Novos Cronistas Londrix 2019

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NOVOS CRONISTAS LONDRIX



NOVOS CRONISTAS LONDRIX

Bianca Barros Parron Fernandes Carolina Lerner Trigo Catarina Franco Seco Frederico de Moura Theophilo Neto Guilherme Akira Demenech Mori Leticia Silva Higashi Maria Eduarda de Souza Leriano Maria Luiza Frederico Costa Mateus Panzeri Fasolo Rafaela Valentini Ortega Ruiz


Copyright © 2019 Bianca Barros Parron Fernandes, Carolina Lerner Trigo, Catarina Franco Seco, Frederico de Moura Theophilo Neto, Guilherme Akira Demenech Mori, Leticia Silva Higashi, Maria Eduarda de Souza Leriano, Maria Luiza Frederico Costa, Mateus Panzeri Fasolo e Rafaela Valentini Ortega Ruiz ISBN 978-85-62586-85-9 Londrina - 2019 1ª Edição Coordenação Editorial Christine Vianna Marcos Losnak Revisão Silvio Cesar dos Santos Alves Capa e Projeto Gráfico Marco Tavares Idealização Festival Literário de Londrina - Londrix Realização AARPA Apoio Cultural RPC Parceria Museu Histórico Universidade Estadual de Londrina Patrocínio PROMIC SECRETARIA ESPECIAL DA CULTURA MINISTÉRIO DA CIDADANIA GOVERNO FEDERAL

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) N947

Novos cronistas Londrix / Bianca Barros Parron Fernandes...[et al.]. – Londrina : Atrito Arte, 2019. 72 p. Vários autores ISBN 978-85-62586-85-9 1. Crônicas brasileiras. 2. Literatura brasileira. 3. Cronistas na literatura moderna brasileira. 4. Festival Literário de Londrina – Londrix. I. Fernandes, Bianca Barros Parron. CDU 869.0(81)-4

Catalogação elaborada pela Bibliotecária Roseli Inacio Alves CRB 9/1590

Atrito Arte Editora - Av. Arthur Thomas, 342 - Londrina - Paraná - Brasil - CEP: 86065-000 E-mail: atritoart@gmail.com - www.facebook.com/AtritoArte


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ÍNDICE Apresentação – A inquietude da transformação Frederico Garcia Fernandes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

Vozes, pessoas Bianca Barros Parron Fernandes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19

Desacompanhadas Carolina Lerner Trigo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25

Em uma sala de aula Catarina Franco Seco . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31

Velho calor Frederico de Moura Theophilo Neto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35

Isto não é um romance policial ou Preencha aqui com o título Guilherme Akira Demenech Mori . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39

Motivo de esquecimento Leticia Silva Higashi . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43

Noite de lembranças Maria Eduarda de Souza Leriano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49

Fome de Companhia Maria Luiza Frederico Costa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55

Tchau Mateus Panzeri Fasolo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59

Segundos são batidas do coração Rafaela Valentini Ortega Ruiz . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65



A INQUIETUDE DA TRANSFORMAÇÃO O “Concurso Novos Cronistas Londrix” tem uma notória importância no meio cultural da cidade. Sugerido pela curadoria da 15ª edição do Festival Literário de Londrina – Londrix, o concurso teve por objetivo principal incentivar a escrita criativa entre jovens que estejam cursando o Ensino Médio. Como consequência, acabou por aproximar o Festival Literário das escolas, atraindo também um público formado por alunos para algumas mesas de escritores que passaram pelo Londrix em 2019 – como foi notória a presença deles na fala do poeta Sérgio Vaz. Outro destaque é que o concurso contou com a parceria de docentes do Departamento de Letras Vernáculas e Clássicas da Universidade Estadual de Londrina, em um trabalho bastante produtivo que envolveu, juntamente com escritores conhecidos da cidade também convidados para compor o júri, o debate sobre gênero literário, ensino de literatura e criação literária. Foram 54 trabalhos inscritos e avaliadas 36 crônicas, e o resultado aqui apresentado restringe-se a uma criteriosa escolha que chegou à seleção dos 10 textos premiados. A literatura é uma arte que, devido ao avanço da escrita nas redes sociais, tem ganhado novos ares entre o público adolescente. São nas páginas do Facebook, em blogues, nos 280 caracteres da ‘tuitada’ quase sempre diária que os escritores deixam seus versos e frases, suas marcas de existência em palavras poéticas. Além do protagonismo digital, a cidade de Londrina possui uma vida literária 11


pulsante, fomentada por sua rede de saraus, como o tradicional sarau da professora Leonilda Bissochi, de Cambé; o sarau do Bar Brasil, na Hugo Cabral; o sarau da editora Madrepérola, no Nosso Sebo; o sarau da Vila Cultural do Cemitério de Automóveis, entre outros. São eventos que fazem o chamamento para poetas, contistas, escritores, para que estes apresentem suas obras dando uma cara viva ao texto. O sarau faz da palavra a arte da performance e, por isso, apresenta a literatura com uma superdose de adrenalina ao colocar o criador diante do seu público. É na troca de olhares e na reação fortuita dos expectadores, medida pela duração e intensidade do aplauso, que o escritor reconhece o quanto suas palavras e seu estilo estão ou não afetando seus ouvintes. O sarau torna-se, nessa perspectiva, uma forma particular de laboratório literário, porque incita ao experimentalismo, promove a troca, dissemina estilos e cria tendências. Dos saraus surgem alguns coletivos poéticos, grupos que se articulam para a produção de uma prática literária que combinam o prazer do pensar a literatura com a possibilidade de um projeto institucional. É o caso, por exemplo, do “Coletivo Versa”, criado em 2016 e constituído por mulheres que tratam da relação entre a literatura e as outras artes. É importante ressaltar a evidente relação do Festival Literário de Londrina – Londrix com o sarau, já que uma das inspirações para sua criação foi o “Poesia in Concert”, um sarau-show criado no ano 1995 e que, desde 2004, foi integrado à programação do Festival. Nele, jovens vêm assumindo o protagonismo literário por meio da performance, do canto, do 12


gesto cênico, da letra e da música. O concurso de crônicas coloca-se, dessa forma, como uma inovação dentro do próprio Festival, já que cria um canal de acolhida para textos de escritores em fase escolar, cuja faixa etária varia entre 14 e 17 anos. É um público para o qual programações do Londrix como “Dedo de Prosa” e “Assalto Literário” são pensadas. A diferença é que, com o concurso, em vez de apenas absorver a literatura como uma atividade passiva, o aluno também se engaja na prática literária por meio de sua própria escrita. Não se trata aqui de repetir o velho e pretensioso chavão: “estamos descobrindo novos talentos”. Não, muito pelo contrário. Os jovens é que estão descobrindo o Festival, e, ao trazê-los como vozes que têm algo a dizer e não apenas como meros ouvintes, o Londrix está apostando na continuidade de sua própria existência, e está, de fato, promovendo a literatura londrinense. As 10 crônicas aqui selecionadas são de alunos da escola pública e da rede particular de ensino. Há, no conjunto de textos, pelos menos três aspectos que se detectam no imaginário composicional que atendeu ao concurso: a inquietude da transformação, a metalinguagem e a crítica de comportamentos. A fase do Ensino Médio, por ser a mais curta da formação escolar, identifica-se com os ritos de passagem: inicia-se com a finalização do ciclo fundamental e, nela, os traços da vida infantil são também deixados para que o aluno atinja a plenitude de sua adolescência. Na outra ponta do Ensino Médio está a finalização do ciclo escolar e a busca, no funil que é a disputa do vestibular, por uma 13


vaga nas cadeiras universitárias, ou mesmo tentativas de entrada na vida do trabalho – tudo enfim que corresponde não apenas a despedir-se do ambiente da escola como aluno, mas também a deixar de fazer parte de muitos círculos de amizades. Trata-se da transformação do sujeito pela inserção na vida social e pelo quase ingresso na vida adulta, um momento de dúvidas e de ansiedade, rebeldia, descobertas, ou seja, experiências para as quais a arte literária produzirá sentidos e conexões. Natural que vida e morte matizem muitas crônicas nessa fase, pois a experiência da despedida é algo que, às vezes, se traduz de maneira mais intensa. As crônicas “Noite de lembranças”, de Maria Eduarda de Souza Leriano; “Tchau”, de Mateus Panzeri Fasollo; “Motivo de esquecimento”, de Leticia Silva Higashi; “Vozes, pessoas”, de Bianca Barros Parron Fernandes; e “Segundos são batidas do coração”, de Rafela Valentini Ortega Ruiz, lidam com esse universo de perdas e de transformações. O uso da metalinguagem é um dos aspectos que chama a atenção no conjunto de textos aqui constituído. A metalinguagem caracteriza-se pela criação de uma crônica que discute e problematiza o próprio fazer literário. Assim, a textualidade evidencia que a crônica é um produto da linguagem que coloca em destaque a própria linguagem. Há, nesse sentido, um caráter lúdico em tal estilo de produção literária, na medida em que a sua tessitura se configura como uma peça ficcional que brinca com o leitor, buscando trazê-lo, nos limites da regra do jogo ficcional, para dentro da narrativa. Enquadram-se aí as crônicas “Isto não é um romance policial ou preencha aqui 14


com título”, de Guilherme Akira Demenech Mori, e “Em uma sala de aula”, de Catarina Franco Seco. A fase de mudanças requer do jovem a assunção de uma identidade, o que implica também um posicionamento diante da sociedade. As crônicas revelam olhares atentos e críticos para o fato de as representações sociais estarem prontas e virem mastigadas para o adolescente, mas também apontam de que modo elas podem ou não lhe servir. Isso implica pensar a cultura por meio dos comportamentos, utilizar o potencial narrativo para apropriar-se de determinados traumas do passado e/ou desconstruir velhos clichês. É no epicentro do questionamento dos comportamentos que se produz a potência rebelde da literatura. Uma rebeldia madura, pois contém um refinamento próprio da arte literária: a crítica sem a pretensão de moralizar ou estabelecer o certo e o errado, mas afim de despertar o leitor da letargia de sua automação. No âmbito do conjunto de crônicas aqui selecionadas, encontram-se três que melhor tematizam essa crítica aos comportamentos: “Desacompanhadas”, de Carolina Lerner Trigo; “Velho calor”, de Frederico de Moura Theophilo Neto; e “Fome de companhia”, de Maria Luiza Frederico Costa. Há nelas desde o protagonismo feminino à inversão de valores culturais, além de um alerta para as formas de aprisionamento do sujeito no mundo contemporâneo. O conjunto de 10 crônicas aqui reunido é o registro, como o próprio gênero que o concurso homenageia, de uma época e surpreende pela sensibilidade de mundo de seus autores, bem como pelo refinamento da escrita. Esperamos que o leitor possa 15


reconhecer nesse trabalho não o ‘début’ de jovens escritores, mas a presença literária marcante de uma geração que deseja fazer valer sua voz. Por último, gostaria de agradecer aos colegas que aceitaram comigo essa empreitada e doaram seu tempo para a leitura e avaliação dos trabalhos enviados para este concurso: Profª. Drª. Dircel Aparecida Kailer, Profª. Drª. Sheila Oliveira Lima, Prof. Dr. Silvio Cesar dos Santos Alves; e os escritores: Maria Angélica Constantino e Marcos Losnak. Frederico Garcia Fernandes (Doutor em Letras – Estudos Literários, professor do Departamento de Letras Vernáculas e Clássicas da UEL e curador do Londrix)

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Vozes, pessoas Bianca Barros Parron Fernandes

Bianca Barros Parron Fernandes, 15 anos, cursa o 1º ano do Ensino Médio no Saint James International School. “A leitura é importante na minha vida porque possibilita a visão do mundo por múltiplos filtros, além de ampliar a mente e a alma.” 19



Eu estava em casa, sozinha, ouvindo o rádio como de costume, até que um homem qualquer gritou o nome dela, e o fluxo de lembranças começou. Acho que, dentre todos, você é o único que parece realmente disposto a ouvir-me. Sei ser uma pessoa decente, na maioria dos dias, mas anda realmente difícil manter a calma. Acontece que Linda tem passado muito tempo comigo, mais do que eu gostaria – sou impotente demais para mantê-la longe. Não é sempre que ela consegue entrar, porém, quando o faz, toma o controle, estilhaça-me por dentro e vai embora apenas quando bem quer. Agora que as férias de verão começaram, fico muito inquieta, mesmo com tudo o que tenho feito: ler, ver filmes e conversar com você de vez em quando. Cada dia é mais um para inventar o que fazer e ter o mínimo de tempo livre possível, porque é quando minha mente vagueia que Linda vem. Antes, poderia dizer que a odiava. Agora, ela se tornou uma parte grande demais de mim, e seria ingratidão dizer isso. Somos velhas amigas, daquele tipo que tem mais ódio semeado do que tudo, mantendo um certo laço íntimo e absolutamente tóxico. Linda é como uma das mulheres de Bukowski, ela consome sua vida e sua mente, some, e depois vem a próxima bomba atômica disfarçada de corpinho bonito – no caso, de cada vez uma forma que ela encontra de me esfaquear pelas costas. Aquele que me completa anda por outras bandas, viajando, então devo admitir que estou para lá de vazia. Janis tem vindo vez ou outra me fazer companhia. Ela é sentimento puro, explosivo e inflamável; queima e arde como um adolescente imaginativo. 21


O grande problema que ser desapegado causa é que não sobra muito ao que recorrer nas horas de solidão, talvez apenas uma pessoa ou outra. Janis não liga, precisa somente de alguém para saciá-la, o resto é um uso desnecessário de energia. Quando ela vem, a emoção intensa escapa-me incansavelmente. Meu pulso acelera até eu sentir que estou flutuando, e há muito pouco que me contém nessas horas, se é que há alguma coisa. Sou absolutamente apaixonada pelo poder que ela me dá, mesmo sendo isto o que mais me encrenca. Ela me faz invencível. O Natal foi semana passada, e tudo parecia que iria correr bem – se eu pudesse ser deixada em paz por um mísero dia no ano, claro. Foi com Sônia que passei o dia: com o aviso ignorado, a missão negligenciada, a ferida aberta e remoída. Essa é a maior das perdições e custa a acabar. Com seu fim, sempre vem Linda. Afinal, a maioria das coisas me leva a ela de uma forma ou de outra. Quando na casa de luz, com vozes animadas soando, o sol brilhando, ela não me atinge. Na casa de sombras e restos de destruição, onde o silêncio reina e tenho só meus pensamentos de companhia, sou incapaz perante o poder dela, o poder que sempre dei a ela. E assim, te pergunto: como pessoas como eu, como você, qualquer um, vivem relações tão profundas e dolorosas? Por que somos masoquistas e nos permitimos ferir por pessoas que sequer deveríamos tolerar? Aprendi a amá-la com o tempo e agora não vivo mais sem ela. Mas eu não seria mais feliz se o fizesse? Não sei.

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Desacompanhadas Carolina Lerner Trigo

Carolina Lerner Trigo, 14 anos, cursa o 1º ano do Ensino Médio no Saint James International School. “A leitura tem papel essencial em minha vida, por construir meu senso crítico sobre nossa realidade. A partir dela ampliei minha visão sobre o que realmente importa para mim. Todos os gêneros me interessam e me fascinam, por causa de seus significados e lições próprias.” 25



Estava, na quinta-feira, em um restaurante com minha mãe. Pedimos duas massas e uma jarra de suco de uva. Estávamos somente nós duas sentadas nesse restaurante meramente famoso de nossa cidade, Londrina, que é relativamente do interior, porém já bem urbana. Lembrei-me de uma história de minha mãe, em que ela me falava de quando tinha de ir a cidades do interior, com fins profissionais. E quando ela ia jantar em algum restaurante sozinha, tinha de comprar uma revista para não ser “confundida” com uma garota de programa. Nos restaurantes, não havia nem casais, apenas homens. O desconforto de ter que se desviar de olhares e até dos comentários sussurrados, de ter que olhar para o chão durante todo o seu jantar era tão sufocante que ela precisava comprar algo para ler durante uma simples refeição. Neste mesmo dia, no restaurante, havia algumas mulheres sozinhas, não muitas. Não percebi muita desconfiança em seus olhares, mas notei a tranquilidade da minha mãe. Reparei, principalmente, em uma senhora que aparentava ter saído de seu trabalho e se decidido a terminá-lo acompanhada de uma grande taça de vinho branco. É impressionante como nós, mulheres, podemos trabalhar hoje. Não diria tranquilamente, porém já é um grande passo em nossa luta. A mulher da taça de vinho ainda trabalhava em seu computador e certamente usava a rede Wi-fi daquele lugar. O que muitos não sabem é que a tão querida Internet sem fio só foi desenvolvida graças aos esforços de Hedy Lamarr, uma atriz de cinema mundialmente famosa 27


durante a Segunda Guerra Mundial. Nossos pratos chegaram, e o garçom que os trouxe não nos dirigiu nenhum olhar diferente, o que, menos de um século atrás, não se podia esperar, pois, nesse tempo, a mulher era vista como mero instrumento sexual, a ser usado e visto da maneira que fosse mais prazerosa para o homem, e nada mais. Hoje, já tivemos e ainda temos grandes líderes feministas que quebraram com esse paradigma, como a famosa estilista Coco Chanel, que criou roupas confortáveis, como a calça, e que nunca se casou. Tudo isso se resume ao fato de que hoje adquirimos alguns direitos, com muito trabalho. Mas, ainda há representantes políticos e cidadãos que não se dizem machistas, que dizem acreditar noprogresso de nosso país, e que, contraditoriamente, pregam que as mulheres não devem ter direito a quase nada. Acho que devemos avisá-los de que a chave para um país desenvolvido é a evolução de sua sociedade.

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Em uma sala de aula Catarina Franco Seco

Catarina Franco Seco, 15 anos, cursa o 1º ano do Ensino Médio no Colégio Marista. “A partir de quando comecei a ler, encontrei-me nos livros e passei a carregá-los para todo canto. Para mim, eles são um refúgio e uma casa na qual me sinto imersa, pois os livros me oferecem oportunidade de conhecimento, entendimento e percepção.” 31



Na minha mais recente aula de crônica, eu lutava contra o sono, batucando os dedos na mesa em uma vã tentativa de despertar completamente e sair do meu estado de letargia e, então, conseguir prestar total atenção na aula. Porém, só realmente consegui quando uma frase do professor me chamou atenção: “[...] se o autor falar que é crônica, é crônica”; mesmo dentro de um contexto, essa frase me chamou a atenção. Não consegui me conter e logo imaginei “a crônica” como um velhinho rabugento (quase como o titã Cronos) que reclamava que, sim, os textos poderiam ser crônicas se os deixassem em paz. Com certeza, seria um velhinho preguiçoso - como pode um gênero textual aceitar qualquer escrito assim? Onde estão as milhões de regras a se seguir, detalhes a se pensar, e aquele medo de deixar a criatividade fluir na redação e fugir das características do texto? Como pode, depois de tanto tempo errando, ser simples assim, apenas correr o lápis pelo papel, mantendo um mínimo de sentido para chegar ao fim e dizer que é crônica, não conto ou qualquer outro gênero, somente porque eu digo? Esse lápis que tanto corre no papel, em devaneios desta escritora, não sabe o poder que tem ao chegar ao fim e dizer: Isto é uma crônica.

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Velho calor Frederico de Moura Theophilo Neto

Frederico de Moura Theophilo Neto, 14 anos, cursa o 1º ano do Ensino Médio no Colégio Marista. “A base de todo conhecimento é a leitura, lemos para não somente evoluirmos, mas para pensarmos e sermos alguém capaz de contemplar o belo e a magia que a pluralidade dos livros nos traz, assim como a arte.” 35



A ideia de que Paris é uma salvação é cabível, pelo fato de a Europa ser o centro do mundo. Entretanto, para mim, foi diferente. Viver a experiência que vivi me mostrou o contrário, que Paris está tão velha e acabada como qualquer outra cidade. Fui a Paris em dois mil e doze, no verão, quando arrendei uma casa para uma estadia total de quatorze dias. Os termômetros chegaram a atingir 43°C ao longo dessas duas semanas. A casa em que eu estava não possuía ar-condicionado, nem ventilador, e as horas estavam muito estranhas – anoitecia às onze horas da noite e amanhecia às quatro da manhã. Um inferno! Além de sofrer com o calor terrível, não conseguia nem dormir. Eu ia para os museus “morto”, não conseguia andar, parecia que eu estava derretendo. O problema não era a quentura, mas a péssima estrutura da cidade para suportar o calor. Paris era linda, porém as flores não desabrochavam, e os lagos evaporavam. O céu estava carregado, mas não despencava. No último dia, vi um grupo de loucos dançando uma espécie de dança da chuva improvisada. Eu também dançaria se tivesse que passar mais um dia lá.

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Isto não é um romance policial ou Preencha aqui com o título Guilherme Akira Demenech Mori

Guilherme Akira Demenech Mori, 17 anos, cursa o 3º ano do Ensino Médio integrado ao Técnico em Informática no Instituto Federal do Paraná. “A última esperança do que já se foi e o primeiro recurso do que (não) poderia ser, a Leitura coletiviza o individual na diversidade de cores e formas que só se limita de fato ao que nós entendemos/sentimos.” 39



Tenho investigado todas as formalidades e exageros (inclusive no rebuscamento farsante que os antigos me fariam imitar) que um começo marcante teria, e seja revelando o ininteligível ou contrapondo uma longuíssima contextualização do nulo que o precede, não consigo marcar pela novidade inovadora (explosão). Não quero ser mau (nem me chame de vilão). Todavia, tenho de revelar meu plano, e ele começa com um tiro. Ainda vou melhorar depois para talvez inverter a ordem dos acontecimentos, só consegui pensar no título, não a história. Me parece um crime pensar no título antes de escrever algo, e mais hediondo ainda ele revelar o cerne da narrativa: o começo. Vou intitular “O leitor baleado”. Minhas mãos estão para o alto, vazias, como pode ver. Não tenho certeza se esse foi o melhor final, depois eu resolvo,

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Motivo de esquecimento Leticia Silva Higashi

Leticia Silva Higashi, 14 anos, cursa o 1º ano do Ensino Médio no Saint James International School. “A leitura, sendo indispensável para mim, realiza o aprimoramento de meu vocabulário e de minha criatividade. Porém, o que mais valorizo nesse instrumento é que, lendo, consigo distrair-me da realidade e, ao mesmo tempo, isolo-me em minha mente para que forme minhas próprias opiniões sobre a sociedade e o mundo em que vivo.” 43



Ao amanhecer, acordei com um sentimento estranho, um pensamento alheio e uma pergunta que não queria se calar: “Onde ela está?”. Apenas o ato de pensar nela faz meu coração ficar acelerado; minha mente, confusa; e minha respiração, ofegante. Mas eu só a vi algumas vezes, éramos apenas amigos; não é possível que eu esteja sentindo algo por ela, até porque amor nem existe. Após olhar o relógio, vi que ainda tinha tempo para dormir mais antes de ir para a escola, porém percebi que estava vestindo um avental de clínica... Ah, é mesmo! Voltei a dormir, e a imagem daquela menina ainda perambulava pelos meus pensamentos: seu sorriso contagiante, seus cabelos ondulados e dourados... Ela puxava-me pela mão. Não sabia aonde iríamos, mas sentia-me seguro, livre para ser eu mesmo. Sentia que, com ela, eu podia fazer tudo. De repente, ela soltou a minha mão e continuou correndo sozinha, até desaparecer – e, então: “pipipi”; o alarme toca. Após desligá-lo, com hesitação, fui ao banheiro lavar o rosto. Ao olhar-me no espelho, vejo uma lágrima escorrer no canto de minha bochecha – “Por que você me deixou?”. Apesar de estar acostumado com essa situação, não me recordo da sua face, da sua voz, do seu nome. Não tinha certeza se ela era real ou apenas uma personagem que inventei em meio à minha miséria. Alguns instantes depois, ouvi a porta abrindo. Era a enfermeira. Como sempre, sentei-me na cama e a esperei preparar os remédios – e vale destacar: a dose estava maior. Enquanto ela separava as pílulas que tomo diariamente, peguei-me olhando para a janela do meu quarto. Tão pequena, porém tão vastos 45


horizontes... Através de suas barras, avistei um belo pássaro, no qual me imaginei transfigurar. Abri então minhas enormes e belas asas, na tentativa de quem sabe alcançá-la... Depois de dar-me as pílulas, a enfermeira tentou distrair-me para que eu não sentisse a dor da agulhada. Todavia, o que ela não sabia é que eu já trazia em mim uma dor muito pior, e que não tinha cura. Tudo por causa da bendita Clara... Pera! Bendita quem!? Sinto meus pensamentos bagunçados; minha cabeça dói e meu corpo treme... Sinto minha respiração apertada, e meu coração palpitando. Olho para o lado e vejo aquele mesmo pássaro indo embora. Como pude esquecê-la tão rápido?! Com meu copo transbordando de raiva, jogo a bandeja de remédios no chão. Isso faz uma outra enfermeira entrar no quarto. Ela injeta algo que eu nunca tinha tomado antes. Tudo começa a ficar escuro e ouço as vozes das pessoas presentes se distanciarem. Agora sinto o cheiro de seu perfume... Ouço sua voz dizer, suavemente: “Você demorou”. Abro meus olhos e vejo a garota em que sempre pensava. Coloco a minha mão sobre seu rosto e sinto suas bochechas corarem no mesmo instante. Era ela! Era a garota que eu amava e que me fazia sentir vivo. Finalmente a reencontrei! “Por onde andou? Ainda temos tempo de curá-la”, eu disse a ela. Com uma expressão preocupada, ela me respondeu: “Não, querido. O médico já fez tudo o que era possível. E, mesmo que agora eu esteja aqui, não o culpo. Você também não deveria culpá-lo, agora que está comigo”. Após tais palavras saírem de sua delicada boca, senti-me confuso, porém seguro. Ainda assim, sorri de nervoso. 46


Lembro-me, então, de tudo o que aconteceu. Lembro-me de sua morte, de minha crise e de minha tentativa de suicídio. Recordo-me que minha família me colocou nesta clínica e que já faz um ano que estou internado. Minha vida não faz sentido sem ela, percebo. Preciso dizer que a amo, pois não quero que seja tarde demais, como da última vez. Eu te... Ouço, então, o pior som: “pipipi”...

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Noite de lembranças Maria Eduarda de Souza Leriano

Maria Eduarda de Souza Leriano, 16 anos, cursa o 2º ano do Ensino Médio no Centro Estadual de Educação Profissional Professora Maria do Rosário Castaldi. “A leitura aprimora o vocabulário, os nossos conhecimentos, ajuda na interpretação textual, é muito importante para o nosso desenvolvimento no decorrer da vida, pois lendo, aprendemos a formular textos e redações da melhor forma possível. A leitura é algo que só traz benefícios para a vida e é por isso que gosto tanto de ler.” 49



Cheguei mais cedo do trabalho, não tinha nada para fazer, preparei um lanche, com muito queijo, isso me lembrou a infância, quando sentava no sofá e gritava para mamãe fazer um desses. Sentei na área coberta de casa enquanto comia e tomava um café... Estava sozinha, pensando em como a vida era boa, tudo era só gritar a mamãe que ela já chegava e fazia tudo para nos agradar, mesmo que às vezes ela precisasse nos corrigir, e a gente saísse correndo e gritando: Nãoooo mamãe! Calma, a gente pode explicar!!! Era muito divertido, ainda que o fim fosse trágico... Um pouco mais tarde mamãe me ligou: Boa noite mamãe, como você está? Boa noite minha filha, eu não estou muito bem – respondeu-me. O que houve? Por quê? O tempo já passou pra mim, olha só você quase completando seus 24 anos, e eu meus 50. Pra mim isso é trágico, e pior ainda é não ter um neto encomendado, imagine só eu ser avó com a idade de ser bisa, eu não quero... Sinto saudade de quando tinha uma criança andando por aqui, uma criança me gritando: “Mamãeeee!”. Teu irmão desde que foi morar em São Paulo só dá notícias a cada mil anos, logo eu descubro que já tenho um neto e ele tem 10 anos. – Lamentou mamãe da forma mais dramática possível. Calma mamãe, faz duas semanas que moro a 2km de você, eu trabalho, mas eu sempre estou aqui para a senhora, e outra, eu tenho 23 anos, tenho até os 40 pra ter filho, e calma, eu prometo que você não 51


será uma avó velhinha... Larga a mão de ser dramática! E sobre a saudade, poxa mamãe, cheguei quase agora do trabalho e lembrei de quando te chamava pra fazer meu lanche, estou quase chorando, aquela época quando tínhamos o papai conosco foi a melhor, realmente, muitas saudades e lembranças. Tudo bem, eu confio em você, mas fica com Deus, eu vou dormir, chorar um pouco no travesseiro refletindo nessa traição de vocês me largando sozinha por aqui. Te amo. Boa noite mamãe, te amo também. Depois desta longa conversa, peguei uma daquelas cadeiras de balanço e coloquei na área de fora e fui observar as estrelas, eu na verdade nem entendo de estrelas, sei que brilham e enfeitam a noite, mas nunca compreendi as famosas constelações. Eu deitava na grama às vezes com meu irmão, nós montávamos nossas próprias constelações, e durante o dia procurávamos formas para as nuvens, mas depois que meu pai morreu, tudo perdeu sentido, nesta noite mesmo, apenas tive lembranças de uma época que eu era feliz sem medidas, de uma época que saía para abraçar o papai no trabalho perto de casa, logo após a escola, a época que comia o lanche com muito queijo que mamãe preparava, essas lembranças são o que ficam em nossa memória, ainda bem que são boas... Fazia tempo que numa noite eu tinha tantas lembranças legais. Esse será “o dia que mamãe fez drama”. Levantei e fui dormir após essa reflexão, essas lembranças.

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Fome de Companhia Maria Luiza Frederico Costa

Maria Luiza Frederico Costa, 17 anos, cursa o 3º ano do Ensino Médio no Colégio Marista. “Embora eu não seja uma leitora assídua, faço leituras sobre assuntos que considero pertinentes, como os da área de humanas, por isso a afinidade com o gênero crônica.” 55


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Depois de sair de mais uma reunião, Carla, psicóloga que atende a diversas multinacionais no país, foi jantar sozinha em seu restaurante preferido na cidade. Ao chegar lá, sentou em sua mesa usual, a do canto de onde ela gostava de observar o comportamento das pessoas e as relações que elas estabeleciam entre si. Logo após fazer o pedido, notou que a maioria dos presentes, independentemente de estarem acompanhados ou não, estavam atualizando o feed do Instagram ou do Facebook, resolvendo problemas de trabalho no telefone, conversando no WhatsApp... Enfim, estavam fazendo de tudo, menos aproveitando a companhia das pessoas à sua volta. Seu pedido chegou, ela sorriu agradecendo ao garçom a gentileza. Enquanto jantava, observou uma menina tirando fotos... Ela aparentava estar triste, mas ao abrir a câmera, esbanjou um sorriso gigantesco, infelizmente um sorriso falso. E Carla se indagava até que ponto os compartilhamentos nas redes sociais são reais, até que ponto as pessoas que demonstram ter uma vida perfeita realmente têm. Ao terminar de comer, ela pediu a conta, e enquanto esperava, se questionava se a fome que as pessoas tinham não era também de atenção, de companhia. Foi embora com a certeza de que a virtualização das emoções tem apenas prejudicado as relações entre as pessoas, ao invés de torná-las mais fortes.

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Tchau Mateus Panzeri Fasolo

Mateus Panzeri Fasolo, 17 anos, cursa o 3º ano do Ensino Médio no Colégio Sigma. “Filho de uma professora, sempre fui instigado a ter a leitura como hábito em minha vida. Acredito que é através da leitura que podemos viajar sem ao menos sair de casa. Ler é a coisa mais mágica que se pode fazer. 59


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A primeira vez que tive de me despedir de algo foi ao dizer tchau a um aquário. Parece fútil, mas com a tristeza daquele garotinho de seis anos indo jogar os cacos de vidro vindos de um antigo vaso vazio, veio o pensamento de que eu também estava dizendo tchau ao meu futuro peixe. Consequentemente, continuaria sem ter um bichinho de estimação, por mais alguns bons anos. Mas essa crônica não é sobre coisas quebradas, crianças tristes e muito menos sobre peixes – que são literalmente os animais mais entediantes do mundo. Essa crônica é sobre a dificuldade que temos em dizer adeus às coisas. Por muito tempo pensamos que tudo aquilo ao nosso redor estará lá para sempre. Uma árvore pode viver séculos, uma rua será a mesma daqui a duas gerações, as mesmas lojas onde se vai comprar comida podem estar lá na noite seguinte, ou não. Não digo sobre o típico “Carpe diem”, longe disso. Eu falo sobre não darmos às coisas o devido valor, até notarmos que tudo é finito, e isso não é de forma alguma ruim. Às vezes nos esquecemos de que para termos o novo é preciso abandonar o antigo. Isso é meio que o sentido da vida: darmos o espaço de algo a outro algo, que um dia dará espaço a outro e assim sucessivamente. Por isso, quando o defunto autor de Machado de Assis disse: “Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado de nossa miséria”; Brás Cubas estava, por meio de uma metáfora muito bem estruturada, afirmando que não havia dado espaço ao novo, que se despedia da vida levando tudo consigo, inclusive a miséria humana. Assim, o personagem machadiano recusava-se a aceitar uma mudança, que poderia ser positiva, ou negativa. 61


O mais difícil do adeus está em se pensar que as despedidas são eternas, quando não podemos ter sequer a medida da eternidade. Ao me despedir do meu provável peixe futuro, achei que ficaria sem um bichinho para sempre. Onde meu peixe iria viver? Teria de encher copos d’água para ele? Jamais proporcionaria a um ser tal escassez! Quase dez anos depois, eu ganhei um filhote de cachorro, o que me provou que para todo fim há um recomeço. Assim, eu consegui entender que nem sempre uma despedida será ruim, pois toda despedida também é, irrefutavelmente, uma ponte para o novo. No final de 2018, eu estava terminando a 2ª série, e todos os meus colegas de classe se abraçaram e choraram. Aos gritos de “Uh é terceirão, uh uh é terceirão”, eu reparei que mal nós tomávamos consciência de que os 208 dias letivos que se seguiriam também seriam os últimos. Eu achava que a sala ficaria eternamente unida e que em 2019 todos seriam mais amigos, etc... Não foi bem isso o que aconteceu. No fim da segunda semana de aula, tudo estava como antes. Cada grupinho se separou um do outro, cada aluno solitário se manteve solitário, mas todos têm em seu subconsciente que em pouco mais de 7 meses nos despediremos e que isso será o fim de uma das fases de que tanto falei. Gosto de pensar na vida como um jogo, nós precisamos passar de fase para vivermos a aventura seguinte. Mas, cada fase tem seus próprios desafios, e estes, muitas vezes, nos desanimam a continuar. Um ano tem 365 dias, são 365 novas chances de tornar essa fase um pouquinho melhor, são 365 chances 62


de fazer o dia de hoje melhor que o de ontem, para, no momento em que deitar a cabeça no travesseiro, você poder se despedir de forma agradecida, por ter ao menos tentado. Quando joguei aqueles cacos no lixo, eu disse adeus a uma vontade que ficou vazia na estante da sala por meses. Quando gritei com a minha sala, eu disse adeus à segunda série. E este ano, quando eu sair do colégio pela última vez, direi adeus ao Ensino Médio. Eu poderia terminar dizendo a você, meu caro leitor, para aproveitar cada instante dessa fase – e você realmente deve –, ou poderia simplesmente deixar uma frase motivacional, mas esse não sou eu. Em cada despedida, em cada porta que for fechada, lembre-se de que outra estará à sua frente para ser aberta. A vida é feita de fases, cada despedida é a hora em que o famoso Super Mario entra no castelo, e nos dói pensar que qualquer delas está sendo finalizada. Mas, ao invés de ficar triste por ter acabado, porque não ficar feliz por ter acontecido?

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Segundos são batidas do coração Rafaela Valentini Ortega Ruiz

Rafaela Valentini Ortega Ruiz, 16 anos, cursa o 2º ano do Ensino Médio no Colégio Estadual Professor Newton Guimarães. “‘A leitura me acompanha desde sempre. Minha mãe, Janaina, lia histórias para mim antes mesmo de eu aprender a falar, então a leitura se associa ao carinho de mãe. Foi meu primeiro contato com a arte, e meu sonho sempre foi escrever um livro.” 65


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Eu vi em algum lugar que o mundo em que vivemos é como um relógio, onde todas as engrenagens devem estar funcionando para dar certo. Quando eu tinha nove anos, escrevi um poema sobre isso. Tão pouco tempo se passou desde então... Sinto-me ainda abraçada com meu ursinho de pelúcia neste momento. Mas não estou: daqui a dois meses farei 16 anos. Tão pouco tempo na terra, e ainda assim me sinto atrasada. Acho que nascemos atrasados, correndo desesperadamente para alcançar os outros que estão tão desesperados quanto nós. Talvez seja isso que o coelho branco dizia para Alice, quando ela atrasava sua vida descansando no jardim de casa. Não acredito que esse seja um problema moderno. Acho que estamos atrasados desde quando um jovem prodígio descobriu o fogo, e você coletava frutas o dia todo; o filho da costureira virava general, e você tentava entrar no exército; sua prima conseguia se casar com um marquês ainda aos 15 anos, e você ficava para titia. É desse relógio que falam que devemos pôr para funcionar? É esse que insiste em nos relembrar de nosso atraso? O otimismo de uma criança morre em tão pouco tempo, imagine então o que o tempo não fez com os adultos. Eles devem se sentir mais atrasados ainda. Atrasados perante outros homens e mulheres feitos de ouro e sonhos realizados. Façamos hoje o que nos deixa feliz. Aqui peço que o tempo não dobre as nossas paixões.

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PREMIAÇÕES ASSALTO LITERÁRIO Prêmio Todos por um Brasil de Leitores (MINC) UM DEDO DE PROSA NAS ESCOLAS Prêmio Circulação Literária/Circuito de escritores (MINC) SARAU: PROSA, POESIA & OUTRAS DELÍCIAS Prêmio Sarau/Circulação Literária (MINC) LONDRIX 2012 Prêmio Melhores Feiras Literárias do País (MINC/Biblioteca Nacional) LONDRIX 2017 Prêmio Melhores Feiras Literárias do País (MINC/Biblioteca Nacional) LONDRIX 15 ANOS Segunda melhor pontuação Feiras Literárias/ Secretaria Especial da Cultura/Ministério da Cidadania/Governo Federal



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O livro “Novos Cronistas Londrix” é o resultado do “Concurso Novos Cronistas Londrix” realizado no âmbito das escolas estaduais e particulares de Londrina, voltado ao Ensino Médio. Foi composto em Univers Light e impresso em papel polen 90g (miolo) e cartão supremo 240g (capa) em maio de 2019




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