São José dos Micuins

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ALMANAQUE DE CURIOSIDADES HISTÓRICAS DE SÃO JOSÉ DOS CAMPOS NO PERÍODO SANATORIAL

ALMANAQUE DE CURIOSIDADES HISTÓRICAS DE SÃO JOSÉ DOS CAMPOS NO PERÍODO SANATORIAL

Apoio


Vitor Chuster

AlmAnAque de CuriosidAdes HistóriCAs de são José dos CAmpos no período sAnAtoriAl

1ª edição

editado pela

Fundação Cultural Cassiano riCardo

2011

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S

eu futuro parece o meu passado: minhas longas raĂ­zes ficaram no chĂŁo duro de onde fui arrancado. Cassiano ricardo, Queixa Antiga

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ViaJando

pelo

Vale

do

paraíba:

fragMentoS do Século xix

O

proCesso de perCorrer,

observar e registrar a vida cotidiana dos habitantes das cidades e das pequenas vilas das províncias era prática comum dos viajantes estrangeiros que aqui aportaram no século XiX. não raras vezes, esse trabalho decorria da solicitação de alguma autoridade, pois era estratégia da coroa e do imperador conhecer a colônia e suas potencialidades para organizá-la e adequá-la ao gosto dos europeus. para promover o conhecimento de nossas terras, muitos pesquisadores e especialistas europeus foram contratados para percorrer determinadas regiões, descrevendo, demarcando, retratando e registrando as localidades visitadas. saint-Hilaire, Augusto emílio Zaluar, Antonio mendonça Furtado, Karl Julius von Koseritz e Arthur sauer formam um riquíssimo conjunto, com informações que nos permitem conhecer e entender as constantes transformações, ainda que muito mais lentas que na atualidade, ocorridas no Vale do paraíba ao longo do século XiX.

V á r i o s d e s s e s V i a j a n t e s , observadores e naturalistas, percorreram o Vale do paraíba e, através de seus registros e anotações, nos transmitiram suas impressões. As obras de Carl Friedrich philipp von martius, Johann Baptist von spix, thomas ender, Arnaud Julien pallière, Auguste de

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Ano de 1817 – Spix, Martius e Ender: A viagem pelo Brasil

Fig. 8: Johann Baptist von spix.

Fonte: spix (1981).

Fig. 9: Carl F. philipp von martius.

Fonte: spix (1981).

exerceu pelo menos três outras atividades além de médico: antropólogo, botânico e pesquisador. Foi professor na universidade de munique e diretor do Jardim Botânico desta mesma cidade, no ano de 1832. tal como spix, sua vida foi dedicada às ciências naturais e também foi convidado a integrar a missão científica organizada pelos governos bávaro e austríaco para pesquisar as terras brasileiras. thomas ender (Fig.10) também participou dessa missão. nascido em Viena, Áustria, a 4 de novembro de 1793, ender estudou na Academia de Artes sant’Anna na Áustria, quando iniciou sua vida ligada às artes visuais. tornou-se paisagista, passando a retratar Viena e arredores. em 1817, spix, com 36 anos e martius e ender, ambos com 23 anos, participaram da missão científica para pesquisar e conhecer o Brasil, aproveitando as núpcias do príncipe d. pedro de Bragança com a arquiduquesa d’Áustria, dona leopoldina, princesa e filha do imperador Francisco i. Coube a thomas ender a missão de registrar e elaborar aquarelas, desenhos e pinturas retratando o Brasil. A martius coube a responsabilidade das pesquisas sobre botânica, e a spix os estudos relativos à zoologia. durante três anos percorreram as províncias do rio de Janeiro, de são paulo, minas Gerais, Bahia, maranhão, pernambuco, piauí, pará e Amazonas. A publicação de suas obras foi importante para o conhecimento da natureza brasileira, pois descrevem com riqueza de

Johann Baptist von spix (Fig.8), nasceu em 9 de fevereiro de 1781, na cidade de Höechstädt am der Aisch, Alemanha. em 1792, ingressou na escola episcopal de Bamberg, transferindo-se no ano seguinte para o seminário episcopal, onde foi considerado o melhor aluno. estudou Filosofia e teologia, para em seguida se dedicar à medicina e às Ciências naturais. Graduou-se em medicina em 1807 e em 1810 foi contratado pela Academia real de Ciências para organizar o museu de Zoologia de munique, onde desenvolveu importantes trabalhos sobre anatomia, biologia e história natural. em 1817 foi convidado para participar de uma expedição científica ao Brasil, juntamente com vários outros cientistas, entre os quais aquele que viria a ser seu companheiro, Carl Friedrich philipp von martius. Carl Friedrich philipp von martius (Fig.9) nasceu em 17 de abril de 1794, na cidade de erlanger, Alemanha. Graduouse em medicina, e

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Fig. 29: Vila de s達o miguel das Areias, debret, 1827.

Fonte: pasin (1988).

Fig. 30: Vila de nossa senhora da piedade de lorena, debret, 1827.

Fonte: pasin (1988).

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Fig. 31: Vila de santo Antonio de Guaratinguetá, debret, 1827. Fonte: pasin (1977).

Fig. 32: Vila de nossa senhora da Conceição de Jacareí, debret, 1827. Fonte: pasin (1977).

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Fig. 33: Vila de sĂŁo Francisco das Chagas de taubatĂŠ, debret, 1827. Fonte: pasin (1977).


Fig. 38: Antiga estação ferroviária de eugênio de mello, por volta de 1920.

Fonte: Acervo pessoal de eliezer magliano em http:// www.estacoesferroviarias. com.br

vilas e cidades do Vale do paraíba. Fico aqui imaginando a agonia das cidades quando ainda se discutia o traçado provisório, ou mesmo a decepção daquelas que ficaram alijadas do traçado definitivo e que, num passe de mágica, viram-se às mínguas, num triste adormecer. por outro lado, a alegria das contempladas, recebendo a “maria Fumaça” com festas, banda de música, coreto, discursos e pétalas de flores. mello e souza (1969), com um misto de humor e ironia, contou um “causo” acontecido entre as cidades de queluz e Areias, ou melhor, entre os “paneleiros” e os “minhoqueiros”. quando ainda estudava-se o futuro traçado da Central do Brasil, os políticos de Areias pleitearam a passagem dos trilhos em sua cidade, mas, agindo com presteza e rapidez, os de queluz lutaram por essa preferência. nessa porfia Areias não teve sorte, e os trilhos passaram por queluz. quando a primeira locomotiva chegou a queluz, um punhado de gazeteiros da cidade, os “paneleiros”, em nome da rivalidade habitual, colheram a fumaça escura do trem num garrafão fortemente arrolhado. o garrafão foi devidamente despachado para Areias e endereçado aos “minhoqueiros” com o seguinte bilhete: “Aos habitantes de Areias, a fim de que, na falta do trem de ferro, possam, para consolo, sentir o cheiro de fumaça”. sabe-se que na época, os areienses não deram qualquer resposta, mas fizeram questão de guardar cuidadosamente o garrafão por quase meio século. A resposta só foi dada em 1928, conforme descreveremos mais adiante, com igual dose de ironia e humor.

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edição foi a construção de uma ponte por onde deveria passar a estrada para paraibuna:

parte do cotidiano e dos assuntos que dominavam a sociedade joseense pode ser conhecida através das edições do jornal semanal O Caixeiro, que começou a circular no final de 1904, às quintas-feiras (Fig.46).

... construção de uma ponte sobre o rio Parahyba, no ponto onde deve passar a estrada de rodagem d’ esta cidade á de Parahybuna. Actualmente todo o movimento do commercio e lavoura Parahybunenses é feito pela vizinha cidade de Caçapava; no entanto, uma vez construida a ponte projectada, encurtará cerca de 2 legoas por esta cidade, para onde actualmente convergirá o movimento commercial e agrícola d’aquelle próspero municipio.

nascido com o objetivo de ser um “orgam dos empregados no commercio”, o jornal trazia matérias de interesse de toda a população: ... o fim primordial d’ O Caixeiro, a rasão de ser da sua existencia é trabalhar em prol da classe caixa geral; entretanto, em suas columnas serão tratados assunptos de interesse geral, que redundem em benefícios e engrandecimento desta cidade, e tudo o que possa interessar a sociedade, cujas boas causas sempre terão um defensor impreterito n’ O Caixeiro.

tudo que era produzido em paraibuna era escoado e comercializado através de Caçapava. A nova estrada faria com que a produção de paraibuna fosse oferecida e comercializada em são José, gerando dividendos sociais e econômicos para as duas cidades. são José agregaria novos valores, pois toda a relação econômica que paraibuna tinha com Caçapava passaria a se dar naturalmente por essas paragens. o comércio de paraibuna era até então feito deslocando-se até a “Vila do

O Caixeiro tinha duas seções: caceteações e indiscrições, e publicava algumas notas sociais. A seção Indiscrições começava invariavelmente com o chavão “na esquina da matriz disiam:..”. um dos assuntos abordados na primeira

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Fig. 46: Fac-símile da primeira edição do jornal o Caixeiro. Fonte: Arquivo público do município de são José dos Campos.

este é um dos mais antigos hotéis de são José, e teria importante papel durante a fase sanatorial. essa mesma edição trouxe a seguinte notícia: “Acha-se quasi concluido o Almanak de s. José dos Campos”. o jornal se referia ao Almanach de São José dos Campos para o anno de 1905, que estava sendo organizado pelo advogado da Câmara municipal e também redator chefe do jornal A Cidade, dr. sebastião penna da Camara, e que viria a ser impresso na tipografia da Casa minerva em 1905. em 7 de janeiro de 1905 os destinos de são José dos Campos foram entregues à nova Câmara municipal, com o coronel José monteiro à sua frente. A notícia sobre a estrada para paraibuna ganhou repercussão nas ruas, e em 12 de janeiro de 1905 foi novamente matéria do jornal (Fig.47).

Jambeiro”, antiga “Vila de nossa senhora de Capivari de Caçapava” e daí até Caçapava. O Caixeiro no 2 cobrava do intendente municipal, major Francisco de paula elias, na seção caceteações: de uma couza de suma necessidade, é collocar uns lampeões, sobre a ponte do Rio do Parahyba que esteve ou está em reconstrução; pois ella dispõe de cada buraco, que é mesmo um perigo... são José dispunha de iluminação pública, que dependia basicamente dos lampiões e que eram acesos por funcionários públicos destacados para esse fim. no primeiro dia do ano de 1905 O Caixeiro trazia a notícia de que o Hotel são José havia mudado de proprietário: Tem adquerido do sr João de Farias Bastos, o hotel S. José o sr João Batista de Moraes tendo-o dotado com grandes melhoramentos, onde espera merecer o apoio dos seus freguezes.

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de macedo presidiu a solenidade e a professora maria luiza de Guimarães medeiros foi a paraninfa (prefeitura, 1978) (Fig. 253). Ao final do ano de 1933, o “Asylo santa therezinha”, que nessa época funcionava na praça Afonso pena, solicitava auxílio para manter a assistência às tuberculosas indigentes (Fig. 254).

Fig. 253: os professorandos de 1933. Fonte: Arquivo público do município de são José dos Campos.

Fig. 254: pedido de donativos feito pelo Asilo santa terezinha. Fonte: A Folha esportiva no 258.

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ALMANAQUE DE CURIOSIDADES HISTÓRICAS DE SÃO JOSÉ DOS CAMPOS NO PERÍODO SANATORIAL

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