Diário de um Pré-Biólogo

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A evolução debaixo do microscópio

No seu início de carreira, o que é que ambicionava? Que expectativas para o futuro tinha ao entrar no mundo do trabalho?

O que é que a motivou a enveredar pela ciência?

Desde pequenina, eu queria ser veterinária. Sempre tive muita curiosidade sobre como é que as coisas funcionam. Sempre que podia acompanhava o veterinário da minha terra - quando ele ia fazer vacinações, ajudar num parto ou algo que ela achasse que eu podia achar engraçado. Entretanto tentei entrar em medicina veterinária e, acho que felizmente, não consegui. Fui assim cair um bocadinho de paraquedas na Engenharia Zootécnica. Acabei por ao longo do curso ir descobrindo efetivamente o que é que eu gostaria de fazer. A dada altura, comecei a interessar-me por algumas disciplinas em particular, curiosamente aquelas mais básicas das ciências biológicas. Depois surgiu uma vaga para estagiar num laboratório de imunologia e eu, apesar de não saber nada sobre imunologia, achei muito curioso porque gostava de saber um bocadinho mais sobre os mecanismos, toda essa parte que nos controla por dentro. Gostei imenso e percebi que era por ali - que, se calhar, gostava mesmo de ser investigadora: tentar desbravar alguns caminhos. Como fui para as ciências genéticas foi mais ou menos uma casualidade - abriu uma vaga para monitores, para dar aulas práticas de genética e eu fui a uma entrevista. Tive um bocadinho de sorte, acho que também gostavam de mim! E comecei assim o meu percurso. Foi-me entusiasmando cada vez mais e hoje em dia não me vejo a fazer outra coisa.

Eu comecei a dar aulas de genética e era genética geral. É uma abordagem mais simples, muito baseada em como funciona a hereditariedade. Depois tinha uma parte em que falávamos de cromossomas. Dentro da genética que eu fui ouvindo falar, gostava muito de cromossomas, isso eu tinha a certeza absoluta - que a citogenética era a minha parte preferida. Entretanto, comecei a perceber que o estudo da citogenética me permitia estudar evolução. [Os cromossomas] são o genoma de cada espécie organizado de uma determinada forma. Tentar estudá-los no maior número de espécies possível e tentar chegar aos mecanismos - aquilo que leva a que as espécies evoluam -, acho que era esse o meu objetivo. Em termos científicos, a nossa ambição é sempre tentar chegar um bocadinho mais longe e perceber um bocadinho mais. Ao longo da minha evolução como investigadora, percebi que os caminhos eram bastante complexos e hoje em dia estou a estudar um bocadinho daquilo que o caminho me foi mostrando. Ambição? É difícil dizer-vos qual é a ambição. Há ambições muito práticas todos nós gostamos de ser reconhecidos. Não nós investigadores, mas o nosso trabalho. Quando digo nós, é sempre “nós” porque um investigador nunca está sozinho. É sempre um conjunto de pessoas que colaboram. É uma rede e é uma partilha muito grande e tem de haver cada vez mais. Muitas vezes acontece alguma recompensa no que diz respeito a isso quando vemos que os nossos conhecimentos podem ser aplicados por outras pessoas para chegarem ainda mais longe do que nós fomos.

No meu trabalho, a aplicação de alguns desses trabalhos em questões particulares, como é o caso da investigação de doenças. Essa parte também é muito gratificante.

[…] “Fizemos uma coisa extraordinária, exatamente porque a comunidade científica se uniu num só esforço […]. Só assim é que se consegue ir mais longe e mais depressa”.

Sendo que iniciou o seu percurso na área da zootecnia, como é que esses seus conhecimentos a auxiliam na sua área de trabalho atual?

Ao longo da licenciatura, tive inúmeras disciplinas. De facto, Engenharia Zootécnica é um curso muito amplo porque temos de colocar todos os animais domésticos de que se possam lembrar. Isso fezme ter uma visão muito abrangente da diversidade entre espécies e ao mesmo tempo daquilo que nos une. Há muitas questões biológicas idênticas, se não mesmo iguais, mas depois há a diferença. Foi esse [despertar da] curiosidade que foi moldando o meu discernimento foime conduzido até à área da investigação. Houve outra coisa que não tem tanto a ver com ciência. Eu vim de Portalegre estudar para Vila Real, que na altura ficava muitíssimo longe. Isso obrigou-me a adaptar-me e a desenvolver uma rede de amigos e suporte emocional grande. […] Aprender a estar em grupo, a trabalhar em equipa e a viver em comunidade, o que foi fundamental para conseguir integrar-me e formar a minha própria equipa, para saber falar e lidar com as pessoas e trabalharmos todos juntos.

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