MIP N.º4

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MÚSICA POR MÚSICA The Loafing Heroes dão-nos a conhecer “The Baron in the Trees” ENTREVISTA Conheça Surma, o projeto one-woman-band de uma jovem de Leiria

REPORTAGEM Capitão Fausto — O rock não “Tem os dias contados”

“PROCUREI SIMPLICIDADE PARA ESTE DISCO” Rui Massena em entrevista fala-nos do seu novo álbum “Ensemble”

TEMOS BILHETES DUPLOS PARA OFERECER PARA O CONCERTO DOS SECRET LIE NA DAMAIA - AMADORA


SUMÁRIO

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NOTÍCIAS

Novidades do meio musical em Portugal

NOVOS DISCOS

Conheça os novos álbuns que foram lançados no mercado

NOVOS SINGLES

Novos temas que servem de apresentação a novos discos

CAPA

Rui Massena dá-nos a conhecer o seu novo álbum “Ensemble”

ENTREVISTA

Conheça Surma, o projeto onewoman-band de uma jovem de Leiria

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MÚSICA POR MÚSICA The Loafing Heroes dão-nos a conhecer o novo disco

REPORTAGEM

Capitão Fausto apresentaram o novo álbum em concerto no Lux

REPORTAGEM

Paulo de Carvalho apresentou o espetáculo “Intemporal” no Tivoli

REPORTAGEM

Linda Martini jogaram Sirumba mas não brincaram no Coliseu

REPORTAGEM

Linda Martini contaram “Outras Histórias” no Tivoli

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QUEM SOMOS O Made in Portugal é uma plataforma online que se destina a divulgar projetos originais da música em Portugal, independentemente do género musical. No site - www.madeinportugalmusica.pt – encontra diariamente uma vasta informação sobre a música nacional. Já a revista online é um compacto referente a cada mês, com algumas novidades, que estará disponível para leitura na última semana de cada mês. De referir que o Made in Portugal não envolve qualquer financiamento. É um projeto onde as pessoas envolvidas dedicam o seu tempo livre, por gosto e em prol da música nacional.

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Ao longo da revista irá encontrar vários icons com hiperligações. Ouvir uma música / ver videoclip Ver galeria de fotos

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LOGÓTIPO O logótipo do Made in Portugal tem três cores: verde, amarelo e vermelho. Em cada edição da revista online usaremos um dos logótipos e a sua cor predominante ao longo da revista.

Logótipo elaborado pela designer Sara Constante

QUERES COLABORAR CONOSCO? Gostas de música? De Fotografia? De escrever? Queres fazer parte da equipa Made in Portugal? Envia-nos um email com a tua idade, localidade, gostos musicais e um texto e/ou trabalho fotográfico para: madeinportugalgeral@gmail.com

REPORTAGEM Ana Moura atuou pela primeira vez na maior sala do País

AGENDA

Revista online n.º 4 ‘Made in Portugal’ realizada por: Daniela Henriques; Sofia Reis; Joana Constante; Adriana Dias; Márcia Filipa Moura; Geraldo Dias; Ricardo Oliveira, Luís Flôres e Pedro Pico.

Várias datas de concertos de Norte a Sul do país

ENTREVISTA

Retimbrar falam-nos do novo disco “Voa Pé”

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NOTÍCIAS

10.º Encontros de Fados de Almada Inscrições abertas até dia 6 de maio

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décima edição dos Encontros de Fado de Almada vai voltar a ocupar o palco do Auditório Fernando LopesGraça, em Almada, durante três noites de maio e junho. Iniciativa da Câmara Municipal de Almada, os Encontros de Fado destinam-se mais uma vez à descoberta de fadistas pouco conhecidos ou ainda desconhecidos do grande público e proporcionando atraentes prémios para o vencedor, segundo e terceiro classificados: a gravação de um EP com cinco temas em estúdio profissional para o primeiro classificado e um concerto, em outubro e no mesmo auditório, dos três primeiros. O calendário de 2016 dos Encontros de Fado de Almada é cumprido a 27 de maio (Primeira Eliminatória, com oito concorrentes e o fadista convidado António Pinto Basto), 11 de junho (Segunda Eliminatória com oito concorrentes e a fadista convidada Luísa Basto) e 18 de junho (Final, com os oito fadistas apurados nas duas eliminatórias, quatro em cada, e a fadista convidada Teresa Tapadas). Durante todo o concurso os fadistas (concorrentes e convidados) serão acompanhados por André M. Santos (viola de fado), Hugo Edgar (guitarra portuguesa), Vasco Sousa e Rodrigo Serrão (contrabaixo).

Os interessados em concorrer à edição 2016 já podem consultar o regulamento no site da Câmara Municipal de Almada e inscrever-se, até dia 6 de maio em: www.malmada.pt/encontrosfado.

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Para se inscreverem os concorrentes têm de preencher e enviar dois fados gravados com as suas próprias vozes para a organização do evento via CTT ou por e-mail.


Rita Redshoes atuou nos Estados Unidos Atuou no mítico Joe’s Pub

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Foto da atuação no Joe’s Pub, retirada do facebook

ita Redshoes apresenta-se atuou no dia 15 de abril no MoMA, Museum of Modern Art, em Nova Iorque, a convite do Arte Institute. Atuou para uma plateia esgotada na estreia do documentário “Portugueses do Soho”, realizado por Ana Ventura Miranda, onde fez uma performance da banda-sonora composta para o projeto que conta a história dos portugueses que emigraram para o bairro de Soho, após a II Guerra Mundial. Já no dia 25 de abril, Rita Redshoes atuou no prestigiado Joe’s Pub, em Manhattan, considerado pela

revista Rolling Stone como um dos 10 melhores night clubs dos EUA, onde artistas como Amy Winehouse ou Adele tiveram a sua estreia ao vivo na América do Norte. Durante esta viagem, Rita Redshoes atuou ainda nos International Portuguese Music Awards, no Zeiterion Theatre, em New Bedford, a 23 abril. A digressão por terras americanas interrompe o processo criativo do novo disco da artista portuguesa. O próximo álbum de Rita Redshoes, começará a ser gravado em junho, em Berlim.

Expensive Soul lançam concert stick USB “Ao Vivo Nos Coliseus” à venda em formato pen

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ma vez mais e de forma a pensar diferente para ir ao encontro do seu público, os Expensive Soul experimentam a l g o praticamente inédito em Portugal no que toca a edição discográfica. “Ao Vivo Nos Coliseus” chega ao mercado num “Concert Stick USB“, suporte mais conhecido como pen. Não há geração consumidora de música que não veja utilidade e não tenha ainda

manuseado este suporte físico da praticamente virgem. Território era digital. Usá-lo para distribuir que os Expensive Soul desbravam sem medos, porque sempre tiveram coragem de pensar “out of the box”. Os Expensive Soul abriram também a sua loja online. Nela podem encontrar à venda todos os artigos do grupo e em música é algo que já se vai vendo p r i m e i r a mão o Vinil com cada vez mais frequência em duplo de “Sonhador” que só será vários mercados internacionais. comercializado na loja: www. Em Portugal é ainda território shopexpensivesoul.com. 5


NOVOS DISCOS

The Dowsers Society com disco de estreia “The Dowsers Society” encontra-se disponível nas plataformas digitais The Dowsers Society é uma banda rock de influências blues, stoner, psicadelicas e post rock, caracterizada pela busca de sons electrificados, reverberados, que ecoam e transportam o nosso imaginário para um espaço desértico. A banda nasce em 2014 numa noite lisboeta, com Carlos Alves (guitarra e voz) e Luís Gama (bateria), juntando-se mais tarde Ivo Martins (baixo e voz). O álbum de estreia homónimo foi gravado, misturado e masterizado por Bruno Pedro Simões (Sean Riley & The Slowriders) nos Black Sheep Studios, Sintra, entre outubro e dezembro de 2015. A produção ficou a cargo de The Dowsers Society e Bruno Pedro Simões. O álbum ‘The Dowsers Society’,

composto por 8 faixas, é a concretização de uma busca sonora e estética que anda

The Dowsers Societyum amanhecer moldado e distorcido numa noite sem

em torno de um imaginário de vastidão profunda. Ecos e sons subterrâneos surgem dentro de cada Ser e concretizam-se em emoções reais ou imaginadas, algumas sibilantes e suaves outras gritantes e guturais, mas sempre perigosas tal como o é a alma Humana.

estrelas onde a aurora é, por vezes, apenas uma miragem. The Dowsers Society conta já contam já com inúmeros concertos em Portugal e Espanha, estando agora a ultimar uma digressão para apresentação do seu primeiro disco.

Raquel Tavares com novo álbum Fadista lança no dia 6 de maio “Raquel”

“Raquel” é o terceiro e mais recente disco de Raquel Tavares. Um disco que junta alguns dos mais importantes compositores da moderna lusofonia, como Caetano Veloso, Mallu Magalhães, Rui Veloso, António Zambujo, Miguel Araújo, Jorge Cruz e Tiago Bettencourt, a nomes incontornáveis da sua História, de Alfredo Marceneiro a Pedro Homem de Mello, passando por João Dias, Carlos Rocha ou Arlindo de Carvalho. 6

E é o Fado que persiste quando Raquel recebe a companhia de Carlão, Rui Veloso, António Serrano e Rui Massena. “Raquel” já se encontra em pré-venda na Fnac online. Na compra do CD oferta de um bilhete para ver o concerto de apresentação deste disco, que Raquel Tavares dará no próximo dia 20 de maio no Centro Cultural de Belém. “Meu Amor de Longe” é o single de apresentação do novo álbum da fadista.


TEMPO Berg

“Tempo” será o primeiro álbum de Berg totalmente interpretado em português. Neste disco, Berg conta com a participação de Boss AC, Miguel Coimbra (D.A.M.A) e Inês Barros. O disco já se encontra à venda.

EYEGLASSES FOR THE MASSES The Weatherman

“EyeGlasses For The Masses” é o quarto disco The Weatherman, que completa agora uma década de carreira. Este novo álbum nasceu de uma procura genuína pela autenticidade da escrita de canções pop, de uma crença em ser possível mover tudo e todos com o poder de uma grande canção.

ACÚSTICO Alberto Indio

A 13 de maio Alberto Indio lança “Acústico”. Destaque especial para as participações de Pedro Abrunhosa e Mikkel Solnado, em dueto, nos temas “Não sou de mais ninguém” e “Sinceramente”, são alguns dos êxitos, agora com uma nova roupagem, que podemos encontrar em “Acústico”.

Myrica Faya com novo disco “do Cerne” dá nome ao álbum do grupo açoriano

“do Cerne” é uma vez mais o reflexo do foco de trabalho do grupo: a música tradicional açoriana abordada de forma diferente. O álbum conta com 10 temas e, ao contrário do trabalho editado em 2014 (“Vir’ó Balho”), a maioria destes não está incluída na lista de “clássicos do folclore açoriano”, refletindo um trabalho de pesquisa ainda mais profundo. Muitos dos temas são desconhecidos

fora da sua ilha de origem, mesmo daqueles que estão habituados a ouvir música tradicional dos Açores. Com este novo trabalho, os Myrica Faya refletem todas as influências que foram absorvendo ao longo de dois anos de convivência com outros músicos e públicos diversos, em salas e festivais de todo o país, mantendo no entanto o seu cerne que é a música tradicional açoriana.

Novo álbum de Samuel Úria “Carga de ombro” já à venda “Carga de ombro”, o novo disco de Samuel Úria já está disponível nas plataformas digitais numa edição com um tema extra – “Vital e sua moto”, um original de Paralamas do Sucesso recriado por Samuel para um tributo à banda; e está disponível nas lojas tradicionais – com uma edição exclusiva na Fnac que contempla um DVD captado ao vivo nos Estúdios da Valentim de Carvalho. Também já está disponível o vídeo do primeiro single “Dou-me Corda”. 7


NOVOS DISCOS

Rogério Charraz apresenta

NÃO TENHAS MEDO DO ESCURO

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terceiro álbum de originais é composto por 11 canções e todas são da autoria do próprio Rogério Charraz, com exceção de “Meu Amor Eterno”, composta em parceria com o pianista Júlio Resende, que também a toca no álbum. A letra da canção foi escrita por Rogério Charraz, que dedica à sua mãe. Além de Júlio Resende, “Não Tenhas Medo do Escuro” conta ainda com as honrosas participações da fadista Katia Guerreiro, da guitarrista Marta Pereira da Costa e do acordeonista João Gentil.

Os irmãos Buba e Eduardo Espinho e também António Caixeiro completam a lista de músicos convidados, trazendo o Alentejo para a canção “Chuva nos Beirados”. Entre os autores das letras destaca-se o jornalista José Fialho Gouveia, que assina cinco das canções do disco. Joana Correia (mulher de Rogério Charraz que se estreia na escrita de canções com duas letras), a romancista Filipa Martins, Maria Morgado e Rogério Perrolas escreveram as palavras para os restantes temas. De álbum para álbum, o músico 8

tem consolidado o seu público, como ficou recentemente provado com o sucesso da campanha de crowdfunding que realizou em março. Em pouco mais de um mês, os fãs de Rogério Charraz contribuíram com mais de sete mil euros para a gravação de “Não Tenhas Medo do Escuro”. Este novo trabalho, cujo single “Põe de Lado o GPS” (Rogério Charraz / José Fialho Gouveia) já toca nas rádios nacionais e será apresentado ao vivo no dia 26 de maio no Cinema São Jorge, em Lisboa.


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NOVOS SINGLES

Los Waves com single novo Señoritas

estreiam-se com canção “Nova”

“Don’t wanna be in love”

Num registo que passa pelo indie, pop, rock e eletrónica, aliam a multiplicidade de estilos à energia e à boa disposição, e juntam assim os ingredientes para pôr a dançar mesmo aqueles com o pézinho mais pesado, com o novo tema “Don’t Wana Be In Love”. Um tema à antiga para tempos modernos. Uma

temática séria com a qual de certeza muitos se vão identificar, que vem vestida de sol e boas vibrações, como já é hábito dos Los Waves. A dupla Los Waves (Jose Tornada e Jorge Da Fonseca) encontram-se a trabalhar em mais novidades, para já revelam novo tema com cheiro a verão.

Señoritas é o novo projeto de Mitó Mendes (A Naifa) e Sandra Baptista (A Naifa/ Sitiados). Com o fim d’A Naifa, partilhando o gosto comum de ensaiar, compor e tocar juntas, nascem as Señoritas. Surge então o tema “Nova”, single de estreia e apresentação deste projeto, com uma atmosfera densa, feminina e bem portuguesa, numa abordagem singular, canta-se a vida, mas de uma forma crua e direta.

Captain Boy estreia-se com “Tango”

“Tango” é o single de avanço do álbum de estreia de Captain Boy que chega em breve. Este tema foi gravado em várias divisões duma casa solarenga em Barcelos pelas mãos de Zé Arantes e produzido por Giliano Boucinha (Paraguaii).

“Cinegirasol” é o novo single d’Os Azeitonas

O novo single foi escrito por Miguel Araúj. “Cinegirasol” teve como inspiração uma reportagem que a banda viu sobre o Cineteatro GiraSol, em Vila Nova de Milfontes. Este é o primeiro tema original a ser apresentado pela banda desde a saída do último álbum, “AZ”, em 2013.

Miss Lava revelam 1.º single do novo disco “In The Arms of The Freaks” é o primeiro single de “Sonic Debris”, o 3.º longa duração dos Miss Lava, com lançamento mundial pela norte americana Small Stone Records a 6 de maio (digital) e 20 de maio (cd e vinil). “Sonic Debris” testemunha a exploração de novas paisagens sonoras pela banda. 10


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RUI MASSENA “Ensemble”, o segundo álbum do pianista, maestro e compositor Rui Massena. Este é o sucessor de “Solo”, lançado há pouco mais de um ano. Neste novo disco Rui Massena contou com a colaboração da Czech National Orchestra. As novas composições são largamente inspiradas pelo espírito que se vive em Sintra, local onde a maioria delas foram compostas e gravadas. O novo álbum está a ser muito bem recebido pelo público, na semana de lançamento entrou diretamente para o 5.º lugar do top nacional de vendas. A propósito deste novo trabalho, entrevistámos Rui Massena.

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Um ano após a edição do seu primeiro álbum “Solo” em que revela ao público o seu lado de compositor/músico, surge um novo trabalho “Ensemble”. Tendo em conta este curto espaço de tempo, podemos dizer que tinha “sede” de dar corpo à sua música? Sim, sem dúvida. Uma vontade e necessidade de compor e de criar novas músicas. Basicamente, aquilo que eu senti no “Solo”, com a legitimação que o público me fez, indo aos concertos, comprar o disco, senti a necessidade de criar este novo disco.

voz às suas composições. Como surge este “ensemble”/junção? Eu queria acrescentar ao piano uma envolvência sonora e achei que as cordas eram o melhor, porque a orquestra é o meu habitat natural e então achei que as cordas podiam juntar-se ao piano com o som sustentado por pessoas. “Ensemble” vem Se, no primeiro álbum, à exatamente daqui, desse grupo exceção de um tema, há de pessoas e quis acrescentar apenas o piano, neste novo essa envolvência à minha música. trabalho sentiu a necessidade de chamar uma orquestra, a Foi a primeira vez que compôs Czech National Symphomic música orquestral. Como foi Orchestra, para juntos darem apresentar as suas canções à

“QUERIA ACRESCENTAR AO PIANO UMA ENVOLVÊNCIA SONORA”

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e fiquei muito contente com a reação deles, acho que foi uma junção feliz.

“É UM ÁLBUM BASTANTE ESPIRITUAL”

orquestra checa para que ela a interpretasse? Eu chamo canções porque eu gosto de manter uma certa simplicidade e procurei simplicidade também para este disco. Ou seja, procurei canções, mesmo ao piano, fossem relativamente simples. Claro que a complexidade está no contraponto em que o diálogo musical entre a orquestra e o piano. Depois quando as fui dirigir, pela primeira vez, dirigi música minha, feita por mim do princípio ao fim, foi muito interessante, porque eu já conhecia a orquestra de ter gravado com os Da Weasel

Fale-nos um pouco dos temas que estão presentes neste álbum. É um álbum que tem a tranquilidade do “Solo”, que procurou também a envolvência das cordas e que a residência em Sintra ajudou a criar vários tipos de luz para cada uma das músicas. É um álbum bastante espiritual, no sentido em que, os títulos remetem sempre para um caminho do auto conhecimento. O álbum termina com a última canção que toquei na digressão no “Solo”, com “Abraço” que é no fundo um abraço coletivo às pessoas que ouviram “Solo”. Mas depois passa por temas como o “Alento” que tem a ver com exercício diário de estamos bem dispostos e temos energia para continuar; um tema como “Borboleta” que é a ideia de vivermos o dia o mais intensamente possível; “Estrada” baseado num poema de Fernando Pessoa que num momento em que eu estava menos feliz a minha mãe me deu o poema dizendo para não ter ansiedade, tinha que apenas me limitar a ver o caminho até à curva porque ninguém consegue ver o caminho depois da curva; ou então a “Valsa” no sentido de ser preciso dançar sobre a vida, é preciso ter uma atitude positiva. 15

No álbum anterior, Alfandega da Fé serviu de inspiração para as suas canções de “Solo”, agora Sintra serviu de pano de fundo para o processo criativo deste “Ensemble”. Necessita da natureza e da tranquilidade para que as melodias nasçam? Um centro urbano dificilmente servirá de mote para as suas composições? Pode servir... O que eu acho é que quando nós viajamos ficamos mais recetivos ao mundo. Eu quando vou para uma cidade, como fui para Trás dos Montes e agora para Sintra eu senti todo esse reflexo da natureza, das histórias que Sintra tem para contar e sobretudo fico longe do dia-a-dia que é mais rotinado e fico com espaço para pensar sobre mim, sobre as coisas, sobre a música. Sintra foi um pano de fundo muito inspirador.

“SINTRA FOI UM PANO DE FUNDO MUITO INSPIRADOR”

Depois do sucesso do seu álbum de estreia, que expectativa tem para este novo trabalho? As minhas expectativas são que as pessoas em primeiro lugar gostem da música, que este disco seja uma boa companhia e que as pessoas disfrutem muito deste trabalho e que continuem a gostar muito da minha música. Esta é a minha grande expectativa e é leva-lo depois a salas de concerto do País para que as pessoas o possam ouvir. Entrevista por: Joana Constante e Daniela Henriques




“SURMA é uma miúda estranha

Surma é o projeto one-woman-band de Débora Umbelino. Tem 21 anos e é de Leiria. Domina teclas, samplers, cordas, vozes e loop stations em sonoridades que fogem do jazz para o post-rock, da electrónica para o noise e nos levam para paragens mais ou menos incertas, com paisagens desconhecidas e muito prazer na viagem. Há umas semanas lançou o seu primeiro single “Maasai”. Tema que veio “aguçar o apetite” para o primeiro disco que se encontra a preparar e que sairá no início do próximo ano.

Para quem não te conhece, quem é Surma? Eu costumo dizer que Surma é a essência verdadeira da Débora. Quer fazer música onde se sinta num mundo só dela e fazer transparecer isso às outras pessoas. No fundo, Surma é uma miúda estranha (risos).

que ser aquele. Risquei todas as minhas outras ideias e acabou por ficar.

O fim da banda Backwater & The Screaming Fantasy, da qual fizeste parte, foi o click para lançares o teu projeto a solo? Pode-se dizer que sim. O motivo pelo qual saí da banda foi por E porque o nome Surma? estar em Lisboa e não conseguir O nome Surma veio através de um conciliar muito bem ensaios documentário que eu estava a ver e concertos. Por esse mesmo na altura em que era sobre tribos motivo ia fazendo umas melodias indígenas em que uma dessas acolá e juntando uns tantos riffs tribos se designava Surma. O de sintetizador/guitarra/baixo e nome ficou-me de tal maneira ia gravando estas mesmas ideias no ouvido que senti que tinha no telemóvel, o que levou passado 18

uns meses depois a agarrar essas ideias a sério e começar a dar vida a Surma. “Podemos esperar um disco mais eletrónico e com umas colaborações muito boas”

Recentemente lançaste o teu primeiro single “Maasai”, falanos deste tema. Este tema tem um significado muito importante para mim, pois foi o primeiro tema que fiz enquanto Surma. Deu-me uma alegria imensa quando o acabei e sempre me disse muito. Quando o toco ao vivo costuma dar-me


Foto: Eduardo Brito

arrepios (risos), talvez por ter e Espanha. Como correram? estado sempre presente desde o Correram muito bem, tem sido início de Surma. uma viagem mesmo boa! Nunca pensei que corresse tão bem. Encontraste a preparar o teu O público foi espetacular, os primeiro disco. O que nos espaços, ambiente, a organização, podes já desvendar? tem sido tudo um sonho. Eu ainda Posso desvendar pouca coisa, nem acredito muito bem nisto que nem eu mesma sei o que que anda a acontecer. virá (riso). No que tenho em mente podemos esperar um Particularmente em Espanha, disco mais eletrónico e com como foste recebida? umas colaborações muito boas. Surpreendeu-te algo no De momento é só o que posso público espanhol? adiantar. Fui muito bem recebida, o público foi espetacular. Apoiou imenso Nos últimos meses deste uma os artistas, muito hospitaleiros série de concertos em Portugal e humildes com todos. Adorei a 19

experiência.

“Nem acredito muito bem nisto que anda a acontecer”

No dia 14 de julho atuas no Palco EDP no Super Bock Super Rock. O que podemos esperar desse concerto? Podemos esperar um concerto muito diferente do habitual, vou juntar umas coisas novas, umas surpresas pelo meio e muitos nervos à mistura da minha parte. Entrevista por: Daniela Henriques




MÚSICA POR MÚSICA

T

he Loafing Heroes são uma banda com “casa” em Lisboa mas em constante evolução: um encontro internacional de ideias musicais de vários países liderado pelo vocalista e guitarrista Bartholomew Ryan (Irlanda), com Giulia Gallina (Itália) na voz e concertina, João Tordo (Portugal) no contrabaixo, Judith Retzlik (Alemanha) no violino, xilofone e trompete, Jaime McGill (Estados Unidos) no clarinete baixo e João Abreu (Portugal) na percussão. As suas canções falam de viagens por paisagens imaginárias e personagens revolucionárias, vagabundos e almas que partiram. A sonoridade da banda vai do folk irlandês e americano, à musica ambiente dos anos 70, até ao indie contemporâneo, passando pelas canções dos trovadores. O novo disco “The Baron in the Trees” será editado dia 6 de maio. Em conversa João Abreu, um dos elementos do grupo, referiu que este novo trabalho é “um álbum orquestral e cheio de cores, devido aos vários instrumentos presentes”, tais como o piano, o violino, o clarinete baixo e a concertina. Salienta que a banda continua “a privilegiar os temas da morte, da vida errante, do amor perdido e

THE LOAFIN

música po da regeneração, valorizando o lado poético das letras”. No dia de lançamento do disco o grupo atua no Musicbox em Lisboa. João Abreu refere que irão tocar todas as canções do novo álbum e ainda “algo inédito”. Conta-nos que o título do novo álbum ”é uma forma de subversão ou rebelião à nossa época focada no materialismo e na rapidez das coisas”. O título surgiu ainda de um romance italiano “que adoramos e que representa a ideia e o estilo da banda, onde o protagonista decide de subir numa árvore e nunca mais descer, vivendo uma vida cheia de aventuras surpreendentes”. Para o futuro os The Loafing Heroes ambicionam “trazer a nossa música para novos horizontes e continuar a evoluir e criar novas perspetivas”. Depois do concerto do dia 6 de maio no Musicbox o grupo irá atuar na FNAC de Oeiras a 7 de maio, em Cascais a 4 de junho, no NOS Alive no dia 8 de julho e já está também confirmado um concerto em Braga, no dia 24 de setembro no Teatro Circo Braga. Mais datas serão anunciadas na página de facebook do grupo. Conheça “The Baron in the Trees” música por música na página seguinte. Texto: Daniela Henriques

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NG HEROES

or música

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MÚSICA POR MÚSICA

O OUTRO LADO O álbum começa com o single “O Outro Lado” - depois de “Crossing the Threshold” (2014), estamos agora no reverso das coisas: num espaço de sonho e de cores, numa viagem ao desconhecido: a banda atingiu a maturidade na forma e no som, acompanhada das inspiradoras letras de Bartholomew Ryan. GYPSY WALTZ Na segunda faixa “Gypsy Waltz” Giulia Gallina estreiase como voz principal, transportando no seu extraordinário timbre uma história de bruxas numa noite de Outono.

COLLAPSING STAR Continuamos nos temas do caos e do cosmos, uma espécie de clássico pop a velocidade mais lenta, escrito pelo nosso grande amigo Michael Hall que foi o produtor do primeiro álbum da banda (Unterwegs, 2009), e que faleceu em 2013. CROSSING ROADS A faixa sedutora “Crossing Roads” celebra as transformações e a inspiração

CAITLIN MAUDE A nona faixa, novamente com NIGHTSONGS Giulia Gallina na voz, é uma É uma canção profundamente ode despida e jazzy à arrojada romântica sobre um amor poeta de Connemara que ferido, embebida na tradição escrevia em gaélico. irlandesa-americana da música folk, enriquecida pelo SOUL contrabaixo de João Tordo. É quase uma canção de embalar, que fala do reciclar LOYAL TO YOUR KILLER de todas as coisas e do vazio O primeiro lado do álbum que nos cerca. termina com “Loyal to Your Killer”, uma imagem GOD’S SPIES inesperada e uma janela para Já perto do final, o pungente o lado destrutivo do amor, e desolado God’s Spies, que acompanhada pelo belíssimo devolve à banda as suas raízes violino de Judith Retzlik. folk ao relembrarmos o nosso amigo, músico e produtor GATES OF GLOOM Michael Hall. O segundo lado do álbum abre-se com “Gates of Gloom”, JAVALI a faixa mais “dançável” do O álbum fecha num pico álbum, impulsionada pelo musical e lírico – com a baixo, guitarra eléctrica e enigmática e majestosa “Javali” trompete. Uma canção que combina o yin e yang dos Loafing Heroes RAG & BONE e o nosso tema eterno do Possui o mesmo frenesim, despojamento e da renovação. com o baixo clarinete de É uma canção que inclui todos Jaime McGill fundindo todos os temas da banda, do ponto os outros instrumentos na de vista musical e lírico, onde canção, a letra buscando quem ouve dá por si a vaguear inspiração no poeta irlandês dentro de um universo onírico Yeats. e flutuante. das amizades complexas.


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O ROCK NÃO “TÊM OS DIAS CONT Com o pretexto da apresentação do novo disco “Têm os dias contados”, os Capitão Fausto passaram pelo Lux em Lisboa nos dias 28 e 29 de abril. Com ambas as datas esgotadas a banda lançou-se dia 29 para uma odisseia de Rock psicadélico com direito a crowd surf e sempre em bom Português.

Os temas no novo de disco a serviram de mote e o público aderiu sempre com muita energia. “Morro na Praia”, “Amanha tou melhor”, “Tem de ser” ou “Alvalade chama por mim” provaram ter energia e uma quase obsessão pela ideia da morte. “Eu vou morrer, mas antes vou aproveitar bem” é um

refrão que fica a ecoar no ouvi e que ilustra bem o conceito volta do qual o disco se ergue. Os coros, a dar para o épi característicos continuam lá e solos de guitarra sobressaem p entre os riffs mais orelhudos. Entre piadas de boa disposiçã a banda preencheu a hora meia de concerto com o s


O TADOS”

ido o à

Rock sinfónico que se não fosse cantado em Português nos faria pensar que estávamos perante ico, sons de outras latitudes bem e os mais habituados a este tipo de por melodias. Seguir-se-ão mais concertos em que mais público ão, vai ficar rendido a uma banda a e a qual ainda vai dar muito que seu falar.

Texto: Pedro Pico Fotografia: Luís Flôres


PAULO DE CARVALHO, F

oi com “Flor Sem Tempo”, tema que lhe valeu o 2.º lugar no Festival da Canção em 1971, que Paulo de Carvalho abriu o seu espetáculo “Intemporal”, no Teatro Tivoli BBVA, em Lisboa, no passado dia 12 de abril. Um espetáculo único onde o músico e compositor interpretou temas que fazem parte dos seus 54 anos de carreira. Seguiu-se “Maria, Vida Fria”, “10 Anos”, “Abracadabra” e “Executivo”, temas que pertencem ao início de carreira do cantor. Em palco Paulo de Carvalho faziase acompanhar por uma big band de 12 músicos, mas aquando de um reportório diferente – de fado – interpretou alguns temas acompanhado somente por José Manuel Neto na guitarra portuguesa e Carlos Manuel Proença na viola de fado. “Desculpem qualquer coisinha”, tema que dá nome ao álbum que editou em 1985 e lhe valeu o primeiro disco de ouro, foi a primeira canção que se ouviu apenas com os dois músicos e Paulo de Carvalho em palco. Também pertencente a esse disco, interpretou “Balada para uma Boneca”. Continuando no reportório de fado interpretou quatro temas celebrizados por Carlos do Carmo, foram eles “O Homem das Castanhas”, “Os Putos” e “Lisboa, Menina e Moça”. Concerto especial com convidados especiais. Mariza foi a primeira convidada da noite a subir ao palco e a interpretar em dueto com Paulo de Carvalho “Meu Fado, Meu Fado”, um dos temas de sucesso do reportório da fadista, interpretado por duas vozes únicas num momento que ficará celebrizado a quem assistiu ao concerto. Outra das convidadas foi Mafalda Sacchetti, filha de Paulo de Carvalho. Momento comovente entre pai e filha com a canção “Mãe Negra”. Antes de subir ao palco o último convidado da

noite Paulo de Carvalho interpretou “Beijo à Lua”. Segue-se depois outro dos momentos marcantes da noite com mais um dueto com um dos seus filhos, desta vez com Agir. “Meu Mundo Inteiro” foi o tema que de forma ternurosa ambos interpretaram. A terminar o concerto Paulo de Carvalho interpretou outros dos seus grandes sucessos como “Meninos do Huambo”, “Gostava de Vos Ver Aqui” e “Nini dos Meus Quinze Anos”, e para dar por terminado o espetáculo não podia faltar “E Depois do Adeus”, tema com que venceu o Festival da Canção em 1974 e que é uma das canções que está associada à revolução dos Cravos. O público que se deslocou ao Teatro Tivoli e assitiu a hora e meia de espetáculo agradeceu de pé com uma forte ovação. Entre a plateia, para além de familiares, amigos e muitos admiradores de Paulo de Carvalho encontrava-se Pedro Passos Coelho, ex-primeiro ministro, acompanhado pela sua esposa. Um espetáculo que ficará na memória de quem o assistiu, com um alinhamento que viajou por várias épocas e sucessos da carreira do músico e compositor. Intemporal é mesmo o nome que se adequa a este espetáculo e a Paulo de Carvalho, um artista que com as suas canções tem enriquecido a música em Portugal. Canções que nos tocam e que serão intemporais, tal como Paulo de Carvalho. Do concerto há ainda a salientar a banda da qual Paulo de Carvalho se fez acompanhar teve direção artística de Agir. O ditado diz que filho de peixe sabe nadar e nesta família o ditado bem se aplica com a certeza de que o futuro da música está garantido com jovens talentosos como Agir. Reportagem: Márcia Filipa Moura


, o intemporal


LINDA M jogaram Sirumba mas nã F

oi no dia 2 de abril que a sala mítica, Coliseu dos Recreios, se encheu para ver Linda Martini. Segundo os próprios não sabiam o que esperar do público, mas o público estava certo de que eles dariam um bom concerto. Eram precisamente 21h30 quando o concerto começou, com os quatro elementos dispostos numa mesma linha recta na frente do palco, como que a mostrar que ali todos são valiosos.

Fizeram soar músicas de “Sirumba” como todos esperavam, mas presentearam o público também com músicas de “Olhos de Mongol” como “Amor combate” e “Dá-me a tua melhor faca”, como de “Casa Ocupada” a “Mulhera-dias” ou “Ratos” de “Turbo Lento”, foi aliás com “Ratos” que o público mais vibrou, com direito a surf crowd, no entanto em todas as músicas os refrões eram acompanhados pelas vozes


MARTINI ão brincaram no Coliseu do público, visivelmente felizes por terem Linda Martini de volta. A escolha intercalada das canções a relembrar os quatro álbuns foi não só uma escolha inteligente mas também uma das melhores prendas que podiam ter dado aos fãs. Instrumentais poderosos e consistentes que são uma das imagens de marca da banda, aqui tocados com mais maturidade e com espaço para todos os instrumentos.

Este concerto passa a fazer parte da história dos Linda Martini, de quem a ele assistiu e passa também a fazer parte da história da música portuguesa, pois os Linda Martini tem ao longo dos tempos trilhado um caminho que lhes é merecedor de destaque e de reconhecimento na música em Portugal.

Texto: Sofia Reis Fotografia: Luís Flôres


Deolinda contaram “Out

O

projeto Deolinda foi ao Tivoli em Lisboa na noite de 22 de abril apresentar o seu mais recente disco “Outras histórias”. Perante uma plateia esgotada a banda de neo fado desfilou o seu animado reportório que varia entre baladas como “Desavindos”, um momento especial já que contou com o convidado especial

Manel Cruz (Ornatos Violeta), e o disco sound de “A velha e o DJ”, desta vez com a presença de Riot (Buraka Som Sistema). Pelo meio uma mão cheia de sucessos como “Seja agora”, “Mal por mal” ou “Fon Fon Fon” e um desfilar de temas do seu mais recente e quarto álbum de originais como “Bons dias”, “Manta para dois”, “Canção aranha” ou o single de

apresentação “Corzinha de Verão” que provou ter já assegurado um lugar entre os sucessos da banda. A referência política não faltou em “Bote Furado” e o uníssono refrão de “Berbicacho”, o qual o público aderiu de uma forma bastante espontânea. Voltaram três vezes ao palco depois de se despedirem já que o público em apoteose insistia em


tras Histórias” no Tivoli

não abandonar a sala depois de a banda sair do palco. A destacar entre histórias, danças, piadas e insinuações Ana Bacalhau, a carismática vocalista que enche o palco de uma ponta a outra e não deixa ninguém indiferente à sua irreverência e jovialidade. É desde há já algum tempo, não só uma das melhores interpretes nacionais como possivelmente,

uma das presenças mais carismáticas e fortes no plano do entretenimento de audiências. Sem esquecer a sua voz versátil e característica que não desafina por um momento apesar da movimentação da cantora. Em suma, quase duas horas de concerto de muito boas recordações para os muitos que encheram a sala Lisboeta.

Perante uma audiência bastante diversificada, em que se destacavam as famílias com filhos, os Deolinda demonstraram que se encontram em grande forma com um disco pojante e a justificar o porquê de serem uma das bandas mais apreciadas no panorama musical Português.

Texto: Pedro Pico Fotografia: Luís Flôres


REPORTAGEM

A(NA) MOURA ENCANTADA QU

U

m palco com efeitos de luzes nas plataformas dos músicos e na parte superior, uma borboleta que apareceu iluminada em algumas das canções, como que salientando a metamorfose desta fadista, com uma carreira que já vai em quinze anos. Ana Moura vestida com um lindo longo vestido preto brilhante de Filipe Faísca, fez-se acompanhar dos seus brilhantes músicos. Ângelo Freire na guitarra portuguesa, Pedro Soares, na guitarra clássica, Mário Barreiros, na guitarra eléctrica, João Gomes nos teclados, André Moreira no baixo e na bateria, Mário Costa. O concerto do dia 9 de abril começou com a canção que abre o seu mais recente disco “Moura Encantada” enquanto o casulo que contornava o palco se ia abrindo. Antes de cumprimentar as mais de sete mil pessoas, interpretou “Ai Eu”. Cumprimentado e agradecendo a presença de todos os presentes, Ana Moura confessou que estava nervosa pois era um concerto especial, não só por estar a atuar na maior sala do País mas também porque tinha tantos colegas, amigos e familiares a ver o concerto, fez destaques para alguns deles, como Mariza, João Baião, a madrinha Maria da Fé, Jorge Fernando, Raquel Tavares e o ilustre Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa. No entanto se estava nervosa, nunca o mostrou. As primeiras músicas que se ouviram no Meo Arena pertencem ao seu mais recente

disco “Moura”. Ouviu-se “O Meu Amor Foi Para o Brasil”, “Fado Dançado”, “Desamparo”, “Agora É Que É” e “Ninharia”. Ao longo do concerto a fadista dirigia-se ao público, falando das canções que interpretava e dando ressalva para quem as tinha escrito. Em “Fado Dançado” explicou que Miguel Araújo – autor da a letra – escreveu esta canção ao se ter apercebido que Ana Moura se movimentava imenso enquanto cantava. A fadista contou ainda que antigamente o fado que era dançado chamava-se “bater o fado” porque se movimentavam as ancas. Com a guitarra Portuguesa de Ângelo Freire a sobressair em “De Quando Em Vez” e “Porque Teimas Nesta Dor” acompanhado da voz densa e quente de Ana Moura prepararam-se para “Maldição”. Aquando deste tema entrou em palco o bailarino Romeu Runa, que com um jogo de luzes perfeito e com Ana Moura estática a dar espaço para a ilustração viva da dança de Romeu. Excelente atuação de Romeu Runa num dos momentos a destacar da noite. Ana Moura saí de palco com o bailarino e dá-se espaço para que todos os músicos brilhem de forma mas evidenciada, tanto instrumentalmente como com os focos de luz a iluminar cada músico em questão. Tocaram durante quinze minutos, trocando entre si os focos de atenção. Ana Moura volta ao palco com um magnifico vestido branco brilhante, também ele longo e com 34

uma espécie de xaile incorporado no próprio vestido e cantou “Eu Entrego”, música do seu último álbum, neste cantada com Omara Portuondo, mas no Meo Arena cantado a solo. Animou os ânimos com “Valentim”, com o público a acompanhar. Seguiu-se dois dos seus maiores sucessos “Leva-me aos fados” e “Búzios”, tendo o público acompanhado a fadista nos refrões de ambas as canções. Ambos os fados foram escritos por Jorge Fernando, que estava presente na sala, tendo Ana Moura aproveitado para agradecer ao autor. Os agradecimentos continuaram, desta vez para Pedro Abrunhosa que escreveu “Tens os olhos de


UE ENCANTOU O MEO ARENA

Deus”. Se a poesia desta letra é belíssima, mais bela se torna a canção com a única e intensa voz de Ana Moura, a aliar ao talento dos seus músicos. De ressalvar Ângelo Freire que neste tema dá um enorme poderio com a guitarra portuguesa. A interpretação desta canção foi acompanhada pelo respetivo videoclip. A terminar, e depois de um momento bastante intenso, voltou a dançar-se com “Bailinho à Portuguesa”. De viva voz e com palmas a acompanhar o público ajudou a fadista a cantar “Dia de Folga”, canção escrita por Jorge Cruz, dos Diabo na Cruz. Despediu-se do palco, mas o público queria mais, Ana Moura

regressa para o encore com “Loucura” e “Desfado”, tema do álbum que em 2013 nos dava a conhecer uma Ana Moura mais ousada, dando uma nova roupagem ao fado, o agora chamado fado moderno. Após apresentar os seus músicos e de cada um deles ter mostrado os seus dotes vocais, a fadista ensinou a bater palmas ao som do bombo. O concerto terminava com confetes de borboletas a serem lançados na direção do público que saudava de pé Ana Moura com fortes aplausos. O final do concerto foi como que uma metamorfose, como que simbolizando a saída do casulo, a transformação e renovação de quem no fado arriscou e triunfou. 35

Este concerto, na maior sala do seu País, veio provar o porquê de Ana Moura ser atualmente a fadista de maior sucesso. A diversidade de faixas etárias presentes neste concerto é a prova disso mesmo. E pegando nas primeiras palavras que a fadista cantou no início do espetáculo, servindo as mesmas como conclusão a mais de uma década de carreira, é que de facto a voz de Ana Moura «de repente é a voz de toda gente» e que esta Moura que há no seu nome, é com certeza uma «Moura encantada», que honra a música portuguesa e o fado. Texto: Sofia Reis Fotografia: Cedidas pela produção


AGENDA SAMUEL ÚRIA Casa da Música, Porto Dia 5 maio, 21h30

THE LOAFING HEROES Musicbox, Lisboa Dia 6 maio, 22h00 DEOLINDA Casa da Música, Porto Dia 6 maio, 21h30

TONY CARREIRA Multiusos de Guimarães Dia 7 maio, 21h30

ANDRÉ VIAMONTE Teatro Ibérico, Lisboa Dia 7 maio, 22h00

FANDANGO Centro Cultural e Congressos, Cascais Dia 7 maio, 21h30

THE DOWSERS SOCIETY & LOST CARNIVALE Teatro A Barraca, Lisboa Dia 7 maio, 23h30 GNR Teatro Tivoli BBVA, Lisboa Dia 8 maio, 21h30

THE DOWSERS SOCIETY & DOG’S BOLLOCKS Roterdão Club, Lisboa Dia 9 maio, 23h30

INSCH Estúdio Time Out, Lisboa Dia 12 maio, 22h00

FANDANGO Cine Incrível, Almada Dia 14 maio, 21h30

ELIAS Estúdio Time Out, Lisboa Dia 21 maio, 22h00

CAPITÃO FAUSTO Gnration, Braga Dia 14 maio, 22h00

FANDANGO Cine Incrível Almadense, Almada Dia 14 maio, 21h30 MISS LAVA Sabotage Club, Lisboa Dia 16 maio, 22h00 ELIAS Casa da Música, Porto Dia 19 maio, 21h00

FESTIVAL ROCK IN RIO Parque da Bela Vista, Lisboa Dia 19 e 20 de maio

MINTA & THE BROOK TROUT Passos Manuel, Porto Dia 20 maio, 21h30

JOÃO PEDRO PAIS Cine-Teatro, Estarreja Dia 21 maio, 21h30

MINTA & THE BROOK TROUT CCVF, Guimarães Dia 21 maio, 21h30

SEÑORITAS Café au Lait, Porto Dia 20 maio, 22h00

RAQUEL TAVARES Centro Cultural de Belém, Lisboa Dia 20 maio, 21h30

SEÑORITAS Casa Independente, Lisboa Dia 21 maio, 22h00 36

ROGÉRIO CHARRAZ Cinema São Jorge, Lisboa Dia 26 de maio, 21h30

MINTA & THE BROOK TROUT Salão Brazil, Coimbra Dia 26 maio, 21h30


MINTA & THE BROOK TROUT Auditório de Espinho Dia 27 maio, 21h30

FESTIVAL ROCK IN RIO Parque da Bela Vista, Lisboa Dia 27, 28 e 29 de maio

MARCO OLIVEIRA Centro de Artes do Espectáculo, Portalegre Dia 28 maio, 21h30

DEOLINDA Cine-Teatro António Lamoso, Santa Maria da Feira Dia 28 maio, 21h30

SECRET LIE Cineteatro D João V, Damaia Dia 28 maio, 21h30 TAIS QUAIS Teatro Tivoli BBVA, Lisboa Dia 29 maio, 21h30

ANTÓNIO CHAINHO Teatro Tivoli BBVA, Lisboa Dia 31 maio, 21h30

VIVIANE Casa da Música, Porto Dia 2 junho, 21h30

FANDANGO Passos Manuel, Porto Dia 2 junho, 21h30

FESTIVAL CAIXA RIBEIRA Ribeira, Porto Dia 3 e 4 junho

VIVIANE Teatro das Figuras, Faro Dia 4 junho, 21h30

VIVIANE Cinema São Jorge, Lisboa Dia 9 junho, 21h30

RICARDO GORDO Casa da Música, Porto Dia 14 junho, 21h30

Anuncie na nossa revista online um concerto; festival; serviço/produto gratuitamente, mediante termos e condições a combinar. Para mais informações entre em contacto: madeinportugalmusica@gmail.com* 37


ENTREVISTA

“É DIFÍCIL MONTAR E SUST UM GRUPO DESTA NATURE

Começaram como um grupo de percussão com mais de 30 pessoas, hoje são uma banda e lançaram recentemente o disco de estreia. O que vos levou até aqui? Como diz a música, ‘caminhando se faz caminho’. Fomos andando, fomos fazendo experiências, várias pessoas foram entrando e saindo do grupo. No início éramos um grupo de percussão, mais tarde fomos aproveitando a polivalência de alguns músicos do grupo e

começámos, a pouco e pouco, a introduzir instrumentos de cordas e vozes. A nossa formação fixouse em 11 elementos em 2012/13 e desde então temos trabalhado neste formato que agora apresentamos em disco.

pretensão de vir a editar um dis Éramos um grupo de percus – a ideia era tocar na r eventualmente fazer espectácu de palco. Com a evolução do gru e a entrada de novos instrumen e vozes, fomos criando músi mais próximas do formato-canç O grupo foi fundado em 2008, Quando já tínhamos algum mate porquê só agora a edição de que nos agradava, resolvem um disco? Nunca tiveram como partir para a gravação de um dis principal objetivo editar um disco? No disco há títulos de cançõ De início, não havia sequer a que se repetem mas com versõ 38


TENTAR EZA”

Depois de 6 anos a acumular experiências diversas, os RETIMBRAR editam o seu primeiro disco “Voa Pé” que traz consigo os ecos dos bombos na rua e a emoção das canções partilhadas nos palcos e fora deles. Neste disco, os Retimbrar são Afonso Passos, André Nunes, André Rodrigues, Andrés Tarabbia ‘Pancho’, António Serginho, Francisco ‘Killo’ Beirão, João Grilo, Miguel Arruda, Nuno Xandinho, Rita Sá, Rui Ferreira ‘Caps’, Rui Rodrigues, Sara Yasmine e Tiago Soares. Os convidados do disco são Alexandre Meirinhos, António Augusto Aguiar ‘Togú’, Catarina Valadas, Nicô Tricot e Renato Monteiro. Estivemos à conversa com um dos elementos do grupo, António Serginho, que nos revelou mais de “Voa Pé”.

diferentes. Porquê esta opção? Cada caso tem uma explicação diferente. No caso do ‘Ao Alto’, é um ritmo que já tocamos na rua há cerca de 5 anos. Na rua podemos tocá-lo durante 20 minutos, estendendo e explorando bastante cada parte do tema. Para o disco, pensámos numa estrutura de 4 ou 5 minutos e gravámos assim. Na fase de escolha do alinhamento a música ainda nos soava demasiado ões grande para ser ouvida num disco ões e resolvemos dividir a música em

sco. ssão rua, ulos upo ntos icas ção. erial mos sco.

duas partes. No caso do ‘Voa Pé’ – ‘cá fora’ e ‘cá dentro’ são mesmo duas músicas diferentes mas que têm o mesmo refrão em comum. No fundo, acabam por falar do mesmo assunto mas com perspectivas e estados de espírito diferentes. O ‘Deixai o Menino’ (faixa 4) é a música a sério! A faixa 3 é apenas uma introdução, um registo de 20 segundos. Foi gravada na rua, em Novi Sad na Sérvia.

Quanto à capa do disco, que é bastante ilustrativa, como surgiu a ideia dos recortes fotográficos? Esta não foi a primeira ideia que tivemos para capa do disco. A ideia original não satisfazia por completo e andávamos a matutar sobre o assunto, pedindo opiniões a vários amigos. Alguns deles deram um ‘input’ idêntico, que a nossa capa devia ser cheia de gente, uma praça, com animais, uma mistura de cidade e aldeia. O Manel Cruz foi uma dessas pessoas, mas além de ter essa visão, teve a brilhante ideia de como a concretizar. Juntámos várias fotografias de momentos relevantes para o grupo e para as pessoas que o compõe, e construímos de raiz uma paisagem, um lugar. Podem ver tudo no vídeo do ‘Ao Alto’! “Vou beber de todas as fontes / dar de beber a quem puder / Conto enriquecer a viagem / das lições por aprender” – assim cantam no single “Voa Pé”. É este o 39

vosso objetivo? Beber de todas as fontes musicais, dar a conhecer as mesmas às pessoas e enriquecer a música em Portugal? É esse um dos nossos objetivos, mas não é só musical. Ultrapassa em muito a esfera da música, queremos que esse espírito se contamine a outros campos – à amizade, ao amor, à alegria, à solidariedade.

Curiosidade: porquê o nome Retimbrar? Retimbrar, assim à primeira vista, fala-nos em refazer o timbre, que é a característica, a particularidade sonora das coisas. A ideia original do nome tinha a ver com isso, com dar novos sons às velhas tradições e com dar novas tradições aos velhos sons. Com o passar do tempo fomonos apercebendo que este princípio se aplica à forma como interagimos entre nós, com o público e até nas nossas vidas pessoais. De certa forma, retimbrar as consciências é também um objetivo nosso, e uma responsabilidade. Certo dia também descobrimos que, em espanhol, o verbo retimbrar é usado quando se fala em recarregar um extintor ou garrafa de oxigénio, por exemplo. Achámos imensa piada e fez todo o sentido para nós, foi sempre isso que aconteceu com os nossos concertos e saídas na rua, um recarregamento de energia e de ‘pica’ para viver! Entrevista por: Daniela Henriques


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