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Quer que eu desenhe?

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Santiago

Santiago

Celso Schröder é cartunista, desenhista que rebate a máxima “um desenho vale mil palavras”, usando o argumento de Millôr Fernandes: “Diga esta frase com uma imagem”. Por isso, decidiu usar esta página para escrever. Os desenhos cam nas outras.

Como sempre, a seca

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Se fosse jornalismo esta manchete teria obrigação de dizer que medição que detectou a queda da carteira assinada no Rio Grande do Sul inicia em janeiro, três meses antes do decreto de pandemia e traria como determinante o arrocho promovido pelo teto de gastos, a perda de credibilidade do Brasil como exportador e o Rio Grande do Sul como um dos principais polos, a destruição da indústria naval e da construção civil, o alinhamento do governador à antipolítica econômica nacional, e para ser bem honesto e jornalismo correto, teria que referir à covardia de um empresariado pouco vocacional ao empreendimento e muito disposto ao parasitismo e à comodidade da exploração do trabalho no limite da escravidão. Se fosse. Como não é, ignora tudo isto e mais uma vez, como zeram os coronéis ao longo destes séculos, culpa a seca.

Solução Final

Cobrir o setor de polícia sempre foi difícil para o jornalismo. O ambiente patrimonialista e de violência quase sempre provoca um indesejável alinhamento dos jornalistas envolvidos. Houve um tempo que está editoria era composta por policiais de verdade e ideológicos. São inúmeros os casos dos policiais com seus tresoitôes em cima das mesas das redações. Isto foi superado por uma geração maravilhosa de repórteres que enfrentaram esta tendência herdada da ditadura e incluíram complexidade e cuidado jornalístico na cobertura. Bandidos passaram a ser suspeitos, se não condenados ou indiciados pelo menos, versões policiais passaram a ser questionadas e enxergadas, em princípio, como encobrimento de ações motivadas boa parte do tempo por interesse corporativo de um setor social mal remunerado e ao mesmo tempo armado. Esta reação chegou a provocar uma também indesejável aproximação com alguns criminosos e alguns e algumas repórteres chegaram a ertar ideologicamente com lideranças de quadrilhas, facção é um nome inexplicável adotado há alguns anos junto com comunidade e outros quentais. Pois agora alguns destes mesmos repórteres que ajudaram a tirar a polícia de dentro do setor que cobre a polícia começam a capitular para a lógica embutida da violência e da solução sumária. Copiando as séries norte-americanas a polícia começa e se vestir de ninja, adota uniformes militares, se equipa com armas de grossos calibres e sai matando. E a mídia aplaudindo , ou, no mínimo, naturalizando. A Brigada Militar, de relevantes serviços cívicos para o estado, virou uma máquina de matar. Não há mais sobreviventes nos confrontos em que ela participa. No Rio Grande do Sul não há feridos se os “bandidos” forem assaltantes de bancos ou “tra cante” envolvido na “guerra do trá co” ( cção inventada para justi car a quantidade de cadáveres diários). Na página 24 da Zero Hora, (15/10/2020) está clara a di culdade de se fazer cobertura policial que não pareça um release feito por aqueles policiais/jornalistas que não deixavam suas armas na delegacia quando iam para as redações dos jornais. A notícia é da morte de todos os seis “criminosos” num confronto nas estradas de Caxias do Sul (onde nunca ninguém é testemunha a não ser os próprios policiais), um repórter importante do jornal ( foi decisivo nesta salutar limpa de tiras no jornalismo) não se surpreende com a morte de todos os envolvidos neste tiroteio oriundo de uma “ação de inteligência” preventiva onde cabe tudo o que se quiser colocar. Em compensação numa matéria pequena ao lado um suspeitos de estupro, a partir de denúncias de quatro alunas que precisa ser investigado, tem a foto e o nome estampado no jornal.

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