pré-edição
fa c - s i m i l a r
São José dos Campos
2012
Sumá r i o Vida longa para Dexistência 7 Um novo Cassiano para ler 13 Fac-símiles 17 a 116 P ri m e i r a P a r te Dedicatória 121 Existir e Dexistir 123 E s ca d a d e P e d r a A primeira pedra 127 A segunda pedra 128 A terceira pedra 128 A quarta pedra 129 Canto sem agapanto 130 Poema caótico 131 Relógio de pulso 132 Diálogo com a rosa 133 Menino antigo 134 Previsão de um amigo incerto 135 A escada de pedra 136 S e g u n d a P a r te Insônia bifronte 140 Rosa dos ventos 142 São Francisco, meu irmão 143 O noitibó e o xilofone 144 Ceia de Cristo 145 t e rce i r a P a r te Pa r a N ã o P e r d e r o Há b i t o Rosa flamínia 150 Minha paisagem de hoje 151 Gorjeio tático 152 Estrige e a esfinge 153
qu a rta Pa rte Lao s De o Poema grotesco 161 Que estrela me salvará? 162 Pé do canto 163 Algo & Algodão 164 Sol que caiu no mar 166 Um simples nome 167
Friso grego 154
Biografia
Soneto para Lourdes 155
Bibliografia
169 170
Vi d a lon ga pa r a D e x ist ên c ia
A
p e q u e n a p a s t a de couro trabalhado provavelmente guardou os originais de Dexistência, de Cassiano Ricardo (1895-1974), por quase
40 anos. Com certeza os protegeu do tempo. Cassiano começou a organizar a série de poemas em 1973, nos sofridos meses que antecederam sua morte, em janeiro de 1974. Os textos foram datilografados e posteriormente emendados com sua conhecida letra miúda e arabesca. Não faltou nem mesmo trabalho de improvisado paste-up, com páginas rasgadas e coladas para dar corpo a uma ordem – o poeta aí inteiro, revivido na sua rotina de engenhos e lirismos além da literatura. É essa coleção de poemas que aqui se apresenta, com ineditismo, em edição fac-similar e também em versão para acompanhamento do leitor, esta última preparada e revisada segundo o Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa – projeto coordenado pela Fundação Cultural Cassiano Ricardo. A revisão técnica e de “proteção”, inerente aos processos editoriais, é prudente ressaltar, não faz do texto aqui reproduzido a sua versão definitiva. A Fundação tem como uma de suas missões justamente resgatar, divulgar e ampliar o acesso à herança cultural deixada pelo poeta. A publicação de Dexistência, portanto, está mais do que consoante ao propósito, como matéria-prima de pesquisa literária. Caberá a estudiosos e acadêmicos avaliar futuramente, em abordagem crítica e desapaixonada, a importância desses últimos poemas na vasta bibliografia do escritor. É quando também eventuais anacronismos da presente revisão poderão ser ajustados. A solidez da obra de Cassiano Ricardo é sustentada por uma fortuna crítica de vários matizes; poeta colocado de maneira unânime na “pri-
7
Um n ov o C a s s i a n o p a r a l er Ruy Castro
Q
u a n d o j á n os a c os t u m á r a mo s à ideia de que tínhamos lido tudo o que havia para ler da poesia de Cassiano Ricardo, eis que, décadas
depois da morte do poeta, São José dos Campos nos oferece uma bela surpresa. Não satisfeita de ser o seu berço natal, promove agora sua breve, mas inestimável ressurreição: as 176 páginas de um livro, Dexistência [o título pode ser mais Cassiano Ricardo?], deixado inédito por ele e que repousou por tantos anos no arquivo da cidade. Foi o último livro de Cassiano, e que pena que, a exemplo deste, ele não tenha deixado outros “últimos livros” – porque, se o homem declinou com a idade, o poeta nunca perdeu o pulso [aquele em cujas veias circulavam rosas, disse ele em Dexistência]. “Vês a pedra, não/ vês a carga de/ afeto/ que se gastou/ no edifício/ pedra por pedra” – é incrível como, na primeira estrofe do primeiro poema, já se sente a força do autor. Mas Cassiano sempre foi assim, não? Ao longo de sua obra, quantas vezes não nos obrigou a interromper a leitura de um poema para nos concentrarmos em um verso, uma palavra, uma sílaba, e nos perguntarmos admirados: “Como foi que ele chegou a isso?”. Mesmo neste livro, em que, às vezes, ele parece se despedir [da vida, não da poesia], a força dos versos é granítica. “Tudo é distância, quadro na parede/ Sou arco sem flecha em fechada porta”. Ou: “Para alcançar/ a graça que não/ tive: a de/xistência// roseira que nasce/ ao fim da nossa/ existência”. Sim, será permitido morrer, ele insinua – afrouxar, jamais. A carreira de Cassiano sempre foi um saltar de obstáculos – e obstáculos postos na pista por ele próprio. Ao dominar uma forma e se consagrar com ela, sua primeira providência era superá-la e partir para outra. Foi assim em 1924, quando abandonou a métrica de relógio, as rimas mágicas e as imagens etéreas [“E vindo não sei de onde, e caminhando a esmo/ sob
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a minha visão extática e profunda/ lá vou eu conduzindo o enterro de mim mesmo”], e mudou-se para um novo território cromático, que ele azulejou sozinho [“Maracanãs, tiribas, periquitos/ que eram asas aos gritos”]. A partir de 1940, vieram a maturidade e a síntese, sem perda do humor [“Uma formiga/ em forma de g/ sai de oculto alfabeto/ e passeia, explícita/ no chão dourado”]. Passaram-se décadas e, até por seus quase 60 anos, pensou-se que a poesia de Cassiano repousaria num leito confortável. Ninguém adivinhou as piruetas a que ele se entregaria a partir de O arranha-céu de vidro [1954] – “Esta madrugada/ olha o céu, e verás/ o meu disco voador./ [...]/ E perguntarás:/ que discóbulo oculto/ o terá jogado/ com a mão de radar?/ Ou será um girassol/ ou algum sol gira/ de um jogo malabar?”. Esta fase teve também os seus exegetas entusiasmados e, quando se achava que, por não haver mais tempo – já perto dos 70 –, Cassiano não seria mais capaz de surpreender, eis que surge o homem que se alinhou com os concretistas, entendeu-os, ajudou a editá-los, confundiu-se com eles e, depois, rompeu e levou seguidores consigo. É a fase de Jeremias sem chorar [1962], um dos momentos mais altos do poeta, e de seus livros teóricos sobre a poesia moderna. Curioso é que, universal como poeta, Cassiano nunca parece ter se afastado de suas raízes. Sua relação com São José dos Campos poderia ser resumida numa impressão de memória [sua famosa “Serenata sintética”, de 1947 – “Rua torta/ Lua morta/ Tua porta”], passando por uma observação constante [“Meu horizonte/ de abrir e fechar. Móvel/ como um leque”, de 1950], até uma identificação quase profética com a cidade que se tornaria um pólo tecnológico – senão, por que Cassiano seria [desde sempre] o poeta que vivia falando de discos voadores, paraquedas, radares, alto-falantes, sismógrafos, submarinos, bombas atômicas, abrigos antiaéreos e aviões a jato? [Pensando bem, quem mais seria capaz de grande poesia com esses assuntos?] *
*
*
Bom saber que este é o mesmo poeta que reaparece em Dexistência, composto a tão pouco de sua morte física – o mesmo à vontade com as palavras, o mesmo prazer em desmembrá-las com apóstrofos, hífens ou barras [f’agulhas, mas’morra, cruz-amento, demo/lidos, ex/traída], e até o mesmo prazer em voltar ao soneto, por “força do hábito antigo”. Bom saber que, também por força do hábito antigo, temos um novo Cassiano para ler.
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Nunca ninguém amou tanto a paisagem do sítio onde nasceu em Vargem Grande, como eu, até perdê-lo na distância que vai da infância para a despedida.
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DEXISTÊNCIA
A versão de Dexistência a seguir foi preparada e revisada segundo o novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa
P R I M E I R A PA RT E
À Lourdes: Feliz de quem acorda Nas manhãs de frio, E faz do seu burgo uma fonte de lucro que é viver ao ar livre mas como Anacreonte ao lado da mulher que é o seu anjo da guarda, tendo um laurel de flores cercando-lhe a fronte.
EXISTIR E DEXISTIR
(Explicação indispensável)
Este livro, sob o título acima, está dividido em seis partes, cada uma com a sua linha de pensamento próprio. A unidade do pequeno volume transparece como tema para a leitura ou simples sequência cronológica das emoções que o Autor procura observar, do começo ao fim, e que o leitor, a seu próprio critério, observará, ou não. Um ponto que merece, a meu ver, ser especialmente referido e por isso é com ele que encerro este derradeiro esforço, já crepuscular do Poeta, conforme o necessário critério cronológico dos poemas, na sequência que o leitor seguirá ou não, se me der a honra da sua leitura, por certo atenta à problemática da poesia de hoje. Em tempo: uma parte do livro é constituída de sonetos, força do hábito antigo. 1974
123
A PRIMEIRA PEDRA
(p. 27)
I
II
Vês a pedra, não
O nascimento
vês a carga de
das lajes, uma a uma,
afeto
o lento
que se gastou no edifício
desfalecimento
pedra por pedra.
do tronco ainda verde. Algo de secreto
Ossos, detritos,
no que é só cimento:
cascas sangrando folhas secas, f ’agulhas,
O edifício –
lascas de estrelas
girândola –
repentinas.
chovido de pétalas
Agora um furo
da inauguração
que a gota d’água
florida
abriu no corpo
e o esque/cimento,
de concreto
já, dos que moram
mas o musgo tapando
no beco
a boca ao epitáfio.
entre cactos e cacos de vidro.
127
A S E G U N DA P E D R A
(p. 29)
Vês a pedra, não vês o que é uma pedra depois enfurecida no apedrejamento da Embaixada. Ou adormecida (pedra) que ao fim,
tudo
guarda, não fechada, escondida a dor-de-quem sofre preso ao fundo de um cofre, sentindo bater, na consciência, a continu/idade do mundo.
A TERCEIRA PEDRA Ó tu que pensas em viajar pra Lua agarrado às crinas do quinteto de Pégaso, não jogues o primeiro caco que achares na
rua
ao que vive no
beco
dos cactos com cacos de
vidro
sem saberes primeiro se a culpa também não é
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tua.
(p. 31)
SÃO FRANCISCO, MEU IRMÃO
(p. 71)
I
II
Peixe de fundo abissal
Gaivota ágil do oceano
por mais abissal que sejas
que pousada na proa do
no abismo de água e sal
navio conservas em cada asa o balanço de uma
– meu irmão;
onda que sobrevoaste, Pássaro que te escondes
de norte a sul,
num buraco de taipa, em
nunca terás o mes-
muro já corroído pelo tem-
mo ritmo de minha
po demo/lidor
mão, quando escrevo, alegre ou triste, não,
– meu irmão;
mas tens algo da mão
Taperá que voas tão alto
de meu irmão,
sob o céu límpido e azul de algum Olimpo,
poverello
de Cristo,
nunca estarás ao alcance
tua fortuna, minha fortuna está
de minha mão
nisto:
– meu irmão;
sermos irmãos em Cristo. Cassiano Ricardo Junho / 1973
143
CEIA DE CRISTO
(p. 75)
I
III
A alguns a manhã desperta
Existem as manhãs alto-
com o canto dos pássaros.
relevo, flor monadelfa
São os que vivem as auroras
em vários idiomas.
boreais e semeiam a terra
Os homens de mãos grossas
de trigais, muito mais seus
Vão sempre conduzir
porque também de Deus.
em paciente coro o doce fardo dos que só
No começo era só a terra
deslizam
bruta que o arado trabalhou
como cisnes em santuários
e a mão de cinco pétalas
de ouro.
de Maria, sem Marta, ajudou
Suave ideologia a dos que
em comunhão com o homem
põem caviar no leve pão
para obter o pão;
de cada dia.
o pão que traz a paz em torno à mesa, em horas
IV
de gorjeio ou de tristeza.
Quando Quando
A outros a manhã só oferece a omissão obscura dos albergues noturnos
Uma única ceia Uma única mesa Um único pão E um
único
Cristo?
e não con/cede senão o signo do pão. Homens sem olhos de chorar entrando no cárcere sem juiz togado para mais uma negra noite de céu sem teto, carta marcada que aguarda lá fora.
145
Quando
II
T E R C E I R A PA RT E
PRA Nテグ PERDER O Hテ。ITO
ROSA FLAMÍNIA
(p. 83)
Não por orgulho – orgulho de ser só desta mudez de água em que meu ser mitiga a sede que me vem de longe que outra visão humana não quer ter. Mas a que mora em meu próprio sangue como uma flor dentro de um precipício ser só na multidão é o meu ofício tanto que contra mim o sol se zangue. Mas só quando em silêncio me investigo para melhor me conhecer por dentro é que o choro do céu é meu castigo. Pois ninguém acredita que o meu choro convença os anjos de olho azul, em coro, que se riem de mim se no céu entro.
150
M I N H A PA I S AG E M D E H O J E
(p. 85)
I II (A terra onde nasci e onde me viu nascer o bem-te-vi)
Ficou em mim a voz do berço, terna, que vem da madrugada, vida em fora.
Nunca ninguém amou tanto a paisagem
É esta eterna esperança que me leva,
do sítio onde nasceu em Vargem Grande,
onde? É a saudade que me abraça agora.
como eu, até perdê-lo na distância que vai da infância para a despedida.
Vim no mundo sob o signo da montanha que com o céu se confunde na distância
Alguém que só foi grande pelo amor
tendo na testa alva estrela cimeira
de criação, pela mão de seus pais
que atrai um doce corpo de palmeira.
que hoje choram por mim na soledade sem saber da riqueza com que vim
Sonho e ladainha, ela me acompanha. Gorjeiam os leques, pássaro da infância,
trazendo, só pra mim, esta paisagem
bebi magia e me apossei das coisas.
que comprei tão somente pra meu uso, e não o sítio em que nasci, e de onde
Me escapa o sítio onde matei a sede Tudo é distância, quadro na parede,
saí, um dia, e para o mundo vim.
Sou arco sem flecha em fechada porta.
Aí, saudade enquadrada no meu peito até chegar ao fim da caminhada. (cantando no verdor da madrugada lá fora o bem-te-vi diz que me
viu)
151
GORJEIO TÁTICO
(p. 89)
Quando a solidão da noite alva que da poalha me vem até a cabeça me envolve todo numa névoa espessa e me cerca de bichos tagarelas. Como crianças que, na noite alta, circundam o meu ser e o meu não ser; ouço o gorjeio tático de um pássaro que em madrugar a mim próprio se adianta e escuto outro gorjeio que a saudade mal surgida no azul já me segreda junto ao ouvido ab/surdo, às vezes surdo pela tortura de estar preso ao chão. Rosa dos ventos solta no jardim tudo o que sei e o que não sei de mim nada mais é do que um náutilo cego.
152
ESTRIGE E A ESFINGE
(p. 91)
O musgo sobe o muro todo e cobre com sua sombra o espaço onde Deus mora e vai contar às nuvens sem demora o lugar de onde veio e onde se chora. O abandono em que vive a criatura agora verde em seu amor materno que a terra finge doar aos filhos seus em obediência a justa lei de Deus. Mas finge apenas como finge a esfinge ouvindo praguejar em fronde escura ou soluçar entre os anjos a estrige, que retrata do ser a dor ingrata quando desata ao chão, olhar de usura, um rosário de intrigas e cantigas.
153
FRISO GREGO
(p. 93)
Meu ser está na lágrima que vem do mar, e que comigo se mantém em toda solidão do seu vogar sem se perder num estelar concílio. Cintila no crepúsculo sublunar e então desliza antes de ser minha, canto provençal em onda de prata, a divagar sob arcos de triunfo. Não se mistura ao pranto salso e falso da bela ondulação da água-marinha que se estende até onde o sol se esconde. Pura, depois de andar vagando a esmo, sem se perder na posse de quem sou, voltou a ser chorada por mim mesmo.
154
S O N E TO PA R A L O U R D E S
(p. 95)
Quando a beleza cerca minha vida Terno cantar d’amor invade a minha sala geométrico silêncio que resvala no sol de luar que escuta a nossa fala. Todo o meu ser noturno então se inclina a acender ecos que ele próprio esconde e que me vem trazer, e não sei de onde, o sussuro da bíblica neblina. O silêncio respira a pura essência que tece a urdi/dura da existência canto errante no espaço planetário. Estrelítzia de um surdo canto/chão sob a névoa da minha de/xistência tem ela um globo-mundo em cada mão.
155
SOL QUE CAIU NO MAR A vida é o meio de quem vive na praia se enlear no enredo da rede de pescar que o marinheiro usa para caçar badejos e outros peixes no mar. Hoje saí de casa em direção ao sol que é uma brasa enorme cintilando no ar. A brasa de um peixe que caiu do horizonte na água. Em que o dia solar saiu das ondas redondas ou curvas com que os brindou o mar dentro do verbo amar e encerrou o seu ciclo sublunar. Você mesmo nessa viagem cíclica sob o globo lunar foi quem inventou um dia para meu retorno numa hora vicentina de azul cre/ puscular. Por fim solto os pés de algodão pedalando no ar.
166
(p. 113)
B i o g ra f ia
C
assiano
R i c ar d o L e i t e , jornalista, poeta e ensaísta, nasceu em São
José dos Campos, SP, em 26 de julho de 1895, e faleceu no Rio de
Janeiro, RJ, em 14 de janeiro de 1974. Era filho de Francisco Leite Machado e Minervina Ricardo Leite. Fez os primeiros estudos na cidade natal. Aos 16 anos, publicou o primeiro livro de poesias, Dentro da noite. Iniciou o curso de Direito em São Paulo, concluindo-o no Rio de Janeiro, em 1917. De volta a São Paulo, foi um dos líderes do movimento pela Semana de Arte Moderna de 1922, tendo participado ativamente dos grupos “Verde Amarelo” e “Anta”, ao lado de Plínio Salgado, Menotti del Picchia, Raul Bopp, Cândido Mota Filho e outros. No jornalismo, Cassiano Ricardo trabalhou no Correio Paulistano (de 1923 a 1930) como redator e dirigiu A Manhã, do Rio de Janeiro (de 1940 a 1944). Em 1924, fundou a Novíssima, revista literária dedicada à causa dos modernistas e ao intercâmbio cultural pan-americano. Também foi o criador das revistas Planalto (1930) e Invenção (1962). Em 1937 fundou, com Menotti del Picchia e Mota Filho, a “Bandeira”, movimento político que se contrapunha ao Integralismo. Dirigiu, nessa época, o jornal O Anhanguera, que defendia a ideologia da Bandeira, condensada na fórmula: “Por uma democracia social brasileira, contra as ideologias dissolventes e exóticas.” Eleito em 1950 presidente do Clube da Poesia em São Paulo, foi várias vezes reeleito, tendo instituído, em sua gestão, um curso de Poética e iniciado a publicação da coleção “Novíssimos”, destinada a apresentar e divulgar valores representativos daquela fase da poesia brasileira. Entre 1953 e 1954, foi chefe do Escritório Comercial do Brasil em Paris. Poeta de caráter lírico-sentimental em seu primeiro livro, ligado ao Parnasianismo/Simbolismo, em A flauta de Pã (1917) adotou a posição nacionalista do movimento de 1922, revelando-se um modernista ortodoxo até o início da década de 40. As obras Vamos caçar papagaios (1926), Borrões de verde e amarelo (1927) e Martim Cererê (1928) estão entre as mais representativas do
169
Modernismo. Com O sangue das horas (1943), iniciou uma nova e surpreendente fase, passando do imagismo cromático ao lirismo introspectivofilosófico, que se acentua em Um dia depois do outro (1947), obra que a crítica em geral considera o marco divisório da sua carreira literária. Acompanhou de perto as experiências do Concretismo e do Praxismo, movimentos da poesia de vanguarda nas décadas de 50 e 60. A sua obra Jeremias sem-chorar, de 1964, é bem representativa dessa posição de um poeta experimental que veio de bem longe em sua vivência estética e, nesse livro, está em pleno domínio das técnicas gráfico-visuais vanguardistas. Além da obra poética, considerada de importância significativa na literatura brasileira contemporânea, os textos em prosa também são relevantes. Historiador e ensaísta, Cassiano Ricardo publicou em 1940 um livro de grande repercussão, Marcha para Oeste, em que estuda o movimento das entradas e bandeiras. Cassiano Ricardo pertenceu ao Conselho Federal de Cultura, à Academia Paulista de Letras e à Academia Brasileira de Letras, nesta última tendo sido o quarto ocupante da Cadeira 31, eleito em 9 de setembro de 1937. Fonte: site da Academia Brasileira de Letras
B i b li o g r a f ia POESIA Dentro da noite (1915) A flauta de Pã (1917) Jardim das hespérides (1920) A mentirosa de olhos verdes (1924) Vamos caçar papagaios (1926) Borrões de verde e amarelo (1927) Martim Cererê (1928)
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Canções da minha ternura (1930) Deixa estar, jacaré (1931) O sangue das horas (1943) Um dia depois do outro (1947) Poemas murais (1950) A face perdida (1950) O elefante que fugiu do circo (1950) 25 sonetos (1954) O arranha-céu de vidro (1956) - Prêmio Paula Brito, 1956 João Torto e a fábula (1956) Poesias completas (1957) Montanha russa (1960) - Prêmio Carmem Dolores Barbosa, 1960 A difícil manhã (1960) - Prêmio Jabuti, 1960 Jeremias sem-chorar (1964) - Prêmio Jorge Lima, 1965 Poemas escolhidos (1965) Os Sobreviventes (1971)
PROSA O Brasil no original (1936) O negro da bandeira (1938), in Revista do Arquivo Municipal de São Paulo Elogio de Paulo Setúbal - Discurso de Posse na Academia Brasileira de Letras (1938) Pedro Luís visto pelos modernos (1939), in Revista da ABL Pedro Luís, precursor de Castro Alves (1939), in Revista da ABL A Academia e a poesia moderna (1939) Marcha para Oeste (1940) A Academia e a Língua Portuguesa (1941), in Revista da ABL A poesia na técnica do romance (1953) O Tratado de Petrópolis (1954) Gonçalves Dias e o Indianismo (1956), in A Literatura no Brasil O homem cordial (e outros pequenos estudos brasileiros) (1959) Pequeno ensaio de bandeirologia (1959) 22 e a poesia de hoje (1962); Algumas reflexões sobre a poética de vanguarda (1964) O Indianismo de Gonçalves Dias (1964) Poesia Praxis e 22 (1966) Viagem no tempo e no espaço (memórias) (1970)
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R 376d Ricardo, Cassiano, 1895-1974 Dexistência / Cassiano Ricardo. São Paulo: Art Printer Gráficos Ltda, 2012. 176p.; 21cm Editado pela Fundação Cultural Cassiano Ricardo ISBN : 978-85-99001-09-7
1- Poesia brasileira 2- Literatura brasileira – Poesia 3- São José dos Campos - Poetas joseenses I - Título
CDU 82-1 CDD B869.1
Ficha catalográfica elaborada por bibliotecária – CRB 8/002611 Fundação Cultural Cassiano Ricardo Av. Olivo Gomes, 100, Santana, São José dos Campos - SP - 12.211-115 Tel.: (12) 3924-7301 - Correio Eletrônico: presidencia@fccr.org.br
pré-edição
fa c - s i m i l a r
Direto r Pr e s id e n t e Mario Domingos de Moraes
Co o r de na ç ã o E di t o r i a l Sílvia Corcevai
Direto r C u lt u r al Cláudio Mendel
Co ns ul t o r i a E di t o r i a l José Guilherme Rodrigues Ferreira
Direto r d e Pat r im ô n io H is t ó r ico Vitor Chuster
Projeto Gráfico Magno Studio
Direto r A d m in is t r at ivo Marcelo Borges
Ca p a Magno Silveira
Assesso r a d e C o m u n icação Edna Petri
Tr at a m e nt o de i m a g e ns e e di t o r a ç ã o Rafael Souza Re v i s ã o e p r e p a r a ç ã o de t e xt o s Ana Paula Soares
A Fund ação C as s ian o R icar d o express a ag r ad e cim e n t o s à fam ília d o po e t a: Brasil Gomide Ricardo Filho (filho/herdeiro de Brasil Gomide Ricardo) Jaci de Souza Ricardo Pinto Costa (filha/herdeira de Brasil Gomide Ricardo) Paula Leite Ricardo (filha/herdeira de Brasil Gomide Ricardo) Georgia Leite Ricardo (filha/herdeira de Brasil Gomide Ricardo) Iara de Moraes (filha/herdeira de Laura de Podestá) Jurandir Cassiano Ricardo (filho/herdeiro de Laura de Podestá) Jurema Cassiano Ricardo (filha/herdeira de Laura de Podestá) Rubens Ricardo Gianesella (filho/herdeiro de Célia Cecília Ricardo Gianesella) Regina Célia Ricardo Gianesella (filha/herdeira de Célia Cecília Ricardo Gianesella)
Este livro foi composto com a família tipográfica Caecillia, corpo 9 /14 e impresso na Art Print Gráficos Ltda, em papel off-set 120g e papel Pólen 90g. Tiragem de 3.000 exemplares. São José dos Campos, dezembro de 2012.