1965
Arte, Religiosidade, Espaço-Tempo
COPYRIGHT ASSOCIAÇÃO CULTURAL «O MUNDO DE LYGIA CLARK»
1965
Arte, Religiosidade, Espaço-Tempo
1965 - Arte, Religiosidade, Espaço-Tempo
Tenho refletido sobre o paralelo que existe entre a evolução religiosa e a artística. Desde a arte antiga até a atual, que solicita a participação do espectador, a distância psíquica entre o sujeito e o objeto não cessou de diminuir, ao ponto de se fundirem hoje um no outro. Assim o “Caminhando”. A religião, por sua vez, conheceu uma mesma fusão progressiva. Passamos do Deus-Pai, todo-poderoso, ao Cristo, que tem já uma dimensão humana. O mesmo aconteceu na religião grega, em que o Olimpo se aproxima pouco a pouco do homem, até tomar a sua aparência física. Com Nietzsche, todas as projeções religiosas do homem para o exterior são rejeitadas, o sentimento religioso se introverte: o homem é divino. O mesmo ocorre na arte: a proposição, antes percebida pelo espectador como exterior a ele, encerrada em um objeto estranho, é agora vivida como parte dele mesmo, como fusão. Todo homem é criador. A arte não é uma mistificação burguesa. A maneira de comunicar a proposição é que mudou. Agora é você quem dá expressão ao meu pensamento, para daí tirar a experiência vital que desejar. Essa experiência se vive no instante. Tudo se passa como se hoje o homem pudesse captar um fragmento de tempo suspenso, como se toda uma eternidade habitasse o ato da participação. Esse sentimento da totalidade
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Arte, Religiosidade, Espaço-Tempo
apanhado no ato precisa ser recebido com muita alegria, para aprender a viver na base do precário. É preciso absorver esse sentido do precário para descobrir na imanência do ato o sentido da existência.
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