casa, aos 19 anos, com um colega de liceu, Alberto
divórcio. Passa a viver em Matosinhos, na casa dos
Florbela Espanca é, sem dúvida, uma das
Moutinho, contra a vontade do pai e do irmão, e vai
pais de Mário Lage.
primeiras vozes na Literatura Portuguesa a exprimir
viver para o Redondo, onde o jovem casal passa a
Em 1927, começa a compor os poemas que
com originalidade e sinceridade poética a alma e a
dar explicações para viver. Publica os seus primeiros
darão origem a Charneca em Flor e a trabalhar num
essência
influências
poemas na Imprensa Portuguesa em 1914. Em 1916,
livro de contos.
simbolista e parnasiana, com recurso ao soneto e ao
inaugura o projecto “Trocando Olhares”, colectânea
Nesse ano dá-se o acontecimento mais
decassílabo, as temáticas da sua poesia reflectem,
de 88 poemas e três contos cujos poemas, mais
trágico na vida de Florbela - a morte do irmão
essencialmente, uma busca e uma insaciabilidade,
tarde, darão origem a duas antologias poéticas, Livro
Apeles, num acidente de aviação - do qual nunca
centradas na idealização transbordante e erotizada
de Mágoas e Livro de Soror Saudade.
recuperará. A sua doença agrava-se bastante e,
Biografia
do
feminino.
Apesar
das
do Eu e do Amor, marcadamente românticas. O
Em 1917, ingressa na faculdade de Direito
segundo Rui Guedes, biógrafo e estudioso da sua
sofrimento, a solidão e o desencanto, aliados a uma
da Universidade de Lisboa, onde é das únicas
obra, “nunca mais conseguiu dormir tranquila, nunca
imensa ternura e a um desejo de felicidade e
mulheres inscritas.
mais se riu, nunca mais deixou o luto.” A escritora
Em Junho de 1919, sai o Livro de Mágoas,
plenitude infinitos, corporizados numa linguagem veemente e confessional, tornam os seus textos
que
únicos e capazes de se apoderarem do leitor.
desconhecimento da autora no mundo literário.
A sua vida foi dominada pelo incomum, pelo
esgota
rapidamente,
apesar
do
quase
O marido vive no Algarve e, Florbela
refugia-se a trabalhar afincadamente no livro As Máscaras do Destino que dedica ao irmão. Mas a sua vida afectiva e profissional tornam-se cada vez mais instáveis.
inesperado e pelo dramático. Nasceu em Vila Viçosa,
apaixona-se
António
Em 1930, começa a escrever Diário do
a 8 de Dezembro de 1894, fruto de uma relação
Guimarães, com quem passa a viver, causando
Último Ano. Passa a colaborar nas revistas Portugal
extraconjugal que o pai, João Maria Espanca,
enorme escândalo entre os parentes. Após o divórcio
Feminino e Civilização e trava conhecimento com o
arranjara com Antónia Conceição Lobo, visto não
com Alberto Moutinho, casa, em 1921, com António
professor italiano Guido Batelli, na ocasião visitante
conseguir ter filhos do seu casamento com Mariana
Guimarães com quem, segundo consta, não é feliz.
na Universidade de Coimbra, que se oferece para
Toscano. Como tal, é registada filha de “pai
O pai e o irmão cortam relações com ela. Começa a
editar as suas últimas publicações.
incógnito”, tal como o irmão, Apeles, que nasce 3
trabalhar num novo projecto que, a princípio se
Após uma primeira tentativa falhada de
anos depois, apesar de ambos terem sido adoptados
chamaria Livro do Nosso Amor ou Claustro de
suicídio e de lhe ter sido diagnosticado um edema
e educados pelo casal. Este estigma social e
Quimeras.
pulmonar, revê, em Matosinhos, o livro Charneca em
por
um
jovem
militar,
instabilidade
Flor e confia os originais a Batelli. No dia 2 de
após a morte da poetisa, altura em que o pai a
emocional e neuróticos, após o segundo aborto
Dezembro de 1930, encerra o seu Diário do Último
perfilha, aquando da inauguração do seu busto, em
espontâneo. Em Janeiro de 1923, publica o Livro de
Ano com a seguinte frase «…e não haver gestos
Évora.
Soror Saudade. Entretanto, volta a apaixonar-se,
novos nem palavras novas.»
ignominioso, para Florbela, só será alterado 19 anos
Acentuam-se
problemas
de
Após ter sido uma das primeiras mulheres a
desta vez, por um médico militar, Mário Lage, com
concluir o curso geral do liceu, em Évora, em 1912,
quem acaba por casar, em 1925, após um segundo
[F 15 – Fevereiro de 2010]
Às duas horas do dia 8 de Dezembro de 1930 – no dia e hora do seu 36º aniversário – suicida-se, ingerindo dois frascos de Veronal. Algumas décadas depois, os seus restos são transportados para Vila Viçosa. Em 1934, Diogo de Macedo termina e envia para Évora o busto de Florbela que, durante anos, ficará encaixotado e fechado numa arrecadação da Câmara. Só 19 anos depois, após o seu reconhecimento como filha legítima de João Espanca, o busto será inaugurado.
Bibliografia Aos dezasseis anos Livro de Mágoas, 1ª edição,1919 Livro de Soror Saudade, 1ª edição, 1923 Charneca em Flor: Sonetos de Florbela Espanca (edição póstuma), 1ª edição, 1931 Juvenília: versos inéditos de Florbela Espanca, 1ª edição, 1931 Cartas de Florbela Espanca a Dona Júlia Alves e a Guido Battelli, 1ª edição, 1931 As Máscaras do Destino, contos, 1ª edição, 1931 Cartas de Florbela Espanca (e evocação lírica de Florbela Espanca por Azinhal Abelho e José Emídio Amaro), 1ª edição, Lisboa, Edição dos Autores, s.d.
Aos trinta e seis anos Bibliografia consultada:
Diário do Último Ano (seguido de um poema sem título), 1ª edição (edição fac-similada), Amadora, Bertrand Editora, 1981
http://www.institutocamoes.pt/cvc/projtelecolab/tintalu sa/numerodois/tl3.html
O Dominó Preto, contos, 1ª edição, 1982
http://www.mulheresps20.ipp.pt/FlorbEspanca.htm#Biografia
“Eu não sou de ninguém!...Quem me quiser Há-de ser Luz do Sol em tardes quentes(…) Há-de ser Outro e Outro num momento! Força viva, brutal, em movimento, Astro arrastando catadupas de astros!»