ANARQUISMO E REVOLUÇÃO NEGRA e Outros Textos do Anarquismo Negro

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Sunguilar, passar a noite escutando as estórias e causos dos mais velhos, reunir-se em torno dos passatempos e adivinhos dos griôs, uma palavra do Kimbundu, muito usada em Angola para definir o costume de congregar, todos os dias ao anoitecer, as crianças, os mais velhos e a sabedoria. O Coletivo Editorial Sunguilar que se apresenta com esta primeira edição brasileira de Anarquismo e Revolução Negra, do estimado griô e combatente da libertação Lorenzo Kom’boa Ervin, tem como intenção, a partir de um recorte libertário e anticolonial, abrir um processo de debate e enfrentamento, por meio de publicações como esta que apresentamos agora, para a superação da supremacia branca e do eurocentrismo que ainda imperam no anarquismo e no que convencionamos chamar de “meio libertário”.

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Lorenzo é reconhecidamente um combatente revolucionário pela libertação do povo Negro; suas atividades como militante são um atentado à supremacia branca e seus privilégios, e desestruturam as pilastras construídas pelo capital para a manutenção das opressões que massacram os povos do mundo. Nascido no Tennessee-EUA, acumulou uma série de experiências e práticas que compartilha conosco neste livreto que ganha sua primeira versão traduzida no Brasil. Foi membro do SNCC – Comitê de Coordenação de Estudantes Não Violentos de Tennessee Leste, passando a integrar o Partido dos Panteras Negras depois da fusão desses dois grupos. Neste período lutou ativamente pelos direitos civis e contra a organização racista ku klux klan; com a formação de um júri especial para investigação das atividades dos grupos de emancipação Negra, foi obrigado a deixar os Estados Unidos e em fevereiro de 1969 sequestrou um avião e o desviou para Cuba, mas foi deportado para a Checoslováquia e entregue aos Estados Unidos que o condenou à prisão perpétua. Durante o cárcere Lorenzo atuou fortemente como representante sindical e advogado na luta pelo direito dos Presos e negros em seu país. Tornou-se Anarquista ainda na prisão e construiu uma visão alternativa sobre o processo revolucionário pautado na Libertação Negra e na Justiça Racial, na destruição do sistema capitalista, do Estado e das formas de opressão encontradas e reproduzidas na sociedade. Após 15 anos de injustiça e privação, Lorenzo e sua Luta ganham visibilidade internacional e em 1983 conquista a Liberdade. Atualmente segue lutando contra o racismo, a violência policial e em favor da liberdade de Presos Políticos. Este Livro foi escrito durante os anos em que esteve preso e tem a intenção de “discutir brevemente a natureza do Anarquismo e sua relevância para o Movimento de Libertação Negra”.


ANARQUISMO E REVOLUÇÃO NEGRA


Novembro de 2015


Lorenzo Kom’boa Ervin

ANARQUISMO E REVOLUÇÃO NEGRA e Outros Textos do Anarquismo Negro

Tr a d u ç ã o e N o t a s Mariana Correâ dos Santos (Coletivo Das Lutas) Revisão M. Ponciano

Sunguilar



Índice

Nota de Lorenzo Kom’boa Ervin à Edição brasileira

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Mate o branco que existe em você! Sobre anarquismo, eurocentrismo e supremacia branca 9 Dedicatória para a segunda edição de Anarquismo e Revolução Negra 13 Capítulo 1 - Uma Análise da Supremacia Branca Como os Capitalistas Usam o Racismo

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Raça e Classe: o Caráter Combinado da Opressão da População Negra

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Então, que tipo de Grupo AntiRRacista é necessário? O Mito do “Racismo Reverso” Esmagar a Direita!

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Derrotar a supremacia branca!

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Capítulo 2 - Onde está a luta Negra e para onde deveria estar indo? Um Chamado para um Novo Movimento Negro de Protesto Qual forma esse movimento tomará? Estratégia e Tática Revolucionária Um Boicote Negro aos Impostos

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Um Boicote dos Negócios Americanos

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A Comuna: O Controle Comunitário da Comunidade Negra Construindo um programa de sobrevivência Negra O Desemprego e a Falta de Moradia

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A Necessidade de uma Federação dos Trabalhadores Negros Crimes Contra o Povo

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Uma Greve Nacional sobre Aluguéis e Ocupações Urbanas Uma Greve Geral Negra

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A Epidemia de Drogas: Uma Nova Forma de Genocídio Negro? Intercomunalismo Africano

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Defesa Armada da Comuna Negra Insurreição

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Capítulo 3 - Teoria e Prática Anarquista Tipos de Anarquistas

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Pensamento Anarquista Versus Marxista- Leninista sobre a Organização da Sociedade

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Princípios Gerais do Anarco-Comunismo

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Capitalismo, Estado e a Propriedade Privada Anarquismo, Violência e Autoridade

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Anarquistas e Organização Revolucionária Por Que Eu Sou Um Anarquista? O que Eu Acredito

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Uma Breve Biografia de Lorenzo Kom’boa Ervin Anexo: Anarquismo Negro, Ashanti Alston

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NOTA DE LORENZO KOM’BOA ERVIN À EDIÇÃO BRASILERA

As condições dos descendentes de africanos escravizados e daqueles que sofreram sob o sistema colonial europeu é algo que tem sido ignorado pelos movimentos anarquistas majoritariamente brancos. Isto é um erro tanto estratégico, quanto político, que condenou o movimento anarquista a ser um projeto das classes média e alta branca. Felizmente, os povos não-brancos autônomos que são simpáticas ao anarquismo tem falado e exigem serem ouvidos. África, Ásia e América Latina têm visto as pessoas não-brancas oprimidas saírem de seus “lugares” e exigirem autonomia: Autonomia Negra. Este livro foi escrito enquanto eu estava na prisão, num momento em que havia poucas vozes pretas na tendência anarquista. O porto riquenho negro e anarquista, Martin Sostre, que me levantou logo após a CIA e o FBI me capturar na Alemanha (para onde eu tinha fugido), em seguido preso em Nova York em 1969, antes de me extraditarem alguns meses depois para a Geórgia . Ele me ensinou sobre os princípios do anarquismo revolucionário e me disse que havia um enorme potencial para a luta negra nos EUA, África e outros lugares onde as pessoas negras estavam sendo oprimidas. Eu a transmiti a todos os leitores neste período a tomar este texto como uma arma escrita, e uma ferramenta de organização para estender o Anarquismo além dos radicais


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brancos de sempre, para os povos pobres e trabalhadores pretos e pardos em todo o mundo. Anarquismo e a Revolução Negra significa liberdade para todos nós. Tradução: Matheus Dias


MATE O BRANCO QUE EXISTE EM VOCÊ!

Sobre anarquismo, eurocentrismo e supremacia branca

O purismo é uma espécie de enfermidade que há muito consome, estanca e limita o potencial revolucionário da ideologia libertária. O anarquismo, entendido aqui como o conjunto de métodos forjados historicamente pelas lutas libertação e sonhos de emancipação das pessoas oprimidas ao redor do mundo, segue sendo derrotado internamente por uma hegemonia branca e eurocêntrica, que ainda predomina sobre o que convencionamos a chamar de “meio libertário”. Em detrimento de algum acumulo, ainda que problemático, sobre as questões de gênero e sexualidade, a questão racial segue sendo relegada, quando muito, tratada através de um discurso antirracista genérico e descolado da realidade. Supremacia branca, Estado e Capital conformam o tripé da dominação que se perpetua há mais de 500 anos nestas terras encharcadas de sangue que eles chamaram de Brasil. O estupro, o linchamento e o genocídio dos povos originais e do povo negro são elementos estruturantes da nossa realidade histórica. Por tudo isso, e tantas outras questões impossíveis de serem tratadas nessa breve apresentação, resolvemos empreender o esforço de traduzir e publicar o presente livro. Uma obra que contem não apenas um conjunto pertinente de reflexões, mas que se desdobra em um programa, em um


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convite à revolução negra, tanto mais ambicioso quanto necessário. O pensamento de Lorenzo Kom’boa Ervin, se não desvenda todos os meandros da tragédia vivida por negras e negros no nosso continentes, ou aponta com precisão caminhos, nem por isso nos é menos útil para a transformação da nossa realidade. Podemos afirmar, sem receio, que para muito além de um manual de instruções ou vulgata ideológica o livro é fonte de inspiração. Ele é vigoroso naquilo que há de mais fundamental em um clássico, ele vence o tempo pela sinceridade e força da mensagem, e chega ao Brasil para alargar a estreita margem que inibe e amesquinha o crescimento do pensamento anarquista em toda a parte. Coletivo Editorial Sunguilar


ANARQUISMO E REVOLUÇÃO NEGRA e Outros Textos do Anarquismo Negro

Lorenzo Kom’boa Ervin



DEDICATÓRIA PARA A SEGUNDA EDIÇÃO DE ANARQUISMO E A REVOLUÇÃO NEGRA

Dedico esta segunda edição do “Anarquismo e Revolução Negra” à camarada Ginger Katz, uma das fundadoras da Cruz Negra Anarquista1 Norte-Americana original, há quase 15 anos. Foi Ginger Katz que praticamente sozinha organizou a composição, edição e impressão da primeira edição, e então ela saiu e vendeu-os aos milhares. Sem ela, esta segunda edição não teria sido possível. Ela teve que lutar para conseguir os livros publicados, e para obter uma audiência para mim e para outros Anarquistas Negros2, que tinham coisas a dizer sobre a direção do movimento. Os “Anarquistas puristas”, que queriam manter o movimento todo branco e individualista, como um fenômeno contracultural, lutaram contra ela com unhas e dentes. Algumas destas críticas e conflitos foram um sofisticado e velado racismo, e estou certo de que eles frustraram e exauriram a camarada Ginger. Se assim foi mesmo, ela nunca repassou para mim, mas eu ouvi de outras fontes. Lembro-me de minhas relações com os Anarquistas no movimento durante a década de 1970, que negavam a existência do racismo como algo contra o qual devêssemos lutar Grupo de apoio anarquista, que fornece literatura política em prisões, organiza ajuda material e legal para prisioneiros ao redor do mundo. (n.e.) 2 A tradução seguiu o autor no original onde ele se refere a determinadas palavras com a letra maiúscula (n.e.) 1


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por completo. Mas não a camarada Ginger. Ela era uma das poucas Anarquistas que entendiam como foi organizado o Estado norte-americano, e como o privilégio da pele branca era usado para dividir a classe trabalhadora, e para continuar a ditadura do Capitalismo através de táticas como a de “dividir para governar”. Eu ainda tenho algumas das cartas que Ginger me escreveu há 15 anos atrás, quando eu estava na prisão. Mas perdi contato com ela desde o início da década de 1980. Em 1983, fui libertado da prisão, e me afastei dos movimentos Anarquistas e movimentos prisionais, então eu não sei onde ela está. Mas onde quer que esteja, espero que ela saiba o quanto eu aprecio o que ela fez para tornar este projeto uma realidade, e como ela lançou as sementes para o crescimento do Movimento Socialista Libertário presente e futuro deste continente, e espero que de todo o mundo. Tenho esperança de que um dia possa encontrá-la, talvez quando eu estiver em uma turnê nacional deste ou de outros livros que escrevi, e simplesmente agradecer-lhe por ter me ajudado, quando eu não podia me ajudar. Para esta camarada, darei o meu amor e respeito sempre. Obrigado. Lorenzo Kom’boa Ervin Setembro 1993


CAPÍTULO 1

U MA A NÁLISE

DA

S UPREMACIA B RANCA

Este panfleto irá discutir brevemente a natureza do Anarquismo e sua relevância para o Movimento Negro de Libertação. Porque tem havido tantas mentiras e distorções sobre o que realmente significa Anarquismo, tanto por seus adversários ideológicos de esquerda, quanto de direita, que será necessário discutir os muitos mitos popularizados sobre o assunto. Isso por si só merece um livro, mas não é a intenção deste folheto, que é apenas para apresentar ao movimento Negro os ideais Anarquistas revolucionários. Caberá ao leitor determinar se essas novas ideias são válidas e dignas de adoção. Como os Capitalistas usam o Racismo O destino da classe trabalhadora branca sempre foi ligado à condição dos trabalhadores Negros. Retrocedendo até o período colonial americano, quando o trabalho Negro foi importado pela primeira vez para a América, escravos Negros e servos por contrato3 foram oprimidos juntos com os brancos das classes mais baixas. Mas, quando os servos A servidão por contrato caracterizava-se enquanto forma de tutela assumida pelo trabalhador ao receber do seu tutor/senhor os recursos para atravessar o Atlântico, desde o Velho Mundo, e se radicar em alguma parte das 13 colônias inglesas na América do Norte. Geralmente o tempo de servidão não excedia o limite de 6 anos. (n.e.) 3


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por contrato da Europa juntaram-se aos Negros para rebelarem-se contra o seu destino no final de 1600, a classe proprietária decidiu “livrá-los”, dando-lhes um status especial como “brancos” e, portanto, uma participação no sistema de opressão. Incentivos materiais, bem como o status social então recentemente elevado, foram utilizados para garantir a fidelidade dessas classes mais baixas. Esta invenção da “raça branca” e a escravidão racial dos Africanos serviram como uma luva, e foi a forma como as classes superiores mantiveram a ordem durante o período da escravidão. Até mesmo os brancos pobres tinham aspirações de fazer melhor, desde que a sua mobilidade social fosse assegurada pelo novo sistema. Esta mobilidade social, no entanto, foi conseguida à custa dos escravos africanos, que eram superexplorados. Mas a corda foi apertada para os dois lados, exploraram-se os Africanos, mas também se aprisionou o trabalho branco. Quando estes procuraram organizar sindicatos ou lutar por salários mais altos no Norte ou Sul, foram rechaçados pelos ricos, que usavam o trabalho Negro escravizado como seu principal modo de produção. O chamado trabalho “livre” do trabalhador branco não tinha a menor chance. Embora os Capitalistas utilizassem o sistema de privilégios da pele branca com grande eficácia para dividir a classe trabalhadora, a verdade é que os Capitalistas só favoreceram os trabalhadores brancos para usá-los contra os próprios interesses destes, não porque existia uma verdadeira unidade da classe “branca”. Os Capitalistas não queriam trabalhadores brancos unidos com Negros contra seu domínio e o sistema de exploração do trabalho. A invenção da “raça branca” era uma farsa para facilitar essa exploração. Os trabalhadores brancos foram subornados para permitir a sua própria escravidão assalariada e a super-exploração dos


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Africanos; eles fecharam um acordo com o diabo, o que emperrou todos os esforços pela unidade da classe nos últimos quatro séculos. A subjugação contínua das massas depende da competição e desunião interna. Enquanto existir discriminação, e as minorias raciais ou étnicas forem oprimidas, toda a classe trabalhadora será oprimida e enfraquecida. Isto se dá porque a classe Capitalista é capaz de usar o racismo para fazer baixar os salários de segmentos específicos da classe trabalhadora, incitando o antagonismo racial e forçando uma disputa por empregos e serviços. Esta divisão é um desdobramento que, em última análise, enfraquece os padrões de vida de todos os trabalhadores. Além disso, instigando brancos contra Negros e outras nacionalidades oprimidas, a classe Capitalista é capaz de impedir que os trabalhadores se unam contra o inimigo de classe comum. Enquanto os trabalhadores estão lutando entre si, a dominação de classe Capitalista está segura. Se uma resistência eficaz precisa ser montada contra a atual ofensiva racista da classe Capitalista, a máxima solidariedade entre os trabalhadores de todas as raças é essencial. A maneira de derrotar a estratégia Capitalista é fazendo com que os trabalhadores brancos defendam os direitos democráticos conquistados pelos Negros e outros povos oprimidos, depois de décadas de duros confrontos, lutando para desmantelar o sistema de privilégios da pele branca. Os trabalhadores brancos devem apoiar e adotar as demandas concretas do movimento Negro, e devem trabalhar para abolir a identidade branca inteiramente. Estes trabalhadores brancos devem lutar pela unidade multicultural, e devem trabalhar com ativistas Negros para construir um movimento antirracista para desafiar a supremacia branca. No entanto, também é muito importante reconhecer o direito


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do movimento Negro em seguir uma estrada independente na direção de seus próprios interesses. Isso é que significa, de fato, autodeterminação. Raça e Classe: o Caráter Combinado da Opressão da População Negra Devido à maneira como esta nação4 se desenvolveu através da exploração do trabalho Africano e com a manutenção de uma colônia interna, Negros e outros povos não brancos são oprimidos duplamente: tanto como membros da classe trabalhadora quanto como uma nacionalidade racial. Como Africanos na América, eles são um povo distinto, perseguido e segregado na sociedade norte-americana. Ao lutar por seus direitos humanos e civis, acabaram por entrar em confronto com todo o sistema Capitalista, não apenas contra indivíduos racistas nas várias regiões do país. A verdade logo se tornou evidente: os Negros não podem obter a sua liberdade sob este sistema, porque, com base na concorrência historicamente desigual, a exploração Capitalista é inerentemente racista. Nesta conjuntura, o movimento pode ir na direção da mudança social revolucionária, ou limitar-se a conquistar reformas e direitos democráticos dentro da estrutura do Capitalismo. Há potencial para ambos. Na verdade, a fraqueza do movimento dos direitos civis de 19605 foi que ele Ele se refere aos Estados Unidos da América. (n.e.) O Movimento dos Direitos Civis de 1960 nos Estados Unidos da América consistia em adquirir reformas na constituição norteamericana, visando os direitos iguais, a abolição da discriminação e da segregação racial no país, direitos esses que foram garantidos em lei após a abolição da escravatura, mas que não foram efetivamente aplicados, e constantemente desrespeitados pela Ku Klux Klan. (n.e.) 4 5


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se aliou aos liberais do Partido Democrata, e se acomodou com a legislação de proteção aos direitos civis, em vez de forçar por uma revolução social. Este autopoliciamento dos líderes do movimento é uma lição abjeta sobre o porquê do novo movimento ter que ser autoativado e não dependente de personalidades e políticos. Mas se esse movimento realmente se transformar em um movimento social revolucionário, ele deve finalmente unir forças com movimentos similares, como Gays, Mulheres, trabalhadores radicais e outros que estão em revolta contra o sistema. Por exemplo, na década de 1960, o Movimento Negro de Libertação funcionou como um catalisador para difundir ideias e imagens revolucionárias, que deu à luz aos vários movimentos de oposição que vemos hoje. Isto é o que nós acreditamos que acontecerá de novo, embora não seja o suficiente para chamar de maneira insensata por “unidade”, tanto quanto a esquerda branca faz. Devido à dupla forma de opressão dos trabalhadores não brancos e da profundidade do desespero social criado, os trabalhadores Negros irão atacar primeiro, estejam seus aliados potenciais disponíveis para fazê-lo ou não. Esta é a autodeterminação e por isso é necessário que os trabalhadores oprimidos construírem movimentos independentes para unir o seu próprio povo em primeiro lugar. Por isso, é absolutamente necessário que os trabalhadores brancos defendam os direitos e conquistas democráticas dos trabalhadores não brancos. Esta atividade autônoma das massas oprimidas (como o Movimento Negro de Libertação) é intrinsecamente revolucionária, e é uma parte essencial do processo revolucionário social de toda a classe trabalhadora. Estas não são questões marginais; não podem ser rebaixadas ou ignoradas pelos trabalhadores brancos que pretendem um triunfo revolucionário. É preciso que se reconheça como


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um princípio cardeal, que todos os povos oprimidos têm o direito à autodeterminação, incluindo o direito de administrar suas próprias organizações, bem como a luta pela sua libertação. As vítimas de racismo sabem melhor como lutar contra isso. Então, que tipo de Grupo AntiRRacista é necessário? O Movimento Negro precisa de aliados em sua batalha contra a classe Capitalista racista – não o habitual apoio liberal ou “pseudorradical”, mas o apoio genuíno e solidário da classe operária revolucionária, também chamado de “ajuda mútua” pelos Anarquistas. A base de tal unidade, porém, deve ter princípios e fundamentos nos interesses de classe, em vez de em sentimento liberal de culpa ou de estar fazendo uma “boa ação” ou oportunismo e manipulação por partidos políticos liberais ou radicais. As necessidades do povo oprimido devem ser o mais importante, mas eles querem apoio genuíno, não falsidade ou retórica esquerdista. O movimento Anarquista, que é predominantemente branco, deve começar a entender que precisa fazer o trabalho de propaganda entre os Negros e outras comunidades oprimidas e que eles precisam tornar possível aos Anarquistas não brancos se organizarem em suas comunidades, proporcionando-lhes recursos técnicos (a impressão de zines, vídeos e produção de CD, etc.) e ajudar com recursos financeiros. Uma das razões porque existem tão poucos Anarquistas Negros é porque o movimento não fornece meios para alcançar as pessoas de cor, conquistá-las para o Anarquismo – e ajudá-las a se organizar. Isso tem que mudar se queremos que a revolução social ocorra nos Estados Unidos, e se que-


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remos que o Anarquismo na América do Norte seja mais do que o movimento dos “direitos brancos”. O tipo de organização necessária deve ser uma organização de “massa”, esforçando-se para unir os trabalhadores em uma luta de classes comum, mas deve ser capaz de reconhecer o dever de apoiar e adotar as exigências especiais dos Negros e outros povos não brancos como sendo de toda a classe trabalhadora. Deve desafiar a supremacia branca diariamente, deve refutar a propaganda e a filosofia racista, e deve conter a mobilização e os ataques racistas, com autodefesa armada e luta de rua, quando necessário. O objetivo de tal movimento de massa é ganhar a classe trabalhadora branca para uma posição de antissupremacia branca e de consciência de classe; para unir toda a classe trabalhadora; e confrontar diretamente e derrubar o Estado Capitalista e seus governantes. A cooperação e a solidariedade de todos os trabalhadores são essenciais para uma revolução Social plena, e não apenas a de seu privilegiado setor branco. Por exemplo, uma organização existente como a Ação Antirracista6 (ARA), se adotar essas políticas como um grupo Anarquista, deve receber uma prioridade maior de nosso movimento. Cada cidade e município deve ter coletivos do tipo da ARA, e cada federação Anarquista existente deve ter grupos de trabalho internos que trabalhem em torno do racismo e brutalidade policial. Na verdade, o tipo de grupo de que eu estou falando seria, em si, uma federação para coordenar as lutas no nível nacional e até mesmo internacional. Anti-Racist Action – ARA: Rede descentralizada de antifascistas e antirracistas na América do Norte que organizam ações para desfazer grupos neonazistas e de supremacia branca e ajudam criar atividades contra ideologias fascistas e racistas. (n.e.) 6


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Este seria um movimento revolucionário, não se contentaria em sentar e ler livros, eleger alguns políticos Negros ou “colegas de trabalho” para o Congresso ou para a Assembléia Legislativa do Estado, escrever cartas de protesto, circular petições ou outras táticas mansas como essas. Levaria os exemplos dos antigos movimentos operários radicais como os IWW7, bem como o Movimento dos Direitos Civis dos anos 1960, para mostrar que somente as táticas de ação direta8 de confronto e protesto militante renderão qualquer resultado. Também teria como exemplo a rebelião de 1992 em Los Angeles para mostrar que as pessoas se revoltarão, mas que é preciso ter aliados poderosos, que estendam ajuda material e informações de resistência, e um movimento de massa existente para levá-lo para a próxima etapa e espalhar a insurreição. Os Anarquistas devem reconhecer isso e ajudar a construir um grupo antirracista militante, que seria ao mesmo tempo um grupo de apoio para a revolução Negra e um Industrial Workers of the World (Trabalhadores Industriais do Mundo) é um sindicato adepto da teoria sindicalista revolucionária (democracia laboral e autogestão trabalhadora). (n.e.) 8 A formalização da tática de ação direta acontece já na Associação Internacional dos Trabalhadores (1864-1876). Os anarquistas na década de 1880, através da “propaganda pelo fato”, contribuíram bastante para que o conceito de ação direta passasse a ser interpretado como prática de autodefesa e de violência revolucionária. Em fins do século XIX, o sindicalismo revolucionário faz da ação direta, através da sabotagem, do boicote e da greve geral parte central do seu conjunto estratégico. Na História estadunidense, a ação direta aparece muitas vezes associada às greves selvagens e à desobediência civil. Não seria incorreto afirmar que ação direta corresponde a toda tática que prescinde de intermediários ou mediadores - políticos, instituições de governo e patrões – para que os objetivos dos explorados e oprimidos sejam alcançados (n.e.). 7


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centro de organização de massa para unir a classe. É muito importante arrancar a influência de massa que tem o movimento de igualdade racial, das mãos da ala esquerdo-liberal democrata da classe dominante. A esquerda liberal pode falar sobre o bom combate, mas enquanto não se colocarem para derrubar o Capitalismo e esmagar o Estado, eles vão trair e sabotar toda a luta contra o racismo. A estratégia da esquerda liberal é desviar a consciência de classe para consciência estritamente de raça. Eles se recusam a se basear nos interesses materiais de classe ao recorrerem ao apoio das classes trabalhadora e média dos EUA pelos direitos dos Negros, e como resultado permitem que a direita capitalize, sem oposição, em cima do sentimento racista latente entre os brancos, bem como sobre a sua insegurança econômica. O tipo de movimento que proponho vai entrar na brecha e atacar a supremacia branca, e desmantelar os próprios fios que mantêm o Capitalismo coeso. Sem o consenso branco em massa para governar o estado norte-americano e o sistema de privilégios da pele branca, o Capitalismo não poderia continuar no próximo século! O Mito do “Racismo Reverso” “Discriminação Reversa” tornou-se o grito de guerra de todos os racistas que tentam reverter os ganhos de direitos civis conquistados pelos Negros e outras nacionalidades oprimidas em habitação, educação, emprego e todos os aspectos da vida social. Os racistas sentem que essas coisas só devem ir para os homens brancos, e que “minorias” e as mulheres estão levando-as para longe dos homens brancos. Milhões de trabalhadores brancos, dia sim, dia não, são bombardeados por essa propaganda racista, e que está tendo um grande impacto. Muitos brancos acreditam nessa men-


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tira de discriminação reversa contra os brancos. Essa crença é abraçada por muitos trabalhadores brancos ingênuos, que consideram que a “discriminação reversa” seja pelo menos parcialmente responsável pelos problemas econômicos que muitos deles sofrem atualmente. Tais crenças foram impulsionadas por Ronald Reagan em seus dois mandatos como presidente dos EUA. Reagan tentou usar esta linha de propaganda racista para precipitar um retrocesso das conquistas de direitos civis de imigrantes oprimidos. Os racistas reivindicam o conceito de discriminação reversa que acaba por sugerir que a discriminação em grande escala contra os Negros e outros grupos racialmente oprimidos é uma farsa. Afirmam categoricamente a ideia de que a aprovação da Lei de Direitos Civis de 1964 acabou com a discriminação contra os Negros, Latinos e outras nacionalidades, e contra as mulheres, e agora a lei é discriminatória contra os brancos. Os racistas dizem que as minorias raciais e as mulheres são os novos grupos privilegiados na sociedade americana. Alegam que eles têm a opção de escolher seus postos de trabalhos, tem preferência nos estágios universitários, o melhor sistema de habitação, subsídios do governo, e assim por diante, em detrimento dos trabalhadores brancos. Os racistas dizem que programas para acabar com a discriminação não são apenas desnecessários, mas, na verdade, são tentativas de minorias ganharem poder às custas de trabalhadores brancos. Eles dizem que os Negros e as mulheres não querem igualdade, mas sim a hegemonia sobre trabalhadores brancos. Um movimento Anarquista antirracista iria contrariar tal propaganda e iria expô-la como uma arma da classe dominante. A Lei dos Direitos Civis não causou inflação por gastos “excessivos” no bem-estar, na habitação, ou em outros serviços sociais. Além disso, os Negros não estão discri-


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minando os brancos: os brancos não estão sendo levados para habitações no gueto; nem estão sendo demitidos ou proibidos de exercer profissões; privados de uma educação decente; forçados à desnutrição e morte precoce; sujeitados à violência racial e repressão policial, forçados a sofrer níveis desproporcionais de desemprego e outras formas de opressão racial. Mas, para os Negros, a opressão começa com o nascimento e a infância. A taxa de mortalidade infantil é quase três vezes maior do que a dos brancos, e continua por toda a vida. O fato é que a “discriminação reversa” é uma farsa. Discriminação AntiNegros não é uma coisa do passado. É a realidade sistemática e onipresente de hoje! Malcolm X assinalou, em 1960, que nenhum estatuto de direitos civis ia dar às pessoas Negras a sua liberdade, e indagou: se os Africanos na América eram realmente cidadãos por que seriam necessários os direitos civis? Malcolm X observou que os direitos civis tinham sido alcançados através de grande sacrifício e, portanto, deveriam ser aplicados, mas se o governo não cumprisse as leis, então as pessoas teriam de fazê-lo, e o movimento teria de pressionar as autoridades governamentais para proteger os direitos democráticos. Para unir as massas de pessoas por trás de um movimento antirracista da classe trabalhadora, as seguintes exigências práticas, que são uma combinação de reformas revolucionárias e radicais, para garantir direitos democráticos, são necessárias: 1. Solidariedade dos trabalhadores Negros e brancos. Luta contra o racismo no trabalho e na sociedade. 2. Direitos democráticos e humanos plenos para todos os povos não brancos. Fazer os sindicatos combaterem o racismo e a discriminação. 3. Autodefesa armada contra ataques racistas. Construir movimento de massas contra o racismo e o fascismo.


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4. Controle comunitário da polícia, substituição de policiais por uma força de defesa comunitária autoeleita pelos moradores. Fim da brutalidade policial. Responsabilização judicial de todos os policiais assassinos. 5. Dinheiro para a reconstrução das cidades. Criação de mutirão para reconstrução de áreas urbanas, constituídas de moradores da comunidade. 6. Emprego pleno e socialmente útil, com salários sindicalizados para todos os trabalhadores. Acabar com a discriminação racial no emprego, no treinamento e na promoção. Estabelecer programas de ação afirmativa para reverter as práticas racistas de emprego do passado. 7. Banir a Ku Klux Klan9, Nazistas e outras organizações fascistas. Responsabilização judical de todos os racistas por ataques a pessoas de cor. A Ku Klux Klan surge em 1865, no sul dos Estados Unidos, para impedir que Negros recém-libertados se integrassem à sociedade. De caráter extremamente violento, racista e supremacista, foi reconhecido como grupo terrorista e banido para ilegalidade, por aterrorizar Negros e atacar brancos que protegiam a população negra. Voltaram do anonimato em 1915, devido ao lançamento do filme pró-Klan, “O Nascimento de uma Nação”, como organização fraternal racista, lutando pelos “direitos dos brancos” protestantes sobre os Negros, católicos, judeus e asiáticos, e outros imigrantes. Foram responsáveis por mortes, linchamentos e outras violências contras esses grupos. No final da década de 1940, os Klans retomaram seus interesses entre os WASP (protestantes brancos anglo-saxões, em inglês) frustrados e enganados pela direita racista norte-americana. O fim da segregação fez com que surjam novamente, com suas cruzes em fogo. Em Estados como o Alabama, eles estavam infiltrados em todas as camadas sociais e políticas. Diversos assassinatos entre 1940 e 1970 foram creditados aos Klans, inclusive o de Medgar Evers, lider do NAACP no Mississipi. Hoje, apesar de menores, ainda atuam nos EUA, em aliança com fascistas e neonazistas. (n.e.) 9


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8. Admissões livres e gratuita em todas as instituições de ensino para todos aqueles qualificados para cursaremnas. Sem exclusão racial no ensino superior. 9. Fim dos impostos para trabalhadores e pobres. Tributar os ricos e as grandes corporações. 10. Assistência de saúde e assistência médica completa para todas as pessoas e comunidades, sem distinção de raça e de classe. 11. Liberdade para todos os presos políticos e vítimas inocentes da injustiça racial. Abolir as prisões. Combater a disparidade econômica. 12. Controle democrático dos sindicatos pela base através da construção de um movimento Anarcossindicalista. Tornar os sindicatos ativos em questões sociais. 13. Parar o assédio racista e a discriminação contra trabalhadores informais. Esmagar a Direita! “O fascismo não é para ser debatido. Ele deve ser esmagado...” (Buenaventura Durrutti, Espanhol revolucionário Anarquista de 1936). Enquanto a sociedade Capitalista se deteriora, as pessoas vão olhar para soluções radicais e totalitárias para a miséria que enfrentam. Os Nazistas e a Klan estão entre as forças políticas de direita que oferecem, ou parecem oferecer, uma resposta radical para os problemas sociais atuais das massas brancas. Que essas soluções são falsas importa pouco para as pessoas confusas e histéricas procurando desesperadamente uma saída para a crise socioeconômica que o mundo Capitalista está enfrentando. Setores da classe média, camadas da classe trabalhadora branca em melhor situação, os trabalhadores brancos pobres e desempregados,


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todos envenenados pelo racismo desta sociedade, são presas fáceis para os demagogos Nazistas e da Klan. Os Nazistas skinheads10 e a Klan são as organizações mais extremistas da direita racista/fascista nos Estados Unidos. Hoje, esses grupos são pequenos, e muitos liberais gostam de minimizar a ameaça que representam, até mesmo defendem seus “direitos” legais de espalhar o seu veneno racista. Mas esses grupos têm um enorme potencial de crescimento e podem se tornar um movimento de massas em um período de tempo surpreendentemente curto, especialmente durante uma crise econômica e política, como a que estamos agora. Baseando-se em forças sociais brancas alienadas, os Nazistas e a Klan estão tentando construir um movimento de massa que possa aliar-se aos Capitalistas no momento adequado e assumir o poder do Estado. Quando os Capitalistas sentirem que eles podem precisar de um porrete adicional para manter os trabalhadores e oprimidos na linha, eles se voltarão para os Nazistas, para a Klan e organizações de direita semelhantes, tanto com dinheiro quanto com apoio, além de fortalecer as polícias estaduais e forças militares. Se for necessário, os Capitalistas vão colocá-los no poder (como fizeram na Espanha, Alemanha e Itália, em 1920 e 1930), assim os fascistas vão esmagar os sindicatos e outras organizações da classe trabalhadora; colocar os Negros, Latinos, Gays, Asiáticos e Judeus em campos de conNazistas Skinheads, ou White Power Skinheads, é uma ramificação da cultura skinhead que possui individuos antissemitas e de supremacia branca. Também são conhecidos como nazi-skin, skin 88, ou carecas, que é uma denominação pejorativa utilizada pela maioria dos skinheads não-racistas. Muitos deles são afiliados à associação nacionalistas brancas. (n.e.)

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centração; e tornar o resto dos trabalhadores em escravos do Estado. Quando no poder, o fascismo é a sociedade autoritária por excelência, mesmo que tenha mudado sua face para uma mistura de racismo bruto e racismo mais sutil no estado democrático moderno. Assim, além dos Nazistas e a Klan, há outras forças de direita que vem aumentando nos últimos 15 anos. Elas incluem os políticos de direita ultraconservadores e pastores fundamentalistas Cristãos, juntamente com a seção de extrema direita da própria classe dominante Capitalista – os pequenos empresários, apresentadores de talk shows como Rush Limbaugh, juntamente com os professores, economistas, filósofos e outros quem, na academia, são fornecedores do armamento ideológico para a ofensiva Capitalista contra os trabalhadores e povos oprimidos. Nem todos os racistas usam lençóis. Esses são os racistas “respeitáveis”, os novos conservadores de direita, que são muito mais perigosos do que a Klan ou os Nazistas porque suas políticas se tornaram aceitáveis para grandes massas de trabalhadores brancos, que por sua vez, culpam minorias raciais por seus problemas. A classe Capitalista já mostrou a sua vontade de usar esse movimento conservador como uma cortina de fumaça para um ataque contra o movimento operário, a luta Negra e toda a classe trabalhadora. Muitos funcionários públicos do município foram demitidos; escolas, hospitais e outros serviços sociais foram restringidos; agências do governo foram privatizadas; itens de bem-estar social foram cortados drasticamente; e os orçamentos dos governos municipais e estaduais reduzidos. Os bancos inclusive usaram seus poderes ditatoriais para exigir esses cortes no orçamento, e até mesmo, tornavam inadimplentes cidades inteiras que não se submetessem. Isso aconteceu até com a cidade de Nova York na década de 1970. Portanto, esta não é apenas uma


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questão de pobres, caipiras idiotas que usam chapéu de palha. É sobre gangues de terno e gravata. Um primeiro passo para organizar e preparar a classe trabalhadora na crise econômica que enfrentamos é examinar diretamente a ameaça da direita. A legislação econômica repressiva feita por políticos conservadores para punir os pobres e a classe trabalhadora precisa ser derrotada; os impostos sobre os ricos e as grandes corporações devem ser aumentados, enquanto os impostos sobre os trabalhadores e os agricultores devem ser abolidos. Se os políticos não vão fazer isso, vamos organizar um boicote aos impostos para forçá-los a fazê-lo. Os Nazistas e a Klan precisam ser confrontados pela ação direta. Os Anarquistas, as organizações de trabalhadores e de esquerda têm de se organizar para defender os trabalhadores e oprimidos de agressões físicas pelos racistas, bem como realizar manifestações de massa nas ruas em comícios fascistas. Também devemos nos opor a escórias como a Operação Resgate11 que usa táticas fascistas violentas contra os direitos das mulheres ao aborto. Faz parte do mesmo campo de batalha. Aqui está a situação: David Duke, o “ex” membro da Klan agora faz parte da “respeitável” direita, que capta apoio entre a classe média alta. Enquanto isso, a Klan e os skinheads Nazistas estão fazendo progressos entre as diferentes camadas sociais, principalmente entre os trabalhadores brancos pobres e jovens brancos desempregados. Tom Metzger, líder da Resistência Ariana branca, chamou os skinheads Nazistas de seus “camisas pardas12 dos anos 90”. É muito Operação Resgate é uma das organizações ativistas cristãs contra o direito ao aborto nos EUA. (n.e.) 12 Referência aos Sturmabteilung, ou SA, “Tropas de Assalto” ou milícia paramilitar nazista durante o III Reich. Eram conhecidos como “camisas pardas”, devido à cor de seu uniforme. (n.e.) 11


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perigoso, mas não podemos deixar essas pessoas, sem disputa, para os Nazistas e a Klan. Devemos tentar conquistálos, ou pelo menos neutralizar qualquer oposição ativa da parte deles. Esta é uma tática defensiva, no mínimo, mas realmente não temos escolha, e é parte do nosso dever revolucionário organizar toda a classe trabalhadora de qualquer maneira. Devemos direcionar a propaganda para esses trabalhadores de forma a expor os Nazistas e a Klan como a escória que são, e mostrar como os trabalhadores estão sendo enganados. Devemos também tornar possível para eles combater esta miséria lutando contra o verdadeiro inimigo: a classe Capitalista. Mas, além de operações defensivas de propaganda, devemos realizar ação direta ofensiva para resistir fisicamente aos racistas quando isso for possível. Por exemplo, quando o equilíbrio de forças permite, é preciso organizarse para retirar à força os Nazistas e a Klan das ruas. A fim de esmagar os seus movimentos, devemos organizar ações do tipo Comando13 para atacar seus comícios, fechar suas livrarias e jornais, destruir as suas salas de reuniões, e acabar com suas marchas. Uma vez que os Nazistas e a Klan organizam-se ameaçando e usando violência, devemos estar preparados para responder a eles da mesma forma, mas melhor organizados e mais eficazes. Por exemplo, porcos como David Duke e Tom Metzger, que vem defendendo e liderando o movimento fascista na América, devem ser assassinados. Devemos nos infiltrar nas manifestações Nazistas e da Klan, de modo a atacar seus líderes e quebrá-los, ou nos escondermos a uma certa distância e atingi-los com rifles de alta potência. Eu sempre senti que os movimentos de Operações realizadas atrás das linhas inimigas, através de infiltração. (n.e.) 13


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guerrilha clandestinos, como o Exército Negro de Libertação14, Weather Underground15, e Frente de Libertação Novo Mundo16 deveriam ter atacado movimentos fascistas e assassinado seus líderes. Se paralisarmos os fascistas desta forma, podemos esmagar toda a direita e começar a destruir o Estado. Esta é a única maneira de parar fascistas. Morte à Klan e a todos os fascistas! Ninguém menos que Adolf Hitler foi citado como tendo dito: “Só uma coisa poderia ter parado o nosso movimento. Se nossos adversários tivessem entendido o seu princípio, e desde o primeiro dia tivessem esmagado com extrema brutalidade o núcleo de nosso novo movimento”. Devemos prestar atenção. Uma outra coisa que devemos fazer, e é algo que taticamente separa a nós Anarquistas dos Marxistas-Leninistas (ML), é que nós usamos nossos estudos sobre a personalidade autoritária para nos ajudar a nos organizar contra o recrutamento fascista. Todas as “Frentes Unidas” dos ML preocupam-se com uma abordagem política rigorosa para Fundado no ano de 1970 por ex-membros do Partido Pantera Negra, o exército surge em um determinado período em que o partido passa a sofrer um revés em circunstâncias do aumento da repressão encabeçada pelo FBI. Uma ala radical, então, decide romper com a direção nacional dos Panteras Negras e Huey Newton e aderir à concepção de guerrilha como forma de enfrentar o governo Capitalista norteamericano. (n.e.) 15 Organização formada por estudantes brancos de extrema-esquerda, objetivou a criação de um partido clandestino revolucionário para derrubar o governo norte-americano, apoiar os movimentos ligados à luta de Libertação Negra e se opor à Guerra do Vietnam. Realizou uma série de atentados a bomba nos anos 1970. (n.e.) 16 Organização Marxista-Leninista-Maoísta que realizou uma ofensiva de guerrilha urbana ininterrupta em torno da Bay Area e norte da Califórnia, de 1974 a 1977. (n.e.) 14


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derrotar o fascismo e impedi-los de alcançar o poder do Estado, sendo capazes de inaugurar o Partido Comunista em seu lugar. Eles organizam liberais e outros em coligações de massa apenas para tomar o poder e, em seguida, para esmagar todos os oponentes ideológicos radicais e liberais, depois de terem acabado com os fascistas. É por isso que os Estados “Comunistas” Stalinistas se assemelham tanto ao Estado policial fascista ao se recusarem a permitir pluralidade ideológica – ambos são totalitários. Para esse assunto, quanta diferença havia realmente entre Stalin e Hitler? Então, eu digo que apenas bater de volta fisicamente nos fascistas não é a questão. Precisamos estudar o que explica a psicologia de massa do fascismo e, então, derrotá-lo ideologicamente, indo ao cerne das convicções racistas profundamente arraigadas, emoções e condicionamento autoritário daqueles trabalhadores que apoiam o fascismo e toda a autoridade do estado policial. A terceira ponta da nossa estratégia é organizar entre os trabalhadores e outros setores oprimidos da sociedade um programa que aborde as suas necessidades. Como já foi dito, a Klan e os Nazistas recrutam entre certas camadas sociais – esmagadoramente – jovens brancos que estão sendo muito pressionados pela crise econômica. Essas pessoas veem Negros, Latinos, Asiáticos, Homossexuais, Mulheres e movimentos radicais como uma ameaça. Eles são racistas, reacionários e potencialmente muito violentos. Com medo de perder o pouco que têm, eles compram o mito de que os problemas são “aquelas pessoas” que tentam roubar seus empregos, casas, futuro, etc, em vez da decadência do sistema Capitalista. Enquanto parece não haver outra alternativa para lutar por uma fatia de um bolo social em encolhimento, os fascistas, com suas “soluções” simplórias, vão sendo ouvidos entre


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os elementos degenerados da classe trabalhadora. A única maneira de minar o apelo da direita é organizar um movimento operário Libertário que possa lutar e conseguir as coisas que as pessoas precisam – emprego, habitação decente e escolas, saúde, etc. Isso pode demonstrar concretamente que há uma alternativa para as “soluções” venenosas da direita, e pode angariar para as fileiras do movimento operário algumas dessas pessoas atraídas pelo movimento fascista. Em todas as áreas da nossa organização, precisamos realizar propaganda revolucionária consistente, explicando que o Capitalismo é responsável pelo desemprego, pelo aumento dos preços, as escolas e habitações podres e o restante da decadência que vemos ao nosso redor. Devemos expor o fato de que, embora os Nazistas, Klan e outros direitistas fazem dos Negros, Gays, Latinos e outras pessoas oprimidas o bode expiatório para a crise econômica, o seu verdadeiro objetivo é destruir o movimento operário por inteiro, cometer genocídio, iniciar uma guerra aventureira e, por sua vez, transformar os trabalhadores em escravos definitivos do Estado. Portanto, essas forças fascistas são uma ameaça para todos os trabalhadores de todas as nacionalidades. É necessário esclarecer que eles só querem usar os trabalhadores brancos como peões em seu esquema para criar uma ditadura fascista, e todos os trabalhadores devem se unir e revidar e derrubar o Estado, se quiserem ser livres. Morte à Klan, morte aos Nazistas! Derrotar a supremacia branca! Os próprios meios de controle de classe pelos ricos é o menos compreendido. A supremacia branca é mais do que apenas um conjunto de ideias ou preconceitos. É opressão nacional. No entanto, para a maioria das pessoas brancas, o


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termo evoca imagens dos Nazistas ou Ku Klux Klan em vez do sistema de privilégios da pele branca que realmente fortalece o sistema Capitalista nos EUA. A maioria das pessoas brancas, Anarquistas incluídos, acredita essencialmente que as pessoas Negras são “iguais” aos brancos, e que devemos lutar apenas em torno de “questões comuns” em vez de lidar com “questões raciais”, se é que geralmente veem qualquer urgência em lidar com o assunto. Alguns não vão abordar de uma forma tão contundente, eles vão dizer que “as questões de classe devem prevalecer”, mas isso significa a mesma coisa. Eles acreditam que é possível adiar a luta contra a supremacia branca para depois da revolução, quando, na verdade, não haverá revolução se a supremacia branca não for atacada e derrotada primeiro. Eles não vão vencer uma revolução nos EUA até que lutem para melhorar a situação dos Negros e dos povos oprimidos que estão sendo privados de seus direitos democráticos, além de serem superexplorados como trabalhadores. Quase desde o início do movimento socialista norteamericano, a posição econômica simplista de que o que todos os trabalhadores Negros e brancos devem fazer para alcançar uma revolução é se engajar em uma “luta (econômica) comum” foi usada para impedir a luta contra a supremacia branca. Na verdade, a esquerda branca sempre se colocou na posição chauvinista, já que a classe trabalhadora branca é a vanguarda revolucionária de qualquer maneira, por que se preocupar com uma questão que vai “dividir a classe”? Historicamente, os Anarquistas nem sequer levantam a questão de “políticas raciais”, como um Anarquista referiu-se da primeira vez que este panfleto foi publicado. Esta é uma evasão total da questão. No entanto, é a burguesia Capitalista que cria a desigualdade como uma forma de dividir para dominar toda a


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classe trabalhadora. O privilégio da pele branca é uma forma de dominação do Capital sobre o trabalho branco, bem como sobre o trabalho de imigrantes oprimidos, não apenas fornecendo incentivos materiais para “corromper” os trabalhadores brancos e colocá-los contra os Negros e outros trabalhadores oprimidos. Isso explica a obediência do trabalho branco ao Capitalismo e ao Estado. A classe trabalhadora branca não vê a sua melhor condição como parte do sistema de exploração. Depois de séculos de doutrinação política e social, eles sentem a sua posição privilegiada como justa e adequada, e o que é pior, “conquistada”. Eles se sentem ameaçados pelos ganhos sociais dos trabalhadores não brancos, e é por isso que eles são tão veementemente contra os planos de ações afirmativas para beneficiar as minorias em postos de trabalho e contratação, e para corrigir anos de discriminação contra eles. É também por isso que os trabalhadores brancos são os que mais se opõem à legislação de direitos civis. No entanto, é o funcionamento cotidiano da supremacia branca que devemos combater com mais vigor. Não podemos permanecer ignorantes ou indiferentes ao funcionamento de raça e classe no âmbito deste sistema, para que os trabalhadores oprimidos continuem vitimados. Durante anos, os Negros foram “contratados primeiro, demitidos primeiro” pela indústria Capitalista. Além disso, os sistemas baseados em tempo de serviço operam por discriminação racial explícita, e são pouco mais do que cargos para o trabalho branco. Os Negros até foram expulsos de setores industriais inteiros, como a mineração de carvão. Entretanto, os patrões do trabalho branco nunca se opuseram ou interviram em nome de seus irmãos de classe, nem o farão se não forem colocados contra a parede pelos trabalhadores brancos.


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Como foi salientado, há incentivos materiais para este oportunismo do trabalhador branco: melhores empregos, salários mais altos, melhores condições de vida em comunidades brancas, etc, enfim, o que veio a ser conhecido como o “estilo de vida da classe média branca”. Isto é o que o proletariado e a esquerda sempre lutaram para manter, e não a solidariedade de classe, algo que exigiria uma luta contra a supremacia branca. Este estilo de vida é baseado na superexploração do setor não branco da classe trabalhadora doméstica, e dos países explorados pelo imperialismo em todo o mundo. Nos Estados Unidos, o antagonismo de classes sempre incluiu o ódio racial como um componente essencial, mas é estrutural e não apenas ideológico. Como todas as instituições, a cultura e o sistema socioeconômico do Capitalismo dos EUA são baseados na supremacia branca, como então é possível combater verdadeiramente o domínio do Capital sem ser forçado a derrotar a supremacia branca? A economia de dois níveis, com brancos no topo e os Negros em baixo (mesmo com todas as diferenças de classe entre os brancos) tem resistido com sucesso a todas tentativas dos movimentos sociais radicais. Estes reformadores relutantes dançaram ao redor da questão, nunca chegaram ao centro dela. Ao conseguirem reformas, que em muitos casos são voltadas principalmente apenas para os trabalhadores brancos, estes radicais brancos ainda têm de derrubar o sistema e abrir o caminho para a revolução social. A luta contra o privilégio da pele branca também requer a rejeição da identificação cruel de norte-americanos como povo “branco”, em vez de Galês, Alemão, Irlandês, etc, como sua origem nacional. Esta designação “raça branca” é uma supernacionalidade artificial projetada para inflar a importância social das etnias europeias, e mobili-


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zando-as como ferramentas no sistema Capitalista de exploração. Na América do Norte, a pele branca sempre implicou liberdade e privilégio: a liberdade de obter um emprego, de viajar, de obter mobilidade social em relação a sua classe de origem, e todo um mundo de privilégios Eurocêntricos. Portanto, antes de uma revolução social ter lugar, deve haver uma abolição da categoria social da “raça branca” (com poucas exceções, neste ensaio vou começar a me referir a eles como “os Norte-Americanos”). Essas pessoas “brancas” devem se engajar em um suicídio de classe e traição de raça antes que realmente possam ser aceitos como aliados dos Negros e trabalhadores oprimidos por sua nacionalidade; toda a ideia por trás de uma “raça branca” é conformismo e os torna cúmplices de assassinato em massa e exploração. Se os brancos não querem vincular a si próprios o legado histórico do colonialismo, da escravidão e do genocídio, então eles devem se rebelar contra os mesmos. Assim, os “brancos” devem denunciar a identidade branca e seu sistema de privilégio, e eles devem lutar para redefinirem-se a si mesmos e sua relação com os outros. Enquanto a sociedade branca (através do Estado que diz estar agindo em nome de pessoas brancas) continuar a oprimir e dominar todas as instituições da comunidade Negra, a tensão racial continuará a existir, e os brancos em geral continuarão a ser vistos como o inimigo. Então, o que os norte-americanos devem começar a fazer para derrotar o oportunismo racial, os privilégios da pele branca e outras formas de supremacia branca? Primeiro, eles devem derrubar os muros que os separam de seus aliados não brancos. Então, juntos, eles devem travar uma luta contra a desigualdade no local de trabalho, nas comunidades e na ordem social. No entanto, não é apenas aos direitos democráticos dos povos Africanos a que nos referimos


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quando falamos de “opressão nacional.” Se isso fosse todo o problema, então talvez mais reformas poderiam obter a igualdade racial e social. Mas não, não é disso que estamos falando. Negros (ou Africanos na América) são colonizados. A América é uma pátria com uma colônia interna. Para os Africanos na América, a nossa situação é de opressão total. Nenhum povo é verdadeiramente livre até que possa determinar seu próprio destino. O nosso status é de cativo, de colonizados oprimidos, algo que deve ser destruído, não apenas esmagando o racismo ideológico ou a negação de direitos civis. Na verdade, se não for esmagada a situação de colônia interna primeiro, isso significa a probabilidade de uma continuação desta opressão de outra forma. Precisamos destruir a dinâmica social de uma existência muito real da América sendo feita por uma nação branca opressora e uma nação Negra oprimida (na verdade existem várias nações cativas). Isto exige que o Movimento de Libertação Negra liberte uma colônia, e é por isso que não é apenas uma simples questão dos Negros se juntarem aos Anarquistas brancos para lutar o mesmo tipo de batalha contra o Estado. É também por isso que os Anarquistas não podem tomar uma posição rígida contra todas as formas de nacionalismo Negro (especialmente grupos revolucionários, como o Partido dos Panteras Negras), mesmo que existam diferenças ideológicas sobre a forma como alguns deles são formados e operam. Mas os norte-americanos devem apoiar os objetivos dos movimentos de libertação dos racialmente oprimidos, e eles devem desafiar diretamente e rejeitar o privilégio da pele branca. Não há outra maneira e não há atalho; a supremacia branca é um grande obstáculo para a mudança social revolucionária na América do Norte.


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A Revolução Negra e outros movimentos de libertação nacional na América do Norte são partes indispensáveis da revolução social em geral. Trabalhadores norte-americanos devem unir-se aos Africanos, Latinos e outros, para rejeitar a injustiça racial, a exploração Capitalista e a opressão nacional. Trabalhadores Norte-Americanos certamente têm um papel importante em ajudar essas lutas a triunfarem. Só ajuda material, que pode ser organizada por trabalhadores brancos para a Revolução Negra, já poderia ditar a vitória ou derrota dessa luta numa fase específica. Eu estou demorando para explicar tudo isso, porque previsivelmente alguns Anarquistas puristas vão tentar discutir comigo que ter um movimento branco é até uma coisa boa, que os Negros e outras nacionalidades oprimidas só precisam subir a bordo do “Bom Navio Anarquista” (um navio de tolos?), e tudo isso é apenas “disparate de libertação nacional Marxista”. Bem, sabemos que parte da razão para um movimento Anarquista antirracista é a de desafiar essa perspectiva chauvinista bem no meio de nosso próprio movimento. Uma Federação Anarquista AntiRRacista não existiria apenas para lutar contra os Nazistas. Precisamos desafiar e corrigir posições racistas e doutrinárias sobre raça e classe dentro de nosso movimento. Se não pudermos fazer isso, então não podemos organizar a classe trabalhadora, Negra ou branca, e não somos úteis para ninguém.


CAPÍTULO 2

O NDE

ESTÁ A LUTA

N EGRA

E PARA ONDE DEVERIA ESTAR INDO ?

Alguns – geralmente a acomodada classe média Negra formada por profissionais, políticos ou empresários que participaram do movimento dos direitos civis em 1960 por poder ou destaque – vão dizer que não há mais nenhuma necessidade de lutar nas ruas pela liberdade Negra durante a década de 1990. Eles dizem que nós já “chegamos lá” e agora estamos “quase livres”. Eles dizem que a nossa única luta agora é para “integrar o capital”, ou ganhar riqueza para si e para os membros de sua classe social, embora eles falem da boca para fora sobre “empoderar os pobres”. Olha, dizem eles, nós podemos votar, nossos rostos Negros estão por toda a TV em comerciais e comédias de costume, existem centenas de milionários Negros, e temos representantes políticos nos corredores do Congresso e em repartições do Estado em todo o país. Na verdade, dizem eles, existem atualmente mais de 7.000 autoridades Negras eleitas, várias das quais governam as maiores cidades do país, e há até mesmo um governador de um estado do Sul, que é um Africano-Americano. Isso é o que eles dizem. Mas será que isso conta toda a história? O fato é que estamos em uma situação tão ruim ou ainda pior, economicamente e politicamente, como quando o movimento dos direitos civis começou na década de 1950. Um em cada quatro homens Negros está na prisão, em


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liberdade vigiada, liberdade condicional ou detido; pelo menos um terço ou mais das unidades familiares Negras são famílias monoparentais hoje atoladas na pobreza; o desemprego oscila entre 18-25 por cento para comunidades Negras; a economia das drogas é o empregador número um da juventude Negra; a maioria das unidades habitacionais precárias ainda está concentrada em bairros de Negros; Negros e outros não brancos sofrem com a pior assistência à saúde; e as comunidades Negras são ainda subdesenvolvidas por conta da discriminação racial por parte dos governos municipais, companhias hipotecárias e bancos, que traçam uma “linha vermelha” impedindo bairros Negros de receberem desenvolvimento comunitário, habitação e empréstimos para pequenas empresas, mantendo nossas comunidades pobres. Nós também sofremos com os assassinatos praticados pela violência policial de policiais racistas que resultam em milhares de mortes e ferimentos; e guerra de gangues fratricidas resultando em inúmeros homicídios de jovens (e uma grande quantidade de dor). Mas o que nos causa mais sofrimento e que engloba todos esses males é o fato de que somos um povo oprimido – na verdade um povo colonizado sujeito ao domínio de um governo opressor. Nós realmente não temos direitos neste sistema, exceto aqueles que lutamos para ter e que mesmo agora estão ameaçados. Claramente precisamos de um novo movimento Negro de protesto de massa para desafiar o governo e as corporações, e expropriar os fundos necessários para as nossas comunidades sobreviverem. No entanto, nos últimos 25 anos o movimento Negro revolucionário tem estado na defensiva. Devido à cooptação, repressão e traições do Movimento Negro de Libertação da década de 1960, o movimento de hoje tem sofrido uma série de contratempos e agora se tornou estagnado, se com-


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parado ao que era. Isso pode estar acontecendo porque apenas agora estão começando a se organizar juntos, depois de ser atacado por órgãos policiais do Estado, e também devido às contradições políticas internas que surgiram nos principais grupos revolucionários Negros, como o Partido dos Panteras Negras, Comitê Não-Violento de Coordenação Estudantil17 (SNCC ou “snick”, como era chamado na época), e a Liga dos Trabalhadores Negros Revolucionários18. Creio que todos foram fatores que levaram à destruição da esquerda Negra de 1960 neste país. É claro que muitos culpam este período de relativa inatividade no movimento Negro devido à falta de líderes fortes nos moldes de Malcolm X, Martin Luther King, Marcus Garvey, etc, enquanto outras pessoas culpam o “fato” de que as massas Negras se tornaram alegadamente “corruptas e apáticas”, ou só precisam da “linha revolucionária correta”. Quaisquer que sejam os verdadeiros fatos da questão, pode ser visto claramente que o governo, as corporações Capitalistas, e a classe dominante racista estão explorando a atual fraqueza e confusão do movimento Negro para fazer um ataque à classe trabalhadora Negra, e estão tentando retirar totalmente as conquistas obtidas durante a era dos direitos Civis. Além disso, há um ressurgimento do racismo Organização política americana que desempenhou um papel central no movimento pelos direitos civis na década de 1960. Começou como um grupo que defendia a não-violência inter-racial, adotando maior militância no final da década, refletindo as tendências no ativismo Negro em todo o país. (n.e.) 18 Formação independente de trabalhadores Negros radicais em Detroit, 1969, que se derivou do Movimento Negro de Libertação, e era de formação marxista-lenista. Unia em suas fileiras diferentes Movimentos Sindicais Revolucionários que cresciam rapidamente na indústria automobilística e outros setores industriais. (n.e.) 17


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e do conservadorismo entre amplas camadas da população branca, que é um resultado direto da campanha de direita. É evidente que este é um momento em que temos de levar em conta novas ideias e novas táticas na luta pela liberdade. Os ideais do Anarquismo são algo novo para o movimento Negro e nunca foram realmente examinados por ativistas Negros e não brancos. Simplificando, isso significa que as pessoas devem se governar, e não os governos, patetas políticos ou líderes autonomeados. O Anarquismo também defende a autodeterminação de todos os povos oprimidos, e seu direito de lutar pela liberdade por qualquer meio necessário. Então, qual o caminho para o movimento Negro? Continuar a depender de políticos democratas oportunistas e corruptos como Bill Clinton ou Ted Kennedy; o mesmo velho grupo de “líderes” vendidos da classe média do lobby dos direitos civis; um ou outro das seitas autoritárias leninistas, que insistem que eles e só eles têm o caminho correto para a “iluminação revolucionária”; ou, finalmente, a construção de um movimento de protesto revolucionário de base para lutar contra o governo racista e seus governantes? Somente as massas Negras podem finalmente decidir a questão, se eles vão se contentar em suportar o peso da depressão econômica atual e a escalada da brutalidade racista, ou vão revidar. Anarquistas confiam nos melhores instintos das pessoas, e a natureza humana dita que onde existe repressão haverá resistência; onde há escravidão, haverá uma luta contra ela. As massas Negras têm mostrado que vão lutar, e quando eles se organizarem eles vão ganhar! Um Chamado para um Novo Movimento Negro de Protesto Esses Anarquistas que são Negros, como eu, reconhecem que é preciso haver todo um novo movimento social,


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que seja democrático, no nível das bases e que seja autoincentivado. Será um movimento independente dos principais partidos políticos, do Estado e do governo. Deve ser um movimento que, embora busque expropriar dinheiro do governo para projetos que beneficiem o povo, não reconheça qualquer papel progressista do governo na vida do povo. O governo não vai nos libertar, e é parte do problema e não parte da solução. Na realidade, apenas as massas Negras podem travar a luta pela liberdade Negra, não a burocracia governamental (como o Departamento de Justiça dos Estados Unidos), os líderes reformistas dos direitos civis como Jesse Jackson19, ou um partido revolucionário de vanguarda em nome de sua própria causa. É claro que, em um determinado momento histórico, um líder de protesto pode desempenhar um papel revolucionário tremendo como um porta-voz para os sentimentos do povo, ou até mesmo produzir estratégia e teoria corretas para um determinado período (Malcolm X, Marcus Garvey, e Martin Luther King, Jr. vêm à mente), e um “partido de vanguarda” pode ganhar o apoio das massas e aceitação entre o povo por um tempo (por exemplo, o Partido dos Panteras Negras dos anos 1960), mas são as próprias massas Negras que vão fazer a revolução e, uma vez que se mobilizem espontaneamente, saberão exatamente o que querem. Apesar de líderes poderem ser motivados pelo bem ou pelo mal, até mesmo eles vão agir como um freio sobre a luta, especialmente se eles perderam o contato com as aspirações Jesse Jackson nasceu 08 de outubro de 1941, em Greenville, South Carolina. Enquanto estudante de graduação, Jackson se envolveu no movimento pelos direitos civis. Em 1965, ele foi para Selma, Alabama, para marchar com o Dr. Martin Luther King, Jr. Na década de 1980 ele se tornou um porta-voz do líder nacional para os afro-americanos. (n.e.) 19


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de liberdade das massas Negras. Líderes realmente só podem servir a um propósito legítimo como conselheiros e catalisadores para o movimento, e devem estar sujeitos à revogação imediata se agirem contra a vontade do povo. Neste tipo de papel limitado eles não são exatamente líderes – eles são organizadores comunitários. A dependência do movimento Negro de líderes e liderança (especialmente a burguesia Negra) levou-nos a um beco sem saída político. Espera-se que aguardemos e soframos em silêncio até que o próximo líder messiânico se declare, como se ele ou ela fossem “investidos divinamente de uma missão” (como alguns alegaram ser). O que é ainda mais prejudicial é que muitos Negros adotaram uma psicologia servil de “obedecer e servir aos nossos líderes”, sem considerar o que eles mesmos são capazes de fazer. Assim, em vez de tentar analisar a situação atual e levar em frente a obra do irmão Malcolm X na comunidade, eles preferem lamentar os fatos brutais, ano após ano, de como ele foi tirado de nós. Alguns erroneamente se referem a isso como um “vácuo de liderança”. O fato é que não tem havido muita movimentação no movimento revolucionário Negro desde seu assassinato e a destruição efetiva de grupos como o Partido dos Panteras Negras. Fomos estagnados pelo reformismo de classe média e desentendimentos. Precisamos encontrar novas ideias e constituições revolucionárias da maneira de como lutar contra nossos inimigos. Precisamos de um novo movimento de protesto de massas. Cabe às massas Negras construí-lo, não a líderes ou partidos políticos. Eles não podem nos salvar. Somente nós podemos nos salvar. Qual forma esse movimento tomará? Se houve uma coisa que aprendi através dos organiza-


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dores Anarquistas revolucionários na década de 1960 foi que você não organiza um movimento de massa ou uma revolução social apenas através da criação de uma organização central, como um partido político de vanguarda ou um sindicato. Mesmo que os Anarquistas acreditem na organização revolucionária, é um meio para um fim, em vez dos próprios fins. Em outras palavras, os grupos Anarquistas não são formados com a intenção de serem organizações permanentes para conquistar o poder depois de uma luta revolucionária. Mas em vez disso, são grupos que agem como um catalisador para as lutas revolucionárias, e que tentam extrair das rebeliões do povo, como a revolta de Los Angeles em 199220, um nível mais alto de resistência. Duas características de um novo movimento de massas devem ser a intenção de criar instituições de poder dual21 para, de um lado desafiar o Estado e ao mesmo tempo do Em março de 1991, três policiais brancos e um hispânico espancaram severamente o motorista de taxi afro-americano Rodney King. Uma testemunha filmou a ação, e o vídeo foi publicizado pela mídia do mundo inteiro. Os policiais foram julgados e absolvidos em 29 de Junho de 1992, fato que levou a uma série de revoltas e tumultos em Los Angeles devido a indignação contra o veredito injusto. Saques, assaltos, incêndios, assassinatos e danos materiais ocorreram, causando cerca de US$ 1 bilhão de prejuízo. Ao todo, 53 pessoas morreram durante os tumultos e milhares mais foram feridas. O Exército Nacional foi mobilizado para reprimir os protestos. (n.e.) 21 O conceito de “dualidade de poderes” assumiu um significado ainda mais amplo nas mãos dos anarquistas que usam para se referir ao conceito de revolução, através da criação de “contra-instituições” no lugar de e em oposição ao poder do Estado. Na Comuna de Paris os primeiros organismos de poder surgiram contra o governo burguês estabelecido. No caso da Revolução Russa, os soviets de 1905 representaram também a perspectiva do duplo poder, sempre contra o Estado e emergindo da base da sociedade (n.e.). 20


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outro lado ter a capacidade de ser um movimento autonomista de base, que possa tirar proveito de uma situação prérevolucionária e percorrer todo o seu caminho. Poder dual significa que você organiza uma série de coletivos e comunas em cidades e vilas em toda a América do Norte, que são, de fato, zonas liberadas, fora do controle governamental. Autonomia significa que o movimento deve ser verdadeiramente independente e uma associação livre de todos aqueles unidos em torno de objetivos comuns, em vez de uma adesão por conta de algum juramento ou de outras formas de pressões. Então como é que Anarquistas intervêm no processo revolucionário de bairros Negros? Bem, obviamente, norteamericanos ou Anarquistas “brancos” não podem entrar em comunidades Negras e apenas fazer proselitismo, mas certamente deveriam trabalhar com quaisquer Anarquistas não brancos e ajudá-los a trabalhar em comunidades de cor (eu realmente penso que o exemplo da Federação Anarquista de New Jersey e sua aliança informal com o movimento dos Panteras Negras naquele estado é um exemplo de como devemos começar). E nós definitivamente não estamos falando de uma situação onde os organizadores Negros entrem no bairro e ganhem pessoas para o Anarquismo, para que possam, em seguida, serem controlados por brancos e algum partido. É assim que o Partido Comunista e outros grupos Marxistas operam, mas não pode ser como Anarquistas trabalham. Nós espalhamos as convicções Anarquistas não para “assumir o comando” das pessoas, mas para que elas saibam como elas podem se organizar melhor para combater a tirania e obter a liberdade. Queremos trabalhar com elas como seres humanos que são nossos companheiros e aliados, que têm suas próprias experiências, agendas e necessidades. A ideia é conseguir o maior número possível de movimentos


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de pessoas que lutam contra o estado, uma vez que é o que traz para um pouco mais perto o dia da nossa liberdade. É preciso que haja algum tipo de organização revolucionária dos Anarquistas para trabalhar no nível local, por isso vamos chamar esses grupos locais de Comitês de Resistência Negra. Cada um desses Comitês serão coletivos sociais de Negros da classe trabalhadora revolucionária na comunidade para lutar pelos direitos Negros e pela liberdade, como parte da revolução social. Os Comitês não teriam nenhum líder ou “capas”, seriam antiautoritários e não teriam qualquer tipo de estrutura hierárquica. Eles existiriam para fazer um trabalho revolucionário, e, portanto, não estão debatendo como associações ou clubes formados para eleger políticos Negros para gabinetes. São formações políticas revolucionárias, que serão associadas a outros grupos em toda a América do Norte e outras partes do mundo, em um movimento mais amplo chamado de federação. A federação22 é necessária para coordenar as ações desses grupos, para que os outros saibam o que está acontecendo em cada área, e para estabelecer estratégia e táticas genéricas (Chamaremos esta, por falta de um nome melhor “Federação Revolucionária Africana”, ou pode ser parte de uma federação multicultural). A federação do tipo que eu estou falando é Em 1863, Pierre-Joseph Proudhon publica o livro “Do Princípio Federativo e da Necessidade de Reconstruir o Partido da Revolução”. O conteúdo da obra mescla parte importante da experiência operária da época com a verve interpretativa de seu autor. O federalismo é apresentado como forma de organização política descentralizada, em consonância com as autonomias locais de organismos econômicos populares em regime de autogestão. Proudhon entende que a descentralização política das cidades e municípios não pode acontecer dissociada da concentração das “mutualidades”, ou seja, formas coletivas de produção. (n.e.) 22


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uma organização da sociedade de massa, que será democrática e composta por todos os tipos de grupos menores e indivíduos. Mas não é sobre um governo ou sistema representativo que estou falando; não haveria cargos permanentes de poder, e até mesmo os facilitadores de programas internos estariam sujeitos à substituição imediata ou teriam uma alternância regular de deveres. Quando uma federação não é mais necessária, ela pode ser dissolvida. Tente isso com um partido Comunista, ou um dos principais partidos Capitalistas na América do Norte! Estratégia e Tática Revolucionária Se vamos construir um novo movimento de protesto revolucionário Negro, devemos nos perguntar como podemos ferir este sistema Capitalista, e como nós o ferimos no passado, quando levamos os movimentos sociais a serem contra alguns aspectos da nossa opressão. Boicotes, manifestações de massa, greves de aluguel23, piquetes, greves de trabalho, “sit-ins”24, e outros tipos de protestos têm sido utilizados pelo movimento Negro em diferentes momentos de sua história, juntamente com a autodefesa armada e a rebelião declarada. Simplificando, o que precisamos fazer é levar a nossa luta a um nível novo e mais elevado: precisamos pegar essas táticas essenciais e já experimentadas (que foram utilizadas principalmente em nível local até o momento), e Recusa temporária de um grupo de inquilinos ou lojistas a pagarem aluguel de um mesmo edifício, por exemplo. (n.t.) 24 Ocupações de determinados espaços como forma de protesto, onde as pessoas se sentam (ou bloqueiam o tráfego) como ato reivinidicatório. O termo surge com as ocupações de restaurantes segregados por pessoas negras nos EUA que entravam e se sentavam nas mesas, saindo somente por força policial. (n.t.) 23


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utilizá-las em nível nacional e então associá-las com táticas ainda não experimentadas, para um ataque estratégico frente a grandes corporações Capitalistas e ao aparato governamental. Vamos discutir algumas delas: Um Boicote Negro aos Impostos Os Negros deveriam se recusar a pagar impostos para o governo racista, incluindo imposto de renda, imposto sobre propriedade e sobre serviços, enquanto estiverem sendo submetidos à exploração e brutalidade. Os ricos e suas corporações não pagam praticamente nenhum imposto; são os pobres e os trabalhadores que carregam o peso da tributação. No entanto, eles não recebem nada em troca. Há ainda elevados níveis de desemprego na comunidade Negra, o seguro-desemprego e os benefícios sociais são insignificantes; as escolas estão em ruínas; a habitação pública é uma desgraça, enquanto os aluguéis de imóveis degradados são exorbitantes – todas essas condições e muito mais são supostamente corrigidas pela tributação governamental das rendas, bens e serviços. Errado! Isso vai para o Pentágono, indústria armamentista e consultores gananciosos que, como abutres, rapinam negócios com o governo. O Movimento Negro de Libertação deve estabelecer um movimento de massa pela resistência contra os impostos para liderar um boicote Negro contra os impostos como forma de protesto e também como um método para criar um fundo para financiar projetos comunitários e organizações Negras. Por que devemos continuar a apoiar voluntariamente nossa própria escravidão? Um boicote Negro contra os impostos é apenas mais um meio de luta que o Movimento Negro deve analisar e adotar, que é semelhante à “resistência ao imposto de guerra” do movimento pela paz. Os Ne-


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gros devem ser isentos de todos os impostos sobre a propriedade particular, imposto sobre renda, ações e títulos (o último dos quais seria um novo tipo de emissão voltado para o desenvolvimento comunitário). Taxem os ricos! Uma Greve Nacional sobre Aluguéis e Ocupações Urbanas Conjuntamente com um boicote fiscal deve haver uma recusa em pagar o aluguel para habitações degradadas. Estes boicotes têm sido usados com grande efeito para lutar contra a extorsão dos aluguéis pelos proprietários. Uma vez eles foram tão eficazes no Harlem (NY) que levaram à criação da legislação de controle de aluguéis, evitando despejos, aumentos de preços injustificados, e requerendo uma manutenção razoável por parte dos proprietários e da empresa de administração de imóveis. Um movimento de massa poderia trazer uma greve de aluguéis para áreas (como no Sudeste e Sudoeste, onde os pobres estão sendo logrados por proprietários gananciosos, mas não estão familiarizados com tais táticas). Leis injustas agora nos códigos, também conhecidas como leis do inquilinato (onde o único “direito” que os inquilinos têm é pagar o aluguel ou ser despejado) também devem ser reformuladas ou anuladas por completo. Essas leis só ajudam proprietários de espeluncas25 a permanecerem no negócio, e mantêm a exploração da classe pobre e trabalhadora. São responsáveis por despejos em massa, o que, por sua vez, agrava a falta de moradia. Devemos lutar por abatimento nos aluguéis, para evitar despejos em massa, Slumlords, no original, são proprietários que ganham muito dinheiro com habitações precárias dilapidadas/degradadas, em péssimas condições, e que alugam para pessoas pobres por valores exorbitantes. (n.t.)

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e para abrigar os pobres e os sem teto em lugares acessíveis e decentes. Além da recusa em pagar os proprietários de espeluncas e os bancos exploradores e as imobiliárias, deve haver uma campanha de “ocupações urbanas26” para tomar imóveis para moradia, e fazer os inquilinos dirigi-los democraticamente como um coletivo. Então aquele dinheiro que teria ido para o aluguel poderia agora ir para o reparo das moradias dos inquilinos. As pessoas sem teto, pobres necessitando de habitação a preços acessíveis, e outros que precisam muito de moradia deviam simplesmente ocupar qualquer habitação abandonada pertencente a um proprietário ausente ou até mesmo ocupar bravamente um projeto de habitação da cidade. Ocupações são uma tática especialmente boa, nestes tempos graves de escassez de habitação e incêndios criminosos causados pelos proprietários das espeluncas para coletar o seguro. Devemos escurraçar os aproveitadores e simplesmente tomar conta! É claro que, provavelmente, teremos que lutar contra os policiais e proprietários inescrupulosos que vão tentar usar táticas fortemente armadas, mas podemos fazer isso também! Podemos conseguir vitórias significativas se organizarmos uma articulação nacional de greve de aluguéis, e construir um movimento independente de inquilinos que autogestionem todas as acomodações, e não em nome do governo (com o complicado “Plano Kemp27”), mas em nosso próprio nome! Urban Squattings, no original, são ocupações para moradia de imóveis vazios/abandonados, prática observada em muitos núcleos anarquistas pelo mundo, pela crença de que o imóvel está desocupado e as pessoas necessitam de moradia. (n.t.) 27 Refere-se ao plano de diminuição de taxas e impostos proposto à época pelo político norte-americano Jack Kemp. (n.e.) 26


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Um Boicote dos Negócios Americanos Provou-se que uma das armas mais fortes do movimento dos direitos civis foi o boicote de consumidores Negros aos comerciantes de uma comunidade e serviços públicos. Os comerciantes e outros empresários, é claro, são os “principais cidadãos” de qualquer comunidade, e a classe dominante local e chefes de governo. Na década de 1960, quando os Negros se recusaram a negociar com os comerciantes enquanto eles consentissem a discriminação racial, o prejuízo na receita levou-os a fazer concessões, e mediar a luta, e até mesmo mantiveram os policiais e a Klan à distância. O que é verdade a nível local é certamente verdadeiro em nível nacional. As grandes empresas e as famílias da elite governam o país; o governo é sua mera ferramenta. Os Negros gastam mais de 350 bilhões de dólares por ano em uma economia Capitalista, como consumidores, e poderiam facilmente travar uma guerra econômica contra a estrutura corporativa com um boicote bem planejado para ganhar concessões políticas. Por exemplo, uma empresa como a General Motors é fortemente dependente do consumidor Negro, o que significa que é muito vulnerável a um boicote, se esse fosse organizado e apoiado amplamente. Se Negros se recusassem a comprar carros da GM, isso resultaria em perdas significativas para a empresa, da ordem de centenas de milhões de dólares. Algo como isso poderia até mesmo quebrar uma empresa. No entanto, a ala revolucionária do movimento Negro ainda não quer usar boicotes, chamandoo de “reformismo” e ultrapassado. Mas longe de ser uma tática ultrapassada que devemos abandonar, boicotes tornaram-se ainda mais eficazes nos últimos anos. Em 1988, o movimento progressista Negro nos Estados Unidos acertou em outra tática, boicotando as in-


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dústrias de turismo de cidades inteiras e estados que estavam envolvidos em discriminação. Isso foi reflexo, por um lado, do fato de que muitas cidades passaram de indústrias pesadas desde a década de 1960 para o turismo como sua principal fonte de receita e, por outro lado, por conta do reconhecimento por parte do movimento que a guerra econômica era uma arma potente contra governos discriminatórios. O boicote Negro de 1990-1993 contra a indústria do turismo de Miami, Florida, e o boicote atual de do movimento por direitos dos homossexuais contra o Estado do Colorado (iniciado em 1992) têm sido bem-sucedidos e conseguiram a atenção mundial para os problemas de suas comunidades. Na verdade, os boicotes foram ampliados para cobrir tudo, a partir de uvas da Califórnia, a cerveja (Coors), uma determinada marca de Jeans, todos os produtos feitos na África do Sul, uma certa indústria da carne, e muitas coisas no meio. Boicotes são mais populares hoje do que jamais foram. Dr. Martin Luther King, Jr. reconheceu o potencial poder revolucionário de um boicote Negro nacional de grandes corporações dos Estados Unidos, e foi por isso que ele estabeleceu a “Operação Cesta de Pão28” pouco antes de um assassino o matar. Esta organização, com sede em Chicago, foi projetada para ser o canal onde seriam despejados fundos, em que as empresas seriam forçadas a por dinheiro para um projeto de desenvolvimento da comunidade Negra nacional para as comunidades pobres. E embora ele foi assassinado antes que isto pudesse acontecer, temos de continuar seu trabalho nesta questão. Em todo o país escriOrganização que realizou a operação citada, que foi projetada para criar empregos para a população Negra através de ameaças de boicotes econômicos a comerciantes brancos. (n.e.) 28


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tórios de boicote Negro deviam ser abertos! Devemos construir um movimento de massa, envolvendo todos os setores do nosso povo. Devemos nos manifestar, fazer piquetes, e protestos de ocupação29 em reuniões e escritórios de empresas-alvo em todo o país. Temos de levar à sua própria porta e parar o saque da comunidade Negra feito por elas. Uma Greve Geral Negra Devido ao papel que desempenham na produção, os trabalhadores Negros são potencialmente o setor mais poderoso da comunidade Negra na luta pela liberdade Negra. A grande maioria da comunidade Negra pertence à classe trabalhadora. Exceto os números desproporcionais de desempregados, cerca de 11 milhões de homens e mulheres Negras são hoje parte da força de trabalho dos Estados Unidos. Cerca de 5 - 6 milhões destes estão na indústria de base, tais como fabricação de aço e metal, comércios de varejo, produção e processamento de alimentos, frigoríficos, a indústria automobilística, ferrovias, serviços médicos e de comunicações. Negros chegam a 1/3 a 1/2 dos trabalhadores braçais básicos, e 1/3 de trabalhadores de escritório. A mão de obra Negra é, portanto, muito importante para a economia Capitalista. Devido a essa vulnerabilidade para ações de trabalho por trabalhadores Negros, que são alguns dos trabalhadores mais militantes no âmbito do trabalho, eles poderiam assumir um papel de liderança em uma campanha de protesto contra o racismo e a opressão de classe. Se forem devidamente organizados, eles serão uma vanguarda de classe dentro do nosso movimento, uma vez que estão no ponto de produção. Trabalhadores Negros poderiam conduzir uma 29

“Sit-in”, no original. (n.t.)


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greve geral em todo o país no seu local de trabalho como forma de protesto contra a discriminação racial no emprego e na habitação, os níveis excessivamente elevados de desemprego Negro, as condições de trabalho brutais, e para promover as demandas do movimento Negro em geral. Esta greve geral é uma greve Socialista, e não apenas uma greve por melhores salários e melhores condições gerais de trabalho; ela é revolucionária na política, utilizando outros meios. Esta greve geral pode assumir a forma de sabotagem industrial, ocupações de fábricas ou sit-ins, desacelerações de trabalho, greve espontânea e outras paralisações como forma de protesto para obter concessões em nível local e nacional, e reestruturar o local de trabalho e ganhar a jornada diária de 4 horas pelo trabalho norte-americano. A greve não apenas envolveria os trabalhadores no local de trabalho, mas também a comunidade Negra e grupos progressistas para darem apoio com o trabalho na linha de piquete, panfletagem e publicando boletins informativos de apoio à greve, demonstrações em escritórios de empresas e locais de trabalho, juntamente com outras atividades. Vão ser necessárias organização comunitária e organização no local de trabalho muito comprometidas para realizar uma greve geral. Nos locais de trabalho em todo o país, Trabalhadores Negros devem organizar Comitês de Greve Geral nos locais de trabalho, e Comitês Negros de Apoio à Greve, para continuar o trabalho da greve dentro da própria comunidade Negra. Porque um ataque desses seria especialmente árduo e cruel, os trabalhadores Negros devem organizar comitês de defesa dos trabalhadores para defender os trabalhadores despedidos ou colocados na lista de perseguidos30 pelos patrões, devido ao seu trabalho de organização 30

“Black listed”, no original. (n.t.)


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na indústria. Este comitê de defesa iria divulgar o caso do trabalhador vitimado e angariaria apoio de outros trabalhadores e com a comunidade. O comitê de defesa também estabeleceria um fundo laboral de greve e defesa, e também começaria a cooperativa de alimentos para financiar e apoiar materialmente esses trabalhadores vitimados e suas famílias durante a realização da greve. Embora, definitivamente, possamos contar com uma tentativa de envolver os trabalhadores brancos onde eles estejam dispostos a cooperar, a greve estaria sob a liderança Negra, porque só os trabalhadores Negros podem efetivamente levantar as questões que mais lhes afetam. Os trabalhadores brancos devem apoiar os direitos democráticos dos Negros e de outros trabalhadores oprimidos em nível nacional, em vez de apenas apoiar as campanhas brancas de direitos comumente chamadas de “questões econômicas comuns”, lideradas pela esquerda norte-americana. Além de indivíduos norte-americanos progressistas ou bancadas sindicais, os próprios sindicatos locais devem ser recrutados, mas eles não são a força para levar esta luta, embora a sua ajuda possa ser indispensável em uma campanha específica. É preciso uma grande organização para libertá-los de sua natureza racista e conservadora. Assim, embora nós desejemos e precisemos do apoio dos nossos colegas de outras nacionalidades e grupos, é ridículo e condescendente simplesmente dizer aos trabalhadores Negros para sentarem e esperarem por uma “vanguarda de trabalhadores brancos” decidir se quer lutar. Vamos educar nossos colegas de trabalho para as questões e por que eles deveriam lutar contra a supremacia branca ao nosso lado, mas não vamos adiar nossa luta por ninguém! Temos que organizar a Greve Geral para a Liberdade Negra!


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A Comuna: O Controle Comunitário da Comunidade Negra “Como podemos criar uma nova consciência revolucionária contra um sistema programado contra os nossos velhos métodos? Devemos usar uma nova abordagem e revolucionar a Comuna Negra Central da Cidade, e, lentamente, fornecer ao povo o incentivo para lutar, permitindo-lhes criar programas que vão atender todas as suas necessidades sociais, políticas e econômicas. Devemos preencher os vazios deixados pela ordem estabelecida... Em troca, devemos ensinar-lhes os benefícios de nossos ideais revolucionários. Devemos construir uma economia de subsistência e uma infraestrutura sociopolítica para que possamos ser um exemplo para todos os povos revolucionários”. (George Jackson31, em seu livro ‘BE’32) A ideia por trás de uma comuna de massa é criar uma estrutura de poder dual como uma contraproposta para se governar, sob condições que existem agora. Na verdade, Anarquistas acreditam que o primeiro passo em direção à autodeterminação e da revolução social é o controle Negro da comunidade Negra. Isso significa que as pessoas Negras devem formar e unificar suas próprias organizações de luta, assumir o controle das comunidades Negras existentes e todas as instituições dentro delas, e conduzir uma luta constante para superar todas as formas de servidão econômica, política e cultural, e qualquer sistema de desigualdade racial e de classe, que é o produto desta sociedade Capitalista racista. Afro-Americano ativista de esquerda, marxista, autor, membro do Partido dos Panteras Negras, e co-fundador da Família Guerrilha Negra enquanto estava na prisão. (n.e.) 32 Blood in my Eye, ou Sangue nos meus olhos. (n.e.) 31


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A concretização deste objetivo significa que podemos construir Comunas urbanas, que serão centros Negros de contrapoder e cultura social revolucionária contra as estruturas brancas de poder político nas principais cidades dos Estados Unidos. Uma vez que eles assumam a hegemonia, essas comunas seriam uma alternativa real ao Estado e serviriam como uma força para revolucionar povos africanos – e, por extensão – grandes segmentos da sociedade norte-americana, que não poderia ficar imune a este processo. Ele serviria como um exemplo revolucionário vivo para os progressistas norte-americanos e de outras nacionalidades oprimidas. Há um tremendo poder de luta na comunidade Negra, mas ele não está organizado em uma perspectiva revolucionária estruturada para efetivamente lutar e tomar o que é devido. A classe dominante branca Capitalista reconhece isso, é por isso que empurra a fraude do “Capitalismo Negro” e os políticos Negros e outros tipos de “líderes responsáveis”. Estes artistas falsos e vendidos nos levam ao beco sem saída da votaçao e da reza por aquilo que estamos realmente dispostos a lutar. Os Anarquistas reconhecem a Comuna como o órgão principal da nova sociedade, e como uma alternativa para a velha sociedade. Mas os Anarquistas também reconhecem que o Capitalismo não vai desistir sem lutar; será necessário inviabilizar econômica e politicamente a América Capitalista. Uma coisa é certa, não devemos continuar a permitir passivamente que este sistema nos explore e oprima. A comuna é uma plataforma para a luta revolucionária Negra. Por exemplo, as pessoas Negras deveriam se recusar a pagar impostos para o governo racista, deveriam boicotar as corporações Capitalistas, deveriam conduzir uma Greve Geral Negra em todo o país, e deveriam se envolver em uma insurreição para expulsar a polícia e ganhar uma zona liber-


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tada. Este seria um método poderoso para obter a submissão às reivindicações do movimento, e enfraquecer o poder do Estado. Podemos até mesmo forçar o governo a disponibilizar dinheiro para o desenvolvimento da comunidade como uma concessão, em vez de como pagamento para a retirada da luta, como aconteceu na década de 1960 e posteriormente. Se colocarmos uma arma na cabeça de um banqueiro e dissermos: “Nós sabemos que você tem o dinheiro, agora desista dele”, ele teria de se render. Agora a questão é: se nós fizermos a mesma coisa com o governo, usando os meios da ação direta com um movimento de massas insurrecional, seriam atos de expropriação? Ou seria apenas para pacificar a comunidade porque eles nos deram o dinheiro? Uma coisa é certa, nós definitivamente precisamos do dinheiro e, no entanto, retirá-lo do governo é menos importante do que o fato de que os forçamos a desistir dele através das forças populares. Teríamos, então, de usar esse dinheiro para reconstruir nossas comunidades, manter nossas organizações, e cuidar das necessidades do nosso povo. Poderia ser uma grande concessão, uma vitória. Mas também temos que perceber que os africanos nos Estados Unidos não são simplesmente oprimidos pela força das armas, mas essa parte da autoridade moral do Estado vem da mente do oprimido que consente o direito de ser governado. Enquanto as pessoas Negras acreditarem que alguma autoridade moral ou política do governo branco tem legitimidade em suas vidas, que eles têm o dever com esta nação como cidadãos, ou mesmo que eles são responsáveis por sua própria opressão, então eles não podem efetivamente revidar. Eles devem libertar suas mentes das ideias de patriotismo americano e começar a ver a eles mesmos como um povo novo. Isso só pode ser realizado sob o poder dual, no qual o patriotismo do povo para o Estado é substituído pelo


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amor e apoio para a nova comuna Negra. Fazemos isso tornando a Comuna uma coisa real na vida e no dia a dia das pessoas comuns. Devemos estabelecer conselhos comunitários para tomar decisões políticas e administrar os assuntos da comunidade Negra. Esses conselhos seriam assembleias de bairros, democráticas compostas por representantes eleitos pelos Trabalhadores Negros em várias instituições da comunidade – fábricas, hospitais, escolas – bem como delegados eleitos tendo por base quarteirões. Devemos rejeitar prefeitos Negros e outros políticos ou burocratas do governo, como substitutos para o poder da comunidade. Devemos, portanto, ter controle comunitário de todas as instituições da comunidade Negra, em vez de simplesmente deixar o Estado decidir o que é bom para nós. Não apenas trabalho e moradia, mas também o controle total sobre as escolas, hospitais, centros de assistência social, bibliotecas, etc., devem ser entregues a essa comunidade, porque só os moradores de uma comunidade têm uma verdadeira compreensão de suas necessidades e desejos. Aqui está um exemplo de como isso passaria a funcionar: iríamos eleger um conselho comunitário para supervisionar todas as escolas na comunidade Negra. Nós encorajaríamos os pais, alunos, professores e a comunidade em geral a trabalhar cooperativamente em todas as fases da administração da escola, em vez de ter uma autoridade como um(a) diretor(a) e sua administração burocrática indiferente fazendo as coisas como são feitas atualmente. Toda a comunidade Negra terá de se envolver em uma luta militante para assumir as escolas públicas e transformá-las em centros de cultura Negra e de aprendizagem. Não podemos continuar a depender dos conselhos escolares racistas ou fantoches Negros para fazer isso por nós.


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O conselho local seria então federado, ou atuaria junto, em um nível local para criar um grupo municipal de conselhos que comandariam os assuntos naquela comunidade. Os conselhos e outros coletivos de bairros organizados por uma variedade de razões fariam uma comuna de massa. Esta comuna seria, por sua vez, federada a nível regional e nacional, com o objetivo de criar uma federação nacional de comunas Negras, que se reuniria periodicamente em uma ou várias reuniões de assembleia em massa. Esta federação seria composta por delegados eleitos ou nomeados, representando o seu município ou conselho local. Tal federação nacional de comunas permitiria que conselhos comunitários de toda a América do Norte elaborassem suas políticas comuns e falassem em uma só voz sobre todos os assuntos que afetam suas comunidades ou regiões. Teria, portanto, muito mais poder do que qualquer conselho comunitário poderia ter. No entanto, para prevenir esta federação nacional da usurpação burocrática do poder por facções políticas ou líderes oportunistas, as eleições devem ser realizadas regularmente e delegados seriam revogados a qualquer momento por má conduta, para que eles permaneçam sob o controle das comunidades locais que representam. Os conselhos comunitários Negros são na verdade um tipo de movimento de base composto de todas as formações sociais de nosso povo, os Comitês de quarteirão e de bairro, grupos de Trabalhadores, de estudantes e de jovens (até mesmo a igreja, em um grau limitado), grupos de ativistas sociais, e outros, para unir as várias ações de protesto em torno de um programa comum de luta para este período. As campanhas para este período devem utilizar as táticas de ação direta de massas, pois é muito importante que as próprias pessoas tenham consciência acerca de seu poder organizado. Estas associações de base proporcionarão para as ações


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de massa normalmente espontâneas uma forma de organização cuja base social é da classe trabalhadora Negra, em vez da habitual liderança equivocada da classe média Negra. Os Anarquistas reconhecem esses conselhos comunitários como sendo uma forma de democracia direta, em vez do tipo de falsa “democracia” americana, que realmente não é nada além do controle de políticos e empresários. Os conselhos são especialmente importantes porque eles fornecem autonomia embrionária e o início de uma alternativa para o sistema econômico Capitalista e seu governo. É uma maneira de minar o governo e torná-lo um dinossauro irrelevante, porque os seus serviços não são mais necessários. A Comuna também é uma contracultura revolucionária Negra. É o embrião da nova sociedade revolucionária Negra no corpo da antiga, doente, moribunda. É o novo estilo de vida em microcosmo, que contém os novos valores sociais Negros e as novas organizações comunitárias e instituições, que se tornarão a infraestrutura sociopolítica da sociedade livre. Nosso objetivo é ensinar novos valores sociais Negros de unidade e de luta contra os efeitos negativos da sociedade e cultura branca Capitalista. Para fazermos isso, devemos construir a Comuna em um movimento de Consciência Negra para construir orgulho racial e respeito, raça e consciência social, e lutar contra os senhores de escravos Capitalistas. Este comunalismo Negro seria tanto um repositório da cultura Negra quanto da ideologia. Precisamos mudar tanto nossas vidas quanto nossos estilos de vida, a fim de lidar com as muitas contradições interpessoais que existem em nossa comunidade. Poderíamos examinar a família Negra, as relações Negras masculina/feminina, a saúde mental da comunidade Negra, as relações entre a comunidade e o establishment branco, e do povo Negro consigo


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próprio. Nós alcançaríamos a consciência Negra criando sessões em escolas, centros comunitários, prisões e nas comunidades Negras em toda a América do Norte, que ensinariam História e Cultura Negra, novas ideias sociais libertadoras e valores para crianças e adultos, bem como técnicas de aconselhamento e terapia para resolver problemas familiares e conjugais e, ao mesmo tempo, dando uma perspectiva revolucionária Negra para as questões do dia a dia. Nosso povo tem de perceber que o auto-ódio, a desunião, a desconfiança, a violência fratricida e condições sociais opressivas entre as pessoas Negras são o resultado do legado da escravidão Africana e os atuais efeitos do Capitalismo. Finalmente, o objetivo principal da cultura revolucionária Negra é agitar e organizar pessoas Negras a lutar por sua liberdade. Como Steve Biko, o revolucionário Sul-africano assassinado, foi citado dizendo: “O apelo por consciência Negra é o chamado mais positivo que veio de um grupo aliado no mundo Negro por um longo tempo. Ele é mais do que uma reacionária rejeição dos brancos pelos Negros... No coração deste tipo de pensamento, reside a percepção do Negro de que a arma mais poderosa nas mãos do opressor é a mente do oprimido. Uma vez que o último foi tão efetivamente manipulado e controlado, o opressor tenta fazer com que o oprimido acredite que ele é uma responsabilidade do homem branco, então não há nada que o oprimido possa fazer que verdadeiramente assuste os poderosos senhores... A filosofia da consciência Negra, portanto, expressa orgulho de grupo e a determinação dos Negros para se levantarem e conquistarem a autorrealização desejada. “ Como “autorrealização desejada”, Biko se refere à autorrealização Negra, uma psiquê livre. É isso que queremos resgatar com esse movimento de consciência Negra aqui na


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América. Precisamos combater o auto-ódio Negro e a mentalidade fútil de “festa”. Também queremos acabar com a degradação social de nossa comunidade, e nos livrar do vício em drogas, prostituição, crime de Negros contra Negros, e outros males sociais que destroem a fibra moral da comunidade Negra. Drogas e prostituição são controladas principalmente pelo crime organizado, e protegidos pela polícia, que aceita subornos e presentes de gangsteres. Estes valores sociais negativos, a chamada filosofia “cão-comecão” do sistema Capitalista ensina as pessoas a serem individualistas da pior espécie. Dispostos a cometer qualquer tipo de crime contra os outros, e tirar vantagem um do outro. Esta cultura opressiva é contra o que estamos lutando. Enquanto ela existir, será difícil unificar o povo em torno de um programa político revolucionário. Construindo um programa de sobrevivência Negra Mas também deve haver alguma maneira de garantir a sua sobrevivência econômica, além de proporcionar novos modelos culturais a seguir. É quando a Comuna, uma rede de organizações e instituições comunitárias, assume a sua maior importância. Nós vamos construir uma infraestrutura sociopolítica para intervir em todas as áreas da vida Negra: cooperativas de alimentação e habitação, escolas de Libertação Negra, bancos populares e fundos comunitários de ajuda mútua, clínicas médicas e hospitais, controle de roedores e programas de extermínio de pragas, cooperativas de fábricas, centros culturais e de entretenimento comunitários, o estabelecimento de redes eletrônicas de comunicações intercomunais, projetos de recuperação de terras e prédios, brigadas de obras públicas para reconstruir as ci-


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dades, projetos para a juventude, clínicas de drogas, e muitos outros programas. Todos estes programas satisfazem as necessidades profundas da comunidade Negra, mas não são soluções para nossos problemas, porque embora possamos construir uma economia de sobrevivência agora, temos de perceber que vai ser preciso uma revolução social para derrubar o Capitalismo e obter autossuficiência econômica completa. Mas eles vão nos ajudar a organizar a comunidade Negra em torno de uma verdadeira análise e compreensão de sua situação. É por isso que eles são chamados de programas de sobrevivência, ou seja, sobrevivendo sob este sistema enquanto está pendente uma revolução social. Construir consciência e cultura revolucionária significa assumir questões reais do dia a dia, como a fome, a necessidade de vestuário e habitação, desemprego, transporte e outras questões. Isso significa que a Comuna deve preencher o vácuo onde as pessoas não estão sendo devidamente alimentadas e vestidas, não estão recebendo tratamento médico adequado ou estão, de qualquer forma, sendo privadas das necessidades básicas. Ao contrário do discurso de alguns grupos de esquerda, isso não vai tornar as pessoas passivas ou simplesmente dependentes de nós. Em vez de lutar contra o governo e exigir essas coisas, isso inspira confiança nas forças revolucionárias e expõe o governo como insensível e incompetente. Esse é mais um incentivo para o povo se revoltar e derrubar o governo em vez de simplesmente ficar realizando comícios políticos, dando palestras, concorrendo a cargos públicos, e publicando manifestos e resoluções ou jornais partidários e outros tipos de lixo (que ninguém lê, a não ser seus próprios membros), como a maioria de grupos Negros e grupos radicais fazem agora.


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Precisamos de uma nova maneira de enfrentar nossa situação de oprimidos. Precisamos unir as pessoas para lutar, e para isso, precisamos educar, agitar e organizar. Essa é a única maneira pela qual nós vamos conseguir um novo mundo. O que se segue é um exemplo de programa de sobrevivência: 1. Precisamos ter controle comunitário de todas as empresas e instituições financeiras localizadas em nossas comunidades. E as empresas que não estão trabalhando para nossos melhores interesses ou não retornam alguma parte de sua receita para a comunidade, nós vamos nos apossar dessas empresas e transformá-las em cooperativas comunitárias e sociedades bancárias de ajuda mútua. 2. Precisamos ter controle comunitário de toda a política de habitação e maior entrada em todo o planejamento comunitário das comunidades Negras. Se uma parte de uma propriedade ou a casa pertence a um proprietário de espelunca (seja ele um corretor de imóveis ou agência governamental), vamos tomá-las e transformá-las em cooperativas de habitação comunitárias. Nós nos opomos à renovação urbana, à decomposição espacial, gentrificação com vinda da classe média, e outros esquemas racistas para nos expulsar das cidades. Nós devemos ter controle completo de todos os quadros de planejamento que afetam e dizem respeito à comunidade Negra. Para cumprir estas exigências, devemos liderar greves de aluguéis, manifestações, ações armadas e de ocupações urbanas para expulsar os proprietários especuladores e assumir a propriedade. 3. Precisamos ter uma economia independente e autossustentável para garantir o pleno emprego para todo nosso povo. Exigimos que o governo dos EUA proporcione ajuda


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econômica massiva para reconstruir as cidades. O governo gasta bilhões por ano para a máquina de matar do Pentágono. Pelo menos essa quantia deve ser redirecionada para atender as necessidades das comunidades oprimidas da América. Habitações dos guetos devem ser reconstruídas e entregues aos ocupantes. Empregos e serviços adequados devem ser fornecidos a todos os moradores de comunidade, incluindo a preferência para todos os trabalhos de obra na comunidade Negra, quando as brigadas de obras públicas forem designadas a reconstruir as cidades. Devemos lutar para o controle popular Negro de todos os fundos públicos alocados para a comunidade Negra através de uma rede de sociedades bancárias de ajuda mútua, empresas de desenvolvimento comunitário e cooperativas de crédito de desenvolvimento comunitário. 4. Reparações: O Grande Acerto de Contas. O governo dos Estados Unidos e a classe rica deste país roubaram e oprimiram Africanos neste continente por décadas. Eles usaram nossos ancestrais como escravos, e após a escravidão, continuaram a oprimir, assassinar e explorar o nosso povo, até os dias atuais. Devemos construir um movimento de massas em nossas comunidades para obrigar o governo e os ricos a fornecerem os meios para nossa reconstrução da comunidade. Eles nos devem por séculos de abuso e roubo! Devemos exigir que as reparações, sob a forma de dinheiro para desenvolvimento comunitário e de outros fundos, sejam fornecidas e colocadas em cooperativas de crédito, cooperativas e outras instituições de ajuda mútua na comunidade Negra, para que possamos começar a obter um certo grau de autossuficiência econômica. No entanto, sabemos que eles não vão nos dar o dinheiro. Devemos enfrentá-los para isso, assim como nós devemos lutar para derrubar o sistema de escravidão assalariada hoje.


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5. Acabar com a brutalidade policial. Temos de organizar unidades de autodefesa para proteger a comunidade Negra e suas organizações, e remover as farsas policiais do Estado. Exigimos processo criminal e prisão de todos os policiais violentos ou assassinos. Sem jurisdição para o sistema judicial do Estado em Zonas Negras Libertadas. 6. Devemos empreender um programa em grande escala para treinar as pessoas Negras como médicos, enfermeiros e paramédicos profissionais, a fim de tornar a assistência médica e odontológica gratuita e de qualidade disponível para as pessoas Negras. Devemos exigir que o governo subsidie todo esse tipo de formação médica e odontológica, como rede e para o funcionamento de clínicas, mas as pessoas Negras é que devem estabelecer e fazer funcionar as clínicas médicas gratuitas em todas as comunidades Negras urbanas ou rurais. Isso incluiria programas comunitários antidrogas e clínicas de reabilitação de drogas. 7. Devemos estabelecer um controle comunitário Negro do sistema alimentar visando à autossuficiência como modo de lutar pelo fim da fome e da desnutrição, incluindo uma rede de transporte por caminhão, armazéns, fazendas comunais, cooperativas de agricultores, cooperativas de alimentos, cooperativas agrícolas e outras associações coletivas. Isto incluirá uma campanha de protesto questionando o roubo de terras agrícolas Negras por corporações do agronegócio e por “barões da terra” ricos e brancos, e reivindicálas para os nossos projetos. Isto é especialmente importante agora que os EUA entraram em uma crise econômica que não será capaz de suprir as nossas necessidades. Temos de obrigar o governo a fornecer o dinheiro para muitos desses projetos, para serem administrados sob nosso total controle, e não por uma agência governamental.


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8. A comunidade Negra precisa ter o controle de todo o seu sistema educacional, desde o jardim de infância até a faculdade. Devemos estabelecer um sistema educacional de Libertação Negra que preencha as necessidades de formação das crianças Negras, que os prepare para uma formação profissional e para uma futura segurança econômica, para servir a sua comunidade, e lhes dê um conhecimento de si e uma compreensão da verdadeira história e cultura do povo Africano, bem como um programa de educação de adultos para pessoas da comunidade, cujas oportunidades educacionais anteriores foram atrofiadas. Devemos exigir o ensino superior gratuito para os Negros e outras minorias às custas completas do governo, incluindo programas de reforço para todos os que desejam se qualificar. 9. Devemos exigir e lutar pela libertação de todos os prisioneiros políticos Negros e vítimas da injustiça racial, devemos investigar e avaliar os casos de todos esses presos que são vítimas de repressão política do governo e armações racistas, e liderar uma campanha de massa para sua libertação. Alguns dos nossos melhores organizadores revolucionários estão apodrecendo nas casas prisionais desta terra. 10. A principal exigência é o controle Negro da comunidade Negra, sua política e economia. Temos que assumir as cidades, estabelecer comunas municipais e exercer a autonomia, como um passo vital. Nós somos a maioria em muitas das grandes cidades deste país e devemos ser capazes de controlar nossos próprios interesses (ou pelo menos obter alguma autonomia), mas como nós já devemos estar cientes de que nunca vamos conseguir esse poder social comunitário através da votação em algum político Capitalista Negro, ou dependendo passivamente de “salvação” vinda de líderes de qualquer espécie, temos que fazê-lo nós mesmos se quisermos chegar no caminho para a liberdade.


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A Necessidade de uma Federação de Trabalhadores Negros A demanda por mão de obra Negra tem sido o fator econômico central na América; foi o trabalho Negro que construiu os alicerces desta nação. Começando com o trabalho escravo no Velho Sul em plantações, depois com o trabalho como meeiros e outros trabalhos agrícolas após a guerra civil, e sucessiva migração para o Norte para madeireiras, minas e fábricas durante um período de 40 anos (1890- 1920), e até nos dias de hoje, o trabalho Negro é importante para o funcionamento da ordem econômica Capitalista. Quase desde o início, os trabalhadores Negros organizaram seus próprios sindicatos e associações de trabalhadores para representar seus interesses: a União Nacional do Trabalho de Cor33, em 1869, a Aliança Nacional dos Agricultores de Cor34 (populista), no mesmo ano, a Irmandade de Atendentes de Vagões-Leitos35 em 1940, a Liga de TrabalhaA União Nacional do Trabalho de Cor, criada em 1869, foi uma tentativa pós-guerra civil dos trabalhadores Negros americanos de conseguirem uma representação coletiva, com Isaac Myers como seu presidente. (n.e.) 34 Formada em 1886 no Texas, a Aliança Nacional dos Agricultores de Cor foi criada com o objetivo de organizar os trabalhadores Negros que eram proibidos de participar das alianças brancas, garantindo a luta por suas necessidades específicas. Em 1891, contava com mais de 1,2 milhões de associados. (n.e.) 35 A Irmandade de Carregadores de Vagões-Leitos foi criada em 1920 (não em 1940), por A. Phillip Randolph em nome dos trabalhadores dos trens da Pullman. A companhia Pullman só empregava trabalhadores negros para carregadores e empregadas domésticas em seus carros, mantendo a relação senhor x escravos nas relações trabalhistas. (n.e.) 33


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dores Negros Revolucionários36 na década de 1960; a Associação Unida dos Trabalhadores da Construção37 e a Coalizão de Trabalhadores Negros e Porto Riquenhos da Construção38 na década de 1970, e assim por diante, até os dias de hoje com sindicatos ou associações, como os Trabalhadores Negros por Justiça39 e da Coligação para Sindicalistas Negros40. Alguns destes eram sindicatos, alguns eram apeOrganização independente de trabalhadores Negros radicais de Detroit, que surge como consequência do movimento de libertação Negra, a Liga de Trabalhadores Negros Revolucionários foi considerada uma organização de trabalhadores Negros oprimidos e explorados. Criada em 1968, depois de uma greve de trabalhadores da Hamtrack, onde trabalhadores Negros foram demitidos após serem fotografados por pessoas infiltradas em suas manifestações e linhas de piquetes. (n.e.) 37 Fundada em 1970 por Scott Tyree, um eletricista que havia tornadose ativista de direitos civis, a Associação Unida dos Trabalhadores da Construção foi feita com o objetivo de unir os trabalhadores Negros da construção civil para promover o seu emprego na indústria e evitar a discriminação. O UCWA negociou, em nome dos trabalhadores negros, liderou protestos, iniciou processos judiciais e organizou grupos de Amparo ao Trabalhador. (n.e.) 38 A Coalizão de Trabalhadores Negros e Porto Riquenhos da Construção foi formada em meados da década de 1970 para pressionar as companhias de construção com contratos públicos a contratar trabalhadores nas minorias. (n.e.) 39 O Trabalhadores Negros por Justiça é uma organização de trabalhadores Negros formada em dezembro de 1982, oriunda de uma luta liderada por trabalhadoras Negras em uma loja K-Mart em Rocky Mount, Carolina do Norte contra a discriminação racial e de gênero. (n.e.) 40 A Coligação para Sindicalistas Negros foi iniciada em setembro de 1972, quando mais de 1.200 dirigentes sindicais Negros e militantes de base a partir de 37 sindicatos nacionais reuniram-se em Chicago, Illinois, para discutir o papel dos sindicalistas Negros no movimento operário. (n.e.) 36


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nas associações de trabalhadores Negros nos sindicatos existentes. Na verdade, os sindicatos não existiriam hoje se não fosse pela ajuda e apoio do trabalhador Negro. O sindicalismo nasceu como um movimento nacional eficaz em meio às grandes convulsões da guerra civil e da luta pelo fim da escravidão, mas os trabalhadores Negros foram rotineiramente excluídos dos sindicatos, como da Federação Americana do Trabalho41. Somente as associações militantes como os Knights42, IWW e a Associação Internacional de Trabalhadores (IWPA43), iniciada por Anarquistas, aceitariam sua associação. Isso continuou por muitos anos, até a fundação do Congresso de Organizações Industriais44 (CIO) que começou sua campanha de greves, ocupações, e outras ações de protesto para organizar os trabalhadores industriais não-qualificados. A mão de obra Negra foi fundamental A Federação Americana do Trabalho (AFL) foi a primeira federação de sindicatos nos Estados Unidos. Foi fundada em Columbus, Ohio, em maio de 1886 por uma aliança de sindicatos descontentes oriundos dos Knights of Labor. (n.e.) 42 O Knights of Labor (Cavaleiros do Trabalho) começou como uma sociedade secreta de alfaiates na Filadélfia em 1869. A organização cresceu lentamente durante os duros anos da década de 1870, mas a militância dos trabalhadores aumentou para o final da década, especialmente após a grande greve ferroviária de 1877, e a associação aos Knights aumentou com ela. (n.e.) 43 A Associação Internacional de Trabalhadores, também conhecida como Internacional Negra, foi uma organização política anarquista criada em 1881 em uma convenção que ocorreu em Londres. O adjetivo “Negra” remete à bandeira negra anarquista. (n.e.) 44 O Congresso das Organizações Industriais (CIO), proposto por John L. Lewis, em 1928, era uma federação de sindicatos que organizou os trabalhadores em sindicatos industriais nos Estados Unidos e no Canadá entre 1935 e 1955. (n.e.) 41


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nessas batalhas, mas nunca colheu totalmente os benefícios. Na verdade, os chefes os traíram quando o CIO foi derrotado em 1950. Você poderia pensar que o movimento de trabalhadores americano veria como criminoso ou racista ignorar esses colegas de trabalho hoje dessa maneira. Mas mesmo agora não há nenhuma organização do trabalho nos EUA que confira representação plena e igualdade de tratamento para os trabalhadores Negros. O fato é que, mesmo com alguns trabalhadores Negros que são funcionários de gabinetes, trabalhadores Negros recebem bem menos benefícios sindicais que os trabalhadores brancos, e estão presos em trabalhos mais mal remunerados, tediosos e perigosos, mesmo que eles tenham conseguido ganhos econômicos substanciais durante a década de 1960. A maioria das massas Negras está na classe trabalhadora. Devido ao papel que desempenham na produção, os trabalhadores Negros industriais e de escritórios são potencialmente o setor mais poderoso da comunidade Negra na luta pela libertação Negra. Como vítimas da desigualdade na economia, os trabalhadores Negros já começaram a se organizar para os seus interesses e para proteger os seus direitos no trabalho, mesmo que o sindicato seja conservador e não lute contra o chefe. Eles formaram comissões sindicais e até mesmo sindicatos independentes, quando era necessário. É claro que a união de trabalhadores Negros e brancos é indispensável para combater e derrubar o Capitalismo. Mas onde os trabalhadores brancos são agora privilegiados e trabalhadores Negros são penalizados, a unidade e a luta Negra devem preceder e preparar o terreno para qualquer união Negro-branca em larga escala. Comissões Negras nos sindicatos podem lutar contra a discriminação na contratação, demissão, e promoção, e para a igualdade de trata-


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mento nos sindicatos, agora, enquanto os trabalhadores brancos ainda precisam apoiar amplamente os direitos democráticos dos Negros e outras nacionalidades oprimidas. Comissões Negras são importantes. Onde eles são parte do trabalho organizado, eles devem se esforçar para democratizar os sindicatos, regenerar seus espíritos de luta, e eliminar práticas corporavitas brancas no emprego. Estas Comissões Negras nos sindicatos devem exigir: 1. Controle democrático do sindicato pelas bases. 2. Igualdade de direitos e de tratamento para todos os sindicalistas; eliminar todas as práticas racistas no movimento de trabalhadores. 3. Programas de ação afirmativa pela reparação histórica de práticas racistas no emprego, acabar com a discriminação racial com base no tempo de serviço e outros estratagemas. 4. O pleno emprego para todos os Negros, mulheres e outros trabalhadores não brancos. 5. A semana de trabalho de 20-30 horas sem redução do salário. 6. O direito de greve, incluindo greves autônomas sem consentimento do sindicato. 7. Procedimentos rápidos e justos para formalização de queixas e críticas. 8. Uma cláusula prevista em todos os contratos sindicais para garantir reajustes salariais automáticos que acompanhem o aumento do custo de vida. 9. O pagamento total da seguridade social pela entidade patronal e pelo governo. Seguro-desemprego que compense 100% do salário base.


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10. Salários mínimos equivalentes aos da tabela sindical. 11. Evitar empresas fugitivas45, falências falsas, ou “paradas de produção estratégicas” por parte das empresas, sem aviso prévio para o sindicato ou para ganhar vantagem nas negociações de contratos. 12. Um programa de obras públicas para reconstruir comunidades Negras e de outras comunidades do centro da cidade, e fornecer trabalho para os trabalhadores Negros. 13. Trabalhadores autogerindo indústrias através de comitês de fábrica e conselhos de trabalhadores, eleitos pelos próprios trabalhadores. Além das comissões sindicais, trabalhadores Negros precisam de uma associação nacional de trabalhadores Negros, que seria ao mesmo tempo um movimento sindical revolucionário para fazer a organização no local de trabalho, mas também seria um movimento social de massa para a organização da comunidade. Tal movimento combinaria as táticas de organização tanto para o trabalho quanto para os movimentos de Libertação Negra. Não seria concebido para impulsionar os Negros para fora dos sindicatos, onde eles já estão organizados, mas antes serviria como uma ferramenta para multiplicar seu número e força, e transformar os seus sindicatos em militantes, instrumentos de luta de classe. A Liga dos Trabalhadores Negros Revolucionários, que organizou trabalhadores Negros da indústria automobilística durante o final dos anos 1960 é um exemplo do tipo de organização necessária. A Liga, que cresceu fora de sua Runaway shops, no original, é quando uma planta industrial é movida por seus proprietários de um local para outro para escapar de regulamentações sindicais ou leis estaduais. (n.t.) 45


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principal filial, o Movimento Revolucionário da Dodge46 (DRUM), foi sem dúvida o Movimento de Trabalhadores Negros mais militante na história americana. Foi uma federação de trabalhadores Negros que existiu como uma alternativa organizada para a União dos Trabalhadores da Indústria Automobilística, e foi o passo inevitável de levar a luta de Libertação Negra para o espaço de trabalho industrial, o ponto de produção, e a área mais vulnerável do Capitalismo. A Liga sabiamente decidiu organizar a indústria de produção de automóveis de Detroit. Esta foi uma indústria onde seus trabalhadores foram uma parte importante da força de trabalho e também na comunidade Negra de Detroit, onde a Liga uniu a luta nas fábricas com a luta Negra como um todo. Rapidamente se tornou uma força importante no local de trabalho e nas ruas, com muitos de seus quadros organizados nos campi universitários e nas áreas Negras centrais da cidade. Ele tinha o potencial para se tornar um movimento de massas da classe trabalhadora Negra em todo o país, mas esse potencial foi sufocado pelas lutas das facções políticas pela liderança, pela falta de uma base sólida organizada nas fábricas; repressão empresarial, repressão da central sindical United Automobile Workers e repressão do Estado, racismo organizado e falta de cooperação dos trabalhadores brancos, e outras razões. Eventualmente, a Liga se dividiu em facções mutuamente hostis e morreu, após menos de cinco anos de existência. Mesmo que a Liga fosse, no máximo, uma organização revolucionária sindicalista, e mais tarde uma rígida organizaO Movimento Revolucionário da Dodge foi uma organização de trabalhadores afro-americanos formada em maio de 1968 na planta da Corporação Chrysler. (n.e.)

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ção Marxista-Leninista (e a adoção desta ideologia autoritária mais tarde, com as suas ideias de expurgos e liderança inquestionável, conduz diretamente ao seu fim) há muito o que os Anarquistas e trabalhadores radicais Negros ativistas podem aprender com a Liga. A principal coisa é que os trabalhadores Negros podem e devem ser organizados em alguma forma de associação de trabalho independente, além de ou até mesmo no lugar de sua participação em sindicatos organizados e, especialmente, onde os sindicatos são pelegos e discriminam Negros. Também é muito mais fácil para os trabalhadores Negros organizarem outros trabalhadores Negros e sua comunidade em apoio à greve e à organização no local de trabalho. É precisamente por isso que temos de estabelecer um grupo como a Liga hoje, mas como uma organização Anarcossindicalista, de modo a evitar as armadilhas do passado e disputas ideológicas do marxismoleninismo. Simplificando, o que seria o programa de uma recém-formada Federação Nacional de Trabalhadores Negros? 1. Pela luta de classes contra os patrões. 2. Organizar os trabalhadores Negros não organizados ignorados pelos sindicatos. 3. Pela solidariedade trabalhadora entre todas as nacionalidades de trabalhadores. Deve ser uma Federação Internacional de Trabalhadores Negros! De Detroit, Michigan a Durban, África do Sul, do Caribe para a Austrália, do Brasil para a Inglaterra, trabalhadores Negros são universalmente oprimidos e explorados. A classe trabalhadora Negra precisa de sua própria organização mundial do trabalho. Não existe nenhum grupo racial mais rebaixado pelas restrições sociais que os trabalhadores Negros; eles são oprimidos como trabalhadores e como povo. Devido a estas duas formas de opressão e ao fato de que a


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maioria dos sindicatos excluem ou não lutam pelos direitos dos trabalhadores Negros, devemos nos organizar pelos nossos próprios direitos e pela libertação. Mesmo que, em muitos países africanos e do Caribe, existam federações de trabalhadores “Negros”, elas são reformistas ou controladas pelo governo. Há uma grande classe trabalhadora em muitos desses países, mas eles não têm organizações de trabalhadores militantes para liderar a luta. A construção de um movimento de trabalhadores Negros para uma sabotagem industrial revolucionária e uma greve geral, ou organizar os trabalhadores para a autogestão da produção, e assim minar e derrubar o governo é a prioridade número um. O que uma Federação Internacional dos Trabalhadores Negros simbolizaria? Em primeiro lugar, uma vez que muitos trabalhadores, agricultores e camponeses Negros não estão sequer organizados na maioria dos países, tal organização seria uma grande união de trabalhadores Negros, representando cada base e vocação concebível. Também uma organização destas significa a unidade mundial de trabalhadores Negros e, então, em segundo lugar, isso significa revoltas de trabalhadores internacionais coordenadas. Capital e Trabalho não têm nada em comum. A força real dos trabalhadores contra o Capital e os países imperialistas é uma guerra econômica. A greve geral revolucionária e o boicote às corporações multinacionais e aos seus produtos por trabalhadores Negros de todo o mundo é como eles podem ser feridos. Por exemplo, se quisermos fazer a Grã-Bretanha e os EUA retirarem o apoio financeiro e militar da África do Sul, e em seguida usarmos o peso e a força do Trabalho Negro naqueles países para conduzir a greves, sabotagens, boicotes e outras formas de luta política e econômica contra aqueles países e contra as empresas multinacionais envolvidas. Seria um poder a ser reconhe-


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cido. Por exemplo, ações coordenadas por sindicatos e grupos de ação política naquele país já têm provocado mudanças políticas importantes, uma greve geral plena provavelmente levaria ao colapso econômico total do Estado racista Sul-Africano, especialmente se tais ataques forem apoiados por trabalhadores Negros na América do Norte. Além de pedir aos trabalhadores Negros para formarem sua própria Federação Internacional do Trabalho e organizar comitês de base dentro de seus sindicatos existentes para empurrá-los para a direção da luta de classes, nós também convidamos trabalhadores Negros para participarem de organizações de trabalhadores Anarcossindicalistas como o IWW e Associação Internacional dos Trabalhadores. Mas, é claro, não é com a intenção de conduzir trabalhadores Negros para fora dos sindicatos em que já estão ativos, mas preferencialmente serviria como uma ferramenta para multiplicar seu número e força em tais sindicatos, e torná-los mais militantes. O Desemprego e a Falta de Moradia Nos primeiros três meses de 1993, a Agência de Estatísticas do Departamento de Trabalho dos Estados Unidos listou as taxas de desemprego oficial em cerca de seis milhões de pessoas ou apenas 7% da força de trabalho. Sob o Capitalismo, metade desse número é “normal” e absurdamente é considerado pelos economistas Capitalistas como “pleno emprego”, mesmo que isso signifique milhões de pessoas relegadas à pobreza econômica da pior espécie. Mas os números do governo são intencionalmente conservadores, e não incluem aqueles que desistiram de procurar ativamente um emprego, os subempregados (que não conseguem o suficiente para viver), os trabalhadores de meio


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expediente (que não conseguem encontrar um emprego fixo ou de tempo integral) e os desabrigados que já se encontram entre 3-5 milhões. Das 6 milhões de pessoas que o governo conta como desempregadas hoje, menos de 3 milhões recebem qualquer indenização por desemprego ou outra ajuda federal ou estadual; o resto é deixado para morrer de fome, roubar ou trapacear para a sua sobrevivência. Uma pessoa sem emprego sob o sistema Capitalista é estimada como nada. Todos os trabalhadores têm o direito humano a um emprego; contudo sob o Capitalismo, os trabalhadores são demitidos do trabalho em tempos de crise empresarial, de produção excessiva, depressão ou apenas para economizar custos trabalhistas através de menos trabalhadores e mais aceleração. E alguns trabalhadores não conseguem encontrar empregos no mercado de trabalho Capitalista, devido à falta de habilidades ou discriminação racial ou social. Mas os números do governo mentem, pesquisadores particulares afirmam que o número total de pessoas que querem empregos de tempo integral e, portanto, não conseguem encontrá-los equivale a cerca de 14,3 milhões de pessoas. Claramente, então, esta é uma situação de crise de proporções amplas, mas todo o governo está fazendo malabarismo e escondendo números. Mas os números mostram que os Negros, Latinos e mulheres estão arcando com o ônus da depressão atual. A Liga Urbana Nacional, em seu “Índice de Desemprego Oculto” (incluído como parte de seu Relatório Anual “Estado da América Negra”), relata níveis de 15-38 por cento dos adultos Negros de 25 ou mais anos e incríveis níveis de 44-55% para adolescentes e jovens adultos de 17-24 anos. Na verdade, o desemprego na juventude Negra não diminuiu em nada desde a recessão de 1974-1975. Ele per-


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maneceu em um nível oficial de 35-40%, mas, nas grandes cidades como Detroit, Chicago, Filadélfia e Los Angeles, a taxa de desemprego real está mais para 70%. Para a juventude Negra, a taxa de desemprego é de três a cinco vezes maior do que a dos jovens brancos. O Capitalismo está tornando exilado econômico o povo Negro como um todo. O fato é que o desemprego está concentrado nas comunidades Negras e Hispânicas, e é extremamente responsável pelas tendências mais destrutivas nas relações humanas e na deterioração de bairros. Crime, prostituição, suicídio, dependência de drogas, brigas de gangues, doença mental, alcoolismo e a ruptura da família Negra, e outros problemas sociais – todos estão enraizados na falta de emprego e na negação dos serviços sociais essenciais em suas comunidades. Na verdade, é o genocídio racial na forma de negligência social. O desemprego é rentável para os patrões, porque reduz os salários dos trabalhadores e ajuda os empregadores a manter a força de trabalho sob controle através deste “exército reserva de mão de obra”, que supostamente está sempre pronto para furar greve. Por causa da discriminação generalizada contra os Negros, Latinos e outros trabalhadores oprimidos nacionalmente, incluindo os níveis mais elevados de desemprego - os postos de trabalho que eles criam estão geralmente no patamar inferior. Isso também é rentável para o patrão e divide a classe trabalhadora. Falta de moradia é apenas a forma mais intensificada de desemprego, onde, além de perda de emprego ou renda, há perda de habitação e a falta de acesso aos serviços sociais. Existem agora milhões de pessoas desabrigadas desde os últimos 15 anos, por causa da ofensiva Capitalista para destruir os sindicatos, para rechaçar as conquistas da luta pelos direitos civis, para acabar com o setor de habitação a


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preços acessíveis, favorecendo a gentrificação de bairros nas cidades. Você as vê em cidades, grandes e pequenas, e o que isso reflete é um colapso total no sistema de serviços sociais do Estado Capitalista, além do aquecimento da luta de classes travada pelo governo e pelas grandes corporações. Isto mostra, mais do que tudo, que o Capitalismo mundial está passando por um pânico financeiro internacional, e está realmente nos estágios iniciais de uma depressão mundial. Além dos 90 milhões de pessoas que vivem abaixo da linha da pobreza e três a cinco milhões de sem-teto nos EUA; há outros 2,7 milhões de sem-teto nos doze países da Comunidade Europeia e 80 milhões de pessoas vivem na pobreza, com mais milhões nos países Capitalistas do Japão, Coreia do Sul e outras partes da Ásia. Assim, embora os trabalhadores Negros devam se organizar e lutar contra falta de moradia e desemprego nos EUA, claramente deve haver um movimento internacional de trabalhadores para combater esta privação econômica, como parte da luta geral da classe. Em todas as cidades na América do Norte, o movimento de trabalhadores Negros deve organizar conselhos sobre desemprego para lutar por seguro-desemprego e empregos para os desempregados, a construção de habitação de baixa renda decente, acessível, e um fim à falta de moradia, bem como lutar contra a discriminação racial em trabalhos e habitação. Tais conselhos seriam organizações democráticas, organizados em uma base de vizinhança (para garantir que eles estariam sob o controle do povo, e contra a infiltração e dominação pelos partidos políticos liberais ou “radicais”, ou cooptação pelo governo), que seriam federados em uma organização municipal, regional e nacional. Essa organização seria uma liga nacional do desemprego Negro, para criar um movimento de contra-ataque de massa nesta depressão. Ela


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seria composta de conselhos comunitários Negros de desempregados de todo o país, com delegados eleitos por todos os grupos locais. Tal organização nacional poderia se reunir para traçar um ataque em grande escala sobre o desemprego, bem como servir como câmara de compensação nacional sobre condições de desemprego dos Negros. Em nível local nos bairros Negros, seriam os conselhos comunitários sobre desemprego que estabeleceriam cooperativas de alimentação e moradia, liderariam greves de aluguéis e ocupações, iniciariam projetos de recuperação de terras e habitações, estabeleceriam cooperativas de produtores e consumidores, distribuiriam alimentos e roupas, e forneceriam outros serviços: estabeleceriam clínicas médicas de bairro para tratamento gratuito dos sem-teto e desempregados, programas de controle de roedores, etc., e eles iriam lidar com os problemas sociais da comunidade (provocados pelo desemprego), e outras questões de interesse. Eles construiriam marchas da fome e outras manifestações e levariam a ira do povo a vários gabinetes governamentais e às empresas dos ricos. Não somente os conselhos sobre desemprego seriam uma forma de lutar por empregos e seguro-desemprego, mas também os conselhos seriam uma maneira de obter uma grande dose de autossuficiência comunitária e democracia direta, em vez de depender totalmente da prefeitura, do Congresso ou do Presidente, e ajudaria a levar a confiança para as massas de que uma comuna municipal Negra se torna uma possibilidade real. Uma das funções mais importantes de um movimento contra o desemprego consiste em obter unidade entre empregados e desempregados ou sem-teto, e solidariedade entre trabalhadores interraciais. Empregados e desempregados devem trabalhar juntos para lutar contra a classe patronal se quiserem obter quaisquer ganhos efetivos durante


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este período de crise econômica. Os trabalhadores que estão em greve ou protestando contra o patrão seriam apoiados pelos desempregados, que estariam juntos nos piquetes e se recusariam a furar greve. Por sua vez, os trabalhadores formariam comissões de desempregados em seus sindicatos para permitir a representação sindical desses trabalhadores e também forçar esses sindicatos a fornecer alimentos e outras necessidades, criar fundos e treinamento para os desempregados, bem como colocar o peso dos sindicatos na luta por trabalho decente e habitação para todos os trabalhadores. Os patrões Capitalistas não se abalarão de outra maneira. Façam os patrões pagarem pela crise econômica deles! Aqui está o que um movimento unido de trabalhadores e sem teto deve exigir: 1. O pleno emprego (desemprego zero) para todos os trabalhadores com salários sindicalizados. 2. Estabelecimento de uma semana de trabalho mais curta, para que os trabalhadores sejam pagos com salário de 40 horas de trabalho por 20 a 30 horas de trabalho por semana. 3. Acabar com a falta de moradia, construir e disponibilizar moradia decente para todos. Revogar todas as leis antivadiagem, antimendicância e outras contra os semteto. 4. Encerrar com o orçamento de guerra, e utilizar esses fundos para habitação decente de baixa renda, melhores escolas, hospitais e clínicas, bibliotecas, parques e transporte público. 5. Fim do racismo e sexismo nas oportunidades de emprego e benefícios de assistência. 6. Empregos ou renda garantida para todos.


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7. Benefícios plenos, federais e estaduais, para trabalhadores desempregados e suas famílias, incluindo os fundos corporativos e governamentais para pagar as contas, aluguéis e dívidas para qualquer trabalhador demitido, e seguro-desemprego a 100% do salário regular, durante a totalidade do período de desemprego de um trabalhador. 8. Salário mínimo nacional fixado conforme o salário base da tabela do sindicato. 9. Fundos governamentais e corporativos para estabelecer um programa de obras públicas para gerar empregos (com todos os direitos sindicais e escala salarial) para reconstruir os centros urbanos e fornecer os serviços sociais necessários. O programa e seus fundos devem estar sob o controle de comitês democraticamente eleitos de bairros pobres e Negros, de modo a evitar “cafetões da pobreza” e agências de emprego enganadoras ou burocratas do governo. 10. Liberdade para todas as pessoas presas por crimes de sobrevivência econômica. Estas, e as exigências mencionadas anteriormente, formam meramente um programa de sobrevivência e uma ordem do dia para os trabalhadores desempregados; a verdadeira resposta é a revolução social, a eliminação do Capitalismo e a autogestão da economia e da sociedade pelos trabalhadores. Este é um primeiro passo vital, no entanto. Não haverá desemprego ou necessidade social para o trabalho assalariado em uma sociedade Anarco-Comunista. Crimes Contra o Povo É o rico que decide o que é ou não um crime; não é uma designação neutra. As leis são escritas para proteger os ricos e aqueles que atuam como agentes do Estado. Mas a


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maioria dos crimes pessoais não são cometidos contra os ricos: estes são geralmente inacessíveis. É o povo negro trabalhador e pobre que são as principais vítimas de crimes violentos. As mulheres Negras são as principais vítimas de estupro e abuso por parte do homem Negro neste país. O próprio homem Negro é a principal vítima de homicídio nos EUA por outro homem Negro como ele, e, infelizmente, as nossas crianças estão entre as principais vítimas de abuso infantil, muitas vezes por seus próprios pais. Nós não gostamos de pensar nessas coisas na comunidade Negra, mas estamos espancando e matando a nós mesmos em um ritmo alarmante. Isto não é negar que o sistema social Capitalista criou condições de vida frustrantes e degradantes, que contribuem para essa brutalidade e fratricídio, mas seria negligente em nossa obrigação humana e revolucionária se não tentássemos corrigir esse problema no curto prazo, e também fazer as pessoas Negras assumirem a responsabilidade por nossas ações. Eu não estou me referindo a nenhum conservadorismo Negro ou porcaria de “lei e ordem” aqui, mas sim ao reconhecimento do fato de que temos um problema. Temos uma situação de crise interna e externa que enfrentamos em nossa comunidade. A crise externa é o racismo e o colonialismo, que trabalha para nos oprimir sistematicamente e é responsável por qualquer crise interna que exista. A crise interna é o resultado de um ambiente onde as drogas e a violência (tanto físicas quanto sociais) são galopantes, e a vida é por vezes considerada barata. Crimes de Negros contra Negros e violência interna estão destruindo nossa comunidade. É, sem dúvida, o auto-ódio e as condições econômicas e sociais desesperadoras sob as quais vivemos que nos fazem ser predadores uns dos outros. Drogas, raiva frustrada, prostituição e outros vícios são sintomas de opressão.


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Nós matamos, batemos, estupramos e brutalizamos uns aos outros porque estamos sofrendo nós mesmos. Assim, estamos agindo em papéis antissociais definidos para nós por outra pessoa, não por nós mesmos. Em nossa dor e confusão, nós golpeamos as vítimas convenientes e familiares; aqueles que são como nós mesmos. Há pessoas Negras comuns que furtam e roubam para sobreviver sob este sistema, devido a essa distribuição desigual da riqueza. Além disso, para alguns de nós, em nosso desejo de “ter sucesso” na sociedade Capitalista, nós faremos de tudo, incluindo assassinato. E, finalmente, existem aqueles que fazem o que fazem devido à dependência de drogas ou doença mental. Quaisquer que sejam as razões, nós temos um problema sério que precisamos resolver porque está rasgando o tecido moral e social da nossa comunidade. Será impossível unir as pessoas Negras se elas estiverem com medo e ódio umas das outras. É também óbvio que a polícia e o governo não conseguem corrigir este problema e que só a comunidade Negra pode fazê-lo. Os tribunais e as prisões não conseguem evitar que a situação seja recorrente. Portanto, o que podemos fazer? É a comunidade, através de suas próprias organizações de interesse, que terá de lidar com este problema. Programas comunitários autogestionados para trabalhar com membros de gangue da Juventude Negra (uma fonte de muita violência na comunidade), em vez de uma abordagem militar ao se acionar a polícia, empoderar a comunidade em vez da burocracia da prisão racista e dos policiais. Além disso, o grupo de reabilitação de drogas de gestão comunitária, terapia e grupos de aconselhamento, e outras organizações de bairro nos ajudarão a lidar efetivamente com o problema da violência interna e, esperançosamente, desarmá-la. Mais importante ainda é envolver a comunidade no esforço.


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Mas não podemos depender totalmente das técnicas de aconselhamento ou de reabilitação, especialmente onde há uma ameaça imediata de violência ou onde ela ocorreu. Assim, para garantir a paz e a segurança pública, um serviço de guarda comunitária Negra seria organizado para este fim, bem como para se proteger contra a estrutura de poder branco. Esta força de segurança seria eleita pelos moradores locais, e iria trabalhar com a ajuda de pessoas nos bairros. Esta é a única maneira que funcionaria. Não seria um assistente do exército de ocupação colonial vigente em nossa comunidade, e não ameaçaria ou intimidaria a comunidade com a violência contra os nossos jovens. Nem essa guarda comunitária protegeria o vício e o crime organizado. Esta guarda comunitária só representaria a comunidade que a elegeu, em vez da prefeitura. De forma semelhante, unidades como essa seriam organizadas por toda a cidade, de quarteirão em quarteirão. No entanto, os Anarquistas vão além e dizem que depois que uma comuna municipal esteja configurada, os tribunais existentes devem ser substituídos por tribunais comunitários voluntários de arbitragem, e em casos de crimes graves como os relacionados a assassinatos ou que atentem contra a liberdade e igualdade, um tribunal especial comunitário de natureza não permanente seria criado. Os Anarquistas acreditam que o crime antissocial, ou seja, tudo o que oprime, rouba, ou gere violência contra a classe trabalhadora deve ser vigorosamente combatido. Não podemos esperar até depois da revolução para nos opor contra esses perigosos inimigos do povo. Mas uma vez que tais crimes antissociais são uma expressão direta do Capitalismo, haveria uma tentativa real de socializar, educar politicamente e reabilitar os infratores. Não os jogando em prisões Capitalistas brancas para sofrer como animais e onde, devido a


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sua tortura e humilhação, vão declarar guerra a toda a sociedade, mas os envolvendo na vida comunitária e dandolhes formação social e profissional. Uma vez que todos os “especialistas em criminologia” concordam que o crime é um problema social, e como sabemos que 88% de todos os crimes são contra o patrimônio e são cometidos pela sobrevivência em uma sociedade economicamente injusta, temos que reconhecer que só o pleno emprego, a igualdade de oportunidade econômica, moradia digna e outros aspectos da justiça social vão garantir um fim ao crime. Em suma, precisamos ter uma mudança social radical para erradicar as condições sociais que causam crimes. Uma sociedade injusta e desigual como o Capitalismo cria a sua própria classe criminal. Os verdadeiros ladrões e assassinos, empresários e políticos, são protegidos pelo sistema legal atual, enquanto os pobres são punidos. Essa é a justiça de classe, e é isso que a revolução social aboliria. Mas, compreensivelmente, muitas pessoas querem acabar com o estupro, assassinato e violência em nossas comunidades hoje, e acabam fortalecendo as mãos do Estado e seus agentes policiais. Eles não vão acabar com o crime, mas a polícia vai militarmente patrulhar as nossas comunidades, e ainda mais virar-nos uns contra os outros. Devemos ficar longe dessa armadilha. Frustradas e confusas, as pessoas Negras podem atacar umas as outras, mas, em vez de condená-las a uma morte lenta na prisão ou atirando nelas nas ruas por vingança, temos de lidar com as causas sociais subjacentes ao ato. Os Anarquistas devem começar a realizar fóruns comunitários sobre as causas e manifestações da criminalidade na comunidade Negra. Precisamos examinar seriamente as instituições sociais: família, escolas, prisões, postos de trabalho, etc., que nos levam à confusão, brigar, roubar e matar


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uns aos outros, em vez do inimigo que está causando toda a nossa miséria. Enquanto devemos nos mobilizar para conter os infratores, devemos começar a perceber que só a comunidade irá efetivamente lidar com o assunto. Não o sistema Capitalista racista, com seus policiais repressores, tribunais e prisões. Só nós temos a psicologia e compreensão para lidar com isso; agora temos de desenvolver a vontade. Ninguém mais se importa. Em vez de punição olho-por-olho, deve haver a restituição das vítimas, às suas famílias ou à sociedade. Nenhuma vingança, como a pena de morte, vai trazer uma vítima de assassinato de volta, nem serviria prisão a longo prazo à justiça ou à proteção da sociedade. Afinal de contas, as prisões são apenas lixeiras humanas para aqueles que a sociedade tenha descartado como inúteis. Nenhuma sociedade sã e justa adotaria esse caminho. A sociedade faz os criminosos e deve ser responsável por seu tratamento. A sociedade Capitalista branca é um crime em si, e é a maior mestre da corrupção e da violência. Em uma sociedade Anarquista, prisões seriam abolidas, juntamente com os tribunais e a polícia (salvo as exceções que aludi), e seriam substituídos por programas de gerência comunitária e centros interessados unicamente na regeneração humana e formação social, em vez da supervisão custodial em um encarceramento desumano. O fato é que, se uma pessoa é tão violenta e perigosa, ela é provavelmente mentalmente deformada ou tem algum defeito físico de qualquer maneira, o que o leva a cometer atos violentos após a justiça social ter sido vencida. Se tais pessoas são deficientes mentais, então elas devem ser colocadas em um estabelecimento de saúde mental, em vez de em uma prisão. Os direitos humanos não devem ser retirados e ele não deve ser punido. Escolas, hospitais, médicos e, acima


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de tudo, a igualdade social, bem-estar público e liberdade poderiam se revelar o meio mais seguro para se livrar de crimes e criminosos juntos. Se uma categoria especial como “criminoso” ou “inimigo” é criada, então essas pessoas podem sempre sentir-se párias e nunca mudarão. Mesmo se ele ou ela é um inimigo de classe, eles devem conservar todos os seus direitos civis e humanos na sociedade, embora, claro, seriam contidos se conduzissem uma contrarrevolução; a diferença é que nós queremos derrotá-los ideologicamente, não militarmente, ou pela entrega a um pretenso campo de reeducação, ou para serem mortos a tiro, como os bolcheviques fizeram ao assumir o poder na Rússia em 1917. Há duas principais razões pelas quais os ativistas na comunidade Negra, no nosso caminho da transformação da sociedade, de seus valores e condições – devem imediatamente dar uma olhada séria e agir para mudar o debate político em torno do crime, prisões e do dito sistema de justiça criminal. São duas razões que têm diretamente a ver com a gente. Uma é porque durante qualquer ano que seja, um em cada quatro homens Negros neste país está na prisão, na cadeia, em liberdade condicional ou liberdade vigiada, em comparação com apenas um em cada quinze homens brancos. Na verdade, os Negros compõem 50-85% da maioria das populações prisionais em todo os EUA, gerando um postulado da fraseologia radical: “Prisões são campos de concentração para os Negros e pobres”. Pode ser o seu irmão, irmã, marido, esposa, filha ou filho na prisão, mas eu garanto que todos nós conhecemos alguém na prisão, neste exato momento! A outra razão primária pela qual Negros têm um interesse voltado para instituições criminais e penais é porque, de longe, a maioria dos Negros e outros não brancos estão na prisão por ter cometido crimes contra a sua própria comunidade.


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As prisões são duplicatas compactas da comunidade Negra, em que muitos dos mesmos elementos negativos e destrutivos que têm permissão para existir em nossa comunidade e causar o crime, especialmente drogas, estão envenenando de uma forma mais evidente e concentrada. Chamar esses lugares de “correcionais” ou instituições de “reabilitação” é um equívoco grosseiro. Estão mais para campos de extermínio. Essas prisões não existem para punir a todos igualmente, mas para proteger o sistema Capitalista vigente de você e de mim, a classe pobre e trabalhadora. A alta taxa de reincidência prova, e as assim chamadas autoridades concordam, que o sistema prisional é um fracasso total. Cerca de 70% das pessoas que entram na prisão são reincidentes que cometem crimes cada vez mais graves. A brutalidade da experiência na prisão e o estigma de “ex-presidiário” quando são finalmente soltos os torna pior. Fundamental para a resolução destes problemas cruciais é a organização. A comunidade Negra e o movimento de Libertação Negra devem apoiar os prisioneiros em sua luta por direitos humanos para prisioneiros. Eles deveriam lutar pela libertação dos presos políticos e vítimas da injustiça racial. Eles também deveriam formar coalizões de grupos na comunidade Negra para lutar contra o sistema penal e judicial racista e, especialmente, a aplicação desigual da pena de morte, que é apenas mais uma forma de genocídio contra a raça Negra. E, finalmente, e talvez o mais importante, os grupos comunitários locais devem começar programas de reeducação com irmãos e irmãs na prisão, porque só através do contato planejado, regular e constante é que podemos começar a resolver esse problema que atinge tão diretamente nossas vidas. Abolir as prisões.


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A Epidemia das Drogas: Uma Nova Forma de Genocídio Negro? Uma das piores formas de criminalidade é o tráfico de drogas, e esse merece alguns comentários em separado. Há uma subcultura negativa das drogas na comunidade Negra que glorifica, ou pelo menos torna aceitável, o uso de drogas, mesmo que ele esteja nos matando e destruindo nossa comunidade. Na verdade, todos os dias, lemos sobre mais e mais viciados em nossas comunidades morrendo por overdose de drogas, ou de algum traficante de esquina morrendo em um tiroteio durante uma disputa ou durante uma transação de drogas que “azedou”. A tragédia neste último caso é que, nos dias de hoje, vítimas inocentes - crianças ou idosos também têm sido baleados no fogo cruzado. O adicto em drogas (o novo termo parece ser “crackudo47”) é outra figura trágica; ele era um ser humano como qualquer outro, mas por causa de seu ambiente social oprimido, procurou as drogas para aliviar a dor ou para escapar temporariamente das “selvas de concreto” em que somos forçados a viver nos guetos urbanos da América. Com a introdução do crack (um derivado mais potente da cocaína), que fez a sua aparição na década de 1980, ainda mais problemas e tragédias desse tipo se desenvolveram – mais viciados, mais assassinatos de gangues de rua, e mais deterioração de nossa comunidade. Nas grandes áreas urbanas quase sempre houve uso de drogas, o que é novo é a profundidade da penetração geográfica do crack nas comunidades Negras em todas as áreas do país. Mas a disseminação do crack é apenas um fato posterior à gestão governamental massiva do tráfico de drogas, que começou no 47

Crack-head, no original. (n.t.)


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final da década de 1960. A Casa Branca é a “Casa do Pó Branco”, ou seja, a administração política dos EUA está por trás de todo o comércio de drogas. O governo dos EUA, na verdade, vem contrabandeado drogas para este país por muitos anos a bordo de aviões militares e da CIA para usar como uma arma química de guerra contra a América Negra. Essas drogas eram principalmente heroína importada do chamado “Triângulo de Ouro” do Sudeste Asiático durante a Guerra do Vietnã. Mas, com a introdução do crack da cocaína, não houve mais necessidade de importar drogas para o país na mesma quantidade que antes, porque poderiam ser quimicamente preparadas em um laboratório no continente, e depois distribuídas imediatamente. O crack criou toda uma nova geração de consumidores de droga e clientes para os traficantes de drogas; era barato e altamente viciante. Crack e outras drogas são uma grande fonte de lucros para o governo e mantêm a comunidade Negra passiva e politicamente indiferente. Essa é a principal razão pela qual não podemos depender da força policial e/ou do governo para parar o tráfico de drogas ou ajudar as vítimas viciadas em drogas. Eles, por um lado, estão empurrando as drogas para nos abater, mas o Estado também se torna mais poderoso por causa da farsa da “guerra às drogas”, que permite medidas de estado policial em comunidades Negras e oprimidas, e por conta de milhões de dólares em dotações monetárias governamentais oriundas de serviços responsáveis pela aplicação da lei, que supostamente estão sufocando o tráfico de drogas. Mas eles nunca vão atrás dos banqueiros ou do grande negócio das empresas farmacêuticas que financiam o tráfico de drogas, apenas os traficantes de rua, que são geralmente Negros pobres. O desemprego é outra razão pela qual o tráfico de drogas é tão predominante em nossas comunidades. As pessoas


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pobres vão olhar desesperadamente para qualquer coisa para ganhar dinheiro, até mesmo com as drogas que estão destruindo nossas comunidades. Mas se as pessoas não têm emprego ou renda, as drogas parecem muito lucrativas, e a melhor maneira de sair dessa situação. De fato, a economia da droga tornou-se a única fonte de renda de muitas comunidades Negras pobres, e a única coisa que algumas pessoas compreendem que lhes permitirá sair da vida de pobreza desesperadora. Claramente, empregos dignos com salários com piso fixados pelo sindicato são parte da resposta para acabar com o tráfico de drogas em nossa comunidade, em vez de depender da polícia, de tribunais e do Estado. Os policiais não são nossos amigos ou aliados e devem ser expostos pelo seu papel na proteção do comércio, em vez de suprimi-lo. Apenas a comunidade pode parar o tráfico de drogas, e é nossa responsabilidade, não importando como você encara isso. Afinal, aqueles viciados são nossos irmãos e irmãs, mães e pais, vizinhos e amigos; eles não são estranhos. Devemos nos organizar para salvar suas vidas e a vida da nossa comunidade. Devemos estabelecer programas antidrogas nas comunidades Negras em todo o país. Devemos expor e combater o papel do governo como traficante de drogas, juntamente com o da polícia como protetor do comércio de drogas. Mas também devemos estar preparados para ajudar as vítimas das drogas com aconselhamento de rua, clínicas de rua (onde eles podem ficar limpos e aprender um ofício e as razões sociopolíticas para o uso de drogas), propaganda contra o uso de drogas e outras atividades. Viciados são as vítimas da sociedade das drogas, que supõem ser bacana usar drogas. As crianças são algumas das maiores vítimas do tráfico de drogas, quando são enganadas ou forçadas (por necessidade econômica) a usar ou vendê-


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las. Usuários e traficantes, ambos são vítimas, mas os traficantes são mais do que meramente inocentes. Mesmo que aquele Negro na esquina vendendo drogas seja ele próprio uma vítima do sistema econômico e político que faz com que ele faça isso, traficantes são uma espécie corrupta, perigosa, que precisa ser parada. Muitas pessoas foram mortas ou gravemente feridas por ingenuamente tentar opor-se aos traficantes de drogas, e fazê-los sairem de seus bairros. Portanto, uma vez que a estratégia com viciados seria mais benevolente e compreensiva, com traficantes devemos ser cautelosos, e até mesmo implacáveis quando for necessário. Precisamos tentar conquistá-los primeiro com um programa econômico e político para afastá-los do tráfico de drogas, mas muitos dos traficantes são tão propensos à violência, especialmente os “altos escalões” (que também são protegidos pela polícia), que devem ser combatidos por meios militares e políticos. Não estamos defendendo o assassinato sumário de pessoas, mas estamos dizendo que se for preciso a morte para trazer uma mudança na comunidade, que assim seja! A questão da morte é, essencialmente, uma questão de quem está causando a morte. Ela pode ser direta e exercida contra o comerciante da morte, ou pode ser indireta e exercida contra a nossa juventude – se nós deixarmos. Estar ciente de uma situação de perigo e não se mover para mudá-la é ser tão responsável por essa situação perigosa, como aqueles que primeiramente a criaram. Escutem, eu não quero simplificar este problema dizendo que apenas matar alguns traficantes de rua vai acabar com ele. Não, não vai, e nós não queremos fazer isso de qualquer forma! Eles são apenas pessoas pobres que tentam sobreviver neste sistema, apenas peões no jogo das drogas cujas vidas não importam para os grandes Capitalistas ou para


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o governo. Quando eles dizem que esses traficantes de rua serão mortos ou presos, o sistema do tráfico de drogas mesmo assim continuará. Este é um problema sociopolítico, que pode ser abordado de forma mais apropriada por organizações de base. Mas são os patrocinadores corporativos e industriais do comércio de drogas (e não apenas o traficante de esquina) que não somente devem ser expostos, como devem ser expulsos. Além da educação, agitação e outras ações, deve haver ação militar por células revolucionárias. As ações clandestinas que estamos pedindo às pessoas para realizarem podem ser realizadas por um grupo relativamente pequeno de pessoas dedicadas, uma célula revolucionária de combatentes armados, que tenham sido treinados em táticas de guerrilha. Mas mesmo estes pequenos grupos de pessoas, para funcionar, devem ter o apoio dos bairros, caso contrário, as pessoas não saberão diferenciá-los de outra gangue violenta qualquer. Uma vez que exista essa coesão social na comunidade, então podemos começar a colocar essa proposta em ação contra os traficantes mais violentos de alto nível. Tratamos aqui do que podem ser considerados de certa forma diretrizes para lidarmos com o problema na escala de um bairro ou de toda uma comunidade, e em seguida, em escala nacional. 1. Configurar aulas de educação sobre drogas na comunidade, para os jovens, especialmente, para expor a natureza do tráfico de drogas, quem fere, e como o governo, bancos e empresas farmacêuticas estão por trás de tudo isso. 2. Exposição dos comerciantes da morte e seus protetores policiais (fotos, cartazes, panfletos, boletins informativos, etc.). 3. Perseguição aos traficantes; ou seja, telefonemas ameaçadores, revistas em busca de drogas, marchas de cidadãos pelas áreas de seu “local de negócio” e outras táticas.


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4. Configurar clínicas de reabilitação de drogas para que os viciados possam ser tratados, possam estudar a natureza de sua opressão, e possam ser conquistados para a política revolucionária. Nós temos que ganhar as pessoas para longe do uso de drogas e para a revolução. 5. Eliminação física do comerciante; intimidação expulsando-o do bairro ou para fora da cidade, espancamentos e assassinatos, onde necessário. Drogas são a morte! Devemos lutar contra a dependência por quaisquer meios necessários! Façam tudo que puderem para ajudar o seu povo na guerra antidrogas! Intercomunalismo Africano Os ideais Anarquistas levam logicamente ao internacionalismo ou mais precisamente ao transnacionalismo, que significa para além do Estado-nação. Anarquistas preveem um momento quando o Estado-nação deixará de ter qualquer valor positivo para a maioria das pessoas, e, na verdade, será jogado no lixo. Mas esse tempo ainda não chegou, e até que chegue, devemos nos organizar pelo intercomunalismo, ou seja, pelas relações mundiais entre os povos Africanos e seus movimentos sociais revolucionários, em vez de seus governos e chefes de Estado. O Partido dos Panteras Negras pela primeira vez apresentou o conceito de intercomunalismo (na década de 1960), que é, embora um pouco diferente, basicamente um conceito libertário em sua essência (costumava de ser chamado de “PanAfricanismo”, mas com predomínio de governos “revolucionários” e movimentos coloniais ou de independência como aliados). Por causa da herança da escravidão e a continuação do neocolonialismo econômico, que disper-


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sou Negros para todos os continentes, é possível falar de solidariedade revolucionária internacional Negra. Eis como os Anarquistas veem o mundo: o mundo está atualmente organizado em estados-nações concorrentes, em que as nações Capitalistas Ocidentais têm sido responsáveis pela maior parte da fome no mundo, imperialismo e exploração dos povos não brancos da terra. Na verdade, todos os estados são instrumentos de opressão. Embora existam governos que afirmem ser “Estados operários”, “países socialistas” ou os chamados “governos revolucionários”, em essência todos eles têm a mesma função: a ditadura e a opressão dos poucos sobre os muitos. A falência do Estado é ainda mais evidenciada quando olharmos para os milhões de mortos durante as duas guerras mundiais, provocadas pelo Imperialismo Europeu, (1914-1918 e 1939-1945), e centenas de “guerras civis48” incitadas pelas grandes potências do Ocidente ou a Rússia na década de 1950, e que continuam até hoje. Isso inclui “estados operários”, como ChinaRússia, Vietnã-China, Vietnã-Camboja, Somália-Etiópia, Rússia-Tchecoslováquia e outros que entraram em guerra por disputas fronteiriças, intriga política, invasão ou outra ação hostil. Enquanto existirem Estados-nação, haverá guerra, tensão e animosidade nacional. Na verdade, a parte triste sobre a descolonização da África na década de 1960 foi que os países foram organizados conforme o ideal eurocêntrico de Estado-nação, em vez de algum tipo de formação mais aplicável para o continente, como uma federação continental. Isso, é claro, foi um reflexo do fato que, embora os Africanos estivessem obtendo sua “independência de bandeira” e todas as armadilhas do Estado soberano europeu, eles não estavam efetivmente 48

Brush wars, no original. (n.t.)


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obtendo liberdade. Os europeus ainda controlavam as economias do continente Africano, e os líderes nacionalistas que vieram à tona foram em sua maior parte os mais maleáveis e conservadores possível. Países exauridos da África eram como um cão com uma coleira no pescoço; embora os europeus não pudessem mais governar o continente diretamente através do domínio colonial, agora o faziam através de fantoches que controlavam e defendiam, como Mobutu no Congo, Selassie na Etiópia, e Kenyatta, no Quênia. Muitos desses homens eram ditadores da pior espécie e seus regimes existiam estritamente por causa do capital financeiro Europeu. Além disso, havia comunidades brancas de colonos nas colônias Portuguesas, África do Sul e Zimbabwe, que oprimiam os povos africanos de forma ainda pior que o antigo sistema colonial. Por isso, os movimentos de libertação nacional fizeram suas aparições nos anos 1960 e 70. Anarquistas apoiam os movimentos de libertação nacional, até o ponto que eles lutam contra um poder colonial ou imperialista; mas também observam que, em quase todos os casos em que essas frentes de libertação assumiram o poder do Estado, tornaram-se partidos “Comunistas de Estado” e novos ditadores sobre as massas do povo. Estes incluem os mesmos que haviam se envolvido em lutas populares épicas, mas incluem também muitos que, desde o início, baseavam-se em ditadura militar mais explícita. Eles não são progressistas e eles não toleram nenhuma dissidência. Por exemplo, tão logo o governo do MPLA49 chegou ao poder em Angola, começou a prender todos os seus adversários ideológicos de esquerda (Maoístas, Trotskistas, AnarMovimento Popular de Libertação de Angola, partido político de Angola, que governa o país desde sua independência de Portugal em 1975. (n.e.)

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quistas e outros) e a violentamente reprimir as greves de trabalhadores por melhores salários e melhores condições de trabalho, chamando essas ações de “chantagem” e de “sabotagem econômica”. E com o caso de Nito Alves e sua suposta tentativa de golpe (Alves foi um herói da revolução e um líder militar popular), houve o primeiro expurgo partidário de adversários no novo governo. Algo semelhante a isto também ocorreu quando o movimento Sandinista de Libertação Nacional assumiu o poder na Nicarágua na década de 1980. Nada disso deve parecer estranho ou atípico para Anarquistas, quando consideramos que o partido bolchevique fez a mesma coisa quando o poder do Estado consolidou-se durante a Revolução Russa (1917-1921). Em países como o Benin, Etiópia, República Popular do Congo e outros países na África, governos “revolucionários” não estão no poder como resultado de uma revolução social popular, mas sim devido a um golpe militar ou porque foram ali instalados por uma das principais potências mundiais. Além disso: muitos dos movimentos de libertação nacional não eram movimentos sociais independentes, mas estavam sob a influência ou controle da Rússia ou da China, como parte de suas lutas geopolíticas contra o imperialismo ocidental e um contra o outro. Isso não quer dizer que os movimentos revolucionários não deveriam aceitar armas e outro tipo de apoio material de um poder externo, enquanto eles permanecerem independentes politicamente e determinarem suas próprias políticas, sem essa ajuda estar subordinada aos ditames políticos e da “linha partidária” de outro país. Mas, mesmo que possamos divergir com eles politicamente e taticamente em muitas áreas, e mesmo com todas as suas falhas depois de assumir o poder do Estado, os revolucionários combatentes de libertação são nossos camaradas


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e aliados na luta comum contra o inimigo comum – a classe dominante imperialista dos EUA, enquanto a luta continuar. Sua luta afrouxa o aperto da morte do imperialismo norte-americano e ocidental (o que Anarquistas chamam mais precisamente de poder mundial Capitalista), e enquanto a luta continuar, estaremos unidos em camaradagem e solidariedade. Contudo, ainda assim não podemos ignorar as atrocidades cometidas por movimentos como o Khmer Vermelho, uma guerrilha Marxista-Leninista no Camboja, que há pouco massacrou milhões de pessoas para realizar políticas públicas Stalinistas rígidas bem como para consolidar o país. Temos de expor esta carnificina e outros crimes cometidos pelo Comunismo de Estado para todos verem. Nós não favorecemos esse tipo de revolução, que está apenas em busca do poder absoluto e de terrorismo contra o povo. É por isso que o Anarquismo sempre discordou da forma como os bolcheviques tomaram o poder na Rússia soviética; e a carnificina do povo russo por Stalin parece ter definido um modelo a ser seguido ao longo dos anos pelos movimentos pelo Comunismo de Estado. As frentes de libertação nacional cometem um erro básico de muitos movimentos nacionalistas de povos oprimidos, que é o de se organizar de uma forma que as diferenças de classe são obliteradas. Isso aconteceu nos Estados Unidos, onde durante a luta pelos direitos democráticos, o movimento dos direitos civis incluiu pastores Negros de classe média, professores e outros, e cada pessoa Negra era um “irmão” ou “irmã”, contanto que eles fossem Negros. Mas esta análise simplista da realidade social não se segurou por muito tempo, porque quando a fase dos direitos civis da luta Negra americana acabou-se em si mesma, as distinções de classe e a luta de classe vieram à tona. Elas foram ficando cada vez mais nítidas desde então. Embora existam pre-


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feitos Negros e outros burocratas, eles servem apenas como agentes de pacificação do Estado: “rostos Negros em altos cargos”. Este sistema neocolonial é semelhante ao tipo de neocolonialismo, que teve lugar no 3º Mundo, depois de muitos países terem alcançado sua “independência” na década de 1960. A Europa ainda manteve o controle por meio de políticos fantoches e um comando da pequenoburguesia que estavam dispostos a trocar a liberdade das pessoas por ganhos pessoais. Essas pessoas simplesmente presidem sobre a miséria das massas. Eles não são uma concessão séria para a nossa luta. Eles são colocados no cargo para cooptar a luta e amortecer a dor das pessoas. Assim, enquanto os revolucionários Negros geralmente favorecem as ideias de Intercomunalismo Africano, eles querem a unidade revolucionária baseada em princípios. É claro que o maior serviço que podemos prestar aos povos do chamado “Terceiro Mundo” da África, Ásia e América Latina é fazer uma revolução aqui na América do Norte – no ventre da besta. Porque nos libertando, tiramos a classe dirigente dos EUA de ambas as nossas costas. Desejamos construir uma organização internacional Negra contra o Capitalismo, o racismo, o colonialismo, o imperialismo, e a ditadura militar, o que poderia combater de forma mais eficaz as potências Capitalistas e criar uma federação mundial dos povos Negros. Queremos unir um irmão ou irmã na América do Norte com os povos Negros da Austrália e Oceania, África, Caribe e América do Sul, Ásia, Oriente Médio, e os milhões do nosso povo que vivem na Grã-Bretanha e em outros países da Europa Ocidental. Queremos unir as tribos, nações e culturas Negras em um organismo internacional de movimentos de base e forças de luta. Em todo o mundo, as pessoas Negras são oprimidas por seus governos nacionais. Alguns são súditos coloniais nos


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países Europeus, e um ou outro negro dos Estados Africanos exploram outros negros. Só uma revolução social vai levar à unidade e à liberdade Negra. No entanto, isto só será possível quando existirem organização e movimento social revolucionários e Negros. Uma organização que possa coordenar as lutas de resistência em todos os lugares dos povos Africanos; na verdade, uma rede de organizações, movimentos de resistência, que estão espalhados por todo o mundo com base em um consenso para a luta revolucionária. Este conceito aceita qualquer nível de violência que seja necessário para fazer cumprir as demandas do povo e dos trabalhadores. Nos países em que um movimento revolucionário Negro aberto seria submetido à feroz repressão por parte do Estado, como na África do Sul e em algumas ditaduras fantoches Negras em outras partes da África, do Caribe e da Ásia, seria necessário empreender uma luta de resistência Negra clandestina. Além disso, o Estado tem se tornado cada vez mais violento, com tortura generalizada e execuções, prisões e máximo de controle policial, de espionagem e de privação dos direitos democráticos, a brutalidade policial e assassinato. Claramente esses governos – e todos os governos – devem ser derrubados. Eles não vão cair devido a problemas econômicos ou políticos internos, mas devem ser derrotados e desmontados. Assim, apelamos a um movimento de resistência internacional para derrubar governos e o sistema de governo mundial Capitalista. Mas, mesmo nos países imperialistas ocidentais, temos de reconhecer a legitimidade da violência revolucionária. Quando forem necessárias tais formas de ação revolucionária, no entanto, uma clara diferença deve ser vista pelos revolucionários entre o terrorismo simples sem apoio popular e programa político coerente e uma guerrilha decorrente das frustrações sentidas coletivamente pelas pessoas comuns e


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pelos trabalhadores. A utilização de métodos militares seria necessária em um caso em que a violência do Estado tornasse imperativo para os revolucionários Negros se defenderem, levando a ofensiva armada contra o Estado e a classe dominante, e para expropriar a riqueza da classe Capitalista durante a revolução social. O movimento de libertação Negra precisa de uma organização capaz de coordenação internacional da luta de libertação Negra, uma federação mundial dos povos Africanos. Se bem que este não seria apenas um movimento Anarquista: uma federação como esta seria mais eficaz do que qualquer grupo de Estados, as Nações Unidas ou a Organização de Unidade Africana50, em libertar as massas Negras. Ela envolveria as massas de pessoas, e não somente os líderes nacionais ou Estados-nação. Os ditadores militares e burocratas do governo só provaram que sabem como gastar dinheiro com pompa e circunstância, mas não como desmantelar os últimos vestígios do colonialismo na África do Sul ou derrotar intrigas neocolonialistas ocidentais. A África ainda é o mais pobre dos continentes do mundo, ao mesmo tempo que o mais rico materialmente. O contraste é claro: milhões de pessoas estão passando fome em grande parte da África Equatorial, mas os chefes tribais, políticos e ditadores militares, estão dirigindo por aí de Mercedes e vivendo em mansões de luxo, enquanto fazem os lances dos banqueiros da Europa Ocidental e norte-americanos através do Fundo Monetário Internacional. Eles são parte do problema e não parte da solução! Criada a 25 de Maio de 1963, em Addis Ababa, Etiópia, por iniciativa do Imperador etíope Haile Selassie, a Organização da Unidade Africana (OUA) conta, em sua Constituição, com representantes de 32 governos de países africanos independentes. (n.e.)

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Nossas ideias sobre a importância do Intercomunalismo são baseadas em uma firme convicção de que só uma federação de povos livres trará o verdadeiro poder Negro para as massas. “Poder para o povo” não significa um governo ou partido político para governar em seu nome, mas o poder social e político nas mãos do próprio povo. O único “poder do povo” real é o poder de tomar suas decisões sobre assuntos de importância, e não apenas eleger alguém para fazêlo, ou ter uma ditadura forçada goela abaixo. A verdadeira liberdade é ter autodeterminação completa sobre o seu desenvolvimento social, econômico e cultural. O futuro é o Anarco-Comunismo, e não o Estado-nação, ditadores sanguinários, Capitalismo ou escravidão assalariada. Defesa Armada da Comuna Negra “Nossa insistência na ação militar, de defesa e retaliação, não tem nada a ver com romantismo ou fervor idealista precipitado. Queremos ser eficazes. Queremos viver. Nossa história nos ensina que as lutas de libertação de sucesso exigem um povo armado, todo um povo, participando ativamente na luta pela sua liberdade!” (George Jackson, citado em Sangue no Meu Olho). Nós devemos organizar unidades de autodefesa para proteger a comunidade Negra e suas organizações. A polícia e o governo são os principais perpetradores de violência contra as pessoas Negras. Todos os dias lemos sobre a polícia assassinando e mutilando as pessoas de nossa comunidade, tudo em nome da “lei e ordem”. Essa brutalidade policial inclui o uso de força letal contra crianças a partir de cinco anos e idosos com mais de 75 anos de idade! Precisamos desarmar e desmilitarizar a polícia, e forçá-la a deixar a nossa comunidade.


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Talvez isso possa ser feito depois que uma rebelião ou insurreição leve-os para fora, ou talvez eles tenham que ser expulsos por uma força de guerrilha de rua, como o Exército de Libertação Negra tentou fazer na década de 1970. Eu não tenho como saber. Eu só sei que eles têm de ir. Eles são um exército de ocupação opressiva, não são de nossa comunidade, não podem compreender nossos problemas e não se identificam com o nosso povo e suas necessidades. Além disso, é a corrupção dos policiais que protege o crime organizado e o vício em nossa comunidade, e o Capitalismo, com suas condições econômicas de exploração, que é responsável por todo o crime. As forças policiais existentes devem ser substituídas por forças de autodefesa da própria comunidade Negra, formada por membros da nossa comunidade eleitos ou nomeados por seus vizinhos para essa posição, ou a partir de uma força de guerrilha de rua já existente ou organização política, se as pessoas concordarem. Eles estariam sujeitos à revogação imediata e demissão pelos conselhos do Controle Comunitário de uma área. Isto é apenas para que possamos ter o controle comunitário da força de autodefesa, começar a lidar com o crime fratricida de Negro contra Negro, e sermos capazes de nos defender de ataques de racistas brancos ou da polícia. Com o aumento da violência racista branca hoje, e a possibilidade de ações mobilizadas por brancos no futuro, geralmente em nome de “lei e ordem”, estas forças de autodefesa da comunidade são da maior importância. A única questão é: podemos fazer isso agora? Nós existimos agora sob condições de legalidade e direitos civis nominais, mas, em algum momento no processo de construção de nossas forças, é inevitável que a estrutura de poder branco reconheça o perigo que representa uma comuna Negra livre, e então tentarão reprimi-la à força.


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Devemos ter a capacidade de autodefesa para resistir. Esse conceito de organizar uma força de autodefesa, aceita qualquer nível de violência que seja necessário para fazer cumprir as demandas do povo e dos trabalhadores. No entanto, essas forças de autodefesa não seriam um “partido de vanguarda”, uma força policial, ou mesmo um exército permanente no sentido estatal ou como normalmente isso se pensa; elas seriam uma milícia do povo Negro, autogerida pelos trabalhadores e da própria comunidade: em outras palavras, o povo em armas. Estas organizações de milícia nos permitirão participar em ações ofensivas ou defensivas, tanto em defesa comunitária em geral, ou como parte de uma insurreição ou resistência clandestina. Mas o que vamos fazer agora, neste momento, em termos de legalidade para recuperar nossa comunidade dos policiais racistas violentos? Será que ficamos sentados para debater a adequação da preparação militar, enquanto o inimigo está em nossa comunidade agora, cometendo estupro e assassinato de pessoas Negras, ou vamos revidar? Como podemos difundir se for pelo menos a ideia entre o nosso povo e começar a treiná-los para operações paramilitares? Em uma escala de massa, eu defendo a imediata formação de grupos de estudo de defesa e técnicas de sobrevivência, sob o pretexto de serem clubes de tiro, sociedades de artes marciais, clubes de sobrevivência em natureza selvagem ou qualquer outra coisa que precisarmos chamá-los. Uma profunda compreensão de pontaria, fabricação de munição, demolição e fabricação de armas é mínima para todos. Além disso, devemos estudar os primeiros socorros referentes às lesões traumáticas sofridas com tiros e explosivos, comunicação de combate, armas de combate, táticas de combate para o pequeno grupo, a estratégia de combate para a região ou nação, combater a atuação de inteligência policial ou


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militar entre outros assuntos. Estes temas são indispensáveis para quem está vivendo na clandestinidade ou durante uma insurreição geral. Devemos colocar ênfase na compra, coleta, duplicação e divulgação de manuais militares, livros didáticos de armeiros, manuais de explosivos e demolições improvisadas, manuais técnicos da polícia e do governo, e edições piratas de manuais de direita sobre o assunto (já que eles parecem escrever o melhor material nesta área), e também dar início ao estudo de como construir redes de inteligência para coletar informações sobre o rápido crescimento dos Skinheads e outras organizações racistas totalitárias, junto à informação de inteligência e contra-inteligência sobre a polícia secreta do governo e as agências de aplicação da lei, como o FBI, CIA, ATF, etc., e sobre toda e qualquer outra matéria que possa ser de utilidade para nós na luta próxima. Mesmo que nos Estados Unidos o desenvolvimento de habilidades militares e autodefesa sejam mais fáceis de serem realizados do que em muitos outros países, pois armas e munições estão amplamente disponíveis, é lógico supor que a situação das armas em breve estará tão apertada de modo a tornar as armas de fogo praticamente inacessíveis, a não ser através de um caro mercado negro por causa da “guerra contra as drogas” do governo e demais legislações de controle de armas propostas para prevenir “violência de rua”, ou assim eles dizem (você acha que as lojas que vendem armas de uso “esportivo” estarão abertas durante uma insurreição?). Portanto, devemos aprender a usar a tecnologia de máquinas-ferramentas para produzir nossas próprias armas. Armas perfeitamente adequadas podem ser produzidas usando um mínimo de máquinas-ferramentas, proporcionando que o indivíduo ou grupo está disposto a fazer o necessário de estudo e preparação. Não é o suficiente saber


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um pouco sobre esses assuntos; ser altamente proficiente é uma questão de sobrevivência futura - de vida ou morte. Não estou defendendo que se trave de imediato uma guerrilha urbana, especialmente onde não há base de massas para tais atividades. O que eu estou defendendo, nesta fase, é a autodefesa armada e o conhecimento de táticas para resistir à agressão militar contra a comunidade Negra. É um traço tolo e infeliz entre os Anarquistas, a esquerda branca e seções do movimento Negro condenarem o estudo de habilidades militares como prematuro ou aventureiro, ou de, por outro lado, lançar-se em uma fúria cega de expropriações de bancos, sequestros de pessoas, atentados ou sequestros de aeronaves. Muitas pessoas do movimento têm uma abordagem “viagem de morte” com relação a armas – eles presumem que, se você não está “de brincadeira”, então você deve provar suas convicções através de um tiroteio suicida nas ruas. Não precisa ser assim. Mas o movimento Negro não tem sequer o luxo destes debates mornos, e precisa ter uma política de defesa armada, porque os Estados Unidos têm uma longa tradição de repressão política de governo e de violência paramilitar de justiceiros. Embora esses ataques fossem direcionados principalmente a Negros e outras nacionalidades oprimidas no passado, eles também foram direcionados a sindicatos e grupos políticos dissidentes. Essa violência torna absolutamente necessário adquirir familiaridade com armas de fogo e táticas militares. Na verdade, o movimento de Resistência Negra de que falei anteriormente deve pensar em si mesmo como um movimento paramilitar, ao invés de uma mera associação política. Temos de afirmar nossos direitos de autodefesa armada e revolução, embora seja verdade que há muita conversa solta sobre armas, defesa pessoal, revolução, “guerrilha ur-


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bana”, etc., nos movimentos Negros e radicais, mas com muito pouco estudo e prática no manuseio e uso de armas. Algumas das mesmas pessoas pensam que “pegar a arma” significa que você pega em uma pela primeira vez no dia de uma insurreição ou confronto com a polícia. Isso é uma besteira e é o verdadeiro “suicídio revolucionário”, você poderia ser morto sem saber o que você está fazendo. Mas muitos casos atestam o fato de que autodefesa armada comunitária pode ser realizada com sucesso, tais como a resistência MOVE na Filadélfia51, a Resistência Armada República da Nova África52 em Detroit e Mississípi e os casos dos Panteras Negras. Ainda, tão importante quanto o ato de defesa em si, é o fato de que essas instâncias bem-sucedidas de autodefesa têm causado um enorme impacto sobre a comunidade Negra, incentivando outros atos de resistência.

A organização MOVE (MOVE organization) foi um grupo de libertação Negra baseado na Filadéfia que pregou a revolução e defendeu um retorno ao estilo de vida naturalista. Fundado por John Africa em 1972, teve sua casa sede bombardeada em pleno território nacional durante uma tentativa de desocupação da casa em que seus integrantes revidaram aos ataques policiais. Onze pessoas morreram, incluindo 5 crianças e o fundador do MOVE. (n.e.) 52 Republic of New Africa (RNA), no original, é uma organização nacionalista Negra que foi criada em 1969 com a premissa de que uma república Negra independente deveria ser criada a partir do sul dos Estados Unidos da Carolina do Sul, Geórgia, Alabama, Mississippi e Louisiana, que eram considerados “terras subjugadas”. O manifesto do grupo exigiu que o governo dos Estados Unidos pagasse US$ 400 bilhões em indenizações para as injustiças da escravidão e da segregação. O grupo previu que os EUA iriam rejeitar suas demandas e fez planos para a resistência armada e uma guerra de guerrilha prolongada. (n.e.) 51


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Insurreição Mas o que é uma rebelião e como ela se difere de uma insurreição? Uma insurreição é uma revolta geral contra a estrutura de poder. É geralmente uma rebelião sustentada que dura dias, semanas, meses ou mesmo anos. É um tipo de guerra de classe que envolve toda a população em um ato de resistência armada ou semiarmada. Às vezes erroneamente chamada de rebelião, seu caráter é muito mais combativo e revolucionário. Rebeliões são quase totalmente espontâneas, questões de curto prazo. Uma insurreição também não é a revolução, uma vez que a revolução é um processo social, e não um evento único, mas pode ser uma parte importante da revolução, talvez a sua fase final. Uma insurreição é uma campanha de protesto violento planejada que leva a revolta espontânea das massas a um nível superior. Revolucionários intervêm para empurrar rebeliões para a fase insurrecional, e a insurreição para uma revolução social. Não são pequenos grupos isolados de guerrilha urbana atuando, a menos que esses guerrilheiros façam parte de uma revolta maior. A importância de reconhecer as verdadeiras diferenças de cada nível pode definir a nossa estratégia e tática nesta fase, e não nos levar prematuramente para uma ofensiva total quando o inimigo ainda não estiver muito enfraquecido pela ação de massa ou ataques políticos. A importância de também reconhecer as verdadeiras causas da revolta não pode ser subestimada. Anarquistas revolucionários intervêm em tais lutas para mostrar às pessoas como resistir e as possibilidades de ganhar a liberdade. Queremos aproveitar as rebeliões do povo contra o Estado e utilizá-las para enfraquecer o domínio do Capital. Queremos criar resistência a longo prazo e conquistar zonas libertadas. Des-


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conectar essas comunidades do estado significa que essas rebeliões assumirão um caráter político consciente como a Intifada Palestina nos territórios ocupados controlados por Israel no Oriente Médio. Criar a possibilidade de uma insurreição Negra significa popularizar e difundir as várias rebeliões para outras cidades, municípios e até países, e aumentando-as em número e frequência. Significa, também, conscientemente anular o poder do Estado, ao invés de revoltas temporárias contra ele que, em última análise, preservam seu poder. Tem de haver uma tentativa deliberada de pressionar o governo à extinção, e estabelecer o Poder Popular. Isso ainda não aconteceu com as várias revoltas Negras que temos visto desde 1964, quando a primeira dessas revoltas modernas eclodiu no Harlem, Nova Iorque. Na década de 1960, as comunidades Negras em todos os EUA se levantaram furiosamente com rebeliões em massa contra o estado exigindo justiça racial. Após a revolta do Harlem, pelos próximos quatro anos, grandes rebeliões sacudiram os EUA no distrito de Watts de Los Angeles, Detroit, Chicago, e centenas de outras cidades norte-americanas. Atos isolados de brutalidade policial, discriminação racial, habitação precária, exploração econômica, “o elemento bandido”, uma avaria nos “valores familiares”, e uma série de outras “explicações” foram apresentadas por sociólogos liberais e conservadores e outros comissionados pelo Estado para encobrir as verdadeiras causas. No entanto, nenhum deles revelou isso como protesto contra o sistema Capitalista e a dominação colonial, embora os cientistas sociais “advertissem” sobre a possibilidade de um novo surto de violência. Mais uma vez, na primavera de 1992, vimos uma revolta massiva, em Los Angeles, cujas causas imediatas estavam relacionadas com a absolvição escandalosa de policiais de Los Angeles que tinham espancado brutalmente Rodney


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King. Mas novamente esta foi apenas uma causa imediata agindo como um gatilho; esta revolta não foi uma revolta de compaixão em nome de Rodney King pessoalmente. A causa dessa rebelião foi a desigualdade social generalizada no sistema Capitalista e o terrorismo da polícia. Desta vez, a rebelião espalhou-se para 40 cidades e quatro países estrangeiros. E não foi apenas o chamado “distúrbio racial”, mas sim uma revolta de classe que incluiu um grande número de Latinos, brancos e até Asiáticos. Mas foi, inegavelmente, em primeiro lugar, uma revolta contra a injustiça racial mesmo que não fosse dirigida contra os brancos em geral, mas contra o sistema Capitalista e os ricos. Ela não se limitou apenas ao centro da cidade na área de Los Angeles, mas se espalhou até as áreas da alta sociedade branca em Hollywood, Ventura, e mais além. Foi o estágio inicial da luta de classes. Se uma força militar clandestina existisse ou uma milícia tivesse sido reunida, ela poderia ter entrado no campo da batalha com mais armas e táticas avançadas. Do jeito que estava, as gangues desempenharam esse papel, e desempenharam muito bem. A sua participação é a razão em ter demorado tanto tempo para sufocar a rebelião, mas mesmo elas não puderam impedir o restabelecimento do poder branco em South Central, Los Angeles. Não apenas por estarem militarmente em desvantagem, mas porque não tinham nenhum programa político revolucionário, apesar de toda a sua retórica de terem sido radicalizados. Além disso, o Estado caiu extremamente pesado em cima dos rebeldes. Mais de 20.000 pessoas foram presas, 50 foram mortas e centenas de feridas. Poderia uma zona libertada ter sido conquistada, de modo que o poder dual pudesse ter sido estabelecido? Essa possibilidade existia e ainda existe, se as pessoas estivessem


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devidamente armadas e formadas. Resistência de massa com armamento militar pesado, poderia ter ganhado concessões sérias, uma das quais seria fazer a polícia recuar. Nós não sabemos disso, é pura especulação. Sabemos que esta não é a última rebelião em Los Angeles e outras cidades. Elas podem vir muito mais rápido agora que o gênio da revolução urbana está fora da garrafa novamente. Podemos apenas esperar e nos preparar. Para a frente com a Revolução Negra! Melhor: Para frente rumo à Revolução Negra!



CAPÍTULO 3

T EORIA

E

P RÁTICA A NARQUISTA

O principal objetivo deste capítulo é listar os principais elementos do pensamento Anarquista e dar exemplos do que alguns Anarquistas pensam sobre eles. Ao contrário de outras correntes de pensamento político, os Anarquistas não promovem certos textos ou indivíduos em detrimento de outros. Existem diferentes tipos de Anarquistas com muitos pontos de discordância. As principais áreas de debate entre os Anarquistas se relacionam com que forma de organização devemos lutar e quais táticas devemos usar. Por exemplo, algumas de suas diferenças mais significativas dizem respeito à organização econômica da sociedade futura. Alguns Anarquistas rejeitam dinheiro e o substituem por um sistema de comércio em que o trabalho é trocado por bens e serviços. Outros rejeitam todas as formas de comércio ou a troca ou a propriedade privada como a Capitalista e consideram que todas as grandes propriedades devem ser de propriedade comum. Existem Anarquistas que acreditam em guerra de guerrilha – incluindo assassinato, atentados, expropriações de bancos, etc. – como um meio de ataques revolucionários contra o Estado. Mas também existem Anarquistas que acreditam quase que exclusivamente na atuação através de organização, na atuação no local de trabalho ou na ação comunitária. Não há uma forma única, nem todos concordam sobre estratégia e táticas. Alguns se opõem à violência;


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alguns a aceitam apenas em legítima defesa ou durante uma insurreição revolucionária. Anarquistas e anarquismo têm sido historicamente deturpados pelo mundo. A impressão popular de um anarquista como uma pessoa violenta e de incontrolável emoção, que só está interessado em destruição segundo sua vontade, e quem se opõe a todas as formas de organização, ainda persiste hoje em dia. Além disso, a crença equivocada que anarquia é caos e confusão, um reinado de estupro, assassinato e estupidez, desordem total e insanidade é amplamente considerado pelo público em geral. Esta falsa impressão, em primeiro lugar, ainda é amplamente considerada verdadeira porque pessoas de todo o espectro político vêm conscientemente promovendo essa mentira por anos. Todos os que se esforçam para oprimir e explorar a classe trabalhadora, e conquistar o poder para si, venham eles da direita ou da esquerda, estarão sempre ameaçados pelo Anarquismo. Isso ocorre porque Anarquistas defendem que toda a autoridade e coerção devem ser combatidas. Na verdade, Anarquistas querem se livrar do maior perpetrador de violência ao longo da história: os governos. Para os Anarquistas, um governo “democrático” Capitalista não é melhor do que um regime fascista ou Comunista, porque a classe dominante apenas difere na quantidade de violência que autorizam sua polícia e seu exército a usar e o grau de direitos que permitirão, se for o caso. Através de guerra, repressão policial, abandono social e repressão política, os governos têm matado milhões de pessoas, seja tentando se defender ou derrubando outro governo. Os Anarquistas querem acabar com esse massacre, e construir uma sociedade baseada em paz e liberdade. O que é o Anarquismo? O Anarquismo é Socialismo Libertário ou livre. Os Anarquistas se opõem ao governo, ao


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Estado e ao Capitalismo. Portanto, falando simplesmente, o Anarquismo é uma forma de Socialismo sem governo. Em comum com todos os Socialistas, os Anarquistas defendem que a propriedade privada da terra, do Capital e das máquinas teve o seu tempo; que está condenada a desaparecer, e que todos os requisitos para a produção devem e vão tornar-se propriedade comum da sociedade, e vão ser geridos em conjunto pelos produtores da riqueza. Peter Kropotkin, em seu Anarco-Comunista: sua base e princípios. Apesar de existirem várias “escolas” diferentes do pensamento Anarquista, o Anarquismo revolucionário ou Anarco-Comunismo baseia-se na luta de classes, mas não têm uma visão mecanicista da luta de classes adotada pelos Marxistas-Leninistas. Por exemplo, não consideram que só o proletariado industrial pode alcançar o Socialismo, e que a vitória desta classe, liderada por um “partido operário comunista” representa a vitória final sobre o Capitalismo. Também não aceitamos a ideia de um “estado dos trabalhadores”. Os Anarquistas acreditam que somente os camponeses, trabalhadores e agricultores podem se libertar e que eles devem gerenciar a produção industrial e econômica por meio de conselhos de trabalhadores, comitês de fábricas e cooperativas agrícolas, e não com a interferência de um partido ou governo. Os Anarquistas são revolucionários sociais e sentem que a Revolução Social é o processo através do qual uma sociedade livre será criada. A autogestão será estabelecida em todas as áreas da vida social, inclusive o direito de todas as raças oprimidas à autodeterminação. Como já afirmei, a autodeterminação é o direito de autogoverno. Por sua própria iniciativa, as pessoas vão implementar a sua própria gestão da vida social através de associações voluntárias. Eles se recusarão a entregar sua auto-direção ao Estado, parti-


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dos políticos ou seitas vanguardistas, uma vez que cada um deles apenas ajuda no estabelecimento ou restabelecimento da dominação. Os Anarquistas acreditam que o Estado e a autoridade Capitalista serão abolidos por meio da ação direta: greves autônomas, desacelerações, boicotes, sabotagens, e insurreição armada. Nós reconhecemos que nossos objetivos não podem ser separados dos meios utilizados para alcançá-los. Portanto, a nossa prática e as associações que criarmos vão refletir a sociedade que buscamos. Atenção crucial deverá ser dada necessariamente para a área da organização econômica, uma vez que é aqui que os interesses de todos convergem. Sob o Capitalismo todos nós temos que vender o nosso trabalho para sobreviver e alimentar as nossas famílias e nós mesmos. Mas depois de uma revolução social Anarquista, o sistema de salários e a instituição da propriedade privada e do Estado será abolida e substituída pela produção e distribuição de bens de acordo com o princípio comunista: “De cada um segundo as suas capacidades, a cada um segundo as suas necessidades”. Associações voluntárias de produtores e consumidores tomarão posse comum dos meios de produção e permitirão a livre utilização de todos os recursos a qualquer grupo voluntário, desde que tal uso não prive os outros ou não acarrete no uso de trabalho assalariado. Essas associações podem ser cooperativas de alimentos e habitação, fábricas cooperativadas, escolas comunitárias, hospitais, instalações de lazer e outros serviços sociais importantes. Essas associações vão federar entre si para facilitar seus objetivos comuns em uma base tanto territorial quanto funcional. Esse Federalismo como um conceito é uma forma de organização social em que os grupos autodeterminados concordam livremente em coordenar suas atividades. O único sistema social que pode, eventualmente, atender às diversas


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necessidades da sociedade e, ao mesmo tempo, promover a solidariedade na escala mais ampla, é aquele que permite às pessoas associarem-se livremente com base em interesses e necessidades comuns. Federalismo enfatiza a autonomia e a descentralização, promove a solidariedade e complementa os esforços dos grupos a serem tão autossuficientes quanto possível. É de se esperar que os grupos cooperem entre si, tanto quanto haja benefícios mútuos. Ao contrário do sistema jurídico Capitalista e seus contratos, se não se sente que esses benefícios são mútuos em uma sociedade Anarquista, qualquer grupo tem a liberdade de dissociarse. Desta forma, um organismo social flexível e autorregulado será criado, sempre pronto para atender novas necessidades de novas organizações e adaptações. O Federalismo não é um tipo de Anarquismo, mas é uma parte essencial do Anarquismo. É a união de grupos e povos para a sobrevivência política e econômica e pelos meios de subsistência. Os Anarquistas têm um trabalho enorme pela frente, e eles devem ser capazes de trabalhar juntos em nome do ideal. O Anarquista Italiano Errico Malatesta disse bem quando escreveu: “Nossa tarefa é incentivar o ‘povo’ a reivindicar e aproveitar toda a liberdade possível para que se tornem responsáveis por suas próprias necessidades, sem esperar por ordens de qualquer tipo de autoridade. Nossa tarefa é demonstrar a inutilidade e nocividade do governo, ou provocar e incentivar através de propaganda e ação todos os tipos de iniciativas individuais e coletivas”... “Depois da revolução, os Anarquistas terão a missão especial de serem os vigilantes guardiões da liberdade contra os aspirantes ao poder e a possível tirania da maioria.” (Citado em Malatesta: Sua Vida e Tempo53, ed. por Vernon Richards) 53

A Confederação Nacional do Trabalho é composta por sindicatos


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Então, este é o trabalho da federação, mas ele não termina com o sucesso da revolução. Há muito trabalho de reconstrução a ser feito, e a revolução deve ser defendida para cumprir nossas tarefas, os Anarquistas devem ter suas próprias organizações. Eles devem organizar a sociedade pósrevolucionária, e é por isso que os Anarquistas se federam. Em uma sociedade moderna e independente, o processo de federação deve ser estendido para toda a humanidade. A rede de associações voluntárias – a Comuna – não conhecerá fronteiras. Poderá ser do tamanho da cidade, estado, ou nação, ou uma sociedade muito maior do que o Estado-nação sob o Capitalismo. Poderia ser uma comuna de massa que abrangesse todos os povos do mundo em uma série de federações Anarquistas continentais, digo América do Norte, África ou Caribe. Na verdade, este seria um mundo novo! Não uma Nações Unidas ou “Governo Mundial Único”, mas uma humanidade unida. Mas a nossa oposição é formidável – cada um de nós foi ensinado a acreditar na necessidade de um governo, na necessidade absoluta de especialistas, em receber ordens, em autoridade – para alguns de nós é tudo novo. Mas quando acreditamos em nós mesmos e decidimos que podemos construir uma sociedade baseada na liberdade, em indivíduos zelosos, essa tendência dentro de nós vai se tornar a escolha consciente de pessoas que amam a liberdade. Os Anarquistas verão seu trabalho como o fortalecimento dessa tendência, e mostrarão que não há democracia ou liberdade sob o governo – seja nos Estados Unidos, na China ou na Rússia. Anarquistas acreditam na democracia direta pelo povo como o único tipo de liberdade e autonomia. autônomos de ideologia anarcossindicalista da Espanha. Faz parte da organização de caráter transnacional Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT). (n.e.)


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Tipos de Anarquistas Mas não se pode esperar que Anarquistas concordem em tudo. Historicamente, essas diferenças levaram a tendências distintas na teoria e prática Anarquistas. Anarquistas Individualistas têm esperança em uma sociedade futura em que indivíduos livres cumpram o seu dever e compartilhem recursos “de acordo com os ditames da justiça abstrata”. De um modo geral, individualistas são meros filósofos, em vez de ativistas revolucionários. Eles são cidadãos libertários que querem reformar o sistema para que ele funcione “de forma justa”. Eles foram predominantes no século 19, mas ainda são vistos em formações Anarquistas “contra-culturais”, filósofos da classe média, ou libertários de direita. Mutualistas são Anarquistas associados com as ideias do filósofo Anarquista do século 19, Pierre-Joseph Proudhon, que baseou sua economia futura em “...um padrão de indivíduos e pequenos grupos possuindo (mas não proprietários) seus meios de produção, e vinculados por contratos de troca mútua e crédito mútuo (em vez de dinheiro), o que asseguraria a cada indivíduo o produto de seu próprio trabalho”. Este tipo de Anarquismo surge quando Individualistas passam a colocar suas ideias em prática, e apenas desejam reformar o Capitalismo e torná-lo “cooperativo”. Este é também onde os libertários de direita e os defensores de um papel minimizado para o Estado conseguem ideias. Marx atacou Proudhon como um “idealista” e “filósofo utópico” pelo conceito Anarquista de Ajuda Mútua. Coletivistas são Anarquistas com base direta nas ideias de Michael Bakunin, o Anarquista russo, o defensor mais conhecido para o público em geral da teoria Anarquista. A forma coletivista de Bakunin do Anarquismo substituiu a


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insistência de Proudhon sobre a posse individual com a ideia de possessão socialista por instituições voluntárias, bem como o direito ao gozo de cada produto do trabalho dele/dela ou seu equivalente ainda assegurado ao trabalhador individual. Este tipo de Anarquismo envolve uma ameaça direta para o sistema de classes e ao Estado Capitalista, e é a visão que a sociedade só pode ser reconstruída quando a classe trabalhadora assumir o controle da economia através de uma revolução social, destruindo o aparelho de Estado, e reorganizando a produção com base na propriedade e controle por associações de trabalhadores. Esta forma de Anarquismo ideologicamente é a base do AnarcoSindicalismo, ou sindicalismo revolucionário. Anarco-Sindicalistas são Anarquistas que atuam nos movimentos sindicais e da classe trabalhadora. Anarco-Sindicalismo é uma forma de Anarquismo para os trabalhadores com consciência de classe e camponeses, para os militantes e ativistas do movimento operário, para Socialistas libertários que querem igualdade, bem como a liberdade. Como apontado, essa filosofia se baseia fortemente nas ideias de Bakunin, embora suas técnicas de organização decorram dos movimentos sindicais franceses e espanhóis da CNT54 (chamados “sindicatos”), onde os Anarquistas foram fortemente envolvidos. Este é o tipo de Anarquismo que influenciou o IWW na América do Norte e que expressa a visão Em 28 de setembro de 1864 em Saint Martin’s Hall, Londres, foi fundada a Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT) que passou a ser mundialmente conhecida como Primeira Internacional. Participaram dessa reunião delegados de organizações operárias inglesas, francesas, italianas, alemãs, suíças e polonesas, na qual constituiuse um Comitê Provisório formado por 27 trabalhadores ingleses, 9 franceses, 9 alemães, 6 italianos, 2 suíços e 2 poloneses, além de emigrantes socialistas alemães e poloneses. (n.e.)

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de que o Estado Capitalista deve ser derrubado por uma forma revolucionária de guerra econômica chamada de Greve Geral, e que a economia deveria ser reorganizada e baseada em sindicatos industriais, que estariam sob o conselho da classe trabalhadora. Todos os assuntos políticos seriam tratados por um Congresso da União Industrial, enquanto as questões de trabalho iriam para um comitê da fábrica, ambos eleitos pelos próprios trabalhadores e sob seu controle direto. Este tipo de Anarquismo tem um grande potencial para a organização de um movimento de classe trabalhadora Anarquista na América do Norte, se levantar questões contemporâneas, como a semana de trabalho mais curta, conselhos de fábrica, a crise atual e um revide contra a ofensiva dos patrões nos últimos 20 anos contra a classe trabalhadora a nível mundial. Anarco-Comunistas são Anarquistas revolucionários que acreditam na filosofia da luta de classes, fim do Capitalismo, e todas as formas de opressão. Ao contrário do AnarcoSindicalismo, não se limitam a organização no local de trabalho. A filosofia baseia-se nas teorias de Peter Kropotkin, outro Anarquista russo. Kropotkin e seus companheiros Anarco-comunistas não apenas previam a comuna e conselhos de trabalhadores como os guardiães adequados da produção; eles também atacaram o sistema de salários em todas as suas formas, e reavivaram as ideias do Comunismo Libertário. Este tipo de Anarquismo também é conhecido como Socialismo Libertário, e inclui a maioria dos socialistas que também se opõem ao Estado, à ditadura e ao regime de partido único, embora não sejam Anarquistas. Desde a década de 1870, os princípios do AnarcoComunismo foram aceitos pela maioria das organizações Anarquistas favorecendo a revolução. Este Anarco-Comunismo ou Comunismo Libertário não deve, é claro, ser con-


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fundido com o muito bem conhecido Comunismo dos Marxistas-Leninistas, o Comunismo que se baseia na propriedade estatal da economia e controle da produção e distribuição, e também na ditadura do partido. Essa forma de sociedade comunista autoritária é baseada em opressão e escravidão ao Estado, enquanto nós somos a favor de um comunismo livre e voluntário, de recursos compartilhados. Comunismo Libertário não é o bolchevismo e não tem nenhuma ligação com Lenin, Stalin, Trotsky ou Mao Tse Tung. Não é o Estado ou o controle privado sobre os elementos essenciais da vida que buscamos, e nos opomos a todas as formas de ditadura. Os Anarco-Comunistas buscam fomentar o crescimento de uma nova sociedade na qual a liberdade para se desenvolver como um indivíduo está integrada em toda sua extensão com a responsabilidade social para com os outros. Autonomistas são uma nova tendência no movimento Anarquista. Esta tendência surgiu em meados de 1980 na Alemanha e depois se espalhou para outros países da Europa e América do Norte. Os estudantes, intelectuais e trabalhadores descontentes construíram esta tendência originalmente, mas também existem Anarquistas que se autodenominam Autonomistas para dar a entender que eles não estão ligados com a federação, ou não são doutrinários ou puristas. Como o Socialismo Libertário, eles parecem retirar sua ideologia tanto do Marxismo quanto de alguns princípios da filosofia Anarquista como o Anarco-Comunismo, mas eles tendem a ser mais independentes e muito meticulosos com a explicação de sua identidade diferente. Em conclusão, esta é uma forma de listar as diversas tendências do pensamento e prática Anarquista. Pode haver muitas outras maneiras de fazê-lo e descrever o desenvolvimento histórico de cada tendência. Isso pode estar


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além do escopo deste panfleto. Mas a maioria dos Anarquistas concordariam sobre essas demonstrações gerais: Anarquistas desejam, teorizam e agem para promover a abolição do governo, do Estado, e o princípio de autoridade que é central para as formas sociais contemporâneas, e para substitui-los por uma organização social baseada na cooperação voluntária entre indivíduos livres. Todas as tendências Anarquistas – exceto os Individualistas e, em certa medida, os Mutualistas – veem esta sociedade futura baseada em uma rede orgânica de associações de ajuda mútua, coletivos de trabalhadores e consumidores, comunas e outras alianças voluntárias, organizadas em unidades regionais e outras federações não-autoritários pelo propósito de partilhar ideias, informações, habilidades técnicas e recursos tecnológicos, culturais e recreativos em grande escala. Todos os Anarquistas acreditam na libertação da situação de fome e a desejam, e são contra todas as formas de opressão de classe, sexual e racial, bem como toda a manipulação política por parte do Estado. A filosofia é um ideal em evolução em que muitos indivíduos e movimentos sociais têm influência. Feminismo, Libertação Negra, direitos dos homossexuais, o movimento ecológico e outros, são todos acréscimos à consciência da filosofia do Anarquismo, e esta influência tem ajudado no avanço do ideal do Anarquismo como uma força social na sociedade moderna. Estas influências asseguram que a Revolução Social que todos nós antecipamos será a mais abrangente e democrática possível, e que tudo será totalmente libertado, não apenas homens ricos, brancos e heterossexuais.


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Pensamento Anarquista Versus Marxista-Leninista sobre a Organização da Sociedade Historicamente, houve três principais formas de socialismo: o Socialismo Libertário (Anarquismo), Socialismo Autoritário (Comunismo Marxista), e Socialismo Democrático (social-democracia eleitoral). A esquerda não-Anarquista tem ecoado o retrato burguês do Anarquismo como uma ideologia de caos e loucura. Mas o Anarquismo, e especialmente o Anarco-Comunismo, não tem nada em comum com esta imagem. Ela é falsa e inventada por seus adversários ideológicos, os Marxistas-Leninistas. É muito difícil para os Marxistas-Leninistas fazerem uma crítica objetiva do Anarquismo como tal, porque, por natureza, isso prejudica todos os pressupostos básicos para o Marxismo. Se o Marxismo, e o Leninismo – sua variante que surgiu durante a Revolução Russa, é mantido como sendo a filosofia da classe operária e o proletariado não pode dever sua emancipação a ninguém além de si mesmo, é difícil voltar atrás e dizer que a classe trabalhadora ainda não está pronta para dispensar a autoridade sobre ela. Lenin veio com a ideia de um Estado de transição, que “definharia” ao longo do tempo, para acompanhar a “ditadura do proletariado” de Marx. Os Anarquistas expuseram esta linha como contrarrevolucionária e pura tomada de poder. Mais de 75 anos de prática Marxista-Leninista vieram nos dar razão. Esses chamados “Estados Socialistas”, produzidos pela doutrina Marxista-Leninista elaboraram apenas estados policiais Stalinistas, onde os trabalhadores não têm direitos, uma nova classe dirigente de tecnocratas e políticos do partido surgiram, e o diferencial de classe entre favorecidos pelo estado em relação aos não favorecidos criou privação generalizada entre as massas e outra luta de classe. Mas, em


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vez de conhecer essas críticas de cabeça erguida, eles concentraram seus ataques não sobre a doutrina do Anarquismo, mas em determinadas figuras históricas Anarquistas, especialmente Bakunin, um adversário ideológico de Marx na Primeira Internacional dos Movimentos Socialistas55 do século passado. Anarquistas são revolucionários sociais, que buscam uma federação cooperativa, sem estado, sem classes e voluntária de comunas descentralizadas baseadas na propriedade social, liberdade individual e autogestão da vida social e econômica. Os Anarquistas diferem dos Marxistas-Leninistas em muitas áreas, mas especialmente na construção da organização. Eles diferem dos socialistas autoritários de basicamente três maneiras: eles rejeitam as noções Marxistas-Leninistas do “partido de vanguarda”, do “centralismo democrático”, e a da “ditadura do proletariado”, e Anarquistas têm alternativas para cada uma delas. O problema é que quase toda a esquerda, inclusive alguns Anarquistas, é completamente inconsciente das alternativas estruturais tangíveis do Anarquismo de Grupo Catalisador, de Consenso Anarquista, e de Comuna de Massa. A alternativa Anarquista para o partido de vanguarda é o grupo catalisador. O grupo catalisador é apenas uma federação Anarco-Comunista de grupos de afinidade em ação. Este grupo catalisador ou federação revolucionária Anarquista se encontraria regularmente ou apenas quando houvesse necessidade, dependendo dos desejos da sociedade e da urgência das condições sociais. Ele seria comFamoso livro de George Orwell, “1984”, publicado em 1948, retrata o cotidiano de um regime político totalitário e repressivo no ano homônimo. (n.e.) 55


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posto por representantes do grupo de afinidade ou pelo próprio grupo, com plenos direitos de voto, privilégios e responsabilidades. Iria definir tanto as políticas como as ações futuras a serem realizadas. Produzirá tanto a teoria quanto a prática social Anarco-Comunista. Acredita na luta de classes e na necessidade de derrubar o governo Capitalista. Ele se organiza nas comunidades e locais de trabalho. É democrático e não tem figuras de autoridade, como um chefe do partido ou comitê central. A fim de fazer uma revolução em grande escala, movimentos coordenados são necessários, e a sua formação é de modo algum contrária ao Anarquismo. Os Anarquistas se opõem à liderança hierárquica delirante por poder que suprime o impulso criativo da maior parte dos envolvidos, e força uma agenda goela abaixo. Os membros desses grupos são meros servos e adoradores da liderança do partido. Mas apesar dos Anarquistas rejeitarem este tipo de liderança dominadora, eles reconhecem que algumas pessoas são mais experientes, articuladas, ou qualificadas do que outras e essas pessoas terão um papel de ação de liderança. Estas pessoas não são figuras de autoridade, e podem ser removidas pela vontade do organismo. Há também uma tentativa consciente de rotineiramente rotacionar essa responsabilidade e transmitir essas habilidades uns para os outros, especialmente para mulheres e pessoas de cor, que normalmente não teriam chance. As experiências dessas pessoas, que são geralmente ativistas veteranos ou melhor qualificados do que a maioria, no momento podem ajudar a formar e impulsionar movimentos, e até mesmo contribuírem para a concretização do potencial de mudança revolucionária no movimento popular. O que eles não podem fazer é assumir a iniciativa do próprio movimento. Os membros desses grupos rejeitam posições hierárquicas – ninguém tendo mais


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autoridade “oficial” do que outros – e, ao contrário dos partidos M-L de vanguarda, os grupos Anarquistas não serão autorizados a perpetuar a sua liderança através de uma ditadura militar depois da revolução. Em vez disso, o próprio grupo catalisador será dissolvido e seus membros, quando estiverem prontos, serão absorvidos no processo coletivo de tomada de decisão da nova sociedade. Portanto, esses Anarquistas não são líderes, mas apenas assessores e organizadores para um movimento de massas. O que não queremos ou precisamos é de um grupo de autoritários liderando a classe trabalhadora, e, em seguida, estabelecendo-se como um comando centralizado de tomada de decisões, em vez de “definhar”; estados MarxistasLeninistas têm perpetuado instituições autoritárias (a polícia secreta, chefes de sindicatos e o Partido Comunista) para manter seu poder. A aparente eficácia de tais organizações (“nós somos tão eficientes quanto os Capitalistas”) mascara a forma sob a qual “revolucionários” que se padronizam no molde das instituições Capitalistas tornam-se absorvidos por valores burgueses, e completamente isolados das reais necessidades e desejos das pessoas comuns. A relutância dos Marxistas-Leninistas em aceitar a mudança social revolucionária é, no entanto, vista sobretudo na concepção de partido de Lênin. É uma receita para aproveitar apenas abertamente o poder e colocá-lo nas mãos do Partido Comunista. O partido que Leninistas criam hoje, acreditam eles, deve se tornar o (único) “Partido do Proletariado”, no qual essa classe poderia se organizar e tomar o poder. Na prática, porém, isso significava ditadura pessoal e de partido, na qual eles se arrogavam o direito e o dever de acabar com todos os outros partidos e ideologias políticas. Tanto Lenin quanto Stalin mataram milhões de trabalhadores e camponeses, seus opositores ideológicos esquerdis-


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tas, e até mesmo membros do partido Bolchevique. Essa história sangrenta e traiçoeira é o porque de haver tanta rivalidade e hostilidade entre Marxistas-Leninistas e os partidos Trotskistas hoje, e é por isso que os “Estados operários”, sejam em Cuba, China, Vietnã, ou Coréia são essas burocracias opressivas sobre seu povo. É também por isso que a maioria dos países Stalinistas do Leste Europeu teve seus governos derrubados pelos pequenos burgueses e cidadãos comuns na década de 1980. Talvez estejamos testemunhando o eclipse completo do Comunismo de Estado, uma vez que eles não têm nada de novo a dizer e nunca vão ter esses governos de volta. Enquanto os grupos Anarquistas tomam suas decisões por consenso Anarquista, os Marxistas-Leninistas se organizam através do chamado centralismo democrático. O centralismo democrático se apresenta como uma forma de democracia interna do partido, mas é realmente apenas uma hierarquia em que cada membro de um partido - em última análise, de uma sociedade – é subordinado a um membro “superior” até alcançar o todo-poderoso Comitê Central do Partido e seu Presidente. Este é um procedimento totalmente antidemocrático, que coloca a liderança acima de qualquer crítica, mesmo que não esteja acima de qualquer suspeita. É um método falido, corrupto de operações internas de uma organização política. Você não tem voz em tal partido, e devemos ter medo de fazer quaisquer comentários pouco lisonjeiros para ou sobre os líderes. Em grupos Anarquistas, as propostas são conversadas pelos membros (nenhum dos quais tem autoridade sobre outro), as minorias dissidentes são respeitadas e a participação de cada indivíduo é voluntária. Todo mundo tem o direito de concordar ou discordar sobre a política e as ações, e as ideias de todos recebem o mesmo peso e consideração.


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Nenhuma decisão pode ser tomada até que cada membro individual ou de grupo afiliado que será afetado por essa decisão tiver a chance de expressar sua opinião sobre o assunto. Os membros individuais e grupos filiados devem conservar a possibilidade de recusar o apoio às atividades específicas da federação, mas não podem impedir ativamente essas atividades. De forma verdadeiramente democrática, as decisões para a federação como um todo devem ser tomadas pela maioria de seus membros. Na maioria dos casos, não há nenhuma necessidade real para reuniões formais para tomada de decisões, o que é necessário é a coordenação das ações do grupo. É claro que há momentos em que uma decisão tem que ser tomada, e às vezes muito rapidamente. Isto será raro, mas às vezes é inevitável. O consenso, nesse caso, teria de ser no interior de um círculo muito menor do que a adesão geral de centenas ou milhares de membros. Mas normalmente tudo que é necessário é uma troca de informações e confiança entre as partes, e uma decisão reafirmando que a decisão original será alcançada, se uma decisão de emergência tiver de ser feita. É claro que, durante a discussão, haverá um esforço para esclarecer quaisquer diferenças importantes e explorar cursos de ação alternativos. E haverá uma tentativa de chegar a um acordo mútuo através do consenso entre visões conflitantes. Como sempre, se houver um impasse ou insatisfação com o consenso, a votação deverá ser tomada e com uma maioria de 2/3, a questão seria aceita, rejeitada ou rescindida. Isto tudo é totalmente contrário à prática de partidos Marxistas-Leninistas, nos quais o Comitê Central define unilateralmente a política para toda a organização, e onde reina a autoridade arbitrária. Os Anarquistas rejeitam a centralização da autoridade e o conceito de um Comitê


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Central. Todos os grupos são associações livres formadas a partir de comitês não revolucionários disciplinados por medo de autoridade. Quando o tamanho dos grupos de trabalho (que podem ser espalhados em torno de trabalho, arrecadação de fundos, antirracismo, direitos das mulheres, comida e habitação, etc.) torna-se complexo, as organizações podem ser descentralizadas em duas ou várias organizações mais autônomas, ainda unidas em uma grande federação. Isso permite que o grupo se expanda sem limites, mantendo a sua forma anárquica de autogestão descentralizada. É mais ou menos como a teoria científica de uma célula biológica, dividindo e re-dividindo, mas em um sentido político. No entanto, grupos Anarquistas não são sequer necessariamente organizados frouxamente; o Anarquismo é flexível e a estrutura pode ser praticamente inexistente ou muito rigorosa, dependendo do tipo de organização exigida pelas condições sociais enfrentadas. Por exemplo, a organização iria aumentar o rigor durante operações militares ou em repressão política intensificada. Anarco-Comunistas rejeitam o conceito MarxistaLeninista de “ditadura do proletariado” e o chamado “estado dos trabalhadores” em favor da comuna de massa. Ao contrário dos membros de partidos Leninistas, cujas vidas diárias são geralmente semelhantes aos atuais estilos de vida burgueses, estruturas organizacionais Anarquistas e estilos de vida através de arranjos comunais de vida, tribos urbanas, grupos de afinidade, ocupações urbanas, etc., tentam refletir a sociedade libertada do futuro. Anarquistas construíram todos os tipos de comunas e coletivos durante a Revolução Espanhola de 1930, mas foram esmagados pelos fascistas e os Comunistas. Uma vez que os Marxistas-Leninistas não constroem estruturas cooperativas, o núcleo da


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nova sociedade, eles só podem ver o mundo em termos políticos burgueses. Eles querem apenas tomar o poder do Estado e instituir sua própria ditadura sobre o povo e os trabalhadores, ao invés de esmagar o poder do Estado e substituílo por uma sociedade cooperativa livre. É claro que o partido, insistem, representa o proletariado, e não há necessidade para que eles se organizem fora do partido. No entanto, mesmo na ex-União Soviética, os membros do Partido Comunista representavam apenas 5% da população. Isto é elitismo da pior espécie e ainda faz com que os partidos Capitalistas pareçam democráticos, por comparação. O que o Partido Comunista tinha a intenção de representar em termos de poder dos trabalhadores nunca ficou claro, mas no verdadeiro estilo 198456 de “duplipensar”, os resultados são 75 anos de repressão política e escravidão do Estado, em vez de uma era de “glorioso regime Comunista”. Eles devem ser responsabilizados politicamente por estes crimes contra as pessoas, e a teoria política revolucionária e prática. Eles têm difamado os nomes do Socialismo e do Comunismo. Rejeitamos a ditadura do proletariado. É opressão desenfreada, e os Marxistas-Leninistas e Stalinistas devem ser obrigados a responder por isso. Milhões foram assassinados A chamada “Propaganda pelo fato” foi um princípio, logo convertido em tática, adotado por vários movimentos anarquistas na Europa a partir da década de 1880, e extendendo-se até o final da década de 1920. Essa tática foi interpretada de diversas maneiras pelos vários indivíduos e movimentos que a usaram, mas basicamente consistia numa ação afirmativa que procurasse levar a sociedade na direção do Anarquismo, seja de modo pacífico ou violento. A grande maioria das ações de Propaganda pelo fato eram violentas, geralmente envolvendo o assassinato de monarcas ou outras altas autoridades governamentais, ou o roubo a bancos e subsequente distribuição do dinheiro. (n.e.) 56


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por Stalin, em nome do combate a uma guerra de classes interna, e milhões mais foram assassinados na China, Polônia, Afeganistão, Camboja, e em outros países por movimentos Comunistas que seguiram a prescrição de Stalin para o terror revolucionário. Rejeitamos o Comunismo de Estado como a pior aberração e tirania. Nós podemos fazer melhor do que isso com a comuna de massa. A comuna de massa Anarquista (por vezes também chamada de Conselho dos Trabalhadores, embora existam algumas diferenças) é uma federação nacional, continental ou transnacional de cooperativas econômicas e políticas e formações comunais regionais. Anarquistas procuram por um mundo e uma sociedade em que a tomada de decisão real envolva todos aqueles que vivem nele – uma comuna de massa – não poucas aberrações disciplinadas puxando as cordas em uma chamada “ditadura do proletariado”. Toda e qualquer ditadura é ruim, não considera características sociais, ainda assim é o que os Leninistas dizem que irá nos proteger de uma contrarrevolução. Enquanto MarxistasLeninistas afirmam que esta ditadura é necessária a fim de esmagar quaisquer contrarrevoluções burguesas dirigidas pela classe Capitalista ou pela direita reacionária, Anarquistas sentem que esta é, em si, parte da escola Stalinista de falsificação. Um aparelho centralizado, como um estado, é um alvo muito mais fácil para os opositores da revolução do que uma série de comunas descentralizadas. E essas comunas permaneceriam armadas e preparadas para defender a revolução contra qualquer um que se mova militarmente contra ele. A chave é mobilizar as pessoas para guardas de defesa, milícias e outras unidades de preparação militar. Esta posição dos Leninistas da necessidade de uma ditadura para proteger a revolução não foi comprovada na


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guerra civil que se seguiu à Revolução Russa: na verdade, sem o apoio dos Anarquistas e outras forças de esquerda, junto com o povo russo, o governo bolchevique teria sido derrotado. E então fiel a qualquer ditadura, ele se virou e eliminou os movimentos Anarquistas russos e ucranianos, juntamente com os seus adversários de esquerda, como os mencheviques e os socialistas revolucionários. Mesmo adversários ideológicos dentro do partido bolchevique foram presos e condenados à morte. Lenin e Trotsky mataram milhões de cidadãos russos logo após a Guerra Civil, quando foram consolidar o poder do Estado, que precedeu o governo sangrento de Stalin. A lição é que não devemos ser convencidos a entregar o poder popular de base para ditadores que se fazem passar por nossos amigos ou líderes. Nós não precisamos das soluções dos Marxistas-Leninistas, eles são perigosos e ludibriadores. Há uma outra maneira, mas, para boa parte da esquerda e para muitas pessoas comuns, a escolha parece ser ou o “caos” Anárquico ou os partidos Maoistas “Comunistas”, todavia dogmáticos e ditatoriais. Isto é principalmente o resultado de malentendidos e propaganda. Mas o Anarquismo como uma ideologia fornece estruturas organizacionais possíveis, bem como a teoria revolucionária alternativa válida, que, se utilizada, poderia ser a base para uma organização tão sólida como a dos Marxista-Leninistas (ou até mais). Só estas organizações serão igualitárias e realmente voltadas para o benefício das pessoas, em vez de para os líderes comunistas. O Anarquismo não se limita às ideias de um único teórico, e permite que a criatividade individual se desenvolva em grupos coletivos, em vez do dogmatismo característico dos Marxistas-Leninistas. Portanto, não sendo sectário, incentiva uma grande dose de inovação e experimentação, o que impele seus seguidores a responder de forma


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realista às condições contemporâneas. É o conceito de fazer a ideologia se adequar às exigências da vida, ao invés de tentar fazer a vida se adequar às exigências da ideologia. Por isso, Anarquistas criam organizações a fim de construir um mundo novo, e não para perpetuar nossa dominação sobre as massas populares. Tentamos construir um movimento internacional coordenado e organizado visando transformar o mundo em uma comuna de massa. Esse seria realmente um grande salto na evolução humana e um passo revolucionário gigantesco. Mudaria o mundo como nós o conhecemos e acabaria com os problemas especiais que há muito assolam a humanidade. Seria uma nova era de liberdade e realização. Vamos logo com isso, temos um mundo a ganhar! Princípios Gerais do Anarco-Comunismo Uma vez que o Anarco-Comunismo ainda é a forma mais importante e amplamente aceita do Anarquismo, mais precisa ser dito sobre esta doutrina revolucionária dinâmica. O Anarco-Comunismo é baseado em uma concepção de sociedade que une harmoniosamente o interesse próprio e bem-estar social. Embora Anarco-Comunistas concordem com Marx e muitos Marxistas-Leninistas que o Capitalismo deve ser abolido por conta de sua natureza em crise (aqui nós rejeitamos o falso termo “anarquia da produção”) e sua exploração da classe trabalhadora, eles não acreditam que o Capitalismo é uma pré-condição progressiva indispensável para a transição para uma economia socialmente benéfica. Tampouco acreditam no que o planejamento econômico centralizado do Estado Socialista pode oferecer para a grande diversidade de necessidades ou desejos. Eles rejeitam a própria ideia da necessidade de um Estado ou que este vai


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simplesmente “definhar” por conta própria; ou um partido para “dar ordens” aos trabalhadores ou “orquestrar” a revolução. Em suma, embora aceitando os princípios de sua crítica econômica do Capitalismo, eles não adoram Karl Marx como um líder infalível cujas ideias nunca podem ser criticadas ou revistas, como os Marxistas-Leninistas fazem; e o Anarco-Comunismo não é baseado na teoria Marxista. Esses Anarquistas acreditam que “o pessoal é político e o político é pessoal”, o que significa que não se pode divorciar a vida política da vida pessoal. Nós não reproduzimos papéis políticos burocráticos e, em seguida, temos uma vida inteiramente distinta como outro ser social. Anarco-Comunistas reconhecem que as pessoas são capazes de determinar suas próprias necessidades e de tomar as medidas necessárias para atender a essas necessidades, desde que tenham livre acesso aos recursos sociais. É sempre uma decisão política se esses recursos devem ser fornecidos gratuitamente a todos, por isso os Anarco-Comunistas acreditam no credo “De cada um segundo as suas capacidades, a cada um segundo as suas necessidades”. Isto assegura que todos serão alimentados, vestidos e alojados como uma prática social normal, não tão humilhante quanto assistência social ou que certas classes serão melhor providas do que outras. Quando não foi deformada por instituições sociais e práticas corruptas, a interdependência e a solidariedade dos seres humanos resultam em indivíduos que são responsáveis tanto para consigo quanto para com a sociedade, o que faz com que o seu bem-estar e desenvolvimento cultural sejam possíveis. Por isso, procuram substituir o Estado e o Capitalismo com uma rede de alianças voluntárias abrangendo a vida social: produção, consumo, saúde, cultura, lazer e outras áreas. Desta forma, todos os grupos e associações colhem os benefícios da unidade, enquanto expandem a


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gama de sua liberdade. Anarquistas acreditam em livre associação e grupos federados de coletivos, conselhos de trabalhadores, cooperativas de alimentação e habitação, coletivos políticos, e outros de todos os tipos. Como uma questão prática, Anarco-Comunistas acreditam que devemos começar a construir a nova sociedade agora, assim como a lutar para esmagar o velho Capitalismo. Eles querem criar organizações de ajuda mútua não-autoritárias (para alimentação, vestuário, habitação, financiamento de projetos comunitários e outros), assembléias de bairros e cooperativas não associadas ao governo ou a corporações empresariais, e que não funcionem pelo lucro, mas para a necessidade social. Tais organizações, se construídas agora, irão proporcionar aos seus membros uma experiência prática em autogestão e autossuficiência, e diminuirão a dependência das pessoas nas agências de bem-estar e empregadores. Em suma, podemos começar agora a construir a infraestrutura para a sociedade comunal para que as pessoas possam ver pelo que estão lutando, não apenas as ideias na cabeça de alguém. Esse é o verdadeiro caminho para a liberdade. Capitalismo, o Estado e Propriedade Privada A existência do Estado e do Capitalismo é racionalizada por seus defensores como sendo um “mal necessário”, devido à alegada incapacidade da maior parte da população em administrar seus próprios negócios e os da sociedade, assim como sendo a sua proteção contra o crime e a violência. Anarquistas percebem que, muito pelo contrário, as principais barreiras para uma sociedade livre são o Estado e a instituição da propriedade privada. É o Estado que provoca a guerra, a repressão policial, e outras formas de vio-


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lência, e é a propriedade privada – a falta de igualdade na distribuição da grande riqueza social – que causa a criminalidade e a privação. Mas o que é o Estado? O Estado é uma abstração política, uma instituição hierárquica pela qual uma elite privilegiada se esforça para dominar a grande maioria das pessoas. Mecanismos do Estado incluem um conjunto de instituições que contêm assembléias legislativas, a burocracia do serviço público, as forças militares e policiais, o Judiciário e as prisões, e os aparelhos de Estado subnacionais. O governo é o veículo administrativo para executar o Estado. O objetivo deste conjunto específico de instituições que constituem as expressões de autoridade nas sociedades Capitalistas (e os chamados “estados Socialistas”) é a manutenção e ampliação de dominação sobre as pessoas comuns por uma classe privilegiada, os ricos nas sociedades Capitalistas, o chamado Partido Comunista no Estado Socialista ou sociedades Comunistas, como a antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. No entanto, o próprio Estado é sempre uma estrutura de posição elitista entre os governantes e os governados, os que dão as ordens e os que recebem as ordens, e economicamente possuidores e os que não são. A elite do Estado não é composta apenas pelos ricos e super-ricos, mas também pelas pessoas que assumem posições de autoridade do Estado: os políticos e funcionários jurídicos. Assim, a própria burocracia do Estado, em termos de sua relação com a propriedade ideológica, pode tornar-se uma classe de elite autojustificada. Esta classe de elite administrativa do Estado é desenvolvida não somente através da distribuição de privilégios da elite econômica, mas também pela separação entre vida privada e pública – a unidade familiar e a sociedade civil, respectivamente – e pela oposição entre uma


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família individual e a sociedade em geral. É puro oportunismo, provocado pela concorrência Capitalista e alienação. É um terreno fértil para os agentes do Estado. A existência do Estado e das classes dominantes, com base na exploração e opressão da classe trabalhadora são inseparáveis. Dominação e exploração caminham lado a lado e, de fato, esta opressão não é possível sem força e autoridade violenta. É por isso que os Anarco-Comunistas argumentam que qualquer tentativa de usar o poder do Estado como um meio de estabelecer uma sociedade igualitária, livre, só pode ser autodestrutiva, porque os hábitos de comando e exploração tornam-se fins em si mesmos. Isso foi comprovado com os bolcheviques na Revolução Russa (1917-1921). O fato é que os funcionários do Estado “Comunista” acumulam poder político tanto quanto a classe Capitalista acumula riqueza econômica. Aqueles que governam formam um grupo distinto, cujo único interesse é a manutenção do controle político por todos os meios à sua disposição. Mas a instituição da propriedade Capitalista, além disso, permite a uma minoria da população controlar e regular o acesso e uso de toda a riqueza socialmente produzida e dos recursos naturais. Você tem que pagar pela terra, a água e o ar fresco para alguma empresa de serviços públicos gigante ou empresas imobiliárias. Este grupo de controle pode ser uma classe econômica distinta ou o próprio Estado, mas nos dois casos a instituição da propriedade leva a um conjunto de relações sociais e econômicas, o Capitalismo, em que um pequeno setor da sociedade colhe enormes benefícios e privilégios às custas do trabalho de uma minoria. A economia Capitalista é baseada não na satisfação das necessidades de todos, mas em acumular lucros para poucos. Tanto o Capitalismo como o Estado devem ser atacados e derrubados, não um ou


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outro, ou um depois do outro, porque a queda de um deles não irá garantir a queda de ambos. Abaixo o Capitalismo e o Estado! Sem dúvida, alguns trabalhadores vão confundir o que eu estou falando como uma ameaça à sua propriedade pessoal acumulada. Não: Anarquistas reconhecem a distinção entre bens pessoais e a grande propriedade Capitalista. A propriedade Capitalista é aquela que tem como característica básica e finalidade o comando da força de trabalho de outras pessoas devido ao seu valor de troca. A instituição da propriedade condiciona o desenvolvimento de um conjunto de relações sociais e econômicas, que estabeleceram o Capitalismo, e esta situação permite que uma pequena minoria dentro da sociedade colha enormes benefícios e privilégios às custas da maioria trabalhadora. Este é o cenário clássico de exploração do trabalho pelo Capital. Onde há uma grande divisão social do trabalho e complexa organização industrial, o dinheiro é necessário para realizar transações. Não é simplesmente que esse dinheiro seja moeda corrente, e usado no lugar de troca direta de mercadorias. Não é a isso que estamos limitados aqui: Capital é o dinheiro, mas o dinheiro como um processo, que se reproduz e aumenta o seu valor. O Capital surge apenas quando o proprietário dos meios de produção encontra trabalhadores no mercado como vendedores de sua própria força de trabalho. O Capitalismo desenvolveu-se como a forma de propriedade privada que mudou do estilo rural agrícola para o estilo urbano da mão de obra fabril. O Capitalismo centraliza os instrumentos de produção e coloca indivíduos ao lado de outros, disciplinando sua força de trabalho. Capitalismo é a produção industrializada de mercadorias, do que é bom para lucrar, mas não para as necessidades sociais. Esta é uma distinção especial do capital.


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Podemos compreender o Capitalismo e a base de nossas observações, como o Capital dotado de vontade e consciência. Isto é, como as pessoas que adquirem Capital, e funcionam como uma elite, classe endinheirada com poder nacional e político suficiente para governar a sociedade. Além disso, aquele Capital acumulado é dinheiro, e com o dinheiro eles controlam os meios de produção que são definidos como as fábricas, minas, fábricas, terra, água, energia e outros recursos naturais, e os ricos sabem que esta é a sua propriedade. Eles não precisam de pretensões ideológicas, e não possuem ilusões sobre “propriedade pública”. Uma economia, como a que esboçamos brevemente, não se baseia na satisfação das necessidades de todos na sociedade, mas em vez disso é baseada na acumulação de lucros para poucos, que vivem no luxo palaciano como uma classe de lazer, enquanto os trabalhadores vivem ou na pobreza ou com rendas irrisórias. Veja, portanto, que acabar com o governo também significa a abolição do monopólio e da propriedade pessoal dos meios de produção e distribuição. Anarquismo, Violência e Autoridade Uma das maiores mentiras sobre Anarquistas é que eles são irracionais lançadores de bombas, degoladores e assassinos. As pessoas espalham essas mentiras por suas próprias razões: os governos, porque eles têm medo de ser derrubados por uma Revolução Social; Marxistas-Leninistas, porque é uma ideologia concorrente com um conceito totalmente diferente de organização social e de luta revolucionária; e a Igreja, porque o Anarquismo não acredita em divindades e seu racionalismo pode influenciar os trabalhadores para longe da superstição. É verdade que essas mentiras e propaganda são capazes de influenciar muitas pessoas, princi-


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palmente porque eles nunca ouvem o outro lado. Os Anarquistas recebem má publicidade e são bode expiatório de todos os políticos, de direita ou de esquerda. Porque uma Revolução Social é uma revolução Anarquista, que não somente elimina uma classe exploradora por outra, mas todos os exploradores e seu instrumento de exploração, o Estado. Porque é uma revolução para o poder popular, em vez de poder político; porque abole tanto o dinheiro quanto a escravidão assalariada; porque Anarquistas visam a democracia total e a liberdade, em vez de políticos para representarem as massas no Parlamento, no Congresso, ou o Partido Comunista; porque Anarquistas são a favor da autogestão dos trabalhadores da indústria, em vez da regulamentação governamental; porque Anarquistas a favor da ampla diversidade sexual, racial, cultural e intelectual, em vez de chauvinismo sexual, repressão cultural, a censura e a opressão racial; tiveram de dizer mentiras de que os Anarquistas são assassinos, estupradores, ladrões, terroristas loucos, elementos desagradáveis, os piores dos piores. Mas, vamos olhar para o mundo real e ver quem está causando toda essa violência e repressão aos direitos humanos. O assassinato em grande escala por exércitos permanentes nas Guerras Mundiais I e II, a pilhagem e estupro de antigos países coloniais, invasões militares ou as chamadas “operações policiais” na Coréia e no Vietnã - tudo isso foi feito pelos governos. É o governo e o Estado/classe dominante, que é a fonte de toda a violência. Isso inclui todos os governos. O chamado mundo “Comunista” não é comunista e o mundo “Livre” não é livre. Oriente e Ocidente, o Capitalismo, privado ou de Estado, continua a ser um tipo desumano de sociedade onde a grande maioria é perseguida no trabalho, em casa, e na comunidade. Propaganda (notícias


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e literatura), policiais e militares, prisões e escolas, os valores tradicionais e moralidade, todos servem para reforçar o poder de poucos e convencer ou corrigir os muitos à aceitação passiva de um brutal e degradante sistema irracional. Isto é o que os Anarquistas querem dizer com autoridade sendo opressão, e é justamente esse regime autoritário que está trabalhando nos Estados Unidos da América, bem como nos governos “Comunistas” da China ou Cuba. “O que é essa coisa que chamamos de governo? É qualquer coisa além de violência organizada? A Lei lhe ordena a obedecer, e se você não obedecer, vai obrigá-lo à força – todos os governos, todas as leis e autoridades vão finalmente se apoiar em força e violência, em punição ou medo da punição”. (Alexander Berkman, em ABC do Anarquismo). Existem revolucionários, incluindo muitos Anarquistas, que defendem a derrubada armada do Estado Capitalista. Eles não defendem ou praticam assassinatos em massa, como os governos do mundo moderno, com seus arsenais de bombas nucleares, gás venenoso e armas químicas, forças aéreas, marinhas e exércitos enormes e que são hostis uns com os outros. Não foram os Anarquistas que provocaram duas guerras mundiais, em que mais de 100 milhões de pessoas foram chacinadas; nem foram os Anarquistas que invadiram e massacraram os povos da Coreia do Sul, Panamá, Somália, Iraque, Indonésia e outros países que sofreram um ataque militar imperialista. Não foram os Anarquistas que enviaram exércitos de espiões em todo o mundo para assassinar, corromper, subverter, derrubar e se intrometer em assuntos internos de outros países, como a CIA, KGB, MI6 e outras agências de espionagem nacional, nem que os usaram como polícia secreta para defender os governos nacionais em vários países, não importa quão repressivo e impopular o regime. Além disso, se o seu governo


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faz de você um policial ou soldado, você mata e reprime as pessoas em nome da “liberdade” ou “lei e ordem”. “Você não questiona o direito do governo de matar, confiscar e aprisionar. Se uma pessoa particular fosse considerada culpada das coisas que o governo está fazendo todo o tempo, você iria marcá-la como uma assassina, ladra e patife. Mas, enquanto a violência cometida seja ‘legal’ você aprova e se submete a ela. Portanto, não é à violência real que você se opõe, mas às pessoas que utilizam a violência de forma ilegal”. (Alexander Berkman, em ABC do Anarquismo). Se falarmos honestamente, devemos admitir que todo mundo acredita na violência e a pratica, no entanto, essas mesmas pessoas podem vir a condená-la quando praticada por outros. Ou elas fazem elas mesmas ou elas têm a polícia ou o exército para fazer isso em seu nome, como agentes do Estado. Na verdade, todas as instituições governamentais que interferem em toda a vida da sociedade atual são baseadas em violência. Na verdade, a América é o país mais violento da Terra, ou como um camarada da SNCC, H. Rap Brown, foi citado como tendo dito: “a violência é tão americana quanto a torta de maçã (!)”. Os Estados Unidos entram por todo o mundo cometendo violência, assassinam chefes de Estado, derrubam governos, massacram centenas de milhares de civis e transformam em prisões as nações cativas, como estão fazendo no Iraque e na Somália hoje em dia. Espera-se que nos submetamos passivamente a estes crimes de conquista, que é a marca de um bom cidadão. Então, os Anarquistas não têm o monopólio da violência, e quando ela era usada nos ataques chamados “propaganda pelo fato57”, isso ocorreu contra os tiranos e dita57

“Blacklisted”, no original (n.t.)


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dores e não contra as pessoas comuns. Estas represálias individuais – bombardeios, assassinatos, sabotagens – têm sido os esforços para fazer quem está no poder pessoalmente responsável por seus atos injustos e sua autoridade repressiva. Mas, na verdade, os Anarquistas, Socialistas, Comunistas e outros revolucionários, assim como patriotas e nacionalistas, e até mesmo reacionários e racistas como a Ku Klux Klan ou os Nazistas, todos já usaram violência para uma variedade de razões. Quem não teria se alegrado se um ditador como Hitler tivesse sido morto por assassinos, e, assim, poupado o mundo do genocídio racial e da Segunda Guerra Mundial? Além disso, todas as revoluções são violentas porque a classe opressora não vai abandonar o poder e privilégios sem uma luta sangrenta. Então não temos escolha de qualquer maneira. Basicamente, todos nós escolheríamos ser pacifistas. E como o Dr. Martin Luther King Jr. aconselhou, iríamos preferir resolver nossas diferenças com compreensão, amor e raciocínio moral. Vamos tentar estas soluções em primeiro lugar, sempre que possível. Na loucura que reina, no entanto, o nosso movimento reconhece a utilidade da preparação. O mundo é perigoso demais para ignorarmos maneiras de nos defender, e considerando isso é que podemos continuar nosso trabalho revolucionário. Familiarizar-se com uma arma e seus usos não significa que você deve imediatamente sair e usar essa arma, mas que, se você precisar usá-la, você poderá usá-la bem. Somos forçados a reconhecer que os movimentos progressistas e radicais americanos têm sido muito pacifistas para ser verdadeiramente eficazes. Também percebemos que grupos abertos que propuseram mudança cooperativa e eram basicamente não-violentos, como o IWW, foram esmagados violentamente pelo governo e, finalmente, temos o lamentável exemplo do próprio Dr.


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King Jr., que foi assassinado em 1968 por uma conspiração de agentes do Estado, provavelmente o FBI. Entenda que, quanto mais tivermos sucesso em nosso trabalho, mais perigosa a nossa situação se torna, pois seremos reconhecidos como uma ameaça ao Estado. E – não se engane – a insurreição está chegando. Uma Intifada Americana que vai desestabilizar o Estado. Portanto, estamos falando de uma espontânea, prolongada, ascensão da grande maioria das pessoas, e da necessidade de defender nossa Revolução Social. Apesar de reconhecer a importância da violência paramilitar na defensiva, e até mesmo ataques de guerrilha urbana, não dependemos da guerra para alcançar a nossa libertação, porque a nossa luta não pode ser vencida pela força das armas, por si só. Não, as pessoas devem estar “armadas” previamente de entendimento e de concordância com os nossos objetivos, bem como de confiança e de amor pela revolução, e as nossas armas militares são apenas uma expressão de nosso espírito orgânico e solidariedade. Amor perfeito para o povo, ódio perfeito para o inimigo. Como o revolucionário cubano, Che Guevara, disse: “Quando um cai, outro deve tomar (seu) lugar, e a raiva de cada morte renova a razão para a luta”. Os governos do mundo alocam grande parte da sua violência na repressão a qualquer tentativa de derrubar o Estado. Crimes de repressão contra as pessoas têm geralmente beneficiado quem está no poder, especialmente se o governo é poderoso. Veja o que aconteceu nos Estados Unidos quando a Revolução Negra da década de 1960 foi reprimida. Muitos que protestaram contra injustiça foram presos, assassinados, feridos ou colocados na lista de perseguidos58 Programa secreto criado por J. Edgar Hoover, que se constituiu por uma série de operações ilegais e clandestinas conduzidas pelo que foi 58


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– que foi instalada por agências de polícia secreta do Estado. O resultado disso foi a derrocada do movimento por décadas. Portanto, não podemos depender apenas das mobilizações de massas, ou apenas nos envolvermos em ofensivas clandestinas, se quisermos derrotar o Estado e sua repressão: algum meio termo entre os dois deve ser encontrado. Para o futuro, o nosso trabalho vai incluir o desenvolvimento de técnicas coletivas de autodefesa, bem como o trabalho clandestino enquanto nós trabalhamos em direção à revolução social. Anarquistas e Organização Revolucionária Outra mentira sobre o Anarquismo é que seus adeptos são niilistas e não acreditam em qualquer estrutura organizacional. Os Anarquistas não são contra a organização. Na verdade, o Anarquismo é essencialmente preocupado com a análise da maneira como a sociedade está organizada atualmente, ou seja, o governo. Anarquismo é todo voltado à organização, mas se trata de formas de organização alternativas ao que existe agora. A oposição do Anarquismo à autoridade leva à visão de que a organização deve ser não-hierárquica e que a adesão seria voluntária. A Revolução Anarquista é um processo de construção e reconstrução da organização. Isso não significa a implantado e executado entre os anos de 1956 até após 1971. Entre seus objetivos estavam os de desestabilizar grupos de protestos, de esquerda, ativistas e dissidentes políticos dentro dos Estados Unidos. Dentre as atividades ilegais realizadas pelo FBI estavam interceptação de correspondência e comunicações, incêndios provocados, escutas telefônicas ilegais e assassinatos. COINTELPRO constituiu-se como uma forma de terrorismo de Estado conduzido em nome da “Segurança Nacional”. (n.e.)


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mesma coisa que o conceito Marxista-Leninista de “construção do partido”, que se trata apenas de reforçar o papel dos líderes partidários e expulsar aqueles membros que têm uma posição independente. Esses expurgos são métodos de dominação que os Marxistas-Leninistas usam para acabar com a democracia em seus movimentos, mas eles jocosamente chamam isso de “centralismo democrático”. O significado de organização no Anarquismo é organizar as necessidades das pessoas em organizações sociais não-autoritárias para que eles possam cuidar de seus próprios negócios em pé de igualdade. Significa, também, a união de pessoas de mesma opinião com a finalidade de coordenar o trabalho que seus grupos e indivíduos sintam necessários para a sua sobrevivência, bem-estar e sustento. Então, como o Anarquismo envolve pessoas que se reúnem em função das necessidades e interesses mútuos, cooperação é um elemento chave. O principal objetivo é que os indivíduos devem falar por si, e que todos no grupo devem ser igualmente responsáveis pelas decisões do grupo; nada de líderes ou chefes aqui! Muitos Anarquistas sequer preveem necessidades organizacionais de grande escala em termos de pequenos grupos locais organizados nos espaços de trabalho, coletivos, bairros e outras áreas, que iriam enviar delegados aos comitês maiores que tomariam as decisões sobre questões de interesse mais amplo. O trabalho do delegado não seria a tempo integral; seria rotativo. Apesar de que suas despesas do próprio bolso seriam pagas, o delegado não seria remunerado, revogável e só expressaria as decisões do grupo. As várias escolas do Anarquismo diferem na ênfase relativa à organização. Por exemplo, os Anarco-Sindicalistas salientam o sindicato revolucionário e outras formações no local de trabalho como a unidade básica da organização, en-


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quanto os Anarco-Comunistas reconhecem a comuna como a mais alta forma de organização social. Outros podem reconhecer outras formações como as mais importantes, mas todos reconhecem e apoiam organizações populares independentes e livres como o caminho a seguir. O núcleo da organização Anarco-Comunista é o Grupo de Afinidade. O grupo de afinidade é um círculo revolucionário ou “célula” de amigos e camaradas que estão em sintonia uns com os outros, tanto na ideologia e quanto como indivíduos. O grupo de afinidade existe para coordenar as necessidades do grupo, conforme expresso pelos indivíduos e pela célula como um organismo. O grupo torna-se uma grande família; o bem-estar de todos torna-se responsabilidade de todos. “Autônomo, comunal e diretamente democrático, o grupo combina a teoria revolucionária com estilo de vida revolucionário em seu comportamento cotidiano. Ele cria um espaço livre em que os revolucionários podem refazer-se individualmente e também como seres sociais”. (Murray Bookchin, em Anarquismo Pós-Escassez) Também podemos nos referir a essas formações de afinidade como “grupos para a revolução viva” porque vivem a revolução agora, mesmo que apenas em forma de semente. Como os grupos são pequenos – de três a quinze – eles podem começar a partir de uma base forte de solidariedade e não somente como mais uma estratégia política. Os grupos seriam o principal meio de atividade política de cada membro. Há quatro áreas de intervenção onde grupos de afinidade funcionam: 1. Ajuda Mútua: isto significa apoio e solidariedade entre os membros, bem como o trabalho coletivo e responsabilidade. 2. Educação: além de educar a sociedade em geral


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para os ideais Anarquistas, o que inclui estudo realizado por membros para o avanço da ideologia dos grupos, bem como para aumentar o seu conhecimento político, econômico, científico e técnico. 3. Ação: isto significa organização de fato e trabalho político do grupo fora do coletivo, onde se espera que todos os membros contribuam. 4. Unidade: o grupo é uma forma de família, encontro de amigos e companheiros, as pessoas que se importam com o bem-estar do outro, que amam e apoiam uns aos outros, que se esforçam para viver no espírito de cooperação e liberdade; ausência de desconfiança, ciúme, ódio, competição e outras formas de ideias sociais e comportamentos negativos. Em suma, os grupos de afinidade permitem a um coletivo viver um estilo de vida revolucionário. Uma grande vantagem dos grupos de afinidade é que eles são altamente resistentes à infiltração policial. Porque os membros do grupo são tão íntimos, os grupos são muito difíceis de infiltrarem agentes, e mesmo se um grupo for penetrado, não há um “escritório central” que daria a um agente informações sobre o movimento como um todo. Cada célula tem sua própria política, agenda e objetivos. Por isso, eles teriam de se infiltrar em centenas, talvez milhares, de grupos semelhantes. Além disso, uma vez que os membros todos se conhecem, eles não poderiam conduzir a rompimentos, sem o risco de exposição imediata, que enfraqueceriam uma operação como a COINTELPRO59 usada pelo FBI contra os movimentos Negros e progressistas na década de 1960. Além disso, porque não há líderes no movimento, não há ninguém para atacar e destruir o grupo. Black Panthers Party (BPP), no original, Partido dos Panteras Negras. (n.t.) 59


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Porque eles podem crescer como células biológicas crescem, por divisão, eles podem se proliferar rapidamente. Poderia haver centenas de pessoas em uma grande cidade ou região. Eles se preparam para o surgimento de um movimento de massas; eles vão organizar um grande número de pessoas, a fim de coordenar atividades conforme o surgimento das necessidades delas e das condições sociais estabelecidas. Os grupos de afinidade funcionam como um catalisador no seio do movimento de massas, empurrando-o para níveis mais elevados de resistência às autoridades. Mas eles estão prontos para o trabalho clandestino em caso de repressão política aberta ou insurreição de massas. Isso nos leva ao próximo nível de organizações Anarquistas, da federação de área e regional. Federações são as redes de grupos de afinidade que se reúnem a partir de necessidades comuns, que incluem educação, ajuda mútua, ação e qualquer outro trabalho considerado necessário para a transformação da sociedade atual do estado autoritário para o Anarco-Comunismo. O que segue é um exemplo de como federações Anarco-Comunistas poderiam ser estruturadas. Em primeiro lugar está a organização da área, o que poderia cobrir uma grande cidade ou município. Todos os grupos de afinidade afins na área iriam associar-se numa federação local. Acordos sobre a ideologia, a ajuda mútua, e medidas a serem tomadas seriam realizados em reuniões em que todos possam vir e ter voz igual. Quando a organização local atingir um tamanho em que é considerada grande demais, a federação da área iniciaria um Conselho de Coordenação de Consenso. O objetivo do Conselho é coordenar as necessidades e ações definidas por todos os grupos, incluindo a possibilidade de se dividir e criar uma outra federação. Grupos de afinidade de cada região serão convidados a enviar representantes


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para o conselho com todos os pontos de vista do seu grupo e, como delegados, poderão votar e participar fazendo política em nome do grupo no município. Nossa próxima federação seria em uma base regional, digamos, toda a região Sul ou Centro-Oeste. Essa organização cuidaria de toda a região, com os mesmos princípios de consenso e de representação. Em seguida viria uma federação nacional para cobrir os EUA, e a federação continental, essa última cobrindo o continente da América do Norte. Por último seriam as organizações globais, que seriam a criação de redes de todas as federações em todo o mundo. Quanto a este último, porque os Anarquistas não reconhecem fronteiras nacionais e desejam substituir o Estadonação, eles, assim, federariam com todas as outras pessoas afins onde quer que elas estejam vivendo no planeta Terra. Mas, para o Anarquismo realmente funcionar, as necessidades das pessoas devem ser cumpridas. Assim, a primeira prioridade dos Anarquistas é o bem-estar de todos; portanto, devemos organizar os meios para satisfazer plena e igualmente as necessidades do povo. Em primeiro lugar, os meios de produção, transporte e distribuição devem ser organizados em organizações revolucionárias que os trabalhadores e a comunidade administram e controlam eles mesmos. A segunda prioridade dos Anarquistas é lidar com as organizações de necessidades comunitárias, além de organizar a indústria. Quaisquer que sejam as necessidades da comunidade, elas precisam ser tratadas. Isto significa organização. Inclui grupos cooperativos para satisfazer essas necessidades como saúde, energia, emprego, creches, habitação, escolas alternativas, alimentação, entretenimento e outras áreas sociais. Estes grupos comunitários formariam uma comunidade cooperativa, que seria uma rede de organizações de necessidades comunitárias e serviria como uma


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infraestrutura sociopolítica Anarquista. Esses grupos devem trabalhar em rede com os de outras áreas para a educação em ajuda mútua e ação, e tornar-se uma federação em uma escala regional. Em terceiro lugar, os Anarquistas teriam de lidar com a doença social. Não somente nos organizamos para as necessidades físicas do povo, mas também devemos trabalhar e propagandear para curar os males germinados pelo Estado, que distorceu a personalidade humana sob o Capitalismo. Por exemplo, a opressão das mulheres deve ser abordada. Ninguém pode ser livre se 51 % da sociedade é oprimida, dominada e abusada. Não só devemos formar uma organização para lidar com os efeitos nocivos do sexismo, mas trabalhar para garantir que o patriarcado seja eliminado ao educar a sociedade sobre seus efeitos nocivos. O mesmo deve ser feito com o racismo, mas, além da reeducação da sociedade, nós trabalhamos para aliviar a opressão social e econômica dos Negros e outros povos não brancos, e capacitá-los para a autodeterminação afim de que levem uma vida livre. Anarquistas precisam formar grupos para expor e combater o preconceito racial e a exploração Capitalista, e estender total apoio e solidariedade ao movimento de libertação Negra. Por fim, o Anarquismo teria de lidar com uma série de áreas numerosas demais para mencionar aqui – ciência, tecnologia, ecologia, desarmamento, direitos humanos e assim por diante. Devemos aproveitar as ciências sociais e fazer com que elas sirvam ao povo, enquanto convivemos com a natureza. Autoritários tolamente acreditam que é possível “conquistar” a natureza, mas isto está fora de questão. Somos apenas uma de uma série de espécies que habitam este planeta, mesmo que sejamos a mais inteligente. Mas outras espécies não criaram armas nucleares, não começaram


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guerras onde milhões de pessoas foram mortas, ou se envolveram em discriminação contra as raças de suas sub-espécies, tudo isso a humanidade tem feito. Então, quem pode dizer qual deles é o mais “inteligente”? Por Que Eu Sou Um Anarquista? O movimento Anarquista na América do Norte é predominantemente branco, classe média, e em sua maior parte, pacifista. Então surge a pergunta: por que eu sou parte do movimento Anarquista, já que não sou nenhuma dessas coisas? Bem, embora o movimento possa não ser agora o que eu acho que deveria ser na América do Norte, eu visualizo um movimento de massas que terá centenas de milhares, talvez milhões de Negros, Hispânicos e outros trabalhadores não brancos nele. Não será um movimento Anarquista em que os trabalhadores Negros e outros oprimidos só vão “aderir” – será um movimento independente que tem sua própria visão social, seu imperativo cultural, e agenda política. Será Anarquista em sua essência, mas também irá estender o Anarquismo a um nível em que nenhum grupo social ou cultural Europeu anterior jamais o levou. Estou certo de que muitos destes trabalhadores vão acreditar, como eu, que o Anarquismo é a forma mais democrática, eficaz e radical para obter a nossa liberdade, mas que devemos ser livres para projetar nossos próprios movimentos, seja ele compreendido ou “aprovado” pelos Anarquistas norte-americanos ou não. Devemos lutar pela nossa liberdade, ninguém mais pode nos libertar, mas eles podem nos ajudar. Eu escrevi o panfleto para: 1. Inspirar uma federação nacional antirracista e antibrutalidade policial, que seria iniciado por Anarquistas ou


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pelo menos teria fortemente a participação de Anarquistas; 2. Criar uma coalizão entre Anarquistas e organizações Negras revolucionárias, como o novo movimento dos Panteras Negras da década de 1990; e 3. Desencadear uma nova efervescência revolucionária em organizações Afro-Americanas e outras comunidades oprimidas, em que o Anarquismo é uma curiosidade, se tanto. Eu pensei que se um revolucionário libertário sério, respeitado, colocasse essas ideias adiante, elas seriam mais propensas a ser consideradas do que apenas por um Anarquista branco, não importando quão bem motivado. Eu acredito que eu estou correto sobre isso. Então é por isso que eu sou um Anarquista. Na década de 1960, eu fazia parte de uma série de movimentos revolucionários Negros, incluindo o Partido dos Panteras Negras, que eu sinto que falhou parcialmente por causa do estilo de liderança autoritária de Huey P. Newton, Bobby Seale e outros no Comitê Central. Esta não é uma recriminação contra aqueles indivíduos, mas muitos erros foram cometidos porque a liderança nacional foi também divorciada das filiais em cidades de todo o país, e, portanto, se envolveram em “dirigismo” ou trabalho forçado ditado pelos líderes. Mas muitas contradições também foram estabelecidas por causa da estrutura da organização como um grupo Marxista-Leninista. Não havia muita democracia interna do partido, e quando as contradições vieram, foram os líderes que decidiram sobre a sua resolução, e não os membros. Expurgos se tornaram comuns, e muitas pessoas boas foram expulsas do grupo, simplesmente porque eles discordavam da liderança. Por causa da importância exarcebada da liderança central, a organização nacional foi, em última análise, inte-


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gralmente liquidada, embalada e enviada de volta para Oakland, Califórnia. É claro que muitos erros foram cometidos porque o BPP60 era uma jovem organização e estava sob intenso ataque por parte do Estado. Eu não quero dar a entender que os erros internos foram as principais contradições que destruíram o BPP. Os ataques da polícia contra ele fizeram isso, mas, se fosse melhor e mais democraticamente organizado, ele poderia ter suportado a tempestade. Portanto, esta não é uma crítica ou ataque traidor sem sentido. Eu amei o partido. E, de qualquer maneira, nem eu ou qualquer outra pessoa que critique o partido em retrospectiva, nunca vai tirar o enorme papel que o BPP desempenhou no movimento de Libertação Negra da década de 1960. Mas temos de olhar para uma imagem completa das nossas organizações daquele período, para que não repitamos os mesmos erros. Acho que o meu breve período nos Panteras foi muito importante porque me ensinou sobre os limites da – e até mesmo a falência da – liderança em um movimento revolucionário. Não era uma questão de um defeito de personalidade de determinado líder, mas sim a percepção de que muitas vezes líderes têm uma agenda, seguidores têm outra. Eu também aprendi essa lição durante a minha associação com o Partido Socialista Popular Africano durante a década de 1980, quando eu tinha saído da prisão. Eu havia conhecido Omali Yeshitela enquanto estava confinado na Penitenciária Federal de Leavenworth (Kansas), quando ele foi convidado para nossas festividades anuais da Solidariedade Negra da Baía, em 1979. Esta associação continuou quando eles formaram a organização dos prisioneiros 60

Ou Conferência Sulista de Liderança Cristã (SCLC). (n.t.)


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Negros, a Organização Prisional Nacional Africana, pouco depois. A ANPO foi definitivamente uma boa organização de apoio, e, juntamente com os Comitês de Notícias e Cartas, a filial de Kentucky da Aliança Nacional Contra o Racismo e Repressão Política, e a Federação Anarquista Social Revolucionária (já extinta), eles escreveram cartas e fizeram telefonemas para me hospitalizar depois de eu ter sido infectado com tuberculose, o que salvou minha vida. Mas o grupo se dissolveu quando a coalizão proposta entre organizações fundadoras desabou devido ao sectarismo. Depois que eu saí da prisão, eu perdi o contato com eles à medida que haviam mudado de Louisville para a Costa Oeste. E assim foi até 1987, quando mais uma vez eu os contatei, quando estávamos tendo uma manifestação em massa contra a brutalidade policial na minha cidade natal. Eles foram convidados e chegaram à passeata, junto com a ANPO e várias forças de esquerda, e por dois anos, indo e voltando, eu tive uma associação com eles. Mas eu sentia que a APSP (African People’s Socialist Party) politicamente sempre foi uma organização autoritária, e mesmo que eu nunca tenha sido um membro, eu ficava cada vez mais desconfortável com as suas políticas organizacionais. No verão de 1988, fui a Oakland, Califórnia, para participar de uma “escola de organizadores”, mas eu também queria me convencer sobre o funcionamento interno do grupo. Durante seis semanas, eu trabalhei com eles fora de suas sedes nacionais na comunidade local. Eu era capaz de determinar por mim mesmo sobre assuntos internos e também interromper a política do próprio grupo. Eu descobri toda uma história de expurgos, brigas entre facções, e um jeito de “chefão” ditatorial do Partido. Enquanto estava em Oakland, fui convidado para participar de uma reunião na Filadélfia naquele Outono para restabelecer ANPO.


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Eu participei da reunião na Filadélfia, mas fiquei muito preocupado quando eu fui automaticamente colocado como parte de uma “chapa eleitoral” para ser dirigente do grupo da ANPO, sem qualquer discussão democrática efetiva entre a composição prevista, ou permitindo que outros se apresentassem como candidatos potenciais. Fui de fato apontado o oficial de maior patente no grupo. Embora eu ainda acredite que deva haver um movimento de massa de prisioneiros políticos e, sobretudo, um movimento de prisioneiros Negros, fiquei convencido de que isso não era tudo. Eu acredito que será necessária uma verdadeira coalizão de forças nos movimentos Negros e progressistas para construir uma base de apoio de massa. Eu cheguei a sentir que essas pessoas só queriam empurrar o partido e seus políticos, em vez de libertar prisioneiros, e então eu saí e não lido com eles desde então. Fiquei muito desiludido e deprimido quando soube a verdade. Eu não vou ser usado por qualquer pessoa – não por muito tempo. Os estágios iniciais do Comitê Não-Violento de Coordenação Estudantil (SNCC) foi um contraste de várias maneiras para qualquer grupo Negro pela liberdade que venha antes ou depois. Parte dos ativistas do SNCC eram intelectuais universitários de classe média, com um pequeno número de ativistas de base da classe trabalhadora, mas eles desenvolveram um estilo de trabalho que era muito antiautoritário e era único no Movimento dos Direitos Civis. Em vez de trazer um líder nacional para conduzir as lutas locais, como o Dr. Martin Luther King Jr. e seu grupo e o Conselho Sulista de Liderança Cristã61 estavam acostumados a fazer, o SNCC Também conhecida como Verão da Liberdade, a fase do Mississippi na luta pelos Direitos Civis do Povo Negro nos Estados Unidos ocorreu em 1964, quando militantes se dirigiram em caravana até o mais racista 61


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enviou a campo organizadores para trabalhar com a população local e desenvolver uma liderança nativa e ajudar a organizar, mas não para assumirem o controle das lutas locais. Eles colocaram sua fé na capacidade das pessoas para determinar uma agenda que melhor os atenderia e que os levem à obtenção de seus objetivos, em vez de serem inspirados ou ditos no que fazer por um líder. O SNCC em si não possuía líderes fortes, apesar de existirem pessoas na tomada de decisão de autoridade, mas eram responsáveis pela adesão de integrantes e de comunidades, de uma maneira que nenhum outro grupo no movimento dos direitos civis era. O SNCC também era uma organização não-secular, mas diferente da SCLC, que foi formada por pregadores Negros e havia cooptado seu estilo de organização da igreja Negra, com uma figura religiosa de autoridade que dava ordens para as tropas. Hoje em dia, a maioria dos comentaristas políticos ou historiadores ainda não querem dar todo o crédito para a eficácia do SNCC, mas muitas das lutas mais poderosas e bem-sucedidas do movimento dos direitos civis foram iniciadas e vencidas pelo SNCC, incluindo a maioria das lutas pelos direitos ao voto e a fase do Mississippi do movimento de libertação62. Eu aprendi muito sobre dedos Estados sulistas para, em campanha, registrar eleitores negros. Sob ação da Ku Klux Klan e das autoridades locais, 3 foram assassinados, mais de mil pessoas foram presas e agredidas, igrejas foram queimadas ou explodidas, o mesmo ocorrendo com lares e escritórios de pessoas negras. A cobertura da mídia provocou a opinião pública, levando o presidente Johnson a aprovar ainda no 2 de Julho daquele ano a Lei dos Direitos Civis, aquela que pôs fim aos diversos sistemas estaduais de segregação racial nos Estados Unidos. (n.e.) 62 Help a Prisoner, Outlaw Torture Organizing Collective, diferentemente de Help A Prisoner Oppose Torture Organizing Committee, no original. (n.t.)


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mocracia interna, sendo parte do SNCC, como poderia fazer ou quebrar uma organização, e como ela tinha muito a ver com a moral dos membros. Todo mundo recebeu a oportunidade de participar na tomada de decisões, e de sentir-se parte de uma grande missão histórica, que mudaria suas vidas para sempre. Eles estavam certos. Mesmo que o SNCC tenha dado algumas lições duradouras para todos nós envolvidos, mesmo assim foi destruído pelos ricos e os seus, que recorreram a um estilo autoritário nos anos posteriores. Também comecei a fazer um processo de reavaliação depois de ser forçado a deixar os EUA e ir para Cuba, Tchecoslováquia e outros países do “Bloco Socialista”, como eram chamados na época. Ficou claro que esses países eram essencialmente estados policiais, apesar de terem trazido muitas reformas significativas e avanços materiais para seus povos diante do que existia antes. Observei também que o racismo existe nesses países, juntamente com a negação dos direitos democráticos básicos e a pobreza em uma escala que eu não teria pensado ser possível. Vi também uma grande dose de corrupção pelos líderes do Partido Comunista e administradores do Estado, que estavam bem de vida, enquanto os trabalhadores eram meros escravos assalariados. Eu pensei comigo: “tem de haver uma maneira melhor!”. Há sim. É o Anarquismo, sobre o qual eu comecei a ler quando fui capturado na Alemanha Oriental e sobre o qual ouvi falar ainda mais quando fui finalmente jogado na prisão nos Estados Unidos. A prisão é um lugar onde se pensa continuamente sobre sua vida passada, incluindo uma análise de ideias novas ou contrárias. Eu comecei a pensar sobre o que tinha visto no movimento Negro, junto com meus maus tratos em Cuba, a minha captura e fuga na Tchecoslováquia, e minha captura definitiva na Alemanha Oriental. Eu repassei tudo


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isso repetidamente na minha cabeça. Fui apresentado ao Anarquismo em 1969, imediatamente depois de terem me trazido de volta para os EUA e colocado na prisão federal em Nova York, onde eu conheci Martin Sostre. Sostre me contou sobre como sobreviver na prisão, a importância de lutar pelos direitos democráticos dos presos e sobre o Anarquismo. Este curso de curta duração em Anarquismo não colou no entanto, mesmo que eu respeitasse muito Sostre pessoalmente, porque eu não entendia os conceitos teóricos. Finalmente, por volta de 1973, depois de ter sido preso por cerca de três anos, comecei a receber literatura Anarquista e correspondência de Anarquistas que tinham ouvido falar sobre o meu caso. Isso deu início à minha metamorfose lenta para um Anarquista confirmado, e na verdade ainda não era até alguns anos depois que eu vim a ser. Durante o final da década de 1970, eu fui adotado pela Cruz Negra Anarquista – Inglaterra e também por um grupo Anarquista holandês chamado HAPOTOC63 (Comitê Organizador Ajude um Prisioneiro a se Opor a Tortura), que organizou uma campanha instrumental de defesa. Isto se mostrou crucial em última instância, levando pessoas de todo o mundo a escrever para o governo dos Estados Unidos exigindo a minha libertação. Eu escrevi uma série de artigos para a imprensa Anarquista, e fui membro da Federação Anarquista Social Revolucionária, o IWW, e uma série de outros grupos Anarquistas nos EUA e ao redor do mundo. Mas me tornei muito desanimado pelo fracasso do movimento Anarquista em combater a supremacia branca e sua falta de política de luta Concerned Citizen for Justice (CCJ), no original, que tambem poderia ser traduzido como Cidadãos Preocupados com a Justiça. (n.t.) 63


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de classe. Então, em 1979, escrevi um folheto chamado Anarquismo e a Revolução Negra, para atuar como um guia para a discussão desses assuntos pelo nosso movimento. Finalmente, em 1983, fui libertado da prisão, depois de ter cumprido quase 15 anos. Por todos estes anos, o panfleto influenciou uma série de Anarquistas que se opunham ao racismo e também queriam uma abordagem mais orientada para a luta de classe do que o movimento havia proporcionado até então. Enquanto isso, eu tinha saído do movimento Anarquista por desgosto, e assim foi até 1992, quando eu estava trabalhando na minha cidade natal, Chattanooga, Tennessee, como organizador comunitário antirracista; nesse ano eu conheci um Anarquista chamado John Johnson e mais uma vez me reaproximei. Ele me deu um número do Jornal Amor e Fúria, e, como resultado, entrei em contato com Chris Day do Amor e Fúria, e camaradas de WSA, em Nova York. O resto, como dizem, é história. Eu voltei para me vingar! De repente, eu vejo que agora existem outros no movimento que entendem o funcionamento da supremacia branca e eles têm me incentivado a reescrever este panfleto. Eu o fiz, cheio de gratidão. Por que eu sou um Anarquista? Eu tenho uma visão alternativa para o processo revolucionário. Há uma maneira melhor. Vamos logo com isso! O que Eu Acredito Todos os Anarquistas não acreditam nas mesmas coisas. Existem diferenças e o campo é amplo o suficiente para que essas diferenças possam coexistir e ser respeitadas. Então, eu não sei no que os outros acreditam, eu só sei no que eu acredito e vou enunciá-lo de forma simples, mas meticulosamente.


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Eu acredito na Libertação Negra, então eu sou um revolucionário Negro. Eu acredito que as pessoas Negras são oprimidas enquanto trabalhadores e suas nacionalidades distintas, e só serão libertados por uma revolução Negra, que é uma parte intrínseca de uma Revolução Social. Eu acredito que os Negros e imigrantes oprimidos devem ter a sua própria agenda, visão de mundo distinta, e organizações de luta, mesmo que eles decidam trabalhar com trabalhadores. Eu acredito na destruição do Sistema Capitalista mundial, então eu sou um anti-imperialista. Enquanto o Capitalismo estiver vivo no planeta, haverá exploração, opressão e Estados-nação. O Capitalismo é responsável pelas grandes guerras mundiais, inúmeras guerras civis, e milhões de pessoas morrendo de fome por conta do lucro dos países ricos do Ocidente. Eu acredito na justiça racial, então eu sou um antirracista. O Sistema Capitalista foi e é mantido pela escravidão e opressão colonial dos povos Africanos, e antes de haver uma revolução social, a supremacia branca deve ser derrotada. Eu também acredito que os Africanos na América são colonizados e existem como uma colônia interna dos EUA, pátria mãe branca. Eu acredito que os trabalhadores brancos devem desistir de sua posição privilegiada, da sua “identidade branca”, e devem apoiar os trabalhadores racialmente oprimidos em suas lutas por igualdade e libertação nacional. Liberdade não pode ser comprada pela escravidão e exploração de outros. Eu acredito em justiça social e igualdade econômica, então eu sou um Socialista Libertário. Eu acredito que a sociedade e todas as partes responsáveis pela sua produção devem compartilhar os produtos econômicos do trabalho. Eu não acredito no Capitalismo ou no Estado, e acredito que ambos devem ser derrubados e abolidos. Aceito a crítica


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econômica do Marxismo, mas não o seu modelo de organização política. Aceito a crítica antiautoritária do Anarquismo, mas não a sua rejeição da luta de classes. Eu acredito no controle da sociedade e da indústria pelos trabalhadores, então eu sou um Anarco-Sindicalista. Sindicalismo Anarquista é sindicalismo revolucionário, onde as táticas de ação direta são usadas para combater o Capitalismo e tomar conta da indústria. Acredito que os comitês de fábrica, conselhos e outras organizações de trabalhadores devem atuar nos locais de trabalho, e devem assumir o controle dos Capitalistas depois de uma campanha de ação direta de sabotagem, de greves, de paralisações do trabalho, ocupações de fábricas e outras ações. Eu não acredito no governo, e por isso eu sou um Anarquista. Eu acredito que o governo é uma das piores formas de opressão moderna, é a fonte de guerra e opressão econômica, e deve ser derrubado. Anarquismo significa que teremos mais democracia, igualdade social e prosperidade econômica. Eu me oponho a todas as formas de opressão presentes na sociedade moderna: o patriarcado, a supremacia branca, Capitalismo, Comunismo de Estado, ditames religiosos, discriminação contra gays, etc.



UMA BREVE BIOGRAFIA DE LORENZO KOM’BOA ERVIN

Lorenzo Komboa Ervin nasceu e foi criado em Chattanooga, Tennessee em 1947. O que ele chama de “Sul segregado” da década de 1950 e 60 era um ambiente de violência, racismo, pobreza e rejeição. Um membro de gangue de rua na juventude, Ervin se juntou a Associação Nacional para o Avanço das Pessoas de Cor (NAACP), quando ele tinha 12 anos, e participou em 1960 de protestos de ocupação (sit-in) que mudaram a discriminação racial em acomodações públicas na cidade e em todo o Sul. Depois de ser convocado, ele atuou dois anos no Exército dos Estados Unidos, onde se tornou um organizador antiguerra do Vietnã, o que resultou em sua corte marcial e demissão por oficiais superiores. Ele se juntou ao Comitê Não-Violento de Coordenação Estudantil, em 1967, antes de se juntar (temporariamente) ao Partido dos Panteras Negras. Na esteira das rebeliões Negras urbanas que abalaram os EUA após o assassinato do Dr. Martin Luther King Jr., na primavera de 1968, houve uma tentativa de incriminar Ervin com acusações de porte ilegal de armas e por ameaçar a vida de um líder local da Klan. A fim de escapar do processo destas acusações, Ervin sequestrou um avião para Cuba em fevereiro de 1969. Foi durante sua estadia em Cuba e, posteriormente, na então República da Tchecoslováquia, que ele se veio primeiro a se desiludir com o Socialismo de Estado, reconhecendo-o como ditadura, e não como a “ditadura do proletariado”, como muitos governos comunistas alegaram.


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Em Praga, capital da Tchecoslováquia, Ervin foi entregue a oficiais dos Estados Unidos, por elementos colaboradores da CIA, atuantes no regime de Dubcek, logo após a invasão soviética do país. Capturado e mantido no Consulado Americano, ele fugiu para Berlim Oriental, onde ele foi sequestrado por uma equipe especial de agentes norte-americanos e alemães ocidentais, especialmente enviados para recapturá-lo. Ele foi drogado e torturado durante o interrogatório na base do Consulado norte-americano por quase uma semana, e depois de quase morrer por maus tratos, ele foi trazido ilegalmente de volta para os EUA, onde por uma declaração falsa do Departamento de Estado e pelo FBI, anunciaram que ele havia “se entregado” no aeroporto JFK. Depois de uma farsa de um julgamento em uma pequena cidade na Georgia, onde enfrentou a pena de morte perante um júri totalmente branco, juiz, promotores e advogados de defesa (nomeados pelo tribunal), em 1970, ele foi condenado a passar o resto de sua vida na prisão. Ervin permaneceu politicamente ativo na prisão, onde foi introduzido pela primeira vez aos ideais do Anarquismo pelo prisioneiro político Anarquista Martin Sostre, no final dos anos 70. Ele leu muitos livros sobre o assunto enviados para a prisão por grupos de pessoas solidárias e a Cruz Negra Anarquista, um movimento internacional de apoio ao prisioneiro, adotou seu caso. Em 1979, Ervin escreveu Anarquismo e a Revolução Negra e outros panfletos que estão, provavelmente, entre alguns dos escritos amplamente lidos no movimento anarquista e de Libertação Negra. Anarquismo e a Revolução Negra ainda é popular, e passou por várias tiragens. Ervin também estava envolvido em muitas lutas da prisão, no sindicato da prisão no início de 1970, organizando


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campanhas e o movimento de prisioneiros Negros no mesmo período. Devido a anos de confinamento em solitária e censura do correio da prisão, seu caso foi mantido na obscuridade, e foi assim até que ele fosse um dos “Irmãos Marion”, um grupo de prisioneiros que se tornou conhecido enquanto lutavam contra a primeira Unidade de Controle da Penitenciária Federal de Marion, quando seu caso se tornou de preocupação pública. As disputas legais de Ervin e uma campanha internacional levaram a sua libertação da prisão após 15 anos de encarceramento. Ao contrário de muitos ex-prisioneiros, Ervin já estava politicamente ativo imediatamente após a sua libertação. Ele trabalhou para Cidadãos em Causa pela Justiça64 (CCJ), em Chattanooga, um grupo local de direitos civis, e liderou uma campanha de 10 anos contra a brutalidade policial e penetração da Ku Klux Klan no departamento de polícia, o que resultou na demissão do Chefe de Polícia e do Comissário de Polícia. Isso ocorreu após a CCJ organizar uma longa campanha de manifestações de massa e ações judiciais sobre as mortes numerosas de Negros e pessoas pobres que foram mortos ao longo dos anos por oficiais racistas. Como o presidente da CCJ e da Reparação Legal, Ervin também foi o principal responsável pelo ajuizamento de uma ação coletiva por várias organizações Negras e a ACLU, que resultou na reestruturação do governo da cidade, bem como a eleição de vários Comissários Muncipais Negros. Em 1987, Ervin ajudou a organizar uma grande mobilização contra a Klan, que resultou na Klan sendo expulsa da cidade. Também em 1987, Ervin foi o principal responConcerned Citizen for Justice (CCJ), no original, que tambem poderia ser traduzido como Cidadã os Preocupados com a Justiça. (n.t.) 64


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sável para o ajuizamento de uma ação importante de direitos civis, que, com sucesso, forçou a cidade de Chattanooga a mudar sua estrutura de governança com base no que ela sistematicamente desempoderava a comunidade Negra. Em retaliação por seu ativismo, a estrutura de poder branco procurou incriminar Ervin em uma série de acusações, a última sendo a sua prisão sob a acusação de contravenção no caso “Chattanooga 8”. Nesse caso, Ervin foi preso com vários outros ativistas na Coalisão Ah Hoc Contra o Racismo e a Brutalidade Policial (que sucedeu os Cidadãos em Causa pela Justiça) por sua participação em uma manifestação contra a falha de um grande júri em apresentar acusações criminais contra policiais que sufocaram um motorista negro, Larry Powell, até a morte, em fevereiro de 1993.


ANEXO ANARQUISMO NEGRO

Ashanti Alston

Muitos anarquistas clássicos consideravam o anarquismo como um corpo de verdades elementares que apenas precisavam ser reveladas ao mundo e acreditavam que as pessoas se tornariam anarquistas uma vez expostas à lógica irresistível da idéia. Esta é uma das razões pelas quais eles tendiam a ser tão didáticos. Felizmente a prática vivida do movimento anarquista é muito mais rica do que isso. Poucos “convertem-se” de tal forma: é muito mais comum que as pessoas abracem o anarquismo lentamente, à medida que descobrem que é relevante para a sua experiência de vida e permeável a suas próprias percepções e preocupações. A riqueza da tradição anarquista está justamente na longa história de encontros entre dissidentes não-anarquistas e o quadro anarquista que herdamos do final do Século XIX e início do Século XX. O anarquismo tem crescido através de tais encontros e agora enfrenta contradições sociais que antes eram marginais ao movimento. Por exemplo, há um século atrás, a luta contra o patriarcado era uma preocupação relativamente menor para a maioria dos anarquistas, mas hoje é amplamente aceita como uma parte integrante da nossa luta contra a dominação. Foi somente nos últimos 10 ou 15 anos que os anarquistas na América do Norte começaram a explorar à sério o que


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significa desenvolver um anarquismo que tanto pode combater a supremacia branca como articular uma visão positiva da diversidade cultural e de intercâmbio cultural. Camaradas estão trabalhando duro para identificar os referenciais históricos de tal tarefa, como o nosso movimento deve mudar para abraçá-lo, e como um anarquismo verdadeiramente antirracista pode parecer. O seguinte material, de Ashanti Alston, membro do conselho do IAS1, explora algumas destas questões. Alston, que era membro do Partido dos Panteras Negras e do Exército Negro de Libertação, descreve o(s) seu(s) encontro(s) com o anarquismo (que começou quando ele foi preso por atividades relacionadas com o Exército Negro de Libertação). Ele toca em algumas das limitações das visões mais antigas do anarquismo, a relevância contemporânea do anarquismo para os negros, e alguns dos princípios necessários para construir um novo movimento revolucionário. Esta é uma transcrição editada de uma palestra dada por Alston em 24 de outubro de 2003 no Hunter College, em Nova York. O evento foi organizado pelo Instituto de Estudos Anarquistas e co-patrocinado pelo Movimento Estudantil de Ação Libertadora, da Universidade de Cidade de Nova York ~ Chuck Morse Embora o Partido dos Panteras Negras fosse muito hierárquico, eu aprendi muito com a minha experiência na organização. Acima de tudo, nos Panteras me marcou a necessidade de aprender com as lutas de outros povos. Eu acho que tenho feito isso e essa é uma das razões pelas quais sou um anarquista hoje. Afinal, quando velhas estratégias não funcionam, precisamos olhar para outras formas de fazer as coisas, para ver se podemos nos descolar e avançar nova-


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mente. Nos Panteras, absorvemos muita coisa de nacionalistas, marxistas-leninistas, e de outros como eles, mas suas abordagens para a mudança social tinham problemas significativos e me aprofundei no anarquismo para ver se haviam outras maneiras de pensar sobre como fazer uma revolução. Eu aprendi sobre anarquismo através de cartas e de literatura enviadas para mim, enquanto estava em várias prisões por todo o país. No começo eu não queria ler qualquer material que recebi – parecia que o anarquismo era apenas sobre o caos e todo mundo fazendo suas próprias coisas – e por muito tempo eu o ignorei. Mas houve momentos – quando eu estava na solitária – que não tinha mais nada para ler e, para fugir do tédio, finalmente comecei a meter a mão no tema (apesar de tudo o que eu tinha ouvido falar sobre o anarquismo até o momento). Fiquei realmente muito surpreso ao encontrar análises de lutas populares, culturas populares e formas de organizações populares – aquilo fez muito sentido para mim. Estas análises me ajudaram a ver coisas importantes sobre a minha experiência nos Panteras que não estavam claras para mim antes. Por exemplo, eu pensei que havia um problema com a minha admiração por pessoas como Huey P. Newton, Bobby Seal, e Eldridge Cleaver e com o fato de que eu os tinha colocado em um pedestal. Afinal de contas, o que isso diz sobre você, se você permitir que alguém se estabeleça como seu líder e tome todas as suas decisões por você? O anarquismo me ajudou a ver que você, como um indivíduo, deve ser respeitado e que ninguém é suficientemente importante para pensar por você. Mesmo que nós achemos que Huey P. Newton ou Eldridge Cleaver são os piores revolucionários do


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mundo, eu deveria me ver como o pior revolucionário, exatamente como eles. Mesmo que eu fosse jovem, tenho um cérebro. Eu posso pensar. Eu posso tomar decisões. Eu pensei em tudo isso enquanto estava na prisão e me vi dizendo: “Cara, nós realmente nos colocamos de uma forma que éramos obrigados a criar problemas e produzir cismas. Fomos obrigados a seguir programas sem pensar”. A história do Partido dos Panteras Negras, tão incrível como é, tem esses esqueletos. A menor pessoa no totem deveria ser um trabalhador e o que estava na parte superior era quem tinha o cérebro. Mas na prisão eu aprendi que eu poderia ter tomado algumas dessas decisões sozinho e que as pessoas ao meu redor poderiam ter tomado essas mesmas decisões. Embora eu tenha apreço por tudo o que os líderes do Partido dos Panteras Negras fizeram, eu comecei a ver que podemos fazer as coisas de forma diferente e, assim, extrair mais plenamente nossas próprias potencialidades e nos encaminharmos ainda mais para uma autodeterminação real. Embora não tenha sido fácil no início, insisti com o material anarquista e descobri que eu não poderia colocá-lo de lado, uma vez que começou a me dar vislumbres. Eu escrevi para pessoas em Detroit e no Canadá, que tinham me enviado a literatura, e pedi para que me enviassem mais. No entanto, nada do que eu recebi tratava de pessoas negras ou latinas. Talvez houvesse discussões ocasionais sobre a Revolução Mexicana, mas nada falava de nós, aqui, nos Estados Unidos. Houve uma ênfase esmagadora sobre aqueles que se tornaram os anarquistas fundadores – Bakunin, Kropotkin, e alguns outros – mas estes valores europeus, que abordavam


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as lutas europeias, realmente não dialogavam comigo. Eu tentei descobrir como isso se aplicava a mim. Comecei a olhar para a História Negra de novo, para a História Africana, e as histórias e lutas das outras pessoas de cor. Eu encontrei muitos exemplos de práticas anarquistas nas sociedades não europeias, desde os tempos mais antigos até o presente. Isso foi muito importante para mim: eu precisava saber que não eram apenas os europeus que poderiam funcionar de uma forma antiautoritária, mas que todos nós podemos. Fui encorajado por coisas que eu encontrei na África – não tanto pelas antigas formas que chamamos de tribos – mas por lutas modernas que ocorreram no Zimbabwe, Angola, Moçambique e GuinéBissau. Ainda que fossem liderados por organizações vanguardistas, eu vi que as pessoas estavam construindo comunidades democráticas radicais na base. Pela primeira vez, nesses contextos coloniais, os povos africanos estavam criando o que era chamado pelos angolanos de “poder popular”. Este poder popular tomou uma forma muito antiautoritária: as pessoas não estavam só conduzindo suas vidas, mas também as transformando enquanto lutavam contra qualquer poder estrangeiro que os oprimia. No entanto, em cada uma dessas lutas de libertação, novas estruturas repressivas foram impostas logo que as pessoas chegavam próximo à libertação: a liderança estava obcecada com idéias de governança, em estabelecer um exército permanente, em controlar as pessoas depois que os opressores forem expulsos. Uma vez que a tão apregoada vitória foi conseguida, o povo – que havia lutado durante anos contra os seus opressores – foi desarmado e, em vez de existir um poder popular real,


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um novo partido foi instalado no comando do Estado. Assim, não houve reais revoluções ou a verdadeira libertação em Angola, Guiné-Bissau, Moçambique e Zimbabwe, porque eles simplesmente substituíram um opressor estrangeiro por um opressor nativo. Então, aqui estou eu, nos Estados Unidos, lutando pela libertação negra e me perguntando: como é que podemos evitar situações como essa? O anarquismo me deu uma maneira de responder a esta questão, insistindo que nós ponhamos no lugar, como fazemos em nossa luta agora, as estruturas de tomada de decisões e de fazer coisas que continuamente tragam mais pessoas para o processo, e não apenas deixar a maioria das pessoas “iluminadas” tomarem decisões por todos os outros. O próprio povo tem que criar estruturas em que articulem sua própria voz e em que tomem suas próprias decisões. Eu não recebi isso de outras ideologias: eu recebi isso do anarquismo. Também comecei a ver, na prática, que as estruturas anarquistas de tomada de decisão são possíveis. Por exemplo, nos protestos contra a Convenção Nacional Republicana, em agosto de 2000, eu vi os grupos normalmente excluídos – pessoas de cor, mulheres e gays – participarem ativamente de todos os aspectos da mobilização. Nós não permitimos que pequenos grupos tomassem decisões por outros e, apesar de as pessoas terem diferenças, elas eram vistas como boas e benéficas. Era novo para mim, depois da minha experiência nos Panteras, estar em uma situação onde as pessoas não estão tentando disputar o mesmo lugar e realmente abraçam a tentativa de resolver nossos interesses por vezes contraditórios. Isso me deu algumas idéias sobre como o anarquismo pode ser aplicado.


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Também me fez pensar: se pode ser aplicado para os diversos grupos no protesto contra a Convenção, poderia eu, como um ativista negro, aplicar essas coisas na comunidade negra? Algumas de nossas idéias sobre quem somos como povo bloqueiam nossas lutas. Por exemplo, a comunidade negra é muitas vezes considerada um grupo monolítico, mas na verdade é uma comunidade de comunidades com muitos interesses diferentes. Penso em ser negro não tanto como uma categoria étnica, mas como uma força de oposição ou como pedra de toque para ver as coisas de forma diferente. A cultura negra sempre foi opositora e tudo isso é a busca de caminhos para criativamente resistir à opressão aqui, no país mais racista do mundo. Então, quando eu falo de um Anarquismo Negro, não está tão ligado à cor da minha pele, mas quem eu sou como pessoa, como alguém que pode resistir, quem pode enxergar de uma forma diferente quando eu estou bloqueado e, assim, viver de forma diferente. O que é importante para mim sobre o anarquismo é a sua insistência de que você nunca deve ficar preso em velhas e obsoletas abordagens e sempre deve tentar encontrar novas maneiras de ver as coisas, de sentir e de se organizar. No meu caso, eu apliquei pela primeira vez o anarquismo no início de 1990 em um coletivo que criamos para rodar o jornal dos Panteras Negras novamente. Eu ainda era um anarquista “no armário” neste momento. Eu ainda não estava pronto para sair e me declarar um anarquista, porque eu já sabia o que as pessoas iriam dizer e como eles iriam olhar para mim. Quem eles veriam quando digo “anarquista”? Eles veriam os anarquistas brancos, com todos aqueles cabelos engraçados, etc.


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e dizer “como diabos é que você vai se envolver com isso?” Houve uma divisão neste coletivo: de um lado havia companheiros mais velhos que estavam tentando reinventar a roda e, por outro, eu e alguns outros que diziam: “Vamos ver o que podemos aprender com a experiência vinda dos Panteras e construir em cima dela e melhorá-la. Nós não podemos fazer as coisas da mesma maneira”. Enfatizamos a importância de uma perspectiva antissexista – uma velha questão dentro dos Panteras – mas do outro lado estava algo do tipo “eu não quero ouvir todas essas coisas feministas”. E nós dissemos: “Tudo bem se você não quer ouvir isso, mas queremos que as pessoas jovens ouçam, para que eles saibam sobre algumas das coisas que não funcionaram nos Panteras, para que eles saibam que nós tivemos algumas contradições internas que não poderíamos superar”. Nós tentamos forçar a questão, mas se tornou uma batalha e as discussões tornaram-se tão difíceis que uma separação ocorreu. Neste ponto, deixei o coletivo e comecei a trabalhar com grupos anarquistas e antiautoritários, que foram realmente os únicos a tentarem lidar de forma consistente com essas dinâmicas até o momento. Uma das lições mais importantes que eu também aprendi com o anarquismo é que você precisa olhar para as coisas radicais que já fazemos e tentar incentivá-las. É por isso que eu acho que há muito potencial para o anarquismo na comunidade negra: muito do que já fazemos é anarquista e não envolve o Estado, a polícia ou os políticos. Nós tomamos conta um do outro, nós nos importamos com os filhos uns dos outros, nós vamos para o mercado uns para os outros,


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encontramos maneiras de proteger nossas comunidades. Até mesmo igrejas ainda fazem as coisas de uma forma muito comunal, até certo ponto. Eu aprendi que existem maneiras de ser radical sem ficar distribuindo literatura e dizendo às pessoas: “Aqui está o retrato da situação, se você enxergar isso, vai seguir automaticamente a nossa organização e se juntará à revolução”. Por exemplo, a participação é um tema muito importante para o anarquismo e também é muito importante na comunidade negra. Considere o jazz: é um dos melhores exemplos de uma prática radical existente porque ele assume uma conexão participativa entre o individual e o coletivo e permite a expressão de quem você é, dentro de um ambiente coletivo, com base no gozo e no prazer da música em si. Nossas comunidades podem ser da mesma forma. Podemos reunir todos os tipos de perspectivas de fazer música, de fazer revolução. Como podemos nutrir cada ato de liberdade? Seja com as pessoas no trabalho ou as pessoas que passam o tempo na esquina, como podemos planejar e trabalhar juntos? Precisamos aprender com as diferentes lutas ao redor do mundo que não são baseadas em vanguardas. Há exemplos na Bolívia. Há os zapatistas. Há grupos no Senegal construindo centros sociais. Você realmente tem que olhar para as pessoas que estão tentando viver e não necessariamente tentando chegar com as idéias mais avançadas. Precisamos tirar a ênfase do abstrato e focar no que está acontecendo na base. Como podemos construir com todas estas diferentes vertentes? Como podemos construir com os Rastas? Como podemos construir com as pessoas da Costa Oeste que ainda estão lutando contra o governo, por


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conta da mineração em terras indígenas? Como podemos construir com todos esses povos para começar a criar uma visão da América que seja para todos nós? Pensamento de oposição e os riscos de ser oposição são necessários. Eu acho isso é muito importante neste momento e uma das razões pelas quais eu acho que o anarquismo tem muito potencial para nos ajudar a seguir em frente. E isso não é um pedido para aderirmos dogmaticamente aos fundadores da tradição, mas para estarmos abertos a tudo o que aumenta a nossa participação democrática, a nossa criatividade e nossa felicidade. Acabamos de ter uma Conferência Anarquista de Pessoas de Cor em Detroit, de 03 a 05 de outubro. Cento e trinta pessoas vieram de todo o país. Foi ótimo para vermos nós mesmos e bem como o interesse das pessoas de cor de todo o Estados Unidos em busca de formas marginais de se pensar. Vimos que poderíamos nos tornar aquela voz em nossas comunidades, que diz: “Espere, talvez nós não precisemos nos organizar assim. Espere, a maneira que você está tratando as pessoas dentro da organização é opressiva. Espere, qual é a sua visão? Gostaria de ouvir a minha?”. Há uma necessidade para esses tipos de vozes dentro de nossas diversas comunidades. Não apenas as nossas comunidades de cor, mas em toda comunidade há uma necessidade de parar o avanço dos planos pré-fabricados e confiar que as pessoas podem descobrir coletivamente o que fazer com este mundo. Eu acho que nós temos a oportunidade de deixar de lado o que nós pensamos que seria a resposta e lutarmos juntos para explorar diferentes visões do futuro. Podemos trabalhar nisso. E não há uma resposta: temos de trabalhar com isso à medida que avançamos.


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Embora queiramos lutar, vai ser muito difícil por causa dos problemas que herdamos deste império. Por exemplo, eu vi algumas lutas muito duras, emocionadas, em protestos contra a Convenção Nacional Republicana. Mas as pessoas se mantiveram bloqueadas, mesmo quem começou a chorar no processo. Não vamos superar algumas das nossas dinâmicas internas que nos mantiveram divididos, a menos que estejamos dispostos a passar por algumas lutas realmente difíceis. Esta é uma das outras razões pelas quais eu digo que não há uma resposta: só temos que passar por isso. Nossas lutas aqui nos Estados Unidos afetam todos no mundo. As pessoas nas classes subalternas vão desempenhar um papel fundamental e a maneira como nos relacionamos com elas vai ser muito importante. Muitos de nós somos privilegiados o suficiente para ser capaz de evitar alguns dos desafios mais difíceis e vamos ter de abrir mão de parte desse privilégio, a fim de construir um novo movimento. O potencial está lá. Nós ainda podemos ganhar – e redefinir o que significa vencer – mas temos a oportunidade de promover uma visão mais rica da liberdade do que já tinha antes. Temos que estar dispostos a tentar. Como um Pantera, e como alguém que passou à clandestinidade enquanto guerrilha urbana, pus a minha vida no limite. Eu assisti meus companheiros morrerem e passei a maior parte da minha vida adulta na prisão. Mas eu ainda acredito que podemos vencer. A luta é muito difícil e quando você cruza esse limite, você corre o risco de ir para a cadeia, ficar gravemente ferido, morto, e assistir seus companheiros ficando gravemente feridos e mortos. Isso não é


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uma imagem bonita, mas isso é o que acontece quando você luta contra um opressor enraizado. Estamos lutando e isso vai tornar tudo mais difícil para eles, mas a luta também vai ser difícil para nós. É por isso que temos de encontrar maneiras de amar e apoiar uns aos outros através de tempos difíceis. É mais do que apenas acreditar que podemos vencer: precisamos ter estruturas consolidadas que possam nos ajudar a caminhar, quando sentirmos que não podemos dar mais nenhum passo. Acho que podemos mudar novamente se pudermos descobrir algumas dessas coisas. Este sistema tem que cair. Isso nos fere a cada dia e não podemos desistir. Temos que chegar lá. Temos que encontrar novas maneiras.

O anarquismo, se significa alguma coisa, significa estar aberto para o que quer que for preciso em nosso pensamento, em nossa vivência e nas nossas relações – para vivermos plenamente e vencermos. De certa forma, eu acho que são a mesma coisa: viver a vida ao máximo é ganhar. É claro que vamos e devemos entrar em conflito com os nossos opressores e precisamos encontrar boas maneiras de fazê-lo. Lembre-se daqueles das classes subalternas, que são os mais afetados por isso. Eles podem ter diferentes perspectivas sobre como essa luta deve ser feita. Se nós não podemos encontrar caminhos para nos encontrarmos cara-a-cara afim de resolvermos essa situação, velhos fantasmas reaparecerão e nós voltaremos à mesma velha situação em que estivemos antes. Vocês todos podem fazer isso. Você tem a visão. Você tem a criatividade. Não permitam que ninguém bloqueie isso.


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De Perspectivas sobre a teoria anarquista, Primavera 2004 - Volume 8, número 1 http://www.anarchist- studies.org/publications/perspectives FONTE: http://www.anarchist-studies.org/article/articleview/70/1/8/ Instituto de Estudos Anarquistas: http://www.anarchist-studies.org/ Nota: 1

Institute for Anarchist Studies.

Texto extraído de “Perspectivas sobre a teoria anarquista”, boletim semestral do Instituto de Estudos Anarquistas, Primavera 2004 - Volume 8, Número 1. Tradução: Mariana Santos (Das Lutas)


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