um pedaço de terra para cultivo pessoal, o que é bastante agradável, pois a jardinagem me traz certa paz. Sinto um clima muito harmônico no castelo, eu diria que somos mais uma comunidade independente, onde comemos o que plantamos, e vendemos parte de nossos trabalhos para ter o nosso sustento.

¹FORNO KASSEL É UM FORNO DO SECULO XVIII UTILIZADO NAQUELA ÉPOCA. ²TRECHO TIRADO DE CARTAS DE OTTO LINDING SOBRE GEHARD MARCKS.


Sábado, 12 de Setembro de 1922. ¹Diferente dos outros Ateliers que ficam na sede da Bauhaus, em Weimar, o de cerâmica fica localizado em Dornburg, a 30 km de Weimar. Moramos no castelo dos Krehan onde eu e meus ²seis colegas possuímos um pedaço de terra para cultivo pessoal, o que é bastante agradável, pois a jardinagem me traz certa paz. Sinto um clima muito harmônico no castelo, eu diria que somos mais uma comunidade independente, onde comemos o que plantamos, e vendemos parte de nossos trabalhos para ter o nosso sustento. Nas noites de sábado sempre sentamos todos juntos ao redor da fogueira, tomamos um bom vinho, conversamos sobre as notícias vindas de Weimar e sobre os nazistas e seus duvidáveis ideais. Ouvíamos histórias dos irmãos Krehan como também fazíamos rodas de leituras de Goethe a Strindberg

¹TRECHO BASEADO NO LIVRO: BAUHAUS de Jeannine Fiedler e Peter Feierabend. ²PARTICIPARAM 6 ALUNOS DO ATELIER DE DORNBURG, MAS NÃO NECESSARIAMENTE AO MESMO TEMPO. ³TRECHO BASEADO NO LIVRO BAUHAUS de Magdalena Droste.


Domingo, dia 13 de Setembro de 1922. Apesar de ser Domingo, passamos o dia arrumando o Atelier, separamos a argila em um só lugar, limpamos os tornos, pincéis, aventais, jogamos flanelas que já não serviam mais fora, e também organizamos a lenha em seu devido lugar. Marcks e Max estavam preocupados nos últimos dias, se preparando para entrar no clima da Grande Exposição Bauhaus, que está marcada para próximo ano. Por isso agora temos que, mais que nunca, por a mão na massa e produzir peças que serão expostas na casa Am Horn. Pela primeira vez mostraremos a todo o país o resultado de todo nosso aprendizado. Diferentemente da nossas peças até agora, essas não farão parte das “Fornada Lucrativas”, que vendemos para sustentar o castelo. Falando em produzir peças, há tempos venho conversando com meus colegas a respeito de trabalhos em conjunto, principalmente com Otto, já que ele é um dos destaques do Atelier, considerando que ele já estudou em diversas universidades, uma delas, a Applied College Grand-Ducal, sob o comando de ninguém menos que Henry van de Velde!!


Domingo, dia 13 de Setembro de 1922. Depois do almoço, sentamos na mesa para discutir sobre nossa obra, Otto queria fazer algo diferente da forma já utilizada no nosso Atelier, mas eu o convenci a seguir os padrões que já eram de costume. Passamos horas debatendo, e chegamos a uma conclusão... VAMOS FAZER UMA JARRA! Depois do nosso longo planejamento, fomos jogar ¹Skat junto com Theodore, Marguerite e Johannes, nas mesinhas da sala no térreo à luz de velas. Passamos a noite na jogatina, e acabamos por dormir tarde, o que iria dificultar acordar cedo amanhã.

¹SKAT É UM JOGO TRACIONAL DE CARTAS NA ALEMANHA.


Segunda feira, dia 14 de Setembro de 1922. O dia foi produtivo hoje, tivemos aula com Gehard Marcks, nosso mestre de forma, nossa aula foi divida em duas partes, no primeiro momento vimos à história da cerâmica, e debatemos sobre a utilização dela na China e no Egito. Na segunda parte demos início a experimentos, estudando a cerâmica sendo utilizada em forma de vasilhames. Como Marck já havia trabalhado em fábricas de cerâmica, ele dominava essa técnica de produção. A aula seguinte foi a de Max Krehan, nosso mestre artesão, particularmente achava a aula dele mais interessante. Nela já tínhamos aprendido a manusear o torno, usando os princípios básicos da rotação e passamos algumas aulas aprendendo a manipular o comprido Kassel. Lembro-me de passar um pouco mal com as altíssimas temperaturas em que esse forno trabalha, então depois de empilhar cuidadosamente toda a lenha, sai um pouco do castelo para tomar um ar, como a cozedura levava 24 horas de pré-queima e mais 24 horas de queima só voltamos a mexer na peça mais tarde para o processo de vidragem.


Segunda feira, dia 14 de Setembro de 1922. Na aula de hoje praticamos vidragem, que é a técnica de decoração feita após a cozedura para dar um melhor acabamento e aumentar a impermeabilidade da peça. Nesse processo usamos o vidrado, um pó de vidro, misturado com água e o aplicamos por mergulho, pincelamento ou vertimento. ¹Durantes as aulas era costume lembrarmos Johannes Itten, grande mestre do Vorkus atuante em Weimar. Os exercícios respiratórios e de ginástica antes de começar as aulas são sempre úteis, principalmente para ajudar na direção e fluidez dos trabalhos. Outro conceito usado no Vorkus que usamos no Atelier é nossa liberdade de criação, mesmo com o tradicionalismo dos irmãos Krehan, que herdaram esse costume em Turingia, onde trabalhavam antes de Weimar.

¹TRECHO BASEADO NO LIVRO: BAUHAUS de Jeannine Fiedler e Peter Feierabend.


Terça feira, 15 de Setembro de 1922. Retomei meu projeto com Otto hoje, nossas ideias discutidas no domingo hoje iam ser postas em prática. No Atelier, resolvemos todas as técnicas de proporções, método muito peculiar também trazido de Turíngia. Uma das características marcantes e interessantes das aulas de Krehan era o fato dele usar as proporções anatômicas para compor os artefatos.

IMAGENS MERAMENTE ILUSTRATIVAS, PROPORÇÕES ANATÔMICAS MASCULINAS.


Terça feira, 15 de Setembro de 1922. Uma das características marcantes e interessantes das aulas de Krehan era o fato dele usar as proporções anatômicas para compor os artefatos. Nota-se pelo uso de cano alto de nossas peças, que se assemelham a corpo esguio. E no nosso processo de criação da forma o objetivo é tornar o objeto mais simples possível, por isso também optamos pelas cores claras.

ANOTAÇÕES DE TEORIA DA COR, AULA DE JOHANNES ITTEN.


Terça feira, 15 de Setembro de 1922. Quando terminei a jarra, o forno já estava pré-aquecido então botei ela lá, arrumei o Atelier e junto com Otto fui dar uma volta pelas terras do castelo. Enquanto passeávamos observávamos o jardim, já era hora de podar as roseiras.

Aproveitamos e fomos olhar o nosso roçado, dois meses atrás tivemos uma praga, e algumas plantas ainda estavam se recuperando. Continuamos a andar pelos arredores do castelo e paramos embaixo de uma macieira onde ficamos a admirar a passagem que tínhamos a nosso favor. Voltamos ao castelo direto para o Atelier e lá estava ela, Marguerite tão concentrada em sua criação, uma cena linda de se ver, então ao avistar isso, Otto saiu do atelier, por um instante

fiquei sem entender, mas logo depois voltava ele com um sorriso no rosto e a uma câmera fotográfica na mão.

FOTOGRAFIA DE Marguerite Wildenhain, AUTOR DESCONHECIDO.


Quarta feira, 16 de Setembro de 1922. Hoje pela manhã tomamos café todos juntos, de tarde não ia ter aula de Krehan, pois ele iria precisar ir até o centro de Dornburg e Theodore iria acompanha-lo, isso iria me deixar com o dia livre, pois pela manhã eu já não iria ter aula. Então depois que tomei meu café peguei minha bicicleta e fui dar uma volta pela estrada de barro que me levaria ao riacho nas proximidades. Gertrud e Marguerite me acompanharam nessa jornada, chegando à cachoeira fizemos um piquenique enquanto eu lia o meu livro e me inspirava na paisagem e nas formas que só a natureza proporciona, as meninas aproveitavam para pescarem, infelizmente sem obter muito sucesso. Quando voltamos para o castelo colhemos os vegetais para o almoço e fizemos nossa refeição sem pressa, ainda no clima do nosso passeio. De tarde me encontrei com Otto no atelier e retiramos nossa jarra do forno, depois que ela esfriou fizemos a vitragem e a pintura, processo que levou a tarde toda, confesso que não me sentir muito seguro para fazer a pintura então deixei que Otto comandasse essa parte já que ele era especialista neste quesito, e assim eu também aproveitaria o momento e aprender com o meu colega de classe.


Formas Básicas

Círculo

Cone

Cilindro

Ênfase!

Esfera

Cubo

Trapézio

Depois de lembrar nossos métodos começamos a botar tudo no papel.


Formas Geométricas ¹

Otto começou a esbouçar nossa jarra, mas o formato geometrizado que ele estava dando a ela não me agradava muito, pois eu gostaria de fazer algo seguindo as formas anatômicas. Recomeçamos então nosso esbouço partindo do ponto referencial do corpo humano, pensamos também no formato de um chapéu sobre um homem, que para nós surgiria como referência a tampa da jarra.

¹RASCUNHO FANTASIA DA PEÇA PRODUZIDA POR OTTO LINDIG MAIS TARDE.


Esbolços

Recomeçamos então nosso esbouço partindo do ponto referencial do corpo humano, pensamos também no formato de um chapéu sobre um homem, que para nós surgiria como referência a tampa da jarra.

Tronco

Cintura

Recomeçamos então nosso esbouço partindo do ponto referencial do corpo humano, pensamos também no formato de um chapéu sobre um homem, que para nós surgiria como referência a tampa da jarra.

IMAGENS MERAMENTE ILUSTRATIVAS.


Terça feira, 15 de Setembro de 1922. Depois de chegarmos ao consenso de como seria a peça, fomos para o torno onde aplicamos à boa e velha técnica da pontuação, ou seja, juntamos dois pedaços de cerâmica em um só. Como Otto fez a maior parte do croqui e eu fiquei lhe auxiliando nos detalhes e nas curvas da forma da nossa obra, agora eu iria por a mão na massa modelando enquanto isso ele iria pegar a lenha para botar no Kassel.

FOTOGRAFIA DO ATELIER DE MAX KREHAN, AUTOR DESCONHECIDO.


Quarta feira, 16 de Setembro de 1922. Então mãe isso é que aconteceu na minha última semana, estou com saudades de vocês espero que meus planos de ir daqui a um mês lhe visitar dê certo, e o papai como anda? Melhorou da gripe? E o Eliel tem mandado notícias do internato? A última carta que recebi dele já faz mais de um mês, ele estava tão feliz me contando que tinha entrado para o coral e que agora finalmente poderia aprender um pouco mais sobre música. Com amor,

Franz Ebert.

JARRA, PEÇA DE AUTORIA DE OTTO LINDIG (1922).


Referências Bibliográficas - Otto - http://finslab.com/enciclopedia/letra-o/otto-lindig.php - Documentário da Bauhaus - youtube.com - Bauhaus Archiv – Magdalena Droste - Editora TASCHEN - Curso da Bauhaus - Wassily Kandisnsky – MARTIN FONTES - Walter Groupius - Bauhaus Novarquitetura Editora PERSPECTIVA - Da Bauhaus ao nosso Caos – Tom Wolfe – ROCCO 2ª EDIÇÃO - Bauhaus – Jeannine Fiedler e Peter Feierabend - HFULLMANN - Otto l. - http://en.wikipedia.org/wiki/Otto_Lindig - Otto Lindig - Wikipedia, the free encyclopedia - Gehard Marcks - http://en.wikipedia.org/wiki/Gerhard_Marcks Aulas - http://www.academia.edu/914225/Cer%C3%A2mica_na_Bauhaus - Otto - http://finslab.com/enciclopedia/letra-o/otto-lindig.php - Termos de Cerâmica - http://pt.slideshare.net/Agostinho/oficina-artes-barro - Glossário - http://l.facebook.com/lsr.php?u=http%3A%2F%2Fwww.portorossi.art.br%2Fweb%2520glossario.html&ext=1422347020&hash=AcnUVj34hY xTLMn-iHb6RaZF-h7GRi3TZK_eLEq9vu_clQ - Artefatos - http://www.bauhaus.de/en/ausstellungen/sammlung/ - Pote de Otto Lindig - http://bauhaus-online.de/en/atlas/werke/tall-lidded-pot-with-scored-decoration - Artefatos - http://www.moma.org/interactives/exhibitions/2009/bauhaus/Main.html#




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