Maturi - Quadrinhos Potiguares #3

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EDITORIAL

é posto em xeque em uma situação em que apenas a astúcia do homem pode salvá-lo de um final certo e trágico.

Esta edição da revista Maturi apresenta a versatilidade da arte dos quadrinhos em narrativas com temáticas e estilos diversos que unem técnica, expressividade e sensibilidade.

Uma narrativa verídica inspirou Alunissagem, de Ivan Cabral, que reacende a polêmica em torno da viagem do homem à lua e revela o argumento inusitado de um dos protagonistas descrentes da façanha humana.

Alguns aspectos mais marcantes da vida cotidiana são realçados sob a ótica bemhumorada dos quadrinistas, como na história Rindo da desgraça, em que Luiz Elson mostra como uma tragédia familiar pode ser superada através do riso, que se sobrepõe aos limites que a vida nos apresenta. De igual modo e com humor sarcástico e certeiro, Gabriel retrata o drama vivido pela família de um homem que saiu de casa para comprar um coco e nunca mais voltou. Wolclenes e Beto Potyguara se unem para resgatar uma lenda em que o caráter humano

Brincar na rua ou jogar vídeo-game? Chessburger ou coalhada com farinha? Cocorote ou porrada? Ver TV ou escutar rádio? Em Conflito de Gerações, Marcio Coelho e Emanoel Amaral mostram a troca de experiência entre o avô e seu neto . Giz e Areia, com roteiro de Milena e arte de Wanderline, retrata o ambiente do Projeto de pé no chão também se aprende a ler - experiência pioneira que marcou a ação educadora do ex-prefeito Djalma Maranhão no Rio Grande do Norte - e o contexto político sombrio e ameaçador que envolvia a geração daquela época.

Gilvan Lira empresta sua arte em uma narrativa que recorre à ficção científica para recriar o cenário do descobrimento do Brasil e as expectativas dos seus primeiros habitantes. Um mito da cultura tupi é retratado em Rebeldia em que as ações presunçosas de um jovem índio trazem-lhe desagradável surpresa. Pela dupla Marcio Coelho e Gilvan Lira. Na seção Bodega Cultural, Emanoel Amaral apresenta aspectos da riqueza cultural indígena e sua contribuição para a formação cultural de nossa gente. Esperamos que a leitura dessas histórias seja uma experiência gratificante, enriquecedora e que provoque reflexões e discernimentos a serem compartilhados. Mais desenhos e novidades sobre a produção do Projeto Revista Maturi?Visite-nos no www.grupehq.com

EXPEDIENTE Natal - outubro de 2010

GRUPEHQ - Grupo de Pesquisa e Histórias em Quadrinhos. Marcio Coelho - Presidente Ivan Cabral – Vice-presidente e tesoureiro Luiz Elson - Secretário

PROJETO REVISTA MATURI Coordenação Administrativa: Marcio Coelho Coordenação Artística: Gilvan Lira Editores: Gilvan Lira Ivan Cabral Marcio Coelho Emanoel Amaral Colaboradores: Emanoel Amaral Gilvan lira Ivan Cabral Luiz Elson Marcio Coelho Carlos Alberto Wanderline Freitas Milena Azevedo Beto Potyguara Gabriel Andrade Robson Nascimento Endereço: Rua Minas Novas, 300 - Res. Sevilha C13 Neópolis - 59088-725 - Natal-RN Contatos: grupehq@gmail.com mmarciocoelho@gmail.com ivankabral@gmail.com Diagramação e projeto gráfico: Fernandoaureliano.com Capa: Gilvan Lira A revista MATURI foi originalmente criada por Aucides Sales.

www.grupehq.com


texto: Luiz Elson desenho: Robson Nascimento

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o bem com o bem se paga

ai! que cacetada!

no meio da mata, havia um buraco. havia um buraco no meio da mata, e...

help me!

please! caramba! que troรงo fundo da gotaSerena!

may day!

Texto: Beto Potyguara Arte: Wolclenes Freitas

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algumas horas depois...

oo

c so

o

oo

o oo

o!

r or

diacho! donde tá vindo esse grito malassombrado?

acudam-me!

arre-égua! É uma onça! O diabo é quem vai tirar ela daí! Dispois de sair, a senhora vai é me cumê!

Eu juro, por tudo que é mais sagrado! Salve-me, e eu lhe serei eternamente grata!

Ô condenada pesada da moléstia!

Valeu, home! Cê não vai se arrepender!

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Bão... se é assim...!


Finou-se, mermão!

Hummmmm! De fato. Eu tenho uma reputação a zelar! Façamos o seguinte...

Vamos começar a enquete com o meu cumpadre cavalo, ali! Gulp!

vamos testar a sua popularidade no reino animal! Numa melhor de três, se a maioria dos bichos for a seu favor, cê tá livre! Se não for, cê tá morto!

Ah, bicha desalmada, desonesta e mentirosa! Num sabe nem honrá a palavra empenhada!

E assim... quando eu era jovem e forte, trabalhei e ajudei o danado do bicho-homem a enriquecer! E qual foi o meu pagamento?

Fui abandonado aqui pra morrer! O Bem só se paga com o mal!

Passe a faca no mardito, cumadre!

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Um a zero!

Mata, esfola, trucida, esmaga, espanca e dispôs repete tudinho de novo!

Danou-se!

Tu vê se relaxa, visse? Pois cumida nervosa é danada pra me fazer mal! Dá uma azia dos infernos! Vixe, o boi?! Tô lascado!

Opa! Hora de aumentar o placar! Cumpadre, me ajuda numa peleja?

Passei a minha vida puxando o arado e a carroça do meu senhor! E o que eu ganhei em troca? Descobri que fui vendido a um açougue e vou ser retalhado inteiro! O bem só se paga com o mal, cumadre!

Qual é o babado?

Falta só mais um, condenado! E vê se não se borra, que eu não curto pirão, viu?

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Eita! que vai ser de goleada!


!

QUIA

A história se repete, e...

QUIA!

QU

IA!

QUIA!

Mas, como é que esse cara, só o coió, teve forças pra levantar a senhora?

Qual é, macaco? Tá pagando sapo pra mim?

Né por maldade não, cumadre! Mas... hi! Hi! Hi! Hi!

Cê tá insinuando que eu tô mentindo? Perdeu a noção do perigo, foi?

Pois venha comigo, que eu vou lhe mostrar como foi!

E depois vou devorar os dois, só pela sua pirraça!

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Foi bem aqui, ó!

Realmente, cumadre, é fundo pra DeDéu

Jerônimoooo!

pronto, home! Agora me tire daqui e prove ao macaco do que cê é capaz!

Cumadre, o bem só se paga com o bem!

N

Quem faz o mal recebe o mal!

o o ão

!!! o oo

buááááá!!!

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Fim


HÁ, EM NOSSO ESTADO, UMA CIDADE QUE, ANTES, ERA CONHECIDA COM O NOME DE “SALTO DA ONÇA”. EM 1850, ANA JOAQUINA DE PONTES, FUNDADORA DO POVOADO, COMPROU UM SÍTIO ENTRE OS RIOS JACU E JACUZINHO.

POR OCASIÃO DA CELEBRAÇÃO DA PrIMEIRA MISSA, O VIGÁRIO DE GOIANINHA, PADRE MANOEL FERREIRA BORGES, MUDOU O NOME DO POVOADO PARA SANTO ANTôNIO.

ATÉ POUCO TEMPO ATRÁS, AS PESSOAS AINDA FALAVAM:

MORO NA CIDADE DE SANTO ANTôNIO DO SAlTO DA ONÇA.

POR QUE SALTO EXISTEM D DA ONÇA? UAS VERS ÕES. UMA LI CRENDICESGADA ÀS D O A OUTRA E POVO. VOCA A FAUNA BRAS ILEIRA.

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CONSTA QUE, NA PRIMEIRA VERSÃO, HAVIA DUAS PEDRAS DISTANTES UMA DA OUTRA. EM CERTA OCASIÃO, UMA ONÇA-PINTADA DEU UM SALTO MAGISTRAL, PRESENCIADO POR ALGUNS CAÇADORES E VAQUEIROS QUE SE BANHAVAM NAS ÁGUAS DO RIO JACU...

A OUTRA VERSÃO CONTA QUE CERTA PESSOA, PASSANDO PELO LOCAL...

... VIU UMA ONÇA QUE PROCURAVA ATACÁ-LA.

... E QUE, EM PLENO SALTO, FOI ABATIDA POR UM CAÇADOR.

INDEFESA, MAS COM MUITA FÉ, DISSE: VALHA-ME, SANTO ANTôNIO!

E O ANIMAL SAIU CORRENDO, SUBINDO AS PEDRAS AMEDRONTADO...

... DANDO OPORTUNIDADE PARA QUE O HOMEM FUGISSE, AJUDADO PELA CORAGEM ALIADA AO VOTO, NA SÚPLICA ARDENTE DE SUA CRENÇA nO GLORIOSO SANTO.

baseado no livro lendas do brasil de gumercindo saraiva

desenhos: carlos alberto

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fim


texto e desenhos: ivan cabral

20 de julho de 1969.

Boa noite, compadre! Boa!

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vamo jogar uma daminha?

e, enquanto isso, a gente vai botando as conversas em dia.

desta vez, o compadre vai jogar com os feijĂľes pra ver se tem mais sorte.

o que ĂŠ que o compadre achou da novidade que a televisĂŁo mostrou?

que novidade, cumpadE ?

que novidade?! ora... o grande passo da humanidade: a chegada do homem na lua. eu falei pro compadre que isso ia acontecer mais cedo ou mais tarde! o cumpade sabe que eu num sou homem de acreditar nessas aresia!

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mas, compadre... eu vi com esses olhos que a terra há de comer... todo mundo viu! passou na televisão! e o cumpade, com essa idade, acredita em tudo o que aquela caixa diz?

aquilo é armação, cumpade! eles levaram uns caboco fantasiado de escafandrista de noite pra um descampado e mandaram eles ficar fazendo munganga pra sair na filmagem só pra enganar os trouxa que nem o cumpade e uma ruma de gente.

mas deus colocou a inteligência na cabeça do homem, compadre!

uma coisa é certa, cumpade: ninguém pode mais do que os pudê de deus!

é, mas o diabo botou a astúcia e a mentira no coração do home!

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e eu vou provar pra você, cumpadE, como essa história NUM TEM PÉ NEM CABEÇA. É ENGABELAMENTO PURO!

OLHE... A LUA TÁ LÁ EM RIBA, NUM TÁ?

HUMRUM...

aí o homem se monta no foguete, apruma o bicho na direção da lua e vai, vai, vai ... acontece que o foguete vai indo, e a lua também vai se bulindo...

ele num acerta nem com a gota serena!

quando o foguete tá chegando bem pertinho da lua, ela já tá lá na baixa da égua.

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vots! cadê minhas PEDRA ? vots! cadê minhas PEDRA ? eu comi e bati o jogo, compadre! eu comi e bati o jogo, compadre!

quer saber de uma coisa? eu vou me recolher, que hoje uma e coisa? équer noitesaber de luade cheia já viram eu me recolher, que por hojeaí. umvou lobisomem rondando é noite de lua cheia e já viram um lobisomem rondando por aí. dizem que o bicho comeu um garrote dizem que o bicho do dr. abelardo! comeu um garrote do dr. abelardo!

fazer o quê? o compadre se fazer o quê? empolga com a oconversa compadree se não empolga com a presta atenção conversa e não no jogo... presta atenção no jogo...

vige, compadre... então vamos embora! vige, compadre... então vamos embora! tá vendo? essas coisas a televisão tá vendo? essas não mostra! coisas a televisão não mostra!

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ZAP!

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CONFLITO DE GERAÇÕES O que você tá comendo, Zezinho?

Comíamos bolo de milho, macaxeira com carne de sol ou mungunzá... Tudo feito pela minha mãe.

Rapadura? Farinha? Éca!

Vô, antigamente as crianças só iam dormir depois de assistir as novelas, né?

Isso aí não tinha antigamente!

Sério?!? Coitadinha delas!

COres: Emanoel Amaral

No meu tempo, minha mãe fazia coalhada pra gente tomar com farinha e rapadura.

“iugute”, “qué ”?

Já sei que no seu tempo o Senhor também não comia batata-frita e chess-burguer?

Roteiro e arte: Marcio Coelho

Não existia tv! Escutávamos o rádio. Coitada por quê? Elas brincavam na rua de tica, escondeesconde e de subir nas árvores!

Minha mãe fala que é perigoso subir em árvores.

Ela diz, é?

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Vô, eu não tenho medo de nada... E o Senhor?

Já tive medo de uma música!! Uma música?!!? Como assim, vô?

...Desde esse dia passei a ter pesadelos com o boi, principalmente quando minha mãe cantava “boi da cara preta”

Já levei uns cocorotes do Senhor...Uns cascudos da Mamãe e umas porradas dos colegas da escola!

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E o senhor não mandava ela parar, não?

Quando eu tinha a sua idade, fui a um sítio e quase levo umachifrada de um enorme e brabo boi preto...

Se fizesse isso, levava um cocorote O que é isso? É a mesma coisa que um cascudo, só que dado por alguém mais velho.

Como era a música do Boi?

♪♪ Era assim: Boi, boi, boi, Boi da cara preta, pega esse menino que tem medo de careta! ♪♪

Tô lembrado!

Sinistro!!


Quando eu tinha quinze anos, entrei para um grupo folclórico de Boi-deReis! Cê sabe, né?... Um homem que veste uma fantasia e se transf...

AAh! Esse tal de Boi-deReis é algum tipo de super-herói das antigas? Tipo o homemaranha e o batman, né?

FANTASIA?!!?

Lá vem besteirol!

Zezinho, você merece uma bengalada no quengo, mas tenho medo do que pode sair daí de dentro...

Boide-Reis não é super-herói... É folclore, sua anta!

O que foi agora, menino?

ai!

Folclore? Isso não é palavrão, Zezinho!

Folclore é tudo aquilo que é referente as tradições, costumes e superstição de um povo.

Ã-hah!!

Folclore... O senhor falou palavrão!

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Minutos depois... Vou pegar minha fantasia de Boi-de-Reis que guardo ali no quartinho pra mostrar a você.

Tô saindo, Zezinho!

E eu vou pegar a minha de homem-aranha!

Venha pra fora, para que o homem-aranha possa conheçê-lo, Seu-Boi-de Reis.

MAÊÊÊÊÊ! O Boi da cara preta engoliu o vovô!

AÊÊÊ, Zezinho?

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FIM


Pai, carpinteiro de profissão, ajudou a erguer as primeiras vigas daqueles acampamentos escolares.

Era janeiro de 1961.

Texto: Milena Azevedo Arte: Wanderline Freitas Por isso, aos meus olhos infantis, aqueles galpões eram um lindo sonho. Eu morava nas Rocas e mal conseguia juntar moedas para pegar o bonde e ir para o colégio.

Então, ficava em casa, ajudando mãe.

No dia da inauguração, mãe me fez um vestido branco e me botou um laço no cabelo.

eu ia estudar bem pertinho de casa, descalça mesmo, pisando na areia.

Eu tinha 11 anos e nunca havia estudado direito. Mal sabia pegar num lápis e escrever o meu nome.

Ela também estava feliz, mas sua emoção maior era poder ver de perto o prefeito Djalma Maranhão.

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Pai foi chamado para ensinar aos meninos como fazer cadeiras, mesas, portas.

Mãe participava também, com aulas de corte e costura. Na verdade, todo mundo ajudava como podia e com o que sabia. A gente se orgulhava em ver as faixas, nas ruas, com o número de analfabetos, que diminuía sempre.

Era meio que uma competição entre os bairros.

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... porque ninguém queria chegar atrasado.

Por três anos, uma porção de crianças, e até adultos, lotou todos os galpões: quando o sino tocava, era uma corrida tão grande...

Os acampamentos escolares foram um sucesso, e veio gente de fora nos filmar.

Porém, como dizem que tudo que é bom dura pouco... o sonho foi interrompido por sombras armadas.

NO DIA 31 DE MARÇO DE 1964, INSTAUROU-SE A DITADURA MILITAR NO BRASIL, SUFOCANDO TODA E QUALQUER EXPERIÊNCIA DE CUNHO LIBERTÁRIO E DEMOCRÁTICO, COMO O PROJETO DE PÉ NO CHÃO TAMBéM SE APRENDE A LER.

♪♪

De pé no chão, também se aprende a ler... ♪

♪ 33


Aé mulé! Trouxe os peixe pru armoço!!

Diacho de demora foi essa, home?! E os coco? Num alembrô não, foi?!

Raio dessa mulé! tá ficano é doida!

Não se apoquente não mulé to indo pegar os coco!! Já vorto!

E tome um banho quando chegar! Eu num vô armoçar com home cheroso a tambor de criar peba!

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Ôxe home! Então ande logo pr’esses fi de chocadeira parar de berrar!!


10 anos depois... Repórter de tv entrevista a mulher:

Olá pessoal!! Eu sou Armando Pinto, Repórter! Estamos aqui com um caso conhecido como o...

“Homem do coco”!

No começo, eu pensei que aquele timote tivesse ido encher o rabo de cana, mas dispois que o infeliz num vortô, passada uma semana comecei a imaginar...

há dez anos, seu marido saiu de casa para comprar coco e nunca mais voltou! O que a senhora tem a dizer sobre isso?

... ele vivia com as tripa enrolada, daí deve de ter ido ao mato mó de obrar e um papa-figo deve ter pego ele no ato...

... ou, como ele era pescador, deve ter vortado ao barco e vai que de repente apareceu a Iara e seduziu ele! Se bem que, acho que nem a Iara ia querer aquele traste... ... a filha de seu Maneca do leite, disse inté que os extra-terrestre haviam abiruzido ele pra fazer isperiências, enfim...

Com certeza, essa história é a mais incrível que já ouvi!! Portanto, “homem do coco”, se estiver nos vendo sua família está aqui te esperando!!

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Mas a senhora guarda alguma foto do seu marido, para que possamos vislumbrar a sua face?! Esse cara é baitola!

Arre-égua!! Hoje em dia só passa besteira na televisão!

Em outro lugar, uma família assiste ao programa pela televisão:

ô amor! Eu queria ver o programa!

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Mulher, nunca acredite nessas histórias da tv! Com certeza, é tudo mentira desse povo!

FIM


VISÕES Texto e Arte: Gilvan Lira

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*Panã = Tubarão em Tupi


*Caapora = Caipora em Tupi

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FIM


BODEGA CULTURAL NAÇÕES INDÍGENAS QUE HABITAVAM O RIO GRANDE DO NORTE Duas grandes nações indígenas habitavam o território do atual estado do Rio Grande do Norte: potiguar (tupi da etnia tupinambá) no litoral e tapuia no sertão. Tapuia eram os povos que não falavam o idioma tupi: ariú, xucuru, jenipapo, paiacu, panati, javó, cariri e os terríveis tarairiu, habitantes das bacias dos rios Açu, Apodi e seus afluentes. No início da colonização, os potiguara se aliaram aos franceses contra os portugueses. Após a derrota e expulsão dos franceses, foram dominados pelos portugueses. Os tapuia apoiavam os colonizadores que combatessem os potiguara. Porém, de tanto sofrerem nas mãos dos portugueses, os tapuia e parte da nação potiguar, durante a dominação holandesa, se uniram aos holandeses para combater o inimigo comum português.

Os potiguara devoravam seus inimigos, por vingança e para absorver-lhes a valentia. Os tapuia comiam também os parentes mortos, na crença de que o melhor lugar para guardar seus entes queridos era dentro de si mesmos.

Guerreiro Tapuia Alguns guerreiros tapuia colocavam uma quantidade maior de hastes de madeira no rosto para deixá-lo mais agressivo.

COSTUMES CULTURAIS Os potiguara devoravam seus inimigos, por vingança e para absorver-lhes a valentia. Os tapuia comiam também os parentes mortos, na crença de que o melhor lugar para guardar seus entes queridos era dentro de si mesmos. Os tupi usavam arco e flecha, tacape e lança; os tapuia, machados de pedra de cabo longo, tacape e, em vez do arco e flecha, utilizavam uma espécie de propulsor de lanças. Os tapuia, apesar de temidos pela ferocidade e perícia na tática de guerrilhas, eram vencidos, na maioria das vezes, pelo maior número e organização dos potiguara. Os índios aprendiam desde a infância a respeitar a natureza e tudo o que fosse necessário à sobrevivência individual e coletiva. Davam atenção especial às crianças e aos velhos. A posse da terra só existia como pátria familiar, área de reserva alimentar, jamais individualmente. Alimentavam-se do que a fauna e a flora regional ofereciam, sem desperdiçar ou estocar. ALGUNS TRAÇOS CULTURAIS QUE HERDAMOS DOS ÍNDIOS 1- Genética: 60% de genes indígenas. 2- Hábitos alimentares: paçoca, macaxeira, tapioca, farinha, beiju, pipoca, pirão, inhame, batata-doce. 3- Costumes: dormir em rede e tomar banhos diários. 4- Utensílios domésticos: cesto, pilão, cuia, urupema. 5- Milhares de nomes da nossa toponímia, fauna, flora e de pessoas. 6- Mitos: caipora, saci-pererê, curupira, boitatá, mãe d`água, etc. 7- Expressões idiomáticas: nhenhenhen! O norte-rio-grandense é também chamado de potiguar, nome da nossa maior nação indígena. Pois é! Somos potiguares (comedores de camarão), cabra-macho, sim senhor, com muita honra! Emanoel Amaral

Guerreiro potiguara Pintura corporal do índio potiguara.


PAT R O C Ă? N I O :

www.grupehq.com


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