TGF | Leituras urbanas: ensaios projetuais no Mário Amato

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FICHA CATALOGRÁFICA Mocci Maria Angélica Leituras urbanas: ensaios projetuais no Mário Amato / Maria Angélica Mocci – Presidente Prudente [s.n], 2018. 180f. Orientadora: Aline Alves Anhesim Monografia (graduação) Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências e Tecnologia Inclui bibliografia 1. Conjunto habitacional; 2. Espaço público; 3.Desenho urbano; 4. Potencialidades; 5. Bairro I. Anhesim, Aline Alves. II. Universidade Estadual Paulista. Faculdade de Ciências e Tecnologia. III. Leituras urbanas: ensaios projetuais no Mário Amato


UNIVRSIDADE ESTADUAL PAULISTA CAMPUS DE PRESIDENTE PRUDENTE FACULDADE DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO II Jan/2018

LEITURAS URBANAS ensaios projetuais no mário amato

Maria Angélica Mocci sob orientação da Profa. Ma. Aline Alves Anhesim


[dedicatória]


a mãe, pai, carulina, matheus e dado, vidas da minha vida


[agradecimentos] Agradecer em um trabalho final de graduação, para mim, não é simplesmente citar quem esteve comigo durante a execução deste que é meu último trabalho desenvolvido enquanto graduanda, é agradecer as pessoas que participaram da minha construção enquanto pessoa e profissional durante estes seis anos em que estive na Unesp de Presidente Prudente. [Lembrando que a ordem não indica preferência.] Ao meu pai, Luiz, por todo apoio em tudo que eu sempre fiz, por me incentivar a ser uma pessoa melhor e buscar novas experiências. A minha mãe, Lindamir, por todo amor, dedicação e incentivo em todos os meus projetos, mesmo que estes significassem passar alguns meses há milhares de quilômetros de distância. A Ana Carolina, minha irmã mais velha, que às vezes parece mais nova, às vezes parece mãe e sempre parece, e é, minha melhor amiga, por ser meu maior espelho, por sempre me acompanhar nos estudos, nos vestibulares, na universidade e na vida. Ao Matheus, meu irmão mais velho, por sempre me mostrar que podemos ser nossa melhor versão. Ao Dado [Leonardo], meu irmão(zinho), por sempre querer entender o que eu estava inventando dessa vez, por me mostrar que inteligência não tem idade e que ter discussões saudáveis mesmo diante de ideias opostas é a chave para uma boa conversa. A Vó Eva, por todo amor e por ter passado os genes da vontade de viajar para toda a família. Ao Barth, que conviveu com nossa família por quase nove anos e esteve, literalmente, sempre ao meu lado, enquanto eu estudava para o vestibular, e depois, fazia os trabalhos da faculdade, saudade que não tem fim. As minhas amigas, Anoca, Gico, Lau e Mari, por serem as melhores pessoas que eu poderia conviver na faculdade. Todo meu amor e gratidão a tudo que vivemos e que ainda iremos viver, vocês são sempre lindas. Prudente nunca mais foi a mesma depois que vocês se formaram. Ao João Lucas, por todo companheirismo, amor e paciência nesses quase quatro anos, por me incentivar e motivar em todos os momentos.


A Marli, por ter me ajudado, muito mais do que imagina, a superar meus medos e incertezas, parte fundamental da minha vida desde 2014. Aos amigos dos intercâmbios por toda a vivência compartilhada, {dekuji, Hanna a Aneta, moje česká rodina}. Ao Jorge e a Tereza por sempre estarem disponíveis e serem quase a minha segunda casa aqui. A todas e todos que passaram pelo Curtiço nesse período, por serem minha família. As amigas de Palotina, Isa, Lê e Tamis por me acompanharem desde o ensino fundamental. A Turma X, por ser a melhor sala que eu poderia ter, morro de saudades. A Atlética, Empresa Júnior de Arquitetura e Urbanismo Ópera Krios e Comissão Organizadora da XI Semana de Arquitetura e Urbanismo, por me mostrarem que uma graduação é muito mais – muito mais mesmo – que simplesmente assistir aulas, toda a minha gratidão a quem esteve comigo nestas comissões. Ao Briza, Luana e Renan por estarem comigo neste último ano, por serem companhia de trabalhos e risadas nessa prorrogação da faculdade, obrigada por tudo que são e que me tornaram em 2017, ficar um ano mais em Prudente foi incrível por conta de cada um de vocês. Muito obrigada por não me deixarem enlouquecer e ser mais leve, sempre. A quem me ajudou diretamente neste trabalho, minha orientadora Aline, por ser uma das melhores professoras que tive na graduação, me sinto lisonjeada de ter tido o exemplo do que é de fato ser uma boa orientadora e ao Professor Catelan pelas considerações feitas na primeira banca. Aos moradores do Mário Amato e Ana Jacinta por toda a colaboração nas entrevistas e levantamentos, e principalmente a Dulce, por ter contribuído tanto não só no trabalho, como também na minha vida. Por fim, a Unesp de Presidente Prudente, por ser minha casa, por me acolher e me tornar quem eu sou hoje, acredito que muito melhor do que quando entrei com 17 anos. São boas lembranças de uma época muito feliz. E a quem tem em mãos este trabalho agora, espero que a leitura seja agradável.



v, de viagem Viajar me deixa a alma a rasa, perto de tudo, longe de casa. Em casa, estava a vida, aquela que, na viagem, viajava, bela e adormecida. A vida viajava mas não viajava eu, que toda viagem é feita só de partida. (LEMINSKI, 2013)



01 introdução

p. 14

1.1 como tudo começou p. 16 1.2 proposta metodológica p. 17 1.3 tema + objetivos p. 19

02 percursos teóricos

p. 24

2.1 a cidade contemporânea p. 25 2.2 a retomada do espaço público p. 37 2.3 a vivência no bairro p. 49

03 percursos locais

p. 52

3.1 lá para os lados do ana jacinta p. 53 3.2 as primeiras aproximações p. 59 3.3 leituras urbanas p. 61 3.3.1 o mário amato

p. 67

3.3.1.1 toda viagem é feita só de partida p. 85

04 ensaios projetuais

p. 102

4.1 referências projetuais p. 112 4.2 plano p. 117 considerações finais p. 162 índice de imagens p. 163 bibliografia p. 170 referências p. 172 apêndice p. 178


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A cidade constrói-se dia a dia, mas não esqueçamos que toda a construção se processa a par de uma destruição, e que tudo na vida, segundo um destino inelutável, tem como pano de fundo uma morte. Uma cidade que se constrói é, ao mesmo tempo, uma cidade que se destrói; e é precisamente na maneira de articular esta dupla operação de construçãodestruição que reside a possibilidade de as cidades se desenvolverem harmoniosamente, visto que o ideal é que a construção se faça com o mínimo de destruição possível e, sobretudo, que essa destruição não seja senão uma readaptação inteligente às novas exigências. (GOITIA, 2003, p. 189).


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[1.1 como tudo começou] No oitavo semestre da faculdade nos foi proposto como projeto de arquitetura, urbanismo e paisagismo (PAUP) um exercício até então nunca feito: um projeto ficcional para um lugar sem destinação, em que deveríamos partir à deriva pela cidade de Presidente Prudente em busca do lugar que abrigaria tal exercício projetual. Assim, enquanto andava pela cidade, me lembrei de um bairro que no início da faculdade um colega que morava lá tinha me dito “ah, o Ana Jacinta é outra cidade, lá é muito grande. ”. Foi assim que, não à deriva, me dirigi até o Conjunto Habitacional Ana Jacinta e aí sim, ao chegar lá iniciei um andar sem destinação. Sabia muito pouco do bairro e me encantei assim que cheguei, era um sábado à tarde e alguns moradores estavam fazendo churrasco no parque que existe lá, andei bastante e logo me perdi, não sabia mais como fazer para voltar para casa e tive que olhar no GPS do celular. Quando voltei, decidi que faria o projeto fictício em outra área e que no Ana Jacinta faria meu trabalho final de graduação. No tempo que se seguiu fui várias vezes até o bairro, conversei com as pessoas, andei bastante e me perdi várias vezes, gostava de ir até lá principalmente aos finais de semana por sentir a mesma sensação que se tem quando se está em uma cidade pequena: que todos se conhecem, que há intimidade entre os vizinhos, o comércio local em que os moradores pagam “fiado” entre outras coisas. Foi somente na quarta ou quinta vez que estive na área que me dei conta de que as pequenas vielas, o parque pouco interessante e a área de preservação permanente cercada, áreas que já estava pensando em intervir, não eram do Ana Jacinta, mas sim o Conjunto Habitacional Mário Amato – o bairro vizinho. Nesse sentido, decidi então mudar minha ideia inicial e explorar um bairro que mesmo tendo se formado ao lado do Ana Jacinta, era tão diferente deste. A partir disso, me dirigi até o bairro diversas vezes com a proposta de caminhar sem destinação, lá tive conversas informais com os moradores, percebi muitas apropriações pelas calçadas e permiti me perder, mesmo diante do medo não saber como voltar. Criada em uma família de classe média, quase sempre circulando de carro em Presidente Prudente, andare


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a zonzo 1 se mostrou para mim como um grande desafio, com um intenso contato com outra realidade, com o Outro. Na última edição de Walkscapes: o caminhar como prática estética, Careri (2013) explora a questão do encontro com o Outro, “ (...) do caminhar para topar com o Outro, da decisão de deter-se para construir um espaço de encontro entre diversos, (...)” (p. 174) e ao ler isso me propus a aceitar esse desafio, a conversar com as pessoas e a enfrentar o meu medo de andar. Além disso, outra passagem do livro norteou diretamente a escolha da área do meu trabalho, bem como a maneira como eu viria a conduzi-lo. Na América do Sul, caminhar significa enfrentar muitos medos: medo da cidade, medo do espaço público, medo de infringir as regras, medo de apropriar-se do espaço, medo de ultrapassar barreiras muitas vezes inexistentes e medo dos outros cidadãos, quase sempre percebidos como inimigos potenciais. Si mplesmente o caminhar dá medo e, por isso não se caminha mais; quem caminha é um sem-teto, um mendigo, um marginal. (CARERI, 2013, p. 170, grifo nosso).

O que Careri diz é verdade e ainda, uma realidade para mim. Quando iniciei as leituras sobre a teoria da deriva, havia acabado de voltar de um trabalho voluntário na República Tcheca onde, sem medo algum, andava por tudo. Não entendia nada da língua, mas pegava o transporte público sem problema algum, pedia ajuda à pessoas estranhas, fazia amizade com estrangeiros – tudo com muita naturalidade. Ao voltar e ler o livro de Careri me dei conta do paradoxo no qual eu me encontrava: por que andar na Europa parecia tão fácil? Por que no Brasil eu me recuso a sair da minha bolha de ar condicionado? Por que evito tanto o contato com o próximo? Do que eu tenho medo? Das pessoas? Ou o que eu tenho são pré-conceitos ainda enraizados da minha criação em uma cidade pequena? Foi com essas indagações e provocações que me propus a andar e conhecer o Outro: o outro brasileiro, que mora na mesma cidade que eu, que circula pelas mesmas ruas que eu, mas que até então, para mim, era invisível. Foi assim que tive os primeiros contatos com os moradores do bairro e iniciei as pesquisas sobre a história do local.

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“Walkscapes de Francesco Careri é, desde seu lançamento em 2002, um pertinente convite ao caminhar, um convite ao andare a zonzo (“andar à toa”) (...)” (JACQUES, 2013, p. 1).


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[1.2 proposta metodológica] Neste trabalho final de graduação, o método é compreendido como o processo por completo, ou seja, a escolha do tema, os fundamentos teóricos, a metodologia como a observação do uso dos espaços públicos do bairro, coleta de dados e produção de mapas e a proposta projetual. O objeto de pesquisa deste trabalho diz respeito à relação dos habitantes do Conjunto Habitacional Mario Amato com os seus espaços públicos, portanto, o que se procura estudar é a relação do sujeito social enquanto produtor de espaços, lembrando que, a pesquisadora também é um sujeito social, o que torna ainda mais complexo o processo de produzir informações. Conhecer essas pessoas, como se relacionam com o espaço, como constroem suas trajetórias contribui para a escolha da metodologia. Diante disso, a pesquisa qualitativa é a que melhor se adequa à proposta de projeto, por procurar destrinchar o modo de viver e de habitar na região estudada, para isso, foram utilizadas ferramentas como: entrevistas, notas feitas em observações em campo, conversas, fotografias, colagem de imagens, bem como pesquisas anteriormente feitas na mesma área. Além disso, as principais características dos métodos qualitativos são a imersão de quem pesquisa no contexto e a perspectiva interpretativa de condução da pesquisa (KAPLAN; DUCHON, 1988 apud MORESI, 2003). No livro Projeto do Lugar: colaboração entre psicologia, arquitetura e urbanismo2, a professora arquiteta Eneida Mendonça da Universidade Federal do Espírito Santo apresenta a metodologia de percepção do meio ambiente que utiliza em uma de suas disciplinas, que engloba “três abordagens principais” e que aqui será utilizada. A análise da área envolve três abordagens principais. A primeira classificada como primeiras aproximações consiste em apresentar, em tempo relativamente curto,

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MENDONÇA, Eneida Maria Souza. A percepção ambiental da introdução ao estudo do espaço urbano: registro, análise e projeto. In: DEL RIO, Vicente; ROSE, Cristiane; RHEINGANTZ, Paulo Afonso (Org.). Proj eto d o lugar: colaboração entre psicologia, arquitetura e urbanismo. Rio de Janeiro: Contra Capa/PROARQ, 2002. p. 79-87.


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conhecimento geral sobre o bairro. Esse conhecimento compreende evolução urbana e percepção geral quanto ao uso do solo e à estrutura viária, além de aspectos socioeconômicos. A segunda, inaugurando momento denominado aprofundamento da percepção ambiental, envolve o registro da imagem do bairro, a partir de elementos percebidos em visitas sucessivas, estimulando-se a identificação de limites, setores, marcos, nós e percursos, conforme conceitos praticados por Kevin Lynch. A terceira abordagem procura tratar de uma análise da estrutura fundiária e da identificação das tipologias arquitetônicas existentes no bairro, para auxiliar na reflexão sobre a relação entre edifício e meio urb ano e sua inserção na paisagem natural. Abordagens complementares enfocam, ainda, a identificação de locais agradáveis e desagradáveis, de formas alternativas de apropriação do espaço urbano pela população e de vivências e relações sociais diante do contexto arquitetônico e urbano do bairro.” (MENDONÇA, 2002, p. 81).

Assim, a metodologia aqui adotada consiste nessa mesma linha de raciocínio adotada por Eneida: primeiras aproximações, leituras do território e diretrizes projetuais. A primeira parte consiste na aplicação da teoria da deriva e pesquisas gerais sobre o bairro, a segunda trata-se de toda a leitura gráfica do bairro, com base em sete autores: Ian Bentley (1999), Gordon Cullen (2015), Vicente del Rio (1989), Douglas Farr (2013), Allan Jacobs (1995), José Lamas (2004) e Kevin Lynch (1997) e por fim, com base em toda a análise feita, tanto do bairro como de outros projetos de intervenção no meio urbano em diferentes escalas, foi proposto um projeto para o bairro.

[1.3 tema + objetivos] Dentre as diversas temáticas com as quais é possível trabalhar dentro do universo da arquitetura e do urbanismo, a ideia de estudar a cidade sempre foi a que mais me agradou. O trabalho desenvolve-se então, a partir de uma indagação pessoal a respeito de como a cidade de Presidente Prudente vem sendo produzida e a relação de seus citadinos com os espaços públicos. Ao propor a cidade como objeto de estudo, é preciso ter em mente que pensar seu planejamento ultrapassa o entendimento das condicionantes físicas do território, uma vez que as relações sociais que nela se desenvolvem devem ser consideradas. A conceituação de cidade desenvolvida por Netto (2014, p. 19) expõe claramente este ponto:


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Cidades são formas extraordinárias de vida coletiva – meios para nossas interações em intensidades talvez impossíveis de serem alcançadas sem sua espacialidade particular. Elas expressam nossa natureza profundamente comunicativa, habitam nosso imaginário, amparam e ampliam nossa capacidade de produzir ideias, artefatos, técnicas que viabilizam nossa continuidade; e o fazem em uma escala sempre crescente – uma escala cujo limite não conhecemos.

Essa perspectiva, além de oferecer elementos para pensar o desenho urbano para além dos limites físicos, possibilita uma abordagem mais humana da cidade. O autor ainda discorre que “as cidades também mediam nossa experiência do mundo e do Outro” (NETTO, 2014, p. 19). Adotando-se essa maneira de assimilar a cidade, este trabalho desenvolve-se justamente nesta questão: compreender o Outro. Em uma interpretação pessoal, entende-se o Outro, como uma pessoa distante da minha realidade, alguém que mora em um bairro no qual eu não convivo, que utiliza o espaço público de formas distintas da minha e que mantém relações sociais também diversas daquelas às quais estou ambientada. Como explanado anteriormente, o foco do trabalho é a relação dos prudentinos com os espaços públicos, contudo, não é possível entender o espaço público sem conhecer a cidade, uma vez que aquele está estreitamente ligado à realidade desta e aos valores da civilização: desde a ágora grega, a cidade é concebida como lugar onde tem podido conviver diferentes modos de vida, culturas e concepções do mundo. As pessoas têm opiniões diferentes e ideias diferentes, e, portanto, sua participação marca a heterogeneidade que caracteriza a composição da cidade.3 O processo de urbanização, provocado por distintos processos espaciais e agentes sociais resultou em cidades caracterizadas por espaços fragmentados, que foram moldados em diferentes momentos do tempo (SOUZA, 2013, p. 9). Essa maneira de produzir o espaço urbano reflete a lógica do sistema capitalista, formando um mosaico irregular 4, em que há desigual distribuição dos equipamentos urbanos, comerciais e de serviços de infraestrutura no território da cidade, além de uma expansão descontínua que resulta, entre outros fatores, em conjuntos habitacionais instalados na

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GOES, Eda. Notas de aula da disciplina Metrópoles e Cidades Médias. Presidente Prudente – SP, FCT UNESP, 12/01/2015. 4

Conceito utilizado por Souza (2013) para explicar o processo de formação da cidade capitalista.


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periferia das cidades enquanto inúmeros “vazios urbanos” existentes dentro da malha urbana permanecem inutilizados. Diante do desafio de analisar e propor novas soluções para este espaço heterogêneo que é a cidade, o recorte espacial de um bairro se mostrou como a melhor maneira de realizar este processo. Nesse sentido, o Conjunto Habitacional Mário Amato no Município de Presidente Prudente – SP foi escolhido como espaço de referência para este estudo empírico, devido ao seu contexto de formação: conjunto habitacional de interesse social construído no início da década de 1990 com o intuito de diminuir o déficit habitacional da referida cidade. A proposta para o trabalho final de graduação se configura, portanto, como uma análise do Conjunto Habitacional Mário Amato, a partir de vivências e experiências no próprio local, a fim de entender as relações socioespaciais que nele ocorrem e a partir disto, propor projetos urbanos que dialoguem com as formas de apropriação já existentes. E é nesse sentido que se desenvolve essa pesquisa, diante de uma inquietação pessoal sobre como o Conjunto Habitacional Mário Amato foi implementado: houve preocupação com os espaços públicos? Como eles foram pensados e construídos? Qual a relação existente hoje dos moradores com esses espaços? O desafio de produzir este trabalho direciona-se para a análise do espaço urbano, das apropriações que nele ocorrem e que permeiam o imaginário dos moradores do Mário Amato. A principal intenção seria, portanto, formular propostas projetuais que “estimulem a interrogação do usuário e sejam capazes de “responder” às solicitações, estruturas de hospitalidade incondicional, não seletivas ou inibidoras.” (GUATELLI, 2010, p. 3). Dessa maneira, busca-se propor espaços fluidos, que permitam maior liberdade de ação por parte


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do usuário, que não seria apenas contemplativo e obediente às intenções do arquitetourbanista, mas sim, seria parte fundamental do processo de (re)criar e (re)programar o espaço. Diante disso, pretende-se propor uma alternativa à maneira como o espaço urbano público vem sendo produzido em Presidente Prudente, ou seja, a proposta delineia-se no sentido de promover espaços que priorizem a escala do pedestre e que fujam da padronização empregada nas áreas de lazer da cidade, com o intuito de redescobrir o singular a partir da ressignificação dos espaços públicos para além do convencional. 1. 2.

3. 4. 5.

6.

A proposta projetual almeja responder a essa pergunta por meio do-s seguintes objetivos: Priorizar a escala do pedestre, uma vez que trabalhar com este nível é a chave para alcançar melhores condições para a dimensão humana e consequentemente para aumentar a vitalidade das cidades, tornando-as mais seguras, saudáveis e sustentáveis. (GEHL, 2013); Projetar na área escolhida espaços que sejam capazes de potencializar e criar relações de vizinhança; Pensar na escala humana, não no sentindo de negar o impacto do sistema viário, mas sim de diminuí-lo; Repensar o desenho urbano no bairro sem a pretensão de dar respostas determinantes sobre o que seria “certo/errado”, mas sim, despertar toda a potência do espaço público; Propor espaços que dialoguem com a infraestrutura já existente;

Por fim, este trabalho final de graduação desenvolve-se com a finalidade de qualificar os espaços públicos do Conjunto Habitacional Mário Amato, com o propósito de resgatar áreas subutilizadas, através dos projetos urbanísticos que serão propostos no bairro.


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[2.1 a cidade contemporânea] Desde a segunda metade do século XX, a população urbana é superior à rural no Brasil, nesse período o número de residentes em cidades aumentou de 19 milhões para 138 milhões1, expressando um rápido processo de urbanização. O processo de industrialização pelo qual o país passava, representado mais intensamente nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, acentuou os movimentos migratórios, provocando desequilíbrios regionais e sociais (BRITTO, 2006, p. 224). O intenso crescimento das cidades não se deu de forma homogênea em todos os lugares, e ainda, as rápidas transformações produzidas e vividas no meio urbano têm resultado em uma compreensão cada vez mais difícil da cidade como “artefato” e como “ideia”, conforme discorre Laura M. Viscena (2010, p. 19). Nesse sentido, permanece um questionamento: se tem sido cada vez mais difícil compreender os processos que compõe a cidade, como defini-la? Cidade é uma palavra polissêmica e carregada de historicidade, “nesta dimensão aparece como trabalho materializado, acumulado ao longo do processo histórico e desenvolvido por uma série de gerações.” (CARLOS, 2004, p. 7). Nesse sentido, a cidade é um fato social, posto que ela não é somente planejada e estruturada, é também produzida – é resultado de uma confluência de forças que juntas formam o que conhecemos como cidade 2. Não é possível analisar a cidade sem levar em consideração a sociedade que nela está inserida, não raro, nos referimos a uma sociedade pela maneira como esta produz e reproduz seu espaço urbano. Tem-se então que o processo de produção da cidade não pode ser separado do processo de reprodução da sociedade, conforme afirma Carlos (2004, p. 19): O homem se apropria do mundo, enquanto apropriação do espaço – tempo determinado, aquele da sua reprodução da sociedade. Assim se desloca o enfoque da localização das atividades, no espaço, para a análise do conteúdo da prática

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Fonte: BRITTO, Fausto. O deslocamento da população brasileira para as metrópoles. E studos Avan çados, 57, USP, p. 221-236, 2006. 2

SPOSITO, Maria Encarnação Beltrão. Notas de aula da disciplina Produção e Consumo do Espaço Urbano. Presidente Prudente – SP, FCT UNESP, 07/03/2016.


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sócio espacial, enquanto movimento de produção / apropriação / reprodução da cidade. Tal fato torna o processo de produção do espaço indissociável do processo de reprodução da sociedade – neste contexto a reprodução continuada da cidade se realiza enquanto aspecto fundamental da reprodução ininterrupta da vida.

A maneira como a sociedade vem atuando enquanto (re) produtora do espaço urbano tem provocado intensas mudanças na cidade, tendo sido enfoque de diversos estudos – autores das mais variadas áreas analisam as relações socioespaciais, conceituando a cidade contemporânea como: cidade global, cidade difusa, cidade em rede, cidade dual, cidade fractal, cidade genérica, entre outras (VISCENA, 2010). Não obstante, apesar da diversidade de neologismos para denominar a cidade do século XXI, a maioria dos autores contemporâneos parecem coincidir quando apontam os processos ligados à chamada “globalização” como fatores determinantes das mudanças no espaço urbano e no território. Estes processos, que não são novos, estariam acontecendo de uma nova maneira fundamentalmente por duas causas principais: a) o desenvolvimento de novas tecnologias de comunicação, b) a liberalização dos mercados e financeirização da economia mundial. (VISCENA, 2010, p. 21).

As inovações tecnológicas têm provocado muitas mudanças na maneira como as pessoas se relacionam com o tempo e com o espaço, a comunicação tornou-se instantânea e a urbanização tem acontecido de forma fragmentada, os interesses privados têm pautado como a cidade vai se desenvolver. Prévôt-Schapira e Pineda (2008, p.73) esclarecem que o termo “fragmentação” tem sido objeto de respeitáveis estudos acadêmicos, sendo que no continente latino-americano a noção da expressão foi introduzida pela primeira vez no Brasil por Santos (1990) para descrever as evoluções da economia metropolitana no novo marco da globalização. Isto porque, o autor destacava que o modelo “centro-periferia” até então usado para descrever as cidades latino-americanas, já não era mais válido devido às novas formas de segregação nas cidades consolidadas. Assim, surgiu outra terminologia: a cidade fragmentada. Francesco Careri também pauta seus estudos nessa ideia de que a cidade “centro-periferia” já não é mais uma realidade, como salienta em seu livro Walkscapes: o caminhar como prática estética (2013): Percorrendo hoje a mesma seção, caminhando pela mesma rota, a sequência dos espaços não é mais tão simples. Os nossos pés encontrariam uma série de


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interrupções e de retomadas, fragmentos de cidade construída e de zonas não construídas que se alternam reciprocamente numa contínua paisagem do cheio ao vazio. Aquela que acreditávamos ser uma cidade compacta revela-se cheia de buracos muitas vezes habitados por culturas diversas. E se ainda conseguíssemos alcançar um lugar alto a partir do qual observar o panorama, esse ponto de vista já não seria muito tranquilizante, seria difícil reconhecer nesse estranho magma uma cidade com um centro e uma periferia. Pelo contrário, nos encontraríamos frente a uma espécie de pele de leopardo, com manchas vazias dentro da cidade construída e com manchas cheias bem no meio do campo. (CARERI, 2013, p. 162).

Ademais, o movimento de privatização dos espaços e dos serviços, que provoca uma menor participação do Estado na dinâmica da cidade tem ocasionado diversas consequências. Pois desta maneira, o poder público que deveria promover uma cidade com acesso igual a todos, perde força diante dos novos agentes de transformação do espaço urbano – as empresas privadas. Portanto, estes atores acabam por formar um espaço urbano baseado naquilo que melhor lhes convém, seja pela implantação de empreendimentos residenciais murados, que provocam uma descontinuidade na malha urbana, seja pela edificação de shoppings centers ou outras iniciativas privadas ligadas à economia global. As grandes transformações econômicas e sociais derivadas do processo de globalização vem gerando mudanças na configuração e nos modos de vida urbano, expandindo as cidades para suas periferias sob o modelo complexo de cidade-região, caracterizado por consideráveis níveis de desigualdade social. Complexidade esta, que é resultado tanto das novas funções e relações que a cidade assume, como da diversidade sociocultural representada pelos setores sociais integrados ao sistema de globalização, que dividem a cidade desigualmente, promovendo espaços que convivem com diversos níveis de exclusão, caracterizando assim, a cidade fragmentada. Os chamados “aparatos da globalização” (shopping malls, bairros fechados, complexos comerciais e de escritórios de grandes empresas) estariam, assim, remodelando as paisagens metropolitanas latino-americanas e transfigurando a imagem das cidades (Mattos, 2002), mas também agudizando as diferenças e o isolamento com a outra cidade, a cidade “empobrecida”. Se a crescente mobilidade individual das pessoas e das empresas estimula a tendência à metropolização expandida, ainda existe uma grande porção da população que, não por opção, mora em áreas cada vez mais distantes do centro, que carecem de infraestrutura e que dependem de redes de transporte público obsoletas. (VISCENA, 2010, p. 35).


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[Fig 1 e 2: Aparatos da globalização. Fonte: autora, 2016.]


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Além disso, a própria maneira como a urbanização se dá no Brasil, em que o automóvel é tido como principal meio de transporte, acaba por produzir cidades cada vez mais fragmentadas. Em apresentação ao livro Os Novos Princípios do Urbanismo, de François Ascher (2010), Nadia Somekh discorre com clareza sobre este ponto: De forma fragmentada, o processo de urbanização no Brasil ocorre para dar espaço ao automóvel e ao desenvolvimento do capital imobiliário, sem procurar a essência da modernidade que é a superação das necessidades básicas do homem. (SOMEKH in ASCHER, 2010, p. 12).

Contudo, conforme esclarece Miño (2004, p. 54), a cidade de Presidente Prudente não pode ser caracterizada como uma cidade fragmentada, “a estruturação do espaço urbano prudentino não comporta, totalmente a ideia da fragmentação e sim da segregação.” E ainda esclarece: Por outra parte, devemos diferenciar o processo de fragmentação do espaço que é uma dinâmica global, presente tanto nas metrópoles como em cidades grandes, médias e pequenas, ligado à condição de mercadoria do solo urbano, recortado e vendido aos pedaços, que tem seus efeitos também no plano no vivido. (p. 55).

Presidente Prudente é caracterizada por um forte processo de segregação, em que vazios são deixados em meio à malha urbana e conjuntos habitacionais são instalados nas bordas do perímetro urbano (Mapa 1). Nesse sentido, o Conjunto Habitacional Mário Amato tem sua história de formação pautada por estas características, entretanto, é preciso ressaltar que mesmo diante de sua distância do centro, o núcleo Ana Jacinta (Conjunto Habitacional Ana Jacinta, Jardim Prudentino, Conjunto Habitacional Mário Amato, Chácaras Azaleia I e II, Residencial Monte Carlo, Residencial Anita Tiezzi e Jardim Novo Prudentino) (Mapa 2) com suas mais de quatro mil habitações acabou por se tornar praticamente uma unidade autônoma da cidade. São diversos os casos de pessoas que não moram nesses bairros, como também trabalham neles, tendo em vista que há pequenas indústrias, serviços e comércios oferecidos na área. Entende-se então que o processo de segregação que acabou por determinar a localização do bairro, resultou também na formação de um núcleo urbano dentro da cidade que é conhecido pelos próprios moradores como uma “cidade pequena”, haja vista todos os equipamentos que possui e a distância de dez quilômetros do centro de Presidente Prudente.


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Para o sociólogo francês François Ascher, a sociedade contemporânea está passando por intensas transformações que se dão por diversos fatores, como o próprio processo de globalização. Como não se pode pensar em sociedade sem cidade, essas mudanças se dão também na forma como as pessoas interagem com o meio urbano: a maneira como o espaço vem sendo produzido e reproduzido não é a mesma de 40 anos atrás. Nesse sentido, o autor argumenta que o que vivemos hoje pode ser considerado uma revolução urbana, “a terceira desde a revolução da cidade clássica e da cidade industrial.” (2010, p. 18).

As sociedades ocidentais estão em mutação, entrando em uma nova fase da modernidade em que assiste à evolução profunda das maneiras de pensar e agir, da ciência e da técnica, das relações sociais, da economia, das desigualdades sociais e das formas da democracia. (ASCHER, 2010, p. 17)

O autor defende que a modernização não pode ser considerada um estado, não se trata de algo estático, [Fig 3: François Ascher. Fonte: Lafarge, 2005.] mas sim de um processo constante, assim, “o que diferencia as sociedades modernas das outras é o fato de a mudança ser o seu princípio essencial” (p. 21). Na concepção de Ascher, a modernização pode ser desmembrada em três fases; a primeira delas diz respeito ao período que marca o fim da Idade Média até o início da Revolução Industrial, caracterizada pelo desenvolvimento do pensamento dito racionalista e pela expansão do capitalismo, primeiro o mercantil e posteriormente, o industrial. Já a segunda fase data do início da Revolução Industrial até aproximadamente à década de 70 do século passado, sendo distinguida pelo significativo desenvolvimento da indústria, atrelado à lógica capitalista, além do “pensamento técnico ocupando um lugar central na sociedade”. (ASCHER, 2010, p. 23). Nessa época, a emergência do capitalismo industrial ocasionou intensas mudanças no meio agrícola, gerando uma migração do campo para a


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[Fig 4. Linha do tempo esquemática com as Revoluções urbanas elencadas por Ascher. Fontes (da esquerda para a direita): Ruadireita.com, 2017; Historiando.com, 2015; Fuscaclassic.com, 2010; Autora, 2017.]

cidade, o que por sua vez, alterou a forma como as pessoas se relacionavam com o espaço urbano, tendo em vista a expansão expressiva das cidades. O último período elencado pelo sociólogo, denominado de terceira revolução urbana diz respeito à contemporaneidade, em que as novas tecnologias desencadearam novas formas de relacionamento não só interpessoais, mas também de trabalho, estudo e com a própria cidade. Exemplo disso são as zonas de internet livre cada vez mais presentes nos espaços públicos, caracterizando as atuais interações existentes na cidade contemporânea. Foi na segunda fase da modernização, mais especificamente na virada do século XIX para o XX, com as problemáticas urbanas latentes na vida ocidental que os primeiros estudos acerca da cidade começam a ser publicados. “A partir desse momento, a cidade é claramente o lócus central de relações econômicas, de fluxos, de interesses, riqueza e pobreza, de enriquecer, servir e trabalhar, abolindo, gradualmente, uma relação simplista de oposição do espaço construído e do espaço natural ou rural. ” (ULTRAMARI, 2009, p. 25). Este contexto de rápido crescimento das cidades, que foi pouco planejado, atrelado à industrialização fez com que novas demandas surgissem, propiciando a gênese do que viria a ser denominado urbanismo. Ora, no momento em que a cidade do século XIX começa a tomar forma própria, ela provoca um movimento novo, de observação e reflexão. Aparece de repente como um fenômeno exterior aos indivíduos a que diz respeito. Estes encontram-se diante dela como diante de um fato natural, não familiar, extraordinário, estranho. (CHOAY, 1996, p. 4)


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Seu surgimento formal se deu, conforme elencado em diversos estudos, com a publicação de Teoria Geral da Urbanização, de Ildefonso Cerdá3, em 1867. Posteriormente, o urbanismo passa a ser considerado um campo de estudo com a criação da Sociedade Francesa de Arquitetos-Urbanistas, em 1914, e dez anos mais tarde, tem-se a inauguração do Instituto de Urbanismo da Universidade de Paris, na França. Neste movimentado início do século XX, arquitetos europeus notaram uma convergência de pensamentos na maneira de projetar, e nesse contexto, de modo a concentrar essas análises em uma associação profissional, criaram os Congr essos Internacionais de Arquitetura Moderna (Congrès Internacionaux d’Arquitecture Moderne – CIAM) com o objetivo de debater e promover a arquitetura modernista. Devido ao acelerado e desordenado processo de urbanização que marcou este período, as maiores preocupações em relação à cidade voltavam-se para a questão da higienização, de maneira que “médicos influíam decisivamente em assuntos de ordenamento espacial, e foram eles, muitas vezes, os primeiros planejadores.” (SOUZA, 2015, p. 254). E é nesta conjuntura que o urbanismo modernista aflora, transpondo para o cenário urbano, a lógica industrial. É nesse contexto que emergem progressivamente novas concepções da cidade, marcadas fundamentalmente pelas mesmas lógicas que regiam o mundo industrial dominante. (...). A noção-chave é a da especialização: o taylorismo a sistematizara na indústria, onde tratará de decompor e simplificar as tarefas para tornar sua realização mais rentável. O urbanismo moderno vai colocá-la em prática sob a forma de zoneamento que, mais tarde, Le Corbusier e a Carta de Atenas levarão ao extremo. (ASCHER, 2010, p. 26).

Assim, influenciados por uma série de variáveis, como a racionalidade da produção industrial, obsessão pela ordem e pela higiene, complementada pela ideia de modernidade, os modernistas, e especialmente Le Corbusier, lançaram suas diretrizes para a cidade na Carta de Atenas, em 1933, em que os diferentes usos dados ao solo urbano – produzir, circular, morar e recrear-se – eram separados em zonas.

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Engenheiro urbanista e político responsável, entre outros projetos, pelo Plano Cerdá de extensão da cidade de Barcelona na metade do século XIX.


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A defesa da separação de usos, sempre em nome da higiene e da ordem, recorria a imagens e metáforas simples mas de grande efeito persuasivo, como a da cidade apresentada como um “organismo doente”, carente da regeneração a ser propiciada pela intervenção revitalizadora (e salvadora) do saber urbanístico, capaz de adaptar o espaço urbano à “era da máquina”, retórica bastante martelada por Le Corbusier [...] (SOUZA, 2015, p. 254).

Tem-se então, um modelo de planejamento pautado na racionalidade, em que o automóvel particular é extremamente valorizado, propunha-se separá-lo do trânsito pedonal, projetando ruas cada vez mais largas. Este fato, atrelado à valorização de edifícios no planejamento urbano fez com que a escala humana se perdesse, a cidade era pensada “do alto e de fora” 4, com plantas funcionalistas que eram desenhadas para que tudo seguisse uma lógica perfeita. Entre 1914 e 1945, a Europa viveu o horror de duas Guerras Mundiais e teve inúmeras cidades devastadas, é nesse contexto de reconstrução que até aproximadamente a década de 1970, os ideais modernistas serão aplicados. Tem-se então, governos locais preocupados com resultados rápidos e expressivos que veem no pensamento funcionalista e racionalista do modernismo uma oportunidade de rápida reconstrução de edifícios, quadras, bairros e cidades. Os projetos modernistas são massivamente aplicados e o que antes fora inovador e polêmico, ao ser utilizado maciçamente por “projetistas menores” resulta em “monotonia e banalidade” (LAMAS, 2004, p. 278). A concepção do pensamento sistematizado do movimento moderno facilitou sua aplicação em diversas cidades de uma forma não tão brilhante como os arquitetos do início do século XX haviam pensado, o planejamento urbano foi entregue à arquitetos que não detinham total noção do modernismo ou à própria burocratização do sistema, que para facilitar a tomada de decisões deixou a cargo de administradores e engenheiros a tarefa de desenhar a cidade. Lamas cita como exemplo o fato de que na França e em Portugal, a dissociação do projeto urbano em zonas monofuncionais, fez com o que o sistema viário fosse priorizado,

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Planejar cidades e empreendimentos do alto e de fora, significa, basicamente, que apenas as duas escalas maiores – escala urbana e escala do empreendimento – foram adequadamente contempladas. (GEHL, 2013, p. 196).


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tornando a engenharia de tráfego o “motor do planejamento, com os traçados de vias antecedendo os traçados urbanos e dando papel condutor aos engenheiros em detrimento dos arquitetos urbanistas” (2004, p. 300). Ascher oferece importante contributo à esta questão: As cidades e o urbanismo conheceram, assim, uma verdadeira revolução urbana para chegar, por fim, a um urbanismo fordista-keynesiano-corbusiano, expressão de uma racionalidade simplificadora com seu planejamento urbano, seu zoneamento monofuncional, suas armaduras urbanas hierárquicas, adaptado à produção e ao consumo de massa em centros comerciais, suas zonas industriais e sua circulação acelerada e uma materialização também do Estado de bem-estar com seus equipamentos coletivos, serviços públicos e habitações sociais. (ASCHER, 2010, p. 28).

No Brasil, o core do pensamento modernista está na Capital Federal Brasília que construída na década de 1950 a pedido do então presidente Juscelino Kubitschek, teve todo o seu projeto pensado com base nas concepções teóricas do movimento moderno, tendo como principal figura o arquiteto e urbanista, Lucio Costa. Brasília é um exemplo de cidade cujo conceito foi formado pela utopia, o projeto modernista se baseou no pensamento de que novas formas de ambiente construído iriam transformar a maneira como as pessoas se relacionavam com o espaço. O plano e os traços básicos do projeto de Lúcio Costa corresponderam ao caráter e à concepção de uma cidadecapital moderna e juntamente com o arquiteto Oscar Niemeyer, a proposta tinha o intuito de aproximação e igualdade entre as pessoas. Pretendia-se preservar o convívio, evitar a segregação e encurtar as distâncias sociais. Entretanto, não foi isso que se concretizou, conforme afirma Risério (2012), as utopias urbanístico-arquitetônicas tendem a ser corrompidas na inserção destas na sociedade e no campo real, uma vez que não se sustentam frente à realidade. “E o que se impôs não foi a cidade clara, lógica e nítida – mas o real, com todos seus desequilíbrios. (...). A utopia chama Brasília não resistiu aos movimentos reais da vida brasileira” (RISÉRIO, 2012, p. 297). No final dos anos 1950, os CIAM começaram a perder força, tendo o seu fim oficial em 1959 na Cidade de Otterlo, na Holanda. Em seus últimos anos, ao organizar o décimo congresso em 1956, diversos arquitetos que compartilhavam da mesma experiência crítica em relação ao modernismo, fundaram um grupo que viria a ser conhecido como Team X.


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Influenciados pelo Novo Brutalismo e pelo Estruturalismo, os membros buscavam uma concepção de arquitetura menos rígida e funcionalista do que a proposta pelos arquitetos modernos, assim, o grupo seguiu se encontrando até 1981. Nos anos que se sucederam foi possível ver o enfraquecimento do próprio modernismo, sendo que sua “morte” ficou simbolicamente marcada em 1972, pela demolição do conjunto habitacional modernista Pruitt-Igoe, projetado por Minoru Yamasaki, “apó s a acusação comprovada de o desenho do bairro ser responsável pelos problemas sociais e morais da população” (LAMAS, 2004, p. 387). Faz-se aqui uma ressalva a este pressuposto de Lamas, tendo em vista que as problemáticas envolvendo Pruitt-Igoe foram muito mais complexas do que simplesmente a estrutura arquitetônica implementada, é imprescindível uma análise profunda do contexto histórico em que este conjunto foi construído, bem como tudo o que se sucedeu após sua ocupaçã o pelos moradores5. [Fig 5. Caminhos formados por pedestres no eixo monumental de Brasília. Fonte: Google Maps, 2017.]

5 Atribuir o fracasso do projeto apenas à sua arquitetura é minimizar um contexto histórico-soci al delicado. Como afirma Marques (2014), habitação de interesse social nos anos 1950 nos Estados Unidos não era bem-vista pela sociedade em geral, que a considerava socialista. Além disso, a construção não implementou todo o projeto, desconsiderando vários aspectos, além de relegar a manutenção dos prédios ao financiamento de aluguéis, que representava outro grande entrave, por serem altos demais para a população que lá foi morar. Outro aspecto a ser levado em consideração é que PruittIgoe foi o primeiro conjunto habitacional inter-racial, significando tensos conflitos em um país já marcado pela segregação racial e social. “Para culminar, a consolidação de Pruitt-Igoe foi vítima da redução populacional da cidade de Saint Louis em 50%. Neste contexto, a enorme escala do projeto do Yamasaki prevista para uma cidade em expansão, perdia o sentido.” (MARQUES,2014, p. 6).


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A influência do pensamento modernista6 faz-se sentir até hoje no planejamento urbano na separação de usos do solo por meio do zoneamento, com uma visão nitidamente tecnocrática, em que há uma ação evidentemente técnica, com base em um pensamento científico exato na re(produção) do espaço urbano, não raro, são replicados modelos prontos, desconsiderando o contexto histórico do lugar em questão. [...] quando o pensamento urbanístico tem de lidar com práticas sociais, portanto complexas, contraditórias, cujos significados se instauraram historicamente, assume uma espécie de “ideologia médica” (LEFEBVRE, [1968]1991a:42) que vê os processos sociais como patológicos e sente necessidade de controlá-los, higienizálos, reorganizá-los de acordo com sua racionalidade simplista não-viva. (COLOSSO, 2016, p. 82).

Esta ideia elencada por Lefebvre na década de 1970 é um processo ainda presente, podendo ser observado em diferentes aspectos na cidade contemporânea, como no próprio processo de segregação, em que conjuntos habitacionais de interesse social são construídos em áreas distantes da malha urbana já consolidada. Outra característica levantada por Lefebvre e apontada por Colosso (2016) é a da monotonia dos conjuntos edificados. Ao descrever uma vila industrial francesa da metade do século passado, Lefebvre pontua que os trabalhadores foram alocados em uma área completamente estranha a eles, prédios iguais postos lado a lado, ausência de serviços e comércio local, bem como de espaços de convivência. Em uma entrevista feita pelo autor, um dos moradores sublinha que a vila não poderia ser considerada uma cidade, por não haver igreja, cemitério ou passeio. Su ausencia pasaría desapercibida en una gran ciudad moderna, al menos apenas se echaría en falta; aqui en el pueblo, su ausencia es fundamental. Tanto como el que faltara un lugar de encuentros inútiles o imprevistos: el paseo (semejante al

6 Lamas (2010, p. 345) afirma que não se pode dizer que o movimento moderno, sintetizado na Carta de Atenas, foi o único responsável pelos problemas urbanísticos gerados nesta época, uma vez que os projetos modernistas foram muitas vezes aplicados de forma parcial e incorreta, desconsiderando o que havia sido proposto. Entende-se que o modernismo em si não foi algo ruim, ele deve ser entendido a partir de seu contexto histórico, entretanto, sua apropriação pela burocratização estatal, por conta da facilidade em aplicar os ideais funcionalistas, acabou resultado em diversos problemas que aqui foram assinalados.


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patio, a la rambla, o al bulevar de tantas ciudades meridionales o no). (LEFEBVRE, [1970] 1978, p.116)

[Fig 6. Conj. Hab. Ana Jacinta em meados da década de 1990. Fonte: Anajacinta.blogspot.com.br, 2017. ]

[2.2 a retomada do espaço público] Lefebvre afirma que, quando a rua cessa de ser interessante, a vida cotidiana perde o interesse. Para o autor, à medida que a rua perde a característica de lugar de encontros ou de solicitações e de aventuras, quando se esvazia e quando a circulação intensa de carros a torna insuportável, a cidade se transforma em deserto lunar. Assim, a supressão da rua implicaria a extinção de toda a vida. (CARLOS, 2001, p. 243).

José Lamas em seu livro Morfologia urbana e Desenho da Cidade (2004), traça um panorama sobre as críticas feitas às cidades produzidas com base nas concepções modernistas. O autor discorre que um dos primeiros a analisar a produção modernista do espaço urbano foi Henri Lefebvre em 1966, que observa a cidade sob um viés sociológico e “defende a restituição da rua como espaço da vida social” (LAMAS, 2004, p. 392), haja vista que o desenho urbano pensado pelos modernistas dificultava as trocas e a vivência dos cidadãos. Cinco anos antes, em 1961, foi lançado nos Estados Unidos o livro que se tornaria um clássico do urbanismo: Morte e Vida de Grandes Cidades, da jornalista e escritora norte americana Jane Jacobs. A autora não tinha o propósito de analisar teorias e estudos acadêmicos sobre o espaço urbano, a crítica de Jacobs se deu com base na experimentação vivida por ela mesma, nas percepções de seu cotidiano, como por exemplo, por que algumas


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ruas eram mais seguras do que outras, por que alguns parques eram ótimos exemplos de vitalidade e outros não, a necessidade de quadras curtas, entre outras coisas, e a partir disso, a autora propôs uma série de diretrizes para tornar a rua um ambiente mais acolhedor. Tem-se então o início de uma série de discussões acerca do espaço público e toda sua importância para o contexto urbano, entretanto, mesmo tendo sido objeto de estudo de obras clássicas das décadas de 1960, 70 e até mesmo 80, sua conceituação ainda não havia sido expressa. Foi nas décadas subsequentes que emergiram novos debates, em que o real significado do que seria “público” foi, e ainda é, estudado por pesquisadores de diversas áreas. Nesses termos, é importante aprofundar o debate no que diz respeito à configuração do espaço público, enquanto “elemento fundamental para o desempenho das liberdades públicas” (LEITE, 2011, p. 163), bem como “fundador da forma urbana, o espaço “entre edifícios” que configura o domínio da socialização e da vivência “comum”, como bem coletivo da comunidade.” (BRANDÃO, 2011, p. 34). No contexto do recorte territorial utilizado no projeto proposto, ambas concepções podem ser apreendidas a fim de entender as dinâmicas existentes no meio urbano. Como o bairro é o espaço no qual as relações de vizinhança são mais presentes, o morador tem intimidade tanto com as problemáticas quanto com as potencialidades existentes no seu cotidiano, sendo possível que se utilize o espaço público para discutir as questões expostas por Delgado (2011). Talvez de forma um pouco utópica, é possível compreender o espaço público então, como o local para intervenções urbanas onde encontra-se um conjunto de postulados programáticos dentro do qual as diferenças são superadas, sem serem esquecidas ou negadas por completo, mas são deixadas de lado, ou seja, onde deve acontecer a democracia. Portanto, o espaço público é o lugar em que a democracia deveria ver sua natureza igualitária, ou seja, onde se exercem os direitos de expressão e reunião para discussões de assuntos que concernem a todos. É o lugar onde o Estado deseja negar temporariamente a natureza assimétrica das relações sociais que já administra e serve, ou seja, é o campo de encontro das pessoas e mediação entre a sociedade e o próprio Estado. [Fig 7. Jane Jacobs e algumas de suas concepções. Fonte: Archdaily, 2012. Elaboração da autora, 2017.]


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Aproveitando as ideias iniciais sobre o espaço público elaboradas por Richard Sennett, não é possível conhecer o espaço público sem conhecer a cidade. Ele está estreitamente ligado à realidade da cidade e aos valores da civilização. A cidade é concebida como lugar onde tem podido conviver diferentes modos de vida, culturas e concepções do mundo. As pessoas têm opiniões diferentes e ideias diferentes, e, portanto, sua participação marca a heterogeneidade que caracteriza a composição da cidade. Além disso, a própria modernidade e a relação com os meios de consumo e de trabalho provocaram intensas mudanças na forma de construir e vivenciar a cidade. Somos pessoas extremamente ansiosas e nos sentimos sempre atrasados: atrasados para chegar na faculdade, para entregar um trabalho, para ir até o centro da cidade comprar alguma coisa, para pagar as contas... Sennett (1988, p. 28) afirma que “a movimentação se tornou a atividade diária mais carregada de ansiedade. [...]. O automóvel particular é o instrumento lógico para o exercício desse direito, o efeito que isso provoca no espaço púbico, especialmente no espaço da rua urbana, é que o espaço se torna sem sentido [...]”. Nesse sentido, Sennett (1988, p. 28) também pondera que o espaço público tem sido projetado apenas como um elemento de passagem, não há preocupação com a permanência no espaço e nem em como se dará a relação com o pedestre: A ideia do espaço público como derivação do movimento corresponde exatamente às relações entre espaço e movimento produzidos pelo automóvel particular. Não se usa carro para ver a cidade; [...]. Em vez disso, o carro dá liberdade de movimentos; pode-se viajar sem ser interrompido por paradas obrigatórias, [...]. As ruas da cidade adquirem então uma função peculiar: permitir a movimentação; [...].

Outro autor que discorre sobre o espaço público, Pedro Brandão (2011) o concebe como um espaço que configura o domínio da socialização e da vivência comum, tornandose um bem coletivo da comunidade. São bens de utilização livre de acordo com um “padrão de uso coletivo e socialmente aceite”. Didaticamente, o autor busca identificar diferentes tipologias de espaço público por afinidades de valor ou sentido urbano. Já o geógrafo Angelo Serpa (2007), constata em sua obra a consagração do individualismo em que o espaço público se torna uma sobreposição de espaços privados, mesmo que simbolicamente. Isso quer dizer que, do momento da apropriação dos grupos de usuários, uma barreira simbólica é construída ao seu redor. O autor elabora sua tese sobre o espaço público na cidade contemporânea sob um viés político, em que critica a relação de


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mercadoria que o espaço tem adquirido nas últimas décadas. Nesse contexto, o autor tece críticas à maneira como o Estado desenvolve projetos com alguma intencionalidade política, seja a especulação imobiliária, a valorização do consumo ou a segregação da população de baixa renda. Conforme afirma: Vemos que a aplicação dos conceitos/noções geográficos de distância e acessibilidade acaba por colocar em questão a esfera pública, o espaço público, a cidade contemporânea. Afi nal, estamos d i ante d e esp aços verdadeiramente p ú blicos ou de espaços concebidos e implementados para um tipo específico de p ú blico? (p. 39, grifo nosso).

Segundo Cortés (2008), os espaços público e privado devem ser entendidos como complementares e pensados em uma relação dialética, pois sua compreensão varia por questões socioculturais e históricas. Ambos os espaços se constituem com os indivíduos e sem eles não sobrevivem, pois são os próprios indivíduos que dotam esses espaços de um significado. Mostrando a transformação histórica do entendimento da casa no conflito público versus privado, o autor data o início do século XVIII como separador do público e privado. Assim, a casa se torna um refúgio das ameaças e perigos físicos e morais, proveniente nas realidades públicas. Fica evidente, portanto, a criação do ideário do espaço público como um lugar de constante risco. Atualmente, as atividades ligadas ao consumo estão modificando os espaços, de forma que as estruturas das cidades estão penetrando nos centros comerciais e estes substituindo as cidades. Há embutido nesse consumismo a intenção do controle social que atua penetrante e sutilmente fazendo com que as pessoas participem inconscientemente, porém ativamente dessas atividades relacionadas ao prazer (e ao consumo). O que não raro se vê nas cidades brasileiras são espacialidades urbanas projetadas de forma aleatória, sem a devida preocupação em como os citadinos vão se apropriar destas áreas. Ademais, estes espaços são muitas vezes apresentados com fins comerciais ou pouco convidativos, atraindo a população cada vez mais para espaços de consumo, mascarados como espaços de lazer, como os shopping centers. Tal fato se apresenta como uma grande problemática da vida moderna, uma vez que estes aparatos de consumo acabam por inibir o contato com o Outro, negando a liberdade de expressão e a diversidade, diminuindo toda a potência do espaço público, como área de encontros espontâneos, vivência democrática e expressão da vida cotidiana. Para Sennett (1988, p. 29): “O espaço público morto é uma das


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razões, e a mais concreta delas, pelas quais as pessoas procurarão um terreno íntimo que em território alheio lhes é negado.”. Alguns artistas retrataram em suas obras a perda do espaço público como um lugar de encontro, de vivência e experimentação, assiste-se a uma transição da rua como um espaço democrático de conexão a um ambiente vazio e ameaçador. Na tela Paisagem Clássica (1931) (Figura 8) do artista Charles Sheeler, é possível observar “o contraponto que a cidade racionalista apresenta à pintura romântica de paisagens. ” (PECHMAN; KUSTER, 2007, p. 13). Constata-se uma ironia por parte do pintor quando denomina sua obra como “paisagem clássica”, haja vista que o se vê é um ambiente construído, mas sem vida. Nesse sentido, de maneira a reverter este cenário de isolamento e desinteresse pelo espaço público, diversos autores têm trabalhado a ideia de (re)ativação dos espaços, por meio de projetos que instiguem as pessoas e potencializem os usos na cidade. O urbanista dinamarquês Jan Gehl é um dos nomes mais conhecidos nesse sentido. Em seu livro Cidade Para Pessoas (2013), o autor discorre sobre a importância do andar a pé como forma de tornar a cidade mais atrativa e segura.

[Fig. 8. Paisagem Clássica, Sheeler, 1931. Fonte: Picturingtheamericas, 2015]

Diante disso, a proposta para este projeto de graduação delineia-se no sentido não de trazer respostas decisivas, mas sim, de estimular a prática das relações cotidianas existentes nos espaços públicos que animam a cidade, como na Figura 9 em um domingo de abril de Avenida Paulista aberta para pedestres em São Paulo/SP. Tendo em vista que são os próprios citadinos, usuários do espaço público, que definirão, de fato, o uso ao espaço projetado, conforme discorre Jacques (2011, p. 168): Os praticantes ordinários das cidades atualizam os projetos urbanos e o próprio urbanismo através da prática, vivência ou experiência cotidiana dos espaços urbanos e, desse modo, reorganizam suas corpografias. Os urbanistas indicam usos possíveis para o espaço projetado, mas são aqueles que o experimentam no cotidiano que os atualizam.


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Por fim, por meio de um projeto de intervenção no meio urbano, procuro estabelecer novas qualidades ao bairro e até mesmo potencializar as existentes. Fontes em seu livro Intervenções temporárias, marcas permanentes: apropriações, arte e festa na cidade contemporânea (2013), elenca quatro tópicos principais de maneira a nortear as discussões: as intervenções temporárias e seu potencial transformador, a condição efêmera, enquanto característica inerente à sociedade contemporânea, o espaço coletivo, conceito de Manuel Solà-Morales, “que dos define como todos os lugares onde a vida coletiva se desenvolve, representa e recorda” (FONTES, 2013, p. 112) e por fim, Fontes conduz a leitura para a construção do conceito de amabilidade urbana, que é “uma nova forma de compreender o espaço” (p. 30). Amabilidade é um termo que evoca proximidade e abertura, seja no uso corrente, seja aplicado aos espaços urbanos, como desejei cunhá-la aqui – a amabilidade urbana. Nesse sentido, poderia considerá-la como um atributo do espaço amável, que promove ou facilita o afeto e a proximidade, opondo-se ao individualismo, por muitas vezes característicos das formas de convívio coletivo contemporâneas. (FONTES, 2013, p. 26).

[Fig. 9. Avenida Paulista aberta para pedestres, em 02/04/2017. Fonte: autora, 2017]

A autora concebe a ideia de amabilidade urbana como um resultado das intervenções temporárias, conforme é possível ver na Figura 10. Nesse contexto, o projeto proposto neste trabalho se estrutura a partir de intervenções permanentes e possíveis intervenções temporárias, por isso entende-se a amabilidade urbana como um resultado de pós ocupação, ou seja, sabe-se que nem tudo o que foi projetado será apropriado pelas pessoas da forma foi imaginado, mas parte- se do pressuposto que a maneira como cada um vai conviver com o espaço público depois das intervenções gerará amabilidade urbana.


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[Fig. 10. Esquema representando o conceito de amabilidade urbana. Fonte: autora, 2017]

Ademais, há outros conceitos que devem ser levados em consideração, como o da vitalidade e o da urbanidade. O conceito de vitalidade (Figura 11) foi introduzido por Jane Jacobs em Morte e Vida de Grandes Cidades (2010) e diz respeito às interações sociais, aos diferentes usos e à concentração de pessoas. Além disso, “a ideia de vitalidade urba-na procura sintetizar o conjunto de qualidades de um assentamento no qual as pessoas apreciem estar, geralmente, concentrador de múltiplas atividades e relações econômica.” (KOURY, 2015

[Fig. 11. Esquema representando o conceito de vitalidade urbana. Fonte: autora, 2017]

Assim como a vitalidade, o termo urbanidade surgiu na segunda metade do século XX quando diversos autores, assim como Jane Jacobs, passaram a maneira como o espaço


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urbano vinha sendo produzido. O conceito corresponde aos espaços da cidade que acolhem bem as pessoas, sobre como se dá a relação das ruas, edifícios, bairros, parques e praças com as pessoas. Esses ambientes são acolhedores? As pessoas se sentem bem lá? Se sim, então há urbanidade. Conforme discorre Aguiar (2012): A urbanidade é composta, portanto por algo que vem da cidade, da rua, do edifício e que é apropriado, em maior ou menor grau, pelo corpo, individual e coletivo. A urbanidade, assim entendida, estaria precisamente nesse modo de apropriação da situação pelas pessoas, seja na escala do edifício, seja na escala da cidade. Urbanidade não é sinônimo de vitalidade, no sentido de presença de pessoas, embora possa incluí-la. Nesse contexto o corpo naturalmente é o parâmetro; o comportamento espacial. A medida da delicadeza, da civilidade, é demonstrada pela conduta do corpo, individual e coletivo; em sua presença, em sua ausência, em sua postura. Ou seja, a urbanidade está no modo como essa relação espaço/corpo se materializa. (AGUIAR, 2012, p. 2).

[Fig. 12. Esquema representando o conceito de urbanidade. Fonte: autora, 2017]

Oliva (2003) também oferece importante aporte à questão, alegando que as “práticas anti-cidade”, exemplificadas pela segregação e pela uniformização, são responsáveis por prejudicar a urbanidade, que seria: A coexistência permite à cidade ser o lugar do encontro da diferença, o que abre as chances para que se supere, ao menos em parte, as segregações sociais e econômicas, culturais e étnicas. (...). A cidade com urbanidade, logo, contém uma dimensão ética, forjada pela necessidade de coexistência pacífica e cotidiana com a diferença. (OLIVA, 2003, p. 74)


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Estes três conceitos: amabilidade urbana, vitalidade e urbanidade são características que devem existir no espaço público para que as pessoas queiram frequentálo. Além disso, no livro New City Life (2006), os urbanistas dinamarqueses Jan Gehl, Lars Gemzøe e Sia Karnaes estabeleceram doze qualidades que o espaço público deve ter para que este seja atrativo para as pessoas. A ideia não é seguir esta lista como se fosse um manual, mas sim estudá-la e adotar práticas que sejam cabíveis ao projeto. Estes doze critérios serviram de embasamento para o projeto “Cidade Para Pessoas” desenvolvido pela jornalista Natália Garcia e pelas artistas Juliana Russo, Marina Chevrand e Calu Tegagni, em 2013. 1 Proteção contra o tráfego; 2 Segurança nos espaços públicos; 3 Proteção contra experiências sensoriais desagradáveis; 4 Espaços para caminhar; 5 Espaços de permanência; 6 Ter onde se sentar; 7 Possibilidade de observar; 8 Oportunidade de conversar; 9 Locais para se exercitar; 10 Escala humana; 11 Possibilidade de aproveitar o clima; 12 Boa experiência sensorial. Encerro este capítulo com a pretensão de que o projeto desenvolvido leve em consideração todas as observações feitas acerca do espaço público, resultando em um convite aos moradores do Mário Amato a estabelecer laços no espaço urbano. A rua é do povo, a rua é da massa, a rua é da multidão. É a rua do trabalho, a rua da viração da sobrevivência, a rua dos encontros, a rua do protesto, da manifestação, da insurreição. É a rua da política, a rua da vida pública. A rua espaço público se transformando em esfera pública. (PECHMAN; KUSTER, 2007, p. 6).

[Fig. 13. Espaços com vitalidade: [1] Praça em Praga; [2] Rua em Amsterdam; [3] Rua em Praga. Fonte: autora, 2015]


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[2.3 a vivência no bairro] Quanto mais o espaço exterior se uniformiza na cidade contemporânea e se torna constrangedor pela distância dos trajetos cotidianos, com sua sinalização obrigatória, seus danos, seus medos reais ou imaginários, mais o espaço próprio se restringe e se valoriza como lugar onde a gente se encontra enfim seguro [...]. (CERTEAU; GIARD, 1996, p. 206)

No capítulo anterior discutiu-se a questão da importância do espaço público para a reprodução da vida, entendendo este como sendo o lugar de construção das experiências vividas pelos indivíduos urbanos. Carlos (2001) aponta que “O esvaziamento da rua como território lúdico, lugar das brincadeiras, deixa cada vez mais de ser apropriado pelo corpo para ser utilizado pelos carros, que invadem todas as áreas disponíveis e esvaziam as calçadas.” (p. 241) e mais adiante afirma que “a supressão da rua implicaria a extinção de toda a vida.” (p. 243). Esta abordagem proposta pela autora dialoga com a citação de Certeau e Giard, no sentido em que ambos autores compreendem que a produção de espaços cada vez mais homogêneos e descaracterizados nas cidades contemporâneas isolam as pessoas, que se sentem apenas seguras em seus ambientes privados, em suas habitações. E é nesse contexto que o recorte territorial do bairro, aqui explorado, aparece com pertinência. Carlos (2001) cita a já conhecida frase de Walter Benjamin, “habitar é deixar rastros” e propõe uma reflexão da construção da identidade dos indivíduos a partir, primeiramente, de suas casas, e posteriormente, a partir do lugar em que moram: a rua, o bairro, a cidade. Habitar pressupõe um conjunto de relações socioespaciais que ultrapassam o ambiente físico da casa, esta seria a primeira escala de relação entre o público e o privado, pelo seu vínculo imediato com a rua e consequentemente com o bairro e a cidade, assim, a ideia de que habitar vai além do espaço físico da moradia é compreendida no sentido em que “a articulação entre o público e o privado se coloca como condição necessária à constituição do sujeito coletivo como à constituição da vida.” (CARLOS, 2001, p. 219). Os rastros deixados pelo habitar estão relacionados aos sinais depositados na forma, que, materializados contribuem na construção das identidades, individuais e coletivas. Na medida em que o citadino vivencia o bairro, “deixando seus rastros” e incorporando outros, o espaço habitado, o habitar, é invadido de conteúdo sentimental, e assim, não só a casa passa a se tornar um refúgio, como a própria rua e até o bairro, como salienta Mayol:


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Ora, o bairro é, quase por definição, um domínio do ambiente social, pois ele constitui para o usuário uma parcela conhecida do espaço urbano na qual, positiva ou negativamente, ele se sente reconhecido. Pode-se, portanto, apreender o bairro como esta porção do espaço público em geral (anônimo, de todo o mundo) em que se insinua pouco a pouco um espaço privado particularizado pelo fato do uso quase cotidiano desse espaço. (MAYOL, 1996, p. 40).

Esta “privatização do espaço público” não diz respeito a uma ação indevida de apropriar-se particularmente do que é público – prática muito recorrente em nossas cidades – a fala do autor refere-se à relação de pertencimento entre o indivíduo e o bairro, que se reconhece nos trajetos e lugares do bairro que habita. Assim, este se configura como um espaço de pertença e identificação, em que as barreiras físicas da moradia são poeticamente dissolvidas pelo habitar, que se estende para a rua e consequentemente para o bairro. Além disso, o bairro é também o lugar de contato com o outro, a primeira escala de relação com o desconhecido, como discorre Mayol: “é também o lugar de uma passagem pelo outro, intocável porque distante, e, no entanto, passível de reconhecimento por sua relativa estabilidade. Nem íntimo, nem anônimo, vizinho.” (MAYOL, 1996, p. 43-44). Nele, se expressam as relações de vizinhança, que regidas por códigos subjetivos buscam preservar as boas relações interpessoais, resultando em uma microescala de práticas socioespaciais. Por fim, entende-se que a cidade não se explica pelo bairro, nem que esta se configuraria como mero encaixe de diversos bairros, mas é possível compreendê-la e analisar suas dinâmicas por meio deste recorte, por ser “o microcosmo que ilumina a vida, o referencial definido por uma base espacial que se constitui como prática urbana e a referência a partir da qual o habitante se relaciona com espaços mais amplos. (CARLOS, 2001, p. 244).

[Fig. 14. Figura esquemática representando as vivências no Bairro. Fonte: Google Maps. Elaboração da autora, 2017]


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[3.1 lá para os lados do ana jacinta] Conforme afirma Abreu (1972), Presidente Prudente, assim como muitas cidades do interior do Estado de São Paulo, configurou-se como resultado da expansão da exploração do café da década de 20 do século XX, sendo reconhecida como município no ano de 1921. Sua expansão urbana teve início com dois coronéis: Francisco de Paula Goulart e José Soares Marcondes e com a implantação da Estrada de Ferro Sorocabana, uma vez que tanto um coronel quanto o outro orientou seus loteamentos com base na linha férrea recéminaugurada. Spósito (1983) discorre que na década de 1960 observou-se a inserção de novos bairros na cidade, contudo, foi na década subsequente que se observou uma “expansão territorial sem precedentes” (p. 79), em que muitas áreas dentro da malha urbana ficaram desocupadas enquanto a cidade se expandia para as periferias. E Melazzo (1993) explana que “(...) a expansão territorial urbana de Presidente Prudente não obedece a um padrão sequencial de abertura, comercialização, ocupação e, posterior saturação, reiniciando-se o processo em novas áreas” (p. 63) (Mapa 01). Pode-se afirmar que o grande crescimento territorial que a cidade teve não atendeu às condições básicas de habitação, uma vez que os loteamentos que surgiram, favoreciam antes de tudo, a especulação imobiliária, deixando a habitação em segundo plano. É possível inferir a partir de Spósito (1983) e Melazzo (1993), que a expansão territorial que aconteceu em Presidente Prudente nas décadas de 1970 e 1980 foi pautada nos interesses das incorporadoras imobiliárias, considerando que o número de loteamentos era maior do que o número de habitantes e mesmo assim, o déficit habitacional não diminuía, apenas aumentava. Os preços dos terrenos vagos deixados em meio a malha urbana subiram ao invés de diminuir, acentuando ainda mais a questão do problema habitacional. Melazzo (1993) e Araújo et al (1996) oferecem importante aporte a este aspecto: Tal questão torna-se mais relevante à medida em que se observa eu novos loteamentos são produzidos, na maioria das vezes, descontínuos à malha urbana pré-existente e que a expansão horizontal da cidade não se faz de maneira a acrescentar, atomizada e paulatinamente, novos terrenos à cidade, mas, ao contrário, parece ocorrer de forma espasmódica, através da incorporação, em bloco, de grandes áreas. (MELAZZO, 1993, p. 52).


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Portanto, a atual configuração da malha urbana de Presidente Prudente reflete a completa inexistência de um planejamento criterioso para a expansão da cidade. (...) a cidade se desenvolveu preferencialmente para o lado oeste, deixando áreas mais próximas ao centro sem nenhuma ocupação. (ARAÚJO et al, 1996, p. 18).

Em função disso, no final de década de 1980, segundo Maracci (1999), Presidente Prudente contava com 42 áreas classificadas como irregulares, consideradas favelas. Nesse sentindo, o poder público da época, coletou dados sobre a demanda habitacional, registrando 13.184 inscritos1 em 1987, 1.864 funcionários públicos inscritos e 1.996 famílias inscritas para lotes urbanizados.2 Assim, sob o Governo de Paulo Constantino (1989-1992) foram criados dois projetos “Programa de Desfavelamento” e “Lotes Urbanizados” e diversos conjuntos habitacionais foram construídos concomitantemente a eles. Este segundo foi concebido com o intuito de atender as famílias que não puderam ser contempladas com a construção do Conjunto Habitacional Ana Jacinta. Todos esses programas habitacionais buscavam diminuir o déficit habitacional e atingir a meta de 10.000 unidades habitacionais construídas em seus quatro anos de governo, observa-se então no Mapa 02 todos os conjuntos habitacionais que foram feitos em Presidente Prudente de 1968 a 2009). Mesmo com inúmeros lotes vazios em meio a malha urbana, a área destinada para a construção do Conjunto Habitacional Ana Jacinta fazia parte da zona rural de Presidente Prudente, a aproximadamente 10 quilômetros do centro da cidade, tendo sido posteriormente anexada ao perímetro urbano. Localizado na porção sudoeste da cidade, bem distante da área central, o empreendimento de 2500 casas, inaugurado no início da

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“Aqui se faz necessário considerar que nem todas as pessoas puderem se inscrever, ficando excluídas famílias com renda menor que dois salários mínimos, pessoas sem vínculo empregatício e pessoas com idade superior a 55 anos. ” (MACENA, 1997, p. 15). 2

Fonte: PEREIRA, Sílvia Regina. Subcentros e condições de vida no Jardim Bongiovani e Conjunto Habitaiconal Ana Jacinta - Presidente Prudente-SP. 2001. 194 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Geografia, Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho – FCT Unesp, Presidente PrudenteSP, 2001.


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década de 1990, compreendia outros dois, o Mário Amato com 500 casas e o CDHU com 104 unidades residenciais, totalizando um número significativo de famílias (PEREIRA, 2001). Segundo o então secretário de habitação, Eliezer Pereira do Lago Neto, a localização do conjunto na zona sul foi determinada, porque, na zona leste e norte, a topografia acidentada encareceria e inviabilizaria o projeto. Na zona oeste, existe o problema ambiental de preservação na região do Balneário da Amizade onde só são permitidos lotes acima de 600m². (PEREIRA, 2001, p. 16).

O programa instituído pelo governo municipal buscava resultados quantitativos, dado que o empreendimento correspondente ao Ana Jacinta viria a abrigar um número expressivo de famílias, mas a que custo? De acordo com Pereira (2001), a área em que o conjunto habitacional foi implantado não era adequada para a construção de um número tão grande de residências da maneira como foi feito, por motivos como: - localização próxima à área de proteção de mananciais, colocando em risco a sua utilização devido ao perigo de contaminação, por esgotos e lixos domésticos, dos córregos que desaguam no reservatório da SABESP; - assoreamento desses córregos, gerando diminuição do volume de água desses cursos; - distância da área que, até o momento de sua instalação, estava loteado de forma contínua; precariedade e exiguidade dos meios de consumo coletivo; e, - baixo grau de acessibilidade à cidade, pela distância e qualidade dos transportes coletivos. (PEREIRA, 2001, p. 113).

Na época em que o projeto do empreendimento foi apresentado, diversas críticas foram feitas devido a sua proximidade à mananciais e a ao reservatório da SABESP (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), fato que fez com que a obra fosse embargada e um comitê de especialistas da Universidade Estadual Paulista – FCT UNESP foi organizado a fim de fornecer um relatório técnico sobre a área do empreendimento. Contudo, mesmo com um parecer salientando as diversas irregularidades do loteamento, o governo municipal deu continuidade à construção do empreendimento, justificando que “preservaria todo o meio ambiente” (ARAÚJO et al, 1996, p. 23). O Conjunto Habitacional Ana Jacinta foi implantado em uma área de preservação de mananciais, e ainda, a área correspondente a este bairro e ao Mario Amato localiza-se em uma Zona de Preservação e Proteção Ambiental, que diz respeito ao Córrego do Cedro, e


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deveria, portanto, ter sido preservada, uma vez que este espaço não é/era adequado para a construção de residências. No que diz respeito à formação do Ana Jacinta e consequentemente do Conjunto Habitacional Mário Amato é possível inferir que “a cidade capitalista não tem lugar para os pobres” (SINGER, 1978, p. 33), visto que as mais de 3000 habitações foram instaladas em uma área de proteção ambiental, provando que a preocupação do governo municipal da época voltava-se exclusivamente para uma produção quantitativa de habitações e não qualitativa, uma vez que além dos problemas ambientais existentes na implantação do conjunto, os moradores foram alocados em uma área distante do centro da cidade e com condições precárias de infraestrutura.

[Fig. 15. Sobre a especulação imobiliária, Catarina Bessell, 2014. Fonte: catarinabessell.com, 2017.]

O que se vê então, é a ação de um poder público pouco empenhado em proporcionar à população de baixa renda o seu total “direito à cidade” bem como sua inserção socioespacial no contexto urbano. Dessa maneira, mesmo diante claros problemas ambientais, o empreendimento [Fig. 16. Imagens retiradas da página online continuou a ser construído, pautado na “Prudente Imprudente” com piadas sobre o Ana lógica de produção e reprodução do espaço Jacinta. Fonte: facebook/prudenteimpruente, 2017.] urbano, que promove a segregação socioespacial “gerando e recriando áreas mais bem servidas com infraestrutura em contraposição às áreas precárias, que acabam por implicar na qualidade de vida dos moradores.” (PEREIRA, 2001, p. 120).


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O núcleo Ana Jacinta passou por intensas mudanças desde a sua inauguração em 1993. Por muito tempo os moradores dos bairros tiveram que conviver em um espaço sem asfalto, com problemas de esgoto, ausência de equipamentos públicos e linhas de transporte coletivo. Atualmente, a realidade é outra e mesmo tendo quase todas as atividades concentradas no Ana Jacinta, os bairros em geral possuem boa infraestrutura. Atualmente o bairro é conhecido pela sua distância, popularmente se diz que “lá para os lados do Ana Jacinta é outra cidade”, o que inclui o bairro aqui estudado, o Mário Amato. Em uma página no Facebook dedicada a publicar acontecimentos da cidade Presidente Prudente é possível encontrar diversas “brincadeiras” em relação à distância do Ana Jacinta e seus bairros adjacentes. As pessoas costumam dizer que “para aqueles lados de lá” já é outra cidade e para rebater tais colocações, algumas pessoas dizem que morar no Ana Jacinta “é tudo de bom” e que “não é tão longe assim, não”, já outras entram na brincadeira e não se importam de dizer que “é longe mesmo”. [Fig. 17 e 18. Recortes do Jornal O Imparcial de 1991 a 1993. Fonte: Arquivo do Museu Histórico de Presidente Prudente. Edição da autora, 2017.]


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[3.2 as primeiras aproximações] A experiência errática, assim pensada como ferramenta, e um exercício de afastamento voluntario do lugar mais familiar e cotidiano, em busca de uma condição de estranhamento, em busca de uma alteridade radical. O errante, ao buscar o estranho no cotidiano familiar, vai de encontro a esta alteridade e, assim, instaura o dissenso, que e precisamente o pressuposto básico que possibilita a constituição de qualquer esfera pública. A experiência errática e uma possibilidade de experiência da alteridade na cidade. (JACQUES, 2012, p. 192)

A experiência errática foi uma das metodologias adotadas no início do trabalho como forma de percepção e apropriação do espaço. Como a autora pondera, a relação do corpo com o espaço público, a ideia de ir de encontro a alteridade como forma de compreender e assimilar o objeto de estudo, bem como de encontro com o Outro. Alteridade não só do espaço público, como também da esfera corporal ao ir de encontro com o que era dissonante da minha realidade. Pallasmaa em uma análise poética da arquitetura oferece importante contributo sobre este tema: Eu me experimento na cidade; a cidade existe por meio de minha experiência corporal. A cidade e meu corpo se complementam e se definem. Eu moro na cidade, e a cidade mora em mim. (PALLASMAA, 2011, p. 38)

Esta acepção da cidade pelo corpo traduz a experiência urbana, na forma que a cidade imprime no corpo de quem dela se apropria. A consciência do corpo enquanto entidade de apreensão e análise do meio urbano foi aqui adotada, uma metodologia mais subjetiva de pesquisa no meio urbano, a própria pesquisa na escala humana – justificando o uso da primeira pessoa do singular em diversos trechos do trabalho. Assim, a vivência da cidade se fez a partir de um contato sensorial, tendo o corpo como dispositivo, de forma que à medida em que se movimenta, se entrega às solicitações do meio e das pessoas que nele venha a ter um encontro, sugerindo uma sinestesia, como apresenta Pallasmaa. As primeiras aproximações se deram diante deste contexto, de estranhamento às vezes, e de encantamento na maior parte do tempo. Andar e deixar-se penetrar pelas ambiências da cidade e principalmente, do bairro. Numa tentativa de se desprender de julgamentos, apenas como observadora disponível ao erro, de encontro ao Outro urbano, como elenca Jacques, desprendida do mapa cartesiano que em quase cinco anos de


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trabalhos universitários me acompanhou. A autora ainda pontua que esta experiência de entrega poderia combater os atuais projetos de produção do espaço urbano, em que há uma tentativa de limpeza sócia, de espetacularização e controle. É por meio da experiência que se pode vivenciar a poética da cidade, das pessoas, do cotidiano e entender as relações que nele se dão. Fazer a cidade não como mero cenário, mas sim como palco do subjetivo, das relações socioespaciais. [...] entender o sentido que Holderlin dá ao habitar quando sugere que “o homem habita poeticamente o mundo”. (CARLOS, 2001, p. 216). Aproximar-se do território por meio de uma experiência subjetiva e poética é uma prática comum aos errantes urbanos, de quem procura vivenciar a cidade de outra forma que não há priorização da forma e da função, mas sim reconciliando-se com a escala humana, como elenca Jacques: O importante a ressaltar, por esses exemplos, e a sobrevivência da experiência, em particular da experiência da alteridade urbana, da experiência do outro e da diferença na cidade, da cidade como um terreno de experiências – um processo bastante complexo, um jogo talvez, a maneira situacionista, entre diferença e semelhança, exótico e cotidiano, Outro e mesmo. Uma tensão permanente, uma copresenca ambígua dessas questões ao se buscar o estranhamento no cotidiano, um jogo continuo entre familiar e estranho no espaço urbano. Além de propor e jogar, os errantes buscam também transmitir essas experiências através de suas narrativas errantes. (JACQUES, 2012, p. 198)

[Fig. 19. Eu. Fonte: João Lucas P. Costa, 2017. Edição da autora, 2017.]


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[3.3 leituras urbanas] Feitas as primeiras aproximações e as primeiras análises, partiu-se para leituras acerca do próprio desenho urbano e as mais variadas formas de assimilá-lo, utilizando leituras propostas por autores clássicos como Kevin Lynch (1960) e outros mais contemporâneos como José Lamas (2004) a fim de sistematizar as análises feitas e traduzilas em futuras ações projetuais. Giulio Carlo Argan em seu livro História da Arte como História da Cidade (1984), expõe que a cidade pode ser comparada a uma tela de Pollock3, uma vez que se todos os habitantes de uma cidade começassem a estabelecer caminhos, pontos de encontro e percepções de um mesmo espaço urbano, uma grande rede seria formada. Se, por hipótese absurda, pudéssemos levantar e traduzir graficamente o senti do da cidade resultante da experiência inconsciente de cada habitante e depois sobrepuséssemos por transparência todos esses gráficos, obteríamos uma imagem muito semelhante à de uma pintura de Jackson Pollock, por volta de 1950: uma espécie de mapa imenso, formado de linhas e pontos coloridos, um emaranhado

[Fig. 20. A Floresta, Pollock, 1954. Fonte: Valentina Mag, 2014.] 3

Jackson Pollock (1912-1956) foi um dos precursores do movimento expressionista que surgiu nos Estados Unidos na década de 1940.


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inextricável de sinais, de traçados aparentemente arbitrários, de filamentos tortuosos, embaraçados, que mil vezes se cruzam, se interrompem, recomeçam e, depois de estranhas voltas, retornam ao ponto de onde partiram. (ARGAN, 2005, p. 231)

E assim como na tela do artista norte americano, ao aproximar-se deste emaranhado de pontos e linhas, seria possível observar que nada é ao acaso, identificar-seia locais de convergência entre as pessoas, caminhos parecidos, o “emaranhado de sinais, observado atentamente, revelará certa ordem, uma repetição do ritmo, uma medida de distâncias, uma dominante colorista, um espaço, enfim.” (ARGAN, 2005, p. 233), como é possível observar na Figura 12). Nesse contexto, é no “estudo da experiência urbana individual” (ARGAN, 2005, p. 233) que as análises de Kevin Lynch se desenvolvem. Em seu livro A Imagem da Cidade, publicado originalmente em inglês, The Image of the City em 1960, e hoje um clássico do desenho urbano, o autor sistematiza a percepção sensitiva que as pessoas têm sobre a cidade, transforma em ciência o que antes era tido como algo empírico (LAMAS, 2004, p. 398). A parte mais relevante de seu trabalho refere-se à demonstração do interesse que para os cidadãos constitui a imagem da cidade, alargando tal interesse para fora do campo profissional: a imagem é determinante para o comportamento social e psicológico dos habitantes. (LAMAS, 2004, p. 398).

A teoria de Lynch, denominada de percepção do meio ambiente, influenciada por estudos psicológicos e principalmente pela Gestalt4, analisa a percepção dos citadinos em relação à cidade, procurando responder as seguintes perguntas:

Gestalt é um termo alemão que não possui tradução literal para o português, em termos gerais pode ser entendido como “forma total” ou “forma global”. Surgiu no início do século passado com filósofos, físicos e psicólogos que desenvolviam estudos sobre espaço-forma e tempo-forma. Bock (2004, p. 51) afirma que “a percepção é o ponto de partida e um dos temas centrais dessa teoria.” Nesse sentido, a teoria da Gestalt estuda como as pessoas percebem as coisas e entende que a percepção não se dá de maneira isolada, mas sim em um quadro geral, ou seja, o todo é mais do que a simples soma das partes, conforme afirma Piaget (1958, p. 85) “A ideia central da teoria da forma afirma que os sistemas mentais jamais se constituem pela síntese ou pela associação de elementos, dados em estado isolado, 4


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Como o habitante percebe a cidade? Como o planejador pode pensar em espaços melhores com base nessas percepções? Nesse sentido, entendendo que “cada cidadão tem vastas associações com alguma parte da cidade, e a imagem de cada um está impregnada de lembranças e significados.” (LYNCH, 1998, p. 1), o autor traça sua teoria com base em três qualidades urbanas, que são: legibilidade, estrutura e identidade e imaginabilidade. [1 Legibilidade] Lynch define este termo como sendo “a facilidade com a qual as partes podem ser reconhecidas e organizadas numa estrutura coerente. (...) uma cidade legível seria aquela cujos bairros, marcos ou vias fossem facilmente reconhecíveis e agrupados num modelo geral.” (1998, p. 3). O autor considera este um dos mais importantes aspectos de uma cidade na medida em que ter uma imagem clara do ambiente urbano dá ao citadino segurança emocional, uma vez que permite que seus habitantes se desloquem com facilidade em um ambiente de estrutura clara, “um organizador da atividade, da crença ou do conhecimento”. (p. 5). [2 Estrutura e identidade] o autor pontua que não é possível pensar em identidade, estrutura e significado de maneiras separadas, os três termos se relacionam e são um dos componentes responsáveis pela imagem ambiental da cidade. Nesse sentido, identidade é a distinção existente de um lugar para outro – suas particularidades, já a estrutura diz respeito à relação estrutural ou espacial do objeto com a pessoa e/ou com outros objetos e, por fim, o objeto deve significar alguma coisa para quem o observa, seja ele prático ou emocional (Lynch, 1998, p. 10). [3 Imageabilidade] Lynch (1998, p. 11) define este conceito como “a característica, num objeto físico, que lhe confere uma alta probabilidade de evocar uma imagem forte em qualquer observador dado.”. Uma cidade “altamente imaginável”, conforme discorre Lynch, tem a vantagem de ser facilmente desbravada por seus moradores, é um ambiente de fácil leitura e identificação. Nesse sentido, vale ressaltar que este conceito não prevê cidades

antes de sua reunião, mas consistem sempre em totalidades organizadas, desde o início, sob uma forma ou estrutura de conjunto.”


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estáticas, imutáveis e limitadas, embora algumas vezes possam ter essas características, a definição elaborada pelo autor diz respeito às cidades que incorporam novos elementos sem romper com a sua estrutura prévia5. Nesse contexto, Lynch utiliza estes três conceitos-bases, focando na imageabilidade para traçar sua teoria de desenho urbano, para isso, o autor elaborou uma metodologia de pesquisa que tinha como foco como o citadino vê e sente a cidade, as perguntas eram abertas, de forma a captar a maior quantidade de detalhes possível, além disso, Lynch pedia que seus entrevistados desenhassem percursos específicos que faziam pela cidade, denominados de mapas mentais. O objetivo desta metodologia era captar a imagem geral que as pessoas têm da cidade, bem como seus detalhes: elementos específicos, pontos de referência, áreas de maior fluxo e etc. Parece haver uma imagem pública de qualquer cidade que é a sobreposição de muitas imagens individuais. Ou talvez haja uma série de imagens públicas, criadas por um número significativo de cidadãos. (...). Essas imagens de grupo são necessárias sempre que se espera que um indivíduo atue com sucesso em seu ambiente e coopere com seus concidadãos. Cada imagem individual é única e possui algum conteúdo que nunca ou raramente é comunicado, mas ainda assim ela se aproxima da imagem pública que, em ambientes diferentes, é mais ou menos impositiva, mais ou menos abrangente. (LYNCH, 1997, p. 51).

A metodologia desenvolvida por Lynch ainda hoje é utilizada pela sua facilidade de aplicação em projetos e a boa leitura que proporciona da cidade. Contudo, não se pode negar, conforme discorre Del Rio (1990, p. 95), que este método possui algumas falhas, “como, por exemplo, a dificuldade para sua aplicação a universos estatisticamente representativos, sua entrevista ter uma longa duração (uma hora e meia em média), os dados de difícil análise e quantificação e a dificuldade em se obter os mapas mentais (...).”. Outra forma de análise aqui empreendida foi a morfologia urbana, que “é a ciência que estuda as formas, interligando-as com os fenómenos que lhes deram origem.” (LAMAS, del Rio (1989, p. 93) esclarece que algumas traduções utilizam a palavra imaginabilidade no lugar de imageabilidade, o que pode causar certa confusão, tendo em vista que não se trata da capacidade de imaginação, mas sim da força que a imagem de um lugar tem para quem o observa, nesse contexto, assim como del Rio, optei por usar o termo imageabilidade. 5


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2004, p. 37), ou ainda, nas palavras de del Rio (1989, p. 71): “estuda, portanto, o tecido urbano e seus elementos construídos formadores através de sua evolução, transformações, interrelações e dos processos sociais que os geraram.”. Nesse sentido, o estudo da morfologia urbana é de extrema importância no sentido de entender o processo de formação de uma área urbana e propor intervenções que sejam coerentes ao contexto existente. José Lamas cita três condicionantes que devem levados em consideração para melhor compreensão da morfologia urbana. O primeiro deles diz respeito à abrangência desta área de estudo, uma vez que a morfologia urbana se encarrega dos elementos físicos da cidade, ou seja, os aspectos mais subjetivos, como características sociais e econômicas são entendidas como intrínsecas à morfologia, “mas não como objecto de estudo” (LAMAS, 2004, p. 38). No [Fig. 21. Forma esquemática de Boston. Fonte: LYNCH, 1997, p. 29] segundo item, o autor esclarece que o estudo da morfologia urbana se encarrega da “divisão do meio urbano em partes (elementos morfológicos) e da articulação destes entre si e com o conjunto que definem – os lugares que constituem o espaço urbano. ” (p. 38). E por fim, Lamas explica que uma análise morfológica deve considerar o momento em que o espaço urbano foi produzido, apontando “os níveis de produção da forma urbana e suas inter-relações. ” (p. 39). Vicente del Rio também explora a questão da morfologia urbana e afirma que o espaço urbano pode ser compreendido em “três níveis organizativos básicos: o coletivo, o comunitário e o individual, em torno aos quais estruturam-se todos os significados e acontecem as apropriações sociais. ” (del Rio apud del Rio, 1990). Nesse contexto, a dimensão coletiva caracteriza-se pelos elementos estruturadores primários do tecido urbano que são


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percebidos inconscientemente. O nível comunitário abrange elementos com algum significado para um grupo limitado de pessoas, como é o caso de um bairro, por exemplo. E a última dimensão, a individual, diz respeito à lógica individual – a casa e o seu entorno imediato, trata-se do nível que o indivíduo mora e onde tem mais intimidade. Com base nos estudos do arquiteto italiano e importante figura no estudo da morfologia urbana, Aldo Rossi, Lamas também setoriza a cidade em dimensões, entretanto, a abordagem utilizada por este autor não é de todo igual à feita por del Rio. Tem-se então, na leitura de Lamas três dimensões do espaço urbano, que são: a escala da rua, do bairro e da cidade. Na primeira tem-se e menor porção da cidade, que pode ser uma rua ou uma praça, nela é possível apreender os detalhes: texturas, cores, o mobiliário, a relação do edifício com o solo entre outros. Para Lamas, é na escala intermediária do bairro que a cidade se constitui de fato, posto que nela há uma estruturação dos elementos anteriores: ruas e praças. E enfim, a última escala: a cidade, que é a associação de todas as áreas homogêneas (os bairros) em um limite geográfico, a cidade comporta diferentes zonas, áreas e bairros, que juntos formam um ambiente urbano heterogêneo e diversificado. Outro autor utilizado como forma de análise do bairro foi Grant Reid com seu livro Landscape Graphics (1987), em que além de apresentar instrumentos básicos de desenho arquitetônico urbano, o autor elenca uma série de dispositivos que podem ser utilizados na leitura de um espaço, dividindo a análise em cinco etapas: i. program development; ii. iventory and analysis; iii. conceptual design; iv. design development e v. final design. Cada etapa resulta em um produto gráfico diferente que tem como objetivo tornar quem pesquisa mais familiarizado com a área de estudo, suas demandas, problemáticas, potencialidades e etc.. Diante disso, procurou-se seguir esta metodologia por entender que, em conjunto com as outras já mencionadas, auxiliaria na proposta final do projeto. [Fig. 22. Maquete de estudos. Fonte: autora, 2017.] [Fig. 23. Croquis de estudo com base na metodologia de Reid. Fonte: autora, 2017.]


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[3.3.1 o mário amato] O Conjunto Habitacional Mário Amato localiza-se na porção sul da cidade de Presidente Prudente, São Paulo. Compõe juntamente com o Conjunto Habitacional Ana Jacinta e Jardim Prudentino, o “núcleo Ana Jacinta”. O censo do IBGE realizado em 2010, indicou que existe uma população de aproximadamente 10 mil pessoas nestes três bairros, sendo a população do Mário Amato composta pelo número aproximado de 2 mil pessoas. O bairro é margeado ao sul pelo Ana Jacinta, à sudoeste pela Chácara Azaleia II, à noroeste por um “vazio urbano” composto por chácaras particulares e à leste pelo Jardim Prudentino (Mapa 4). O principal acesso ao bairro se dá pela Rodovia Comendador Alberto Bonfiglioli, que a partir do encontro com a Rodovia Raposo Tavares tem seu nome alterado para Avenida Manoel Goulart. Além disso, pelo Ana Jacinta é possível acessar a área pelas avenidas Osvaldo da Silva e José Zerial, e pelo Jardim Prudentino pela Avenida Gustavo Antônio Marcelino. Assim, observa-se que o Mário Amato possui limites claros compostos por vias de fluxo rápido (até 80km/h) e três arteriais (até 60km/h). [Mapa 3. Localização do Mário Amato na esfera municipal, estadual e federal]

[Sem escala. Fonte: Google Maps e Prefeitura Municipal de Presidente Prudente. Elaboração da autora, 2017.]


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[Mapa 4. Recorte de Presidente Prudente e entorno próximo do Mário Amato]

[Fonte: Google Maps e Prefeitura Municipal de Presidente Prudente. Elaboração da autora, 2017.]


AV. S FARAH ÁLVARES MACHADO

ROD. ARTHUR BOIGUES FILHO

ROD. COMENDADOR ALBERTO BONFIGLIOLI

CONJUNTO HABITACIONAL MÁRIO AMATO

ROD. JUL BUDISK


SALIM H MALUF

LIO KI

AV. MANOEL GOULART

AV. PRES. WASHINGTON LUIZ

AV. CORONEL JOSÉ SOARES MARCONDES

AV. BRASIL

QUADRILÁTERO CENTRAL

PARQUE DO POVO

ROD. RAPOSO TAVARES [Mapa 05 - Localização do Conjunto Habitacional Mário Amato. Fonte: Google Earth .Edição da autora, 2016.]

N

0

250 500m


71

O espaço delimitado pelo Conjunto Habitacional Mário Amato possui uma área aproximada de 500.00m² distribuída em 54 quadras, sendo quatro destas de caráter público (Mapa 6). A comparação entre os espaços públicos e privados revela certa desproporção, tendo em vista que algumas quadras públicas são triangulares, significando que talvez sejam “sobras” da malha urbana. Explicando melhor, acredita-se que quando o bairro foi desenhado, algumas vias principais já existiam e o projeto de quadras ortogonais foi feito com base nestas ruas, assim, sobraram alguns espaços “estranhos”, em formato de triângulos, que foram destinados ao uso público. Isto representa a falta de preocupação dos planejadores em criar espaços públicos agradáveis e espalhados pelo bairro, de maneira a potencializar as relações de vizinhança e a vivência no espaço público. Este mesmo processo de planejamento do bairro resultou em ruas mais largas do que o necessário para o interior de um bairro, as ruas têm dez metros de largura tornando o caminhar pelo bairro pouco convidativo. Observa-se assim, a baixa qualidade de projeto urbano do bairro, a escala humana é deixada de lado em quadras longas e monótonas, além dos próprios “carimbos” já citados nas áreas públicas. No que diz respeito a estrutura do bairro, é possível dividi-lo em dois grandes setores e em outros subsetores (estes serão abordados posteriormente por meio do mapa de ambiências). O primeiro grande setor é caracterizado por pequenas indústrias não poluitivas, criando uma relação direta bairro-cidade. O outro setor é predominantemente residencial, tendo alguns comércios e serviços de bairro. No Setor 1 as quadras são mais largas que as do Setor 2 e os lotes maiores (Mapa 14), devido a sua característica industrial, estes têm, portanto, metragens quadradas que variam de 487,50 a 1103,00m². Já no Setor 2, as quadras são mais alongadas e caracterizam-se por ter vielas em seus interiores, seus lotes são estreitos e suas áreas variam de 135 a 270m². As vielas são uma das maiores problemáticas a serem solucionadas neste trabalho, tendo em vista que a maioria das habitações estão “de costas” para elas e há insegurança e pouca vivência nestes espaços.

Quadra tipo – Setor 1

Quadra tipo – Setor 2


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[Mapa 6. Áreas construídas]

[Mapa 7. Áreas verdes]

[Mapa 8. Mário Amato e entorno próximo]

[Fig. 24. Quadras tipo. Fonte: Prefeitura Municipal de Presidente Prudente. Elaboração da autora, 2017.]


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Nesse contexto, as tipologias acabam seguindo o mesmo traçado ortogonal, tendo em vista que as dimensões do lote não permitem grandes alterações. Quando o conjunto foi inaugurado, todas as habitações eram iguais – uma cozinha, uma sala, um banheiro e dois quartos, conforme mostra a Figura 28. A partir disto, a principal questão a se destacar é que atualmente, mais de vinte anos depois da edificação do bairro, existe uma intensa ocupação dos lotes por parte dos moradores (Mapa 16), que passaram a expandir as casas por meio de pequenas reformas, resultado em um logradouro (LAMAS, 2004), quase inexistente em muitos lotes. Aos poucos, as habitações foram ganhando um quarto a mais, uma cozinha maior, uma área de serviço coberta e assim por diante. Ainda hoje, andando pela área é possível notar que estas pequenas ampliações ainda estão presentes, o cenário de materiais de construção espalhados na calçada é comum. Por este motivo, são poucas as residências que ainda mantém o mesmo padrão construído em 1993.

[Fig. 25 e 26. Habitações sem alteração. Fonte: autora, 2016. Fig. 27. Planta baixa padrão implantada no bairro. Fonte: MACENA, 1997. Fig. 28. Colagem de algumas tipologias existentes no bairro. Fonte: autora, 2016. Elaboração da autora, 2017]


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A maioria das habitações é de médio padrão, variam entre um e dois pavimentos e apresentam elementos de autoconstrução (Figura 28). A maioria das fachadas tem permeabilidade com a rua, com grades que deixam a residência à mostra. Em relação à transição privado-público que se dá por meio das calçadas, pode-se dizer que estas representam um grande entrave à acessibilidade, tendo em vista que as habitações são mais altas que o nível da rua, formando degraus nos passeios (Figura 29). Em relação às características físicas do bairro, pode-se dizer que a topografia não é acentuada, contudo há algumas áreas com consideráveis desníveis (Mapa 9), que são sentidos principalmente pelas calçadas em rampas e pelos degraus em algumas vielas. Além disso, mesmo não existindo grandes declives, a maneira como as vielas foram projetadas resulta em um péssimo escoamento da água, em que esta é levada com muita pressão para as bocas-de-lobo.

[Fig. 29. Colagem de fotos mostrando os degraus nos passeios e nas vielas. Fonte: autora, 2016. Edição da autora, 2017]


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[Mapa 9. Topografia]


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Conforme já esclarecido anteriormente, o Mário Amato é um bairro predominantemente residencial, apresentando uma área destinada à indústria não poluitiva e comércios e serviços distribuídos pelo bairro, muitas vezes no mesmo edifício destinado à habitação, caracterizando o uso misto (Mapa 18). Todavia, não se pode afirmar que o bairro apresenta grande variedade de usos, conforme esclarece o mapa, poderia haver mais diversificação nas atividades oferecidas de maneira a potencializar o caminhar a pé. Os equipamentos oferecidos no bairro não são muitos, existindo apenas uma escola de ensino fundamental, assim para ter acesso a escolas de ensino médio, atendimento de saúde e equipamento cultural, é necessário que os moradores se dirijam ao bairro vizinho – o Ana Jacinta, o que não representa uma grande dificuldade, uma vez que a distância entre um bairro e outro é pequena. [Mapa 10. Uso e ocupação do solo]

Fonte: Prefeitura Municipal de Presidente Prudente. Elaboração da autora, 2017.]

N 0 50 100 200m


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INSTITUCIONAL

MISTO

(RESIDENCIAL + COMERCIAL)

COMERCIAL

(ESCALA DO BAIRRO)

COMERCIAL

(ESCALA DA CIDADE)

RESIDENCIAL


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No que diz respeito ao transporte público, os moradores afirmaram que há alguns anos este serviço tem melhorado muito, com aumento de linhas e recapeamento das ruas, a maior problemática nesse sentido é o design do ponto de ônibus, que pouco protege do sol e da chuva. Importante ressaltar que o mobiliário urbano em geral do bairro é pouco interessante, bancos de concreto que esquentam ao sol e ausência de postes de iluminação em todas as vias. [Mapa 11. Linhas de ônibus]

Fonte: Prefeitura Municipal de Presidente Prudente. Elaboração da autora, 2017.]


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Outro elemento analisado foi a vegetação, no bairro há um parque, duas pequenas praças, um canteiro central bastante largo em que há um passeio para pedestres no centro e uma área de preservação permanente (APP) cercada (Mapa 15), este último representa um grande obstáculo para os moradores, além de emitir odores desagradáveis, conforme relatado em entrevistas. Eles acreditam que o córrego existente dentro da APP serve como área de despejo de esgoto e por isso o mau cheiro. No que diz respeito às árvores, notase que há uma quantidade razoável de plantas (Mapa 19), contudo, a maneira como muitas são plantadas, exatamente no meio do passeio, dificulta o caminhar, ademais, as espécies escolhidas não são adequadas, tendo em vista que muitas são muito baixas, dificultando novamente o acesso ao pedestre. As duas pequenas praças existentes são muito pouco exploradas pelos moradores, resultando em um espaço público ocioso que poderia ser um ponto de encontro aos citadinos. Além disso, existe um estigma por parte dos habitantes do Mário Amato com relação ao parque, muitos o consideram perigoso e pouco convidativo. De fato, o parque é pouco atrativo, o que se vê é uma “miniatura do Parque do Povo” de Presidente Prudente: parquinho infantil com pouco sombreamento, quadra poliesportiva, quiosque com internet livre, academia da terceira idade de mesas e bancos de concreto. A vegetação é escassa, tornando-o pouco sombreado e talvez por isso, pouco frequentado. Por fim, o canteiro central com o passeio para pedestres se mostrou uma agradável surpresa: é interessante andas no meio das avenidas em uma área sombreada e com diferentes espécies de plantas (muitos moradores cultivam espécies nesta área), além disso existem áreas de descanso neste passeio e no fim da tarde observou-se pessoas caminhando e andando de bicicleta: uma das maiores potencialidades do bairro. [De cima para baixo. Fig. 31. Parque; Fig. 32. Praça; Fig 33. Praça; Fig. 34. Passeio; Fig. 35. APP. Fonte: autora, 2016.]


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[Mapa 12 . Massa vegetal]

Fonte: Prefeitura Municipal de Presidente Prudente. Elaboração da autora, 2017.]


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Com relação à legislação, em 1996 foi aprovado pela Lei Complementar nº 029/96, o Plano Diretor de Presidente Prudente que, como salienta Nascimento (2014), influenciou significativamente a expansão territorial da cidade. Este instrumento tem o objetivo de traçar diretrizes de como a cidade deve se desenvolver nos próximos anos. O Plano de Presidente Prudente foi revisado em 2008 e no ano passado, em 2015, deu-se início a uma nova revisão, em que seus objetivos gerais são: I – assegurar que a ação pública ocorra de forma planejada; II – assegurara função social da propriedade urbana; III – estabelecer as exigências fundamentais de ordenação da cidade; IV – ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade; V – orientar os investimentos públicos. Pereira (2001) estabelece uma análise crítica do Plano Diretor de Presidente Prudente ao afirmar que as diretrizes delimitadas por ele não são efetivadas na prática, tendo em vista os diversos problemas apresentados nos conjuntos habitacionais edificados nas bordas da cidade. O Conjunto Habitacional Ana Jacinta e seus bairros adjacentes foram construídos alguns anos antes da instituição da Lei nº 029/96 e sua aprovação poderia ter sido evitada (dados todos os problemas ambientais) caso o Plano Diretor já existisse. Por fim, esta lei trata de outras, específicas e complementares que são: zoneamento de uso e ocupação do solo urbano; parcelamento do solo urbano; perímetro urbano; sistema viário básico e código de edificações. A parcela da Lei de Zoneamento de Uso e Ocupação do Solo Urbano que corresponde à área do Mário Amato está no Mapa 13.


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[Mapa 13. Zoneamento]

ZCS2

ZPPA

ZR2

ZI1

ZR4

Conjunto Hab. Mário Amato

Córrego

Bairros do entorno

N

0 50 100

200m

Fonte: Prefeitura Municipal de Presidente Prudente. Elaboração da autora, 2017.]


ZCS2 = Zona de comércio e serviço de eixos viários, de ocupação vertical. ZR4 = Zona residencial de média densidade populacional de interesse social, e ocupação horizontal e vertical de até 2 pavimentos. ZI1 = Zona de indústrias não poluitivas ZR2 = Zona residencial de média densidade populacional de ocupação horizontal e vertical de até 2 pavimentos. ZPPA = Zona de Preservação e Proteção Ambiental. ZONEAMENTO - PARÂMETROS E ÍNDICES URBANÍSTICOS Zona

Tam. mín. do lote

ZR4

160m²

Taxa de Frente Coef. Taxa de Recuo Área mín. do aprovei- ocupa- frontal mín. do permeatamento ção máx. bilidade lote mín. terreno máx. normal/esquina mín. 09m 2 70% 4m 10% 60m² 12m

ZCS2 ZI1

1000m²

ZR2

250m²

ZPPA

20m 30m 12m 14m

4

70%

Facultativo

2

60%

10m

2

70%

4m

10m²

Gabarito de altura máxima

2

10%

Livre

20%

Livre

10%

2

60m²

Não são permitidas construções nesta zona.

CARACTERÍSTICAS DO USO ZONA

PERMITIDOS

ZR4

Residencial unifamiliar Residencial multifamiliar vertical e horizontal Comécio e serviço vicinal Comércio e serviço de bairro

Comércio e serviço geral Comércio e serviço específico e indústria não poluitiva

Os demais

ZCS2

Residencial unifamiliar Residencial multifamiliar vertical e horizontal Comécio e serviço vicinal Comércio e serviço de bairro Comércio e serviço geral

Comércio e serviço específico e indústria não poluitiva

Os demais

ZI1

Comécio e serviço vicinal Comércio e serviço de bairro Comércio e serviço geral não nocivo ou perigoso Comércio e serviço específico e indústria não poluitiva

ZR2

Idem ZR4

TOLERADOS

Residencial unifamiliar Residencial multifamiliar vertical e horizontal

Idem ZR4

PROIBIDOS

Os demais

Idem ZR4

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[3.3.1.1 toda viagem é feita só de partida] Este item abarca as impressões que tive durante minhas visitas ao bairro e pretende expor meu olhar sobre esta área por meio de um percurso fotográfico e mapas menos técnicos e mais sensitivos do que os até agora apresentados. Nos dias que em que estive no bairro fazendo levantamentos e análises 6, entrevistas também foram feitas com os moradores (ver questionário no Anexo 1). Foi possível perceber que existem laços fortes e já saudosistas por parte dos moradores, explico: muitos deles se mudaram para o bairro ainda no início de suas vidas, recém-casados e/ou com filhos pequenos, assim, eles viram seus filhos crescer nesta área, hoje dizem que “já não é a mesma coisa”, “as crianças cresceram e ninguém mais brinca na rua”. A verdade é que se observou a presença de crianças/adolescentes na rua, principalmente nas análises feitas no mês julho (férias escolares). Nestas mesmas conversas perguntei aos citadinos se eles achavam que existia um “núcleo Ana Jacinta” ou se era possível identificar claramente cada bairro, a mesma pergunta foi feita à alguns moradores do Ana Jacinta. A maioria dos moradores respondeu que “para as pessoas da cidade, pra lá é tudo Ana Jacinta” e que mesmo morando em outro bairro, eles dizem que moram no Ana, por este ser o nome mais conhecido. Eles ainda disseram que sim, é possível identificar claramente os bairros, não sendo tudo uma coisa só, os moradores do Ana Jacinta disseram: “aqui no Ana é tudo muito bom, todo mundo se conhece, não há perigo algum, mas para aqueles lados de lá, Mario Amato, aí já não sei te dizer...”. Interessante notar que tive a mesma resposta no Mário Amato: “você pode andar por tudo aqui no Mário Amato, ninguém vai te incomodar, todo mundo é amigo, mas depois da avenida, ali no Ana Jacinta, já não sei te dizer como é.”. Percebe-se então que mesmo três conjuntos habitacionais tendo sido formados e povoados praticamente ao mesmo tempo, o senso de identidade existente 6

Em seus estudos, Lynch (1998) sugere que sejam feitos mapas mentais de maneira a compreender o espaço pela visão do próprio habitante, além de apreender quais são os pontos mais importantes de um bairro ou até mesmo de uma cidade. Contudo, pela dificuldade de se aplicar este procedimento (a maioria das pessoas se recusa a fazer), montei a entrevista de forma que as pessoas tivessem que me descrever algum caminho e assim, eu mesma fazia o mapa mental. Assim o questionário foi montado com base em Lynch e em Mazzilli (2002).


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dentro de cada área é muito grande. Os moradores realmente se identificam e gostam do lugar em que moram, muitos viram toda a evolução do bairro e tem orgulho do lugar em que moram. A ideia de comunidade ficou mais clara para mim quando estava circulando pelo bairro e alguém me parava perguntando quem eu era, fato que aconteceu mais de uma vez. Queriam saber o que estava fazendo lá, o que estava anotando e por que estava tirando tantas fotos. Isto mostra que existe um zelo por parte dos moradores quando há presença de “estranhos” no bairro – “olhos da rua” diria Jane Jacobs. As análises mostraram que o Mário Amato depende do Ana Jacinta em diversos aspectos como educação, saúde, comércio e serviços, contudo este não é um fato que os moradores gostam de afirmar. Ao perguntar isso, uma das pessoas me respondeu: “claro que não, a gente só precisa ir ao posto de saúde, na escola e na feira do Ana, de resto aqui tem tudo.”. Outra pergunta que gerou controvérsias foi se eles consideravam que o “núcleo Ana Jacinta” era outra cidade em relação à Presidente Prudente por conta da distância e muitos responderam que sim e que os bairros ali existentes funcionam como uma pequena cidade e que muitas pessoas não precisam sair dali para nada. Mas não foram todos que responderam desta forma, alguns se sentiram até ofendidos pela pergunta, por acharam que mesmo sendo longe do centro, os bairros daquela área são sim de Presidente Prudente, “o aeroporto é mais perto de nós do que deles [os moradores do centro da cidade]”, afirmou um dos habitantes do Mário Amato com um orgulho. Levando em consideração a teoria de Lynch (1998) e seu três conceitos-chave: legibilidade, estrutura e identidade e imageabilidade, pode-se afirmar que o bairro de certa forma é legível, seu traçado ortogonal não permite grandes confusões ao pedestre, e talvez por este motivo o caminhar seja tão monótono, não há quebras de visuais, nem elementos que atraiam a atenção de quem por ali passa. O segundo elemento, que na verdade são dois, diz respeito à identidade e significado de uma cidade/bairro, o Mário Amato tem suas particularidades, existe uma personalização adotada nas calçadas por alguns moradores que proporcionam certa identidade à área. Por fim, após feitas as análises no bairro, não possível identificar forte caráter de imageabilidade, não existem características fortes que representem o Mário Amato, e nesse sentido, é como se este bairro, o Ana Jacinta o Jardim Prudentino fossem apenas um só.


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Ao caminhar pelo bairro sempre atenta aos detalhes e as diferentes emoções que sentia, apreendi uma paisagem muito monótona, as longas quadras desgastam o pedestre e tornam o ambiente desinteressante, as pequenas paradas proporcionadas pelas vielas não resolvem este problema, pois estas são pouco convidativas, não há por que passar por elas, a não ser que for para “cortar caminho” – neste sentido há a presença de certa permeabilidade elencada por Bentley (1999). Todavia, as ruas muito largas e extensas contribuem demasiadamente para que a escala humana seja perdida, muitas vezes não é possível ver o fim da rua, proporcionando uma sensação de estar perdido. Observa-se certa uniformidade na ocupação dos lotes, postes de iluminação a cada x metros e ausência de mobiliário urbano. Entretanto, mesmo que a paisagem do bairro não proporcione visuais interessantes, os próprios moradores oferecem boas surpresas – não raro encontrei vizinhos conversando nas calçadas e crianças brincando nas ruas, ou seja, existe certa ocupação no espaço público, a ideia, portanto, é potencializar estar ocupação e torná-la mais agradável.

[Fig. 36. Pessoas caminhando pela viela próxima a escola. Fonte: autora, 2016. Edição da autora, 2017. Fig. 37. Colagem de usos e apropriações pelo bairro. Fonte: Google Earth e autora, 2017. Elaboração da autora, 2017]


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[Mapa 14. Barreiras no tecido urbano]

[Fonte: Prefeitura Municipal de Presidente Prudente. Elaboração da autora, 2017]


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[Mapa 15. Interrupções na mobilidade urbana pedonal]

[Fonte: Prefeitura Municipal de Presidente Prudente. Elaboração da autora, 2017]



LEGENDA

/

■w ),

VIAS

BANCO NA CALÇADA

QUADRAS

PESSOAS SENTADAS

(.�

PLANTAS NA CALÇADA

VENDEDOR AMBULANTE CRIANÇAS BRINCANDO

-

PESSOAS CONVERSANDO

-

agem de foto e apropn;:içào de nte: autom. 201 /.


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LEGENDA

[Fig. 40. Colagem de foto com espaço com apropriação de crianças. Fonte: autora, 2017.]


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[Fig. 41. Mapa de ambiências. Fonte: autora, 2017.]


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[Mapa 17. Ambiências]

[Fonte: Prefeitura Municipal de Presidente Prudente. Elaboração da autora, 2017]


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[Fig. 42. Colagem de imagens das ambiências. Fonte: autora, 2017]


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O Conjunto Habitacional Mário Amato conta com um Centro Adventista da Criança e do Adolescente (CADECA), que fundado em 2002 realiza projetos sociais de educação, motivação, complemento educacional, alimentar e familiar, abrigando mais de 100 crianças durante a tarde. Assim, no dia 17/08/2016 realizei uma atividade com as crianças de 9 a 11 anos que lá estavam com o intuito de compreender o que as crianças pensam sobre o bairro em que vivem, como percebem seus espaços e também para explicar a eles o que é a profissão do arquiteto e urbanista, tendo em vista que quase nenhum deles sabia. A atividade foi dividida em três etapas: 1. Colagem de comentários em fotos do Mário Amato que já havia tirado e impresso, para saber o que as crianças pensam destes espaços; 2. Roda de conversa sobre a atividade 1, sobre o que é a profissão do arquiteto e urbanista e sobre qual o papel deles enquanto cidadãos na produção da cidade (nesta parte eu apresentei uma maquete de um projeto de loteamento que já havia feito para eles entenderem melhor); 3. Confecção de um desenho em conjunto sobre coisas que eles gostariam que tivessem no bairro e/ou coisas que já têm e eles acham legal; 4. No decorrer da tarde, optou-se por não tecer nenhum tipo de crítica ou comentário que pudesse influenciar a opinião das crianças sobre as áreas retratadas nas fotos, com o intuito de que os relatos fossem os mais honestos e inocentes possíveis. Por meio dos comentários colados nas fotos, bem como das falas das crianças foi possível apreender o quanto eles gostam de algumas partes do bairro e não têm uma opinião formada sobre outros. Nenhum deles sabia qual era a função do arquiteto e urbanista e a falta de repertório e de bons exemplos de planejamento urbano transpareceram em suas colocações acerca do bairro

[Fig. 43. Passo a passo da Atividade 1. Fonte: autora, 2016 Fig. 44. Colagem de fotos da atividade realizada. Fonte: autora, 2016]


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O arquitecto faz da cidade um problema pessoal, para o qual contribui com as suas qualidades: o desenho e a sensibilidade ao sítio e ao contexto; a criatividade e imaginação; a capacidade de síntese, a visão global dos problemas. Contribui com um método de trabalho, uma técnica de concepção e de comunicação de ideias em relação com os processos de construção. Mas o arquitecto traz também uma experiência ligada ao presente e ao passado, os quais conhece da vivência da cidade, onde o material da História é uma fonte inesgotável de aprendizagem e reflexão. (LAMAS, 2004, p. 24).

[Fig. 45. Colagem de foto de um morador do bairro. Fonte: autora, 2017]


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A partir deste pensamento de Lamas, entende-se que o arquiteto e urbanista é um dos agentes que atua no espaço e que tem conhecimento teórico e técnico para projetar espaços que possibilitem manifestações das mais diversas naturezas e ainda, as intervenções que fomentam esses tipos de encontro não precisam, necessariamente em todos os casos, ser grandes obras de infraestrutura, tendo em vista que não raro pequenas propostas em parceria com outros profissionais geram marcas permanentes e positivas no espaço, e considerando ainda todos os percursos teóricos acerca da cidade contemporânea e a ideia de Certeau aqui expressada, busca-se propor ensaios projetuais que dialoguem com o bairro existente. Quando a esfera pública não oferece mais lugar de investimento político, os homens se fazem “eremitas” na gruta do habitat privado. Hibernam em seu domicílio, buscam satisfazer-se com pequenos momentos de felicidade individuais. Talvez alguns até já sonhem em silêncio outros espaços de ação, de invenção e de movimento. Num muro do barro, em junho de 1968, uma mão anônima escreveu essas palavras: “A ordem nas ruas faz a desordem nas cabeças”. Reciprocamente, o desespero social instala a imaginação no poder, nos sonhos solitários. (CERTEAU; GIARD, 1996, p. 206).

Nesse sentido, foram utilizadas algumas referências teóricas para nortear o efeito esperado das intervenções propostas neste trabalho, sendo essas as qualidades de design, propostas por Allan Jacobs em Great Streets (1980), os critérios de vitalidade urbana, desenredados em Responsive Environments: A manual for designers (1999), por Ian Bentley, Alan Alcook, Paul Murrain, Sue McGlynn e Graham Smith e ainda, por entender que a (re)produção do espaço urbano é um processo complexo que envolve diferentes agentes e escalas de intervenção, seu estudo e análise também deve ser entendido no âmbito de uma confluência de disciplinas, como propõe Ultramari (2009). Diante disso, a proposta do sociólogo François Ascher, denominada de neourbanismo, também foi elencada. De tal atuação ampla, o planejamento urbano conviveria com outras ciências, confundindo-se mesmo, em alguns momentos, com a sociologia, geografia, economia e ciências políticas. Assim, confirma-se a idéia de o planejamento urbano mostrar-se como uma ciência de caráter eminentemente multidisciplinar e preocupada com a forma societária desenvolvida em seu espaço de interesse, a cidade. (ULTRAMARI, 2009, p. 179).


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As qualidades apontadas por Jacobs são: QUALIDADES

DESCRIÇÃO

LOCAIS PARA AS PESSOAS CAMINHAREM CONFORTAVELMENTE

ruas/passeios/espaços em que as pessoas possam circular com lazer, ou seja, de maneira confortável e segura, locais em que os citadinos possam ver e serem vistos;

CONFORTO FÍSICO

o autor afirma que sempre há locais que evitamos pela sua falta de conforto, seja uma rua muito quente, muito fria, muito escura e etc. Great streets são tão confortáveis quanto é possível no contexto em que se situam;

DEFINIÇÃO

as ruas são definidas de duas formas: verticalmente, que diz respeito à altura dos prédios ou muros ou árvores ao longo da rua; e horizontalmente, que geralmente se relaciona ao comprimento e espaçamento entre aquilo que está sendo definido. (JACOBS, 1980, p. 277, tradução nossa);

QUALIDADES QUE ATRAEM O OLHAR

great streets requerem características físicas que ajudem os olhos a fazer o que eles mais querem fazer: movimentar-se (JACOBS, 1980, p. 282, tradução nossa). Nesse sentido, é preciso que haja complexidade visual nas ruas, mas não em excesso de modo que o ambiente urbano fique caótico. Ademais, as próprias pessoas circulando pela rua atraem o olhar e consequentemente atraem mais pessoas;

TRANSPARÊNCIA

as melhores ruas são aquelas em que o pedestre pode ver, ou ter pelo menos uma noção, do que se passa no edifício. O autor pontua, porém, que a transparência em janelas/portas não é sempre necessária ou até mesmo desejada. Em ruas residenciais, por exemplo, as janelas e portas são importantes no sentido de passar conforto ao


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pedestre – noção de que há vida dentro da habitação, bem como proporcionar ao morador uma visão do que acontece na rua;

COMPLEMENTARIEDADE:

“Os edifícios de great streets conversam entre si. Eles não são todos iguais, mas demonstram respeito uns pelos outros, principalmente sem sua altura e aparência. ” (JACOBS, 1980, p. 287, tradução nossa). Ou seja, a ideia não é que todos os edifícios de uma rua sejam iguais, mas sim que respeitem as particularidades do entorno;

MANUTENÇÃO

para que uma rua seja de fato ótima ela deve ter manutenção – calçadas acessíveis, ruas bem asfaltas, lixo devidamente recolhido, aparelhos públicos em bom estado e etc. As pessoas se sentem bem em locais que estão bem preservados e isso faz parte da construção de uma great street;

QUALIDADE DE CONSTRUÇÃO E DESIGN

diz respeito principalmente aos materiais e acabamentos e como são aplicados. Jacobs discorre sobre a importância de se usar bons materiais, que não se deterioram com facilidade.

[Tabela 1. Qualidades apontadas por Jacobs. Fonte: JACOBS, 1995. Elaboração da autora, 2017]

[Fig. 46. Recorte de uma bandeira dedicada à algum santo alocada em frente a uma casa do bairro Fonte: autora, 2017].


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Já em Responsive Environments, os autores descrevem ao longo do livro sete qualidades que devem ser trabalhadas no desenho urbano para se alcançar vitalidade urbana. Entende-se aqui vitalidade como sendo um conjunto de qualidades que juntas formam um ambiente democrático no qual as pessoas apreciem e queiram estar, onde usualmente há diversidade de usos. QUALIDADES

DESCRIÇÃO

PERMEABILIDADE

não se trata da permeabilidade visual, mas sim da física – está relacionada ao fato do citadino conseguir ter diversas trajetórias para atingir um mesmo ponto, refere-se também à ideia de acessibilidade, o quão um lugar é acessível do ponto de vista do pedestre.

VARIEDADE

trata-se da diversidade de usos, horários, públicos. Assim como a permeabilidade, é uma qualidade que torna o ambiente acolhedor.

LEGIBILIDADE

este elemento tem o mesmo significado da legibilidade empregada por Lynch, ou seja, remete à ambientes que são facilmente reconhecidos, que sua estrutura tem fácil leitura.

VERSATILIDADE

trata-se de um espaço que tem a capacidade de abrigar diversas atividades, como por exemplo, uma escola em que aos finais de semana a quadra poliesportiva é aberta para a comunidade. Esta qualidade é de extrema importância por possibilitar que atividades diversas e complementares possam acontecer em um mesmo espaço.

IMAGEM APROPRIADA

este é um grande problema que as cidades brasileiras têm enfrentado, pois é grande o número de edificações que não possuem imagem apropriada, ou seja, são espaços que foram construídos para um fim, mas atualmente servem a outro, isso faz com que a legibilidade seja empobrecida, pois não há


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diversidade de construção, resultado em mais monotonia para o bairro/cidade.

RIQUEZA PERCEPTIVA

remete aos sentidos: o bairro/a cidade se torna mais interessante a partir do momento em que o citadino consegue explorá-lo a partir de outros sentidos que não somente a visão, pois isto indica presença de outras pessoas, enriquecendo a paisagem.

PERSONALIZAÇÃO

este elemento expressa a personalização que os citadinos dão aos ambientes, não somente em suas casas, como também no bairro em que vivem, isto representa uma relação de pertencimento da pessoa com o lugar em que vive.

[Tabela 2. Qualidades apontadas em Responsive Environments. Fonte: BENTLEY, 1999. Elaboração da autora, 2017]

E o dez princípios do neourbanismo1 elencados por Ascher, aqui sintetizados, são:

1 Elaborar e manejar projetos urbanos em um contexto incerto: este primeiro item trata da flexibilidade do projeto urbano, Ascher acredita que ao projetar deve ser levado em conta um futuro incerto e que além disso, devem ser pensados por meio de uma gestão estratégica, em que haja participação popular, e que todas as características do meio sejam levadas em consideração.

2 Priorizar os objetivos em relação aos meios: no movimento moderno as regras para se projetar no meio urbano são muito rígidas e específica, nesse sentido, Ascher propõe uma nova forma de projetar mais livre e mais complexa, que vá de encontro com a sociedade atual. Para isso, é preciso pensar em um urbanismo que vai além do desenho e que gere

1 Neourbanismo não é sinônimo de new urbanism, movimento que surgiu nos Estados Unidos na década de 1980 como resposta ao modernismo.


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resultados palpáveis, necessitando de profissionais extremamente qualificados e criativos que consigam atrelar os mais diversos atores e condicionantes em um mesmo projeto.

3 Integrar os novos modelos de resultado: diferentemente dos ideais modernistas que delimitavam a cidade em zonas monofuncionais, bem como pela simplificação e repetição de funções, a proposta do neourbanismo é totalmente o oposto, não busca simplificar quadros complexos, nem dar respostas semelhantes a realidades completamente diferentes. Assim, este processo resultará em uma cidade diversa, caracterizada “por uma multicentralidade, pela polivalência de uma parte dos equipamentos e serviços (...). (p. 86).

4 Adaptar as cidades às diferentes necessidades: assim como no item anterior, este trata-se da personalização das soluções, novamente o autor discorre que não se pode pensar em projetos iguais para áreas diferentes e ainda, que é preciso considerar o processo de individualização pelo qual passa a nossa sociedade, por meio de projetos que permitam o usuário escolher o que fazer. “Esses dispositivos abrem a possibilidade de escolha aos indivíduos e tornam possíveis novos tipos de serviço adaptados a uma grande variedade de situações. ” (p. 88).

5 Conceber os lugares em função de novas práticas sociais: é preciso lembrar que a internet e os “equipamentos individuais portáteis” têm mudado a relação das pessoas para com elas mesmas e para com a cidade. Nesse contexto, é preciso pensar em projetos que levem este fato em consideração, como salienta Ascher (p. 90): “O neourbanismo deve-se esforçar em combinar essas possibilidades, em conceber espaços múltiplos de n dimensões sociais e funcionais, hiperespaços que articulem o real e o virtual, propícios tanto às mais variadas sociabilidades. ”

6 Agir em uma sociedade fortemente diferenciada: Ascher aborda neste item a importância da participação da população nas decisões que definem o rumo da cidade, para que as intervenções no espaço sejam coerentes com a necessidade de quem o usa e ainda porque nem sempre os políticos e/ou planejadores sabem o que é melhor para as pessoas. Contudo, o urbanista deve lembrar que nem sempre esse processo será rápido e terá apoio dos agentes que atuam sobre a cidade (o poder público e o privado).


110

7 Requalificar a missão do poder público: não existem grandes dificuldades quando o poder público precisa administrar áreas homogêneas, em que foram aplicadas as mesmas soluções em realidades diferentes, e para Ascher, aí é que está o grande desafio do neourbanismo, mudar a maneira como o serviço público se dá, de forma que seja capaz de lidar com projetos complexos, que consideram as especificidades de cada local e que se esforce em “construir os problemas caso a caso, e em elaborar respostas especificas para cada situação.” (p. 92).

8 Responder à variedade de gostos e demandas: diferentemente do modernismo que muitas vezes desconsiderava o passado, a proposta do neourbanismo é justamente manter os antigos estilos e tipologias, de maneira a valorizar a história e a diversidade. Nesse sentido, este novo modelo de urbanismo busca aproveitar-se das dinâmicas do mercado justamente para preservar os antigos edifícios e usá-los. Confrontando com uma cidade cada vez mais móvel, na qual os atores ampliam a sua capacidade de escolha de localização, o neourbanismo deve seduzir. Esforça-se em propor um tipo de cidade à la carte, que oferece combinações variadas de qualidades urbanas. (p. 94, grifo nosso)

9 Promover uma qualidade urbana nova: este item conversa diretamente com um dos doze critérios de qualidade para o espaço público propostos no livro New City Life (2006) que esclarece que o espaço deve proporcionar uma experiência confortável e interessante para quem o visita, assim, existe a necessidade de projetar não somente pensando em como as pessoas vão enxergar o lugar, mas também em como vão senti-lo. Conforme expõe Ascher: Leva em conta as dimensões multissensoriais do espaço e elabora não somente o visível, mas também o sonoro, o tátil e o olfativo. O desenho multissensorial das cidades permite criar ambientes diversificados, mais atraentes e mais confortáveis, inclusive para pessoas portadoras de deficiências sensoriais e motoras. (p. 95).

10 Adaptar a democracia à terceira revolução urbana: neste décimo e último item, o autor esclarece que a sociedade quem compõe a cidade hoje é muito diversa, são pessoas de diversas origens, etnias, gêneros e gostos. Dessa maneira, há necessidade de projetar em conjunto com estas pessoas, para que a intervenção no meio urbano esteja em conformidade com as suas necessidades, enriquecendo assim a democracia.


111

Por fim: Há cidades que permanecem como meras imagens visuais distantes quando recordadas, e há cidades que são recordadas com toda sua vivacidade. A memória resgata a cidade prazerosa com todos os seus sons e cheiros e variações de luz e sombra. [...]. A medida real das qualidades de uma cidade é se conseguimos nos imaginar nos apaixonando por alguém nessa cidade. (PALLASMAA, 2011, p. 65)

[Fig. 47. Casal aleatório em Lisboa. Fonte: autora, 2016]


112

[4.1 referências projetuais] Como referências projetuais foram elencados quatro projetos, cada um com suas características particulares.

[Fig. 48. Croqui. Fonte: autora, 2017]

[01 Pratt Street Concept Design, EUA] Projeto de revitalização de uma larga avenida em Baltimore, nos Estados Unidos, que tinha como prioridade o automóvel particular. No projeto priorizou-se então a escala do pedestre como forma de criar um ambiente mais agradável e aco-lhedor. O projeto foi escolhido pela nova relação que propõe com a escala humana, sem desconsiderar os outros usos existentes em uma avenida.

- FAIXAS PARA CARROS

+ FAIXAS COMPARTI LHADAS [Fig. 49. Planta do projeto. Fonte: 1000x landscape architecture, 2010, p. 315]


113

[02 Thuringowa Riverway, Australia] Centro de artes que faz parte de um projeto mais amplo que é a reabilitação do Ross River, em que há a intenção de criar uma comunidade em uma sociedade onde shoppings governam a interação social. “Nossa primeira preocupação era sobre como encorajar as pessoas à acessarem a cultura e não apenas as áreas de recreação. Nossa ideia foi intercalar os lagos e as galerias, como mãos interligadas, assim quem chegasse para nadas também estaria exposto às atividades culturais.” (Cox Architecture).

[Fig. 50. Croqui. Fonte: autora, 2017]

[Fig. 51. Foto do projeto. Fonte: coxarchitecture.com.au, 2017]

ESPAÇOS DE RECREAÇÃO

CENTRO DE ARTES ABERTO

IINTERESSE DA COMUNIDADE

REENCONTRO COM O MEIO AMBIENTE

Projeto escolhido pela maneira como insere o elemento ÁGUA juntamente com cultura e lazer.


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[03 Sacramento Waterfront Planning, EUA]

[Fig. 52. Croqui. Fonte: autora, 2017]

Requalificação do entorno de um rio como forma de dar mais qualidade de vida à população, interligando a paisagem natural, econômica, urbana, cultural e histórica. Projeto aqui elencado pela relação da escala humana com a natureza. RELAÇÃO NATUREZA/ PESSOAS

[Fig. 53. Planta do projeto. Fonte: 1000x landscape architecture, 2010, p. 323]

CAMINHOS CONVIDATIVOS


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[04 Corredor Verde de Santiago de Cali, Colômbia]

[Fig. 54. Croqui. Fonte: autora, 2017]

Projeto ganhador do primeiro lugar no concurso para um corredor verde. Titulada “Entre os morros e o rio”, a proposta apela para a geração, recuperação e adequação do espaço público para gerar um grande parque linear onde confluirão atividades recreativas, culturais e lúdicas associadas a uma ciclovia que funcionará como um sistema de mobilidade limpa.” (Achdaily, 2017). Projeto escolhido por integrar de forma muito significativa os quatro eixos propostos: recompor, integrar, equilibrar e renovar.

[Fig. 55. Objetivos do projeto. Fonte: espacio colectivo arquitectos, 2017]


116

Ademais, utilizou-se também como referência de desenho urbano o Global Street Design Guide (2016) que em mais de 400 páginas elenca diversas características para tornar as ruas melhores para quem mais circula por elas – os pedestres. Com a ideia de que streets shape people, e aqui traduzida como “ruas abraçam as pessoas”, o livro elenca diversas ideias-chave, partindo do pressuposto de que as ruas fornecem a plataforma para as experiências do dia a dia e devem, portanto, ser desenhadas para dar suporte à saúde e ao bem-estar das pessoas. Devem ser, também, espaços que causem boas sensações, bem como acesso, segurança. Interação social, empoderamento, inclusão social, além de carregarem expressão e significados pessoais para cada citadino. O livro propõe uma reflexão, que foi abordada nos percursos teóricos, sobre o espaço ocupado pelos automóveis particulares – sobre o planejamento urbano que prioriza este tipo de transporte em detrimento de todos os outros, elencando que 50 pessoas a pé ocupam 50m², 50 ciclistas ocupam 100m², 50 pessoas em um ônibus correspondem à 36m² e 50 pessoas em carros ocupam 400m². Estes valores nos fazem refletir sobre a cidade que temos hoje a cidade que queremos construir.

[Fig. 56. Pessoas de uma ONG na Av. Paulista, em São Paulo. Fonte: autora, 2017]


117

[4.2 plano] No decorrer do trabalho, buscou-se delinear uma ideia do que seriam os ensaios projetuais aqui propostos – projeto enquanto suporte para um processo, projeto que não é algo imposto, mas sim construído e passível de transformações, projeto que busca promover mais qualidade de vida aos moradores do bairro estudado. Procura-se fugir da regra atual de planejamento de que o plano é algo tecnocrático para uma visão mais colaborativa e intimista, partindo primeiro do corpo e das memórias de quem de fato vivencia a realidade em uma construção horizontal, arquiteto enquanto um dos agentes transformadores. Buscase dissociar da imagem centralizadora para dar suporte a quem vai construir, e talvez até, destruir o ambiente que aqui se propõe. Os usos, encontros, desencontros, improvisos acontecem além da esfera do que foi planejado – são autônomos e contínuos – e devem ser considerados enquanto possibilidades na proposta. Ao escolher o caminho do planejamento urbano, o grande desafio que se coloca de imediato é o esforço da imaginação do futuro, de prever usos, apropriações e formas de viver, entretanto, de forma menos mecanicista, a proposta enseja simular desdobramentos e não respostas finais, como elencado já nos objetivos iniciais, e como propõe Marcelo Lopes de Souza, em Mudar a Cidade (2015). De fato, a construção de cenários não deve ser entendida como um mero aperfeiçoamento das técnicas tradicionais de previsão, mas sim como uma ruptura qualitativa, epistemológica, em relação a elas construir cenários não significa (ou, pelo menos) não deveria significar), na verdade, tentar “prever” o futuro, em sentido forte, como se a história fosse possível de completa determinação ou, pelo menos, como se fosse razoável, em nome de um pretenso pragmatismo, ignorar a dimensão da contingência que sempre existe nos processos históricos. (SOUZA, 2015, p. 47-48).

Como resultado tem-se então o que autor denomina de plano, que seriam propostas e possibilidades que buscam permitir novos usos, manter antigos e dar espaço para novas espacialidades, novas formas de viver que abarquem – e abracem – todas as pessoas, sem considerá-las iguais, mas sim pensando em apropriações distintas em um mesmo espaço. Planos não precisam ser rígidos e excessivamente detalhados, ou formalistas, ou obcecados com projeções e prognósticos a respeito da “cidade ideal” mais que


118

com o fornecimento de instrumentos adequados e realistas para a superação dos problemas da cidade real. Planos são documentos consolidadores de uma dada estratégia de desenvolvimento urbano e, como tais, serão aquilo que dele fizermos – nem mais, nem menos. (SOUZA, 2015, p. 400).

A proposta norteia-se pelas leituras feitas no território e apresentadas nos percursos locais. A partir dos levantamentos e do entendimento das dinâmicas que caracterizam o bairro, foi possível entender suas deficiências e potencialidades. A área é marcada por setores monótonos e homogêneos, despertando a necessidade de pensar uma proposta que revertesse este quadro. O contato com a população, bem como os percursos fotográficos foram muito importantes para guiar e levantar questionamentos e propostas, por meio de uma visão que partiu de fato dos moradores. Além disso, foram elencados alguns objetivos-chave de maneira a priorizar e organizar as intervenções, que são: escala humana, amabilidade/vitalidade/urbanidade e agenda ambiental, sendo este último entendido como as propostas voltadas para as questões ambientais, como manejo eficiente de águas pluviais e propostas para vegetação do bairro. De maneira a entender como estas ideias seriam materializadas, foi considerada a participação de macroagentes, como Estado e iniciativa privada, atuando dentro de duas esferas: regulação e gestão, divididas em diferentes temáticas de atuação no solo urbano (Tabela 3).


CRITÉRIOS

EIXO

DESCRIÇÃO DA AÇÃO

ESCALA HUMANA + VITALIDADE / AMABILIDADE / URBANIDADE + AGENDA AMBIENTAL

Organizar e priorizar o sistema viário para pedestres e ciclistas

Mobilidade / acessibilidade

Redesenho das calçadas Intervenção nas grades da APP para que haja maior permeabilidade visual + ligação do Mário Amato com o Ana Jacinta por meio de ciclofaixa + travessia elevada + intervenção nas vielas

Agenda ambiental

Técnicas de escoamento com swale + jardins de chuva + pavimentação permeável Indicação de plantio de árvores adequadas ao clima local e ao ambiente urbano Desmembramento do lote da escola para inserção de uma horta comunitária Incentivo fiscal à ocupação de atividades artísticas culturais + comércios de bairro

Uso e ocupação

Incentivo para destinação de um lote da parte industrial para acomodação de quem trabalha nesta área = pequenos restaurantes + áreas de descanso + vestiário para ciclistas (incentivo ao uso misto) Incentivos para ocupação dos lotes vazios no Mário Amato e no Jardim Novo Prudentino

Espaço público

Intervenção no parque, nas vielas e nas calçadas


ATORES ENVOLVIDOS

PROJETOS

EFEITOS ESPERADOS

Setor público

Reordenamento de algumas ruas + área de traffic calming + faixas de pedestres / travessias + sistema cicloviário

Trânsito mais confortável para a escala humana – pedestres e ciclistas

Reforma das rampas das calçadas + alargamento das calçadas + pavimentação permeável + iluminação adequada

Maior acessibilidade / segurança ao pedestre + espaços para permanecer + melhor escoamento da água

Setor privado Residentes do bairro e do entorno Usuários espontâneos

Redesenho das grades da APP com intervenções artísticas

Setor público

Swale nos canteiros centrais + jardins de chuva nas calçadas + pavimentação permeável nas calçadas

Barreiras diluídas

Manejo eficiente das águas pluviais

Setor privado Setor educativo

Indicação de espécies vegetativas adequadas

Microclima mais agradável

Passagem pedonal e cicloviária pelo terreno desmembrado da escola + diretrizes para inserção de uma horta comunitária

Fortalecimento da identidade local + educação ambiental

Isenção ou incentivo fiscal para atividades relacionadas à arte ou criação e incentivo fiscal para atividades relacionadas à comércios de bairro

Potencialização de diferentes usos

Setor público Integração das pessoas que Direito de superfície + Fruição pública + diretrizes para trabalham na região com o bairro um uso comercial por meio de equipamentos que auxiliariam esta apropriação

Setor público / privado Residentes do bairro e do entorno Setor educional e cultural Grupos sociais

Fruição pública + Direito de superfície

Densificação e ocupação nos lotes vazios

Intervenções no parque como: espaços para sentar/estar, anfiteatro para apresentações e eventos ao ar livre (inserção no circuito da Batalha do Vale) + espaço demonstrável para atividades de equipamentos culturais-educacionais no bairro + apropriação de calçadas e vielas com mobiliários e vegetação

Permanência nos espaços públicos + melhoria da segurança pública + integração de atividades culturais-educacionais + diversificação e intensificação de usos


121

mapa de atores

l atores comunitários

População em geral Pessoas com necessidades especiais de locomoção Artistas / Pesosas que queiram intervir no meio urbano Estudantes

[Fig. 57. Mapa de atores. Fonte: Projeto Corredor Verde Cali, Colômbia. Idealização da arte: Luiz Felipe Brizante dos Santos. Elaboração da autora, 2017]

socia

Meios de comunicação alternativos Sites / aplicativos de interesses cidadãos Grupos em redes sociais Periódicos locais Meios de comunicação escolares Emissoras locais

setor público

r seto ado priv

Universidades Escolas Bibliotecas Casas de culturas Instituições educativas

e edu d s o i me uni e c cação ultu com ão ra ç a c

Secretaria de Planejamento, Desenvolvimento Urbano e Habitação Secretaria de Obras e Serviços Públicos Secretaria do Meio Ambiente Secretaria de Assuntos Viários Secretaria de Cultura Secretaria Esporte Secretaria de Educação

Associações comerciais Empresas de mobilidade urbana Setor industrial Setor empresarial Empresas de tecnologia

Associações de bairro ONGs Organizações ambientais Grupos de ciclistas Grupos de interesse na proteção do meio ambiente


122

Formação e fortalecimento dos meios e espaços de comunicação para o autodirecionamento e manejo dos processos Reconheciento de potencialidades, problemáticas e oportunidades

Construação de rede de apoio para que as mulheres se apropriem do espaço com segurnaça

Instalação de paineis explicativos sobre os avanços do projeto Construção de pactos cidadãos para regulamentar a participação popular

Conformação de mesas de trabalho com diferentes atores Projetos pedagógicos para que as pessoas entendam os processos e se apropriem

Geração de espaços participativos para que as decisões sejam tomadas de forma coletiva Realização de oficinas e propostas de apropriação

Identificação de temas de interesse da população em relação ao projeto

Elaboração de agenda de eventos temporários para uso e apropriação dos espaços

Organização da autogestão

Construção da gestão participativa


123

[Mapa 18. Diretrizes geais]

1

2

3

4 5 6 7

8

Ciclovia

Setor industrial

Continuação da ciclovia Calçadas com rampas

Lotes vazios

9

Vegetação nativa

Córrego

Conexão com outros bairros

Desmembramento do lote da escola

Conjunto Hab. Mário Amato

Intervenção nos espaços públicos

Bairros do entorno

N

0 50 100

200m


124

ESCALA DE PRIORIDADE 1

Priorizar a escala humana = faixas elevadas, acessibilidade e sombreamento

2

Desmembrar o terreno da escola, abrir novas ruas e promover outro uso

3

Alinhamento das calçadas que possuem rampas

4

Intervenção nos lotes vazios

5

Área de traffic-calming + técnicas alternativas de escoamento de água

6

Sistema cicloviário

7

Intervenção nos espaços públicos = parque, praças e vielas

8

Intervenção na APP - intervenção nas grades e passarela para pedestres

9

Estabelecer uma conexão Mário Amato-Ana Jacinta-Prudentino por meio de polos de atração nas avenidas

conectar

A proposta se faz no sentido de CONECTAR, ou seja, transpor os limites impostos, conectando os bairros, condicionar as vias para melhor apropriação dos pedestres, minimizar os impactos da circulação automotiva, reduzindo a velocidade dos automóveis e aproximando calçadas e, principalmente, esquina. Além de uma conexão interna no bairro, por meio de intervenções nos espaços públicos, apropriando-se de lotes inutilizados, além de uma ligação de transporte alternativo (bicicleta) e o transporte público convencional (ônibus).


[Fig. 58. Colagem de elementos do bairro + possíveis apropriações. Elaboração da autora, 2017]



127

[mobiliário] O mobiliário urbano foi projetado de forma simples e que pudesse dar margem às diferentes apropriações pelo bairr - espaços em que as pessoas pudessem sentar, estar e compartilhar momentos. A materialidade também preza pela simplicidade formal, utilizando-se de concreto e madeira. Além disso, a ideia é que nas minipraças, no parque e nas praças, diferentes mobiliários estivessem dispostos, como os aqui utilizados como referência.

[Fig. 59. Playground house, Office Of Mcfarlane Biggar Architect, 2012. Fonte: modus-vivendi.es, 2013]

[Fig. 60. Mobiliário com redes, Jair Straschnow e Gitte Nygaard, 2015. Fonte: ovacen.com, 2017]

[Fig. 61. Liquid Stone, 2011. Fonte: marshalls.co.uk/, 2012]

[Fig. 62. Poste de iluminação pública. Fonte: elaboração da autora, 2017]


128

, [Fig. 63. Ponto de ônibus. Fonte: Elaboração da autora, 2017]

[Fig. 65. Banco com lixeira e suporte para plantas. Fonte: Elaboração da autora, 2017]

[Fig. 64. Bebedouro. Fonte: Elaboração da autora, 2017]

[Fig. 66. Banco com lixeira e bicicletário. Fonte: Elaboração da autora, 2017]


[detalhamento calçada]

[Fig. 67 Corte e planta de uma calçada. Fonte: Elaboração da autora, 2017]


130

[uso e ocupação] Souza (2015) esclarece que os instrumentos de tributação, para além de instrumentos de arrecadação de fundos, possuem a possibilidade de induzir o desenvolvimento urbano conforme as diretrizes estabelecidas no Estatuto da Cidade, Lei n. 10.257 de 10 de julho 2001. Tão ou mais importante é, na verdade, a extrafiscalidade dos tributos, isto é, a sua capacidade de permitirem outros objetivos que não somente o da arrecadação sejam perseguidos – seja o desestímulo de práticas que atentem contra o interesse coletivo (minimamente salvaguardado, na Constituição de 1988, por meio do princípio “função social da propriedade”), seja a promoção de redistribuição indireta de renda, sejam a orientação e o disciplinamento da expansão urbana, seja, ainda, o incentivo a determinadas atividades. (SOUZA, 2015, p. 226).

Nesse sentido, propõe-se então o incentivo fiscal para atividades artísticas, bem como comércios de bairro, de maneira a incentivar a construção de diferentes usos na escala do bairro – em uma área que fica a quase 10 quilômetros do centro da cidade, isto é, afastada do circuito de artes da cidade e do comércio em geral. Além disso, outra proposta seria a destinação de um lote vazio da área industrial para a acomodação de quem trabalha nesta área, como pequenos restaurantes, áreas de descanso, bicicletário e vestiário, incentivando o uso misto. E por fim, o Jardim Prudentino, que margeia à leste o Mário Amato conta com inúmeros lotes vazios, mesmo tendo uma infraestrutura urbana já consolidada, para isso, sugere-se que sejam utilizados os instrumentos de direito de superfície e fruição pública. O direito de superfície está previsto no Art. 1.369 do Código Civil e é uma concessão atribuída pelo proprietário do terreno a outrem, para construção e utilização durante um tempo determinado e registrado no Cartório de Registro de Imóveis. Já a fruição pública é Incentivo urbanístico para empreendimentos que destinarem áreas para uso público, prevista no Plano Diretor Estratégico de São Paulo Lei n. 16.050, de 31 de julho de 2014).


131

[Mapa 19. Calçadas]

Fonte: Prefeitura Municipal de Presidente Prudente. Elaboração da autora, 2017.]


132

[Fig. 68. Planta e cortes de calçadas com rampas. Fonte: Elaboração da autora, 2017]

[Fig. 69. Perspectivas de antes e depois das calçadas. Fonte: Elaboração da autora, 2017]


[Mapa 20. Sistema cicloviário]


134

[Fig. 70. Perspectivas de uma ciclofaixa com duas mãos. Fonte: Elaboração da autora, 2017]

O sistema cicloviário foi pensado como uma estratégia para promover um transporte alternativo no bairro, que se liga ao transporte público. Para melhor adequação das bicicletas ao tecido urbano, foram consideradas apenas ruas com declividade inferior a 3%. Além disso, foram alocados bicicletários em todos os pontos de ônibus e nos espaços públicos com o parque e vielas. [Fig. 71. Perspectivas de uma ciclofaixa com uma mão de cada lado da via. Fonte: Elaboração da autora, 2017]

[Fig. 72. Equina de uma quadra com ciclofaixa.. Fonte: Elaboração da autora, 2017]


135

[Mapa 21. Faixas de pedestres]

Fonte: Prefeitura Municipal de Presidente Prudente. Elaboração da autora, 2017.]


136

[Fig. 73. Planta e cortes do item n. 2. Fonte: Elaboração da autora, 2017]


137


138

[Fig. 74. Planta da via comercial. Fonte: Elaboração da autora, 2017]




141

[Fig. 76. Planta e corte de uma das esquinas. Fonte: Elaboração da autora, 2017]


142

[Fig. 77. Planta e corte de uma das esquinas. Fonte: Elaboração da autora, 2017]






147

[Fig. 79.Planta e perspectiva da passarela. Fonte: Elaboração da autora, 2017]


148

A passarela surge como uma alternativa de travessia pelo bairro, além de ser uma extensão do espaço público, funcionando como um elemento de articulação e agregação entre o perímetro da Área de Preservação Permanente, áreas adjacentes e o bairro próximo (Jardim Prudentino). O ensaio projetual aqui proposto seria uma passarela metálica que cruza a APP respeitando a vegetação nativa e que funcionasse em parceria com um projeto de educação ambiental. Uma das laterais da APP conta com algumas apropriações feitas pelos moradores, mas que há algum tempo se encontram abandonadas, por isso a ideia de criar espaços de vivência também no entorno, como representado na colagem. Este tipo de passagem é possível desde que respeite a vegetação e não afete o córrego, passando por uma aprovação no órgão municipal responsável – Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB).

[Fig. 80. Intervenção nas grades da APP. Fonte: Elaboração da autora, 2017]


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[agenda ambiental] Optou-se por utilizar o termo agenda ambiental pela existência há quinze anos do Programa Agenda Ambiental na Administração Pública (A3P) do Ministério do Meio do Meio Ambiente, que tem por objetivo incentivar as instituições públicas do país a promoverem ações de responsabilidade socioambiental em suas atividades2. Nesse sentido, buscando integrar os ensaios projetuais à realidade brasileira, algumas ações foram propostas nesse sentido, especificamente no que diz respeito à vegetação e à drenagem urbana. Conforme já descrito no Capítulo 02, há algumas problemáticas envolvendo sua massa vegetal e o escoamento das águas pluviais e por isso buscou-se ao menos amenizar estas questões. Um bom planejamento do sistema viário, e consequentemente do escoamento das águas, pode reduzir de forma significativa o custo do sistema de drenagem, bem como da manutenção das vias. Para calcular a coleta e condução das águas pluviais é feito um cálculo que considera a chuva inicial para o projeto e a chuva máxima, em que a primeira seriam as precipitações que possuem um período de retorno entre 2 e 10 anos e a segunda seria a chuva máxima ocorrida em um período de retorno de 100 anos. Como os ensaios projetuais propostos neste projeto não estão focados na questão da drenagem urbana, estes cálculos foram apenas considerados em nível teórico, como forma de nortear as diretrizes. Como proposta, tem-se então um sistema de sarjetas e bocas-de-lobo que facilitariam o escoamento da água. As sarjetas devem ter, no mínimo, 0,5% de declividade, de maneira que a água seja direcionada corretamente para as galerias. Além disso, outra proposta seria a construção de sistemas alternativos, como o swale e os jardins de chuva. Swales, livremente traduzidos como biotrincheiras, funcionam como canais abertos que carregam a água em um fluxo lento, retendo poluentes e melhorando a qualidade da água. Seriam instalados nos canteiros centrais que têm aproximadamente dez metros de largura. Complementando este sistema, propõe-se a instalação de jardins de chuva nas faixas de serviço das calçadas, que são pequenas depressões de terra que recebem a água do escoamento superficial, que se acumula formando pequenas poças que gradualmente são infiltradas no solo.

Fonte: Ministério do Meio Ambiente. Disponível em:< http://www.mma.gov.br/mma-emnumeros/a3p>. Acesso em 08 nov. 2017. 2


[Fig. 76. Corte do swale e do jardim de chuva. Fig. 81. Perspectiva do jardim de chuva. Fonte: Elaboração da autora, 2017].


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Já em relação à arborização, utilizou-se como referência o Manual Técnico de Arborização Urbana elaborado pela Prefeitura de São Paulo que direciona o plantio de árvores com base em três critérios: arborização de passeios em vias públicas, arborização de áreas livres públicas e arborização de áreas internas de lotes e glebas, públicas ou privadas, sendo que cada categoria possui parâmetros específicos. Para arborização de passeios em vias públicas, considera-se as seguintes tabelas: Largura do passeio (m) Menor que 1,90

Largura mínima do canteiro (m) *a

Área mínima do canteiro DAP máximo (m) *c (m2) *b Não é recomendado o plantio de árvores

1,90 a 2,09

0,60

0,60

2,10 a 2,39

0,80

0,80

Até 0,70

2,40 a 2,79

1,00

1,20

Até 0,90

Até 0,50

Maior que 2,80 1,40 2,00 Até 1,20 *a: Largura mínima: valores indicados considerando a fase adulta da árvore, quando esta atingir seu desenvolvimento pleno (DAP máximo), de modo que exista espaçamento entre tronco e piso impermeável; *b: Área mínima do canteiro: no momento do plantio o canteiro não poderá ser menor que 0,60 x 0,60 m, devendo aumentar proporcionalmente ao crescimento da árvore, mantendo sempre uma área permeável adequada no entorno do tronco. Na impossibilidade de executar canteiros quadrados ou circulares, poderão ser obtidos os valores indicados de área mínima em canteiros retangulares; *c: DAP: Diâmetro à Altura do Peito (1,30 m) da árvore adulta. [Tabela 4. Dimensões de passeio, canteiro e diâmetro de tronco. Fonte: Manual Técnico de Arborização Urbana, 2015. Edição da autora, 2017] Distância mínima em relação à: Esquina

Pequeno 5,00

Postes

2,00

Placas de sinalização

Porte da árvore Médio 5,00 3,00

Grande 5,00 3,00

Não obstruir a visão da placa.

Equipamentos de segurança

1,00

2,00

3,00

Instalações subterrâneas

1,00

2,00

3,00

Mobiliário urbano

2,00

2,00

3,00

Caixas de inspeção

2,00

2,00

2,00

Guia rebaixada

1,00

1,00

2,00

Transformadores

3,00

4,00

5,00

Espécies arbóreas*

5,00

8,00

12,00

[Tabela 5. Distanciamento (m) do local de plantio em relação aos equipamentos e mobiliários urbanos. Fonte: Manual Técnico de Arborização Urbana, 2015. Edição da autora, 2017]


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A área institucional triangular que corresponde à uma escola municipal ocupa 13.550m² e os edifícios não ocupam todo o lote, representando uma barreira ao pedestre devido à grande extensão da quadra. Neste sentido, como uma das diretrizes dentro do eixo “agenda ambiental”, propõe-se a divisão desta área em duas, mantendo o caráter institucional da escola e na parte em que não há uso, uma área de lazer. Na divisão das duas áreas, passaria a ciclovia, com forma de criar percursos alternativos para pedestres e ciclistas. A Lei Municipal Complementar n. 157/2008, que dispõe sobre a Lei de Parcelamento do Solo para Fins Urbanos e dá outras providências, declara em seu Art. 2º que: V - ÁREA DE LAZER - são as áreas a serem doadas ao município para fins de construção de praças, parques e outras atividades de recreação. VI - ÁREA INSTITUCIONAL - são as áreas a serem doadas ao município e destinadas à construção de escolas, postos de saúde, creches, prédios administrativos municipais, delegacias e outros prédios públicos. Neste sentido, a proposta seria manter a escola na área em que já se encontra, e nos 3760m² restantes construir uma horta comunitária que funcionaria em parceria com a comunidade local e a escola, por meio da criação de um projeto de educação ambiental como forma de incentivar o entendimento da importância da agenda ambiental desde o ensino infantil, como indica a política de educação ambiental do Ministério do Meio Ambiente.

[Fig. 82. Árvores sugeridas. Fonte: mrcutout.com. Fig. 83. Localização do terreno da escola. Fonte: Google Earth. Elaboração da autora, 2017]



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O parque se insere no tecido urbano do bairro como elemento articulador, que liga várias partes e faz margem com o Jardim Prudentino e está próximo do Ana Jacinta. A proposta então, seria a criação de um ambiente lúdico e passível de diferentes apropriações, como os parques das referências na página ao lado e como no diagrama de densidade de ocorrência.

[Fig. 86. Planta do parque. Elaboração da autora, 2017]

[Fig. 85. Diagrama de densidade de ocorrência. Ideia retirada de Microplanejamento, 2011. Elaboração da autora, 2017]


[referências]

Fig. 88. Construção lúdica em meio ao passeio, Sevilha. Fonte: autora, 2016.

Fig. 89. Mobiliário adaptável e lúdico, Viena/Áustria. Fonte: Jaime Derringer, 2006.

Fig. 87. Desnível vencido com escorregador. Quinta das Conchas e dos Lilases, Lisboa. Fonte: autora, 2016.

Fig. 92. Equipamento Extraordinário do Coletivo Basurama, São Paulo, 2014. Fonte: archdaily.com, 2014.

Fig. 91. Parque infantil lúdico. Parc de la Villette, Paris. Fonte: autora, 2015.

Fig. 90. Espelho d’água em parque urbano. Parque dos Desejos, Medellín. Fonte: Ana Flavia Bertonceli, 2017.

Fig. 93. Cinema a céu aberto, Projeto Cantinho do Céu, Boldarini Arquitetura, São Paulo. Fonte: Daniel Ducci, 2013.

Fig. 94. Mobiliário infantil construído com peças que iriam para o lixo, Coletivo Basurama, Madri. Fonte: archilovers.com, 2017.


157 [Fig. 95. Possível apropriação no parque. Elaboração da autora, 2017]


158 [Fig. 96 Espelho d’água no parque. Elaboração da autora, 2017]


[Fig. 97 Intervenção nas vielas. Elaboração 159 da autora, 2017]


[Fig. 98 Intervenção nas vielas. Elaboração da autora, 2017]

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CONSIDERAÇÕES FINAIS


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O trabalho de encerra como um convite, para viver a cidade, apropriar-se dos espaços, dar pequenas pausar à correria do dia e dia e aproveitar toda a beleza que a escala do bairro tem a oferecer. Não se trata de um projeto urbano impositivo que tem um fim em si mesmo, pelo contrário, é uma abertura aos futuros debates sobre a questão das infraestruturas urbanas e sobre como estas alteram a qualidade de vida das pessoas, além de promover uma articulação na discussão a respeito dos espaços públicos de qualidade, que tem na escala humana a chave de todo o processo. Durante todo o processo de produção deste trabalho, encarei o exercício de perderme pelo território, não só o físico, como também o imaginário, as colagens refletem um pouco do que penso sobre todo o processo da arquitetura e urbanismo: deve ser lúdico e participativo, a cidade é de todas as pessoas, e é mais que urgente pensarmos a produção do espaço enquanto coletividade, tentando reverter aos poucos e mesmo que nas pequenas escalas as cicatrizes deixadas nas cidades após décadas de planejamento urbano voltado somente para automóveis particulares.


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[índice de imagens] Fig. 1 e 2. Aparatos da globalização. Fonte: autora, 2016. Fig. 3. François Ascher. Fonte: Lafarge, 2005. Disponível em: <http://doyoucity.com/proyectos/entrada/9156>. Acesso em 08 ago. 2016. Fig. 4.1. Pintura de cidade medieval. Disponível em: <https://maringapost.com.br/ahduvido/como-era-uma-cidade-medieval/>. Acesso em 22 ago. 2017. Fig. 4.2. Pintura de uma cidade na Revolução Industrial. Disponível em: <https://historiandonanet07.wordpress.com/2015/09/09/revolucao-industrial/>. Acesso em 22 ago. 2017. Fig. 4.3. Praça da Bandeira em São Paulo na década de 1970. Disponível em: <http://fuscaclassic.blogspot.com.br/2010/12/vw-no-vale-do-anhangabau.html>. Acesso em 22 ago. 2017. Fig. 4.4. Av. Brigadeiro Faria Lima, São Paulo em 01/04/2017. Fonte: Autora, 2017. Fig. 5. Caminhos formados por pedestres no eixo monumental de Brasília. Fonte: Google Maps, 2017. Fig. 6. Ana Jacinta na década de 1990. Disponível em: <http://anajacinta-.blogspot.com.br/>. Acesso em 11 nov. 2017. Fig. 7. Jane Jacobs e algumas de suas concepções. Fonte: Archdaily, 2012. Edição da autora. Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/br/786817/jane-jacobs-e-a-humanizacao-dacidade>. Acesso em 15 ago. 2016. Fig. 8. Paisagem Clássica, Sheeler, 1931. Disponível em: <http://picturingtheamericas.org/painting/classic-landscape/?lang=pt-pt>. Acesso em 15 jul. 2017. Fig. 9. Avenida Paulista aberta para pedestres, em 02/04/2017. Fonte: autora, 2017. Fig. 10. Croqui representando o conceito de amabilidade urbana. Fonte: autora, 2017. Fig. 11. Croqui representando o conceito de vitalidade urbana. Fonte: autora, 2017.


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Fig. 12. Croqui representando o conceito de urbanidade. Fonte: autora, 2017. Fig. 13. Espaços com vitalidade: [1] Praça em Praga; [2] Rua em Amsterdam; [3] Rua em Praga. Fonte: autora, 2015. Fig. 14. Figura esquemática representando as vivências no Bairro. Fonte: Google Maps. Elaboração da autora, 2017 Fig, 15. Sobre a especulação imobiliária, Catarina Bessell, 2014. Disponível em: <http://www.catarinabessell.com/editorial>. Acesso em 15 ago. 2016. Fig. 16. Imagens retiradas da página no Facebook Prudente Imprudente, 2017. Disponível em:<https://www.facebook.com/prudenteimprudenteoficial/>. Acesso em 10 dez. 2017. Fig. 17 e 18. Recortes do Jornal O Imparcial nos anos de 1991 a 1993. Fonte: Arquivo do Museu Histórico de Presidente Prudente. Fig. 19. Eu. Fonte: João Lucas P. Costa, 2017. Edição da autora, 2017. Fig. 20. A Floresta, Pollock, 1954. Disponível <http://valentinamag.com/blog/2014/08/04/identidade-e-misterio-nas-obras-depollock/>. Acesso em 08 ago. Fig. 21. Forma esquemática de Boston. Fonte: LYNCH, 1997, p. 29

em: 2016.

Fig. 22. Maquete de estudos. Fonte: autora, 2017 Fig. 23. Croquis de estudo com base na metodologia de Reid. Fonte: autora, 2017 Fig. 24. Quadras tipo. Fonte: Prefeitura Municipal de Presidente Prudente. Elaboração da autora, 2017 Fig. 25 e 26. Habitações sem alteração. Fonte: autora, 2016 Fig. 27. Planta baixa padrão implantada no bairro. Fonte: MACENA, 1997. Fig. 28. Colagem de algumas tipologias existentes no bairro. Fonte: autora, 2016. Elaboração da autora, 2017 Fig. 29. Colagem de fotos mostrando os degraus nos passeios e nas vielas. Fonte: autora, 2016. Edição da autora, 2017


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Fig. 31. Parque; Fig. 32. Praça; Fig 33. Praça; Fig. 34. Passeio; Fig. 35. APP. Fonte: autora, 2016. Fig. 36. Pessoas caminhando pela viela próxima a escola. Fonte: autora, 2016. Edição da autora, 2017. Fig. 37. Colagem de usos e apropriações pelo bairro. Fonte: Google Earth e autora, 2017. Elaboração da autora, 2017 Fig. 38. Mapa de barreiras sobreposto sobre mapa de percursos. Fonte: autora, 2017 Fig. 39. Vivências no espaço público. Fonte: autora, 2017. Fig. 40. Colagem de foto com espaço com apropriação de crianças. Fonte: autora, 2017 Fig. 41. Mapa de ambiências. Fonte: autora, 2017 Fig. 42. Colagem de imagens das ambiências. Fonte: autora, 2017 Fig. 43. Passo a passo da Atividade 1. Fonte: autora, 2016 Fig. 44. Colagem de fotos da atividade realizada. Fonte: autora, 2016 Fig. 45. Colagem de foto de um morador do bairro. Fonte: autora, 2017 Fig. 46. Recorte de uma bandeira dedicada à algum santo alocada em frente a uma casa do bairro Fonte: autora, 2017. Fig. 47. Casal aleatório em Lisboa. Fonte: autora, 2016. Fig. 48. Croqui. Fonte: autora, 2017. Fig. 49. Planta do projeto. Fonte: 1000x landscape architecture, 2010, p. 315 Fig. 50. Croqui. Fonte: autora, 2017 Fig. 51. Foto do projeto. Fonte: coxarchitecture.com, 2017. Disponível <http://www.coxarchitecture.com.au/project/thuringowa-riverway-arts-centre-andlagoons/>. Acesso em 15 nov. 2017. Fig. 52. Croqui. Fonte: autora, 2017 Fig. 53. Planta do projeto. Fonte: 1000x landscape architecture, 2010, p. 323

em:


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Fig. 54. Croqui. Fonte: autora, 2017 Fig. 55. Objetivos do projeto. Fonte: espacio colectivo arquitectos, 2017. Disponível em:<https://issuu.com/opus-medellin/docs/ccvc-dossier>. Acesso em 10 nov. 2017. Fig. 56. Pessoas de uma ONG na Av. Paulista, em São Paulo. Fonte: autora, 2017 Fig. 57. Mapa de atores. Fonte: Projeto Corredor Verde Cali, Colômbia. Idealização da arte: Luiz Felipe Brizante dos Santos. Elaboração da autora, 2017 Fig. 58. Colagem de elementos do bairro + possíveis apropriações. Elaboração da autora, 2017

Fig. 59. Playground house, Office Of Mcfarlane Biggar Architect, 2012. Fonte: modus-vivendi.es, 2013. Disponível em:< http://www.modus-vivendi.es/blog/2013/09/19/columpiosmodernos/>. Acesso em 08 dez. 2017. Fig. 60. Mobiliário com redes, Jair Straschnow e Gitte Nygaard, 2015. Fonte:ovacen.com, 2017. Disponível em:< https://ovacen.com/ejemplos-mobiliario-urbano-industrial/>. Acesso em 08 dez. 2017. Fig. 61. Liquid Stone, 2011. Fonte: marshalls.co.uk/, 2012. Disponível em:< https://www.marshalls.co.uk/commercial/blog/article-how-an-art-project-in-new-yorkcould-help-britains-high-street-1256>. Acesso em 20 dez. 2017. Fig. 62. Poste de iluminação pública. Fonte: elaboração da autora, 2017 [Fig. 63. Ponto de ônibus. Fonte: Elaboração da autora, 2017 Fig. 64. Bebedouro. Fonte: Elaboração da autora, 2017 Fig. 65. Banco com lixeira e suporte para plantas. Fonte: Elaboração da autora, 2017 Fig. 66. Banco com lixeira e bicicletário. Fonte: Elaboração da autora, 2017 Fig. 67 Corte e planta de uma calçada. Fonte: Elaboração da autora, 2017 Fig. 68. Planta e cortes de calçadas com rampas. Fonte: Elaboração da autora, 2017 Fig. 69. Perspectivas de antes e depois das calçadas. Fonte: Elaboração da autora, 2017


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Fig. 70. Perspectivas de uma ciclofaixa com duas mãos. Fonte: Elaboração da autora, 2017 Fig. 71. Perspectivas de uma ciclofaixa com uma mão de cada lado da via. Fonte: Elaboração da autora, 2017 Fig. 72. Equina de uma quadra com ciclofaixa.. Fonte: Elaboração da autora, 2017 Fig. 73. Planta e cortes do item n. 2. Fonte: Elaboração da autora, 2017 Fig. 74. Planta da via comercial. Fonte: Elaboração da autora, 2017 Fig. 75. Possíveis apropriações na via. Fonte: Elaboração da autora, 2017 Fig. 76. Planta e corte de uma das esquinas. Fonte: Elaboração da autora, 2017 Fig. 77. Perspectiva de uma das esquinas. Fonte: Elaboração da autora, 2017] Fig. 78. Fotos do entorno da APP. Fonte: autora, 2016 Fig. 79.Planta e perspectiva da passarela. Fonte: Elaboração da autora, 2017 Fig. 80. Intervenção nas grades da APP. Fonte: Elaboração da autora, 2017 Fig. 81. Perspectiva do jardim de chuva. Fonte: Elaboração da autora, 2017 Fig. 82. Árvores sugeridas. Fonte: mrcutout.com. Elaboração da autora, 2017. Disponível em:< https://www.mrcutout.com/vegetation-cutouts>. Acesso em 23 dez. 2017. Fig. 83. Localização do terreno da escola. Fonte: Google Earth. Elaboração da autora, 2017 Fig. 84. Perspectiva da horta. Elaboração da autora, 2017 Fig. 85. Diagrama de densidade de ocorrência. Ideia retirada de Microplanejamento, 2011. Elaboração da autora, 2017. Disponível em: ROSA, Marcos (org.). Microplanejamento: práticas urbanas criativas. São Paulo: Editora de Cultura. 2011. Fig. 86. Planta do parque. Elaboração da autora, 2017 Fig. 87. Desnível vencido com escorregador. Quinta das Conchas e dos Lilases, Lisboa. Fonte: autora, 2016. Fig. 88. Construção lúdica em meio ao passeio, Sevilha. Fonte: autora, 2016.


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[apêndice] Nº: ______________ GÊNERO: _________

DATA: __________________ HORA: ________________ IDADE: _____ ESCOLARIDADE: ______________________

1 – Morador do Mário Amato.:

SIM

NÃO Onde?

2 – Trabalha/Estuda aqui?

SIM

NÃO Onde?

2 – Mora aqui há quantos anos? 3 – Quando você ouve as palavras “Mário Amato” o que primeiro lhe vem à mente? Em termos gerais, como você descreveria o bairro, fisicamente falando? 4 – Se você tivesse que dar uma ideia geral do bairro a um amigo, o que você falaria a ele? 5 – Do que você mais gosta no Mário Amato? 6 – Você acha que o Mário Amato é “outra cidade” em comparação com Presidente Prudente? 7 - Do que você menos gosta no Mário Amato? 8 – Complete a frase que vou ler com a primeira coisa que lhe vier à mente: a) O ponto central do bairro é: b) As pessoas que moram nesse bairro são: c) O maior problema com o qual se depara este bairro é: d) Neste bairro deveria ter: 9 – Quanto tempo do dia você passa habitualmente no Mário Amato? O dia inteiro

Metade do dia

Algumas horas

10 – Quais pontos que melhor indicam os limites deste bairro? (Indique pelo menos 3)


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11 – Quais dos seguintes adjetivos melhor descrevem este bairro? a. b. c. d. e. f. g. h. i.

Movimentado Simpático Tranquilo Interessante Limpo Conservado Novo Habitável Seguro

monótono desagradável agitado chato sujo deteriorado velho não habitável perigoso

12 – O que você acha do parque que tem aqui? 13 – Você frequenta o parque do povo?

NÃO

SIM Quando?

14 – Você frequenta o Prudenshopping?

NÃO

SIM Quando?

15 – Onde você faz compras? 16 – Quais atividades ou hábitos você desenvolve neste bairro? C/ FREQ. ESPORTES COMPRAS PASSEIO NO A.J. VOU AO PARQUE VISITO AMIGOS VISITO PARENTES TRABALHO ESTUDO

ALGUMAS VEZES

RARAMENTE

NUNCA


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VOU À FEIRA SERVIÇO DE CASA VOU AO BAR

16a – Por favor, dê-me as direções completas do trajeto que você normalmente faz quando vai de casa para o trabalho. Imagine-se realmente fazendo-o e descreve a sequência de coisas que você vê, ouve ou das quais sente o cheiro ao longo do caminho, inclusive os sinais de trânsito que se tornaram importantes para você e as indicações das quais um estranho precisaria para tomar as suas mesmas decisões. Estou interessada na imagem física das coisas. Não faz mal que você não se lembre de nome de ruas e lugares. 16b – Você sente alguma emoção específica no tocante à diferentes partes do seu trajeto? Quanto tempo você gasta para fazê-lo? Existem partes dele em que você se sente inseguro quanto ao lugar onde está? 17 – Gostaria que fizesse um mapa esquemático da sua casa até o Parque do Ana Jacinta. Desenhe-o exatamente como se estivesse fazendo uma rápida descrição para um estranho, incluindo todas as características principais. Não espero que você apresente um desenho perfeito, mas apenas um esboço do mapa. 17a – Você poderia descrever a rua comercial para mim? 17b – Você poderia indicar no mapa onde fica a escola? E onde ficam os limites do bairro? 18 – Agora gostaria de saber quais elementos do Mário Amato que você considera mais distintivos. Podem ser grandes ou pequenos, mas diga-me algo sobre eles que, em sua opinião, são mais fáceis de identificar e lembrar. 19 – A entrevista está terminada, mas seria bom que pudéssemos conversar livremente por alguns minutos: 19a – O que você acha que eu estava tentando descobrir?


180

19b – Que importância têm para as pessoas a orientação e o reconhecimento dos elementos urbanos? 19c – Você sente algum prazer em saber onde está ou para onde está indo? Ou, ao contrário, algum desagrado? 19d – Em sua opinião, o Mário Amato é um bairro onde é fácil encontrar os caminhos ou identificar as partes? 19e – Você acha que a cidade de Presidente Prudente tem boa orientação? E por quê? 20 – Você considera que o Mário Amato é um bairro dependente do Ana Jacinta? 21 – Você acha que o Mário Amato, Ana Jacinta o Jardim Prudentino são a mesma coisa ou existe uma clara distinção entre eles? 22 – O Mário Amato conta com alguma associação de moradores ou as coisas são decididas em conjunto com a associação do Ana Jacinta?


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