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Adenair Vazz 68 e

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Márcia Lupia 70 a

Márcia Lupia 70 a

Me pego de olho no espelho, pensando como será deixar de fazer todas essas coisas, como cumprir a quarentena, e o quanto teremos que aprender com essa situação? Respiro fundo, sou pura nostalgia, efeito dessa tal Pandemia! E nossas viagens? Quando será que poderemos pegar um avião novamente e sair pelo mundo? Respiro fundo, sou pura indignação, mais um efeito dessa tal Pandemia e seu vírus, fiel companheiro!! Tomo meu último gole de Martini, coloco a bendita máscara, passo álcool nas mãos e fecho a porta. Vou num pé... e volto noutro... Respiro fundo, sou pura determinação, estou pronta e saio pro mundo! Estou me sentindo Livre, Linda, Leve e Solta... Toca Raul! Eu prefiro ser uma Metamorfose Ambulante! E continuo caminhando... Tudo está tão diferente nesse Novo Tempo, e eu prefiro ser uma Metamorfose Ambulante! Nada de muitas voltinhas e começo a fazer o caminho de volta para casa. Ir para casa, ficar em casa, a ordem é essa! Só me resta obedecer. E aí me vem a cabeça “Lulu Santos”, e começo a cantarolar, estou voltando prá casa outra vez... É sempre bom voltar para casa, nosso refúgio, aquela mistura de passado, presente e futuro. Aonde os três tempos se misturam, nossas memórias, nossos projetos, nossos sonhos. Aprender com o passado, viver o presente intensamente, mirrar no futuro sempre. Que tempo é esse o Futuro?? Nesse tempo de futuro incerto, com esse vírus a ditar o tempo , uma coisa é certa: existe um outro mundo, o mundo virtual, repleto de aprendizados e muitas emoções. A Internet, ora o computador, ora o celular foram companheiros de todas as horas. Duas palavrinhas “on-line” e “live” passaram a fazer parte do meu novo repertório. E fui pouco a pouco conhecendo novas plataformas, foram tantas e tantas reuniões e cursos, assisti muitos shows, concertos, criatividade a mil, fui me redescobrindo, um olhar para aquilo que realmente importa. E, quantos grupos temos agora na rede social? Conhecemos tantas pessoas, fizemos novos amigos, novos parceiros, estreitamos novos laços, enfim, me sinto parte do grupo de vencedores. E, somos muitos! Como diz a velha canção é preciso cantar e alegrar a cidade! Canta, canta uma Esperança. Canta, a canção da Vida, canta mais... Respiro fundo!! Sou pura alegria com as histórias de minha vida. E o tempo foi passando, 2021 vai terminando, É Novembro, tudo tão rápido! Que emoções , quais surpresas, quantas alegrias nos reserva o novo ano? Saúde e faremos Tim-tim! Novos Dias, novos Ares!

A escrita como parte de mim

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Márcia Lupia Escritor A.C.L

Poucas são as lembranças de minha primeira infância que resistiram ao tempo. A grande maioria jaz na alcova mais escura da memória. Por vezes, pego-me “torcendo” os pensamentos para montar o quebra-cabeças memorial de passagens importantes de minha trajetória; no entanto, algumas peças foram perdidas; outras, por alguma razão, esquecidas. Sem mencionar aqueles trechos os quais selecionamos e encaixamos erroneamente no filme das lembranças. Por sorte, algumas passagens são tão importantes em nossas constituições enquanto sujeitos, que, mesmo que quiséssemos nos esquecer delas, elas (res)surgem vívidas, rabiscando traços profundos em nossas identidades. A ideia aqui é resgatar algumas delas para apresentar ao leitor, mostrando o caminho pelo qual percorri até tornar-me escritora.

Os livros, o professor e um caderno Enfileirados, coloridos e enumerados. Eram coleções de livros, alguns deles ainda envoltos em uma embalagem de proteção plástica, que dançavam diante de meus olhos. À época, eu era uma criança iniciando sua fase escolar, tentando compreender o porquê de algumas letras ficarem juntas e outras nem tão juntas assim. O meu tamanho não me ajudava a retirar nenhum daqueles livros da estante de madeira escura do meu avô paterno, Odílio. A curiosidade, no entanto, movia meus instintos a pedi-los, para que, mesmo sem saber ler uma palavra deles, pudesse folheá-los. Essa vontade de estar perto dos livros foi crescendo junto comigo. À medida que o tempo passava, conseguia juntar as letras e seus significados; além disso, chegou um momento em que eu podia alcançar os livros que queria na estante, arquivo

sem ter de pedir auxílio a nenhum adulto. Lia desde os clássicos da literatura nacional e internacional até outros livros sobre animais, curiosidades e carros. O leque foi se abrindo para a leitura em outros suportes como gibis e revistas. Durante a época escolar, o meu gosto pelos estudos relacionados a línguas e literatura só crescia. Tive bons professores, que sempre me incentivaram a ser curiosa e me aprofundar nas pesquisas de alguns temas. Acredito que daí surgiu uma das minhas brincadeiras favoritas: brincar de escolinha. Eu era a professora; minhas amiguinhas ou minhas bonecas eram minhas alunas. A passagem para a adolescência continuou acompanhada de muita leitura, mas algo aconteceu. Meu maior incentivador, professor Vanderley, docente da literatura e da língua portuguesa, acabou sendo o responsável por me mostrar um caminho além da leitura: o caminho da escrita. Ele me indicava autores da prosa e da poesia; esta última, no entanto, não me era tão familiar. O contato com Cecília Meireles, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Fernando Pessoa, entre outros, despertou-me uma vontade imensa de (trans) formar meus sentimentos em poemas. E foi assim que eu comecei a escrever meu caderno de poesia. Nele, registrava poemas dos meus autores favoritos, bem como os meus próprios. É claro que o único leitor dos meus versos, na época, foi o professor Vanderley. O resgate, a escritora, os concursos Quando passamos para a fase adulta, as responsabilidades aumentam: graduação, trabalho, pós-graduação. Foram anos dedicados a tornar-me uma professora melhor a cada aula e uma servidora pública cada dia mais comprometida com a sociedade. Essa dedicação teve um custo: o caderno de poemas guardado, a literatura adormecida. Em 2017, concluí meu Mestrado em Linguística. Minhas pesquisas envolviam temas como Memória, Identidade e Análise de Discurso. O grupo estudado tinha forte ligação com a minha história: italianos e seus descendentes. As histórias de vida de cada um deles convergiam com a minha própria história. As palavras não ficcionais já estavam registradas na dissertação; bastava, então, eternizar as ficcionais que em mim brotaram. Foi assim que em 2018 publiquei meu primeiro conto no livro “Vamos falar da Itália?”. O tema da antologia encorajou-me. Escrevi dentro de minha zona de conforto. Todavia, buscar desafios é o que nos faz melhores. Foi assim que me inscrevi, no ano seguinte, em um concurso cuja temática era contos históricos. Fiquei classificada em 2º lugar. A partir daí, o resgate da literatura e o nascimento da escritora aconteceram.

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