103 Uma semana very British

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Agosto de 2014 Número 103

Uma semana very British

@ M. Margarida Pereira-Müller infobus Tel.: 00351-214351054 Email: guidapereiramuller@yahoo.com

Uma rua. Casas de um lado e do outro – todas elas cenenárias. A vida em Marshfield acontece na High Street. A rua onde estão as lojas: um talho, uma mercearia, uma casa de chá, os correios, dois bares. Mais lojas não há. 1900 almas moram nesta pequena vila a 13 quilómetros de Bath e a 24 de

Bristol. Os seus habitantes ainda vivem essencialmente da agricultura. Mas hoje em dia está a tornar-se um local preferido das classes altas de Bath que aí compram (e aumentam) casas, graças à proximidade

à cidade, mantendo no entanto o verdadeiro espírito de country life. A maioria das casas é dos séculos XVII-XVIII – um outro atrativo para a classe média das cidades circundantes. Nos séculos passados, chegou a haver 26 bares em Marshfield! A vida fica na rota principal para Londres e aqui se parava para descansar.


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A origem do nome da vila vem da antga palavra inglesa march que significa “fronteira, limite”. Ou seja, a tradução literal da toponímia seria “Campo da Fronteira”. Em 1234, foi dado foral a Marshfield; entende-se assim o formato da vila: na rua principal as casas parecem esticadas para trás. Junto à rua tinham a loja e na parte de trás a horta donde vinham os produtos para vender.

A vila manteve o seu ambiente campesino o que faz dela uma pérola para um pas-

seio ao passado. As suas feiras são tipicamente britânicas – o local ideal para se conhecer o British way of life.

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As grutas de Nottingham – uma cidade sob a cidade se tivessem posses. Bastava ter uma pá, um ferro ou um martelo e rapidamente construía uma “casa” para si e para a sua família.

Toda a cidade de Nottingham está construída sobre várias camadas de casas, formando um conjunto de centenas de grutas, um verdadeiro labirinto feito por gerações passadas onde se vivia, trabalhava, se divertia e até se morria durante mais de 1000 anos. Nottingham está construída sobre arenito macio, uma pedra fácil de trabalhar com instrumentos rudimentares e que permite a criação de grutas onde as pessoas se podiam abrigar do frio e da chuva e de animais ferozes – o local ideal para se ficar se não

Atualmente, a cidade de Nottingham já catalogou mais de 500 grutas na cidade, incluindo 100 que só foram descobertas nos últimos quatro anos. Antigamente, Nottingham era conhecida por Tigguo Cobauc que significa “local de grutas”, tendo sido assim referida pelo monge galês Asser, mais tarde bispo de Sherborne, na sua obra A vida do rei Alfredo I, escrita em 893 d.C. quando estava ao serviço do rei. A parte das grutas que hoje se pode visitar é o que de mais antigo existe na cidade. Aqui foram encontradas peças de barro que datam do século XIII. Estas grutas foram habitadas até 1845 quando foi publicada

uma lei, a chamada “St. Mary's Inclosure Act, que proibiu o aluguer de caves e grutas para habitação. Nos finais dos anos 60 do século XX, quando se iniciou a construção do Centro Comercial Broadmarsh ainda se ponderou encher as grutas de cimento. Felizmente, foi criado um movimento cívico para a proteção das grutas que conseguiu a sua classificação como Monumento

Antigamente, Nottingham era conhecida por Tigguo Cobauc que significa “local de grutas”,


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Histórico; as grutas foram então limpas por voluntários e abertas ao público em 1978.

Durante a peste negra sobreviveram os curtidores pois nem os ratos se atreviam a entrar

Das partes mais interessantes das grutas são os curtumes que ali estiveram em funcionamento de aproximadamente 1500 a 1640. É o único curtume subterrâneo conhecido no Reino Unido. Ainda se podem ver os tanques circulares na Gruta da Coluna e uns tanques retangulares numa outra gruta. Como os tanques são pequenos, pensa-se que ali só

eram curtidas peles de caprinos e ovinos. Havia uma abertura que dava para o rio Leen onde provavelmente as peles seriam lavadas. O cheiro nas grutas deveria ser insuportável pois as peles eram hidratadas com fezes e urina de animais durante três meses, a que se seguia um estágio de 16 meses em ácidos à base de casca de carvalho e água – não é de admirar assim que os curtidores tivessem uma esperança de vida muito curta, de somente 27 anos. No entanto, o cheiro horrível dos curtumes não tinha somente desvantagens: quando a peste negra grassou na região matando milhares de pessoas, os curtidores sobreviviam pois nem os ratos se atreviam a entrar naquelas grutas. O bairro do Monte Drury era, como é fácil de imaginar, uma das piores zonas da cidade, sendo até um dos piores bairros de lata da Grã-Bretanha do século XIX. Famílias enormes viviam, dormiam e comiam em “casas” de uma única

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“assoalhada” nas grutas, completamente sobrepovoadas e sem saneamento algum e onde grassavam doenças como a cólera, tuberculose e varicela. A única medida possível era fecharem-se as grutas. No entanto, durante a 2ª Grande Guerra, 86 grutas foram reabertas para servir de bunker. Como o arenito macio é muito forte, as grutas eram o lugar mais seguro para proteger os habitantes dos raids aéreos alemães, especialmente durante o grande bombardeamento de 8 de maio de 1941, durante o qual a Força Aérea Alemã largou sobre a cidade 400 bombas incendiárias. Hoje em dia, as grutas servem a paz, podendo ser visitadas por turistas e escolas.


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Beijando a navette—A fiação Masson

O barulho era ensurdecedor. Kevin, um antigo operário da fiação e agora guia do museu, tentava explicar. “Agora só pus seis máquinas a funcionar. Mas antigamente, quando esta fiação estava em pleno funcionamento eram 2000 máquinas, todas perto umas das outras, a operar ao mesmo tempo!” É claro que todos os operários acabavam por ensurdecer ainda muito novos. Aliás, eram muitos os perigos a que estavam expostos. Os pulmões enchiam-se de cotão, não só do

que andava no ar, mas também pelo trabalho em si, especialmente os operadores das máquinas. Para passar o fio pelo buraquinho da navette, os operários tinham de o sugar, aspirando-o com a boca. Cada operário operava seis máquinas. A linha de cada navette tinha de ser mudada em poucos minutos. Tipicamente, uma navette fazia 220 voltas por minuto – e os operários eram pagos à peça. Os fiadores eram pagos à peça, ou seja, quantas mais peças produzissem, mais ganhavam. Não podiam parar durante as 10 horas que estavam a trabalhar na fiação. A fiação Masson foi construída nas margens do rio Derwent em 1783 por Sir Richard Arkwright, perta da casa que

construiu para sua habitação. A proximidade do rio era essencial para uma fiação. Após a invenção da navette para fiar o algodão em 1733, a procura de algodão fiado subiu em flecha em Inglaterra. As máquinas usadas até então eram pouco eficientes. Richard Arkwright juntou-se a John Kay para a construção de uma máquina que produzia uma linha muito mais forte e era capaz de tecer 128 fios de cada vez – além de não necessitar de um trabalhador especializado para a operar. Em 1769, Richard Arkwright registou a patente para uma máquina que aproveitava a energia da água as suas máquinas de fiar – uma grande ajuda para o

As 2000 máquinas a trabalhar ao mesmo tempo faziam um barulho ensurdecedor


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funcionamento da nova máquina que era impossível manobrar manualmente. Com mais trabalho,

foi também necessário um novo edifício. Foi assim que foi construída a nova fiação, que ainda se pode visitar hoje. Este edifício de tijolo de cinco andares tem 43,8 metros de comprimentos e 8,4 metros de largura. Toda a fiação

funcionava com a energia produzida por uma única roda de água. Em 1801, foram instaladas duas rodas que foram substituídas já no século XX por turbinas. Em 1995, foram instalados geradores hidroelétricos que produzem 240 kW de energia. Como nas redondezas não havia população suficiente para fornecer trabalhadores para a fábrica contratou pessoal de outras regiões para quem mandou construir casas para albergar as suas famílias. Em 1897, a fiação Masson tornou-se parte da Empresa Inglesa de Fios de Algodão (English Sewing Cotton Company). Deixou de funcionar no final dos 90. Após grandes obras de restauro, a

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fiação voltou a abrir portas como um museu http:// www.massonmills.co. uk/ ).


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