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Cidália Aguiar 35 e

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Jane Barreto 41 e

Jane Barreto 41 e

seio através da empresa Cavalos na Areia, em percursos que percorrem os arrozais até à praia. Bares e restaurantes diversos e “charmosos” proporcionam experiências gastronómicas da culinária portuguesa a não perder. Como a Comporta possui muitas plantações de arroz em volta, uma das especialidades são pratos que o têm como base, além de marisco ou bacalhau. A alusão ao arroz e à sua história na região pode ser uma boa opção de visita – o Museu com o mesmo nome.

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Uma herdade com uma história

A Herdade da Comporta conta uma história de oito séculos. Em 1172, pertenceu à Ordem Militar de Santiago e Espada, passando pelas mãos da coroa portuguesa e diversas empresas. Até aos anos 20 do século passado, não era local convidativo a férias e muito menos um paraíso, “constituída sobretudo por areais estéreis, terrenos pantanosos e muitos mosquitos” que causavam doenças e a morte de trabalhadores. Em 1925 a empresa britânica The Atlantic Company Limited desenvolveu a cultura do arroz. Em 1836 foi comprada pela Companhia das Lezírias do Tejo e do Sado e mais tarde, em 1955, o banco Espírito Santo promoveu, além da cultura do arroz, vinhas, produtos hortícolas e a exploração do pinhão. Em 1975 foi nacionalizada, sendo devolvida à The Atlantic Company, Ltd. entre 1989 e 1991. Desde 2004, a designação social passa a Herdade da Comporta - Atividades Agro Silvícolas e Turísticas, S.A., “tendo por missão promover o desenvolvimento de um destino turístico de alta qualidade, sustentável, integrado numa propriedade agrícola que preserva o património ambiental e cultural, constituindo-se um modelo de referência na Europa”1.

A Comporta, inserida nos limites da Reserva Natural do Estuário do Sado, apenas a uma hora e meia da capital, Lisboa, com praias exibindo a Bandeira Azul da Europa, é dona de uma enorme beleza, dunas, areal, restaurantes e bares. Proporciona grandes aventuras, experiências gratificantes e é plena de história

Raimundo Gadelha

Rosa Maria Rodrigues Castello Consultora em Direitos Autorais

Para esta edição escolhi apresentar para vocês o meu amigo, editor, poeta e sensível ser humano Raimundo Gadelha.

Raimundo é poeta, fotógrafo. Editor. Formado em Publicidade e em jornalismo pela Universidade Federal do Pará. Tem especialização na Universidade de Sophia, em Tóquio, onde residiu por três anos. Estudou também em Nova York, Escreve poesia, romance, conto. Tem quinze livros publicados. Foi o primeiro poeta brasileiro a escrever em tanka, a forma poética mais tradicional do Japão.

Aqui um tanka especial:

Por muito tempo dentro da garrafa guardou segredos Foi com letras garrafais a notícia do seu fim.

RAIMUNDO GADELHA, trechos do livro ‘Pastores de Virgílio’, Álvaro Alves de Faria

A ensaísta e crítica literária Nelly Novaes Coelho escreveu: “Poeta neo-humanista (de raízes existencialistas), Raimundo Gadelha prossegue neste A vida útil do tempo, em busca do ‘novo rosto’ do Homem. Rosro ainda desconhecido porque já ‘não encravado na pedra’, como algo ‘eterno’ (como o Homem se descobrira no início, pela Palavra de Deus), mas sim efêmero, desde que a Ciência o despojou de sua antiga transcendência e o reduziu a simples matéria: tal qual a ‘pedra’. Entretanto, há algo a mais nessa ‘matéria’. Há o enigma humano a ser desvendado”. A mestre Nelly tem razão. Esta poesia remete a tudo que represente o início. Sempre o despertar. Sempre o sair. Sempre a redescobert do recomeçar. Recomeçar pelo ausente. Pelo fim. Pelo reinício. Pelo concluído. Pelos ponteiros de um tempo vivo e inexorável. Se eu pudesse ficar parado

Raimundo Gadelha E a terra continuasse a girar, O reencontro seria, então, Apenas questão de tempo.

Alvaro- Quando e como começou sua ligação e interesse pela poesia?

Gadelha - Sempre senti uma enorme atração pelo novo, pelo desconhecido, característica nada especial para a maioria dos nordestinos e, mais ainda, para aqueles do interior, do sertão. Meu pai trabalhava no Departamento Nacional de Obras Contra as Secas, o que fazia com que a família mudasse de cidade, não raro, mais de uma vez por ano. Isso acontecia sempre que um novo açude ou barragem tivesse de ser construído, ou ainda que houvesse a necessidade de se instalar uma “frente de trabalho” para atenuar a miséria de flagelados. Desta forma, as cidades iam sendo desbravadas com a mesma sensação de quem assiste a um filme ou lê um livro de aventura: Patos, Souza, Pombal, Itabaiana, São Gonçalo, Cajazeiras, Orós, Salgueiro, Serra Talhada, Iguatu, Fortaleza... Todas impregnadas de cores, sons, cheiros, pessoas e sonhos de todos os tipos... vida absolutamente prenhe de poesia.

Alvaro - Sei da sua ligação com a poesia japonesa. Qual o motivo?

Gadelha – Hoje meu nome está fortemente associado à poesia japonesa com certeza pelo fato de eu ter publicado o livro ‘Um estreito chamado horizonte’. (foto ao lado)

Alvaro – Mas seria apenas isso?

Gadelha – Não. Não poderíamos reduzir essa questão de forma tão simples. Sinceramente, penso que não. Ter ido ao Japão, em 1985, e lá ter morado por quase três anos, foi a continuação das andanças do menino do interior do Nordeste, sempre atraído pelo novo, sempre correndo atrás de desafios. Durante muito tempo, fui um metódico e bem-sucedido publicitário também sempre acometido da necessidade de escrever um poema, um conto...qualquer coisa que não um texto para vender um determinado produto.

Alvaro – Vamos voltar ao tanka...

Gadelha – Sim. Encantei-me tanto com o poder de síntese e, ao mesmo tempo, leveza e plasticidade do gênero – apenas 31 sílabas, subdivididas em versos de 5-7-5-7-7 – que, teimoso e obstinado que sou, decidi eu próprio escrever um livro de tankas associados à fotografia. Foi publicado em

magazine 60+ #29 - Novembro/2021 - pág.38

1989 e chegou à terceira edição. Depois continuei escrevendo poemas curtos que publico na série Brasil retratos poéticos – livros e agendas. Não são tankas, nem tampouco haicais, mas a maioria pense que é uma coisa ou outra. O que existe mesmo – e não poderia ser diferente – são traços, sutis influências da minha voluntária e importante vivência no Oriente.

Alvaro – Faça se puder, seu retrato com palavras. Quem é Raimundo Gadelha?

Gadelha – Considero-me, realmente, um privilegiado por hoje ser editor e escritor. Todas as outras experiências, em diferentes modalidades, sempre me proporcionaram uma satisfação limitada. Dividida até. Isto porque eu estava sempre querendo muito mais, como se uma só coisa não bastasse. E isso não acontecia apenas com as artes. Profissionalmente, a inconstância e a busca eram igualmente intensas – publicitário, tradutor, correspondente bilíngue, professor, empresário...Isso sugeria que estava dominando não só por um temperamento irrequieto mas, acima de tudo, pela determinação de continuar buscando sempre, até ter certeza de ter encontrado algo eu realmente me deixasse feliz. Para muitos, eu não passava de um inconstante, de um irresponsável, um rebelde que não se

encontrava nos modelos sociais. Nunca concordei com isso. Podia até não saber exatamente o que queria, mas sabia muito bem o que não queria: submeter-me a regras dos quais eu discordava; ter um emprego chato, mas garantido, e ficar torcendo para que a aposentadoria logo chegasse e, principalmente, ter a sensação de ver a vida passar sem estar pelo mens tentando valer algo grandioso.

Alvaro – Valeu a pena?

Gadelha – Sim. Hoje está claro que valeu a pena. A poesia, o teatro, a musica, a fotografia, antes praticados de forma ansiosa e indisciplinada, serviram de base ao editor que hoje sou. Mais do que isso, como editor pude reunir algo que sempre me pareceu impossível: fazer da arte prazer e profissão. Crédito de direitos autorais ao autor e poeta, Alvaro Alves de Farias, livro ‘Pastores de Virgílio - literatura na voz de seus poetas e escritores’.

A entrevista na íntegra encontra-se na obra e lá você poderá conhecer histórias de diversos autores, poetas, contistas como Affonso Romano de Sant’Anna, Alberto Beuttenmüller, Alexei Bueno, Antonio Carlos Secchin, Astrid Cabral, Carlos Felipe Moisés, Carlos Herculano Lopes, Carlos Nejar, Carpinejar, Celso de Alencar, Cyro de Mattos, Dalila Teles Veras, Deonísio da Silva, Edla van Steen, Ferreira Gullar, Flora FiFotos: enviados pela colunista

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