O Saber e o Fazer no Museu do Folclore II

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Passados todos esses anos percebo que minha tarefa hoje não seria árdua e minha indagação original encontraria resposta inteligente e criativa no Museu Vivo de São José dos Campos. As variadas formas artísticas que expõe, valoriza e promove estão a nos revelar que a cultura popular possui intensa dinâmica, que incorpora os diferentes momentos históricos, ressignifica os distintos saberes, recria novos conhecimentos, conferindo assim contemporaneidade às milenares tradições. Cáscia Frade Professora Adjunta da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)

O saber e o fazer no Museu do Folclore II

Possuía três informações iniciais, fornecidas pelo professor Rossini: Eugênia e Mudinha (ceramistas) e Benedito (jongueiro), todos residentes no Jardim Paulista. Em inúmeras peregrinações pelos bairros, enfrentando olhares desconfiados (qual a razão dessa carioca querer saber dessas coisas?) e muitas frustrações. Já desanimando, alcancei por fim, o fio da meada, na venda do Nico Miranda, em Santana. Nico era um violeiro e sua casa de negócios, situada nos limites urbanos do bairro, nos finais de semana reunia gente do campo e da cidade para conversas, causos, cantoria, roda de viola. Uma festa. As cortinas então se abriram, consegui concluir meu trabalho.

AS CORTINAS ENTÃO SE ABRIRAM

O SABER E O FAZER

realização

M USEU DO F OLCLORE II

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Corria o ano de 1972. Então residente em São José dos Campos, pude frequentar o curso nomeado “Folclore Brasileiro”, oferecido pelo Museu de Artes e Tradições Populares, sediado Sem São Paulo e presidido por Rossini Tavares de Lima. Para a confecção da monografia de conclusão dos estudos e interessada em melhor conhecer a cidade que me acolheu, decidi realizar uma pesquisa sobre tradições vigentes nesse município. A questão mais significativa foi a aferição da veracidade de um dogma, que ainda hoje costuma permear pensamentos e discussões sobre o conhecimento popular, qual seja, o saber tradicional é fruto do subdesenvolvimento, sendo portanto seu mais letal inimigo as conquistas científicas e o consequente progresso. Para minha tarefa, São José foi campo ideal, com seu perfil de cidade com altíssimo índice de industrialização, tecnologia de ponta em pesquisas espaciais, unidade da aeronáutica, etc, que, por sua vez, contavam com técnicos de diversas nacionalidades e atraiam incontável número de migrantes de várias regiões do país. Mas, se o espaço era sociologicamente propício a busca do objetivo proposto, para uma migrante, a identificação dos agentes ou portadores, foi tarefa árdua.



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C oleção C adernos

de

Folclore

23o Volume 2013

São José dos Campos


Coleção Cadernos de Folclore Realização

Pesquisas e textos

Prefeitura Municipal de São José dos Campos Fundação Cultural Cassiano Ricardo Diretoria de Patrimônio Cultural Museu do Folclore de São José dos Campos

Fábio Martins Bueno e Maria Siqueira Santos

Idealização

Design gráfico

Centro de Estudos da Cultura Popular Angela Savastano

Gestão do Projeto Francine Maia

Edição de textos

Avelino Israel e Angela Savastano

Revisão de textos Vera Maria Costa

Fotografias

Francisco José Lacaz Ruiz (Chico Abelha) Arquivo Museu do Folclore de São José dos Campos Magno Studio

Tratamento de imagens e editoração Gabriel Sá

Colaboração

Maria da Fátima Ramia Manfredini - UNIVAP

Impressão

JAC Gráfica e Editora Ltda – São José dos Campos – SP

Entrevistas

Fábio Martins Bueno

Ficha catalográfica elaborada por Cíntia Cássia Soares - CRB 8R/8848 B942s Bueno, Fábio Martins; Santos, Maria Siqueira O saber e o fazer no Museu do Folclore II / Fábio Martins Bueno e Maria Siqueira Santos. -São José dos Campos / SP: CECP/FCCR/Prefeitura Municipal de São José dos Campos, 2014. p.108; 21cm x 24cm; (Cadernos de Folclore; v.23) 1. Cultura Popular / Folclore – São José dos Campos – SP 2. Arte Popular / Artistas Populares – São José dos Campos 3. Programa Museu Vivo – Museu do Folclore/Centro de Estudos da Cultura Popular e Fundação Cultural Cassiano Ricardo I. Santos, Maria Siqueira. II. Título. CDD: 390 CDU: 398 Copyright @ Fábio Martins Bueno e Maria Siqueira Santos – 2013 Todos os direitos reservados Fundação Cultural Cassiano Ricardo Avenida Olivo Gomes, 100 – Santana – 12211-115 São José dos Campos – SP – Brasil www.fccr.org.br


Sumário Abertura 6 Ampliar o relacionamento institucional 7 Apresentação 8 Cap. 1 - Pedro Adão Paulino 11 Cap. 2 - Vitor Ribeiro e Luiza Maria Ribeiro 19 Cap. 3 - Júlio César Ribeiro 25 Cap. 4 - Miguel Fernandes de Faria 31 Cap. 5 - Saturnino de Barros Silva 37 Cap. 6 - Agenor Lessa 45 Cap. 7 - Sofia de Faria Ramos 53 Cap. 8 - José Augusto Ramos 59 Cap. 9 - Margarida Liesack Baptistini 67 Cap. 10 - Fátima Regina Capinam 75 Cap. 11 - Cândida Morais Bernardes 83 Cap. 12 - Irma Valiante 93 Referências Bibliográficas 101 Perfis dos Pesquisadores 102 Perfil do fotógrafo 103 Fundação Cultural Cassiano Ricardo (FCCR) 104 Centro de Estudos da Cultura Popular (CECP) 105 Agradecimentos 106 Relação das Edições Anteriores 106

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com grande satisfação que a Fundação Cultural Cassiano Ricardo, em parceria com o Centro de Estudos da Cultura Popular, comemora os 15 anos de existência do Projeto Museu Vivo, apresentando à comunidade mais uma publicação da Coleção Cadernos de Folclore: O Saber e o Fazer no Museu do Folclore II. Para a Fundação Cultural Cassiano Ricardo, a importância da Coleção está exatamente em expressar os pilares de uma política mais avançada e arrojada de patrimônio cultural: o direito à cidadania, ao pertencimento e à transformação da realidade na qual se vive. Caminhando rumo à nova política pública de cultura que está sendo implantada em São José dos Campos, os relatos e experiências dos mestres e fazedores aqui reunidos demonstram a importância do diálogo entre a administração e a população, expandindo os horizontes rumo ao fomento e à difusão cultural em nossa cidade. Reconhecer os trabalhos desses mestres para a cultura do município torna São José dos Campos mais humana. Esperamos, portanto, que esta nova edição se constitua em mais uma ferramenta cultural à disposição de todos para que sejam agentes transformadores da nossa realidade. Alcemir Palma Presidente da Fundação Cultural Cassiano Ricardo


A mpliar

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o relacionamento institucional

oram convidados. Primeiro, a exibir em público, no Parque da Cidade, o seu fazer, o seu saber. Mais tarde, um novo convite, agora para contar como esse conhecimento entrou em sua vida. Um por um foi revelando uma história, um dom, uma tradição. Do mesmo jeitinho que adentram o mundo dos sonhos os trazendo à realidade, vencem os limites do tempo, atualizando o que há muito está presente. O Centro de Estudos da Cultura Popular (CECP) convida-me a, voluntariamente, dedicar-me a colaborar com suas pesquisas de resgate de um conhecimento da e sobre a sociedade, principalmente, do Vale do Paraíba. Antes, já aceitei outros convites, como os que a mim o fizeram o Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA) e o Conselho Municipal de Turismo (COMTUR), envolvendo-me em tão significativas e enriquecedoras vivências. A presidência do CECP abre, nesse momento de minha vida profissional, a oportunidade de encarar, mais uma vez, um desafio. Apesar de uma associação social sem fins lucrativos, com atuação bastante específica na área da cultura popular, o CECP oferece uma contribuição cultural e social

muito grande à comunidade joseense e da região. São mais de 50 mil pessoas (entre crianças, jovens e adultos) recebidas anualmente nas instalações do Museu do Folclore e participantes das atividades realizadas. Por isso, estar na presidência de uma entidade com 15 anos de história e que surgiu da vontade de um grupo de pessoas que também sonhavam em transformar a sociedade, ou contribuir para tal, por meio da cultura popular, é muito importante. Mais do que nunca, o CECP quer ampliar o seu relacionamento institucional com outras entidades da cidade a fim de que novas parcerias possam ser efetivadas, assim como já acontece com a Fundação Cultural Cassiano Ricardo (FCCR) e a Prefeitura Municipal de São José dos Campos, seus atuais e principais parceiros. E, mais ainda, o CECP convida você a conhecer um pouco mais sobre os saberes e os fazeres da gente que vive nas ruas, praças e campos abençoados de São José. Sempre vale aceitar o convite que o Caderno de Folclore lhe faz ao completar 23 anos de muito desvelar para revelar. Vera Maria Costa Presidente do Centro de Estudos da Cultura Popular – CECP


A presentação

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Museu do Folclore de São José dos Campos, sob gestão do Centro de Estudos da Cultura Popular (CECP), realiza o projeto Museu Vivo. Tal projeto se configura como parte das ações educativas do Museu do Folclore e tem o intuito de salvaguardar bens culturais de natureza imaterial de São José dos Campos e região. Ao longo desses anos o Museu Vivo é realizado nas tardes de domingo. Suas atividades têm início no mês de fevereiro e vão até dezembro, com exceção do mês de agosto, quando o Museu tem programação especial em função das comemorações do Dia Nacional do Folclore. Também se inclui na programação do Museu Vivo os festejos do Ciclo Natalino. Cerca de 140 ‘fazedores’ já participaram do projeto: arte/artesanato, música e culinária são os três tipos gerais que organizam a programação. Com esses três tipos de fazeres o projeto Museu Vivo tem a intenção de recriar o ambiente onde essas práticas ocorrem espontaneamente: na oficina, no caso do ‘fazedor’ de brinquedos ou do artesão de taboa; na cozinha, onde as


cozinheiras fazem o doce ou do bolinho da roça; na roda de viola, onde os músicos e ouvintes partilham do mesmo espaço. Além dos núcleos familiares e grupos sociais trazidos pelos próprios ‘fazedores’ ao Museu, o fato da instituição estar inserida numa área de acesso e uso de várias comunidades da cidade, o Parque da Cidade Roberto Burle Marx, proporciona um público variado às suas ações. Muitas pessoas que passam suas tardes de domingo no parque visitam as dependências do Museu e interagem com os ‘fazedores’. Entre tais visitantes não tardam a surgir comentários como “meus pais sabiam fazer isso!”, ou perguntas como “onde foi que você aprendeu a fazer esse doce?”. Cria-se um espaço para a transmissão de saberes e fazeres populares, as diferentes gerações se encontram e convivem, surgem narrativas acerca do que já foi vivido, memórias compartilhadas, aprendizados. No 23o volume da Coleção Cadernos de Folclore, segundo da série O saber e fazer no Museu do Folclore, foram entrevistados 12 fazedores que participaram do Museu Vivo. Através deles adentramos um pouco


no universo da música caipira, dos causos, da Folia de Reis, culinária, técnicas da roça e do artesanato. Ao longo do segundo semestre de 2013, 12 desses ‘fazedores’, detentores de sabedorias populares, gentilmente nos receberam para uma entrevista, um bate papo em torno de seus fazeres e de como eles se inserem em suas histórias pessoais. A partir dessa pesquisa de campo foram elaborados os 12 textos que compõem este livro. O objetivo comum deles é promover os ‘fazedores’ através da divulgação de seus fazeres em seus grupos sociais e comunidades, em museus, escolas públicas e privadas, universidades, encontros e palestras cujo tema seja cultura popular, folclore. Junto com o Museu Vivo, este livro integra parte importante da ação de salvaguarda empenhada pelo Museu do Folclore.

Fábio Martins Bueno e Maria Siqueira Santos Historiadores


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Júlio César Ribeiro

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É um dom de Santos Reis

C é s a r R i b e i r o , 29 anos, é um dos mestres de Folia de Reis da Irmandade de Santos Reis. Sua mãe, Luiza, atribui a uma graça de Santos Reis o fato de ele cantar como seu avô, Pedro Linda Vicente. Ainda muito novo, com aproximadamente 13 anos de idade, Júlio foi coroado mestre de Folia de Reis. O episódio aconteceu na Folia realizada no Jardim das Indústrias, em São José dos Campos. Na ocasião, o Sr. Sebastião Cota, um folião antigo, pediu a palavra e, para espanto dos presentes, anunciou que, naquele momento, o garoto – que já havia sido marungo, tipe, contra-tipe e tala – estava sendo consagrado mestre de Folia de Reis.

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A memória de Júlio é ancestral, muitos dos versos que canta vêm sendo cantados há muitas décadas na sua família e na região de origem de seus pais. É de lá que sai todo ano seu tio Jaci Vicente, irmão da sua mãe, para também ‘trovoar’ os versos na Folia. Jaci é uma de suas referências na arte dos versos. É por meio da convivência com ele que Júlio acessa muitos dos versos que seu avô cantava. Além das cantorias com o tio, as iniciativas dos seus pais foram fundamentais para a sua formação. A cidade de Conceição do Rio Verde foi o primeiro espaço onde Júlio, na época com cerca de oito anos, acompanhava seu pai por entre pastos e casas de fazendas: “[...] Eu ia bem pequeno. Era daqueles que ficava o pai cantando e eu segurando na perna dele. Lembro de andar no escuro. Tinha um lugar que ele deixava a gente dormindo, era um conhecido dele, era uma casa onde eles deixavam as crianças dormindo, porque lá em Minas eles cantavam a noite inteira [...].” Júlio ressalta que está em constante aprendizagem, que há muito que conhecer de Folia de Reis. Com entusiasmo afirma que levará a tradição herdada adiante, iniciando outras pessoas na devoção a Santos Reis, assim como fizeram seus pais.

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C ap Ă­ tu lo 4

Miguel Fernandes de Faria

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Cantar para quem gosta de ouvir

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d e s e u s pa i s , na época localizada na zona rural de Natividade da Serra, o menino Miguel sentava com seus vários irmãos e primos para ouvir as histórias narradas por seu pai. Da cozinha para o quarto, Miguel corria para pegar o cavaquinho e voltava para ensaiar alguns ponteados com a família, a maioria deles tocados a partir do que ouvia no rádio. “A casa era enorme. Na época do frio meu pai fazia tipo uma fogueira no meio da cozinha, no chão. Pegava a lenha e fazia aquela fogueira, colocava banco como esse que estamos sentados aqui e ali ele ficava contando histórias. O meu pai gostava de contar história, passava a noite contando história, um pouco verdade, um pouco mentira. E eu pegava no cavaquinho, aquele que era de cravelha de madeira, que a pessoa pegava e apertava para a corda não voltar.” Muito do que Miguel Fernandes de Faria toca na viola ele aprendeu sozinho.

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em festas religiosas, durante as viagens de tropeiros e bandeirantes, na congada ou em rodas de samba e entre trabalhadores rurais das diversas regiões do país. Eis que nesse contexto surgem as modas de viola, que são os diversos ritmos tocados pelos violeiros: cateretê, cururu, rancheira, moda-de-viola... Sobre a diferença entre modas e modade-viola, Miguel explica: “A moda-de-viola mesmo é aquela em que a viola canta com a gente. Você ponteia ela aqui, ela fala junto com você. Agora tem a moda de viola que é um cateretê, um cururu, uma guarânia, uma toada, uma canção rancheira. Daí a viola faz a introdução e o violão a base.” Miguel já se apresentou no Museu do Folclore em diversos momentos. Atualmente faz parte do Trio da Roça, composto por Miguel na viola, Carlinhos no violão e João no vocal. Além do museu, o trio toca na zona rural de Natividade da Serra, local onde, segundo Miguel, as pessoas param para ouvir as músicas, pois “a melhor coisa é você cantar para aqueles que gostam de ouvir.”

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Saturnino

de Barros Silva 37


A curiosidade é a mãe da sabedoria

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om seus pés,

Saturnino amassa a terra misturando a água para fazer o barro. Essa mistura forma uma liga suficiente para assentar os tijolos do fogão de tacho ou fogão de chão. O fogão de chão é uma adaptação portuguesa do forno de pedras feito pelos indígenas, antes do desembargue lusitano nesta terra. Os nativos ensinaram aos portugueses a organizar as pedras no chão, de forma a utilizar o calor do fogo para diversos fins. Os portugueses adicionaram à feitura do fogão de chão o barro amassado, fixando o fogão em um determinado cômodo da casa, geralmente na cozinha. Porém, devido à simplicidade de sua fabricação, o fogão de chão pode ser feito, sem muita dificuldade, em qualquer lugar (1).

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Cláudia Lima em Tachos e Panelas: historiografia da alimentação brasileira, p.61.


Saturnino de Barros Silva nasceu em Sapucaí Mirim, município de Minas Gerais, localizado na divisa com São Paulo, na Serra da Mantiqueira. Lugar repleto de montanhas e vales, cachoeiras e árvores, onde ficava a propriedade rural de seu João Pedro e dona Dita, atualmente repartida entre os herdeiros. Saturnino, um dos filhos do casal, foi quem nos levou para mostrar a feitura do fogão de chão e contar um pouco sobre sua história e a de sua família naquela terra. O fogão de chão era uma das habilidades de seu pai, homem criativo e curioso que sabia construir casas, trabalhar com a madeira, lavrar a terra e cuidar dos animais. Desde criança ele viu João Pedrinho (como seu pai era conhecido) fazer esse fogão. Muito utilizado no cotidiano da casa, nele era feito o sabão, onde se torrava o café, cozinhava os doces, a pamonha, se fervia ou tingia roupas. Em dia de festas, o fogão era utilizado também para fazer vaca atolada.

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Saturnino apresentou-nos seu irmão mais novo, Mateus, que hoje mora na sede, a casa onde viviam seus pais e onde cresceram os irmãos. A casa hoje funciona como albergue, o Albergue do Mateus, anteriormente chamada de Pousada da Dona Dita. O local é, desde a época de sua falecida mãe, ponto de parada de romeiros que, vindos de Bragança Paulista, Serra Negra, Limeira, Extrema e Estiva, seguem para a cidade de Aparecida para agradecer ou pedir benções a Nossa Senhora. “Meu pai acostumou receber esses romeiros que vão para Aparecida a pé. E aqui acabou sendo um ponto de parada dos romeiros. Minha mãe tinha amizade com muita gente de Bragança, Serra Negra. O pessoal vinha, passava e já conhecia ela. Quando a gente morava ali na casa de cima, já passava romeiro. E meu pai chamava: ‘o moço, vamos chegar, descansar um pouco, vem tomar café com a gente’. Eles vinham, conversavam. Daí eles acostumaram e pediram se não tinha jeito de arrumar um lugar para dormir. E meu pai ofereceu a casa. Já chegou a dormir 60 pessoas dentro dessa casa.”

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C apĂ­tu lo 6

Agenor

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Então nós começamos a cantar no cinema

L e s s a e s u a fa m í l i a cultivam o gosto pela música caipira. Com sua esposa Nilza, sua filha Fernanda e seu cunhado Mauro, costuma se apresentar no espaço Zé Mira e no Museu do Folclore, em São José dos Campos. Hoje com 72 anos, Agenor nasceu em Caçapava, mas logo foi morar em Eugênio de Melo com os pais, que eram meeiros de café. Desde cedo mostrou interesse pela música, pois conta que já aos doze anos teve condições de se apresentar com o parceiro Augusto em um evento promovido pelo grupo escolar. Na ocasião, a música tocada e cantada por eles foi ‘Tristeza do Jeca’, de Angelino de Oliveira.

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A música caipira era muito apreciada por Agenor, que ouvia no rádio e nos discos que chegavam até ele os grandes sucessos de Tonico e Tinoco, Tião Carreiro e Pardinho, Pedro Bento e Zé da Estrada e outros tantos cantores caipiras que se apresentavam nas rádios e gravavam discos durante a década de 1950. Nesse período, o rádio era o principal meio de comunicação no Brasil. Em volta dos mais de 1,5 milhão de aparelhos de rádio distribuídos no país, as famílias se reuniam todos os dias para conferir os mais variados programas. Rádio novelas, noticiários, jogos de futebol, programas de humor... Na casa de Agenor a preferência eram os programas de música caipira. Das apresentações na escola, Agenor e Augusto, também conhecidos como Romano e Saulim, passaram a tocar no cinema itinerante que passava por Eugênio de Melo todo sábado. Naquela época, além de exibir filmes, o cinema promovia apresentações musicais, ocupando um lugar importante na vida social da comunidade. “Então nós começamos a cantar no cinema. Os filmes começavam a passar entre sete e meia, oito horas, pois enquanto não enchia o cinema não liberava para passar os filmes. Aí, nesse intervalo, a gente fazia o programa do cinema, a gente cantava a parte musical.” Além do cinema, os circos que chegavam a Eugênio de Melo também foram palco da dupla.

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Mas depois as filhas tiveram de mudar de São José e ela não quis continuar o trabalho sozinha. O marido de Sofia é natural de São José dos Campos. Durante seus anos de vida, João viu a cidade passar por grandes transformações, especialmente no que diz respeito ao rio Paraíba do Sul, pois vem de uma família de piraquaras, pescadores típicos deste rio. Questionado sobre o motivo que o fez parar de pescar, João afirma que foi devido à poluição e à chegada das dragas para retirar terra do rio. Os clientes não queriam mais comprar os peixes do Paraíba porque diziam que tinham gosto de poluição. Atualmente, porém, almeja voltar a pescar. Sofia participa do Museu Vivo desde 2002. Ela começou fazendo bolinho de chuva, mas depois ampliou bastante seu cardápio. Fez cuscuz, doce de leite, doce de abóbora, licor de vários tipos, bolachinhas de Natal, paçoca.

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Cândida Morais Bernardes

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O trabalho tem um valor especial

O f u x ico m i n ei ro consiste na feitura de bolsas e colchas a partir de pequenos pedaços de tecidos, costurados uns aos outros. Os pedaços são cortados por Cândida usando um molde em formato hexagonal. Ela explica que foi em São José dos Campos que soube que o que ela faz é o ‘fuxico mineiro’. A questão é que o fuxico que ela faz é diferente do fuxico que usualmente se faz no Estado de São Paulo. “Aqui em São José que eu fiquei sabendo que este daqui é o fuxico mineiro, porque é o paulista que faz aquele franzido. [...] Quando eu trouxe ninguém conhecia porque aqui a pessoa conhece o fuxico franzido, redondinho. Este é o fuxico que a gente corta os quadradinhos, aí tem o molde... A gente vai fazendo um por um com o molde, esse aqui é o que minha mãe usava, é de papelão. Aí a gente coloca o papelão em cima, vai dobrando, depois costura tudo aqui, aí depois vai emendando um por um... Depois a gente vai montando, a

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gente pode fazer individual que é uma bolsa, e pode fazer ele todo fechadinho como um tapete, e pode ainda fazer ele emendar aberto para fazer uma colcha.” A nomeação que imprime a diferença entre o jeito mineiro e o paulista ocorre também com o crochê. No jeito mineiro, a linha fica enrolada no dedo indicador e a agulha pega a linha por cima. No jeito paulista, a linha não é enrolada no dedo e os dedos seguram a agulha como se ela fosse uma caneta. Cândida conta que certa vez foi identificada em um grupo como mineira ao usar sua técnica de crochê. A fim de mostrar um trabalho de fuxico finalizado, Cândida apresentou uma colcha em especial, a mais antiga que guarda em sua casa. Nela os hexágonos significam mais do que forma, cor, textura...; funcionam como indícios materiais que atualizam as memórias de Cândida acerca de sua família. A partir do detalhe azul dessa colcha, por exemplo, Cândida conta:

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Cândida hoje está aposentada. No seu cotidiano, além de cuidar da casa e da família, frequenta a Casa do Idoso, onde participa de várias oficinas de artesanato: “Lá a gente aprende bastante coisas. Eu fui para lá para fazer hidroginástica por recomendação médica, aí passei a conhecer os artesanatos e me interessei em fazer... Fiz mosaico, artesanato com tachinhas, com feltro. Fizemos este daqui também: traçado de fitas, você pode fazer nesse tecido ou no toalha de banho, de rosto. Dá um outro valor para os objetos.” Cândida é uma das pessoas que fizeram parte do fluxo migratório mineiro que ocorreu nas décadas de 1960 e 1970 em direção ao Vale do Paraíba, em especial à cidade de São José dos Campos. Com eles vieram muitos saberes, artes, ritos e técnicas hoje já incorporados ao quadro social local.

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Irma

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Os segredos da cozinha caipira

Maria Cheminand Valiante aprendeu a fazer doces com sua mãe, Irma Almada Cheminand, na época em que ela morava em Bananal, município paulista do Vale do Paraíba, que faz fronteira com o Estado do Rio de Janeiro. Ela conta que sua mãe possuía muitos saberes culinários advindos do cotidiano na roça e que gostava de lhe ensinar os segredos da cozinha caipira. “Na fazenda, na zona rural, todo tipo de produto era aproveitado. Fazia-se muito doce das frutas que eles tinham. Isso eu aprendi com a minha mãe, sabe. Na época da goiaba, por exemplo, a gente fazia a goiabada para durar o ano inteiro. Guardava em caixetas, colocava a palha de milho e depois o papel impermeável. O doce era colocado no papel impermeável, fechava a caixeta e guardava para o ano inteiro. Eu tinha uns 14, 15 anos e ajudava a minha mãe a fazer a goiabada, bananada. Era naquele tacho enorme de cobre que a gente ficava mexendo, no fogão de pedra.”

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Além da goiabada e da bananada, Irma aprendeu a fazer doce de laranja da terra, doce de figo, doce de abóbora, doce de pêssego, em calda e cristalizado, e doce de leite. Atualmente utiliza fogão a gás, mas já cozinhou em fogão de tacho, fogão de lenha e de carvão. Os ingredientes que ela costuma usar para a produção dos doces são comprados no supermercado ou no Ceagesp (entreposto público federal para venda de produtos agrícolas), mas, conta que os doces feitos com ‘ingredientes caipiras’ são mais gostosos.

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R eferências B ibliográficas Araújo, Alceu Maynard. Folclore Nacional: ritos, sabenças, linguagem, artes e técnicas. Vol. III. São Paulo: Melhoramentos, 1964. Canclini, Néstor Garcia. Culturas híbridas: estratégias para entrar e sair da modernidade. Trad. Ana Regina Lessa, Heloísa Pezza Cintrão e Gênese Andrade. Edusp: São Paulo, 2001. Cascudo, Luis da Câmara. História da alimentação no Brasil. Vol. II. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Edusp, 1983. Lima, Cláudia. Tachos e Panelas: historiografia da alimentação brasileira, 2 ed. Recife: Edição da autora, 1999. Ribeiro, José Hamilton. Música caipira: as 270 maiores modas de todos os tempos. São Paulo: Globo, 2006. Van der Poel, Francisco (Frei Chico). Dicionário da Religiosidade Popular: cultura e religião no Brasil. Curitiba: Nossa Cultura, 2013.

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P erfis

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P esquisadores

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ábio Martins Bueno trabalha como professor de história e pesquisador na área de patrimônio cultural. Tem experiência como escritor de textos acadêmicos e didáticos. É autor do 22º volume da Coleção Cadernos de Folclore, O saber e o fazer no Museu do Folclore, publicado em 2012 pela Fundação Cultural Cassiano Ricardo – FCCR e Centro de Estudos da Cultura Popular – CECP. É graduado em História pela Universidade Estadual de Londrina (UEL). Possui, pela mesma universidade, os títulos de especialista em História Social e mestre em História Social, na linha ‘Culturas, Representações e Religiosidades’. (fm_bueno@yahoo.com.br).

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aria Siqueira Santos tem experiência como redatora e editora de textos acadêmicos e didáticos. Foi professora de História na rede pública de ensino e orientadora online no programa Redefor/ Unicamp. Também já trabalhou como professora de inglês e com produção de programa de rádio. É graduada em Psicologia pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e em História pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), onde também concluiu mestrado nesta área. (mariasiquantos@gmail.com).

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P erfil

do fotógrafo

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Francisco José Lacaz Ruiz (Chico Abelha) é pesquisador e fotógrafo autodidata. Por 30 anos viveu na zona rural de São José dos Campos, onde vivenciou, registrou e divulgou (em rádios comunitárias) os saberes e fazeres do homem do campo. Realiza e divulga (pelas redes sociais) produções audiovisuais independentes de diversas manifestações folclóricas da região. Nos anos de 2011, 2012 e 2013 identificou e registrou (em vídeo, foto e texto) informações sobre diferentes manifestações da cultura popular local para o Projeto Piraquara, da Fundação Cultural Cassiano Ricardo – FCCR. Realiza atualmente a identificação de novos ‘fazedores’ para o Projeto Museu Vivo do Museu do Folclore, da FCCR. (chico.abelha@hotmail.com).

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F undação C ultural C assiano R icardo

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Fundação Cultural Cassiano Ricardo (FCCR) de São José dos Campos foi criada pela Lei Municipal 3050/85, tornando-se responsável pela implantação das diretrizes de políticas públicas de cultura no município, garantindo a experimentação, fruição e acesso da população aos vários segmentos das artes, às manifestações da cultura popular e à preservação dos patrimônios materiais e imateriais. Ter um museu dedicado ao folclore, entre as instituições mantidas pela FCCR, é de extrema importância para valorizar a cultura popular e divulgar toda essa riqueza de tradições, seus saberes e fazeres, seja através do artesanato, da culinária ou das manifestações artísticas, como as congadas, as folias de reis, o Moçambique e o jongo. A preservação patrimonial é um dos objetivos da Fundação que mantém um setor para cuidar desses bens culturais. São José dos Campos tem 36 patrimô-

nios preservados por lei, dentre os quais há, igrejas, prédios, cinema, residências, complexo industrial, estações ferroviárias, praça e até árvores. Além do constante esforço na preservação, a Fundação Cultural Cassiano Ricardo também proporciona oportunidades de aquisição de novos conhecimentos e novas vivências, de experimentação e de contato com os mais diversos tipos de linguagens, técnicas e ideias para possibilitar a difusão cultural e a formação de público. São oficinas, espetáculos, exposições, festivais, e outros tipos de eventos e atividades, realizadas em dez casas de cultura, três teatros, dois auditórios, três bibliotecas e também em parques, praças e escolas. Todas essas ações resultam em uma ampla política cultural para o município, sempre pautada pela participação da comunidade e planejamento, norteando ações de longo prazo cujo objetivo é contribuir para o desenvolvimento de São José dos Campos.


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de

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C ultura P opular – CECP

Centro de Estudos da Cultura Popular é uma organização não governamental, criada em 1998, por integrantes da extinta Comissão Municipal de Folclore da Fundação Cultural Cassiano Ricardo. Seu objetivo é criar ferramentas que possibilitem o fortalecimento da identidade cultural, valorizando as práticas culturais populares da região. A Região Metropolitana do Vale do Paraíba e Litoral Norte, localizada na Mesorregião do Vale do Paraíba Paulista, cortada e banhada pelas águas da Bacia do Rio Paraíba do Sul, constitui-se no eixo de ligação das duas principais metrópoles brasileiras, São Paulo e Rio de Janeiro. São trinta e nove municípios que compõe a Região Metropolitana, entre eles São José dos Campos.

Com aproximadamente 700 mil habitantes, São José dos Campos destaca-se por ser um pólo industrial, com tecnologia de ponta, abrigando importantes centros de pesquisa e universidades. Por conta dessa característica, a cidade atrai muito migrantes, que chegam em busca de melhores oportunidades e acabam se incorporando ao leque cultural constituído. A riqueza dessa diversidade contrapõe-se ao sentimento de exclusão resultante da falta de sentidos de pertencimento. São essas referências identitárias que estão no centro das ações desenvolvidas pelo CECP. Em parceria com a Fundação Cultural Cassiano Ricardo, o CECP, desenvolve suas ações no Museu do Folclore de São José dos Campos, buscando criar pontes entre as várias culturas existentes no contexto sociocultural valeparaibano.

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A gradecimentos O Museu do Folclore, da Fundação Cultural Cassiano Ricardo (FCCR), e o Centro de Estudos da Cultura Popular (CECP), agradecem aos demais ‘fazedores’ que, ao longo de 15 anos, têm participado do Projeto Museu Vivo. Neste período, mais de uma centena deles já enriqueceram e continuam enriquecendo, com sua sabedoria, as tardes de domingo do Museu do Folclore.

R elação

das edições anteriores

Fundação Cultural Cassiano Ricardo Coleção Cadernos de Folclore A Coleção Cadernos de Folclore tem o propósito de informar e divulgar a cultura popular, para melhor compreensão e valorização do homem na sua realidade social. Reúne importantes contribuições, seja na forma de pesquisas científicas ou relatos de experiências, constituindo-se fonte de consulta e estímulo à reflexão e à pesquisa, oferecendo subsídios para futuros investigadores do saber popular. Volumes anteriores: Azeite de Mamona – Toninho Macedo e Angela Savastano 1º volume – 1986 – Comissão Municipal de Folclore Carro de Boi – Zuleika de Paula 2º volume – 1988 – Comissão Municipal de Folclore

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Laraoiê, Exu – Hélio Moreira da Silva 3º volume – 1988 – Comissão Municipal de Folclore Fumos e Fumeiros do Brasil – Marcel Jules Thieblot 4º volume – 1989 – Comissão Municipal de Folclore Jogos, Brinquedos e Brincadeiras – J. Gerardo M. Guimarães 5º volume – 1990 – Comissão Municipal de Folclore Maria Peregrina – Benedito José Batista de Melo 6º volume – 1992 – Comissão Municipal de Folclore Saci – José Carlos Rossato 7º volume – 1994 – Comissão Municipal de Folclore

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Cobras e Crendices – Maria do Rosário de Souza Tavares de Lima 8º volume – 1995 – Comissão Municipal de Folclore

Santo de Casa Faz Milagre: A Devoção a Santa Perna – Cáscia Frade 16º volume – 2006 – Centro de Estudos da Cultura Popular – CECP

Chico Triste I – Coletânea de Textos de Francisco Pereira da Silva 9º volume – 1997 – Comissão Municipal de Folclore

Educação e Folclore – Histórias Familiares dando Suporte ao Conteúdo – Leila Gasperazzo Ignatius Grassi 17º volume – 2006 - Centro de Estudos da Cultura Popular – CECP

Chico Triste II – Coletânea de Textos de Francisco Pereira da Silva 10º volume – 1998 – Comissão Municipal de Folclore Ciclo de Natal – Coletânea de Textos de Maria Graziela B. dos Santos 11º volume – 1999 – Centro de Estudos da Cultura Popular – CECP Curiosidades Folclóricas sobre o inseto – Hitoshi Nomura 12º volume – 2001 – Centro de Estudos da Cultura Popular – CECP Histórias de Onça – Ruth Guimarães 13º volume – 2002 – Centro de Estudos da Cultura Popular – CECP De Já Hoje – Darcy Breves de Almeida 14º volume – 2003 – Centro de Estudos da Cultura Popular – CECP Pedra-de-raio – Uma superstição Universal – J.Gerardo M. Guimarães 15º volume – 2004 – Centro de Estudos da Cultura Popular – CECP

O Milho e a Mandioca – Nas Cozinhas Brasileiras, Segundo contam suas Histórias – Maria Thereza Lemos de Arruda Camargo 18º volume – 2008 – Centro de Estudos da Cultura Popular – CECP O saber, o cantar e o viver do povo – Carlos Rodrigues Brandão 19º volume – 2009 – Centro de Estudos da Cultura Popular – CECP Objetos: percursos e escritas culturais – Ricardo Gomes Lima 20º volume – 2010 – Centro de Estudos da Cultura Popular – CECP Folia de Reis, Sambas do Povo – Alberto T. Ikeda 21º volume – 2011 – Centro de Estudos da Cultura Popular – CECP O Saber e o Fazer no Museu do Folclore – Fábio Martins Bueno 22º volume – 2012 – Centro de Estudos da Cultura Popular – CECP

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Este livro foi composto com a família tipográfica Adobe Caslon, corpo 11,5 / 15 e impresso em Couché Fosco 150g/m. Tiragem de 1500 exemplares. São José dos Campos, dezembro de 2013.



Passados todos esses anos percebo que minha tarefa hoje não seria árdua e minha indagação original encontraria resposta inteligente e criativa no Museu Vivo de São José dos Campos. As variadas formas artísticas que expõe, valoriza e promove estão a nos revelar que a cultura popular possui intensa dinâmica, que incorpora os diferentes momentos históricos, ressignifica os distintos saberes, recria novos conhecimentos, conferindo assim contemporaneidade às milenares tradições. Cáscia Frade Professora Adjunta da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)

O saber e o fazer no Museu do Folclore II

Possuía três informações iniciais, fornecidas pelo professor Rossini: Eugênia e Mudinha (ceramistas) e Benedito (jongueiro), todos residentes no Jardim Paulista. Em inúmeras peregrinações pelos bairros, enfrentando olhares desconfiados (qual a razão dessa carioca querer saber dessas coisas?) e muitas frustrações. Já desanimando, alcancei por fim, o fio da meada, na venda do Nico Miranda, em Santana. Nico era um violeiro e sua casa de negócios, situada nos limites urbanos do bairro, nos finais de semana reunia gente do campo e da cidade para conversas, causos, cantoria, roda de viola. Uma festa. As cortinas então se abriram, consegui concluir meu trabalho.

AS CORTINAS ENTÃO SE ABRIRAM

O SABER E O FAZER

realização

M USEU DO F OLCLORE II

NO

Corria o ano de 1972. Então residente em São José dos Campos, pude frequentar o curso nomeado “Folclore Brasileiro”, oferecido pelo Museu de Artes e Tradições Populares, sediado Sem São Paulo e presidido por Rossini Tavares de Lima. Para a confecção da monografia de conclusão dos estudos e interessada em melhor conhecer a cidade que me acolheu, decidi realizar uma pesquisa sobre tradições vigentes nesse município. A questão mais significativa foi a aferição da veracidade de um dogma, que ainda hoje costuma permear pensamentos e discussões sobre o conhecimento popular, qual seja, o saber tradicional é fruto do subdesenvolvimento, sendo portanto seu mais letal inimigo as conquistas científicas e o consequente progresso. Para minha tarefa, São José foi campo ideal, com seu perfil de cidade com altíssimo índice de industrialização, tecnologia de ponta em pesquisas espaciais, unidade da aeronáutica, etc, que, por sua vez, contavam com técnicos de diversas nacionalidades e atraiam incontável número de migrantes de várias regiões do país. Mas, se o espaço era sociologicamente propício a busca do objetivo proposto, para uma migrante, a identificação dos agentes ou portadores, foi tarefa árdua.


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