O Inquérito à Habitação Urbana - Metodologia by Luz Valente Pereira

O INQUÉRITO À HABITAÇÃO URBANA METODOLOGIA

LUZ VALENTE-PEREIRA EDIÇÃO DE AUTOR

ÍNDICE RESUMO �� 5 INTRODUÇÃO �� 6 CAPÍTULO I - CRITÉRIOS ORIENTADORES DA PROGRAMAÇÃO DA HABITAÇÃO �� 8 CAPÍTULO II - MÉTODO DE INQUÉRITO ��10 Objecto do Inquérito �� 11 Objectivos do Inquérito e Formulação das Hipóteses �� 11 Construção das Variáveis �� 12 Técnicas de Inquérito �� 13

As Entrevistas �� 13 Outras Técnicas de Inquérito �� 14

Escolha da Amostra �� 14

Sondagem Empírica �� 15 Sondagem Aleatória ou Probabilística �� 15

Preparação dos Inquiridores �� 15 Pré-Teste �� 16 Apuramento, Análise e Interpretação dos Resultados do Inquérito por Questionário �� 17

CAPITULO III - PROPOSTA DE INQUÉRITO À HABITAÇÃO URBANA ��18 Objectivos �� 18 Factores Sociais com Influência no Uso da Habitação - Exemplo de Hipóteses �� 19

Conceito e Exigências da Vida Urbana �� 20 Conceito de Família, de Grupo de Coabitação e de Vizinhança �� 20 Características da Mobilidade Social e Elevação Geral do Nível de Vida �� 21 Características do Progresso Técnico �� 22

Aspectos Sociais Gerais que Afectam o Conceito de Habitação - Exemplo de Hipóteses �� 23 Valores do Espaço a Garantir Através do Projecto - Exemplo de Hipóteses �� 23

Utilidade do Espaço �� 24 Polivalência do Espaço �� 24

Privacidade do Fogo em Relação ao Exterior �� 24 Privacidade no Interior do Fogo �� 25 Habitabilidade Física do Fogo �� 25 Valores Urbanísticos do Fogo �� 25

Interferência na Habitação dos Aspectos Gerais Apontados - Exemplo de Hipóteses �� 26

Afastamento do Trabalho/Estudo na Vida da Casa �� 26 Afastamento do Trabalho/Estudo nas Relações Sociais �� 26 Afastamento do Trabalho/Estudo na Vida do Bairro �� 26 Duração e Uso dos Tempos Livres �� 26 Conceito de Família, Grupo de Coabitação e Vizinhança �� 27 Papel da Mulher em Relação à Família �� 27 Atitude dos Pais em Relação aos Filhos e Vice-versa �� 28 Atitude em Relação à Coabitação �� 28 Atitude Quanto à Relação de Convívio entre Família e Outros Grupos �� 28 Formas de Convívio e Sistemas de Entreajuda �� 29

Factores que Definem a Aptidão do Espaço - Exemplo de Hipóteses �� 30

Utilidade do Espaço �� 30 Polivalência do Espaço �� 30 Privacidade do Fogo em Relação ao Exterior �� 30 Privacidade no Interior do Fogo �� 31

Análise das Actividades no Fogo - Exemplos de Hipóteses �� 32

Actividade Dormir �� 32 Actividade - Preparação de Refeições �� 37 Actividade - Refeições �� 40

Dados a Recolher no Inquérito �� 43

Grupo Familiar �� 43 Conjuntura Socioeconómica e Cultural �� 43 Exigências e Necessidades em Relação à Casa �� 44 Alojamento Anterior �� 44 Actividades em Casa �� 45 Dormir �� 45 Preparar Refeições �� 45 Refeições Correntes �� 46 Refeições Especiais �� 46 Estar, Lazer, Reuniões Familiares �� 46 Receber �� 47 Recreio das Crianças �� 47 Estudo �� 48 Actividade Profissional em Casa �� 48 Tarefas Domésticas �� 48 Higiene Pessoal �� 48 Permanência em Prolongamentos Exteriores do Fogo �� 48 Separação Espacial Exterior Público/Interior Privado �� 49

Exemplo das Hipóteses Estabelecidas para a Interpretação dos Dados �� 49 Características das Personagens �� 49 Actividades no Fogo �� 50 Forma de Agrupamento dos Fogos �� 51 A Solução Arquitectónica do Fogo �� 52 As Relações entre Preparação, Refeições, Estar e Receber �� 53 BIBLIOGRAFIA �� 54

METODOLOGIA DOS INQUÉRITOS À HABITAÇÃO URBANA

RESUMO Os inquéritos são auxiliares fundamentais para o conhecimento do uso da arquitectura, apesar das suas limitações e de serem um instrumento que facilmente conduz a erros grosseiros, se usado sem o necessário rigor metodológico. Descrevem-se as diferentes fases de preparação e aplicação dos inquéritos, chamando a atenção para os aspectos mais importantes de cada fase, e apresenta-se uma proposta de definição de inquéritos à habitação urbana, indicando os seus objectivos, os conceitos básicos que orientam a formulação de hipóteses sobre os aspectos gerais que afectam mais directamente o uso e a imagem da casa, sobre os valores a respeitar na forma da organização do espaço do fogo e os meios formais de os satisfazer. Exemplificam-se esquemas de análise das actividades no fogo, relacionando-as com os respectivos espaços e com a descrição do modo de vida dos diferentes membros do agregado familiar.

METHODOLOGY OF SURVEYS IN URBAN HOUSING

SYNOPSIS Surveys are baste tools to obtain information about the use of architecture. in spite of their limitations and of the fact that they may easily lead to gross errors if they are handled without suitable methodologic care. The different stages in the preparation and implementation of surveys are described. attention being called to the most important aspects to be considered in each stage. A definition of urban housing surveys is proposed, which covers their aims, basic concepts behind the formulation of hypotheses on the general aspects most affecting the use and image of the house, values to be taken in to account in the arrangement of space as well as design solutions complying with these values. Analytical schemes of home activities are given as examples, and they are related to the corresponding spaces and to the description of the way of living of the different members of the family group. I l..g -

INTRODUÇÃO

abitar é um facto antropológico, inerente ao próprio homem, permanente, mas dependente na sua organização e forma, nos seus valores simbólicos, da conjuntura geral de cada época. Habitar é permanente mas a habitação desactualiza-se. O ritmo da evolução permitiu, durante séculos, a adaptação progressiva da casa às exigências dos seus moradores. Cada um construía para si segundo padrões estabelecidos por adaptação natural às necessidades e ao clima os quais permaneciam largos anos. O problema põe-se agora noutros termos. A evolução característica da nossa época altera, a ritmo acelerado, os modelos de vida recriando hábitos e necessidades, o que implica um reajustamento constante das maneiras de viver. Assistimos às mudanças sucessivas dos gostos, dos valores que definem e orientam a vida quotidiana: aparecem novos produtos acompanhados de desmedidas campanhas publicitárias que criam necessidades antes inexistentes; modificam-se os consumos reinventando-se modos de fazer que eram seculares; aparecem e generalizam-se novos equipamentos urbanos que modificam os hábitos em casa e a maneira de usar a cidade; criam-se e multiplicam-se os meios de comunicação aumentando a mobilidade das populações, transformando os critérios de acessibilidade entre os diferentes lugares, proporcionando novas formas de convívio e de apropriação dos sítios e das coisas. O progresso técnico impõe soluções com repercussões profundas nos hábitos, na mentalidade, na escala de valores das populações. A multiplicidade das vias sociopolíticas oferece às sucessivas gerações novos ideais de vida e de sociedade, diferentes critérios de prestígio, formas e padrões variáveis de promoção social. Estas transformações de carácter geral têm repercussões muito importantes no uso da arquitectura, no uso da cidade e põe ao arquitecto, duma e doutra, problemas e, sobretudo, uma perspectiva diferente quando procura respostas às questões: • Projectar o quê? - Edifícios com funções definidas? edifícios-cidade formando conjuntos polivalentes? «porções de cidade» (o que é uma porção de cidade e como defini-la) ? • Projectar para quem? - Para a população que se conhece agrupada segundo as características médias? para a população que se prevê venha a existir definida por estudos prospectivos? para uma população que se quer de uma dada maneira e que seria a resultante dos esforços conjugados de um planeamento integrado incluindo educação, desenvolvimento económico, social e físico, orientado para um tipo de civilização que seria definido como o que interessava alcançar? • Projectar como? - Definindo formas físicas ajustadas a programas estabelecidos, cujos espaços têm vocações bem determinadas e as expressam? explorando os recursos técnicos de modo a conseguir uma arquitectura que se faça e desfaça por acréscimo e supressão de elementos construídos ao sabor das necessidades de cada momento? Construindo de modo tão incaracterístico, tão desvinculado a um único programa que se possa usar dela nas mais variadas circunstâncias, sem que ela se imponha e o impeça? Como tratar o espaço de forma a que ele adquira a maior elasticidade e polivalência? .

A pesquisa teórica no campo de Arquitectura Urbana terá de auxiliar o arquitecto projectista a decidir que arquitectura fazer propondo, explorando e criticando as teorias informadoras das decisões arquitectónicas e fornecendo os dados necessários à concepção e formalização do projecto.

Outro aspecto em que a pesquisa teórica é de grande utilidade para o projectista é o da elaboração de programas e de métodos sistemáticos de verificação de projectos, isto é, processos de avaliação que indiquem se estes satisfazem os quesitos que se propõem cumprir. Estamos a afastar-nos cada vez mais do arquitecto programador, projectista, decorador, teórico de arquitectura, organizador de atelier e da obra de construção. A disciplina da Arquitectura, por excelência de síntese, continuará a sêlo, mas essa síntese terá cada vez mais dificuldade em encontrar um só autor quando for considerada a obra acabada,

localizada, integrada na cidade e habitada, tantos serão os que, directa ou indirectamente, lhe deram uma existência real, legível numa estrutura urbana e animada por um uso. O programa de arquitectura está directamente relacionado com o que se prevê seja o seu uso, qualquer que seja a perspectiva com que se encare o «uso de arquitectura» - o monumento é uma perspectiva de uso da arquitectura como o é a habitação económica com três assoalhadas e cozinha, ou sala polivalente de um centro recreativo. O trabalho do programador consiste, portanto, em conhecer e interpretar as maneiras de usar a arquitectura, conhecimento e interpretação que se querem relacionados com os utilizadores, os quais se têm de conhecer e definir. Não podem esquecer-se os meios através dos quais o programa é concretizado no espaço. O meio de que o arquitecto se serve, e o único que realmente possui como tal, é o da modelação do espaço. Escrever letreiros não é arquitectura embora o seja a escolha do local para os colocar de modo a terem utilidade e a forma e caracteres a usar para os tornar legíveis. Ensinar as pessoas a utilizar o espaço ou criar leis e hábitos que permitam uma boa utilização do espaço não é arquitectura. Há portanto que conhecer como é usada a arquitectura prever como virá a ser usada e relacionar esse conhecimento com os meios de que o arquitecto dispõe para concretizar e exprimir esse uso, isto é, relacionar utilização e forma, utilização e qualidade, dimensão, proporção, cor, materiais e outras características do espaço e da sucessão dos espaços. Os inquéritos, apesar das suas limitações e de serem um instrumento que facilmente conduz a erros, quando usados sem o necessário rigor metodológico, são auxiliares fundamentais para o conhecimento do uso da arquitectura. A finalidade deste trabalho é descrever um método de pesquisa, o inquérito, aplicado ao conhecimento da habitação urbana. Os dados a obter deverão permitir programar a habitação em termos aplicáveis à elaboração de projectos de arquitectura.

NOTA IMPORTANTE - Este texto resultou da experiência da execução de um inquérito realizado em Lisboa

nos finais dos anos 60 e publicado no início da década de 70. Embora considere válida a metodologia apresentada, pode verificar-se a sua desactualização relativamente ao conteúdo das hipóteses formuladas quanto às características das famílias, aos papéis desempenhados pelos diferentes membros do agregado familiar, ao tipo de mobiliário (por exemplo, ao pensar no mobiliário relacionado com o quarto dos filho citam-se a telefonia e o gira discos) e aos estilos de vida na sua relação com os espaços da casa (fala-se nos bailes dos filhos em casa e em empregada doméstica). Este desfasamento evidencia a necessidade de formular as hipóteses de trabalho adequadas a cada inquérito, ou seja, de considerar as apresentadas como apenas um possível exemplo e não como uma afirmação de relação.

CAPÍTULO I - CRITÉRIOS ORIENTADORES DA PROGRAMAÇÃO DA HABITAÇÃO

arquitecto que actualmente projecta «Habitação» desconhece o seu cliente. Projecta-se para a colectividade, para grupos sociais com escalas de valores diferentes, desigual poder de compra, estruturas demográficas variáveis, imagens múltiplas do que representa a «casa», do que é «habitar», maneiras de viver, exigências e gostos diversíssimos e, as mais das vezes, não coincidentes com os do arquitecto-projectista. Deixou de ter peso o cliente que «encomenda a moradia», com o qual o arquitecto entra em contacto, que conta como vive, o que gostaria de ter em casa, qual a sua família e quais os seus hábitos e perspectivas de vida. Desapareceu, como expressão colectiva nos países industrializados, a autoconstrução, ou seja, cada um construindo para si segundo um modelo tradicional experimentado e aperfeiçoado através de gerações. Já não se encontra também a antiga clientela que encomendava palácios e mosteiros, igrejas e monumentos exigindo que, através da arquitectura, se simbolizasse uma época, um reinado, uma personalidade, se marcasse um padrão de vida e de gosto característico e unificador de todo um estilo cuja nota dominante era, exactamente, a unidade de expressão. O arquitecto actual constrói para todos e não sabe para quais. Mesmo que programe para uma dada população que pode analisar e conhecer, essa população evoluirá rapidamente e será depois substituída por outra. O programa que se ajustou à primeira poderá não se ajustar às populações futuras ou à mesma, passados alguns anos. Acrescenta-se que a necessidade de construir para todos, que cada vez são mais, mais diversos e muitos deles proporcionalmente mais pobres, trouxe condicionamentos económicos - exige-se economia na construção, no uso do solo urbano, nos gastos que a casa irá exigir aos seus moradores (economia no dinheiro gasto para a equipar e no trabalho necessário à sua utilização e manutenção), Dos condicionamentos económicos resultou uma redução substancial das áreas de que cada fogo passou a dispor. Surgiu a «casa mínima», totalmente condicionada, avara de espaço, ajustada num programa que se reduziu às funções que se consideraram estritamente essenciais. Fizeram-se propostas de casas simplificadas para vidas simplificadas, estabeleceram-se princípios teóricos sobre a arquitectura que criaria novas maneiras de viver estandardizadas.

Como afirma Chombart de Lawe(1) “Cést la recherche d’une efficience qui anime et dirige le fonctionalisme” e essa eficiência é procurada através da esquematização da realidade, na transformação da casa em “máquina de habitar - “on ne va pas a l’homme par l’original, on l’aborde par l’ universel, l’ordre de l’urgence n’est pas celui du désir, mais celui de la réalisation”. O arquitecto não precisava de conhecer as necessidades reais dos futuros utentes das casa que construía. Ele determinava essas necessidades e exprimia-as no próprio desenho. Como afirma o autor citado “l’architecture fontionelle invite à utiliser l’ espace d’une certaine maniére”. Pensava-se que o programa e o desenho da casa forçariam a população a habitá-la de uma dada maneira, aquela que o arquitecto considerava desejável e actual, e estava aí uma das funções mais importantes da arquitectura, a função pedagógica - ensinar a viver, ensinar a habitar, obrigar a abandonar o que se considerava velhos hábitos e preconceitos, falsos símbolos de prestígio, trabalhos e cerimoniais inúteis. Eliminou-se a sala de visitas por desnecessária e representativa de hábitos burgueses; reduziu-se a cozinha a um laboratório de confecção de alimentos, o que correspondia a encarar o papel da alimentação como acto de subsistência sem valor cultural e à necessidade de simplificar as tarefas domésticas, que, por outro lado, complicaram e deixaram de dispor de espaços suficientes (por ex. o tratamento de roupas continuou a ser uma tarefa caseira geralmente sem dispor de espaço nas casas); reduziram-se ao mínimo os espaços destinados a circulações para poupar área e deslocações inúteis; atribuiu-se a cada divisão uma utilização determinada e desenhou-se de modo a que a sua forma se ajustasse a essa utilização. Voltando a citar Chombart de Lawe: «L’archítecture fonctionelle et... cherchent bien à épouser la forme même des besoins (1) Famille et Habitation, Vol I, CNRS, Paris, 1959.

auxquels ils correspondent, de même que le plan intérieur de la maison répond à une certaine division d’actívités.» Construiu-se pois um modelo de funcionamento optimizado (optando-se as mais das vezes pelas condições mínimas) para o que se definia, a priori, como sendo as novas condições de vida de uma família restrita e cuja dona de casa ia tendo um estatuto de semi-independência. O critério de avaliação dum projecto era a fidelidade com que este traduzia um modelo sem desperdício de áreas nem ambiguidades quanto às definições de uso das suas divisões e aproveitando ao máximo os benefícios que adviessem da exposição solar e das vistas para o exterior. O mesmo modelo ia-se adaptando a “standings” mais elevados através do aumento da área das divisões, do número delas e de melhores acabamentos da construção, Essas casas que se habitaram rapidamente, dada a enorme escassez, à época, de fogos disponíveis, passado o primeiro impacto começaram a ser fonte de protestos, de desadaptação, e de traumatismos. Eram casas mal utilizadas pelas populações de mais baixos recursos, que não tiravam delas o proveito esperado, dado que não só se encontravam as mais das vezes superlotadas, como ainda se verificou uma transferência dos antigos hábitos rurais ou de uso das barracas para casas que exigiam formas de viver mais evoluídas. Quanto às classes médias também surgiram dificuldades vindas essas, sobretudo, da exiguidade das áreas e do esquematismo da organização das funções. Acrescente-se que toda a estrutura dos bairros ou conjuntos habitacionais sofreu a mesma esquematização quanto ao equipamento e à sua distribuição (quanto não ficava totalmente por equipar) e o assalto de uma população desenraizada por não adaptada ao novo tecido urbano, o que agravou o problema, pois a vida no exterior da casa não compensava as falhas do fogo, antes acentuava as dificuldades de realização da vida quotidiana. O levantar destes problemas, conjugados com a necessidade de continuar a construir segundo programas mínimos, chamou a atenção para a utilidade de conhecer em pormenor as reacções dos utilizadores das casas que habitavam, para tentar ajustá-las às necessidades que fossem expressas. Organizaram-se, portanto, inquéritos à utilização dos fogos procurando através deles o conhecimento, referido a diversos níveis e tipos de população, das necessidades e exigências dos utilizadores e das virtudes e deficiências das soluções arquitectónicas perante essas necessidades. Passou-se de um modelo teórico mais ou menos idealizado à tentativa de tipificar modelos baseados, agora, no conhecimento tanto quanto possível exacto das populações existentes. A casa traduziria não já um esquema decidido pelos técnicos, mas o modo de viver detectado através de inquéritos directos à população e considerado em termos de exigências e modos de vida médios por escalões de população. Chegou-se a novo impasse: é impossível «ajustar» as habitações às maneiras de viver das pessoas dada a enorme variedade de tipos e composições de famílias, dada a rapidez com que actualmente evoluem as mentalidades e os hábitos, dada a mobilidade. O habitar de uma casa não é definível por um programa rígido, expresso formalmente com idêntica secura, sem ambiguidades nem folgas.. É necessário programar para a diversidade, inventar a habitação que suporte, economicamente e nas melhores condições, diferentes modelos de viver, diferentes «programas». Permanece a necessidade de realizar inquéritos e de desenvolver formas ele participação dos cidadãos para melhorar os programas de habitação e a sua interpretação espacial. Os inquéritos terão ele ser orientados de modo a interpretar, em vez de descrever, deverão procurar ser o reflexo da variedade e riqueza de vida quotidiana em vez de tentar reduzi·la a esquemas deduzidos de casos médios, não se deverão contentar com o conhecimento do que acontece no fogo mas procurar entender o que é «habitar a cidade ». É nesta perspectiva que procuraremos definir os objectivos dos inquéritos à habitação. Interessa-nos atingir o «habitar» no seu contexto global para lhe dar possibilidades de se exprimir livremente, de se manifestar em toda a sua diversidade e riqueza. Precisamos de dados para reinventar a morada do homem e para a reinventarmos temos de reaprender·lhe o significado, entender-lhe o uso, reconhecer-lhe a simbologia. I

NOTA - À data desta edição (2015) tenho a afirmar que não considero os inquéritos uma forma eficaz de basear a programação da habitação, embora possam ajudar a compreender a variedade do habitar. A referida programação deve ser feita de forma participada, a nível local e não central, e ter uma profunda relação com o modo de fazer cidade.

CAPÍTULO II - MÉTODO DE INQUÉRITO

inquérito é um método de observação. Utiliza-se, sobretudo, para conhecer aspectos da realidade que não são experimentáveis mas apenas se podem verificar e interpretar.

Não é possível inquirir uma realidade que se desconhece totalmente. O inquérito pressupõe um conhecimento prévio do assunto a inquirir. Se o observador do inquérito o não possuir tem de iniciar uma fase de observação e estudo (que pode constar de um pré-inquérito) que deverá prolongar-se até ter um conhecimento global do assunto em causa, e estar apto a formular as hipóteses a testar na inquirição. O inquérito não é um método de descoberta da realidade mas, fundamentalmente de verificação e interpretação. O que se pretende verificar tem de ser bem definido e as hipóteses de interpretação têm de ser pré-estabelecidas. O inquérito irá verificá-las ou rejeitá-las. Se as verifica, obtêm-se os resultados procurados, se as rejeita, é porque as hipóteses estavam mal postas, não correspondiam à realidade. Os próprios resultados do inquérito, se tiver havido essa preocupação, sugerem a formulação de novas hipóteses, que por sua vez são testáveis através doutro inquérito. Este aspecto do método do inquérito é extremamente importante e muitas vezes descurado. Não se inquire fazendo perguntas e observações, umas e outras nascem de uma informação que se pretende obter, informação que se seleccionou por se considerar a mais apropriada a dar resposta, uma vez relacionada entre si, aos fenómenos cujo conhecimento nos permitirá atingir os objectivos que o inquérito se propõe. Praticamente todo o esforço de imaginação e de aplicação de conhecimentos se faz antes de iniciar a inquirição. O inquérito é um método de confirmar, de legitimar as explicações e afirmações postas como hipóteses. Os inquéritos que se limitam a fotografar a realidade têm-se mostrado extremamente inoperantes até porque, quando se realiza um inquérito, pretende-se geralmente transformar, actuar sobre o que existe, propor uma remodelação urbanística, uma habitação melhor concebida, introduzir uma inovação num grupo social, definir uma forma publicitária com mais impacto, fazer aceitar um plano de desenvolvimento, etc. Tentar modificar o que existe implica seleccionar os factos e comportamentos que, uma vez explorados, facilitam a transformação. É uma atitude dinâmica que se opõe à imobilidade da fotografia. Se fotografarmos a habitação tradicional obtemos uma habitação tradicional, se fotografarmos uma zona da cidade obtemos essa zona, ficamos a conhecê-las, mas continuamos sem indicações sobre qual a habitação que substituiria a tradicional com vantagens, qual o plano de remodelação que interessaria propor. Para que tal não aconteça teremos de procurar, através do inquérito, obter uma visão crítica dos factos, analisá-los prospectiva e estruturalmente.

Objecto do Inquérito

inquérito surge como resposta a uma necessidade de conhecimento. Essa necessidade define um campo, aponta um problema geral, indica um título.

Temos de precisá-lo, de seleccionar os aspectos que engloba e estabelecer as definições que nos permitem delimitar, com a máxima clareza, o campo abrangido - determinamos assim com precisão o conteúdo do inquérito, ou seja, objecto a inquirir.

Esta fase não está completa sem que se explicite a finalidade do inquérito, isto é, porque abordamos determinado problema, o que pretendemos dele, como virá a ser usada a informação. A definição da finalidade do inquérito obriga a uma selecção dos aspectos que devem ser focados para conhecer o objecto do inquérito e aqueles que podem ser abandonados por terem uma relação mais remota com os objectivos definidos. Teremos assim determinado com precisão o objecto de inquérito.

Objectivos do Inquérito e Formulação das Hipóteses

definição dos objectivos do inquérito está estreitamente ligada com a formulação das hipóteses. As hipóteses indicam as relações entre factos significativos sob aspecto de leis mais ou menos generalizáveis. É ainda ao precisar os objectivos, que se escolhem as técnicas, se adapta o inquérito aos meios de que se dispõe e se formulam os problemas contidos no «objecto de inquérito» que se definiu na fase anterior. Para determinar os objectivos do inquérito tem de se atender ao tempo disponível para o estudo, ao financiamento e à equipa de que se dispõe para realizá-lo. Muitas vezes estes factores obrigam a limitar o inquérito a um aspecto preciso, abandonando outros, embora também com interesse para o assunto em questão. A escolha das técnicas a empregar decide-se também nesta fase, após confronto dos meios de que se dispõe com a finalidade a alcançar e com o tipo de amostra viável.

É através da formulação das hipóteses que se vão precisando os objectivos do inquérito. São as hipóteses que darão origem ao questionário. Na verdade sempre que se faz uma pergunta está implícita uma hipótese. Se ela não for esclarecida previamente corre-se o risco de formular perguntas que contêm em si hipóteses sem interesse ou desviadas dos objectivos do inquérito. Por exemplo: • Se perguntarmos «Toma as refeições na sala ou na cozinha? », estamos a pôr como hipótese que as refeições ou se tomam num sítio ou noutro e a excluir a hipótese de tomar refeições fora de casa ou na sala de jantar. • Se a pergunta for «Onde toma as refeições?», a hipótese correspondente é a de que todos tomam refeições e que estas se passam em qualquer sítio; exclui-se portanto a hipótese de que haja quem não tome refeições ou que estas se processem de forma ambulante. • Já a pergunta «costuma almoçar em casa ou fora de casa?» excluí a hipótese de não almoçar e não precisa o local, não interessa saber se é na cozinha ou na sala, no restaurante ou numa cantina, não pusemos portanto como hipótese a necessidade de conhecer o local onde se passa o almoço mas apenas a alternativa de ele se realizar na casa ou fora dela. A formulação das hipóteses sobre a refeição «almoço» indica portanto os aspectos que interessa inquirir orientados pelo uso que iremos dar à informação. Se estamos a estudar o fogo pode interessar-nos saber em que divisão se almoça, ou se se almoça ou não em casa, ou se a escolha se decide entre a cozinha e a sala não nos interessando os casos de casa de jantar e do almoço fora, ou se ele é servido pela dona de casa, ou pela criada, ou ainda o seu modo de realização: se a família se reúne toda à volta

da mesa ou almoça cada um à sua hora por incompatibilidade de horários preparando um tabuleiro com a refeição guardada no frigorífico. Qualquer destas informações dá origem a perguntas diferentes. A sua escolha dependerá das hipóteses de interpretação, das questões que considerarmos mais significativas para a finalidade a atingir. As hipóteses deverão estabelecer-se com a preocupação de poder, embora examinando casos particulares, atingir resultados generalizáveis. De um conjunto de fenómenos dispersos procurar-se-á descobrir os traços característicos e comuns e explicar as regularidades que se observam. Como já foi referido, o estabelecimento das hipóteses exige um conhecimento prévio do assunto a inquirir. Se ele não existe torna-se necessário realizar um trabalho que forneça os conhecimentos necessários à formulação das hipóteses que pode consistir na busca de elementos bibliográficos, de resultados de outros inquéritos, na análise sistemática do assunto, procurando encará-lo sob todas as suas facetas, na promoção de reuniões entre pessoas capazes de o discutir, na realização de entrevistas em profundidade para ter uma visão global, embora não generalizável, do assunto, na realização de um inquérito-piloto ou seja, um inquérito feito a um número limitado de casos e formulando perguntas abertas sobre os assuntos que ofereçam mais dúvidas para poder examinar os tipos de respostas que elas sugerem.

Construção das Variáveis

construção de variáveis consiste na tradução dos conceitos em operações definida, ou seja, passar de definições abstractas a critérios de classificação, a índices.

Uma vez definidos o objecto e os objectivos do inquérito e estabelecidas as hipóteses a verificar, obtém-se a lista dos elementos, dos aspectos, dos conceitos que se procuram esclarecer. Ao exprimi-los de uma forma concreta, susceptível de ser posteriormente elaborada e quantificada, obtemos as «dimensões» dos conceitos.

A fase seguinte consiste em encontrar os «indicadores” para cada «dimensão,» ou seja, os dados que, uma vez recolhidos e analisados em conjunto e segundo as hipóteses formuladas, irão informar, explicar cada “dimensão” do “conceito”. A formação de «índices», que se obtém por síntese dos dados anteriores, permitirá a quantificação e a construção das variáveis que esclarecem o «conceito». Exemplifiquemos. No estudo do fogo procuramos, por exemplo, conhecer a sua privacidade em relação ao exterior. Temos portanto o conceito - privacidade - ligado ao objecto do inquérito - o fogo - nas suas relações com o exterior objectivo da inquirição, ou seja, procuramos conhecer os elementos através dos quais se obtém privacidade, a quem e como essa privacidade interessa. Por hipótese, a privacidade está relacionada com a sensibilidade das pessoas ao devassamento das suas casas o qual, por sua vez depende da experiência das relações de vizinhança, da forma de agrupamento dos fogos, do tipo de abertura do fogo ao exterior. Seriam portanto estas as “dimensões” do conceito de privacidade do fogo. Os “indicadores” das dimensões apontadas e que permitirão concretizá-las e quantificá-las serão, por hipótese, a profissão, a idade, os rendimentos, o sexo, a instrução, a indicação da existência de boas ou más relações com os vizinhos, os serviços que são prestados ou pedidos aos vizinhos, o número de fogos com porta para o mesmo patamar, os fogos com janelas ou sem elas para a zona de passagem semi-pública (patamar, galeria,...). Com os primeiros indicadores obtinha-se a variável socioeconómica quantificável através da atribuição de índices, medida única reunindo e classificando o conjunto dos indicadores. Os índices identificariam as classes socioeconómicas A, B, C,... Um aspecto que interessa referir é o facto de que para conseguir verificar as hipóteses estabelecidas, torna-se necessário

que seja seleccionado um número suficiente de variáveis e que a escolha caia nas mais significativas. A selecção é facilitada pelo conhecimento de estudos anteriores realizados sobre os domínios em questão, por recolhas bibliográficas e pela realização de inquéritos piloto e outros processos já indicados a propósito da formulação das hipóteses.

Técnicas de Inquérito As Entrevistas

entrevista é definida por R. Pinto e M. Grawitz(1) como «o processo de investigação científica, utilizando um modo de comunicação verbal, para recolher informações, relacionadas com uma finalidade fixada».

As entrevistas são classificáveis segundo dois critérios: o grau de liberdade dado ao entrevistado, que se reflecte no tipo e forma das perguntas, e o nível de profundidade expresso pela riqueza, multiplicidade e complexidade das respostas. Aos estudos de arquitectura interessam os seguintes tipos de entrevista: • A entrevista em profundidade - O inquiridor fixa um assunto e interroga livremente guiando-se apenas pela finalidade que se propõe. O entrevistado conduz a entrevista como quer, cabendo ao inquiridor, se ele se desviar do objectivo, a recondução ao assunto do inquérito. Estas entrevistas são geralmente orientadas por um «guião» que lembra ao entrevistador os diferentes aspectos que convém abordar. As entrevistas podem ser sobre assuntos gerais, portanto com um grande grau de abertura, ou centradas sobre um aspecto preciso. Este tipo de entrevistas, geralmente longas e exigindo uma preparação extremamente cuidada do inquiridor (este tem de conhecer a fundo o assunto sobre o qual vai inquirir), não se podem realizar em número que seja suficiente para serem generalizáveis os resultados. O grande interesse delas reside no facto de se puderem conhecer as relações entre aspectos diferentes dentro de cada assunto em causa, obter portanto a explicação do conjunto dos fenómenos embora vistos sob um ângulo particular, aquele do entrevistado em questão. Daí a preocupação, que se deve ter, de escolher o entrevistado de modo a que ele seja representativo. Se, por exemplo, estamos interessados em saber a opinião dos alunos sobre a reforma da Universidade e se consideramos que a técnica com interesse é a das entrevistas em profundidade e a diferença entre as perspectivas sobre a reforma está ligada à atitude perante a política associativa, entrevistar-se-ão os alunos que representem as diferentes tendências, ou seja: um dirigente de movimentos associativos, o aluno interessado nos movimentos associativos mas sem cargos de responsabilidade, o indiferente bom aluno e mau aluno, o aluno que se opõe aos movimentos associativos, etc. • Os questionários - Nas entrevistas por questionário estão fixadas as perguntas a que o inquirido deve responder. Estas poderão ser abertas, se deixam o inquirido livre de responder como quiser, ou fechadas, se a resposta está restrita a uma gama prefixada, como, por exemplo, as perguntas cuja resposta pode ser apenas sim, não ou sem opinião ou ainda as perguntas em «cafetaria», cuja resposta consiste na escolha dentro duma lista já elaborada. Algumas respostas obtêm-se pela simples formulação de uma pergunta, outras só a interpretação de uma série de perguntas, por vezes até sem ligação directa e explícita com o que se procura saber, permite obter a informação requerida. Há portanto perguntas directas e indirectas. O questionário organiza-se formulando as perguntas cujas respostas permitem informar as hipóteses estabelecidas. Têm portanto de ser examinados todos os problemas que foram seleccionados, precisada a natureza dos dados a recolher e explicitada toda a informação que as perguntas postas devem conter. Determina-se assim o conteúdo das perguntas. Resta agora decidir a forma de pergunta (aberta, fechada, directa, indirecta), escolher as palavras e a redacção de modo a torná-las claras, adaptadas ao grau de conhecimentos do inquirido e aos seus «quadros (1) Méthodes des Sciences Sociales, pag 591, 2ª edição, Dalloz.

de referência» (para uma pessoa muito rica um «casaco barato» é um casaco que uma pessoa pobre classificaria como «muito caro». Se a resposta não for referenciada ao tipo da população não conseguiremos ajuizar do preço do casaco) Interessa ainda verificar se a forma encontrada orienta a resposta para a finalidade do inquérito ou se permite desvios e imprecisões (por exemplo, perguntar a ocupação para conhecer a classe socioeconómicocultural leva as pessoas a responderem, por exemplo, empregado num banco. Esta informação é insuficiente para o fim em vista pois empregado de um banco tanto é o porteiro, como um chefe de serviço ou o director de uma agência. Para obter a resposta necessária dever-se-á perguntar ocupação, cargo, profissão e instrução (o chefe de secção poderá ter um curso comercial ou ser economista, o que fornece uma informação para a definição da categoria cultural).

Outras Técnicas de Inquérito Existem outras técnicas de inquérito que não descrevemos por não serem usualmente aplicadas aos domínios da habitação, embora consideremos que valeria a pena experimentá-las ou, pelo menos, analisar cuidadosamente as suas possibilidades em relação a este campo. São elas, por exemplo: os testes e os inquéritos que implicam a permanência do inquirido no local assistindo ao desenrolar dos acontecimentos, a entrevista de grupo, os inquéritos organizados para recolha de dados visando o desenvolvimento, que embora não se possam considerar técnicas específicas, exigem uma integração, ao nível da inquirição, de aspectos diversos (sociais, físicos, culturais, administrativos, etc.), o que lhes dá características especiais.

Escolha da Amostra

escola da amostra depende do inquérito que se quer realizar e das possibilidades de realizar a amostra que nos convém. Estes dois aspectos comandam-se mutuamente - escolhe-se a amostra de acordo com as necessidades do inquérito e tem de se adaptar o inquérito a ela, se não é viável a amostra que este exigiria. A população ou universo do inquérito é o conjunto ao qual dizem respeito os objectivos do inquérito. O universo do inquérito pode coincidir ou não com a amostra e isso depende do número de casos que compõem o universo e da capacidade financeira e de pessoal de que se dispõe. O inquérito, por exemplo, pode dizer respeito aos alunos do 6º ano de um dado liceu e aplica-se a todos eles, ou às pessoas que no país habitam em bairros chamados sociais, e dado o seu número o mais natural é que, sobretudo se o questionário for complexo, o inquérito não tenha capacidade para entrevistar todos. Por vezes as dificuldades começam na própria determinação do universo do inquérito. Por exemplo, num inquérito aos jovens interessados em movimentos associativos ter-se-ia de determinar que classes de idades eram abrangidas pelo termo «jovens» e que características permitiam determinar em que consiste o «estar interessado em movimentos associativos», Não podendo esgotar o universo temos de empregar a técnica da amostragem. Temos de escolher a amostra que, não esgotando o universo, seja representativa dele. Procede-se por sondagem.

Sondagem Empírica

elativamente à sondagem empírica destacamos os métodos por quotas e o método dos itinerários que passamos a definir:

• Métodos por quotas - Analisam-se as características da população do inquérito por meio de dados estatísticos e escolhem-se aquelas que se consideram estar relacionadas mais directamente com os objectivos do inquérito. Escolhem-se os indivíduos que apresentam essas características em proporções idênticas às da distribuição estatística, as quais constam de um quadro de quotas. Esse quadro fixa portanto as características que deverão ter as pessoas a interrogar e as quantidades de pessoas por característica. Pode ser interrogada qualquer pessoa que as satisfaça. Este método exige a disponibilidade de dados estatísticos correspondendo às categorias escolhidas. Tem a vantagem de poupar tempo e trabalho se o número de características é pequeno.

• Método dos itinerários - É idêntico ao método por quotas, mas fixa-se um itinerário aos inquiridores, ou seja, define-se à partida o roteiro das unidades de amostra a inquirir. Os inquiridores não ficam portanto livres para interrogarem quem quiserem, dentro das quotas estabelecidas, mas apenas os casos definidos no roteiro de inquirição marcado.

Sondagem Aleatória ou Probabilística

uando se não conhecem as características dos casos que compõem o universo da amostra, e para evitar uma escolha arbitrária, procede-se a uma tiragem à sorte e aplicam-se os rudimentos da teoria das probabilidades.

Para realizar a tiragem à sorte é necessário possuir a base de sondagem, ou seja, a enumeração de todos os casos que constituem a população. Se esta base de sondagem não existe, ou é incompleta, utilizam-se áreas que se delimitam em cartas. Essas áreas são a base de sondagem e é relativamente à população de cada área que se tira à sorte as unidades de inquirição. Podemos ter: • Sondagens complexas - Nas sondagens complexas há várias tiragens à sorte em sucessivas fases ou graus, de modo a reduzir a amostra. Vão-se assim escolhendo conjuntos cada vez mais pequenos representativos dos conjuntos primeiramente seleccionados. • Sondagem estratificada - Neste tipo de sondagem divide-se o universo do inquérito em estratos. Estes estratos escolhem-se de modo a serem mais homogéneos, em relação a uma característica dada, do que o universo considerado no seu conjunto. Em cada estrato, assim determinado, a amostra é tirada à sorte.

Preparação dos Inquiridores

preparação dos inquiridores depende muito do tipo do inquérito que eles irão realizar. No entanto há aspectos comuns a qualquer entrevista para os quais o inquiridor deve estar preparado.

Referiremos as seguintes: • Dificuldades iniciais quando se encontram inquiridor e inquirido, e este reage perante um desconhecido, hesita sobre se deve ou não aceitar a entrevista, pesa os inconvenientes ou vantagens que daí lhe virão, interroga-se sobre a razão por que o teriam escolhido a ele, a que fins se destina a entrevista, etc. • Uma vez a entrevista aceite o inquiridor deverá criar uma atmosfera em que o inquirido se sinta à vontade para se exprimir e não seja compelido a uma atitude forçada, tanto pelo desejo de responder o que melhor convenha ao inquérito como pelo receio de, ao exprimir-se, revelar ignorância ou falta de meios ou de cultura, revelação essa que impressionaria desfavoravelmente o inquiridor ou que poderia ter repercussões na sua vida.

• Não sugerir as respostas, o que é fácil de acontecer quando o entrevistado não perceber a pergunta e o inquirido tem de voltar a formulá-la. • Não apontar as respostas incorrectamente. Isto acontece com frequência quando o apontamento feito na entrevista, em vez de traduzir fielmente o que o inquirido disse, traduz a interpretação do inquiridor à resposta dada. • Têm ainda influência no resultado da entrevista todos os aspectos relacionados com a simpatia, modo de apresentação, maneira de estar sem excessiva timidez nem desenvoltura, cortesia, etc. A preparação dos inquiridores tem de se iniciar introduzindo-os e interessando-os no inquérito, explicando-lhes o que se quer obter e para o que serve, motivando-os para realizarem o trabalho convencidos e esclarecidos do interesse dele. Têm ainda de ser elucidados sobre as dificuldades que as entrevistas apresentam, os riscos de introdução de deformações de que podem ser causadores e, através de exemplos, de maneiras de evitar esses riscos e de superar as dificuldades. O melhor processo de preparação consiste em exposições teóricas sobre o inquérito e sobre os modos de actuação, seguidas de treino de entrevistas realizadas isoladamente e perante a equipa do inquérito para discussão e apresentação das dificuldades e controle das maneiras de inquirir.

Pré-Teste

pré-teste realiza-se para ensaiar os instrumentos do inquérito - o questionário (não serão encarados os outros tipos de inquérito) e os inquiridores.

O pré-teste deve realizar-se com inquiridos pertencendo à população da amostra escolhida e que se declarem dispostos a participar numa experiência que será mais demorada que a futura aplicação do questionário e exige deles uma maior participação e poder crítico. Estas entrevistas terão por finalidade aperfeiçoar o questionário de modo a corresponder melhor aos objectivos fixados. Convém escolher ainda alguns casos que correspondam a inquiridos oferecendo certa resistência ou menos esclarecidos, para ver as possibilidades que o questionário tem de ser entendido e aceite nos casos mais difíceis. Não se pretende portanto corrigir o questionário no aspecto de ele satisfazer os objectivos do inquérito, mas torná-lo mais claro e melhor aceite junto da população.

As entrevistas realizadas deverão permitir dar maior precisão aos termos empregados, pela substituição daqueles que se apresentam ambíguos ou exigindo do entrevistador explicações complementares, modificar a ordem das perguntas de modo a que a entrevista corra de forma natural, sem saltos bruscos entre assuntos e deixando as perguntas de mais difícil resposta para o fim da entrevista, por ser a altura em que o entrevistado e entrevistador se devem sentir mais à vontade, corrigir a forma de perguntar, eliminar perguntas repetidas desnecessariamente ou desmultiplicar perguntas que se apresentem demasiado condensadas e provoquem mais de uma resposta e ainda servir de treino aos inquiridores. Estes, através do pré-teste familiarizam-se com o questionário, apuram a forma de introdução da entrevista, ajuízam as suas capacidades para entrevistar, adquirem experiência quanto às atitudes mais convenientes. Os inquiridores do pré-teste deverão ser de duas categorias: experimentados e não-experimentados. Os primeiros são necessários para puderem detectar e expor as críticas ao questionário, os segundos servem sobretudo para julgar as reacções dos inquiridores não-experimentados à entrevista, o que pode trazer correcções ao questionário procurando facilitar-lhes a tarefa ou chamar a atenção para aspectos da preparação dos inquiridores que tenham sido descurados.

Apuramento, Análise e Interpretação dos Resultados do Inquérito por Questionário

ma vez da posse dos questionários preenchidos torna-se necessário verificá-los. Este trabalho consiste em constatar se estão completamente preenchidos, se as respostas são coerentes umas com as outras, se os casos inquiridos apresentam realmente as características definidas na amostra (pode-se, por exemplo, ter eliminado da amostra os casos de sub-locação e vir a verificar-se após a entrevista a existência de casos não declarados e que aparecem incluídos na inquirição), se as respostas são claras, se existe uma certa uniformidade nas respostas (referidas, por exemplo, todas às mesmas unidades e não, por exemplo, umas respostas referirem-se a vezes por semana e outras a vezes por dia), uniformidade que existe se os inquiridores tiverem formulado as perguntas da mesma maneira. O apuramento do questionário far-se-á a dois níveis: ao nível da ficha e do conjunto das fichas.

O primeiro nível permite o conhecimento de cada ficha e portanto das relações internas entre os aspectos considerados. Esta leitura é geralmente bastante sugestiva para ajudar a decidir o conjunto de dados que interessa apurar em paralelo, as categorias que interessa estabelecer para as diferentes perguntas, pois temos a ideia da gama de respostas coberta pelo inquérito. Isto é importante para a codificação. Há questões que só após o inquérito realizado, e conhecido o seu conteúdo, é possível codificar, outras (perguntas fechadas) são geralmente codificáveis antes da inquirição. As perguntas do tipo qualitativo permitem detectar ou esclarecer relações entre fenómenos observados ou levantar novos problemas, ou sugerir explicações gerais, que não tinham sido encaradas, ou ainda chamar a atenção para a complexidade da realidade que estava esquecida dada a facilidade de tratamento da informação quantificável. Os dados quantificáveis são tratados estatisticamente. Há uma análise imediata dos dados, feita segundo as hipóteses já estabelecidas e facilmente verificáveis, e uma segunda análise, mais delicada, em que se tem de tentar, com os variados elementos fornecidos pelo inquérito, obter as correlações, verificar regularidades na distribuição dos dados que nos ajudem a explicar mais detalhadamente, ou sob novos ângulos, as hipóteses menos directas ou mais aventurosas. Há portanto um trabalho que se pode processar por tentativas, procurando leis estatísticas das quais não estamos seguros, mas que poderão apoiar explicações que o inquérito mostrar plausíveis e interessantes para um melhor ·conhecimento dos objectivos. Muitas vezes, mesmo que se não obtenham resultados com suficiente segurança para consistirem afirmações, esta pesquisa leva à formulação de novas hipóteses com interesse para o prosseguimento dos estudos.

CAPITULO III - PROPOSTA DE INQUÉRITO À HABITAÇÃO URBANA

Objectivos

m inquérito à habitação, nos seus termos mais gerais, tem por finalidade uma melhor e mais segura compreensão do que é habitar, assim como a procura dos valores físicos, valores de espaço, valores de projecto, que permitam e até favoreçam a sua livre expressão. Apesar de rápida e de certo modo imprevisível, a evolução é um processo contínuo que implica um peso de inércia e no qual o momento presente tem em si, em potência, muitas das características que vão definir-se e acentuar-se num sentido que já se encontra apontado. Acrescente-se que, num desenvolvimento planeado no seu conjunto, a previsão é facilitada pelo próprio processo de planeamento uma vez que este orienta, condiciona e imprime um sentido e um significado à própria evolução. Deveremos pois basear-nos na realidade presente e procurar interpretá-la, tentar simular as possíveis consequências do acentuar de tendências que se vejam esboçadas, fazer uma prospecção seleccionando os aspectos gerais da evolução que afectam mais directamente, pela sua própria natureza, as condições e a imagem do habitar. Essa análise da realidade presente tem de se realizar numa perspectiva nova, determinada pelos factos que se consideram mais relevantes e capazes de orientar o futuro. De posse da interpretação prospectiva impõe-se testar as consequências, em teremos de espaço, das novas condições e da nova imagem do habitar, impõe-se descobrir as formas e sua organização mais aptas para as conterem e exprimirem. Será ainda estudando as formas existentes e simulando as novas exigências que poderemos seleccionar as características do espaço que o tornam receptivo às exigências definidas. Ao nível dos objectivos gerais o problema posto pode resumir-se nos seguintes aspectos: • Conhecer a orientação da evolução geral nas suas tendências globais e nos aspectos que afectam particularmente a habitação para poder dar ao estudo uma dimensão prospectiva. Este conhecimento deverá definir uma teoria da habitação, isto é, determinar o contexto no qual se entende e se explica a «morada». Não se habita uma casa, habita-se uma cidade(1); é necessário perceber o que significa a «casa na cidade» e o que se pede dela. Não podemos reajustar a morada ao homem, partindo do isolamento de umas tantas funções, as que tradicionalmente se considera que são as realizadas em casa e procurando «arrumá-las» dentro do fogo do qual já temos uma imagem feita. Temos de procurar definir o que é morar, porquê e como se mora, considerar a vida quotidiana na sua globalidade e analisar as actividades e valores presentes sob «tecto privado». Parece ser esta a definição de «casa» de que devemos partir: a casa de um, ou de um grupo familiar ou outro, corresponde ao «domínio coberto e privado por excelência» que cada um ou cada grupo possui, de que dispõe e se apropria. Para completar e descrever a «morada» será necessário saber quais os actos da vida quotidiana que são privados por excelência, quando, como, onde e com quem essa privacidade se deseja. (1) Se consideramos o tipo de população que Webber definiu corno «os olímpicos» (grandes estrelas do cinema, grandes industriais, cientistas internacionais, etc.) teríamos de afirmar que esses não habitam uma casa, nem uma cidade, mas um continente, ou dois ou vários continentes, na medida em que a sua vida quotidiana se passa num quadro físico que os abarca, que o seu «território» se distribui no mundo como o nosso na cidade - moram em Hollywood e Paris, trabalham em Londres e Madrid, vão a festas e encontram os amigos em Lisboa, em Roma, Rio de Janeiro ou Pequim.

• Estabelecer a informação susceptível de ser utilizada para a definição dos programas de habitação. Esta informação não deverá ter carácter descritivo mas explicativo, apresentar-se-á não como regras a cumprir mas como conjuntos de relações e imagens a satisfazer, procurará esclarecer o arquitecto sobre o significado das actividades e dos espaços que cria. Por exemplo: o programa sala indicará o que se quer dela, a quem vai servir, quando e porquê, o que representa a sala no conjunto de sítios e factos que compõe a vida quotidiana e não quantos metros quadrados deverá ter, se deverá estar ligada à cozinha ou à entrada, se deve poder conter dois sofás e urna mesa, um armário e uma estante. Estas informações serão determinadas pela conjugação de outros tipos de estudos (ergonómicos, tipos e dimensões de mobiliários, etc.). Devemos procurar definir a «ideia de sala» que se considera conveniente para a conjuntura que representa o projecto que se está a realizar. A informação a recolher será portanto instrumento de programação e não para definir um programa fixo. • Determinar os «valores-espaço» capazes de exprimir as necessidades e imagens, a utilidade e a poética da habitação. Os valores hierarquizados e próprios do habitar não são necessariamente exprimíveis em espaço, pode não existir uma correspondência directa, mas o espaço construído terá de permitir, e se possível favorecer, a sua expressão. Um dos objectivos fundamentais dos inquéritos à habitação será conhecer a linguagem formal e os valores físicos mais apropriados à concretização da casa sem a condicionar, antes deixando ao utilizador liberdade de expressão e possibilidades de apropriação. Será, pelo menos em parte, através do levantamento e análise dos espaços mobilados e habitados e da sucessiva experimentação de novas propostas formais que poderão avançar os conhecimentos neste domínio. •

Factores Sociais com Influência no Uso da Habitação Exemplo de Hipóteses

omo foi indicado no número anterior, interessa conhecer a orientação da evolução geral nas tendências globais e sobretudo nos aspectos mais estreitamente ligados com a habitação. Quais são eles?

Seleccionámos aqueles que os estudos sociológicos e os inquéritos já realizados permitem apontar como os que exercem mais directa influência nos modos de habitar. A selecção é discutível, muitos outros factores entram em jogo e não temos instrumentos que nos permitam preferir uns a outros nem conhecer exactamente como se processam as relações. Só o prosseguimento dos estudos de sociologia, psicologia e ecologia irão preenchendo as lacunas que actualmente existem no conhecimento dos comportamentos individuais e dos grupos e nos modos de adaptação ao meio físico e social. É portanto indispensável, para um melhor conhecimento e previsão dos modos de habitar, que estes estudos se desenvolvam e coordenem orientados para o fim indicado. Os factores sociais que consideraremos com mais significado para a compreensão e previsão dos modos e formas de habitar serão: • Conceito e exigências da vida urbana. • Conceito de família, de grupo de coabitação e de vizinhança. • Características da mobilidade social e elevação geral do nível de vida. • Características do progresso técnico.

Conceito e Exigências da Vida Urbana

habitação que iremos estudar é a habitação na cidade. Todos os territórios se urbanizam à medida que avança o progresso material, a generalização da educação e da cultura.

O fenómeno é tão geral que é previsível que o «campo» se torne urbano, não porque a cidade, tal como a conhecemos, venha a cobrir todo o território mas porque todos os homens, independentemente do lugar onde habitam e do tipo de ocupação, passarão a ter mentalidade, exigências, e necessidades urbanas, ou seja, quererão aceder a um modo de vida que até agora só a cidade tem proporcionado - diversidade de oportunidades, apoio de serviços colectivos, acesso fácil à informação e à cultura, facilidade e rapidez de transportes permitindo maior mobilidade territorial, oportunidade de convívio diversificado e decidido por escolha, possibilidade de fácil reconversão de actividades, etc. A habitação urbana é profundamente dependente das características da vida urbana que se processa em redor dela; o modo de habitar uma casa varia como o modo de habitar a cidade. Seleccionámos como factores mais importantes e condicionadores da vida urbana com reflexo na habitação: • A relação entre a casa e a actividade trabalho e/ou estudo. • A existência, tipo e acessibilidade do equipamento urbano. • A eficiência e grau de desenvolvimento das comunicações. • A existência, duração e distribuição (diária e semanal) dos tempos livres.

Conceito de Família, de Grupo de Coabitação e de Vizinhança

nglobamos neste parágrafo os aspectos de vida de relação que estão ligados à habitação. É necessário rever a noção de família através da observação da sua evolução como conjunto, e dos papéis que cada um dos seus membros desempenha de um modo geral, e sobretudo na relação de coabitação familiar. O grupo familiar sobre o qual se baseia o programa-casa tem sofrido e continua a sofrer transformações. O mesmo sucede com as relações da vizinhança, com as motivações, esquemas e hábitos de convívio em geral. Poderemos afirmar que a evolução da família tem vindo a diminuir o número de familiares reunidos sob o mesmo tecto - da tribo à família alargada e desta à restrita, o grupo primário de convívio tem-se vindo a reduzir. Há um aumento do isolamento dos indivíduos na medida em que se restringe o número de convivências íntimas (considera-se que um convívio íntimo é diário e informal), essa restrição traz um abaixamento da qualidade do convívio, demasiado disperso e superficial nos múltiplos contactos que a cidade proporciona, demasiado limitado no que diz respeito à convivência íntima (reduzida na família a dois adultos, marido e mulher, enquanto, por exemplo, na família alargada englobava avós, pais, filhos, primos, tios, servidores, etc.). No curiosíssimo artigo de Chrístopher Alexander «The City as a Mechanism for Sustaining Human Contact» apontase, como causa fundamental dos problemas de isolamento dos indivíduos, da insatisfação nas relações (nas íntimas como nas outras), dos distúrbios mentais e da violência que caracteriza as sociedades altamente industrializadas, a perda do convívio íntimo com um número suficiente de pessoas. Essa perda só será reparável com a reconstituição de grupos primários (familiares ou outros) suficientemente amplos. Como se considera condição base para a existência de um grupo primário a proximidade física dos seus membros, é todo o programa habitação-vizinhança que se põe também em causa: como realizar e agrupar a habitação, qual ou quais os grupos primários de coabitação que se irão formar, que regras de coabitação adoptarão eles. É, portanto, necessário conhecer como e com quem existe tendência para se coabitar e se o grupo familiar, tal como é actualmente e dentro das perspectivas da sua evolução, é ou não o mais próprio para esse fim. É necessário analisar e criticar novas formas de coabitação procurando que garantam ao indivíduo simultaneamente independência, apoio afectivo e material e facilidades para a organização da sua vida quotidiana.

O problema tem de ser posto e analisado - é fundamental para a orientação do programa da habitação a previsão e conhecimento do grupo que a irá habitar, de saber se é a família e que família, composta por quem, restrita ou alargada, funcionando com que estatuto, com que grau e que forma de independência para os seus membros, qual a relação deles com os grupos exteriores (vizinhos e outros); se é outro grupo constituído sem se basear fundamentalmente em laços de sangue, quais as razões que levarão as pessoas a coabitar, para que fins o farão, que meios e modos de convívio porão em prática. Este conhecimento não se obtém apenas pela análise das famílias tradicionais vivendo nos fogos construídos segundo programas mais ou menos convencionais. Temos de projectar no tempo e no espaço outras formas de viver que já se encontram esboçadas, tais como as variadas modalidades de «famílias colectivas», os conjuntos de «casais amigos que decidem ir habitar num mesmo bloco», os edifícios que englobam variadas modalidades de serviços, comuns às diferentes pessoas (famílias ou isolados) que nele se alojam. Será necessário analisar os sistemas de entreajuda de pais e filhos casados, entre casais novos, entre vizinhos, os sistemas de serviços urbanos que procuram substituir a criada, etc. Os resultados dessas análises terão de se concretizar em propostas de soluções experimentais. As soluções tradicionais não são as únicas possíveis e não é através de pequenos ajustes que se poderá avançar nestes domínios. E necessário pô-las em causa nos seus aspectos fundamentais e não apenas nos pormenores. Como afirma Bertrarn Gross (The City of Man: A Social System Reckoning): «The social environment is a «turbulent field» in whích revolucíonary new foroes are changíng the rules and the names of all the games.» São essas «novas forças revolucionárias» que se torna necessário conhecer num estudo prospectivo. Corremos o risco de não nos apercebermos delas se não admitirmos que «as regras e os nomes de todos os jogos» estão a mudar. Nas questões relativas a família, convívio em geral, habitação, se partimos dos esquemas tal como os conhecemos, passaremos ao lado dos factos e ideias mais importantes que estão a modificar as próprias estruturas de base. A renovação de arquitectura faz-se quando se consegue apreender em termos de espaço uma nova estrutura, e não procurando através de habilidades formais tapar lacunas de organizações que já provaram suas falhas e incapacidades fundamentais. Para a definição dos conceitos de família, grupo de coabitação e convívio ter-se-ão de estudar sobretudo os seguintes aspectos: • O papel da mulher no agregado familiar. • A atitude perante os filhos - crianças e adolescentes. • A alteração dos factores de que depende a coabitação e a atitude perante a mesma. • A relação de convívio entre a família e os outros grupos de convívio. • As formas de convívio e sistemas de entreajuda.

Características da Mobilidade Social e Elevação Geral do Nível de Vida

elativamente à mobilidade social e às perspectivas de elevação geral do nível de vida devemos ter em conta o seguinte:

• Possibilidades de promoção social oferecidas a cada vez maior número de indivíduos, facto que se relaciona com a capacidade da sociedade de valorizar os indivíduos segundo o que eles vão sendo capazes de progredir cultural e economicamente, em vez de os condenar irremediavelmente às condições da sua origem. Este facto está relacionado com a vulgarização da cultura, maior tempo de escolaridade obrigatória, tendência para a formação permanente e maiores facilidades para a reconversão das actividades individuais.

• Aumento do poder de compra. • Tendência para maior disponibilidade de tempo (embora não seja certo que esse tempo se possa vir a classificar

de tempo livre) por encurtamento dos horários de trabalho. • Diminuição e desaparecimento de certos tipos de mão-de-obra e de serviços, que desaparecem devido à promoção social e ao progresso técnico. A relação do programa de habitação com os factores apontados revela-se ao examinarmos as condições de realização da vida em casa e as imagens da casa, sobretudo nos aspectos que dizem respeito às noções de conforto e de prestígio social, à atitude perante o equipamento, aos hábitos de consumo e ao modo de ocupação dos tempos sobrantes da actividade principal. Assim, a possível promoção social dos utentes implica dotar a casa de maior elasticidade, de modo a permitir que a evolução se exprima dentro dela, quer para responder à promoção do actual grupo familiar, quer para a que se dará de geração para geração. O aumento do poder de compra tem-se encontrado ligado com a aquisição de mais equipamento para casa, e com a especialização do dito, o que obriga a uma maior definição e separação de funções no interior da habitação: a compra de uma secretária pressupõe a organização de um canto para trabalhar, a instalação de uma cadeia de alta fidelidade determina um lugar para ouvir música, a máquina de lavar exige um espaço além ou em vez do ocupado pelo tanque da roupa, etc. Também neste caso o fogo terá de ser adaptável, dentro de certos limites, às sucessivas exigências. A vulgarização da cultura e a formação permanente implicam mudanças de atitude quanto ao ambiente caseiro, modificações no gosto e na noção de prestígio social e de conforto, a necessidade de períodos de concentração e isolamento durante maior número de horas por dia. Em casa apareceria a necessidade de ir transformando o aspecto e conforto da habitação e maiores exigências de privacidade individual. O aumento da disponibilidade em tempo e a sua aplicação terá de ser analisada para, em conjunto com outros factores, se poder prever se a habitação irá ser utilizada durante mais ou menos horas por dia, se o tempo sobrante se passará mais em casa ou na cidade, se a habitação tende para dormitório ou para uma maior complexidade de funções. Por último, a diminuição e desaparecimento de certos tipos de mão-de-obra (como por exemplo a criada e o pessoal que executa reparações e trabalhos de conservação quer da construção quer do equipamento) tem de ser encarada, para se não chegar ao impasse que seria a proposta de uma habitação que, embora oferecendo excelentes condições de habitabilidade, se não pudesse habitar dado o excessivo trabalho de manutenção e serviço que exigiria aos utentes.

Características do Progresso Técnico

progresso técnico tem fundas repercussões em toda a vida actual. Não nos alongaremos descrevendo as suas aplicações, que cobrem todos os aspectos da vida quotidiana. Limitar-nos-emos a destacar aqueles que, embora secundários, nos pareceu terem uma relação muito directa com as perspectivas de utilização da casa. São eles: • A simplificação do trabalho pelo uso de máquinas, que substituem o homem nos trabalhos caseiros mais penosos. • O uso de materiais mais baratos, que vão tornando os objectos acessíveis às maiorias. • A multiplicação e vulgarização dos objectos para «usar e deitar fora», ou exigindo reduzido trabalho de conservação. • Alterações na produção reflectindo-se no tipo de produtos e nos modos de produção. • A facilidade e rapidez das comunicações, favorecendo a mobilidade e aumentando a informação.

Aspectos Sociais Gerais que Afectam o Conceito de Habitação - Exemplo de Hipóteses

conceito de casa, isto é, o que ela representa como ambiente e modo global de uso é variável não só de época para época como de grupo para grupo. É diferente o conceito que nos surge ao referirmos uma «casa dormitório» ou «a casa onde toda a família, os avós, os netos, se reúne para um jantar por semana, que aloja a tia velha e as criadas que nos viram nascer», ou ainda a «casa de um casal novo recém-posta, incompleta, visitada por um vaivém de amigos sem hora nem dia fixo, ficando muitas vezes para jantar o qual se improvisa com o que há no frigorífico». São três conceitos de casa, três modos de viver, três ideias de família e de convívio que têm repercussões no modo como se encaram as funções na casa, no mobiliário, na decoração, no ritual com que se desenrolam as funções. As variações de conceito estão relacionadas com: • O nível social que se reflecte na casa sobretudo através do modo de expressão das noções de prestígio e conforto. • O nível económico que se reflecte no «standíng» da casa. • O nível cultural que determina o tipo de exigências quanto à qualidade do habitar, a expressão das actividades e uso dos tempos livres dos utentes. • O conceito de família que determinará o ritual do funcionamento do conjunto Ide pessoas que coabitam, o tipo de relações que estabelecem com o exterior, e se expressa através de organização e do relevo dado à expressão das ‘diferentes funções e personagens na habitação. • A posição relativa dos dois locais principais de permanência - a casa e o trabalho e/ou estudo. • A possibilidade e/ou vontade de permanência em casa, que corresponde à ideia de que a vida quotidiana se deve passar sobretudo ou em casa ou na cidade o que enriquece ou empobrece a vida caseira.

Valores do Espaço a Garantir Através do Projecto Exemplo de Hipóteses

omo já foi referido neste capítulo, além da informação necessária ao estabelecimento dos programas, precisamos de conhecer os «valores-espaço» capazes de favorecer a sua expressão, isto é, não nos basta conhecer como se vive mas necessitamos ainda de conhecer os meios de que dispomos para, ao projectar a habitação, interpretarmos essas condições em termos de espaço. Parece-nos que o método a seguir será ainda o de definir valores gerais, não directamente relacionados com funções determinadas, que se venham a descrever e interpretar a propósito de cada momento de vida caseira. São valores ligados às condições gerais de «abrigo para a vida moderna». Seguidamente teremos de analisar formas mobiladas e habitadas e verificar as respectivas aptidões em relação aos valores definidos. É essa análise crítica que se deverá transpor para os novos termos definidos nos programas estudados. Seleccionámos os seguintes valores a atribuir aos espaços do fogo: • Utilidade e polivalência do espaço. • Privacidade do fogo em relação ao exterior. • Privacidade no interior do fogo. • Habitabilidade física do fogo. • Valores urbanísticos.

Utilidade do Espaço

ntendendo-se por «espaço útil» aquele que permite a maior multiplicidade de usos. A utilidade encontra-se muito ligada à dimensão, à forma e à distribuição das aberturas (portas e janelas).

Exemplo de um espaço correspondendo a uma divisão do fogo com a mesma área e diferente localização das portas e outro com a mesma forma e diferentes dimensões:

Espaço mais Útil

Espaço menos Útil

Espaço mais Útil

Espaço menos Útil

No espaço com a mesma forma e diferentes dimensões ( 2º exemplo) e pressupondo a adequação do indicado ao centro a uma dada gama de usos, o primeiro poderia ser excessivo e o último demasiado exíguo

Polivalência do Espaço

polivalência, quando referida a uma divisão encontra-se ligada à utilidade do seu espaço. O espaço mais útil é mais polivalente dado que pode usar-se de mais maneiras diferentes, o que corresponde a poder conter funções variadas, mais ou menos utilizadores. No entanto a polivalência refere-se aqui ao conjunto dos espaços do fogo. Uma «habitação polivalente» será aquela que, dada a maneira como foram concebidos os seus espaços, permite alterar os usos dentro dela, ocupá-la de maneiras variadas e receber mais ou menos utilizadores. A polivalência da habitação assegura-lhe a adaptação a uma gama tão vasta quanto possível de programas. As limitações a impor à polivalência serão apenas as derivadas dos condicionamentos económicos

Privacidade do Fogo em Relação ao Exterior

em sido confirmada por inquéritos a necessidade de resguardar a casa do exterior. Como já foi referido, a casa é o domínio privado por excelência, privado porque só a abrimos a quem queremos, só permitimos que quem escolhemos conheça o que nela se passa e ainda porque é na nossa casa que podemos dispor de nós, das nossas coisas e realizar os actos mais íntimos. Daí que cause o maior mal-estar ser obrigado a sentir a presença doutros quando se está em casa, quer essa presença se exprima através de ruído, quer o devassamento seja visual, assim como é extremamente desagradável e inibidor saber que os outros se apercebem da nossa presença. A falta de privacidade em relação ao exterior faz as pessoas sentirem-se estranhas nas suas próprias casas.

A necessidade de privacidade entra em contradição com a necessidade, também geral, de comunicar com os outros, de ter oportunidades de encontrar os vizinhos(1), de criar sistemas de entreajuda, de abertura e comunicação com o exterior. Os estudos a realizar terão portanto de procurar esclarecer quando, a que propósito e como se deve garantir a privacidade (1) Ê convicção nossa que existe a necessidade de estabelecer relações de vizinhança. O que se passa actualmente é que a vizinhança de quem habita a cidade são «desconhecidos que podem vir a tornar-se incómodos e até perigosos». Daí o medo de os vir a conhecer. Num meio rural mesmos os desconhecidos se vem a saber quem são, o que permite determinar o tipo de relações que se deve estabelecer sem correr riscos imprevisíveis.

do fogo e consegui-la sem por isso prejudicar as necessidades de comunicação. A compatibilidade entre estas duas exigências conseguir-se-á se se puder determinar, em relação às actividades do fogo, os graus de privacidade que exige cada uma, se se conseguir definir quais as semipúblicas, as privadas e as íntimas, se se construir isolando acusticamente os fogos. Essa definição dependerá muito dos conceitos de convívio e de intimidade.

Privacidade no Interior do Fogo

que foi dito em relação à privacidade casa-exterior aplica-se de certo modo em relação ao interior do fogo. Também no interior da casa, cada um dos membros do grupo que coabita tem necessidade de se isolar e de comunicar e estas exigências estão relacionadas com os diferentes momentos de vida quotidiana no fogo. Parece indispensável que a casa se organize de forma a garantir a cada um dos seus utentes a possibilidade de se isolar e de se apropriar de, pelo menos, uma «divisão». Deverá dispor dela não só em termos da sua utilização e arranjo como também pelo direito incontestado de a fechar ou abrir, quando quiser, à presença, vista e ruídos dos outros membros do grupo de coabitação e dos amigos. Há portanto que garantir a possibilidade desse isolamento e que estudar as actividades e condições que se relacionam com ele, e que variam com a idade, o nível sociocultural, o tipo de actividade, etc.

Habitabilidade Física do Fogo

ncluem-se aqui os valores derivados do conforto físico de habitação (temperatura, iluminação, humidade, ventilação e qualidade do ar) do qual não nos ocuparemos por estarem sobretudo relacionados com os aspectos construtivos.

Valores Urbanísticos do Fogo

á afirmámos que a habitação se encontra ligada à cidade através do seu programa. Outro modo de ligação é o da sua integração urbanística. Nela intervêm aspectos de localização, de linguagem arquitectónica e de forma de agrupamento dos fogos.

Na integração através da localização e da linguagem arquitectónica estão em causa o local onde a habitação se ergue, e que deverá ser escolhido de modo a que o morador possa dispor dos meios de realização do seu dia-a-dia na cidade em boas condições, e os valores formais da arquitectura que a concretiza. Os aspectos de linguagem arquitectónica são sobretudo importantes para a criação de um meio urbano característico, reconhecível e legível nas seus valores e conteúdos. A forma do agrupamento dos fogos terá de permitir isolamento e vida de relação através do controle dos espaços públicos e semipúblicos e da sua relação com os espaços construídos. Nas decisões sobre as formas de agrupamento têm grande importância os condicionamentos impostos pelos programas dos fogos, mas as orientações principais derivarão do estudo das necessidades e valores da vida e do espaço exterior,

Interferência na Habitação dos Aspectos Gerais Apontados - Exemplo de Hipóteses Afastamento do Trabalho/Estudo na Vida da Casa

aspecto mais importante a considerar diz respeito ao afastamento entre a casa e a actividade principal do morador. Indicam-se, seguidamente, algumas consequências para a vida na casa, nas relações sociais, vida no bairro e nos tempos livres se casa e trabalho ou estudo distam entre si: • Verificar-se-á uma maior ausência dos membros da família em casa, o que implicará dispersão dos seus interesses por diferentes zonas da cidade, desmembramento da vida familiar, redução das actividades em casa, maior independência dos membros da família uns em relação aos outros. • Os tempos livres, duma maneira geral são reduzidos, uma vez que as deslocações diárias são mais longas e os momentos livres tendem, pelo menos em parte, a ser passados noutros locais que não a casa ou o bairro (por exemplo, o descanso à hora do almoço). • Acentuar-se-á ainda a necessidade de simplificar as tarefas domésticas para as quais também o tempo disponível é menor. • Alterar-se-ão os momentos de reunião familiar (por exemplo, ausência à hora do almoço de toda ou de parte da família).

Afastamento do Trabalho/Estudo nas Relações Sociais

afastamento dos locais de permanência principal (casa e trabalho) terá por consequência um desdobramento do convívio: trabalho-colegas, casa-vizinhos com predomínio de um dos grupos ou desmembramento dos dois, ou ainda um multiplicação de relações devida à liberdade de escolha e ao aumento das ocasiões e modos de convívio.

Afastamento do Trabalho/Estudo na Vida do Bairro

e o bairro é composto fundamentalmente por residências de pessoas trabalhando em locais afastados dele, dar-se-á uma deserção diária dos moradores, o que reduz o uso dos equipamentos que se tenham previsto junto às habitações em favor do uso do bairro onde se localiza o trabalho ou onde se estuda. Dar-se-á um enfraquecimento das relações de vizinhança no bairro de morada e haverá um desequilíbrio resultante da redução substancial do movimento diurno nas zonas residenciais e da acumulação excessiva de animação urbana nos locais onde se aglomeram os postos de trabalho,

Duração e Uso dos Tempos Livres

estudo dos tempos livres traz importantes informações para o conhecimento do uso e necessidades que a casa deve satisfazer. Os aspectos mais importantes a considerar são as disponibilidades económicas e de tempo, a facilidade

de deslocação, o nível cultural e a existência e acessibilidade do equipamento urbano apropriado para tal uso. Se os tempos livres existem e são em parte passados em casa esta necessita de locais para estar e para «bricolage». Deverá ter espaços apropriáveis ao nível individual, oferecer a cada utente possibilidades de isolamento, privacidade e independência. Passar os tempos livres em casa traz também, como consequência, um maior convívio do grupo que coabita. Se o bairro onde se mora tem equipamento apropriado e este é usado, estabelecer-se-ão relações de vizinhança não agora por se «morar ao lado» mas porque os vizinhos se encontram nas organizações comuns do bairro. O convívio familiar poderá ser também reforçado através delas. Se os tempos livres são passados algures na cidade teremos maiores ausências em casa e no bairro, dispersão familiar, variedade e selecção pessoal do convívio. Será ainda um índice da mobilidade, de facilidade de deslocação, de escolha das actividades não pela localização mas pelo seu tipo e qualidade. Se considerarmos o fim-de-semana teremos de analisar a tendência para a segunda habitação e as deslocações com uso de hotéis e restaurantes.

Conceito de Família, Grupo de Coabitação e Vizinhança

Papel da Mulher em Relação à Família

nteressa conhecer e interpretar a atitude quanto à realização dos trabalhos domésticos, à educação dos filhos e à actividade profissional, a qual se relaciona com a independência e responsabilidades económicas da mulher.

Conforme a atitude que se tenha quanto à intervenção da mulher assim se modifica o género da vida em casa, a importância atribuída às funções caseiras e a imagem da casa. As actividades indicadas podem ser de responsabilidade da mulher ou do marido ou repartidas pelo casal. É muito importante o facto de a mulher trabalhar ou não no exterior, com ou sem horário, a tempo inteiro ou algumas horas. O tempo de permanência é diferente num caso e noutros e determina a possibilidade de a mulher se dedicar à casa. A sua ausência implica simplificação da vida doméstica, diferente organização desta e do fogo, e ainda maior participação de toda a família nas tarefas caseiras ou maior uso do equipamento urbano. A distribuição das tarefas tem ainda repercussões nos tempos livres do casal como tal. Teria o maior interesse procurar soluções que resolvessem quer o isolamento de mulher doméstica, que se verifica nos bairros residenciais, pouco movimentados, com pouco ou nenhum equipamento, com vida de vizinhança reduzida ou inexistente, quer a sobrecarga de trabalho que representa para a mulher o facto de ser empregada e acumular portanto funções em casa e no exterior. Tanto um problema como o outro afectam profundamente a vida de família, o bem-estar de cada um dos seus membros e é fonte de perturbações sociais. A solução deste problema implica profundas remodelações de carácter geral e seria do maior interesse estudá-las e pôlas tem prática. As soluções arquitectónicas e urbanísticas teriam de acompanhar a reorganização apontada. O papel de mulher em relação à família está relacionado ainda com a atitude perante a vida sexual, com implicações profundas na orgânica social.

Atitude dos Pais em Relação aos Filhos e Vice-versa

atitude perante esta relação é muito importante para conhecer as características do grupo de coabitação e puder ter uma ideia da idade que deverá marcar a saída de casa dos filhos para uma vida independente.

Relativamente a esta questão tem interesse analisar os seguintes aspectos: • O tipo de independência dada aos filhos ou exigida por eles e 3 idade a partir de quando ela se verifica. • A importância dos filhos no conjunto da vida familiar • A noção de vigilância e de controle dos filhos • O tipo de educação que lhes é ministrado e o tipo de reacção que essa educação provoca, Estes aspectos reflectem-se no espaço que lhes é destinado em casa e suas características, no modo de convívio com os pais e com O’S amigos, na localização e tipo de equipamento urbano necessário para os jovens, A atitude perante os filhos é muito importante para conhecer as características e a solidez do grupo de coabitação familiar.

Atitude em Relação à Coabitação

ara o estudo de coabitação teríamos de analisar criticamente quais os grupos de coabitação, quem os compõe, para que fins se coabita e como se coabita. A habitação é normalmente sempre projectada para o casal novo com mais ou menos filhos, com ou sem criada, sendo esquecidas todas as outras épocas de vida familiar, os isolados novos e velhos, os grupos de famílias que geralmente por falta de meios de casas habitam em conjunto. A reunião da família larga sob um mesmo tecto não se dá unicamente por carência de meios. Ela é relativamente corrente em famílias dispondo de grandes casas, ou proprietárias de prédios onde se alojam os país e os filhos casados para usufruírem das facilidades e da companhia que a proximidade física proporciona. Começa também a ser corrente os grupos de casais novos que se associam para habitar o mesmo prédio ou para alugar a mesma casa durante os meses de Verão. Parece pois que a questão de coabitação deve ser revista e essa revisão deverá basear-se nos seguintes aspectos. • Razões que levam a coabitar e razões que fazem cessar a coabitação. • Independência relativa dos vários membros do grupo de coabitação e modo como essa independência se exprime. • Modo de apropriação do espaço em casa pelos diferentes membros do grupo de coabitação individualmente e por subgrupos de idade ou outros.

Atitude Quanto à Relação de Convívio entre Família e Outros Grupos

convívio processa-se de diferentes formas consoante os grupos de idade e os níveis sociais, e tem sofrido ultimamente importantes transformações.

Em relação à habitação este facto é muito importante pois condiciona o desenvolvimento a dar aos locais para actividades de estar em comum, um dos pontos actualmente mais mal estudados no fogo. A «sala» é geralmente um

local para onde se empurram todas as actividades que sobram dos quartos e da cozinha (muitas vezes sem anexos nem arrumos) sem atender a como se processam, nem respeitar as necessidades diferentes dos grupos segundo, como por exemplo, as idades - a criança não dispõe de locais suficientemente amplos para brincar em conjunto, os adolescentes não podem realizar os seus bailes e conversar, os adultos e as pessoas de idade não conseguem conviver sem perturbar e serem perturbados pelos mais novos. Este estado de coisas tem tido como consequência a dispersão do convívio na cidade ainda mal preparada para a receber, ou o desaparecimento dele para certos grupos e ainda o progressivo agravamento do convívio entre grupos de idades diferentes que só encontram ocasiões de encontro conflituoso provocado, talvez em parte, pela falta de condições para a sua realização. Terá de se conhecer qual a tendência que predominará, se o convívio voltará ou não para casa, para que grupos e sob que formas essa tendência se verificará.

Formas de Convívio e Sistemas de Entreajuda

omo acontece em relação às outras rubricas não estamos preparados para abordar estes assuntos e pretendermos apenas chamar a atenção para a necessidade de os conhecer se queremos propor formas de habitar mais compatíveis com ‘as exigências actuais, Existem certos aspectos básicos da vida quotidiana cuja realização leva a situações de incompatibilidade. Uma mãe de família não pode exercer uma actividade profissional e simultaneamente criar e educar filhos pequenos, alimentar a família, divertir-se, cultivar-se, limpar a casa e lavar a roupa. Estas actividades atropelam-se e eliminam-se ao longo dos dias arrastando consigo, e para todos, problemas de angústia, de frustração, questões familiares, etc. Têm-se multiplicado os serviços urbanos colectivos - alimentos preparados e semipreparados, lavandarias, restaurantes, jardins-escolas, etc. - mas verifica-se que não só não chegam em número, como não atingem todos os estratos sociais, como ainda a forma comercializada de que se revestem todos eles (ou quase) não resolve a maior parte dos problemas e contribui para um maior isolamento de cada pessoa, para dificultar e dispersar as ocasiões de convívio. São serviços anónimos, cada vez mais automatizados, onde nem ocasião já há pare uma troca de palavras entre vendedor e utilizador. Parece-nos que seria de encarar sistemas de entreajuda organizados pelas pessoas interessadas e apoiados por serviços urbanos e colectivos, sistemas que abririam novas perspectivas ao convívio e à resolução dos problemas práticos da vida quotidiana. O grupo familiar restrito é demasiado pequeno para poder resolvê-los internamente e é em parte essa incapacidade que está criando os maiores problemas ao casal. Uma reorganização dos serviços e a criação de sistemas de entreajuda traria novas funções à habitação, que reduziria ou aumentaria a sua função na cidade mas certamente se modificaria, libertando as famílias do pesadelo em que se está transformando o dia-a-dia.

Factores que Definem a Aptidão do Espaço - Exemplo de Hipóteses Utilidade do Espaço

utilidade do espaço está em relação com os seguintes aspectos:

• Capacidade de conter mobiliário.

• Dimensão do espaço inutilizado pelos percursos no interior de cada divisão. • Dimensão das paredes livres (o que se relaciona com a colocação relativa dos vãos).

Os elementos através dos quais se pode favorecer a utilidade do espaço são: • As dimensões (proporção e forma mais importante,relativamente, do que a área). • A existência de paredes livres e boa colocação de portas e janelas. • A disposição e tipo do equipamento fixo, • A organização dos percursos.

Polivalência do Espaço

polivalência do espaço é determinável testando:

• Os diferentes usos que a habitação pode vir a ter relacionados com organização e exigências de diferentes grupos de coabitação ou ainda para outras actividades consideradas prováveis, dada a localização na cidade e as hipóteses de modificação de programa que essa localização implique.

• A capacidade de alojar, mantendo condições de habitabilidade, grupos compostos por número variável de pessoas, Os meios através dos quais se pode favorecer a polivalência do espaço são: • Forma e dimensão de cada divisão permitindo a diversificação de tipos e arranjos de móveis, • Organização flexível da compartimentação de modo a permitir a inclusão de divisórias móveis e anexar ou desafectar divisões que seriam de certo modo independentes e susceptíveis de pertencerem sucessivamente a diferentes conjuntos. • Existência no fogo de divisões além das estritamente necessárias.

Privacidade do Fogo em Relação ao Exterior

necessidade de privacidade do fogo em relação ao exterior é determinável através:

• Do conhecimento das actividades semi-públicas e privadas do fogo,

• Do tipo de relações de vizinhança desejado. • Dos factores que determinam a sensação -de «estar em sua casa», tais como o isolamento acústico, não existência de devassamento visual, independência em relação ao exterior em geral e aos vizinhos.

Os elementos através dos quais se pode concretizar a privacidade em relação ao exterior são:

• Acesso ao fogo por espaço interior fechado . • Não devassamento pelas janelas e varandas, • Isolamento acústico. • Evitar relações de vizinhança obrigatórias e facilitar pontos de encontro que permitam o estabelecimento de relações desejáveis.

Privacidade no Interior do Fogo

privacidade no interior do fogo é determinável através:

• Do conhecimento das exigências pessoais de isolamento.

• Das exigências respeitantes à reunião da família, • Do conhecimento da hierarquia, segundo o grau de privacidade, das diferentes actividades em casa.

Os elementos através dos quais se pode favorecer a privacidade no interior do fogo são: • A possibilidade de fechar todas as divisões, • A independência das circulações obrigatórias. • A possibilidade de todos os utentes usufruírem de um sítio pessoal, isolado, ou em locais de reunião familiar mas personalizável. • A existência de locais de convívio com pessoas do exterior que não obrigam toda a família a esse convívio o qual pode interessar apenas uma pessoa ou um grupo.

Análise das Actividades no Fogo - Exemplos de Hipóteses

Actividade Dormir ACTIVIDADE - DORMIR LOCAL - QUARTO DOS FILHOS PERSONAGENS - FILHOS/FILHAS

rocura-se determinar:

• O que representa o quarto dos filhos para os próprios e para os pais.

• Se as diferenças entre as representações correspondem a diferentes modos de vida em que os filhos têm maior ou menor independência. • Se têm diferentes noções de família. • Se passam maior ou menor tempo em casa, o que tem relação com a frequência de actividades em casa e no exterior.

A representação do quarto dos filhos interessa-nos para: • Prever as possíveis utilizações do quarto e as mais frequentemente desejadas (sua polivalência). • Determinar o grau de privacidade exigida. • Prever o espaço necessário para realizar as diferentes actividades desejadas e correspondente mobiliário. • Prever a situação em casa relacionada com as exigências de funcionamento e a privacidade exigida. Esta informação teria de ser ordenada segundo: • Os grupos de idade dos filhos. • O tempo de permanência em casa dos filhos e do conjunto da família (relacionado com o género de vida e a concepção de família), • O nível socioeconómico. Interessa ainda conhecer o critério de distribuição dos filhos pelos quartos para a estimativa do número de quartos segundo a composição familiar e previsão de aumento do número de filhos.

Hipóteses que se prevêem Quanto aos grupos de idade. • Mais novos - menor individualização dos quartos. Locais de permanência relacionados com a mãe. Não necessidade de quartos individuais, Menor apropriação do quarto. • Mais velhos - necessidade de quarto individual. Apropriação do quarto. Acumulação nele das actividades dos filhos. Maior necessidade de independência e privacidade. Quanto ao tempo de permanência - género de vida • Maior tempo de permanência - acumulação de actividades no quarto que doutra maneira se realizam mais no exterior. Maior necessidade de apropriação e privacidade. • Género de vida - relacionado com a utilização dos tempos livres, com o tipo de actividades principais, com o

interesse pela casa, noção de família, com a existência e frequência de actividades no exterior, Quanto ao nível socioeconómico • Nível mais baixo - maior promiscuidade de sexos e idades. Maior indiferença pela individualização do quarto, privacidade e apropriação. Diferenças nos tempos livres (duração e qualidade), Acumulação no quarto de actividades não relacionadas com os filhos, Menor convívio em casa e no quarto com os amigos, Pouco mobiliário e poucos objectos pessoais, • Nível mais alto - maior separação de sexos e idades, Individualização, apropriação, centralização nos quartos de actividades relacionadas com os filhos e inexistência de outras. Maior convívio em casa com amigos. Acumulação de mobiliário e de objectos pessoais.

DORMIR - LIGAÇÕES E MOBILIÁRIO ACTIVIDADE - DORMIR LOCAL- QUARTO PERSONAGEM - FILHOS/AS

ACESSO INDEPENDENTE ZONA DE DISTRIBUIÇÃO DOS QUARTOS

QUARTO DORMIR

CASA DE BANHO LOCAL DE VESTIR E ARRANJO PESSOAL ZONA DE ARMÁRIOS ZONA DE ESTAR INDIVIDUAL

COLECTIVA

MOBILIÁRIO ligado ao QUARTO DOS FILHOS/AS e segundo as ACTIVIDADES

DORMIR

CAMA, BANQUINHA DE CABECEIRA

ESTUDO TRABALHO

MESA DE TRABALHO, CADEIRA, ESTANTE DE LIVROS

ESTAR, RECEBER TEMPOS LIVRES DORMIR, ESTAR

GIRA DISCOS, TELEFONIA, TELEVISÃO, POLTRONAS, SOFÁ SOFÁ-CAMA

VESTIR. ARRANJO PESSOAL

GUARDA-ROUPA, TOILETTE CÓMODA

TODAS AS ACTIVIDADES

CADEIRAS

DORMIR - CONCEITOS DE QUARTO DE CAMA VESTIR ARRANJO PESSOAL

ESTAR ESTUDO TRABALHO TEMPOS LIVRES EM CASA

SÓ DORMIR

ARRUMOS DIVERSOS

ARRUMOS ROUPAS

RECEBER AMIGOS

ARRUMOS OBJECTOS PESSOAIS

QUARTO - CONJUNTO DE ACTIVIDADES A NÍVEL INDIVIDUAL

INDEPENDÊNCIA LIGADA A PERMANÊNCIA EM CASA

QUARTO - ALCOVA

VIDA NO EXTERIOR OU SENTIDO COLECTIVO DAS ACTIVIDADES INDIVIDUAIS EM CASA OU EXISTÊNCIA DE OUTRA DIVISÃO PERTENCENTE AO UTILIZADOR DO QUARTO

QUARTO - ACTIVIDADES PESSOAIS ÍNTIMAS

CORRESPONDE AO QUARTO ALCOVA COM MAIOR SENTIDO DE CONFORTO OU COM MAIS ESPAÇO DISPONÍVEL

OUTRAS QUESTÕES INTERESSANDO A ACTIVIDADE - DORMIR Personagens - Filhos • Número de filhos/quarto. • Critério de separação por sexos e critério de separação por idades (a conjugar). • Quando se prevê a necessidade de quarto individual e porquê. • Grau de privacidade - utilizado só pelo próprio, acessível a toda a família, ou a amigos. • Grau de apropriação do quarto pelos utilizadores. • Critério de distribuição das pessoas pelos quartos relacionado com a área do fogo por pessoa e a área do quarto por pessoa. • Exigências de prestígio e conforto • Prolongamento exterior - necessidade ou não de varanda e como seria utilizada se necessária. .1

Actividade - Preparação de Refeições

ACTIVIDADE - PREPARAÇÃO DE REFEIÇÕES LOCAL - COZINHA OU BALCÃO INTEGRADO NOUTRA DIVISÃO PERSONAGENS - DONA DE CASA, PESSOAL EXTERIOR, OUTRAS PESSOAS DA FAMÍLIA

Procura-se determinar: • As razões que levam à saída para o exterior da preparação das refeições. • A relação entre essa saída e os «géneros de vida», nível socioeconómico, características do bairro. • Importância da preparação de refeições na casa, seu prestígio e exigências, localização preferida, relação com outras actividades, personagens que participam ou acompanham quem participa. Esta informação interessa para: • Localizar a preparação e as actividades mais directamente relacionadas. • Conhecer a sua importância nas actividades da casa e a carga de prestigio e privacidade exigidos. • Conhecer os motivos que determinam a sua saída para o exterior e as características susceptíveis de fazerem prever a sua evolução. Esta informação deve ser ordenada segundo: • Modo de vida e tempo de permanência. • Nível socioeconómico. • Número de pessoas no fogo. • Características e importância do equipamento do bairro. • Papel da mulher em casa,.

Hipóteses que se prevêem: • Quanto modo de vida, tempo de permanência - quanto menor tempo de permanência e modo de vida mais evoluído, maior importância no uso de alimentos preparados, teremos maior prestígio da preparação que pode ser feita à vista das visitas e até com ajuda delas, maior simplificação, maior integração na vida da casa, maior relação com actividades de estar, reunião. • Quanto ao nível socioeconómico - O nível elevado determinará preparação executada por auxiliares, e/ou uso mais frequente do restaurante, ligação da preparação com os trabalhos domésticos, desprestígio da preparação ou, se o nível socioeconómico mais elevado se liga com modo de vida mais evoluído características indicadas anteriormente. Nível socioeconómico mais baixo determinará a valorização da cozinha como lugar central da casa As actividades de estar, refeições e reunião com tendência para se centrarem na cozinha. • O maior número de pessoas determinará maior importância da preparação, maior dificuldade em recorrer ao exterior, maior necessidade de sítio especializado, maior necessidade de participação de toda a família. • Um bairro bem equipado proporcionará maiores facilidades para utilizar alimentos preparados ou semipreparados.

PREPARAÇÃO DE REFEIÇÕES - LIGAÇÕES E MOBILIÁRIO ACTIVIDADE - PREPARAÇÃO DE REFEIÇÕES LOCAL- COZINHA OU BALCÃO DE COZINHA PERSONAGEM - DONA DE CASA, EMPREGADA, OUTRAS PESSOAS DA FAMÍLIA

ACESSO INDEPENDENTE ZONA DE LAVAR, PASSAR E SECAR

PREPARAÇÃO DAS REFEIÇÕES COZINHA OU BALCÃO

ZONA DE DISTRIBUIÇÃO ZONA DE REFEIÇÕES ZONA DE ESTAR ZONA DE BRINCAR

ARRUMOS - DISPENSA MOBILIÁRIO ligado à PREPARAÇÃO DAS REFEIÇÕES e segundo as ACTIVIDADES PREPARAR ALIMENTOS

BALCÃO DE COZINHA

LAVAR ALIMENTOS E LOIÇA

LAVA LOIÇAS

COZER/ASSAR

FOGÕES

ARMAZENAGEM

FRIGIRÍFICO, CONGELADOR, ARMÁRIOS

EMPRATAR

BALCÃO OU MESA

A PREPARAÇÃO DE REFEIÇÕES - CONCEITOS DE COZINHA REFEIÇÕES CORRENTES REFEIÇÕES ESPECIAIS

PASSAR

ESTAR FAMILIAR

LAVAR ESTAR SECAR COSTURAR

PREPARAÇÃO DE REFEIÇÕES COZINHA

RECREIO DAS CRIANÇAS RECEBER ESTUDO TRABALHO NÃO DOMÉSTICO

ARRUMOS ARRUMOS

COZINHA SEPARADA E AFECTADA A TRABALHOS DOMÉSTICOS

COZINHA SEPARADA DE DIMENSÕES REDUZIDAS

SEGREGAÇÃO DA PESSOA AFECTADA AOS TRABALHOS DOMÉSTICOS PREPARAÇÃO, CONCEITO SEGREGADA, ACTIVIDADES IDÊNTICO AO DO ANTERIOR COM ESPECIALIZAÇÃO DOMÉSTICAS SEPARADAS DAS ACTIVIDADES DA MAIS ACENTUADA E FAMÍLIA. MELHORES DESPRESTÍGIO DA CONDIÇÕES PARA A PREPARAÇÃO DAS COZINHA, PRIVACIDADE REFEIÇÕES

COZINHA BALCÃO INTEGRADA NO ESTAR SENDO ESTE PREDOMINANTE

COZINHA GRANDE INTEGRANDO O ESTAR FAMILIAR

COZINHA NÚCLEO DA REFEIÇÕES LIGEIRAS FAMÍLIA, MULHER NÃO USO DO ESPAÇO EXTERIOR SEGREGADA, PARTICIPAÇÃO SALA CENTRO DA VIDA FAMILIAR, POSSÍVEL EM CASA, SEPARAÇÃO EXISTÊNCIA DE DOSTRABALHOS SALA PARA ESTAR E DOMÉSTICOS E LIGAÇÃO RECEBER VISITAS. AO ESTAR E RECEBER. PODE INCLUIR OU NÃO PRESTÍGIO DA COZINHA TRABALHOS AUSÊNCIA DE PESSOAL, DOMÉSTICOS PARTICIPAÇÃO FAMILIAR

Actividade - Refeições ACTIVIDADE - REFEIÇÕES LOCAL - VARIÁVEL PERSONAGENS - O AGREGADO FAMILIAR E VISITAS Procura-se determinar: • O que representam as refeições como reunião familiar. • Os locais preferidos para a sua realização e a relação com as outras actividades na casa. • Os factores que influenciam o modo de encarar as refeições e as relações que se estabelecem entre elas e as outras actividades da casa. • Os factores que levam ao uso do exterior para as refeições. • Os locais de refeições especiais - família alargada e visitas. A informação deve ser analisada segundo: • O modo de vida e tempo de permanência em casa. • O número de pessoas à mesa. • O nível socioeconómico. • O papel da mulher em casa.

Hipóteses que se prevêem: • Modo de vida mais evoluído - Simplificação das refeições, maior uso do exterior, refeições mais ligadas ao estar do que aos trabalhos domésticos, estejam ou não integradas na cozinha. Maior participação de toda a família. Prestígio e importância das refeições correntes que podem coincidir no espaço com as refeições com visitas. • Número de pessoas à mesa - Necessidade de local mais amplo se o número de pessoas é elevado o que pode condicionar a escolha deste, serviço sobrecarregado, possibilidade de desfasamento de horários das refeições com consequência no seu parcelamento. • Papel da mulher em casa - Mulher mais evoluída: simplificação, maior uso do exterior, exigência de participação familiar no desenrolar das refeições.

AS REFEIÇÕES CORRENTES - CONCEITOS DE LOCAL DAS REFEIÇÕES CORRENTES PREPARAÇÃO

REFEIÇÕES ESPECIAIS

BRINCAR

ESTAR

ESTUDO

REFEIÇÕES CORRENTES

RECEBER

PASSAR

TRABALHO NÃO DOMÉSTICO

LAVAR

ESTUDO

COSTURAR

BRINCAR

SECAR

REFEIÇÕES EM COZINHA OU CONTÍGUO DE COZINHA LIGAÇÃO A TRABALHOS DOMÉSTICOS E ACTIVIDADES DOS FILHOS RELACIONADAS COM OS FILHOS IMPLICA A INEXISTÊNCIA DE AUXILIAR DOMÉSTICA, PRESTÍGIO DA COZINHA, INTEGRAÇÃO DA MULHER, PAPEL PREDOMINANTE DA COZINHA NO FOGO REFEIÇÕES COM CARÁCTER ÍNTIMO

REFEIÇÕES SEPARADAS DOUTRAS FUNÇÕES E COM LOCAL PRÓPRIO CASA DE JANTAR

REFEIÇÕES EM SALA DE ESTAR, LIGADAS A ACTIVIDADES DE REUNIÃO E INDIVIDUAIS, IMPORTÂNCIA DA REUNIÃO FAMILIAR

CORRESPONDE A IMPLICA EMPREGADA GRANDE INDIVIDUALIZAÇÃO DOMÉSTICA OU DE TODAS AS SEGREGAÇÃO DA ACTIVIDADES NA CASA, MULHER, DESPRESTÍGIO REFEIÇÕES ESPECIAIS DA COZINHA, SALA NÚCLEO DA VIDA FAMILIAR, REFEIÇÕES ESPECIAIS

REFEIÇÕES CORRENTES ACTIVIDADE - REFEIÇÕES CORRENTES LOCAL - VARIÁVEL, CONJUNTO DE MESA E CADEIRAS, ARMÁRIOS PERSONAGEM - AGREGADO FAMILIAR E VISITAS

ZONA DE DISTRIBUIÇÃO PREPARAÇÃO DAS REFEIÇÕES REFEIÇÕES CORRENTES

ZONA DE ESTAR ZONA DE RECEBER ZONA DE RECREIO E DE TRABALHOS NÃO DOMÉSTICOS I

Dados a Recolher no Inquérito Grupo Familiar

informação a recolher será estabelecida pelo sociólogo de forma a:

• Permitir a definição e caracterização de grupos socioeconómicos significativos para os diferentes modos de vida em casa;

• Permitir a definição de grupos de idade e sexo a que correspondam tipos de actividades e de emprego de tempo diferenciados.

Conjuntura Socioeconómica e Cultural

conjuntura socioeconómica e cultural deve dar a tonalidade, tipo e significado das exigências em relação à casa. Esta reflecte essas diferenças assim como o tipo de capacidade crítica em relação a ela. É portanto necessário, para interpretar as respostas ao questionário, situá-las segundo as categorias socioeconómicas. Estas devem ainda explicar certo tipo de diferenças na valorização das actividades, das personagens e dos modos de utilização. Os modelos e imagens da vida em casa são diferentes de grupo para grupo; interessa conhecer a gama e as diferenças entre grupos. Os grupos socioeconómicos e culturais a considerar são aqueles a quem interessa a habitação económica, isto é, população urbana relativamente integrada e com baixos e médios rendimentos económicos. Para conhecimento de formas mais evoluídas de habitar tem interesse inquirir os níveis imediatamente acima (categorias mais altas da habitação económica), Tomando a distribuição do rendimento nacional pelas famílias, por família e em contos/ano(1) temos: NÚMERO DE FAMÍLIAS

25 65 5 5

RENDIMENTO NACIONAL/FAMÍLIA (em contos/ano)

9,5 31,1 108,3 212,5

o leque de famílias que sobretudo nos interessa (para dar uma ordem de grandeza) situa-se nos 65 % que dispõem de 31.1 contos/ano/família. Os limites mínimo e máximo de leque situar-se-iam portanto entre os operários, contínuos, etc., e os professores de liceu, pequenos comerciantes, desenhadores, etc.. As categorias mais altas de habitação económica abrangerão já diplomados com meios superiores. Interessa considerar, como factor correctivo das categorias socioeconómicas, o nível cultural (estabelecer indicadores tais como nível de instrução, leituras, espectáculos, certo tipo de equipamento em casa, etc.).

(1) (Em Trabalhos Preparatórios do III Plano de Fomento, 1966.)

Exigências e Necessidades em Relação à Casa

s exigências e necessidades em relação à casa variam com a idade e o sexo, por haver actividades de trabalho e recreio, diferentes segundo estes grupos,

Os grupos a considerar na família, segundo as idades, deverão corresponder a essas actividades e interesses característicos. Para dar uma ideia do tipo de grupos que poderiam interessar, e a título meramente exemplificativo, indicam-se: • Crianças que não vão à escola • Crianças em idade escolar (até 12,13 anos?) • Jovens estudantes • Jovens empregados (até aos 21 anos?) • Adultos solteiros estudantes • Adultos solteiros empregados • Adultos casados dependentes • Adultos casados independentes • Pessoas de idade (reforma)

Alojamento Anterior

s dados sobre o alojamento anterior serão recolhidos para:

• Melhor definição das características socioculturais e económicas.

• Melhor compreensão do modo de adaptação ao actual alojamento.

Sendo a situação habitacional bastante elucidativa quanto ao nível socioeconómico, e estando em parte nivelada para atribuição da casa económica, as indicações sobre o alojamento anterior dariam uma ideia mais clara do nível e origem das famílias. As condições de habitação anterior têm ainda influência (sobretudo se a atribuição da casa económica é ainda recente) na satisfação e atitude crítica em relação à actual e pode ser justificativa, em parte, do maior ou menor nível de exigências. O tempo de permanência no alojamento anterior, conjugado com o tempo no alojamento actual e os locais onde um e outro se situam, pode dar uma ideia da adaptação não só ao alojamento mas ainda ao bairro, com repercussões na vida em casa e suas relações com o exterior (bairro e relações de vizinhança). O problema da adaptação ao bairro e à casa é muito importante para o significado das respostas a perguntas de opinião. O conhecimento das condições oferecidas pelo alojamento anterior interessa sobretudo nos aspectos reveladores da sua comodidade, independência, situação e tempo de permanência. A comodidade poderá ser expressa no nº de divisões /nº de pessoas que dispunham delas, no equipamento de base (água, esgotos, electricidade, existência ou não de cozinha e casa de banho), no tipo de casa (definitiva ou provisória) na existência ou não de jardim ou pátio privativo. A independência poderá traduzir-se no estatuto de ocupação da casa (parte de casa, quarto, casa alugada, casa própria), existência ou não de sub-locações. A situação diz respeito à localidade ou bairro onde moravam, e à situação do fogo em relação ao terreno (moradia, cave, rés-do-chão, andar, águas-furtadas). O tempo de permanência no alojamento anterior é uma informação com interesse quando conjugada com o tempo

de permanência na actual. Seria ainda de saber quais as principais vantagens e inconvenientes da casa anterior em relação à actual. Desta comparação resultaria um conhecimento dos factores principais de apreciação do alojamento, o que contribuiria para saber os tipos de razões que levam a estimar ou subestimar uma casa.

Actividades em Casa

recolha de dados quanto às actividades em casa, dados que são o fulcro do inquérito servirão para:

• Detectar o modo como as actividades se desenrolam em casa, informadas e motivadas pelos aspectos socioculturais.

• Obter informações sobre a qualidade e valores (prestígio, conforto, privacidade) dessas actividades; • Poder formular hipóteses de evolução dos níveis de necessidades e exigências, prevendo a sua incidência no espaço; • Obter modelos e imagens da vida familiar concretizados através do desenrolar das actividades e personagens no tempo e no espaço, Os dados recolhidos deverão satisfazer: • A descrição dos factos - dados objectivos da realização das actividades - quem, quando, como, o quê, onde. • A interpretação - relação entre os aspectos factuais e as características sociológicas - porquê. • A leitura do espaço - verificação do espaço para as actividades, relações no espaço das actividades, distribuição em planta. <,

Dormir Descrição dos factos Por pessoa, o local onde dorme. Interpretação Critério de distribuição das pessoas pelos quartos. Forma de apropriação dos quartos. Privacidade dos quartos, Leitura do espaço Distribuição das camas no fogo. Mobiliário dos quartos. Actividades associadas no espaço aos quartos de dormir.

Preparar Refeições Descrição dos factos Quem cozinha, quando, onde. Quem faz as compras, com que frequência, no bairro ou fora, Interpretação

Atitude em relação à preparação (uso de refeições preparadas, semi-preparadas), Participação familiar na preparação. Contacto com a família ou isolamento da dona de casa durante a preparação. Leitura do espaço Conforto e representatividade exigidos à cozinha, Equipamento da cozinha fixo e móvel. Actividades associadas à preparação (no tempo e no espaço).

Refeições Correntes Descrição dos factos Quem, onde, quando. O por e o levantar da mesa - quem e como segundo os tipos de refeições. Interpretação Razões de preferência de locais (cozinha, casa de jantar, sala comum em 1 ou 2 espaços ligadas às noções de prestígio e comodidade funcional. Leitura do espaço Prestígio e privacidade do espaço onde se realizam as refeições. Mobiliário relacionado com as refeições, Actividades associadas no espaço às refeições, Esquemas tradicionais e não tradicionais de disposições de mobiliário para refeições.

Refeições Especiais Descrição dos factos Existência de refeições especiais em casa, local e frequência segundo os tipos de convivas. A festa (Natal, casamentos, anos, etc.). Amplitude e variação do número de convivas. Transferência da «festa» para o exterior (uso de restaurantes e casas de espectáculos como comemoração). Interpretação Atitude perante as refeições especiais (alterações de serviço e/ou local), a noção de festa ligada às modificações que ela implicará, Esclarecimento da noção de prestigio através dessas modificações. Leitura do espaço Alterações na disposição do mobiliário ou do sítio por motivo da «festa» ou do aumento do número de convivas.

Estar, Lazer, Reuniões Familiares Descrição dos factos Locais e períodos de reunião familiar - serão, fins de tarde, sábados e domingos. Actividade de lazer e estar. Variação Verão-Inverno. Actividades individuais do «estar-lazer» agrupadas por idades,

Interpretação Motivação ligada à reunião familiar e lazeres individuais, relacionada com a concepção da família e disponibilidade de tempo livre, Necessidade de isolamento e reunião para as diferentes actividades do estar-lazer. Leitura do espaço Locais onde se processa o estar-lazer individual e em grupo, Mobiliário atribuído a esta actividade. Actividades que coexistem com o estar-lazer (no espaço e no tempo). Disposições em planta mais propícias à diversificação do estar, salvaguardando a necessidade de reunião e isolamento (o espaço da sala, a utilização dos quartos para os lazeres individuais).

Receber Descrição dos factos Tipo de visitas de adultos e jovens. Frequência das visitas. Locais onde se recebe. Interpretação Separação e integração das visitas no dia-a-dia. A noção de prestígio relacionada com maior ou menor recato da zona de receber, A noção de semi-público e privado expressa nas fronteiras em casa entre zona de receber e zona íntima. Atitude da família perante as visitas dos amigos dos jovens. Leitura do espaço Mobiliário para receber - características especiais do mobiliário e exigências de arranjo. Actividades que coexistem no espaço destinado a receber.

Recreio das Crianças Descrição dos factos Locais onde se processam as brincadeiras das crianças e os que lhes são interditos. Variação Verão-Inverno, locais no interior e no exterior privado, semi-público e público. Interpretação O que é «vigiar crianças», como se processa e quem o faz nos diversos períodos do dia, Ambiente exigido para as crianças - comodidade, arranjo, segurança, tipo de assistência. Variações verificadas quando a mãe trabalha fora - soluções encontradas quanto à vigilância e locais. Problemas levantados pela presença das crianças - incómodo para vizinhos, problemas para as saídas do casal, incómodos para a família. Leitura do espaço Locais e mobiliário especialmente atribuído ao recreio das crianças, características dos locais escolhidos. Actividades que coexistem no espaço com esta função. Relações preferenciais entre os locais de maior permanência das crianças e os locais doutras activídades.

Estudo Descrição dos factos Quem estuda, onde e quando (períodos do dia) Interpretação Isolamento e apropriação do local de estudo. O estudo no exterior (razões que levam a estudar no exterior), Leitura do espaço Mobiliário correspondendo ao estudo de cada estudante. Actividades associadas no espaço ao estudo.

Actividade Profissional em Casa Descrição dos factos Quem, onde e quando se realiza actividade profissional em casa e qual é essa actividade. Número de horas/dia ou semana, Leitura do espaço Mobiliário respectivo. Actividades associadas no espaço à actividade profissional.

Tarefas Domésticas Descrição dos factos Quem, onde e quando se realizam as tarefas domésticas lavar, secar, engomar e costurar a roupa. Uso de auxiliares - pessoal, máquinas, utilização de serviços no exterior. Leitura do espaço Actividades associadas, no espaço e no tempo, às tarefas domésticas. Distribuição do mobiliário respectivo. Localização do estendal e problemas da secagem da roupa relacionados com a localização

Higiene Pessoal Geralmente sem interesse.

Permanência em Prolongamentos Exteriores do Fogo Descrição dos factos Utilização de: varanda, galeria, patamar da escada, jardim/quintal. Quem, quando, a fazer o quê. Interpretação

Relações entre utilizações e nível socioeconómico. Relações entre utilização e condições do prolongamento exterior. Reflexos na vizinhança. Leitura do espaço Aptidão dos espaços exteriores disponíveis. Consequências da sua utilização

Separação Espacial Exterior Público/Interior Privado

em interesse para considerar separadamente. A articulação dos espaços entender-se-á a partir das associações entre actividades e da noção de privacidade interna e externa das diferentes actividades, da necessidade de isolamento e comunicação entre as pessoas quando as realizam,

Exemplo das Hipóteses Estabelecidas para a Interpretação dos Dados

Características das Personagens A DONA DE CASA Segue-se um exemplo, relativo à dona da casa, da interpretação das características das personagens que utilizam a casa e que se considera influir no modo da sua utilização. O Trabalho Profissional Fora de casa • Menor permanência em casa, com consequências na forma de resolver as tarefas domésticas (simplificação, maior participação dos familiares, alterações no papel tradicional da dona de casa). • Menor ocupação com os filhos, com consequências na atitude perante eles (maior independência dos filhos e mais livre afirmação das personalidades). • Menos relações com o bairro e a vizinhança (se o trabalho for numa zona diferente de habitação). • Menor preocupação com o ambiente das ruas que circundam a casa, dado que como não está sempre em casa não necessita do movimento para quebrar o isolamento durante o dia. A casa tende a ser apenas dormitório para toda a família. Em casa • Maior permanência em casa. • Plena ocupação da casa durante todo o dia podendo o trabalho profissional ser um transtorno ao funcionamento normal do fogo se este não dispuser de espaços apropriados (exemplo de modista que necessitará de uma divisão para provar e outra para as costureiras). Esta situação é intermédia entre trabalhar fora e não trabalhar. É mais aparentada, no entanto, com esta última. Não trabalha

• Situação inversa da primeira considerada, A Idade e o Número de Filhos. Tem influência no peso das ocupações domésticas e na atitude como dona de casa e como mãe, O Auxílio às Tarefas Domésticas Existe auxiliar doméstica • Nível socioeconómico mais elevado. • Maior disponibilidade para tempos livres, para os filhos, para ocupação profissional ou outra. • Perturbações no funcionamento do fogo se este não está preparado para receber auxiliar doméstica e esta se encontra em permanência. A família participa nas tarefas domésticas • Concepção não tradicional da família e do papel da mulher em casa. • Preocupações de comodidade e utilidade sobrepondo-se às de prestígio. • Abertura à inovação. • Tendência para um modo de habitar integrado nas necessidades da vida actual. Tipo e qualidade dos tempos livres Significativo como indicador do nível cultural familiar com reflexo no arranjo e utilização da casa. Frequência do abastecimento Relacionado com o tipo de organização caseira. A menor frequência corresponde a maior capacidade de organização, tendência para a simplificação e a perspectivas mais modernas da vida caseira. Tempo de habitação no fogo inquirido Tem influência na habituação à casa e ao bairro com repercussões na capacidade crítica geral, na adaptação às vantagens e aos inconvenientes do fogo, na definição das relações da vizinhança.

Actividades no Fogo AS REFEIÇÕES CORRENTES A respeito desta actividade interessa sobretudo conhecer: • As razões que levam a realizá-la no fogo ou fora dele; • As razões da escolha no fogo do sitio onde se efectuam; • As actividades que se realizam no mesmo espaço que se destinou às refeições; • O prestígio/privacidade de que as refeições se revestem para se determinar o carácter semi-privado ou íntimo e as razões que determinam esse prestígio. As refeições em casa ou fora de casa • Maior número de membros da família com actividades no exterior - tendência para maior número de refeições

fora de casa (sobretudo ao almoço), • Ausência da dona de casa ao almoço - almoços no exterior da família toda. • Idade dos filhos - se os filhos são mais velhos (estudantes ou empregados) tendência para mais refeições no exterior. • Horário e localização relativa da casa/trabalho ou estudo - a maior distância, o menor tempo disponível para almoço, assim como a não conjugação de horários familiares, levarão maior número de refeições para fora de casa. • Existência de auxiliar doméstica - tendência para que as refeições se façam em casa. Refeições na cozinha ou na sala de estar ou jantar • Existência de auxiliar doméstica - determina as refeições na sala de estar ou jantar. • Número de pessoas à mesa - maior número de pessoas à mesa levará à utilização da sala (as cozinhas são geralmente acanhadas; verificar se se mantém esta hipótese no caso de cozinhas suficientemente amplas), • Presença do pai - maior utilização na sala (verificação feita no Inquérito-Piloto que realizámos e que necessitaria de ser confirmada e ventilada segundo os diferentes níveis sociais), • Tempo de vida urbana - a utilização da cozinha estaria ligada a carácter mais rural da família, ou, pelo contrário, a modo de vida nitidamente mais urbano ligado à participação da família na preparação das refeições, no pôr da mesa e lavar da loiça. A cozinha prestigiada passa a ser não o reino da criada ou da mulher mas acessível a toda a família em igualdade com a sala ou qualquer outra divisão. • Idade dos filhos - a existência de crianças pequenas poderá ser um factor de maior utilização da cozinha para as refeições. Prestígio/privacidade das refeições • Maior prestígio/privacidade - necessidade de poder isolar o local das refeições das outras actividades da casa. Localização das refeições de forma a terem acesso sem devassar o interior da casa, e sem serem devassadas pelo exterior. Nítida separação da cozinha. Maior cerimonial e alterações do cerimonial pela presença de visitas, Aspiração a «casa de jantar» só para refeições • Menor prestígio/privacidade - refeições menos separadas das outras actividades, podendo passar-se na sala de estar (situação intermédia) ou na cozinha. Localização que pode ser central, isto é, sem carácter semi-público mas pertencendo já à zona privada do fogo. Ausência de cerimonial, não havendo alterações pela presença de visitas.

Forma de Agrupamento dos Fogos

xemplo das hipóteses sobre a relação de forma de agrupamento com a sociabilidade versus privacidade,

O TIPO DE ACESSO A privacidade Nas soluções com salas e/ou quartos contíguos a locais de passagem pública ou semi-pública, a privacidade pode ser afectada por devassamento visual ou auditivo. Interessa considerar os seguintes tipos de agrupamentos - moradias e galerias com salas e/ou quartos sobre o acesso, com janelas baixas e altas. Procura-se saber se existe devassamento e o grau de incomodidade com que é sentido. A sociabilidade Interessa testar:

• Soluções com grande número de portas de entrada para os fogos sobre o mesmo acesso - moradias, galerias e patim largo (4 ou mais fogos abrindo para o mesmo patim). • Soluções com pequeno número de portas de entrada para os fogos sobre o acesso ou patim estreito (menos de 4 famílias), • Soluções com salas e/ou quartos abrindo para o acesso (moradias e galerias). Este estudo deve ser feito pondo em paralelo privacidade e sociabilidade, pois prevê-se que as categorias proporcionando maior sociabilidade e maiores relações de vizinhança sejam também as que defendem menos a privacidade do fogo,. Se a privacidade for mais importante que a sociabilidade, as soluções feitas para um maior contacto com o exterior podem não funcionar, pois os utentes, para defenderem a privacidade, podem fechar-se (inutilizando, por exemplo, as janelas sobre as galerias) neutralizando assim os contactos com prejuízo do interior do fogo e com aumento de tensões de atrito com os vizinhos. A sociabilidade estaria assim menos sujeita a tensões em soluções que, em princípio, menos a favorecem. A densidade e o equipamento Tem interesse verificar a atitude em relação à sociabilidade em meio denso e bem equipado e em meio disperso e sem equipamento, pois este factor pode ter influência na sociabilidade. As hipóteses a testar são as seguintes: • Grupos de fogos em meio disperso e sem equipamento - sentem-se como mais necessárias as relações de vizinhança próximas, para quebrar o isolamento, mesmo que essas relações estejam mais sujeitas a tensões. • Grupos de fogos em meio denso e bem equipado - a sensação de isolamento pode quebrar-se pelo simples assomar à janela tornando-se menos necessárias ou mais naturais as relações de vizinhança, A sociabilidade/privacidade dependerá dos níveis sociais, prevendo-se maior necessidade de sociabilidade e menor de privacidade nos níveis mais baixos.

A Solução Arquitectónica do Fogo A SALA A forma do espaço SALA As plantas disponíveis serão agrupadas por tipos de conformação espacial, correspondendo aos seguintes esquemas de sala: dois espaços

espaço único

AB B

A disposição do mobiliário e o modo de utilização deverão poder dar indicações sobre os esquemas espaciais mais adaptáveis às funções que se processam na sala, mais propícios à formação de núcleos de funções, à concretização das aspirações de prestígio e/ou conforto, Interessa investigar a capacidade do espaço para consentir ou sugerir determinados arranjos de mobiliário para alguns aspectos fundamentais da vida do fogo como, por exemplo, a reunião familiar:

• Família toda junta e na mesma situação (por exemplo a ver televisão ou sentada à roda duma mesa). • Família agrupada por idades separando-se em núcleos diferenciados no mesmo espaço ou em espaços diferentes. • Família agrupada por núcleos segundo o tipo de ocupações de lazer-serão. • Dispersão familiar pela casa, ou pela casa e exterior.

As Relações entre Preparação, Refeições, Estar e Receber

stas relações serão estabelecidas através da forma como se agrupam no espaço.

TIPO DE AGREGAÇÃO

ACTIVIDADES POR ESPAÇOS

Preparação

Refeições

Estar

Preparação

Refeições

Estar Receber

Preparação

Refeições Estar

Receber

Preparação Refeições

Estar

Receber

Preparação Refeições

Receber

Estar

Receber

Este estudo servirá para a definição das relações entre estas funções e como se organizam no espaço, dentro da gama de soluções espaciais disponível no inquérito, e verificar as formas mais flexíveis e/ou mais aptas para as satisfazerem,

BIBLIOGRAFIA R, PINTO e M, GRAWITZ - Methodes des Sciences Sociales. Dalloz, 1967. R. MUCCIELLI - Le Ouestíonnaire dans l’enquête Psycho-Socíaíe. Editions Sociales Françaises. 1967. R. BOUDON e P. LAZARSFELD - Le Vocabulaire des Sciences Sociales. Mouton & C.º, 1965. R, BOUDON -Les Métlhodes en Sociologie. P.U.F” 1969, H. W. ELDREDGE - Urbanization and Modernization in Taming Megalopolís. Anchor Books, 1967, J. REMY - Famille et Groupes de Relations Personelles en Milieu Urbain, in «Le Phénomène Urbain». Editions Aubier Montaigne, 1965. R, LEDRUT - Sociologie Urbaine. P.U.F., 1968, R. N. MORRIS - Urban Sociology. George AlIen and Unwin, 1968. H. P. BAHRDT - Lineamenti di Sociologia. della Città. Marsilio Editori, 1966. J. B. LANSING, R. W. MARANS - Evaluatíon o{ Neighborhood Quality, in «Journal of the American Institute of Planners», May, 1969. M. WEBBER - The Urban Place and lhe non Place Urban Realm, in «Explorations into Urban Structures». University of Pensylvania Press, 1964. M. WEBBER - Cultllre, Territoriality and Elastic Mile, in «Tamming Megalopolis». Anchor Books, 1967. H. LEFEBVRE - Le Droit à la Ville. Anthropos, 1968, W, R, EWALD. Jr. (editor) - Environment for Man - The Next Fifty Years. Indiana University Press, 1967. P. CHOMBART DE LAUWE - Famille et Habitation, P.U.F., 1959. RETEL. RENDU, CORNUAU, IMBERT - Logement et Vie Familiale. C.E,G,S,. 1965. H, LEFEBVRE, HAUMONT - L’Habitat Pavíllonnaíre, CRU,. 1966, P. BOUDON - Pessac de Le Corbusier. Dunod 1969, SYMPOSÍUM C.LB. - The Social Environmentt and its Effects on the Design, 1968. N. PORTAS, A. SEDAS NUNES - lnquérito Piloto sobre Necessidades Familiares de Habitação, LNEC 1963.