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Portugal GRI 2020 Acima de qualquer surto Above any outbreak

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Os investidores, proprietários, credores e promotores imobiliários europeus do nível C do Clube GRI reuniram-se online no início de Junho para discutir os impactos, perspectivas e visões futuras do mercado imobiliário Ibérico após o Covid-19. European investors, property owners, creditors, and real estate developers from Level C of the GRI Club met online at the beginning of June to discuss the effects of the current pandemic on the Iberian real estate market as well as its future prospects after COVID-19.

As reuniões on-line levantaram pontos importantes sobre perspectivas macro-económicas, resposta do Governo e estímulo fiscal, carteiras de imóveis, preços e procura de activos, estratégia de investimento, capital estrangeiro e fluxo de negócios, mitigação de riscos, conjunto de parcerias estratégicas e os próximos desafios e oportunidades no mercado imobiliário. Mais de 150 profissionais seniores estiveram presentes em três dias de discussões on-line.

Recuperação, crescimento e investimento

Os membros do restrito Clube GRI Portugal e Espanha discutiram os impactos da pandemia no mercado imobiliário e de capitais da Península Ibérica. Um fio condutor que ligou os diversos intervenientes foi o de que, com as incertezas a persistir em torno de possíveis cenários de recuperação, espera-se que as taxas de juros permaneçam baixas no futuro próximo e as taxas de inflação permaneçam estagnadas, já que as pessoas e as empresas dependem dos subsídios do governo. Os credores parecem concentrar-se em oferecer capital para fazer correcções de mercado mas, por outro lado, vêem um comportamento lento nas transacções que, ainda assim, pode aumentar nos próximos meses. Um ponto importante para todas as classes de activos é a necessidade de surgirem novos projectos de qualidade para atrair ocupantes e inquilinos, além de estabelecer parcerias públicas e privadas para combater a crise com mais eficiência.

Fundamentos positivos com o apoio do Governo

No segundo dia do Iberia GRI online os membros voltaram a reunir-se para debater o ambiente de transacções e investimentos pós- -Covid no mercado imobiliário e de capitais português. A maioria do grupo concordou que os ajustes futuros em termos de estratégias de investimento e alocações de classe de activos terão um importante papel. Do lado financiamento, os credores adoptaram uma posição conservadora, com menos financiamento disponível a curto e médio prazo. Mas de uma forma geral, os fundamentos positivos pré-crise parecem apoiar os possíveis cenários de recuperação de Portugal com um mercado menos alavancado e um apetite de investimento internacional. No entanto, todos os especialistas são unânimes, é necessário mais apoio monetário e fiscal por parte do Governo português.

O “novo normal”

Embora os investidores estivessem conscientes do estágio final do ciclo anterior à pandemia, que fez com que muitos se concentrassem em activos e estratégias defensivos, a crise actual sanitária comprovou a resiliência e as tendências anti-cíclicas de alguns activos, como sejam as residências alternativas. O foco principal foi transformar portfolios e estratégias de investimento para atender à nova procura, adoptando soluções flexíveis e entendendo as tendências de regeneração urbana e suburbana. Diversificar activos e

portfolios, bem como repensar o uso do espaço, foi visto como algo crucial. Mau grado, os membros vêem surgir, a médio prazo, possibilidades de oportunidades angustiantes. Na opinião de Thiago Alves, Head of Real Estate - Iberia & Italy do GRI Club, “apesar da pandemia e da incerteza, o sector imobiliário está a colocar Portugal numa posição resiliente”. Acrescentando que, “com o estímulo fiscal definido para ajudar os mercados, os consumidores precisarão adoptar mudanças” e os “mercados imobiliário e de capitais voltarão ao fluxo de negócios”. Mas adverte: “O novo ambiente de negócios será completamente diferente nos próximos meses, uma vez que o ciclo de recuperação será afectado pela procura e pelo adiamento dos investimentos em diferentes projectos”. “Embora os players sejam cautelosos, estão à procura de novas oportunidades que vão chegar aos países no próximo ano, altura em que é esperada a recuperação. E eles vão precisar de estar preparados para definir ajustes no desenvolvimento de activos numa estratégia de longo prazo, para o futuro, já que as mudanças transitórias estão a acontecer em todos os activos imobiliários, a maioria das quais impulsionada durante a pandemia. O resiliente prevalecerá”, conclui Thiago Alves.

These on-line meetings raised a number of important points regarding macroeconomic prospects, the Government’s response and fiscal stimulus, real estate portfolios, prices of and demand for assets, investment strategies, foreign capital and business flow, how to mitigate risks, strategic partnerships, and the next challenges and opportunities in the real estate market. More than 150 senior professionals were present for these three days of on-line discussions.

Recovery, growth, and investment

Members of the select GRI Club of Portugal and Spain discussed the effects the current pandemic has had on the Iberian Peninsula’s real estate and capital market. One topic that really got the discussion going was interest rates. Given the lingering uncertainties surrounding what recovery could possibly look like and the fact that people and businesses depend on subsidies from the

A maioria do grupo concordou que os ajustes futuros em termos de estratégias de investimento e alocações de classe de activos terão um importante papel. Most of the group agreed that future adjustments to investment strategies and asset class allocations will play an important role.”

government, it is hoped that interest rates remain low in the near future and that inflation remains stagnant. Creditors seem to be concentrating on offering capital to make market corrections, butthey are also seeing slow behaviour in transactions, which could, nevertheless, increase in the coming months. An important point for all asset classes is the need for new, highquality projects to attract occupants and tenants, in addition to the need to establish public and private partnerships to combat the crisis more efficiently.

Positive fundamentals supported by the Government

On the second day of Iberia GRI online, members gathered again to debate what the environment will be like for transactions and investments in the post-COVID real estate and capital marketin Portugal. Most of the group agreed that future adjustments to investment strategies and asset class allocations will play an important role. On the financial side, creditors have adopted a conservative approach, with less financing available in the short and medium term. Generally speaking, the positive pre-crisis funda

mentals seem to seem to support possible recovery scenarios in Portugal wherein the market is less leveraged and has an appetite for international investment. However, the experts are unanimous: more monetary and fiscal support from the Portuguese Government is needed.

The“new normal”

Although investors were aware of the final stage of the cycle before the pandemic which led a lot of people to focus on defensive assets and strategies, the current health crisis hasproven the resilience and anti-cyclical tendencies of some assets, such as alternative homes. The main focus was to modify investment strategies and portfolios to satisfy the demand, adopting flexible solutions and seeking to understand urban and suburban regeneration trends. Diversifying assets and portfolios and rethinking how spaces could be used were seen as essential. Despite this, the members see distressing possibilities on the horizon in the medium term. Thiago Alves, Head of Real Estate – Iberia & Italy for the GRI Club, says, “Despite the pan-

Os fundamentos positivos pré-crise parecem apoiar os possíveis cenários de recuperação de Portugal com um mercado menos alavancado e um apetite de investimento internacional. The positive pre-crisis fundamentals seem to seem to support possible recovery scenarios in Portugal wherein the market is less leveraged and has an appetite for international investment.”

demic and all this uncertainty, real estate is putting Portugal in a resilient position. […] With the fiscal stimulus set to help the markets, consumers will need to adopt changes[, and] the real estate and capital markets will return to an acceptable rhythmof business. ”He warns, however, that “the new business environment will be completely different in the next few months, as the recovery cycle will be affected by demand and the postponement of investments in different projects.” Alves concludes, “Although the players in this market are cautious, they are searching for new opportunities that will reach countries next year when things are expected to recover. And they will need to be prepared to make adjustments to the development of their assets in accordance with a long-term strategy for the future, since transitional changes are taking place with all real estate assets. Of course, most such changes have been caused by this pandemic. The resilient will prevail.”

44 Opinião Opinion

Aniceto Viegas Os desafios do teletrabalho The challenges of telework

Aniceto Viegas

Director-geral da AVENUE General Manager, AVENUE O teletrabalho não é um conceito novo, utilizado ainda por poucas empresas, tinha uma conotação menos positiva no mercado de trabalho. O confinamento levou a que o teletrabalho fosse implementado em tempo recorde pela quase generalidade das empresas e surpreendentemente todo o processo foi desenvolvido de forma natural. Vale a pena realçar a capacidade de adaptação do ser humano. Num curto espaço de tempo, o sector privado e o sector público foram obrigados a acelerar a migração tecnológica dos postos de trabalho, para que pudéssemos trabalhar a partir de qualquer local. E subitamente, esta “nova forma” de trabalho passou a ter uma conotação positiva. Um inquérito recente da consultora JLL indica que, até ao confinamento, 66% dos colaboradores não trabalhavam remotamente e que 95% pretendiam agora trabalhar, pelo menos, um dia por semana a partir de casa. 52% consideram que o facto de não terem de se deslocar, aumentou a sua produtividade. Existem, no entanto, novos desafios no teletrabalho. O conceito de um escritório comum, onde os colaboradores se juntam para trabalhar, tem uma razão de ser. O escritório é mais que um local, é um vector de comunicação que proporciona um contacto mais fluído, directo e eficiente. O escritório é também um espaço que cria uma dinâmica de grupo, de comunicação dos valores e da cultura da empresa. As chefias intermédias tiram menos proveito do teletrabalho, já que a distância dos seus colaboradores torna a comunicação menos eficiente. Por outro lado, não podemos esquecer que os utilizadores dos escritórios são ainda um agente económico importante que dinamiza o comércio em geral e não apenas a restauração. A reflexão sobre o teletrabalho apenas começou agora, foi testada num momento de emergência com bons resultados, mas necessita de ser aprofundada e calibrada no médio e longo prazo. Telecommuting is not a new concept, but it is still used by few companies and has (or at least used to have) a less-than-positive connotation associated with it in the labour market. Self-isolation has led almost all companies to implement telework in record time, and, surprisingly, the whole process has taken place rather naturally. We would be remiss if we did not underscore humans’ ability to adapt.In a very short period of time, both the private and public sectors were forced to transition their traditional, in-person jobs to online ones so that we could work from anywhere.And, thus, this “new way” of working suddenly began to carry a positive connotation. A report recently released by consultancy JLL shows that, before self-isolation and social distancing, 66% of workers did not work remotely at all; today, 95% of workers intend to work from home at least one day a week. 52% believe the lack of a commute has helped them increase their productivity. There are, however, new challenges that have arisen with telework. There is a reason why the idea of having a common office space where employees come together to workexists. The office is more than just a place; it facilitates fluid communication and puts employees in direct and efficient contact with each other. Offices also relay a company’s values and culture and even promote group cohesion and dynamics. Middle management gets less out of telework, since being distanced from their employees makes communication less efficient. We must not forget that office users are still an important driver for the economy, stimulating trade in general and not just restoration. We have only just begun our relationship with telework. It was tested during a worldwide emergency and yielded good results, but it needs to be worked on and calibrated for the medium- and long-term.

Square Meter Metro Quadrado 46 Opinião Opinion

José Araújo Novos ventos, renovação e mudança Winds of renewal, winds of change

José Araújo

Director da Direcção de Crédito Especializado e Imobiliário Millennium bcp Director, Real Estate and Specialised Credit Division Millennium bcp Já escrevia Érico Veríssimo, escritor do século passado, que “Quando os ventos de mudança sopram, umas pessoas levantam barreiras, outras constroem moinhos de vento”. Pois bem, com a crise sanitária a passar quem vamos querer ser? Aqueles que levantam barreiras e obstruem o caminho, choram todos os dias o seu destino ou os que constroem moinhos de vento e renovam formas de agir, criando novas oportunidades? Agora é preciso, sem dúvida partir para uma dinâmica forte da nossa economia, não esquecendo nunca o social que ainda está a sofrer e em uníssono conseguir uma mudança positiva, na continuidade do período pré-crise, para todos. No domínio do imobiliário, recentes tendências do mercado vão crescer. Projectos como o co-working e co-living vão sair reforçados pela experiência do teletrabalho e por ajudarem, a menores custos, as empresas com grandes escritórios no centro das cidades. As novas tecnologias, mais eficientes e sustentáveis vão dominar neste novo futuro, suportando alguns dos formatos de habitação, e o arrendamento adequado às necessidades dos portugueses será sector também a ter em conta nos novos projectos de investimento de promotores. Neste contexto, podemos enumerar terrenos, com localizações distintas das que até então foram mais procuradas, fora dos centros urbanos, como pano de fundo a projectos mistos, no imediato. Não há tempo a perder! O sistema de teletrabalho, que ganhou forma substancial, poderá manter-se, não na forma total actual, mas adaptado à estratégia de cada instituição, e daí aumentar a preferência por habitação em locais menos centrais, face às cidades e às sedes das empresas. Se trabalho em casa e só vou ao escritório uma ou duas vezes por semana, os respectivos arredores serão oportunidades para a construção de habitação necessária, mais acessível em preço quer para o construtor, quer para o utilizador. No segmento dos espaços comerciais, as lojas de rua virão como segmentos a explorar, uma vez que terá de existir oferta para quem opta por evitar as grandes cidades ou as grandes superfícies comerciais, numa valorização e procura pelo comércio local. Na perspectiva de produto, as oportunidades existirão e as mesmas só poderão ser viáveis existindo estratégias cautelosas e focadas nas reais necessidades do mercado, quer nacional, quer estrangeiro. Como sabemos, uma boa parte do mercado imobiliário português foi construído nestes últimos anos também com compradores e investidores estrangeiros, em grande medida suportados por programas de incentivos fiscais. Apesar dos negócios, antes de uma fase de recuperação económica se retraírem mundialmente, com impacto ao nível do investimento, Portugal, felizmente não perderá as suas características e atributos mais naturais que o têm diferenciado, quer para benefício do turismo, quer para benefício do imobiliário. Como tal, acreditar que o investimento continuará a ser feito, mas com uma finalidade mais apurada, terá que ser o espírito de todos os que operam no mercado e querem prosperar como um todo. Há que trabalhar em conjunto, para tal com ânimo e ambiente positivo. Diz-nos a história que em momentos de crise e pós-crise há sempre oportunidades e há sempre quem as procura, e o investimento imobiliário sempre foi, em Portugal e no mundo, uma opção válida e com retorno. Temos de acreditar e trabalhar para tal.

Vamos, pois, virar a última página deste momento desafiante e começar rapidamente uma nova etapa, mais robustos e focados no essencial de cada negócio, viável a todas as partes. E num mercado mais tranquilo voltaremos a estar lá em cima da montanha, do desce e sobe do nosso sector.

Érico Veríssimo, a writer from the 20ᵗʰ century, wrote that, “when the winds of change blow, some people put barriers while others build windmills.” Indeed, with the current health crisis going on, who do we want to be? Do we want to be people who put up fences, block the path forward, and cry every day about their fate? Or do we want to be people who build windmills, adapt how we live our lives, and create new opportunities? Today, we must move to strengthen our economy, never forgetting that the world is suffering, and fight in unison for positive change for all in continuation of the pre-crisis period. In the realm of real estate, recent market trends will continue. Telework and telecommuting will reinforce the importance of such projects as co-working and co-living because they help support companies with large offices in city centres at lower costs. New, more efficient, sustainable technologies are going to dominate this new future, especially in the housing sector; housing leases adapted to the needs of the Portuguese will also be an area of interest for developers during future investment projects. In this context, we ought to be surveying plots of land, especially those with locations that are different from those that used to be the most sought after, in the immediate surroundings of urban centres, as a backdrop to mixed projects. There’s no time to lose! The telework system that has garnered such popularity recently could be here to stay, not necessarily to the extent it’s currently in but certainly adapted to each institution’s strategy. This could lead to more people preferring homes that are not necessarily as central – relative to both cities themselves and head offices – as they once were. If I work from home and only go to the office once or twice a week, the respective surrounding areas will become attractive, presenting opportunities for housing developments to be built at prices that are more affordable to both the construction company and the user. For commercial spaces, street-side stores will be an interesting segment to explore, as the market moves to satisfy the demand originating from those who will move outside Portugal’s larger cities or prefer to avoid larger shopping. This will cause the value of and demand for local commerce to go up. From a product-focused perspective, opportunities will crop up, but they may only be viable if cautious strategies focused on the real needs of the market, whether domestic or foreign, are in place. As we know, a good portion of Portugal’s real estate market has also been built in recent years with reliance on foreign buyers and investors who have largely been supported by tax incentive programmes. Despite the fact that business is contracting worldwide with impacts at the investment level before a phase of economic recovery, Portugal, fortunately, will not lose its natural characteristics and attributes that have made it stand out from the crowd in the worlds of both tourism and real estate. As such, believing that investments will continue to be made – but with objectives that are more refined –will have to be the guiding principle for all those who operate in the market and want to prosper as a whole. We will have to work together with a positive attitude and environment. History tells us that there are always opportunities in moments of crisis and post-crisis and that there are also always those who seek them out. In Portugal and throughout the world, investment in real estate has always been a valid option that yields returns. We have to believe this and work to this end. Let us, then, turn the last page in this challenging chapter and rapidly begin a new one, ensuring we are stronger and more focused than ever on the essentials of each deal and the viability for all parties. And, in a quieter market, we will be on top of the mountain once again, riding out the ups and downs in our industry.

North Winds Ventos do Norte 48 Ventos do Norte North Winds

Porto Saber reinventar-se! Learning how to reinvent oneself!

A notoriedade que a cidade alcançou internacionalmente vai permitir que aos poucos a sua actividade regresse ao que foi nos últimos anos. The notoriety this city has achieved around the globe will allow it to be abuzz with activity once again little by little over the next few years.

A última década e, especialmente, os últimos dois anos foram de grande crescimento no imobiliário no Porto, que se alastrou aos concelhos vizinhos. A começar pela hotelaria e alojamento local, sobretudo no centro da cidade, pelo aumento significativo de edifícios novos destinados a escritórios, e também, aos mais de uma dúzia de empreendimentos, mas de grande dimensão, destinados a residências universitárias. Também os projectos de habitação começaram a aparecer em grande força, alguns deles a pensar já num segmento médio de clientes. A notoriedade que o Porto conseguiu nos mercados internacionais permitiu que parte significativa dos investimentos feitos, ou em execução, seja assegurado por capitais estrangeiros, franceses, espanhóis, israelitas, brasileiros, destacando apenas alguns dos maiores grupos ou fundos. Por isso, - e várias outras razões! -, as pessoas acreditam que o Porto vai regressar, aos poucos, ao que foi nos últimos anos, embora reconheçam que é necessário que entidades públicas e privados também dêem o seu contributo para contrariar a quebra na actividade imobiliária, provocada pelo período de pandemia. “Estamos na altura de alguma reinvenção, mantendo sempre a matriz que trouxe ao Porto o sucesso, com vários prémios de Melhor Destino”, destaca Daniel Oliveira, gestor de Projectos Imobiliários, do Grupo Nelson Quintas. “Acredito que os pontos atractivos da região não foram significativamente alterados e como tal o interesse e apetite do típico perfil de investidor será retomado a curto prazo”, frisa o gestor. José Carvalho, CEO do grupo Omega - que actua na área de projectos de engenharia, fiscalização e gestão de empreendimentos -, está optimista. “O sector residencial continua a ser uma aposta segura, desde que o financiamento esteja assegurado”, diz. Quanto “ao sector dos serviços, poderá sofrer adaptações de conceito, face ao previsível aumento do teletrabalho e o sector do turismo regressará, mas calmamente”, destaca.

Empresários não baixam os braços

Luís Castro Fernandes, arquitecto, destaca o facto de durante os meses de pandemia “as solicitações em relação aos projectos” não terem parado. Sobretudo, no caso dos projectos de remodelação e construção de moradias, mas também nos projectos destinados ao alojamento local. Mesmo, no caso de remodelação de unidades industriais - segmento onde a retoma a actividade se perspectiva mais demorada -, há empresários que se recusam a parar, afirma Castro Fernandes. Daniel Oliveira - que lidera o conjunto de investimentos do grupo Nelson Quintas, na área residencial, hoteleira e de escritórios em fase de desenvolvimento na cidade do Porto e concelhos vizinhos -, acrescenta, que “os

novos residentes que procuram habitação já começam a ter alternativas, pois vários empreendimentos estão em fase de conclusão, já que a maior parte das obras não parou durante o período do Estado de Emergência”. José Carvalho confirma que a actividade do grupo em matéria de serviços, manteve-se a bom nível, quase sempre em teletrabalho. Contudo, “as frentes de trabalho em obra não abrandaram, tendo-se registado uma natural quebra na área comercial”.

O papel dos municípios e entidades públicas

A opinião que prevalece é que as iniciativas levadas a cabo pela autarquia portuense vão no bom sentido e são já vários os exem

plos que mostram essa situação. A começar pela “reconversão de alojamento local para arrendamento de média duração (situação perfeitamente reversível em um a dois anos), o que irá também ajudar no imediato a resolver o problema da disponibilidade de habitação”, lembra Daniel Oliveira, sobre uma iniciativa em que o Porto avançou de imediato quando foi visível a quebra na procura turística. Luís Castro Fernandes, recorda que esta reconversão não teria tão bons resultados não fosse o facto de nos últimos anos o executivo camarário, liderado por Rui Moreira, não tivesse obrigado que a aprovação do alojamento local estivesse condicionada “às medidas legais de habitação”. Facto que per-

mite adaptar, para habitação, os estabelecimentos já existentes e os projectos em fase de aprovação. “A acção dos municípios é, nesta fase, preponderante, destaca Daniel Oliveira. Acrescentando, também, “a desburocratização de processos e a captação institucional de investidores, quer com campanhas quer com incentivos concretos”. Seria essencial, no entanto, “ir mais longe, integrando também legislação nacional para redução de encargos a quem quer efectivamente investir, no que à carga fiscal e outros impactos directos dizem respeito”, acrescenta o gestor do grupo Nelson Quintas. Para o responsável do grupo Omega, “a alteração profunda dos procedimentos administrativos de licenciamento e afins, o IVA reduzido para 6% e reactivação dos incentivos fiscais para atrair investimento estrangeiro e nacional”, são medidas que considera essenciais nesta fase da retoma.

Over the last decade and the last two years in particular, Porto has seen enormous growth in its real estate market, even extending to neighbouring municipalities. Everything began with the hospitality industry and local lodging (especially in the centre of the city) and later expanded into a significant increase in the number of newly constructed office buildings. More than a dozen other large-scale projects designed to house university students followed, and housing projects – some of which were designed

with the middle class in mind – also started to appear in force. The notoriety that Porto has achieved in international markets has translated into a great deal of foreign capital from such countries as France, Spain, Israel, and Brazil (just to name a few of the places that some of the largest groups and funds are from!) being invested in the city. This and a number of other reasons are why people believe Porto will gradually return to what it was in recent years, although they do recognise that private and public entities will need to make their respective contributions in order to counteract the drop in real estate activity caused by the pandemic. “We’re at a point where we’re seeing things be reinvented while keeping true to the overall mould that brought Porto such success and its various “Best Destination” awards,” says Daniel Oliveira, Manager of Real Estate Projects for the Nelson Quintas Group.“ I believe that the reasons why this region was so attractive have not changed in any significant fashion, so the interest and appetite of your typical investor will come back in the short term,” Oliveira explains. José Carvalho, CEO of the Omega Group which works on engineering and inspection projects and also provides project management services, is optimistic. “The residential sector continues to be a safe bet, since the financing is secured,” he says. With regard to the “service industry, it may undergo some conceptual adaptations given the predictable rise in telework. The tourism sector will also bounce back, but this will happen slowly,” Carvalho explains.

Business as usual?

Architect Luís Castro Fernandes highlights the fact that, over the months that the pandemic has been running its course, “project-related requests” have not stopped, especially for home remodelling and home construction projects as well as for local lodging projects. Fernandes also says that there are even businesspeople interested in remodelling industrial facilities who refuse to stop – despite the fact that this is a sector whose activity is expected to take longer to resume. Oliveira, who leads the Nelson Quintas Group’s residential, hospitality, and office investments in Porto and the surrounding areas, adds that “new residents who are looking for housing are already beginning to have alternatives, as a number of projects are reaching their respective conclusions thanks to the fact that most construction work continued on during the State of Emergency.” Carvalho confirms that the Omega Group has remained relatively busy with its services-related activities, which are now almost exclusively conducted via telecommuting. “Work at the construction sites has not slowed down, although there has been a natural slump in the commercial segment.”

The role of local governments and public agencies

The prevailing opinion is that the initiatives that Porto’s local government has being working on are headed in the right direction, and there are now a good number of examples of this. One such example is the “reconversion of local lodging into places that can be rented out in the medium term, which can then be easily reversed in one to two years. This will also help remedy the housing availability issue almost immediately,” Oliveira explains when talking about an initiative Porto took up immediately when it was clear that there was going to be a slump in demand from tourists. Fernandes says that these reconversion projects would not be as successful as they have been if, in the last few years, the city council’s executive leadership, led by Rui Moreira, had not made the approval of local lodging contingent upon their following of “legal housing measures.”This requirement allows existing establishments and projects in the process of being approved to be converted into housing. “The local governments’ actions in this regard have been absolutely pivotal here,” Oliveira says. He also adds that “de-bureaucratising procedures and institutional interest in attracting investors whether that be through advertising campaigns or concrete incentives” have also been important. Nelson Quintas Group’s Oliveira also argues, however, that it will be essential “to go even further, crafting national legislation that reduces tax-related and other burdens imposed on those who want to invest effectively.” For Omega’s Carvalho, “profound changes to permit-related and other administrative procedures, reducing the VAT to 6%, and reactivating fiscal incentives that will attract domestic and international investment” are measures he believes are essential at this stage of the recovery.

Em que ficamos?

Where we are now

Bola p’ra a frente Moving the ball forward

A Associação da Hotelaria de Portugal mostrou-se muito satisfeita com o anúncio, pela UEFA, da realização da “Final 8” da Liga dos Campeões na capital portuguesa. Será bom para o turismo. Também a ministra da Saúde, Marta Temido, afirmou: “Não há motivos” para que a realização da fase final da prova “possa sofrer alterações” devido ao surto de Covid-19 na Área Metropolitana de Lisboa (AML). O que é certo é que na AML, Julho vai ser passado em confinamento e Agosto logo se verá. Aliás, já há países, como o Reino Unido, que estão a ponderar excluir Portugal da lista dos destinos seguros. Uma questão impõe-se: Será prudente?

The Hospitality Association of Portugal expressed its deep satisfaction with the Union of European Football Associations (UEFA)’s announcment that the “Final 8” of the Champions League will be held in the Portuguese capital. It will be good for tourism. Health Minister Marta Temido states that “there are no reasons” why the final phase of the competition should have to “undergo [any] changes” due to the COVID-19 outbreak in the Metropolitan Area of Lisbon (AML). What is certain is that, in the AML, July will be spent in lockdown, while what happens in August remains to be seen. In fact, some countries such as the United Kingdom are thinking about excluding Portugal from their lists of safe destinations. One question, though: will it be prudent?

Lá fora Reino Unido Abroad United Kingdom

Roberto Varandas A influência do design The influence of design

Roberto Varandas

COS Capital Managing Director – Head of Europe O tema da presente edição é focado no design de interiores. Tenho que admitir que quando a nossa encantadora directora me informou do tema, pensei para mim – “O que é que eu percebo de design e decoração de interiores?”. Muito embora me tenha oferecido a liberdade de escolher outro tema, decidi aceitar o desafio e estudar um pouco deste cada vez mais importante aspecto do imobiliário. A minha preferência pessoal está na função de design. Vale a pena, em primeiro lugar, distinguir os conceitos de design de interiores com a decoração de interiores. Muitos associam o design de interiores com aquelas personagens extravagantes dos filmes com gostos muito particulares sobre tecidos, papel de parede e almofadas. Os decoradores obviamente lidam com a decoração propriamente dita – mobiliário, cores, pinturas, bric-a-brac – e tentam coordenar as cores, os padrões e as tonalidades, de uma forma mais ou menos consistente, de modo a tornar um espaço atractivo para os seus clientes e, a maior partes das vezes, atractivo para os seus convidados. Os decoradores de interiores mais terra-a-terra trabalham a decoração de escritórios e espaços de retalho. O design de interiores está uma fase a montante da decoração de interiores, muitas vezes condicionando a própria arquitectura. O design de interiores trabalha os materiais, os layouts, a luz, a ventilação e está condicionada com a estrutura, a ergonomia e regulamentos. O design de interiores tem influência no modo como trabalhamos, como compramos e como vivemos, e representa hoje, uma indústria de USD 120 mil milhões. O que mudou no mundo do design de interiores é a vasta quantidade de materiais e técnicas de construção disponíveis aos designers em todo o mundo. Muita desta escolha se deve à procura de soluções mais económicas, mas preocupações ambientais e a simples troca de ideias e métodos – em suma a globalização, permitiu aos designers de interiores inspirarem-se numa fonte comum de ideias, tanto as tradicionais como inovadoras. A presente situação coloca uma interessante alteração para os designers de interiores na medida que o distanciamento social é tido em conta no design de escritórios e lojas e o trabalho a partir de casa se torna trivial. Já podemos observar nas lojas a obrigação dos clientes circular em determinada direcção e esperar com a devida distância nas caixas mas será que vamos ver semelhantes medidas para separar grupos nos edifícios de escritórios e até residenciais? Daqui a 50 anos prevejo os arquitectos do futuro a questiona o porquê de certos espaços terem sido criados ou configurado de modo a permitir o distanciamento social em 2020. Talvez termos como “o canto do Covid”, “o corredor do coronavírus” ou “a sala do Zoom” sejam marcos do design no presente período. Ou talvez não. Há, no entanto, duas tendências em dois diferentes sectores que penso que irão se manter e até acelerar a sua tendência, devido às questões de saúde pública que enfrentamos: • Os escritórios tornar-se-ão mais fluidos; os escritórios em casa serão cada mais uma necessidade, especialmente em zonas com predominantemente trabalhadores do conhecimento, e os espaços de co-working serão ainda mais flexíveis de modo a acomodar a maior mobilidade dos seus utilizadores. • O retalho, incluindo a restauração, e a logística de proximidade, levados pela preferência dos consumidores pelo comércio electrónico e as entregas em casa, levarão a uma amálgama destes vários tipos de imóveis à medida que a procura e o preço relativo destes espaços se cruzam. Já vemos o fenómeno das “cozinhas escuras” – dark kitchens e a utilização de espaço, mal-amado diga-se, de retalho, utilizado para a logística, como pude referir em artigos anteriores nesta mesma publicação. Os designers terão que ter em contas estas novas realidades do trabalho e da utilização do es-

paço, no entanto lembro as palavras do grande Sir Roger Scruton: “Se considerarmos apenas a utilidade, as coisas que construímos brevemente tornar-se-ão inúteis... ninguém as quererá utilizar”.

The current issue is focused on interior design. I have to say that when our charming director informed me of the topic, I thought to myself – “What do I know about interior design and decoration?”. And while she kindly offered me an opt-out, I decided to rise to the challenge and familiarise myself with some of the finer details of this ever more important undertaking in the real estate world. My personal preference lies with the design function. I think first it is important to distinguish between interior design and interior decoration. Most people associate interior design with the flamboyant characters in the movies that have very particular tastes when it comes fabrics, wallpaper and throw pillows. Interior decorators obviously deal with the decoration – the choice of furniture, wall colours, paintings, bric-a-brac, and try to match patterns, textures and tones in a more or less cohesive fashion that will be appealing to their clients and, most times, more importantly, their guests. Obviously, more down-to-earth interior designers deal with office and retail fit-outs. Interior design is one stage before interior decoration, many times even influencing or conditioning the architecture of a building. Interior design deals with materials, layouts, light, airflow, and are conditioned by structure, ergonomics and building codes. Interior design influences how we work, live and shop and has grown to be a USD 120 bln. business globally. What has truly changed in the world of interior design is the sheer quantity of materials and construction techniques available to designers everywhere. Cost driven innovation is one of the vectors of this ample choice but environmental constraints and the exchange of ideas, methods - globalisation in sum, has allowed designers to draw on a pool of global ideas, both traditional and new. The present situation poses an interesting paradigm shift for designers everywhere as requirements for social distancing are incorporated in the design of offices, retail and home offices become the norm. We can already see how shops are forced to direct the circulation of their customers and allow for distancing when waiting at the tills but will we see similar measures taken to separate groups in offices or even in residential buildings? In 50 years, we might very well see architects questioning why certain spaces were created or configured to accommodate social distancing back in 2020. Maybe terms like the “Covid corner”, “Zoom room” or the “coronavirus corridor” will mark design of our present period. Or probably not. There are however a couple of trends in two different sectors that will continue and even accelerate due to the public health issues we are facing with the Covid crisis: • Office spaces will become more fluid – home offices will become the norm in white collar neighbourhoods and co-working will grow ever more flexible to accommodate the more mobile workers. • Retail, including hospitality, and last-mile logistics, driven by consumers’ preference for ecommerce, will morph into multi-function properties, as desirability and pricing for either type of property cross paths. We already see the dark kitchen phenomenon and retail space being taken over for use for logistics use, as mentioned in previous articles. Designers will need to incorporate these new work realities and uses of physical spaces but I would recall the words of Sir Roger Scruton: “If you consider only utility, the things you build will soon be useless... nobody wants to be in it.”

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