Março de 2017 Número 126
Botsuana Botsuana— —o paraíso dos elefantes
Botsuana. Um país mais pacífico e sossegado de África. Possivelmente a maior história de sucesso de África. Independente desde 1966, o Botsuana tem tido governos estáveis e uma balança de pagamentos saudável desde então. A descoberta fortuita de uma grande mina de diamantes, uma das mais rentáveis do mundo, logo após a independência, a criação de gado bovino e um turismo sustentável têm ajudado ao desenvolvimento do país. Botsuana - Os preparativos
@ M. Margarida Pereira-Müller Texto: M. Margarida Alves Pereira Fotos: MPM e HJM infobus, Comunicação e Serviços, Lda Tel.: 00351-214351054 Email: guidapereiramuller@gmail.com
Uma viagem nunca começa no dia da partida. Começa normalmente muitos meses antes. Não se trata somente da marcação dos voos mas de todo um conjunto de preparativos, essenciais para que a mesma corra o mais suavemente possível. Especialmente uma viagem de
aventura carece de uma preparação meticulosa para não sermos surpreendidos por imprevistos que podem ser evitados – é que uma viagem deste género já tem por si muitas situações inesperadas. O importante é fruir da situação – e tal só é possível se for bem preparada. Esta preparação é
muito boa pois a viagem não se resume somente aos dias que estamos no país. Passámos muitas horas a recolher o maior número de informações sobre o país, o custo de vida, o estado das estradas/ picadas, dos parques de campismo e até sobre os animais que eventualmente
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iremos encontrar. Preparámos até um pequeno cartão com o desenho das marcas das patas dos animais para assim podermos saber que animais estiveram junto ao nosso jipe durante a noite. Num outro cartão levámos a descrição e a imagem das diferentes espécies de antílopes para assim sabermos que animais vimos no caminho. · Data da viagem: de 24 de fevereiro a 5 de março Porquê estas datas ? Quisemos aproveitar a semana do carnaval na qual pouparíamos um dia de férias por causa do “feriado” de 3ª feira de Carnaval. Além disso, não gostamos de viajar na estação alta (férias grandes da África do Sul em julho e agosto), apesar de a
época das chuvas ser normalmente aconselhada a evitar. Ao viajar em fevereiro, ou seja, na época das chuvas, temos de contar que algumas estradas /picadas se encontrem impraticáveis ou perigosas, o nível das águas dos rios sobre bastante. Já estamos mentalmente preparados para picadas com muita lama – e no norte do Botswana há uma lama conhecida por “black cotton”, extremamente escorregadia. Mas pelo que temos visto na webcamera de Kasane da ONG Elephants without Borders os animais continuam a ir beber aos charcos, apesar de haver água em todo o lado. · Vacinas Além da prevenção
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da malária (há mesmo muita malária no Botswana, em especial no norte) não é necessária vacinação. · Roupa Roupa clara e de manga comprida – a melhor prevenção contra os mosquitos. Além disso, deve levar-se repelente de mosquitos. Na época seca, as noites podem ser frias. · Orçamento de viagem Tentando limitar o afluxo de turistas, o governo do Botswana optou por uma política de preços algo dissuasiva. Se a viagem de avião até Joanesburgo foi bastante barata (€ 275 por um bilhete de ida e volta na TAAG a partir de Lisboa !!!!!), já o voo de Joanesburgo até Maun, no norte do Botswana, foi bas-
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tante mais caro: por um voo na Air Botswana de menos de 2 horas de duração pagámos à volta de € 350! O aluguer dos jipes com tendas no tejadilho (a Southern Off Road foi quem nos fez os melhores preços), totalmente equipados, ronda os € 120 (época baixa) - € 300 (época alta) por dia, a que se junta o preço do combustível (aprox. 0,80/0,90 € por litro). Para se entrar num parque nacional, há que pagar uma taxa de aproximadamente € 15 por pessoa e por dia, quer se fique num lodge ou num parque de campismo, além do preço para a pernoita, que é muito elevado no meio dos parques nacionais. Por exemplo, por uma noite no Savuti Campo
pagámos € 50 por pessoa e por noite – mesmo tendo ficado a dormir nas nossas tendas! No enanto, a maioria dos parques de campismo tem preços “normais” à volta dos P 100 (mais ou menos € 8.50). Há passeios que exigem um guia, por exemplo, se quisermos fazer um safari a pé, ou um passeio de mokoro (barco tradicional), sobrevoo do delta do Okavango, que vão fazer subir os orçamentos de viagem. Além de vermos animais há também de comer e acima de tudo que beber. · Veiculo 4x4, vulgo, jipe Alugar um veículo 4x4 no Botswana não é nada difícil pois existe uma grande oferta, sendo a maior parte de sul-africanos. Há
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que pedir diversos orçamentos, compará-los bem (ter atenção especial ao seguro). Para evitar problemas, escolhemos um seguro contra tudo. É muito útil ler os comentários ao jipes nos fóruns respetivos para sabermos avaliar as ofertas. Depois de estudarmos todas as opções (Land Rover Defender, Toyota Hilux, Ford ranger e Land Cruiser) decidimo-nos por um Toyota Hilux da Southern off road, uma empresa baseada na África do Sul mas com escritórios em Maun e em Kasane. Segundo lemos, as empresas sulafricanas têm veículos mais bem equipados, mais modernos e com melhor manutenção. Os nossos jipes vêm com equipa-
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mento de camping e equipamento de cozinha. · Guias de viagem Connosco vamos levar dois guias : Bradt e Lonely Planet. · Roupa Levamos muito pouca roupa: 1 calções, 1 calça de algodão para a noite e 1 túnica de mangas compridas de algodão fino (para evitar mordidelas de mosquito), 8 t-shirts, 8 cuequinhas, 1 biquíni, 1 sandálias e 1 sandálias para a água (importante na época das chuvas, porque se tem de observar os cursos de água que se pretendem atravessar a vau). ·Cartografia Os melhores mapas da região são os daTracks4Africa (com a indicação da quilometragem
entre dois pontos, mesmo em sítios remotos) e do Reise Know How. Os da Shell também são bons.
Botsuana - dia 0 – Partida O dia da partida. Check-in feito. Mala feita. Levamos pouca coisa pois o jipe é tipo barco com pouco espaço para arrumar a nossa tralha. A arrumação dos passageiros no avião foi difícil O avião vai cheio que nem um ovo. Será por causa das promoções - nós pagámos uma pechincha de €275 de Lisboa-Joanesburgo-
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Lisboa? Ou será que as pessoas aproveitam para passar o Carnaval em Angola com a família? Na rota de Lisboa, a única europeia, a TAAG opera Boeing 777-300 da última geração. São aviões simpáticos, espaçosos - mesmo em Económica - e bem iluminados. Descolámos com meia hora de atraso mas o vento estava de feição porque chegámos 10 minutos mais cedo. Ainda bem que o voo é noturno pois a oferta de entretenimento não é muito atual. A ceia servida foi
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boa: entrada: salmão fumado, prato: medalhões de pescada com esparregado e batatas e bolo da floresta negra para sobremesa. O vinho era corrente, de Cantanhede. Podia ser melhor mas bebiase.
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cortina!" Esta é no entanto uma das leis não-escritas da aviação. Em lado nenhum vem avisado de que é proibido passar as cortinas.
ceia o pequenoalmoço foi muito fraco. Um pão seco e um minicroissant de massa de pão-de-leite, uma manteiga e um doce.
Um ponto fraco na
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Um voo foi bastante sossegado. Houve porém pequenos incidentes. Um passageiro de Económica foi à casa de banho da Executiva pois era a que estava mais perto do seu assento. Entrou e trancou a porta. Um comissário viu, foi à casa de banho e abriu-a de fora, expondo o passageiro já sentado no trono! A reação do passageiro foi rápida: levantou-se e voltou a trancar a porta. Quando saiu o comissário advertiu-o: "O senhor não pode passar para este lado da
A baía de Luanda vista do ar TAAG é a manutenção das casas de banho. Não têm sabonete, nem papel protetor da sanita. Algumas sé têm lenços de papel para limparmos as mãos. E estão sempre sujas com muitos papéis no chão. A tripulação não deve estar instruída para cuidar das casas de banho. Ao contrário da
O transbordo em Luanda foi muito suave e rápido não tendo dado sequer tempo para nos sentarmos. Uma passageira, também em trânsito, queria fumar. Perguntou pela sala de fumo. Qual não foi o seu espanto quando lhe pediram 1500 Kwanzas (ca. €8,90)!!!!! Parece que os angola-
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nos fazem uma boa prevenção tabágica: para se fumar é preciso pagar. O voo para Joanesburgo foi igualmente suave. No entanto nesta rota a TAAG não opera os seus aviões mais modernos. Viajámos num Boeing 777-200 já com alguns anos. Assim que levantámos voo, caí num sono profundo, só tendo acordado quando começou o serviço de bordo. O pequeno-almoço foi desta vez bastante composto com ovos mexidos.
Botsuana - dia 1 - Joanesburgo Como o nosso voo é amanhã cedo resolvemos reservar um hotel perto do aeroporto. Em Kempten Park há uma série de alojamentos - de quartos em cama-
Vista exterior do nosso quarto no Aero Lodge ratas, a Airbnb, passando por hotéis e "lodges" que vivem da proximidade do aeroporto O R Tambo. Escolhemos o Aero Lodge por nos parecer simpático e oferecer transporte do e para o aeroporto. Está a 10 minutos do aeroporto, ou seja, pedem-nos que depois de levantarmos as malas lhes telefonemos para eles nos irem buscar. À saída da zona da recolha de bagagens parámos para provar - e comprar - a bebida sulafricana: Amarula.
Tínhamos pensado comprar uma garrafa amanhã antes da partida para o Botsuana mas felizmente a vendedora chamou-nos a atenção para a legislação botsuaniana que não permite a entrada no país de bebidas (e outros produtos) comprados sem impostos nas lojas de duty-free. Os quartos estão decorados com móveis antigos. Nas casas de banho os lavatórios estão assentes em mesas de toilette antigas. Os roupeiros são bonitos roupeiros
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Vista interior do nosso quarto no Aero Lodge antigos de madeiras africanas. A sala de jantar tem uma mesa com chá e café disponíveis gratuitamente durante 24 horas e um "honesty bar" de onde qualquer cliente pode tirar o que lhe apetecer tendo de anotar num caderno que está sobre o balcão.
A cozinheira a grelhar as boerworst
Jantámos no "lodge". A sala
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Piscina e jardim do Aero Lodge de jantar tem nas paredes quadros com figuras de mulheres africanas com os seus trajes coloridos. Comemos uma salsicha típica sulafricana feita com carne de vaca e um fantástico medalhão de vaca grelhado, mais tenro do que manteiga no verão. A carne veio acompanhada por legumes salteados, dos quais a abóbora era a rainha. O segredo: a cozinheira junta um pouco de açúcar mascavado ao salteado. Sem dúvida que irei experimentar
quando regressar a casa. Acompanhámos a refeição com uma garrafa de vinho Fat Bastard, monocasta, shyraz, muito bom. O nosso primeiro dia de férias foi delicioso e sossegado.
Botsuana - dia 2 – Joanesburgo – Maun Saída tranquila de Joanesburgo. O "lodge" oferece um bom pequenoalmoço com fruta, diversos tipos de
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mas com grande simpatia. O avião que nos levou a Maun era um avião ATR 42/72 de 48 lugares e que ia com metade da ocupação.
Avião da Air Botswana cereais, torradas e ovos cozinhados de diferentes maneiras. No aeroporto todos estavam sem stress
E apesar de ser um voo de aproximadamente 2 horas é servido um pequeno Snack com uma grande sandes, uma barreira de müsli e vinho merlot. À chegada a Maun estava à nossa espera o David da empresa de aluguer Britz que nos levou ao depósito onde levantámos jipes.
Um dos muitos braços do delta do Okavango visto do ar
Porém antes de irmos aos jipes tivemos que parar no supermercado para nos abastecermos. É que a partir de amanhã vamos estar num Parque Natural onde não há nada. E
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como hoje é domingo as lojas fecham às 15h. Seguimos então para o depósito dos jipes. Tratámos da papelada, recebemos as explicações sobre o funcionamento e verificámos se tudo estava bem. Segundo Jack, da empresa de alugueres, a picada para Savuti, para onde queremos ir amanhã, está inundada. Mas a informação que temos do campo é que não está impraticável. Que fazer? 4 do grupo é da opinião que se deve manter o plano. Para os outros 2 será melhor fazer o caminho ao contrário pois talvez as picadas sequem. Ganha a maioria. Mantemos o plano. No entanto, amanhã de manhã vamos perguntar aos "rangers" e repensamos a deci-
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Os nossos jipes no Maun Rest Camp
são. Às 16h entrámos nos carros. A aventura podia começar. E começou logo. O GPS que alugámos não deteta os satélites, ou seja, de pouco serve. Conseguimos porém chegar ao Maun Rest Camp. Estamos praticamente sozinhos mesmo junto ao rio (esqueci-me de perguntar se há crocodilos ...) Abrimos as tendas que estão no tejadilho enquanto outros gre-
lhavam a carne para o jantar. O campo é idílico com imensos ruídos de insetos e pássaros. Que bem se está no campo! Depois de um belo duche de água quente, deitámonos nas nossas tendas nos tejadilhos dos jipes. Foi difícil adormecer com tantos ruídos na escuridão
africana. A atividade noturna é grande. Morcegos voam a uma altitude relativamente baixa. Borboletas com uma luzinha na ponta (será na cabeça?) esvoaçam à nossa volta. Rãs coaxam no rio. Grilos e cigarras cantam por todo o lado. Felizmente o cão que nos ladrou à chegada (será que nos estava as dar as boas vindas?) desapareceu. Adormecemos embalados na música da selva.
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Botsuana - dia 3 - Maun – Savuti De noite choveu copiosamente. De quando em quando acordava com a chuva a bater na tenda, nas árvores, na terra. Felizmente de manhã cedo o tempo tinha melhorado bastante, até com pedaços azuis de céu. Não foi agradável dobrar as tendas todas molhadas mas havia que o fazer. Voltámos a Maun para esclarecer uma série de pontos que estavam pendentes. No Departamento de Parques Naturais tínhamos de nos informar sobre o estado da picada até Savuti. No entanto aí só encontrámos pessoas que lembravam os funcionários públicos dos
anos 1950. Atrás de uns guichets com grades estavam uma senhora jovem, um homem e outra senhora mais idosa. À medida que eu ia fazendo as perguntas, a senhora jovem olhava para o lado e perguntava ao colega mais velho que lhe dava a resposta que ela depois me repetia. À pergunta: Como estão as picadas? respondia: They are fine. Telefonámos para a empresa do campo no Savuti e a resposta foi idêntica: Sim, tivemos de fechar o campo de Moreti por causa das chuvas mas
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Savuti não tem problemas. Se todos - à exceção do senhor da empresa de alugueres de jipes - nos diziam que não havia problemas, decidimos não alterar o plano e seguir para Savuti. Pagámos a taxa de entrada no Parque Nacional de Chobe e fomos tratar resolver uma última questão: o GPS que alugámos não estava a funcionar bem, não encontrava os satélites. Pior ainda: não encontrava Savuti. A solução foi simples: devolvemos o GPS e teledescarregámos o mapa Google
Burros na estrada
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para os nossos telemóveis. Às 10h25 saímos de Maun. Os primeiros 20-30 km fazem -se lindamente por uma estrada nacional. Não passámos por praticamente nenhuma localidade. Vimos somente muitos burros sim, esse animal que dizem que está em extinção em Portugal -, cabras, vacas e galinhas. De repente, a estrada terminou e entrámos na picada. Ao princípio era uma picada de areia pacífica sem problemas, com alguns buracos.
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esquerda", avisam do outro carro.
As primeiras poças de água gigantes
Paragem. Um elefante grande come placidamente. Fotografia.
ainda se passavam bem. Ao km 84 apareceu um charco profundo e longo. Jipes em 4L. Velocidade baixa constante. Só
Mais adiante, um grupo de antílopes olha para nós. E
"Um elefante à
outro elefante. Mas não eram só vistas boas que tínhamos. À nossa frente havia uma série de "lagos" com minúsculas ilhas no meio.
que a esse charco profundo seguiramse muitos charcos profundos. 1 km de charcos profundos! Pior: o leito era o dito “black cotton”,
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esvoaçavam milhares de borboletas amarelas. Felizmente chegámos a um pedaço de picada menos molhada. Pudemos relaxar um pouco. De repente sai um grande elefante da selva. Parou. Olhou para nós. E seguiu tranquilamente. Até chegarmos a Savuti Camp foram -se alternando pedaços de picadas infundadas e pedaAntes de atravessar qualquer charco há que ços menos molhapassar a pé para verificar a sua profundidade dos.
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chegámos finalmente ao acampamento. Estava a escurecer. O campo não estava protegido. Muitos amimais selvagens passeiam -se por entre os jipes que ali acampam - e ia excrementos que por ali vimos são a prova real. Pelas regras do campo não é possível sair da tenda à noite. Nem para ir à casa de banho a 500 m. Arriscámos e ainda
uma lama preta muitíssimo escorregadia. Os condutores suaram as estopinhas. Mas os jipes nunca atolaram. Por todo o lado Fazendo o churrasco E sempre a surgirem zebras, kudus, antílopes e elefantes. Estranhamente sempre isolados. Por volta das 18.50
fizemos um churrasco na escuridão da noite. Tínhamos de festejar a chegada a Savuti sem um único atolamento.
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Botsuana - dia 4 SavutiKasane Depois da estafa do dia anterior preparámonos calmamente. Fizemos um belo pequenoalmoço com ovos mexidos, manga, chá, café. Saímos 10.25. Na Preparando o pequenoporta do almoço acampamento informámo-nos sobre o estado das picadas até Kasane. "Muito melhor. Se conseguiram chegar até Savuti, agora é muito mais fácil." Consolados com esta resposta mete-
mo-nos a caminho. Realmente a picada não era o "black cotton", a lama escura muito escorregadia que tivemos ontem, mas muita areia fina. Para fazer os primeiros 7 km demorámos 1h15.
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à volta do tronco e um dos jipes em marcha atrás arrancou as árvores com as raízes!
Uma consolação: vimos uma grande manada de zebras rodeadas de impalas e alguns kudus. Ao Km11, tivemos pela frente um charco enorme e muito fundo. Como atravessálo? A parte menos funda era o lado esquerdo mas este estava obstruído por duas árvores. A solução foi remover as árvores. Como? Pusemos as cintas de puxar os carros
Contra todas as regras toda a gente fora do carro para fazer esta operação. A dada altura sai
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selva. Entre os arbustos vislumbrei a orelha dum elefante. Disse à P que era melhor irmos pela água mais rapidamente. Uff! da selva a uns 200 m à nossa frente um elefante. Olhou para nós mas seguiu o seu cami-
nho. Os condutores passaram os jipes mas nos fomos pelas bordas. A meio caminho ouvimos um ruído vindo da
As dificuldades com poças de água continuaram. Fizemos 20 km em 3 horas! Chagámos à Porta Ghoha, uma das entradas norte do Parque Nacional de Chobe às 14. Parámos à sombra para descansar e fazer um piquenique. Mas lá por termos saído do Parque tal significou que as picadas fossem boas ou que as estradas fossem alcatroadas. Continuaram picadas em mau estado com muita areia fina e solta que faziam o
Porta Ghoha
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jipe rabear. Mas há sempre consolações. No meio duma picada vemos uma manada de girafas que comia placidamente as folhas mais altas das árvores. As girafas são uma presença sossegada nas planícies africanas. Ninguém tem dúvidas de que a girafa um ícone africano. O seu nome vem da palavra árabe "xirapha" que significa "que anda rapidamente". Aplica-se que nem uma luva pois as girafas podem galopar a uma velocidade surpreendente de 55 km por hora. No entanto, ficam rapidamente sem fôlego por causa da sua traqueia comprida.
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O caminho foi maravilhoso pois cruzámo-nos com diversas manadas de elefantes, muitas delas com crias a brincar - muitas vezes tivemos de parar para as deixar atravessar a estrada - e com girafas comendo ou olhando a estrada. O seu nome científico é "girafa camelopardis" vem da crença antiga de que estes animais eram camelos com a pele do leopardo. A única parecença com camelos é o facto de aguentarem muito tempo sem beberem, pois hidratam-se com as plantas que comem.
são ligeiramente mais baixas com menos peso.
A girafa é o mamífero mais alto do mundo - os machos podem chegar a ter mais de 5 m de altura! Pesam em média entre 940 e 1400 kg. As fêmeas
A 52 km da Kasane entrámos na estrada alcatroada. Uff! O pior tinha passado, pensámos nós.
O tamanho dos seus pescoços permitem-lhe comer folhas a vários metros de altura, pondo assim de parte toda a concorrência. O desenho da sua pele varia de castanhoamarelado claro a preto.
Em Kasane ficámos no Chobe Safari Lodge, uma combinação de lodge e campismo. Assim que acabámos o check-in vimos chegar um grupo de folclore. Decidimos então ver o espetáculo e jantar.
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O grupo cantava e dançava muito bem, interpretando bem danças tribais (achamos nós)
respondeu com maus modos que só amanhã nos atenderia... Deitámo-nos preocupados.
Botsuana - dia 5 Cataratas de Vitória
Depois do jantar o choque: ao ligarmos o jipe o motor faz uns barulhos muito, mesmo muito estranhos. As mudanças não entram. Com dificuldade conseguimos chegar ao nosso local de acampamento. Montámos as tendas e voltámos à receção. Ligámos para a sede da empresa de aluguer para o número que tínhamos para "after hours" e de la respondeu uma voz ensonada que nos
Acordámos com os nossos jipes rodeados de uma família de javalis com inúmeras crias. Um pouco mais afastada uma impala que depois até se atreveu a vir junto de nós e comeu a comer da mão da B. O plano para hoje era ir até às Cataratas de Vitória. Mas não queríamos ir com os nossos jipes porque iria ficar muito caro e burocrático, além de ficarmos à mercê de polícias corruptos. Ou seja, o mais importante hoje era tratar de
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arranjar um transporte para as cataratas. Apesar de normalmente esses passeios se organizarem de véspera, fizemos ver aos agentes que há que saber dar a volta e se tinham ali 6 clientes que queriam um serviço deveriam arranjar lho. E após alguns telefonemas, TT (os bostuanianos têm nomes muito complicados de pronunciar e simplificam usando somente iniciais) disse -me que dentro de uma hora e meia chegaria o carro para nos levar às Cataratas. Mas ainda mais importante era esclarecer o arranjo do jipe. Após vários telefonemas para a África do sul, conseguimos um contrato do representante local da Britz que veio ter connosco ao campo. Ouviu os ruídos e
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disse que o jipe não estava em condições de ir para a estrada. Combinámos então que a Britz trataria de arranjar uma solução e que voltaríamos a falar ao final do dia. Fomos então para às Cataratas de Vitória. Para dar a volta à burocracia, estes passeios fazem-se com dois carros: um vai do
hotel à fronteira bostuaniana e o outro vai da fronteira do Zimbábue até às Cataratas. Os funcionários botsuanianos da fronteira são muito simpáticos e descontraídos e até sabem umas palavrinhas em Português, possivelmente graças à proximidade de Angola. O Zimbábue faz negócios com os
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turistas - não nos importamos, só lamentamos que os lucros não sejam usados para bem do povo. O visto de entrada no país custa US$30 ou, querendo pagar em euros, €30! Da fronteira a Victoria Falls - é assim que se chama a localidade - é mais ou menos 30 minutos de carro. A cidade vive do
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negócio do turismo das cataratas. Estas estão num parque cuja entrada custa US$30. Segundo consta o primeiro europeu a ver às cataratas foi o explorador inglês David Livingstone. Ficou tão maravilhado que as dedicou à sua rainha, a rainha Vitória. As águas do rio Zambeze chegam aquele local e caem duma altura de 98 numa de mais de um quilómetro. A força da queda da água é tão forte que a neblina que provoca ao cair sobre até ao cimo, vendo-se a grande distância. A beleza destas cataratas deixa-nos extasiados. Pode-
mos ficar horas a olhar as águas revoltas do Zambeze a cair pelo precipício. O parque em frente das cataratas está muito bem cuidado com vários pontos de observação. O passeio começa na grande estátua de Livingstone, onde encontrámos muitas sericatas. Todos os outros 15 pontos são mesmo em frente das cataratas, sendo o mais
excitante o chamado "danger point", o único sem proteção. Regressámos a Kasane ao final da tarde. Entrada no Botsuana tivemos de passar por um tapete de desinfetante para desinfetar as solas dos sapatos. Voltámos a ligar para Joanesburgo para saber que decisão tinha sido tomada. Nem queríamos acreditar na
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resposta que nos deram: "Não falámos com ninguém". Tivemos que lhes explicar bem claramente que tínhamos de sair de Kasane mesmo no dia seguinte pois dali a dois dias seria o nosso voo para a Europa. Ligaram-nos alguns minutos depois para nos dizer que fossemos no dia seguinte à oficina da Toyota. Onde? Que procurássemos.... Ficámos tão aborrecidos que resolvemos ir jantar fora em vez de fazer o churrasco planeado. GG, o rececionista, aconselhou-
nos o restaurante do "lodge" em frente onde comemos uns filetes de um Peixe do rio, panados, com legumes, e uns deliciosos bifes, muito tenros. Amanhã será outro dia.
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todo muito atencioso e profissional. Viram o carro e logo nos disseram que, como o veículo ainda estava na garantia, só iríamos pagar o que não estivesse coberto. O arranjo iria demorar 4 horas. Como ocupar o tempo?
Botsuana - dia 6 -Kasane Kazungula – Nata Acordámos, desmanchámos as tendas e fomos para Kazungula, para a Toyota. A oficina é nova, tendo sido inaugurada no ano passado. O pessoal era
Em primeiro lugar fomos tomar o pequeno-almoço. Descobrimos uma padaria com fabrico próprio. Na vitrina umas empadas de massa folhada muito estaladiça com recheio de carne picada. Deliciosas! O padeiro começou a trazer para o balcão umas mini piz-
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zas com muito bom aspeto, acabadinhas de sair do forno. Picantes e deliciosas. Pedi para ver a sala do fabrico. Tudo muito limpo e ordenado. Só usam produtos naturais e é tudo feito segundo os métodos tradicionais. Entre as várias opções de ocupação
do tempo, decidimo -nos fazer um passeio no rio Cuando (rio Chobe). Voltámos ao Chobe Safari Lodge e organizámos um barco que nos levou pelos meandros do rio, tanto na parte do Botsuana como na Namíbia. Foi um passeio fan-
tástico. Vimos imensos crocodilos, iguanas, hipopótamos, elefantes, girafas, búfalos, kudus, impalas e centenas de pássaros diferentes coloridos. Entre os muitos pássaros que vimos mais interessante foi
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o pássaro- guardachuva: para pescar abre as asas em guarda-chuva. Ainda deixa de ter o reflexo do céu na água e ele consegue ver os peixes debaixo de água. Muito excitante foi a perseguição que um hipopótamo fêmea fez ao nosso barco. O barco estava relativamente perto dela e da sua cria e ela sentou que tinha de defender a sua cria. As fêmeas são muito perigosas quando têm crias. Tudo o que sintam como perigo para as crias é tratado com um comportamento extremamente agressivo. O hipopótamo é considerado o cavalo do rio. O seu nome vem de duas
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média 3,9 m de comprimento, 1,5 m de altura e pesa 4500 kg. Só a pele pesa 500 kg!!!!
palavras gregas: "hippo" que significa "cavalo" e "potamos" que quer dizer "rio". É o mamífero africano mais imprevisível e mais perigoso. Quando pensamos em animais africanos qual consideramos o mais perigoso? O leão? O rinoceronte? O elefante? Sim, todos eles são perigosos. Apesar do seu aspeto algo pachorrento e apesar de serem herbívoros, o hipopótamo é um animal extremamente violento. É o 3º maior mamífero de Africa, só sendo ultrapassado em tamanho pelo elefante e pelo rinoceronte. Mede em
Este enorme corpo é suportado por quatro patas pequenas com um ar muito frágil. E no entanto chegam
a fazer 30 km por hora. Os hipopótamos comunicam uns com os outros por ruídos estranhos aos nossos ouvidos. Os olhos, as narinas e os ouvidos são pequenos e estão na parte superior da cabeça. O olfato e a audição superam a visão. Ao fechar os ouvi-
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dos e as narinas, os hipopótamos podem ficar 6 minutos debaixo de água. Aliás, movimentam-se andando nos leitos dos rios. Durante a noite, os hipopótamos saem da água para
comer, podendo andar até 8 km à procura da melhor erva - até 40 kg por noite!!!! Engolem a comida inteira sem a mastigar. O estômago tem diversas câmaras e o intestino é bastante mais comprido do que o dos outros herbívoros. Os hipopótamos vivem em grupo até 20 animais. Cada
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grupo é liderado gem estava partido por um macho. Em e que felizmente tempos de seca - o estava na garantia que não é agora o do veículo. O jipe caso -, diversos foi entregue cuidagrupos de hipopótamos têm de viver perto uns dos outros o que cria muitas tensões entre Jipe a ser lavado eles. após a reparação As fêmeas dosamente lavado, têm gestações de um brinquinho. 240 dias e só dão à Nem parecia o mesluz uma cria de mo. cada vez. Apesar de começarem a comer erva às três semanas, as crias mamam até aos 8 12 meses. Tornam -se adultos aos 5 7 anos. À hora combinada voltámos à oficina. Foi-nos feito o relato dos estragos: uma árvore entrou no fole da direção e partiu um rolamento e um dos anéis da embraia-
Saímos da oficina às 15h30. No caminho para Nata apanhámos uma grande chuvada tropical
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e vimos muitas manadas de elefantes - com crias a mamar! -, muitas girafas e muitas impalas.
Botsuana - dia 7 - Nata – Maun Desiludida com o Elephants Sands. Nem um único elefante se passeou por entre as tendas. Mas como temos visto taaaaaantos elefantes também não foi grave. Passámos por Nata e não vimos o desvio para Maun. Seguimos a A33 em frente. A estrada, alcatroada, já não era tão boa como a
Manada de elefantes a atravessar a estrada
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de até Nata. Tinha grandes crateras e nalguns locais havia sinalização de perigo Estrada nacional alagada por água parada na estrada. para comprar umas empadas para o Após termos andaalmoço. do 30 km, H constatou que ainda não tínhamos visto nenhuma indicação para Maun, só para Francistown. Parámos e perguntámos a umas senhoras que confirmaram que estávamos errados. Voltámos para trás e aproveitámos
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çaram as crateras. Enor mes. A toda a largura da estrada. Parecia que estávamos a fazer slalom para evitar os buracões. Em Maun voltámos a ficar no Maun Rest Camp onde fizemos um belíssimo churrasco - o último desta viagem
Acabámos por sair de Nata às 13.30. A uns 10 minutos de caminho, a estrada estava alagada. Totalmente alagada. 1 km de estrada com água com mais de 30 cm de altura! Afinal não eram só as picadas que estavam alagadas. A estrada nacional também estava alagada. Esta situação foi-se repetindo com alguma frequência.
Piquenique à beira da estrada
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Quando acabaram os troços alagados, come-
Botsuana - dia 8 - Maun Joanesburgo Luanda – Lisboa Dia de partida. Fim de férias. Antes do pequenoalmoço limpámos os jipes por dentro para não termos de pagar R1000 (aproximadamente € 73). A lavagem exterior foi feita por dois rapazes que trabalhavam no parque de campis-
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mente. Com uma cinta presa a uma árvore voltou à posição inicial e o jipe não ficou danificado. Chega de aventuras!
Jipe a ser lavado para a entrega mo onde passámos a noite. Queriam fazê-lo gratuitamente porque lhes tínhamos dado muitas coisas, mas nós dissemoslhe que lhes pagávamos o trabalho. À saída do campo nova pequena aventura. O condutor do 2º jipe não vê o ramo de uma árvore e choca. Parámos para ver o que se tinha passado. A proteção direita do parachoques ficou ligeiramente para dentro. Nada que não se resolva rapida-
A entrega dos jipes foi demorada pois havia muitos pontos a tratar (por causa do problema
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com a embraiagem e com o braço do motor) e muitos outros a reclamar. Mas felizmente o aeroporto ficava ao virar da esquina e depressa nos pusemos lá. O aeroporto é mini e tudo se processa rapidamente. Tem uma única sala de embarque e uma única loja. Viagem sem problemas até Joanesburgo e depois até Luanda. Paragem de duas horas que deu para ver 3 ou 4 vezes as lojas duty free. E finalmente o voo Luanda-Lisboa onde chegámos de madrugada.