O Saber e o Fazer no Museu do Folclore II

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Passados todos esses anos percebo que minha tarefa hoje não seria árdua e minha indagação original encontraria resposta inteligente e criativa no Museu Vivo de São José dos Campos. As variadas formas artísticas que expõe, valoriza e promove estão a nos revelar que a cultura popular possui intensa dinâmica, que incorpora os diferentes momentos históricos, ressignifica os distintos saberes, recria novos conhecimentos, conferindo assim contemporaneidade às milenares tradições. Cáscia Frade Professora Adjunta da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)

O saber e o fazer no Museu do Folclore II

Possuía três informações iniciais, fornecidas pelo professor Rossini: Eugênia e Mudinha (ceramistas) e Benedito (jongueiro), todos residentes no Jardim Paulista. Em inúmeras peregrinações pelos bairros, enfrentando olhares desconfiados (qual a razão dessa carioca querer saber dessas coisas?) e muitas frustrações. Já desanimando, alcancei por fim, o fio da meada, na venda do Nico Miranda, em Santana. Nico era um violeiro e sua casa de negócios, situada nos limites urbanos do bairro, nos finais de semana reunia gente do campo e da cidade para conversas, causos, cantoria, roda de viola. Uma festa. As cortinas então se abriram, consegui concluir meu trabalho.

AS CORTINAS ENTÃO SE ABRIRAM

O SABER E O FAZER

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Corria o ano de 1972. Então residente em São José dos Campos, pude frequentar o curso nomeado “Folclore Brasileiro”, oferecido pelo Museu de Artes e Tradições Populares, sediado Sem São Paulo e presidido por Rossini Tavares de Lima. Para a confecção da monografia de conclusão dos estudos e interessada em melhor conhecer a cidade que me acolheu, decidi realizar uma pesquisa sobre tradições vigentes nesse município. A questão mais significativa foi a aferição da veracidade de um dogma, que ainda hoje costuma permear pensamentos e discussões sobre o conhecimento popular, qual seja, o saber tradicional é fruto do subdesenvolvimento, sendo portanto seu mais letal inimigo as conquistas científicas e o consequente progresso. Para minha tarefa, São José foi campo ideal, com seu perfil de cidade com altíssimo índice de industrialização, tecnologia de ponta em pesquisas espaciais, unidade da aeronáutica, etc, que, por sua vez, contavam com técnicos de diversas nacionalidades e atraiam incontável número de migrantes de várias regiões do país. Mas, se o espaço era sociologicamente propício a busca do objetivo proposto, para uma migrante, a identificação dos agentes ou portadores, foi tarefa árdua.


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