Um Porto, Muitas Hist贸rias:
Objetos Arqueol贸gicos do Porto de Santar茅m e seus Contextos
Um Porto, Muitas Histórias:
Objetos Arqueológicos do Porto de Santarém e seus Contextos
EXPOSIÇÃO 18 de abril a 20 de maio de 2012 Museu João Fona Santarém, Pará
PROJETO Salvamento do Sítio PA-ST-42: Porto de Santarém COORDENAÇÃO GERAL Denise Pahl Schaan EDUCAÇÃO PATRIMONIAL Vera Lucia Mendes Portal MUSEOGRAFIA Denise Pahl Schaan André dos Santos PRODUÇÃO EXECUTIVA André dos Santos
REALIZAÇÃO Inside Consultoria Cientifica Ltda. Universidade Federal do Pará APOIO Fundação de Amparo e Desenvolvimento da Pesquisa - FADESP Laboratório de Arqueologia Curt Nimuendajú - UFOPA Programa de Pós-Graduação em Antropologia – PPGA/UFPA FINANCIAMENTO Companhia Docas do Pará
APRESENTAÇÃO
O Porto Fluvial da cidade de Santarém possui uma longa história de ocupação humana que remonta ao século X, pelo menos, quando era ocupado pela capital dos tapajós, grupo indígena que habitava uma grande região onde hoje se localizam os municípios de Santarém e Belterra. Os primeiros europeus a navegarem o rio Amazonas nos séculos XVI e XVII mencionam os tapajós como povo guerreiro, que possuía estratificação social e abundância de alimentos. Durante os dois primeiros séculos da conquista européia da Amazônia, os povos nativos foram obrigados a abandonar suas crenças e práticas culturais e aceitar os preceitos católicos impostos pelos missionários. Além disso, enfrentaram as “guerras justas” – expediente usado pelos portugueses para legitimar a conquista de territórios e a apreensão de escravos – e as doenças, que dizimaram suas populações. Desta maneira, os tapajós remanescentes foram progressivamente se misturando à sociedade colonial e suas antigas práticas desapareceram. A falta de registros escritos feitos pelos próprios indígenas impediu que sua história fosse conhecida. As escavações realizadas no Porto de Santarém por arqueólogos da Universidade Federal do Pará desde 2009 vêm descobrindo o passado tapajônico, parte do qual é agora trazido à tona nesta exposição, que tem por objetivo contar, por meio dos registros fotográficos das escavações e da exibição dos artefatos coletados, um pouco da história indígena da região.
Denise Pahl Schaan COORDENADORA
Foto: Diego Barros Fonseca
ESCAVAÇÕES
As escavações permitem ao arqueólogo acessar as camadas de tempo que nos separam dos povos que aqui viveram antes de nós. Ao retirar cuidadosamente camadas de solo, o arqueólogo encontra e coleta objetos que estavam há muito tempo soterrados, observando seus contextos, de forma a contar a história daqueles que produziram, utilizaram e descartaram artefatos. Os artefatos são parte da cultura de um grupo social, que neles imprimem seus valores, seus anseios, seus desejos e seus sonhos. Por sobreviverem a seus donos, os artefatos são o elo entre o presente e o passado.
Foto: André dos Santos
Fotos: AndrĂŠ dos Santos
BOLSÕES
Frederico Barata, na década de 1940, formou uma grande coleção de cerâmica tapajônica, coletando, nas ruas de Santarém, as peças que eram descobertas pelas chuvas torrenciais que caíam sobre a cidade durante o inverno amazônico. Ele percebeu que vasos e outras peças decoradas estavam concentrados em cavidades preenchidas por um solo mais escuro. Ele chamou a isso de bolsões. No sítio do Porto encontramos vários desses bolsões, que são grandes buracos alongados dentro dos quais eram jogados restos de festas – ossos, carvão, restos de comida, e vasilhas de cerâmica quebradas. Esses locais são ricos em objetos decorados, mostrando toda a variabilidade de formas, adornos e cores da cerâmica tapajônica.
MUIRAQUITÃS
Foram chamados de muiraquitãs os pequenos pingentes de pedra verde encontrados em sítios arqueológicos ao longo dos rios Tapajós, Trombetas e Nhamundá. Desde a época colonial, essas peças tem inspirado a criação de diversas lendas em torno de sua origem e uso. A mais conhecida conta que a pedra seria formada a partir de um barro verde que existiria no fundo de um lago encantado, no qual mergulhavam apenas mulheres. Estas formariam as pequenas figuras de rãs ou sapos ainda dentro d’água e, ao trazer a peça à tona, a lama se solificaria em contato com o ar. Muitos atribuem essa prática às míticas Amazonas. Padre Carvajal, que acompanhou a expedição de Francisco de Orellana, descendo o rio Amazonas em 1541, diz que a frota foi atacada pela tribo
das Amazonas que viveria em algum local subindo o rio Nhamundá. Lendas à parte, o que sabemos é que amuletos e pingentes de pedras verdes eram objetos de troca entre as elites amazônicas, antes da chegada dos europeus, talvez usados como dotes em casamentos. Pedras desse tipo tem sido encontradas por toda a bacia amazônica e até no Caribe. No entanto, a região dos rios Tapajós, Trombetas e Nhamundá parece ter sido protagonista na produção e troca de muiraquitãs. Durante as escavações no sítio do Porto encontramos um muiraquitã acima de um bolsão – é a primeira vez que uma peça destas é encontrada em escavações arqueológicas na Amazônia.
LÍTICOS
Durante as escavações no sítio do Porto foram encontrados muitos objetos produzidos a partir de rochas – que os arqueólogos chamam de objetos líticos. O tipo de material lítico mais comumente encontrado no sítio são os calibradores, dentes de raladores, furadores e lascas. Além de já terem sido encontrados fragmentos e lâminas de machado inteiras, rodelas de fuso, muiraquitã, percutores, pilãos, moedores, quebra-cocos. Os dentes de raladores tem sido relacionados ao processamento da mandioca. Foi observada entre grupos indígenas amazônicos a inserção de pequenas lascas em tábuas de madeira com o objetivo de ralar tubérculos. Não obstante, análises de resíduos encontrados nesses tipos de artefatos comprovaram a presença de vestígios de amido de diferentes plantas como araruta, pimenta, inhame, gengibre.
CERÂMICA
A cerâmica encontrada no sítio do Porto é em geral muito fragmentada, de parte de vasilhas sem decoração, vasilhas polidas com engobo vermelho, apêndices na forma de animais, fragmentos de estatuetas, panelas, etc. A cerâmica foi fabricada a partir de argila, a qual foi adicionado cauixi e caco moído, e em menor quantidade areia ou caraipé. O cauixi deixa as peças leves, e a cerâmica em geral possui coloração bege clara, quando não está pintada de branco ou vermelho. Os tipos mais comuns de decoração são as incisões e os ponteados, ocorrendo ainda apliques modelados na forma de filetes ou formas de animais.
Fragmento de vasilha com aplique zoomorfo
Fragmento de aplique antropomorfo
Calibrador de arenito
Fragmento de vasilha com aplique zoomorfo e incisões
Cinzel em pedra
Percutor lítico
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Objetos Arqueológicos do Porto de Santarém e seus Contextos
Fragmento de vasilha com engobo vermelho
Estatueta
Peças da Exposição Fragmento de vasilha com aplique
Gargalo de vaso
1
Borda de prato com pintura vermelha e incisões
Plaina sobre lasca lítica
2
1. Borda digitada | 2. Borda de vaso com engobo branco e pintura vermelha
Lasca lítica
1
Aplique na forma de urubu rei
Cabeça de estatueta
Pingente com incisões
Borda de vasilha com incisões
Fragmento de vasilha com aplique zoomorfo
Fragmento de vasilha com aplique zoomorfo
Borda de vasilha com incisões
2
1. Fragmento de corpo de vasilha com pintura vermelha | 2. Fragmento de vasilha com aplique e incisões
1
2
3
1
4
1.Fragmento de vasilha com engobo branco e incisões | 2. Conta de cerâmica | 3. Fragmento de vasilha com entalhe e engobo branco | 4.Fragmento de vasilha com incisões
Fragmento do corpo de vasilha
2
3
1. Borda de vasilha | 2. Borda de prato com pintura vermelha | 3. Borda de vaso com pintura vermelha e incisões
Estatueta
Borda de vasilha com entalhe, incisões e pintura preta
Borda de prato com incisões e pintura vermelha
Aplique zoomorfo
Objeto não identificado
Aplique zoomorfo
Apêndice zoomorfo
Fragmento de rodela de fuso
Cabeça de estatueta
Cabeça de urubu rei
Bordas de pratos com pintura policrômica
Gargalo de vaso com pintura vermelha
Cabeça de urubu rei
Fragmento de vasilha com pintura vermelha
Aplique zoomorfo
Aplique zoomorfo
1
2
3
Pingente lítico (Muiraquitã)
Alça com ponteado-arrastado
Aplique zoomorfo
1. Aplique zoomorfo | 2. Fragmento de vasilha com ponteado | 3. Borda de vasilha
Borda de vasilha com ponteado
Borda de vasilha com pintura vermelha
Fragmento de borda de vasilha com engobo vermelho
Borda de vasilha
Fragmento de vasilha com incisões
Fragmento de vasilha com filetes e engobo vermelho
Borda de vasilha com engobo vermelho
Alargador de cerâmica
Aplique zoomorfo
Alça com apliques
Aplique zoomorfo
Apêndice de vasilha com pintura vermelha
Borda de vasilha com aplique
Dentes de ralador
Calibradores
Borda de prato com incisões
FICHA TÉCNICA TEXTO PROJETO Denise Pahl Schaan Salvamento do Sítio PA-ST-42: Tallyta Suenny Araújo da Silva Porto de Santarém COORDENAÇÃO GERAL Denise Pahl Schaan EDUCAÇÃO PATRIMONIAL Vera Lucia Mendes Portal PESQUISA DE CAMPO Anderson Marcio Amaral Lima André dos Santos Cristiane Maria Pires Martins Daiana Travassos Alves Denise Pahl Schaan LABORATÓRIO Anna Barbara Cardoso da Silva Carlos Eduardo da Silva Campos Diego Barros Fonseca Tallyta Suenny Araújo da Silva MUSEOGRAFIA Denise Pahl Schaan André dos Santos
DESENHOS Deise Lobo FOTOGRAFIAS João Ramid PROJETO GRÁFICO Luciana Leal PRODUÇÃO EXECUTIVA André dos Santos REALIZAÇÃO Inside Consultoria Cientifica Ltda. Universidade Federal do Pará APOIO Fundação de Amparo e Desenvolvimento da Pesquisa - FADESP Laboratório de Arqueologia Curt Nimuendajú - UFOPA Programa de Pós-Graduação em Antropologia – PPGA/UFPA FINANCIAMENTO Companhia Docas do Pará