Dezembro de 2015 Número 118
Amarante, a cidade de São Gonçalo A um pulo do Porto, a somente 40 minutos, está Amarante, a cidade conhecida pelo seu santo, pela sua ponte sobre o rio Tâmega, por Teixeira de Pascoes e Amadeo de SouzaCardoso e… pelas suas especialidades de doçaria conventual. Apesar de ser habitada desde a Idade da Pedra, Amarante só começou a ser conhecida depois de o eclesiástico português Gonçalo de Amarante (11871259) ter fixado residência na localidade após o seu regresso da peregrinação de 14 anos a Roma e à Terra Santa. Ergueu uma pequena ermida sob a Texto: Margarida Alves Pereira Fotos: Hans-Jürgen Müller infobus, Comunicação e Serviços, Lda Tel.: +351-214351054 Email: guidapereiramuller@yahoo.com
invocação de Nossa Senhora da Assunção e ali se recolheu como eremita, consagrando o tempo à
oração e à penitên-
vos junto dos
cia. Durante o seu
moradores mais
ministério Gonçalo
abastados – a pon-
operou muitas con-
te que vemos
versões, conduzindo
atualmente é
o povo à prática de
porém de 1782,
uma autêntica vida
pois a velha ponte
cristã, sem esquecer
cedera duas déca-
de os promover
das antes devido a
socialmente em
uma cheia exce-
muitos aspetos. A
cional do rio. O
ele se deve a cons-
cruzeiro que aí se
trução de uma pon-
encontrava,
te em granito sobre
conhecido por
o rio Tâmega, angariando pessoalmente donati-
Página 2
C a d e r n o s
d e
V i a g e m
Senhor da
monumento de Ama-
Valor, Lealdade e
Boa Passa-
rante. As obras ini-
Mérito que reflete no
gem, conse-
ciaram-se em 1543,
seu brasão munici-
guiu ser reti-
tendo-se prolongado
pal. Para fazer as
rado uma
até ao século XVIII,
barricadas para a
hora antes da
com intervenções
defesa da ponte,
catástrofe,
no século XX.
foram usados os
tendo sido
A ponte de Amarante
móveis da casa
colocado
foi palco de umas
senhorial que estava
mais tarde na
das grandes batalhas
construída mesmo à
janela de um
durante as Segundas
boca da ponte, a
recanto
Invasões Francesas,
Casa da Calçada.
da Igreja de
tendo sido valorosa-
São Gonçalo,
mente defendida
A Casa da Calçada
ficando em
durante 14 dias em
Sobranceira ao rio
seu lugar a Mãe de
1809 pelo Marechal
Tâmega e com entra-
Deus, a Senhora da
General Wellesley e
da junto à boca do
Ponte.
pelo General Silveira
aponte, ergue-se a
Após a morte, Gonça-
a quem foi dado o
Casa da Calçada,
lo de Amarante foi
título de Conde de
construída no século
Ponte de S. Gonçalo
sepultado
XVI para ser um
na ermida,
dos principais
continuan-
palácios do Conde
do a efe-
do Redondo que
tuar-se
em 1473 recebeu
muitos
por doação o Con-
milagres,
celho de Gouveia
atribuídos
de Riba Tâmega,
à sua
sendo-lhe atribuí-
intercessão. No
Entrada da Casa da Calçada
século XVI,
do foral em 1513 pelo Rei D. Manuel.
o rei João III e a sua
Amarante – aliás, a
Durante as invasões
esposa D. Catarina
própria vila (que pas-
francesas serviu de
de Áustria manda-
sou a cidade em
quartel-general dos
ram erguer um con-
1985) foi agraciada
Franceses durante 4
vento dominicano
com o colar
– 5 dias; após a reti-
com igreja que ainda
da Ordem Militar da
rada dos franceses
hoje em dia é o maior
Torre e Espada, do
albergou os coman-
Página 3
C a d e r n o s
d e
V i a g e m
recuperada pelo Dr.
regressa à Casa da
António do Lago Cer-
Calçada, onde inicia
queira, que lhe man-
a produção dos
tendo a traça barroca
Vinhos e Aguarden-
e lhe associa elemen-
tes das Caves da Cal-
tos
çada, que atingem
do neoclassicismo do
grande sucesso sen-
início do século XX.
do inclusivamente
Republicano convic-
exportados para
to, António do Lago
o Brasil e para as
Cerqueira foi o pri-
Colónias Ultramari-
meiro Presidente da
nas Portuguesas.
Câmara de Amaran-
Nesta época a Casa
te, após
da Calçada serve de
a implantação da
ponto de encontro
República Portugue-
para políticos e inte-
sa em 1910. Amigo
lectuais.
de Afonso Cos-
Após o falecimento
dos aliados portu-
ta, Bernardino
de António do Lago
gueses e ingleses. No
Macha-
entanto, ao terceiro
do e António
dia de batalha, o edi-
Maria da Silva, foi
fício foi destruído
deputado e Minis-
pelo fogo devido aos
tro do Trabalho e
bombardeamentos
dos Negócios
das tropas napoleó-
Estrangeiros. Por
nicas lideradas pelo
razões políticas,
Marechal Soult.
abando-
Nos anos 20 do sécu-
na Portugal e
lo XIX, a Casa da
exila-se em
Calçada foi adquirida
Paris onde entra
pela família Lago
em contacto com
Cerqueira, que reali-
novas técnicas de
zou as obras de recu-
plantação de
peração do edifício
vinha no Curso de
principal e dos ane-
Viticultura e Vini-
xos. A casa sofre um
ficação que frequenta
Cerqueira em 1945, a
grande incêndio em
no Instituto Nacional
Casa da Calçada fica
1916, tendo sido
de Agronomia.
desocupada. É com-
Amnistiado em 1932,
prada por António
Casa da Calçada a noite
A sala museu pertence à casa original
Página 4
C a d e r n o s
d e
V i a g e m
dos num estilo
estrela Michelin des-
romântico, transmi-
de 2005, só com uma
tindo através do
interrupção de um
mobiliário, dos teci-
ano. Aliás, são mui-
dos e dos detalhes
tos os aspirantes a
decorativos um
chefe que querem vir
ambiente de casa de
trabalhar no Largo
família. Os quartos
do Paço para aí faze-
da tipologia de luxo
rem a sua formação.
superior e as suites
A garrafeira, orienta-
executivas têm vista
da pelo sommelier
Manuel Mota, que
privilegiada para o
Adácio Ribeiro, tem
sonha com um hotel
rio e para o convento.
uma grande varieda-
que nunca concreti-
No entanto, não se
de de escolha num
za. Os filhos avan-
escolhe a Casa da
ambiente moderno
çam com o sonho do
Calçada só para per-
com temperatura
pai, a recuperação da
noitar. Aqui a Gas-
constante a rondar
Casa da Calçada (e a
tronomia escreve-se
os 17º C.
sua transformação
letra maiúscula: a
Amarante e a Casa
em estalagem), dos
criatividade dos seus
da Calçada fazem
jardins e da respetiva
diversos chefes e a
com que uma visita à
vinha. As obras são
qualidade da sua
cidade fique para
iniciadas nos anos
cozinha, baseada na
sempre marcada na
90. Paralelamente
cozinha regional por-
memória de quem
retomam a produção
tuguesa e nos sabo-
por lá passa.
de vinhos verdes de
res mediterrâni-
alta qualidade. Em
cos, fazem com
2001, a Casa da Cal-
que o Restau-
çada abre com 30
rante Largo do
quartos e, em
Paço, atualmen-
Novembro de 2003,
te a cozinha
passa a integrar a
dirigido pelo
conceituada cadeia
chefe André Sil-
de hotéis Relais &
va, seja uma
Châteaux.
das “catedrais”
Ao entrarmos na
gastronómicas
Casa da Calçada sen-
de Portugal e
timo-nos em casa. Os
seja contempla-
quartos estão decora-
do com uma
Secretária do quarto
Garrafeira