Magazine 60+ Extra #2

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60+

magazine

Ano II | Formato A4 | internet livre |

EDIÇÃO EXTRA

S.Paulo, Maio - Junho/2020 - Extra II

O tancão página 6

Nossos colunistas escrevem sobre histórias engraçadas Em tempos de medo, vamos procurar sorrir um pouco

A PRESENTE REVISTA TEM COMO FINALIDADE PASSAR INFORMAÇÕES PARA O PUBLICO 60+, SEM CONFLITOS DE INTERESSES E SEM FINS LUCRATIVOS.


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educação para a vida

Cada um tem sua história e a liberdade para decidir qual caminho quer seguir, se é hora de mudar de rumo ou continuar lutando pela melhor qualidade de vida possível. Está chegando ou passou dos 60 anos, ou mesmo tem interesse pelo assunto, entre em contato e sugira histórias, cursos, eventos.

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05-06/2020

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*Todas as colunas são de inteira responsabilidade daqueles que a assinam

Jornalista Responsável

Manoel Carlos Conti Mtb 67.754 - SP


Editorial

Manoel Carlos Conti Jornalista

Dia desses li num artigo de um Jornal Norte Americano: “Mais do que em qualquer outra época, a humanidade está numa encruzilhada. Um caminho leva ao desespero absoluto. O outro, à total extinção. Vamos rezar para que tenhamos a sabedoria de saber escolher. Woody Allen

chorar. Além disso, a tal COVID 19... credo, nunca ouvi falarem um nome tantas vezes. São casos de COVID 19, mortes por COVID 19, internações que passam do número de leitos, gente nos corredores, respiradores que foram superfaturados e além de tudo chegaram quebrados, remédio que é bom, remédio que é ruim, incertezas, temores, greves... só rezando para todos os santos. Como jornalista e editor dessa revista, à qual todos nós criamos, não para falar de coisas ruins e sim assuntos que levem nossos principais leitores a distração, ao conhecimento de toda gama de assuntos, resolvi então fazer algo diferente. “Vamos escrever contos engraçados?” Pensei que não fosse receber nenhum texto, mas muitos aderiram a essa idéia e no fim da história conseguimos uma revista que diverte e distrai. Já estou pensando numa segunda edição como essa uma vez que tenho certeza que nossos leitores vão gostar. Boa leitura

Se existe um grupo de pessoas que têm o bom humor eu tenho certeza que faço parte desse grupo. Gosto e sempre gostei de brincar, de contar histórias engraçadas, causos que aconteceram comigo e muitas das coisas ruis eu esqueço, mas as boas estão arquivadas e bem guardadas na minha memória. Com tanta notícia ruim, comércios que vão à falência todos os dias, gover Sorrir é, e sempre será, o melhor nadores que não tomam providências, remédio. prefeitos que vão atras dos governadoChico Anysio res, Brasília e nossos comandantes facontihq@hotmail.com - cel. (11) 9.88906403 lam tanta besteira que dá até vontade de Foto: lenildosolano.com.br

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nosso time de colunistas

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Heródoto Barbeiro Um ou outro Páginas 4

Malu Alencar Difícil ser criança Página 10

Katia Brito Um humor diferente para vencer a quarentena Página 17

Marcelo Thalenberg Desconfiômetro, o almoxarife não encontrou o tal aparelho Página 5

Wagner Almeida Tancão Página 6

Osvaldo B. de Moraes

M.Luiza Conti

Minha experiência no solar da fossa

Bicho nojento

Página 11

Página 14

Manoel Carlos Conti

Maria Izilda Sincorá

Sem papel

Gente de bem...

Página 19

Página 21

Sandra R. Schewinsky Infância e graça Página 8

Tony de Souza PB não é Paraíba Página 15

Laerte Temple A Liga da Justiça e o COVID

Silvia Triboni Ai que saudades do DKV Páginas 24 e 25

Página 22 e 23

Diagramação, Reportagem, Fotografia,Desenho, Entrevistas, Propagandas, Folders, Folhetos, Identificação Visual, Montagem de livros e Revistas Desde 1993

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Ou um ou outro

Heródoto Barbeiro Jornalista/Historiador

Heródoto Barbeiro é âncora e editor-chefe do Jornal da Record News, em multiplataforma

Fica claro o embate entre o governador e o presidente. A relação política entre os dois durou muito pouco tempo. Para ser exato, um ano e meio. A aliança política que possibilitou a ascensão do presidente é um castelo de areia branca e o governador não hesita em chutar toda vez que se vê diante da mídia. É uma guerra que se disputa diante da opinião pública e o bom senso, ou os interesses nacionais são postos de lado. O que vale mesmo é a conquista do poder. O governo federal se vê às voltas com o fortalecimento dos estados e lembra o período da república velha, quando São Paulo e Minas Gerais ditavam como o Brasil deveria ser conduzido. Sempre à favor de uma camada privilegiada da população. Os miseráveis servem de massa de manobra ora de um, ora de outro e torcem por seus ídolos com o mesmo fervor que torcem pelos seus times de futebol do coração. O chefe do executivo avisou várias vezes o governador que ele tem a caneta na mão e pode decidir muita coisa. Por sua vez o governador paulista se escora na mídia, nos industriais e nos partidos nanicos enfileirados e lubrificados com verbas na Assembléia Legislativa estadual. Quem pode mais, chora menos. O governador se apresenta como um homem religioso, fotografado em missas, sempre de paletó e gravata e não abandona o ritual do cargo jamais. Anda sempre cercado por policiais e sua confortável mansão tem sempre uma viatura para proteger a primeira dama e os seus filhos. Nada tem a temer. Construiu um bom empreendimento industrial, tem participação

societária e várias empresas, e mesmo na televisão. Além disso tem as polpudas verbas publicitárias para convencer veículos ao seu favor. É verdade que nem todos, um grupo jornalístico faz-lhe oposição cerrada e divulga em seus editoriais coisas desabonadoras a respeito do chefe do executivo paulista. Usa adjetivos pesados e não esquece sua origem e como amealhou a grande fortuna que possui. O presidente tem o apoio dos militares. Ele foi guindado ao posto para combater a corrupção e inviabilizar a transformação em um país comunista como Cuba. Pelo menos é isso que diz sempre tem oportunidade de juntar apoiadores no palácio presidencial e não raro se deixa fotografar cercados pelas mais altas patentes do exército. A crise chega a um ponto insuportável. O presidente marca uma reunião do ministério e assina e anuncia a cassação de vários políticos, entre eles o do governador de São Paulo. A cassação é apoiada no Ato Institucional 2, baixado com o objetivo de blindar o regime e estabelece eleições indiretas para presidente e dá carta branca para que Castelo Branco casse os direitos políticos de qualquer cidadão. Faltam oito meses para que Adhemar de Barros complete o mandato. Foi um dos articuladores do golpe civil-militar que depôs o presidente eleito João Goulart. Mal sabia que seria vítima de um regime discricionário que ajudou a enredar. Perde o palácio, mas não a fama. Ainda é lembrado, mesmo fora da política, como o Rouba, mas Faz.

Foto: Folha arquivo

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Desconfiômetro, o almoxarife não encontrou o tal aparelho

Marcelo Thalenberg

char na caixa e testar, os outros colegas tiravam e colocavam aparelhos na tomada a gerar interferência no rádio um som “plec, plec, plec”, o colega não percebia a armação e todos em silencio, ele tirava o rádio da caixa e a interferência sumia, ele colocava na caixa e a interferência voltava mas o colega se tocava e então chamou o professor. O professor vem e a armação continua, daí o professor disse ao aluno aéreo: --- Oh fulano liga o desconfiômetro. Alguns minutos depois vem o funcionário do almoxarifado para falar com o professor: --- Tem um aluno no almoxarifado pedindo um tal desconfiômetro, que aparelho é este?

Eu estudava em uma escola técnica de eletrônica. No último ano, cada aluno montava e calibrava seu rádio, no início dos anos 70 ainda montávamos rádios a válvula, cada aluno finalizando os ajustes do dial e conferindo se batia com a frequência AM da rádio tipo rádio Eldorado, 700khz, rádio Cultura 1300 khz. Hoje nas grandes cidades quase ninguém mais houve rádio AM, em pouco tempo nem mais FM tudo online mas era o tempo em que as transmissões de TV a cores começaram no Brasil, aqui foi adotado o sistema PAL-M adaptado da Significado de Desconfiômetro Europa e nos EUA era o NTSC e os americanos apelidaram de” Never Twice the substantivo masculino[Informal] HabiliSame Color” que quer dizer nunca duas dade de desconfiar quando alguém está vezes a mesma cor, devido a instabilidase comportando de maneira inconvede do sinal. niente; capacidade aguçada de descon Voltando a montagem dos rádios a fiar do que alguém diz, da maneira como aula de laboratório prático entre jovens se comporta etc; capacidade crítica e/ou sempre tem alguma armação, até os dias de avaliação. desconfiômetro). Desconde hoje e um dos nossos colegas termifiar + o + metro. nava a montagem do seu rádio e ao feSinônimo: Semancol

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Tancão

Wagner Almeida Arquiteto

Ruivão, Oluazô, Orelha e eu. Essa era a turma, a gangue, o excrete mais perna de pau que existia no bairro. As nossas habilidades futebolísticas variavam entre: o quase regular ao completo sem noção. Éramos os últimos a serem escolhidos para os times das aulas de educação física. E talvez por isso, nossos interesses estavam em outros lugares, preferíamos os jogos de taco ou pião a ouvir futebol no rádio. Bolinha de gude e quadrado a participar das discussões intermináveis sobre qual jogador era o mais ‘fodão’. Acima de tudo, adorávamos brincar nas ruas do bairro, explorar os matos, que para nós eram florestas, e, vez ou outra, roubar mexericas no pomar da dona Júlia ou cana no sítio do seu Mané e que depois, gostosamente, saboreávamos escondidos nas cabanas improvisadas entre as touceiras de bambu. Nadar no tancão, nome dado ao conjunto de três lagoas que ficavam para os lados do Jaçana, tinha sabor de filme de suspense, pois se nossos pais descobrissem, a aventura poderia nos custar umas boas varadas na bunda. Para alcançá-lo caminhávamos por uma rua de chão batido que serpenteava a base de uma pequena serra. A cada curva uma possibilidade: um vizinho conhecido, um preá atravessando a rua, um lagarto despreocupado tomando o seu banho de sol ou, simplesmente, o vazio ansioso até a próxima curva. Certo dia, a caminho do tancão, decidimos mudar de rota e subimos a serra para fazer o trajeto por dentro da floresta. A medida que nos embrenhávamos no mato os sons conhecidos do bairro, foram dando lugar aos sons dos bicos de lacre

e bem-te-vis. Borboletas azuis e amarelas dançavam ao nosso redor, e sem perceber passamos a falar mais baixo como que receosos de ofender aquele lugar. Continuamos. Passamos por touceiras de bambu muito altos que reclamavam balançando ao vento: clá, clá, clá, clá, mais a frente teias sedosas das aranhas padeiro, cobertas de gotículas de orvalho marcavam a direção. Foi quando nos deparamos com um obstáculo, um círculo de velas pretas e vermelhas ocupava todo o caminho e no centro dele pratos de barro com farofa, tomates, cebolas e galinha. Tudo ladeado de garrafas de cachaça e cerveja. Eu, já estava planejando descer para a rua quando Oluazô, garoto destemido, teve a idéia: — Poxa, por que não pegamos tudo e levamos para o lanche? Garotos de onze anos têm uma lógica muito própria. Eu, pronto para objetar fui interrompido pelo Ruivão que acrescentou: — Olha, a tia da vizinha da avó do tio da minha mãe disse para ela que existe um método de pegar a comida do santo sem ofender ele. É assim ó: você dá um passo sobre o prato e se for dia de santo de esquerda você agacha e com a mão direita pega o prato e se for dia de santo de direita você faz a mesma coisa só que pega com a mão esquerda. Naquele momento de decisões cruciais o tonto do Orelha só sabia rir, impaciente perguntei; — Mas Ruivão, hoje é quarta, é dia de santo de direita ou esquerda? — Ah! Não sei, não ouvi essa parte. Minha paciência estava para explodir quando, Oluazô, garoto descido, falou: — Vou pegar as comidas. Eu não compartilhava da iconoclastia do Oluazô, não por medo nem nada, mas preferia manter uma distância respeitosa dessas coisas por uma questão filosófica mesmo. Porém, para não parecer o estraga prazeres, concordei.

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Lá foi Oluazô, primeiro, o paço de gigante sobre o prato de farofa, depois, começou a agachar preparando a mão esquerda. Havia decidido que o dia era de direita. Por instantes tudo parou. Todos frios olhando Oluazô e eu, congelando, atrás de todos. No último momento Oluazô troca de mão e pega o prato, nessa hora, um barulho ensurdecedor de galhos se quebrando invade o ambiente e os pratos estouram na nossa frente. Debandada geral, por estar atrás

de todos fui o primeiro a alcançar a rua, Oluazô, garoto atlético, em quatro saltos estava ao meu lado, Ruivão e Orelha rolaram ribanceira abaixo, todos a seu modo expressando aquele sentimento preso no peito em gritos que variavam: — manhêêê!, não fui eu manhêêê esse era o Orelha, — merdaaaa, eu sabia! Eu sabia! esse era eu. Naquela tarde, após litros de água com a açúcar, de banho tomado, todos estávamos na missa das 6. — Ave maria, cheia de graaaça...

Foto: Arquivo

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Infância e graça

Sandra Regina Schewinsky

Psicóloga - Neuropsicóloga

Pois é! Em tempos duros nosso querido editor Manoel Conte resolveu lançar um número extra que venha recheado de humor. Realmente não sei se sou capaz de reproduzir uma vivencia minha que gere risos no meu querido leitor, mas pensei se minha história não tiver muita graça, que seja pelo menos engraçadinha. Reiteradamente comento que se a quarentena fosse quando meus filhos eram crianças, eu teria de fenestrado os meninos, ou eu própria me jogado pela janela ou a hipótese mais branda, sido expulsa do condomínio. Quase todos os dias chegam mensagens para as crianças não fazerem barulho hora alguma, pois as pessoas estão trabalhando em home office, ou querem descansar ou ver televisão. Eu questiono-me incrédula: Como deixar crianças trancadas em um apartamento por tantos dias sem permitir que elas façam barulho? Outra coisa que sempre me causou admiração, são pessoas que falam nunca terem brigado com os filhos, sempre resolveram tudo só conversando. Penso com meus botões: Não tiveram dois moleques!!!! Sou mãe do André e do Dudu, hoje dois jovens do bem. Também, foram crianças do bem, super saudáveis e felizes, o que é diretamente proporcional a: BAGUNCEIROS. Amado leitor, você acredita que eu era chamada toda semana na escola deles, adivinhem, por quê? Resposta exata: Comportamento. Eram capazes de escrever nas provas que o triangulo que possui dois lados iguais é o Triangulo das Bermudas e desenharem uma bermuda. Referir que densidade demográfica diminui pelo

avanço das construções das fabricas de ‘camisinha de vênus’, que Darwin teve a brilhante idéia que o homem veio do macaco porque ele era um macaco. Chutar um vidro de cola que bate no cabeção de quem? Ou jogar, papel higiênico no teto do banheiro, mas um saiu pela janela, na cabeça de quem? Sempre, certeiramente, na cabeça do professor mais chato! Serem surpreendidos lendo revistas! O leitor se espanta, mas Sandra ler é bom. Concordo, mas quando o menino tem oito anos e leva para o Colégio Católico uma revista Playboy, a coisa muda de figura. Dentre tantas, tiveram o ápice de esvaziar um extintor de incêndio dentro da sala de aula. Consultas médicas tiravam qualquer um do sério na sala de espera. Por volta dos três anos em uma consulta no Pronto Atendimento o médico perguntou o que doía – A barriga – onde dói? Dentro é claro! Eu que fui expulsa do consultório de tanto rir! Mas até aqui, foi apenas o preâmbulo para minha breve história humorística (talvez). Imaginem esses dois queridos num apartamento de 54 metros quadrados! Então, foi assim durante um tempo. Toda vez que eu estava em uma ligação importante de trabalho, os dois começavam a brigar, gritar e falar toda a sorte de palavras grandes (vulgo, palavrões). Tempos de telefone fixo, que eu não podia fugir deles. Um dia dei o veredicto: Na próxima vez, vocês vão ver o que vai acontecer! Obviamente a próxima vez já foi no dia seguinte, desliguei o telefone saindo fumaça pelas narinas, peguei o chinelo e fui pra cima deles, o André já começou a chorar e gritar como se o mundo tivesse acabado, o Dudu correu pra debaixo da cama. - SAI DAÍ DUDU! - Você vai me bater? - SAI DAÍ! - Você vai me bater? - Sai daí! - Tá bom, eu saio, mas me dá o chinelo que eu mesmo me bato! Moral da história, outro ataque de

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riso e ninguém apanhou. O que me fez concluir que é mesmo possível criar os filhos sem bater, não porque eles não mereçam apanhar, mas por não conseguir pegá-los!

Leitura sugerida: PARANHOS, Cacilda. Palmada fora-da-lei. Revista Superinteressante. Fevereiro de 2001. Disponível em: . Acesso em: 18 nov. 2014.

Foto:Pinterest - divulgação

Acordo Obsoleto, Durmo Atualizado www.durmoatualizado.com.br

Seniors ativos, curiosos, empreendedores e eternos aprendizesUm blog com dicas fáceis e diversas desde cortar custo de aquisição de remédios, como tirar uma ideia da cabeça e tornar-se um projeto a aplicativos que facilitem o seu dia a dia. Desenvolvido por Marcelo Thalenberg colunista do Magazine 60+ magazine 60+ #Edição Extra - Maio - Junho/2020 - pág.9


Difícil ser criança

Malu Alencar Historiadora e Produtora cultural

Não sei qual o DNA que me trouxe ao mundo, pois desde pequena eu só aprontava. Não sabia o que era “aprontar”, mas sabia que quase tudo que eu fazia resultava em castigo e me diziam: “Você apronta demais!” Mas não sabia o que era aprontar, pois que mais gostava era de conversar com as pessoas, brincar de professora, ficar com o pessoal que trabalhava nos afazeres da casa, mexer no fogão, mas isso realmente impossível, mal chegava à cozinha e já era convidada a retirar. - Sai daqui, sua mãe vai te colocar de castigo e ficar brava com a gente. - A lenha estala e pula brasa no chão, pode te queimar. - Cuidado com o caldeirão, a água está fervendo Minha casa de infância parecia uma hospedaria.

Meus pais recebiam parentes, mesmo distantes, ou pessoas que vinham do nordeste e sempre arrumavam um espaço ou um canto para que tivessem um teto. Passei minha infância vendo pessoas batendo na porta de nossa casa pedindo apoio. Estou falando do final de 40 até meados da década de 1950. Hoje eu sei o que acontecia, a seca do nordeste, mas na época achava que tudo era normal. Mas não era não, eram retirantes ou pessoas que precisavam de apoio, buscavam uma oportunidade de viver melhor. Pelo menos em Lucélia, quando meu pai era prefeito. Naquela época, as reuniões políticas eram feitas em casa, às vezes só tinham homens e daí criança não podia chegar à sala. Às vezes iam famílias inteiras, era uma farra, as crianças ficavam no quintal brincando, correndo. As mulheres sentavam na copa conversando, mas sempre atentas ao que acontecia na sala dos homens. Conhecia todos que frequentavam nossa casa. Era um ‘auê’ os preparativos, as Foto: www1.folha.uol.com.br - assinante

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moças que trabalhavam em casa ficavam conversando imaginando quem viria a noite e eu participava dos papos, ouvia e dizia: a Arlinda quer casar... aquele moço é solteiro. Tinha uns segredos que contavam e quando minha mãe chegava mudavam de assunto. Arlinda me dizia, não conte prá ninguém o que você ouve aqui, sua mãe vai brigar com a gente. Comentavam de uma senhora que agora casada, mas era da zona e a filha tinha nascido lá. Perguntava: “onde fica a zona?” Arlinda respondia: “uma cidade longe daqui...” Numa das reuniões, tinha pouca gente, o casal com a filha e outros correligionários do Vicente. Entrei na sala para convidar a menina para brincar, mas achei excelente oportunidade para saber qual a cidade que tinha nascido. Resolvi falar com a mãe:

- Arlinda me falou que a senhora e sua filha são de outra cidade, gostei do nome, mas já perguntei e ninguém sabe onde fica essa cidade chamada Zona. Silencio total. Minha mãe me segurou pelo braço e me levou para o quarto e disse: não saia daqui, depois conversamos. Não participei da reunião. Tampouco fiquei sabendo onde era a Zona. No dia seguinte além de ficar de castigo levei uma bronca de Arlinda: - Eu falei prá você que não era para comentar com ninguém o que ouvia... bem feito, quem manda ser xereta e linguaruda. Somente muito tempo depois é que soube que Zona era onde ficavam casas de prostituição. ps: A zona mais famosa durante décadas foi a Casa de Eny na cidade de Bauru/SP. Acho que zona de meretrício como antigamente, não existe mais.

Minha experiência no solar da fossa

Osvaldo B. de Moraes Historiador

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Foto: divulgação

Em certa ocasião fui fazer um curso de programação industrial na CEPAL, órgão da ONU, com sub sede no Rio de Janeiro. O curso teria uma duração de 3 meses e para isso teria que providenciar acomodações para esse período. Através da indicação de um amigo fui morar em uma espécie de pensão que dispunha de apartamentos individuais. Ficava situado em Botafogo, Rua Lauro Muller, na saída do Túnel Novo, em terreno vizinho ao do Canecão, cuja inauguração participei. O edifício possuía dois andares distribuídos em torno de um pátio interno, lembrando edificações hispano - mexicanas. Originalmente ele pertencia a uma comunidade religiosa, servindo de con-

vento para freiras. Seu nome oficial era Pensão Santa Terezinha. E o apartamento que aluguei possuía um quarto, uma saleta e uma pequena cozinha. Não eram fornecidas refeições e nem café da manhã. Na realidade se assemelhava aos conceitos de hoje de ‘apart hotel’, com faxina diária e troca semanal de roupas de cama Até aí parece tudo normal. Mas na realidade esse solar era chamado de Solar da Fossa. Nele habi-


tavam os mais variados tipos de hospedes, principalmente jornalistas e artistas, muitos dos quais em início de carreira, além de estudantes e figuras descoladas de conceitos sociais. Entre nomes famosos que se alojaram ali, Caetano e Gil, na aurora de suas carreiras. Era uma comunidade especial, onde havia respeito pelas atividades e comportamentos entre os moradores. Tanto verdade que em determinados momentos noturnos havia sons de atabaque de adeptos de religiões afro e eram respeitados por todos A vida no solar tinha um dinamismo próprio e o cotidiano era rico e eclético, com rodas de violão e conversas em torno de política, teatro, música e literatura. Nos terrenos do fundo do Solar havia a gafieira do Xavier. Um estabelecimento de diversão com música e pistas para danças. Em meu quarto era comum toda a noite ouvir o som vibrante dos instrumentos e vocalistas da gafieira. Pitoresco era a preleção no início das atividades, quando Xavier, um português com sotaque pronunciado dizia ao microfone: “a segurança física e moral das senhoras e senhorinhas está garantida nessa casa”. Em meu quarto havia um armário com uma enorme porta pesada e de correr. Tudo ia bem à minha estadia até que em uma noite, já hora tardia, ao abrir a tal porta ela se desprendeu dos trilhos e caiu com a quina em cima de meu dedão. Todo dicionário de palavrões era irrisório para tentar amenizar a dor e o inchaço que logo apareceu.

O que fazer? Nessa hora o solar estava em silêncio. Queria pelo menos uma pedra de gelo para colocar no dedão inchado e dolorido. O único som que ouvia era da gafieira do Xavier. Então, no desespero só me restou ir mancando por um longo caminho até poder pedir socorro ao Xavier, que numa solicitude me atendeu fornecendo um balde de gelo, que amenizou um pouco a dor, mas que no dia seguinte não pude calçar os sapatos, indo à aula com um pé descalço. Sendo motivo de chacota entre os colegas, que após relatar os acontecimentos da noite anterior, deduziram que levei uma pisada de salto alto de uma bailarina da gafieira por tentado seduzi-la. Essa estadia no Solar da Fossa foi um marco muito produtivo na minha vida, onde convivi num ambiente cultural diversificado e me despertou a importância de desenvolver empatia e respeitar a diversidade cultural, o que me incentivou mais tarde a fazer um curso de extensão universitária em antropologia cultural. Hoje, o solar foi demolido e em seu terreno se ergue o Shopping Rio Sul. Coincidência feliz. Há poucos meses estando em uma feira de livros, encontrei um livro intitulado Solar da Fossa de Toninho Vaz, onde descreve aspectos pitorescos da vida no solar. Encerrando, lembrando os repertórios da época: uma de Marcos Valle – Viola enluarada: “A mão que toca um violão Se for preciso faz a guerra Mata o mundo Fere a terra”

Di Cavalcanti - Fragmento de ‘Gafieira’ (década de 1940) - óleo s/ tela Coleção Particular - SP - Foto: Divulgação

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ANUNCIE COM A GENTE PREÇO BAIXO E UM GRANDE ALCANCE

60+

magazine magazine 60+ #9 - Março/2020 - pág.27

magazine 60+ #Edição Extra - Maio - Junho/2020 - pág.13


Bicho nojento

M. Luiza Conti

Desenvolvimento pessoal

Moro numa casa pequena e deliciosa, as ruas com muitas árvores onde os passarinhos cantam para nos alegrar. Era um sábado ensolarado céu azul, e todos dentro de casa devido a quarentena (COVID-19). Para que eu pudesse me movimentar um pouco, resolvi passar uma tinta no pequeno terraço da frente, a fim de que dê uma melhor imagem do mesmo que já estava com as paredes descascadas. Para isso, tirei tudo que havia ali, e coloquei no chão do quintal, deixando o espaço totalmente vazio para eu realizar a minha obra. Foi bastante cansativo porque precisei lixar a parede antes, e além de fazer muito pó, fiquei com os braços doendo. Mas, já havia começado e tinha que ir até o final do meu objetivo. Ao entardecer tudo ficou pronto e eu não via a hora de colocar todas as coisas em seus devidos lugares e poder apreciar e curtir aquele lugar que estava mais aconchegante depois de tudo pintado. Primeiro peguei as coisas maiores, como um pequeno móvel e uma poltrona. Em seguida fui pegando as coisas pequenas que ficam em cima do pequeno móvel, e antes de colocá-las no lugar, lavei uma por uma. Há um tempo comprei duas latas antigas, daquelas que se carregava leite, e pintei deixando-as lindas e modernas..., elas são meu xodó. Estavam muito sujas, e com um pano úmido limpei e elas voltaram a brilhar como novas. Mas, uma delas estava um pouco mais pesada que a outra. Apesar de já estar meio noite e eu sem óculos, olhei no fundo e vi algo estranho. Não tive dúvidas, virei a lata de cabeça para baixo para que aquilo saísse, mas de nada adiantou, a coisa continuava lá. Olhei novamente e pensei alguém var-

reu a casa e colocou todo o pó dentro da lata, e formou uma bola de poeira... Então, enfiei a mão lá dentro para retirar aquela bola de pó que já devia estar lá há tempos, e por isso acabou grudando no fundo. Puxei mas não saiu, estava realmente grudado. Foi quando raspei com as unhas e consegui puxar, apesar de sentir aquilo pesado e estranhar ser poeira com aquele peso. Quase que arranquei aquilo, e quando já estava tudo nas minhas mãos, vi algo comprido e fino que saia por meio de um dos dedos, foi quando vi uns olhos arregalados e sujos olhando pra mim... Aquilo não era poeira, aquilo era um RATO com rabo fino e comprido e os olhos arregalados pela sua morte. Me parecia um sonho [ou pesadelo], não estava acontecendo..., mas em fração de segundos eu rodopiei com ele nas mãos e o atirei para o além, nem sei para onde, aos gritos, aos berros, e desesperada gritava mais e mais. Meu corpo ficou todo arrepiado, minhas mãos abertas não se fechavam e a minha boca só sabia gritar... A vizinhança toda saiu na porta e perguntava o que houve, e eu só gritava... um RATO um RATO... Todos curiosos quiseram vê-lo, mas com a força que eu o ataquei fora da minha mão, até hoje não tenho idéia onde ele foi parar... Demorou muito para eu conseguir parar de gritar, entrei no chuveiro e tomei um banho demorado lavando dos pés a cabeça e principalmente as mãos. Aquilo foi um choque de surpresa e susto. Escrevendo isso, estou completamente arrepiada... Nunca mais vou esquecer essa visita em meu terraço.

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PB que não é Paraíba

Tony de Souza Cineasta

Pra começo de conversa eu não acredito nessas coisas. Que uma pessoa já tendo passado pro lado de lá, possa aparecer ou se comunicar com quem está do lado de cá seja de que forma for. Também não tenho o talento de Antonio Tabucchi que transformou Lisboa num espaço mágico, onde tudo podia acontecer. Inclusive o encontro de mortos e vivos no mesmo plano. Ele também não foi o único. Outros grandes escritores como Juan Rulfo conseguiram fazer essa mágica de forma magistral. Mas que foi uma incrível coincidência me deparar hoje (“um domingo quente de verão”) com esse livro de Antonio Tabucchi, “Requiem”, e tentar lembrar como ele fez a mágica, isso foi. Mas depois que reli o livro, fiquei frustrado. Percebi o recurso que ele usou foi o sonho. Não gostei. Assim não vale. Mas, como sonho não vale? O que seria de “Cem anos de solidão” sem os sonhos? Da obra poética de Fernando Pessoa? De Calderón de la Barca? E muitos outros autores? E diretores de cinema que quando o filme fica curto inventa um sonho? Calma, calma! É tudo invenção minha. Uma mentira deslavada. Um fingimento como diria Fernando Pessoa. Não tem nada de “incrível coincidência”. O negócio é o seguinte: Eu estava tentando escrever uma homenagem ao poeta Paulo Bomfim, ouvindo mais uma vez seus “passeios da memória”, e lembreime do livro de Antonio Tabucchi . Vasculhei na estante até encontrá-lo. Na contracapa vi que ele mencionava o “Livro do Desassossego” de Fernando Pessoa. Retirei também o livro de Pessoa da prateleira e li o seguinte trecho sublinhado por

mim na página 377 onde parei a leitura anos atrás: “O próprio sonho me castiga. Adquiri nele tal lucidez que vejo como real cada coisa que sonho.” Será que Tabucchi havia se inspirado nesse trecho? A obra de Pessoa, principalmente o “Livro do Desassossego” está repleto de referências a sonhos. Num outro trecho desse mesmo livro, diz: “Estamos dormindo, e esta vida é um sonho, não num sentido metafórico ou poético, mas num sentido verdadeiro.” E mais adiante: “Estou cansado de ter sonhado, porém não cansado de sonhar.” Então, como já falei caro leitor, eu estava ouvindo mais uma vez, no site oficial de Paulo Bomfim seus “passeios da memória” porque desejava fazer uma homenagem a ele, grande e saudoso poeta, considerado “Príncipe dos Poetas Brasileiros”. Vou confessar para vocês. Sou uma negação nessas coisas de mexer em computador e às vezes me confundo quanto tento fazer algo mais ousado, tipo abrir várias janelas ao mesmo tempo e interagir com elas. Então, além de está acessando o site oficial de Paulo Bomfim, eu estava com minha página no facebook aberta, o que raramente acontece. Não tenho muita paciência para isso. Então minha atenção estava dividida entre os livros que peguei na estante, o site de Paulo Bonfim e a página do facebook, quando apareceu no canto da tela do computador, um quadrado com as letras PB, assim maiúsculas, e me cumprimentou: - Oi professor, tudo bem? Pensei que fosse um antigo aluno do tempo em que eu dava aulas na universidade. - Tudo, bem. - respondi. - Andava atrás de mim? - Eu não estou mais na universidade. - Na universidade? - Você foi meu aluno? - Não. - Quem é você exatamente? - PB - Tudo bem Paraíba? De onde eu conheço você? - Que que é isso professor? Res-

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- Sim. - Nesse caso as iniciais não seriam J.L.B.? E não H.B.D? - Bem o H não sei o que significa, mas B.D é Bustus Domecq. - Acertou! Assopraram direitinho. - E você ainda continua P.B.? Ou já mudou de pseudônimo? - Não. Continuo P.B. - Você é uma pessoa mesmo, ou um fantasma? - Do que o senhor está falando? Fantasma de alguém que já morreu ou escritor fantasma? - Estou falando da palavra fantasma no seu sentido mais amplo. - Ah sei. “A literatura é o universo paralelo da vida. Em certos casos mais criativa do que ela. O personagem é a antimatéria do leitor.” Quem disse isso? - Sinceramente, não sei. Tem como a gente se encontrar? - Isso aqui não é um encontro? - Eu digo se encontrar num lugar físico. - Tem sim. - Onde poderia ser? -Centro Cultural São Paulo é bom para você? - Mais ou menos. Teria outra opção? - Avenida Paulista? - Que lugar da Avenida Paulista? - Em frene ao Masp? - Agora vamos falar sério. Quem é você? - Já ouviu falar em “hacker”? -Quem é você? Fala sério! - ????????????????????????????????????

Foto: tenor.com

peito a Paraíba, respeito os nordestinos, mas aqui é outra pessoa. - Quem? - Uma pessoa que você disse que gostaria muito de ter conhecido pessoalmente. - Andrei Tarkovski. - Não. H.B.D. - H.B.D? Era PB. Agora é H.B.D? - Não H.B.D está aqui comigo. - E daí? -E daí que ele quer fazer um jogo de adivinhação com o senhor. - Por que você me chama de senhor? - Digamos que eu sou uma pessoa que tem a fama de ser educado com os outros. - Que jogo o Senhor H.B.D quer fazer? - H.B.D é pseudônimo. Ele tinha a intenção de publicar um livro intitulado “As cruas verdades que guardo em meu interior”. -Ele tinha a intenção? E por que não publica? - Aí já são outros quinhentos. Com essa dica, o senhor, ou você, se preferir, já teria que identificar de quem estamos falando. - Não. Não me ocorre quem possa ser. Não tem outra dica? - Estamos falando de um escritor. De um poeta. - Vou responder porque me assopraram aqui no ouvido. Só pode ser coisa do bruxo Argentino. - Você quer dizer Jorge Luís Borges?

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Um humor diferente para vencer a quarentena

Katia Brito Produtora de conteúdo sobre envelhecimento e longevidade

Foto: Divulgação

Manter o bom humor em tempos de quarentena não é fácil, mas você pode contar com a ajuda mais que bem-vinda dos serviços de streaming, que nada mais é que a tecnologia de transmissão de conteúdo online, como Netflix, Globoplay, Amazon Prime e outros. São filmes, séries e documentários com conteúdo para todos os gostos. Que tal escolher aqueles que vão proporcionar alegria e boas risadas? Claro que são escolhas muito pessoais. Quem me conhece mais de perto, costuma brincar que eu não tenho humor, e não gosto mesmo desta coisa engraçadona de alguns filmes americanos. Prefiro achar que tenho um humor diferenciado, que pode ser o seu caso também. Então

lá vai minha dica. A minha sugestão para maratonar é a série Young Sheldon, criada para contar a infância de um dos protagonistas da série Big Bang Theory. O adulto Sheldon Cooper é vivido por Jim Parsons na série original encerrada no ano passado, e o jovem, que já está na terceira temporada, por Iain Armitage. No Globo Play você encontra as duas primeiras temporadas de Young Sheldon e também as dez de Big Bang Theory. Eu gosto de Big Bang Theory e seu humor nerd, mas não é o que mais me atraiu na série sobre o jovem Sheldon, acho que até pela gerontologia, sempre ela. Como não atrair sua atenção para o envelhecimento e a longevidade? Me diz... Então, longe das aventuras do menino de nove anos com altas habilidades para ciências e dificuldade de interação social, fique de olho na avó, interpretada por Annie Potts, de 67 anos. A série se passa em 1989 e Connie é uma avó à frente de seu tempo, com um olhar mais leve sobre a vida do que a filha, que é uma religiosa fervorosa. Se você puxar pela memória vai lembrar-se de Annie Potts como a secretária Janine, dos Caça-Fantasmas originais. Nem

Annie Pots e Wallace Shawn em cena de Young Sheldon

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Foto: Divulgação

Janine, Caça-Fantasmas vale a pena comentar a versão feita com mulheres feita em 2016. Os antigos sim, sempre são boas opções de entretenimento. Que venha o novo filme resgatando a história a partir dos Caça-Fantasmas II (1989), unindo membros originas e novas gerações. Voltando a Connie, ela tem uma rixa com o genro, algo comum em séries e novelas, eu admito! Mas as brigas rendem bons momentos em Young Sheldon. Eles são mais parecidos que imaginam. A avó também é um apoio importante principalmente para a neta, que é irmã gêmea do jovem protagonista, uma menina forte e decidida, mas não tão brilhante nos estudos. Connie é muito mais do que um suporte para a família, ao longo das temporadas, vem ganhando destaque principalmente por sua vida amorosa. O professor de Física do jovem Sheldon, John Sturgis, interpretado por Wallace Shawn, de 76 anos, é um de seus namorados. Um homem tão diferente quanto o neto de Connie, apaixonado pe-

las ciências e por programas como Star Trek, mas com uma alma gentil que conquista. Uma paradinha breve na terceira temporada para um spoilier. Na terceira temporada o coração de Connie é disputado pelo professor com o treinador de beisebol, Dale, vivido por Craig T. Nelson, também de 76 anos. Personagens com estilos bem diferentes, cada um com seu encanto. Craig viveu Steven Freeling, o pai da família do filme Poltergeist original de 1982. Quem não lembra da menina na televisão? Filme que só tive coragem de ver depois de mais velha. Melhor voltar para o bom humor do personagem da série, mas você vai ter que esperar um pouco mais para vê-lo. E o que garante sua diversão neste período de quarentena? Escolha algo que traga leveza, alegria, boas gargalhadas para este momento em que precisamos nos fortalecer para manter a saúde mental e em breve estar juntos novamente.

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Sem papel...

Manoel Carlos Conti Artista Plástico Jornalista

Você vai pensar que isso é mentira, mas posso afirmar e jurar de pés juntos que é a mais pura verdade. Veja até que ponto chegava minha timidez. Acho que por volta dos meus 17 ou 18 anos, namorei com uma menina que se chamava S.... Eu sempre que podia ia vê-la em sua casa e muitas dessas vezes sua mãe, Dona I... e seu pai Seu A... me convidavam para jantar. Esses convites eram sempre feitos por telefone antes de eu ir. Tenho certeza que todos eles gostavam muito que eu fosse lá. Numa noite de verão, em que eu já sentia alguns desarranjos intestinais lá cheguei para um daqueles jantares. Tudo muito bom, não tenho a mínima lembrança do que foi servido no jantar e na sobremesa, mas sei que era uma delícia e terminada a janta, eu e a S... fomos ver televisão. Seus pais, sua irmã, que era uma menina lindinha e não me recordo o seu nome e mais uma senhora que lá estava, acho que era a avó dela, todos foram juntos. Imagine você que essa sala de televisão era bem pequena, deveria medir uns 5 metros por 3 de largura e tinha a poltrona que pai e filha menor em seu colo sentaram, uma cadeira extra colo-

cada ao lado dessa poltrona onde sentou sua mãe, à esquerda deles um sofazinho de 2 lugares onde sentamos eu e a S... e a nossa esquerda, acho que uma cadeira de balanço aonde sentou-se aquela senhora, a avó. Bem atrás de onde estava a avó de S..., tinha um banheirinho que deveria medir 1 metro e meio por 1 metro e lá dentro, só a privada. A pia ficava logo que se saía desse cubículo que era fechado por uma porta. Vimos alguns minutos de televisão e começou aquela minha maldita dor de barriga. Segurei o quanto pude e isso, ao que me lembro, não foram nem 5 minutos. Pensei que iria fazer cocô nas calças. Nesse momento acho que o melhor era dizer que não estava bem e pedir para ir embora, mas não, levantei-me e disse, “posso usar o banheiro?”. Autorizado, lá fui eu. Sentei-me confortavelmente apesar de logo notar que ali estava mais quente do que fora, pois não havia nenhuma janela no local. Todos sabem que muitas vezes fazer cocô desprende barulhos de toda sorte. Principalmente gases, ainda mais quando você está com um total desarranjo dos diabos. Resumindo, eu suava que nem um condenado uma vez, acho eu, que de tanto fazer o cocô devagar para não fazer barulho eu só pensava comigo, “eles estão ai do lado, posso ouvir a respiração deles”, imagine o que eles ouviam lá de fora. Acho que aquele ‘trabalho’ demorou bem uns 10 minutos, talvez um pouco mais. Tudo terminado, já nem me incomodava mais o cheiro que deveria estar O SUPERA é um curso diferente de tudo que você já conhece. Com apenas uma aula semanal de duas horas, você conquista uma mente saudável, com mais concentração, raciocínio, memória, criatividade e autoestima. Estas habilidades melhoram o desempenho na escola, alavancam a carreira e garantem mais qualidade de vida. Encare este desafio e experimente uma forma incrível de viver. Nossa metodologia não tem limite de idade: todo mundo pode viver esta emoção.

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o que me deixava apavorado era que eu estava absolutamente molhado de suor por permanecer tanto tempo em um lugar tão pequeno e tão fechado como aquele, isso numa noite dessas que por baixo deveria fazer 28 graus, no mínimo. Mas o pior não havia passado, e para o meu desespero total foi depois de tudo isso notar que no local apropriado e logicamente, em lugar algum do cubículo, existia um pedaço de papel higiênico enfim, no local só aquele rolinho que segura o papel. Eu poderia simplesmente pedir, mas não. Quase chorei. Não sei por que, puxei a descarga que era aquela de caixa que demora certo tempo para encher. Acho que até pensei em lavar com a água limpa que entrava na privada, mas não sei por que, não o fiz. Pensei rápido em o que fazer vestir as calças e ir embora, não dava, estava muito sujo. Uma luz veio a minha cabeça. As meias. Retirei os sapatos e as meias, vestindo novamente os sapatos sem elas. Limpei-me. Mas e agora, pensava eu, aonde jogo. Dentro da privada, nada mais certo. Levantei-me, vesti as calças, tentei secar o suor que jorrava de minha cabeça e eu sentia as gotas escorrendo pelo pescoço. Acho que nessa altura, eu deveria estar lá dentro a mais ou menos uns 20 minutos. Sem ar. Desesperado. Apertei o botão da descarga e pensei, “pronto, saio e digo que não estou passando bem

e vou embora”. Quando a privada voltou a se encher, deparei com outro terror. As meias não tinham descido pelo cano. “Meu Deus” pensei apavorado. Eles vão ver isso e logicamente vão saber que fui eu. Esperei mais um tempo até a maldita caixinha de água se encher e plaft, tentei novamente. Nada. A água levava e trazia. Acho eu, não me lembraria disso nem no dia seguinte do ocorrido tamanho era meu desespero, mas puxei aquela descarga e a esperei encher novamente umas 6 vezes. Vi então no local aonde se coloca o papel higiênico, aquele papelão onde o papel propriamente dito é enrolado. Pensei comigo, “será a última vez”. Apertei a descarga, ‘chuchei’ com aquele tubinho fazendo com que minha mão se molhasse na água e pronto, a meia se foi. Joguei o papelão no lixo, me preparei psicologicamente e abri a porta. Todos me olhavam espantados. Calmamente fui até a piazinha, lavei minhas mãos, lavei o meu rosto, me sequei com a toalhinha que com certeza não era para tanto e me virei dizendo, “gente, me desculpem, não estou muito bem e acho que vou embora... você abre a porta para mim S...”. Quando ia me despedindo me lembro que a mãe dela disse, “nossa Mané, você tá suando”. Respondi, “acho que é o calor, boa noite e obrigado pelo jantar”. Foto: arquivo

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Gente de bem...

Maria Izilda Sincorá

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Foto: enviada pela colunista

No final do ano passado, fui logo cedo lá para os lados da Rua José Paulino, comprar umas lembrancinhas para os professores da escola. Após ter feito as compras, tomei o rumo da escola. Fiz um itinerário mais comum, subindo a Rua da Consolação para chegar na Av. Rebouças, já que me dirigia para a região do Butantã. Como a Consolação em direção a Av. Rebouças parecia estar parada, resolvi desviar pela alça de acesso à Av. Dr. Arnaldo, para descer a Cardeal... Ao tomar essa direção, não sei como e nem o porquê ouvi um barulho parecendo um estouro e em seguida senti que algo havia acontecido com um dos pneus do meu carro. Estacionei o carro, desci e vi que o pneu da frente havia “estourado”. Parecia rasgado... Fiquei preocupada, mas... Nesse instante passava por mim um rapaz de bicicleta, usando terno. Prontificou-se a me auxiliar, embora tenha dito que estava um pouco atrasado para um compromisso. Agradeci, informei que tinha seguro e com ele acionei. Enquanto conversa com ele, veio na nossa direção um rapaz nitidamente morador de rua que se prontificou a ajuda... O rapaz da bicicleta, parecia aflito com o horário. Eu agradeci a atenção dele e mesmo parecendo preocupado com a presença do morador de rua, e sabendo que o socorro já estava a caminho, foi embora, pois o morador de rua ouvindo nossa conversa mencionou ser muito perigoso eu ficar ali sozinha, e, prontificou-se a ficar comigo... Mesmo estando num local atualmente preocupante pois existem muitas pessoas morando sob o Pontilhão da Av. Rebouças, na frente do Hospital Emílio Ribas, fiquei tranquila pois ele um dos moradores do local se prontificou a ficar comigo como meu segurança... Aguardei ... Pareciam minutos infini-

tos. O rapaz que não quis me dizer seu nome, ficou comigo, tentando me animar... Nisso vi de longe o rapaz do seguro. Identifiquei o pelo uniforme. O rapaz de longe olhou...olhou.... E desconfiado foi chegando querendo saber se tudo estava bem. Fez o que seria necessário fazer, deu por encerrado o serviço, sempre com o auxílio do meu “segurança”. Quando estava tudo pronto, me despedi do meu segurança, agradecendo o e pedindo para sair desse tipo de vida. Dei a ele uns trocados, e fiz que ele entendesse que era para se alimentar e não fazer uso de coisas não legais. Ele me garantiu que iria comer porque estava com fome. Durante o tempo em que estive com ele, soube que agora era uma pessoa só. Seus pais haviam falecido e não tinha mais ninguém em SP. Morava na rua porque havia perdido o emprego, mas era gente de bem. E era mesmo! Não sei o nome dele, mas sei que é uma pessoa de bom coração. Sempre agradeço, as oportunidades que a vida me dá e essa foi mais uma. Obrigada, amigo.


A Liga da Justiça e o Covid

Laerte Temple Doutor em Ciências Sociais Relações Internacionais

O Capitão Cloroquina anda irritado por não conseguir reabrir o comércio por causa da pandemia, principalmente em São Paulo. Acha que tem gente infiltrada que barra suas iniciativas ou vaza para a imprensa esquerdista. É um típico problema de gestão de informação que só será resolvido com apoio de inteligência. Resolveu pedir ajuda aos colegas estrangeiros. Por causa no fuso horário, começou pelos europeus. Alguém sugeriu falar com o rei da Bélgica e pedir emprestado o jovem repórter investigativo Tin-Tin, mas o “número um” vetou. O cara é jornalista, coxinha, não tem namorada e tem um cachorrinho chamado Milu. ‘Boiola’ com certeza. Morde fronha. Além disso, seu amigo capitão Hadock é reclamão, rouco, irresponsável, barbudo e cachaceiro. Lembra um famoso desafeto. Ligou para o colega Johnson e perguntou se ele cederia Mr. Bond. Boris disse que adoraria, mas o Daniel esta sem contrato e não quer renovar. Para sua surpresa, recebeu telefonema de Monsieur Macron oferecendo o inspetor Jacques Clouseau, que esta sem missão desde o encerramento do caso da Pantera Cor de Rosa. O capitão aceitou. Gosta de Closeau, apesar de ser meio maluco. Só que o inspetor confundiu de santo e em vez de São Paulo, Brasil, foi para San Paul de Vence, na Côte d’Azur, riviera francesa. Seu disfarce ficou tão bom que ele não se reconheceu no espelho e foi detido. Consultou o relógio e viu que seu amigo Capitão Topete, devia estar acordado. Telefonou para solicitar ajuda quem sabe das Panteras. Mr. Topete sugeriu o Exterminador do Futuro, republicano como ele e ex-governador, mas Cloroquina argumentou que Arnold é amiguinho

do Glória. Mr. Topete ofereceu a Liga da Justiça e o brasileiro adorou. Dois aviões desembarcariam em Cumbica dia 11 de maio cedinho, um cargueiro militar com os equipamentos e o jato invisível da Mulher Maravilha com vários super-heróis a bordo. Eles teriam de retornar no final do dia, mas o homem dos cabelos cor de água da salsicha de cachorro-quente garantiu que eles resolveriam tudo em poucas horas. Alguns super vilões também se dispuseram a ajudar. Macunaíma e Saci Pererê foram convocados para receber os colegas em São Paulo. O avião dos heróis estava lotado, ou melhor, superlotado e a Mulher Maravilha nem percebeu que viajou no colo do Homem Invisível. Ambos chegaram com olheiras profundas, mas com semblante sereno e feliz. Desastre mesmo foi o desembarque. Saci Pererê, com tendinite na perna esquerda, ou seja, tendinite total, e Macunaíma, de ressaca e na fila dos seiscentos reais, não foram ao aeroporto. Dart Wader, confundido com um blackblock, foi detido pela polícia federal, que teve também sérios problemas com o Homem Invisível. Era impossível conferir o rosto dele com a foto do passaporte e o raio X apitava a todo instante, embora aparentemente ninguém estivesse passando pelo equipamento. Aliás, o raio X pirou por causa do cinto de utilidades que o Batman se recusou a tirar. O garoto prodígio, sem autorização dos pais, e o Rin Tin Tin e a Lassie, sem carteirinha internacional de vacina, não puderam entrar no território nacional. Branca de Neve também viria, mas teve de ficar cuidando do anão Atchin, que testou positivo. Na alfândega, o Lanterna Verde descarregou a bateria para provar que seu equipamento não tinha similar nacional e que o imposto de importação não era devido. Com as lojas fechadas, não pode comprar baterias novas e ficou inoperante. Os robôs R2D2 e C3PO, de Guerra nas Estrelas, alegaram que a lei de reserva de mercado de informática foi extinta ainda no governo Sarney. Conseguiram passar pela alfândega, mas a

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banda 5G ainda não está ativa no Brasil e sem ela seus sistemas não funcionam. O motor do batmóvel falhou por causa da gasolina adulterada e a suspensão quebrou nas ruas esburacadas de São Paulo. Na oficina, Chicão fez uma ótima gambiarra e depois do Martelinho de Ouro, Batman quis dar uma volta para testar. Foi preso numa blitz e teve o batmóvel levado para o pátio do Detran, sem licença, sem comprovante de IPVA, DPVAT e circulando durante o rodízio. Multa de R$ 1.200,00 e sete pontos na carteira. Alfred pagou a fiança e Batman disse que vai recorrer. Vieram dois Caça-Fantasmas e ambos foram detidos para averiguações. O pessoal temia que eles encontrassem milhares de colegas funcionários fantasmas na folha de pagamento dos gabinetes dos parlamentares. Mulher Maravilha, Super Girl, Bat Girl e as Meninas Superpoderosas preferiram aproveitar as ofertas do free-shop e abandonaram o grupo. A visão de raio X do Superman foi afetada pela poluição. Seu convênio não atende no Brasil e ele foi levado para o SUS. Agendaram consulta para novembro.

Mas nem todos se deram mal. O Coringa se misturou com a multidão de palhaços que pagam altos impostos em troca de serviços públicos precários. Após algumas cervejas e um churrasquinho de gato, foi visto um baile funk. Os Irmãos Metralha, confundidos com líderes partidários, foram recebidos na sala VIP. Deram entrevistas e encheram os bolsos com talheres de prata. O Capitão Cloroquina telefonou para seu colega para se desculpar pelo incidente diplomático. O Capitão Topete o tranquilizou: - Nao ter problema my friend. Já falei com uns parças. Tomorrow chegar outra equipe no Brazil com Jeannie, a gênio, a Feiticeira, MacGyver e David Copperfield. Também posso apelar para o Tom Cruise, o Ethan Hunt da Missão Impossível, e o Exorcista. - Mister Topete, se não detivermos o vírus, ele vai destruir nossa economia, OK? - Take it easy my friend, quando o vírus chegou em Brazil nao tinha muita coisa mais para destruir. Os políticos chegaram antes

Foto: ANVISA

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Ai que saudades do DKV

Ai que saudades do DKV e do minhoqueiro que tinha lá!! Lá na represa, três vagabundos Passavam o dia inteiro, sempre a pescar

além da oportunidade da usual confraternização entre amigos inseparáveis.

Silvia Triboni Viajante Sênior e Repórter 60+

E assim iam os amigos de pescaria, Seu Nelson, Tio Delso e Tio Euclides. Embalados pela música do incansável Cridão, partiam para a beira da represa na região de Mogi das Cruzes – SP, para passar longas horas aguardando as tão sonhadas mordiscadas. Reconheciam-se vagabundos enquanto passavam finais de semana pescando. Imagina! Não tiveram nada de vagabundos, pois batalharam a vida toda, cuidando de suas famílias com dedicação e respeito. Tio Euclides – o Cridão. Cunhado de Papai (Seu Nelson), Marido da Tia Elza, pai de meus queridos primos Edmir, Quidinho e Élcio. Meu padrinho de batismo, lá naqueles tempos do Circo do Arrelia, dava um jeito de conseguir que eu tomasse a sua bênção, pois beijava a minha mão para que eu beijasse a dele. É isso mesmo! Pedíamos a bênção aos tios. E aos pais também, antes de dormir. Pensando bem, esse costume era bem bacana. Uma coisa tipo “Boa noite John Boy” dos anos 60. O tempo foi passando e essa reverência aos mais velhos foi sendo esquecida. Tio Euclides era o titular e o mais velho e experiente dos pescadores. Oriundo de Guararema, cidade vizinha de Mogi das Cruzes, muito aprazível e aconchegante até os dias de hoje, possui um dos melhores climas do Estado de São Paulo tem o Rio Paraíba cruzando suas terras, onde, naquelas épocas, havia peixe de montão. Mas eles não pescavam no Rio Paraíba não. Preferiam a represa de Paraibuna, para onde iam curtir a calmaria dos momentos de espera “daquele” peixe...

Com o tempo, foram ampliando suas áreas de pesca. Depois que Seu Nelson e Tio Delso construíram uma casa em Caraguatatuba, somente os rios e mares da Pérola do Litoral, e de São Sebastião, recebiam os ilustres pescadores. Adoravam mesmo era passar horas a fio nos barrancos, em meio ao capim e vegetação das margens do rio, pois ali sim é que poderiam fisgar os grandões. Viajavam juntos, sem nunca deixarem de cantar a famosa musiquinha sobre o “DKV”. Lembro-me somente de tilápias. Tilápias e mais tilápias. A nossa sorte é que os peixinhos chegavam em Mogi já limpos. Minha mãe e minhas tias não tinham do que reclamar. Era só cozinhar o que traziam. Mas, verdade seja dita: era graças ao Tio Euclides, que, com a boa vontade legítima de um verdadeiro amigo rapidamente deixava os peixinhos prontos para a frigideira, os companheiros da tarefa chata de retirar escamas e entranhas da produção do dia não faziam isso. O padrinho era amigo de verdade. Além de deixar os peixes prontos para as tias cozinharem, era ele quem cozinhava para os companheiros quando iam sozinhos para a pescaria. A macarronada era por conta do Cridão, como era conhecido da Tribonada, o clã dos Tribonis. Seu Nelson gostava muito do cunhado e compadre. Era muito querido de todos nós. Tio Euclides era um amigo dedicado dos Cunhas. Não se importava nem de ajudar o Tio Delso a tirar as botas enlameadas da pescaria (rs). A parceria do trio de pescadores era tão afinada e harmoniosa, que, com o passar do tempo, outros tios mais novos, e novos amigos, entraram para a turma. Alguns precisaram aprender a arte da pescaria. Outros tiveram de dominar a arte do “buraco”, o jogo de cartas prefe-

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famosa musiquinha: “Ai que saudades do DKV...” O padrinho deixou doces e musicais lembranças. Seu Nelson e Tio Delso nem se fale. Deixaram muita história para contar. E o DKV? Quer saber como ele entrou na história desses pescadores? Não entendeu o porquê de: “saudades do DKV”? Simples! O DKW (pronunciado “DKV”) entra na história, e na música, porque era o carro que Seu Nelson, Tio Delso, e todos os outros tios tinham na época das pescarias, oras bolas!

Foto: Pinterest

rido da família, sem o qual não passavam um final de semana sequer, com ou sem pescaria. Um dia, Tio Euclides foi embora, assim de repente. Assim como fizeram os dois incríveis Tribonis. Os três não nos deram nem um aviso prévio antes de irem pescar em rios de outra dimensão. Deixaram imensas saudades. Enquanto puderam, Seu Nelson, Tio Delso e Tio Euclides se curtiram muito. Aquela amizade, sempre alimentada com muita diversão, simplicidade, piadas e pescarias, marcaram a minha memória em todos os sentidos, em especial pela

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O Cidadão e Repórter é um movimento social que desenvolve e transmite informações relacionadas a cidadania levando aos leitores e seguidores, a visão de repórteres 60+, baseada na nossa vivência e experiência e na divulgação e defesa dos princípios da democracia e da livre expressão.


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