UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS CAROLINA PEREIRA DOS SANTOS
BRINCANTE
:
Um estudo sobre a criação e confecção de brinquedos
CAMPINAS-SP 2016
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de Artes
Projeto Experimental II
BRINCANTE
:
Um estudo sobre a criação e confecção de brinquedos
Carolina Pereira dos Santos
Ensaio apresentado ao Curso de Artes Visuais da Universidade Estadual de Campinas como uma das exigências para obtenção do título de bacharel e licenciado em Artes Visuais. Orientador: Antonio Carlos Rodrigues - TUNEU
CAMPINAS-SP 2016
AGRADECIMENTOS A todos que direta ou indiretamente contribuíram para que esse projeto se tornasse verdadeiro. A minha família, amigos e professores. Em especial, a meu pai , Nilson, que tornou tudo possível. À minha mãe, Cleonice, a menina mais doce que conheço, pelo imenso carinho, apoio e companheirismo em tudo que faço. A meus irmãos, Julio e Valter, que respectivamente me apresentaram ao mundo das cores e do desenho quando ainda crianças. A meu companheiro, Fernando, que esteve do meu lado a todo momento, mesmo na distância. À professora Suely Saverio que cultivou em mim os primeiros passos através da arte.
À professora Fabiana Legnaro que me ensinou a força de ler, interpretar e se deixar tocar pelo mundo.
Ao querido professor e artista Tuneu, que acolheu minhas ideias e me guiou por caminhos de incríveis descobertas.. A gratidão é imensa.
Para meus pais.
“Sem ternura o mundo não é lá grande coisa.”
- José Mauro de Vasconcelos
LISTA DE IMAGENS
Figura 1................................................................................................12 Figura 2................................................................................................12 Figura 3................................................................................................13 Figura 4................................................................................................13 Figura 5................................................................................................13 Figura 6................................................................................................13 Figura 7................................................................................................14 Figura 8................................................................................................14 Figura 9................................................................................................14 Figura 10..............................................................................................15 Figura 11..............................................................................................15 Figura 12..............................................................................................16 Figura 13..............................................................................................16 Figura 14..............................................................................................16 Figura 15..............................................................................................17 Figura 16..............................................................................................17 Figura 17..............................................................................................17 Figura 18..............................................................................................18 Figura 19..............................................................................................18 Figura 20..............................................................................................19 Figura 21..............................................................................................20 Figura 22..............................................................................................20 Figura 23..............................................................................................22 Figura 24..............................................................................................25
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO...................................................................................11
ESTAVA O FERRO-VELHO EM SEU LUGAR.....................................11 OS BRINQUEDOS... ..............................................................................12 ESTAVA O HOMEM A TRABALHAR..................................................19 A PRIMEIRA MOSTRA.. ......................................................................24 CONSIDERAÇÕES FINAIS.. ................................................................25 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................27 - Livros.........................................................................................27 - Sites...........................................................................................28 REFERÊNCIAS VIDEOGRÁFICAS.....................................................28
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APRESENTAÇÃO
Esta pesquisa se caracteriza como um estudo prático-teórico sobre o universo dos brinquedos confeccionados a partir de objetos e materiais sucateados encontrados em ferro-velho. O principal objetivo desse projeto foi e continuará sendo entender o que é o brinquedo enquanto arte, assim como ressignificar e levar o conceito de brincar para além do tempo denominado infância, dos limites de materialidade e poder aquisitivo. A partir de todo conhecimento coletado com base em referências, inspirações e sonhos, foram confeccionados exemplares únicos destinados a todas as crianças, independente da idade que as tornam (e)ternas.
ESTAVA O FERRO-VELHO EM SEU LUGAR Veio o homem a trabalhar... O homem no ferro-velho, o ferro velho a fiar.
Por um acaso ao qual serei sempre grata, meu pai começou a trabalhar em um ferro-velho em 1983, cenário no qual eu cresci, fio de linha que estruturou minha família e enreda minha vida. De alguma forma, eu sempre quis conseguir materializar a relação saudável que eu tenho com esse ambiente, muitas vezes hostilizado por abrigar tudo aquilo que aos olhos de alguém deixou de ser útil ou interessante, e conciliá-la a uma produção artística. Ao mesmo tempo, sempre tive uma inquietação a respeito da infância, pelo fato de ser tão plena, estruturante, continuar no ser, mas por vezes tão silenciosa que torna-se uma lembrança distante. Desses pensamentos que me rodeavam, veio a questão do brinquedo: um símbolo forte desse período da vida tão marcante, mas não de quando uma pessoa se torna adulta e assim segue pela vida inteira. Quando troquei de hábitos por completar anos e alcançar determinada idade, meus antigos brinquedos se tornaram objetos desnecessários à minha rotina, mas com muito sentimento, tornaram-se também guardiões de inúmeras memórias. Acredito que, apesar das fases da vida serem um fator físico e biológico, para crescermos não necessariamente temos que deixar de brincar, de encontrar em objetos um valor imaginário. Ainda que seja um documento sobre a questão da escrita, Lewis(1982, p. 744-745) define muito bem a questão do crescimento:
Mesmo que o gosto pela literatura adulta viesse meramente acrescentar-se ao gosto inalterado pela literatura infantil, o acréscimo, ainda assim mereceria o nome de ‘’crescimento’’, o que não aconteceria se o processo consistisse apenas em deixar um fardo de lado e pôr outro sobre os ombros. É verdade que o processo de crescimento, por acaso e por infelicidade, acarreta outras perdas. Porém, não é essa a essência do crescimento, e certamente não é o que faz do crescimento algo louvável ou desejável. Se assim fosse, se trocar de fardos ou deixar estações para trás fosse a essência e a virtude do cresci-
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mento, por que parar na idade adulta? Por que não dar também um sentido positivo à palavra senil? Porque não congratular pessoas por perderem os dentes e o cabelo? Certos críticos parecem confundir o crescimento com o preço do crescimento, e também gostariam de tornar esse preço muito mais alto do que naturalmente deve ser.
Além disso, o brinquedo possui um valor muito forte em minha vida por representar algo que torna tudo possível, por possibilitar narrativas sem ponto final. “Indeed, toys – things that are brought to life by imagination – are means forcreating a world.” (NICKEL, 1966, p.170) Desse diálogo entre as possibilidades, da importância de ressignificar a ludicidade na infância e vida adulta, de encontrar numa sociedade, que funciona feito máquina, uma força motriz que renove sua humanidade, sua capacidade de se reinventar, de se deixar tocar, surge a vontade de criar e confeccionar brinquedos feitos a partir de materiais sucateados, reaproveitados. Nesse momento da minha vida, o brinquedo deixa de ser um objeto apenas dotado de memórias e volta a ter infância, ainda que anacrônica.
OS BRINQUEDOS
Figura 1. Ofélia. Fonte: própria.
Figura 2. Sr. Leão. Fonte: própria.
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Figura 3. Carrinho. Fonte: pr贸pria.
Figura 4. Carrinho. Fonte: pr贸pria.
Figura 5. Carrinho. Fonte: pr贸pria.
Figura 6. Carrinho. Fonte: pr贸pria.
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Figura 7. Vôlpi. Fonte: própria.
Figura 8. Vôlpi. Fonte: própria.
Figura 9. Mestre Cervo. Fonte: própria.
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Figura 10. Vilarejo. Fonte: prรณpria.
Figura 11. Balรฃo. Fonte: prรณpria.
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Figura 13. Púli. Fonte: própria. Figura 12. Púli. Fonte: própria.
Figura 14. Circo Estripulix. Fonte: própria.
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Figura 15. Os Danรงarinos. Fonte: prรณpria.
Figura 16. Fantoche. Fonte: prรณpria.
Figura 17. Zac. Fonte: prรณpria.
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Figura 18. Airo. Fonte: prรณpria.
Figura 19. Airo. Fonte: prรณpria.
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ESTAVA O HOMEM A TRABALHAR Veio a criança nele brincar...
Desde que comecei este projeto, fui alternando o modo como tem se dado esse processo entre momentos de orientação com o professor e artista Antonio Carlos Rodrigues (Tuneu), leituras, passeios pelo ferro velho em busca de formas e materiais que me chamassem a atenção, os tempos de confecção dos brinquedos e a brincadeira. A primeira atitude que tomei quando dei início ao projeto experimental foi pesquisar referências que dialogassem com a aparência que eu gostaria que meus brinquedos tivessem, pois embora os imaginasse, eu não tinha uma visão muito clara do que eles se tornariam. Alexander Calder foi o primeiro artista em que procurei encontrar uma direção. Em especial a obra Calder’s Circus foi de extrema importância quando decidi trabalhar a temática dos brinquedos, por toda simplicidade e inventividade que evoca. Era essa a linha a ser trabalhada.
Figura 20. Alexander Calder’s Circus. Fonte: https://superradnow.wordpress.com/2011/04/22/alexander-calders-circus/.
Nesse momento ainda confuso e eufórico, o orientador Tuneu me mostrou imagens dos fantoches do artista Paul Klee, nos quais encontrei grande identificação. Assim como com o circo de Alexander Calder, os fantoches de Klee afirmaram ainda mais em mim a questão da materialidade na construção dos meus brinquedos: era possível fazer da mistura de texturas e grandezas, do metal enferrujado ao tecido, um jogo muito atraente para o olhar, cheio de vida e personalidade. A princípio, eu queria muito que meu trabalho enquanto brinquedo não perdesse a aparência de sucata, e que isso não o desvalorizasse enquanto arte.
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Figura 21. Paul Klee puppets. Fonte: https://ompomhappy.com/2015/06/18/the-puppets-of-paul-klee/
Porém, conforme as idéias foram surgindo, percebi o quanto o manuseio de determinados materiais, como o ferro, por exemplo, eram de grande dificuldade, que exigiam, mais do que planejamento, determinadas ferramentas com as quais nunca tive contato e que necessitavam de muita prática e segurança, como máquinas elétricas cortantes. Por conta disso, fui tentando encontrar materiais que exigissem menos prática com ferramentas que me deixavam insegura em utilizá-las, até que eu me sentisse mais apta para tal. Dentro desse processo, além da busca de materiais para construir os brinquedos, muitas ferramentas foram improvisadas com o que se tinha em mãos. Algumas das ferramentas que eu já possuía, como no caso de alicates e serras, não permitiam a delicadeza de manuseio que determinados brinquedos requeriam, para que visualmente conseguissem se aproximar o máximo possível da ideia original.
Figura 22. Ferramentas. Fonte: própria.
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Sendo assim, alguns brinquedos nasceram da sugestão de movimento que as sucatas possuem como são encontradas, como é o caso do Carrinho e Vôlpi. Nesses casos, o material parcialmente foi regendo a forma final. Outros, como o Sr. Leão e o Vilarejo são frutos de planejamento e a busca pelo material aconteceu em decorrência da idéia. Outros, como o Circo Estripulix, nascem dos sonhos de quando eu era criança, como quando eu sonhava em ser artista de um circo de verdade. Achei importante experimentar e investigar a imposição que o material pratica, mas cheguei a conclusão que é importante eu, enquanto artista, ser quem cria e não quem é guiada apenas por sugestões de formas ao acaso. Logicamente, todo processo sofre intervenção de idéias que vão surgindo e se modificando ao longo do tempo, mas decidir pra qual caminho a obra irá seguir através do próprio manuseio, acredito, é o que torna alguém em criador. “Quando tenho de expressar um pensamento, eu busco o material que corresponde à linguagem que procuro.” (LYGIA CLARK apud RICARDO NASCIMENTO FABBRINI, p. 11-12). Dentre os materiais utilizados para confeccionar a estrutura dos brinquedos estão: madeira, papel, metal (ferro e alumínio), tecido e argila. Sobre as diferentes texturas e maleabilidades que cada material me fornecia durante esta primeira parte do Projeto Experimental, a aparência díspare entre os brinquedos me causou certo incômodo. Comecei a sentir que cada brinquedo era de certa forma tão diferente do outro que não conversavam entre si, como se não tivessem coerência com o momento em que eu estava. Mais uma vez, revisitei as ideias do artista Paul Klee como suporte para me ajudar a pensar. Assim como ele se utilizou da música para pensar em composição de formas e cores, eu tentei trazer para a tridimensionalidade o uso das cores afim de criar um laço visual entre os brinquedos. A idéia era me apropriar de uma paleta específica, disposta de tal forma (linhas tortas, manchas, formas geométricas) para criar um tempo para os brinquedos, tendo cada exemplar um tempo único que coexistisse com os outros. Cada brinquedo encontraria sua melodia e ritmo com o espectador-brincante. Trazer o pensamento pictórico para a tridimensionalidade se tornou um verdadeiro desafio. Nesse caminho, também procurei estudar as composições do artista Tuneu: pensar a cor, o encontro das formas, as dobras, com uma clareza e organização maiores. Afim de me sentir a vontade para trabalhar e estudar combinações de cores, pintei os Esquisitos. A disposição engraçada das figuras foi o jeito que eu encontrei de sentir uma maior familiariadade e diversão em pintar, sem o preciosismo de talvez perder a pintura por uma cor que eu acreditasse ser esquisita demais para o contexto. Atentei-me também para os trabalhos de Volpi, cujo caráter construtivo presente em suas fachadas, por exemplo, em conjunto com a composição de memória, e por isso onírica, me trouxeram um diálogo muito bonito com o universo dos brinquedos, objetos estes que constroem narrativas de caráter real ou não.
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Figura 23. Esquisitos. Fonte: própria.
Dessa maneira, na maior parte dos brinquedos, a pintura foi feita utilizando a tinta acrílica, mesmo nas superfícies de metal, as quais foram devidamente preparadas para receber tal tintura. Outro aspecto que sinto que se fez forte até o momento, em relação à pintura dos brinquedos, foi a influência do meu gosto por ilustrações. Trouxe para os brinquedos o meu jeito de ilustrar e acredito que também em decorrência disso, mesmo não tendo sido planejado, cada exemplar, visualmente, possui uma narrativa própria.
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Essa narrativa própria não implica que os brinquedos possuam uma história de começo, meio e fim, mas que sugiram a cada espectador-brincante uma possibilidade de vida que parta naturalmente de suas próprias vivências e identificações simbólicas. “A imagem, em sua simplicidade, não precisa de um saber. Ela é a dádiva de uma consciência ingênua.” (BACHELARD, 1984, p.185) Wyllis de Castro (1960), ao escrever sobre as obras do artista Volpi, fez uma crítica que embora sendo voltada às pinturas, acredito encontrar também uma identificação com essa característica narrativa da construção do brinquedo: “É, pois, facilmente, que descobrimos que cada quadro seu evidencia uma realidade, dimensionada em um tempo sem começo e sem fim, onde cada qual faz brotar de si constantes informações de relatos, racionalmente sem valor.(...)”. Durante esse caminho, o tempo de aprendizado de construção dos brinquedos, desde sua idealização à feitura, foi assumindo em mim um espaço peculiar que transita para além da tridimensionalidade, do toque: em todos os brinquedos existe uma relação de afeto muito grande. Foi preciso direcionar e fazer desse sentimento (o afeto, as memórias, o sonho) uma força catalisadora que fosse possível a mim mesma compreendê-la para que os brinquedos não se tornassem objetos com um fim em si mesmos. Nesse sentido, o professor Tuneu me indicou a obra de Gaston Bachelard, A Poética do Espaço, que me auxiliou a enxergar a distância, e também aproximação, entre os conceitos de brinquedo, objeto e arte. Acredito que os sentimentos todos que esse processo despertou em mim, faz com que, apesar de serem apenas objetos, os brinquedos possuam dentro deles, além da melodia, em cada processo que o fez ser o que é, um tempo próprio. Os brinquedos ocupam espaço, mas também são o próprio espaço. São visualmente sugestivos pelas primeiras informações que passam (a cor, o formato, a intencionalidade, a poética). Trata-se de objetos que não são neutros, e, ao mesmo tempo, dispostos a medida que são sempre solícitos a qualquer interação. “Em seus mil alvéolos, o espaço retém o tempo comprimido. O espaço serve para isso” (BACHELARD, 1984, 202) A criação d’Os Dançarinos me direcionou muito nesse sentido. Trata-se de um brinquedo convidativo: são piões talhados a partir de cabo de vassoura, pintados de modo a parecerem vestidos e fantasiados, à espera de que o espectador-brincante o tire para dançar, tornar-se seu par. Cada um deles possui um tamanho e forma diferente, e consequentemente sua dança possui uma personalidade que a difere das outras. Fazê-los girar requer um toque e velocidade específicos, uma dedicação de tempo para aprendê-lo, para que os passos (o giro do pião/espaço físico e a expectativa do espectador-brincante/espaço não-físico) se sincronizem. Quando sozinho, desprovido de intencionalidades, o brinquedo torna-se apenas um objeto. Quando brinca ou faz brincar (exterior ou interiormente, através da ação/interação ou despertar do prazer visual/emoção) é brinquedo. Quando há a sincronia do espaço físico (ob
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jeto-brinquedo) e não-físico (o modo como o brincar afeta o brincante), ocorre a experiência em Arte.
A PRIMEIRA MOSTRA
Como requisito do Projeto Experimental, parte da minha produção foi apresentada na exposição o Caminho do Meio, que ocorreu durante os dias 11 a 25 de Novembro de 2016, no Espaço Cultural Casa do Lago da UNICAMP, em Campinas-SP, com curadoria de montagem do prof. Dr. Sérgio Niculitcheff. Até antes da exposição, o meu contato com a criação e confecção dos brinquedos se deu de maneira muito natural e não havia pensado sobre uma maneira mais formal de expô-los. Isso me fez pensar no lugar em que o brinquedo deve estar... Qual a morada do brinquedo? Grandes obras se encontram em museus, por exemplo. Já brinquedos, normalmente se encontram espalhados pela casa ou esquecidos em caixas. Mas existe um lugar onde faz mais sentido o brinquedo estar e viajar: nas mãos, através do contato, da interação. Nesse sentido, com os recursos que eu possuía e que o ambiente da exposição permitiu, tentei dispor os brinquedos de maneira que neles fosse possível tocar. A ideia inicial era que eles ficassem livres para que não perdessem as infinitas possibilidades de ser para o espectador-brincante, mas nessa primeira mostra não consegui solucionar esse impasse tão bem quanto gostaria. Entre a produção exposta, estavam: Airo, Sr. Leão, Púli e Esquisitos. Apesar disso, expô-los me fez enxergá-los com outros olhos, mais distantes e críticos, além de receber um retorno bastante positivo das pessoas que também os viram, me fazendo acreditar na força que eles possuem e renovando minha vontade de continuar por esse caminho.
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Figura 24. Exposição o Caminho do Meio. Fonte: própria.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Acho importante pensar que, embora indiretamente, meu processo foi permeado por uma consciência de responsabilidade para com o meu redor, por uma vontade de alcançar pessoas independente de sua origem social, de repensar o sistema caótico que faz com a sociedade perca o caráter lúdico quando chega à vida adulta, ou mesmo antes disso. O objetivo não é o de fazer com que a infância dure para sempre e as responsabilidades da vida adulta se diluam, mas sim estimular a curiosidade, a inventividade e imaginação, características tão inerentes à fase de criança, a continuarem vivas dentro do ser. Construir os brinquedos com matéria prima reutilizável também parte do princípio de tornar o contato com a brincadeira, através de objetos, algo mais acessível e significativo por trazer o carinho de ser confeccionado a mão. Já faz alguns anos que deixei de ser criança e o contato com o brinquedo agora é diferente. O mesmo, por mais pronto que chegue a mão de uma pessoa, ainda permite a inventividade de histórias e movimentos para torná-lo infinitas outras coisas. No que concerne à criação e confecção, a sensação é distinta: por mais divertido e envolvente que seja, este é um momento permeado de atenção, de expectativas por uma aparência e mobilidade finais.
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É um trabalho gostoso de se fazer, cheio de surpresas e possibilidades, onde o tempo voa, mas ele só se torna um brinquedo quando, de pouquinho em pouquinho, a responsabilidade de criação vai dando lugar à expectativa final, até que só exista ela, como estar diante de um embrulho de presente. Esse tempo dedicado ao Projeto Experimental, também foi um tempo de felizes descobertas sobre mim mesma, sobre a vontade tão viva de tornar, mesmo que em pequena escala, o mundo um lugar mais aconchegante e despretensioso.
Esse projeto não finda aqui, certamente me acompanhará por tempo indeterminado.
E que seja sempre algo inacado, passível de novas ideias e realizações!
“O senhor… mire, veja: o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas - mas que elas vão sempre mudando. Afinam ou desafinam, verdade maior.” (ROSA, 2001, p. 20)
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Livros GOODFELLOW, Caroline. Understanding Dolls. Reino Unido: ACC Art Books, 1983. 240 p. WEISS, Luise. Brinquedos e Engenhocas - Atividades Lúdicas Com Sucata. São Paulo: Scipione, 2008. 144 p. MOLINA, Mestre. Arte popular nas geringonças de mestre Molina.São Paulo: Sesc, 2003. 324 p.
GOMBRICH, Ernst Hans. A História da Arte. Brasil: LTC, 2000. 688 p.
MAMMÌ, Lorenzo. Volpi - Espaços da Arte Brasileira. São Paulo: Cosac & Naify, 1999. 112 p. O Guia Visual Definitivo da Arte: da Pré-História ao Século XXI. São Paulo: PubliFolha, 2008. 612 p. OITICICA, Hélio. FILHO, César Oiticica (Org.). Museu é o mundo. Rio de Janeiro: Azougue, 2011. 288p. FABBRINI, Ricardo Nascimento. O espaço de Lygia Clark. São Paulo: Atlas, 1994. p. 11-12. Itaú Cultural. Tridimensionalidade na Arte Brasileira do Século XX. São Paulo: Cosac & Naify, 1997. 240 p. NICKEL, Helmut. Little Knights of the Living-Room Table. The Metropolitan Museum of Art Bulletin, New York, v. 25, n. 4, p. 170-184, dec. 1966. MEIRELLES, Renata. Giramundo e outros brinquedos e brincadeiras dos meninos do Brasil. São Paulo: Terceiro Nome, 2007. 208 p. LEWIS, Clive Staples. Três Maneiras de Escrever para Crianças - As Crônicas de Nárnia. São Paulo: Martins Fontes, 2010. 744-745 p. ROSA, João Guimarães. Grande Sertão: Veredas. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001. 624 p. BACHELARD, Gaston. (1957). A poética do espaço. Coleção Os pensadores. Trad. Joaquim José Moura Ramos. São Paulo: Abril Cultural, 1984. p. 181-354.
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REFERÊNCIAS VIDEOGRÁFICAS
TARJA Branca – A Revolução que Faltava. Direção: Cacau Rhoden. Brasil: Insituto Alana e Marinha Farinha Filmes, 2014. 80 min, color. TERRITÓRIO do Brincar. Direção: David Reeks, Renata Meirelles. Brasil: Marinha Farinha Filmes e Ludus Vídeos, 2015. 90 min, color.