A viagem de finalistas do IO de 1974 foi aAngola. Estávamos em abril de 1974. O plano era irmos até Moçâmedes, agora denominado Namibe. Por causa da Revolução do 25 de Abril em Portugal, o mais sul que chegámos em Angola foi ao Lobito. Desde então, tanto eu como a Paula Guerreiro Belmarço, AA nº 298/1967, sonhávamos em conhecer o sul de Angola. 40 anos depois, neste verão de 2014, chegou finalmente a ocasião, ao participarmos no VIII RAID do Kwanza Sul, organizado pela Câmara Municipal de Almada. À nossa espera em Luanda estavam jipes Ford, novinhos em folha, com somente 112 km do conta-quilómetros, postos à disposição dos participantes do Raid pela Robert Hudson. A saída de Luanda foi caótica como habitualmente. Pouco depois da Ponte Molhada, uma ponte de recebeu este nome pois fica sob, em vez de sobre, a água quando chove muito (!), o trânsito começou a melhorar. Depois de passarmos o rio Kwanza pela ponte construída no início dos anos 70 do século XX e recuperada há alguns anos, deixou de haver lixo à beira da estrada, mas lindos imbondeiros, grandes e pequenos, mais largos e mais estreitos. Tínhamos chegado à zona da árvore mítica angolana. Ao final da tarde, chegámos ao Lobito. No dia seguinte, demos uma volta pela famosa restinga do Lobito. Na rotunda da ponta da restinga, o padrão dos descobrimentos que ali tinha sido colocado durante a época colonial foi substituído por um barco. Alguém nos disse que este barco tinha sido o que o atual Presidente da República, José Eduardo dos Santos tinha utilizado para a sua fuga de Angola após a eclosão da luta contra o poder colonial português em novembro de 1961 – uma informação que não conseguimos confirmar. Seguimos para Benguela, fundada em 1617 por Manuel Cerveira Pereira. Vivia-se em Portugal a chamada União Ibérica; dois anos antes, Filipe II mandara separar o Reino de Benguela do resto de Angola por causa das grandes minas de cobre, tendo a região sido administrada autonomamente até 1869. Benguela é conhecida como a cidade das acácias rubras, pois durante o mês de Novembro florescem as acácias, deixando as ruas e os parques da cidade com tons de verde e vermelho. A caravana seguiu para Dombe Grande e Lucira, tendo chegado ao final da tarde chegámos à cidade do Namibe, fundada em 1840 e que, até 1985, foi denominada Moçâmedes. É o terceiro maior porto de Angola, depois de Luanda e Lobito, e também o terminal do caminho-de-ferro do Namibe.
A paisagem até à foz do Cunene é fenomenal. Primeiro temos um deserto de pedra onde despontam inúmeras welwitchias miriabilis, umas plantas endémicas, que existem somente aqui em Angola e na Namíbia. É uma planta milenar contemporânea dos dinossauros apenas existente no deserto do Namibe, em Angola e na Namíbia, adaptada à vida nas regiões desérticas. Esta espécie vegetal foi descoberta a 3 de Setembro de 1859 pelo botânico explorador austríaco Frederich A. Welwitsch. O deserto do Namibe ocupa uma área de 310.000 km2 e é dos desertos mais antigos e estéreis do mundo. Montanhas isoladas erguem-se do deserto e as enormes dunas de areia podem atingir 400 m de altura. Um deserto puro. De quando em quando um rapaz herrero a guardar as suas cabras ou as suas vacas - os hereros são um povo nómada que vivem da pastorícia. As mulheres usam saias feitas com peles de animais, muitos colares de missangas, alguns dos quais amassados com uma pasta feita de raízes aromáticas de árvores e terra que assim evitam que os maus cheiros cheguem ao nariz. O cabelo das mulheres é empapado com uma pasta feita com bosta de boi, raízes de árvores, erva e terra. Os rapazes rapam o cabelo deixando somente uma espécie de penacho no alto da cabeça que é igualmente empapado com aquela pasta e com que fazem uma espécie de corno para cima na parte de trás da cabeça. Seguimos viagem até ao Chitado. A 10 de novembro de 1961, um avião Dakota da Força Aérea Portuguesa, com altas patentes portuguesas a bordo, passou por cima da pista do aeroporto do Chitado a baixa altitude. Levava os motores na potência de cruzeiro, o trem recolhido e bloqueado, pois não pretendia aterrar. De repente, a ponta da asa bateu numa árvore que sobressaía das outras cerca de 15 metros. O avião rodou sobre si mesmo, ficou em voo invertido, caiu, incendiando-se imediatamente. Todos os passageiros morreram. Dali seguimos para Lubango, ex-Sá da Bandeira, capital da Província da Huíla, e conhecida como a “cidade jardim”, tão bem cuidada era. Paragem obrigatória no miradouro em frente da serra da Leba onde pudemos observar a famosa estrada serpenteada, começada a planear em 1915 e terminada em 1969 - 1974. Tem 42 curvas e percorre uma distância de cerca de vinte quilómetros.
A Serra da Leba é um gigantesco rochedo com uma altitude de 1845 m e com uma inclinação de 1 km e que forma um paredão que divide a região planáltica da Huíla, de altitudes elevadas, para a região desértica do Namibe. Obrigatório ver em Lubango é a Tundavala, uma fenda natural, muitíssimo profunda e estreitíssima no fundo. Trata-se de um enorme abismo de cerca de 1200 m situado na Serra da Leba. É nos penhascos da Tundavala que termina o Planalto Central de Angola. Aqui o planalto excede 2200 metros de altitude e cai abruptamente para cerca de 1000 metros de altitude, provocando um desnível deslumbrante com fendas colossais na montanha. A paisagem que se tem deste monumento natural com muitos milhões de anos é colossal. São muitas as histórias que correm à volta da Tundavala. Que foi usada durante a Guerra Colonial para atirar angolanos que lutavam pela independência e, durante a Guerra Civil, para atirar elementos da fação oposta, que existem enterradas na terra cápsulas de bala de kalashnikov, usadas em fuzilamentos sumários, e sei lá que mais. Uma maravilha desta natureza liberta a imaginação de todos que por ali passam. Em Huambo, parámos junto à estátua do general Norton de Matos, o fundador da cidade. Durante a construção da linha da Companhia do Caminho de Ferro de Benguela, concebido para drenar os minérios da região do Catanga para a costa do Atlântico, e estando o acampamento do empreiteiro Pauling estabelecido cerca do km 370, começou a ser aí recebida correspondência, vinda de Inglaterra, endereçada a "Pauling Town - Angola". Ao chegar a Luanda como governador geral da colónia de Angola, o General Norton de Matos não gostou desta história deu ordens aos Correios para devolverem toda a correspondência que assim viesse endereçada com a indicação de "destino desconhecido", para assim marcar bem o domínio português na Província do Huambo. Na altura não havia nenhuma povoação na região. Norton de Matos encontrou a referência a um pequeno forte, o Forte do Huambo, onde se tinham praticado alguns feitos heroicos - o bastante para dar o nome de Cidade do Huambo. Em 1928, o então governador Vicente Ferreira mudou-lhe o nome para Nova Lisboa, que manteve até 1975, com a intenção de aí criar a nova capital de Angola, um plano que nunca passou do papel.
O General Norton de Matos foi homenageado em 1962 com uma estátua, financiada por subscrição pública, obra do arquiteto português Euclides Vaz, que rodeou das quatro virtudes: Prudência, Justiça, Fortaleza e Temperança (que alguém pensou tratarem-se das quatro mulheres do general….). Com a independência, as estátuas foram retiradas da rotunda do Palácio do Governador onde estavam, tendo sido colocadas numa rua lateral, juntamente com a estátua de Vicente Ferreira. Todas estão cravejadas de balas mas resistiram à guerra. Em Huambo ainda consegui ir até ao antigo bairro dos quartéis onde os meus Pais moraram nos finais dos anos 40/inícios dos anos 50. As casas estavam a ser destruídas por já se encontrarem muito danificadas, mas ainda se podiam ver alguns restos da arquitetura portuguesa. No entanto, toda a gente a quem eu mostrava a fotografia da casa dos meus Pais a reconhecia. Aqui, na terra natal da minha irmã mais velha, começou o nosso caminho de regresso. Waku Kungo, onde vimos muitos hipopótamos preguiçosamente banhando-se no rio Keve, Dondo e de novo Luanda, onde entregámos os jipes. Chegara ao fim o nosso Raid, mas o que vivenciámos nestes 11 dias ficará para sempre nas nossas memórias!
Vida
Em Lucira
Em Lucira
Em Lucira
Em Angumbe
Junto ao rio Keve
Junto ao rio Keve
Junto ao rio Keve
Em Angumbe
Em Lucira
Em Lucira
Rio Quicombo
RIO KEVE: Batendo o funge
Luanda, vendedora Ă beira da estrada
Luanda, vendedor Ă beira da estrada
Vendedoras ambulantes Ă saĂda de Luanda
Mulheres lavando no rio Quicombo
Pescadores na baĂa de Lucira
Peixeira em Lucira
Deserto do Namibe: homem herero
À saída da cidade de Namibe a campa de Ruy Duarte de Carvalho, grande amigo dos povos herero da região
à
DESERTO DO NAMIBE: Mulheres herero
DESERTO DO NAMIBE: Mulheres herero
DESERTO DO NAMIBE: Mulher herero
DESERTO DO NAMIBE: Rapaz herero
DESERTO DO NAMIBE: Rapaz herero
DESERTO DO NAMIBE: Rapaz herero
DESERTO DO NAMIBE: Homem herero
DESERTO DO NAMIBE: Mulher herero
DESERTO DO NAMIBE: Família herero
DESERTO DO NAMIBE: Família herero
DESERTO DO NAMIBE: Rapariga herero
DESERTO DO NAMIBE: Rapariga herero
DESERTO DO NAMIBE: Rapariga herero
Homem em Monte Negro
O soba e a sua famĂlia dum kimbo perto de Waka Kungo
Luanda, venda Ă beira da estrada
Hereros em Angumbe
Idosa em Angumbe
Líder da comunidade de Foz do Ruacaná
Soba de Foz do Ruacanรก
Paisagens
Monte Lubiri, com os seus 1 925 metros. Segundo a tradição é um local assombrado …
Kimbo perto de Porto Amboim
Porto Amboim
Lucira
Foz do rio GiraĂşl, perto da cidade do Namibe
Pedra-faca no deserto do Namibe
Deserto do Namibe
Deserto do Namibe
Deserto do Namibe
Junto Ă praia no deserto do Namibe
Deserto do Namibe
Foz do Cunene
Serra da Leba, Lubango
Vista da Tundavala, Lubango
Vista da Tundavala, Lubango
Natureza
Welwitchia mirabilis do deserto do Namibe
Uma cabana dum herero n贸mada no deserto do Namibe
Imbondeiro
Um 贸nix no deserto do Namibe
Um 贸nix no deserto do Namibe
Zebras na Fazenda 3 N
Dois cavalos Ă sombra duma espinheira no deserto do Namibe
Espinheira seca no deserto do Namibe
Rio Quicombo
Monte de salalĂŠ no Lubango
Quotidiano
BaĂa de Lucira
Peixe seco em Lucira
Um kimbo perto de Waka Kungo
Magia negra na Foz do Ruacanรก
Monte Negro
Fazendo tijolos em Monte Negro
Monte Negro
Angumbe
KIBALA: Panela ao lume na cozinha do orfanato na Miss達o Nossa Senhora das Dores.
Lixeira sob a ponte molhada em Luanda
Candongueiros à saída de Luanda
Presenรงa portuguesa
Foz do GiraĂşl
Foz do GiraĂşl
KIBALA: Fortaleza
Chitabo, local onde caiu o avião da Força Aérea Portuguesa
Restaurante abandonado junto ao rio Nene
NAULILA: Monumento ao desastre de Naulila, combate travado a 18 de dezembro de 1914 entre forças portuguesas e alemãs
Cristo Rei no Lubango (ex-Sรก da Bandeira)
ResquĂcios da guerra
Carros abandonados em 1975 pelos portugueses no deserto do Namibe
Barco usado para a fuga de Eduardo dos Santos, na restinga do Lobito
Huambo: estรกtua de Agostinho Neto
BaĂa de Luanda