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05.solidariedade-Nas mãos de Deus 09.missões-Subida ao VATOVAVY 10.fd-Família Dehoniana em NAMPULA 12.memórias-P.e Ângelo CAMINATI 14.comunidades-COLÉGIO Infante D. Henrique 20.doses saber-Espiritualidade DEHONIANA (II) 30.reflexo-Tempo de FÉRIAS 32.da fÉ-A Igreja que é CATÓLICA 35.nuances musicais-Baile de VERÃO 39.dentro de ti-A INTERNET e os jovens 41.da juventde-JMJ: Madrid 2011 42.jd-Porto-Caminhada em TERROSO
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Valen es Julho/Agosto 2011 ANO XXXV
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PUBLICAÇÃO MENSAL DISTRIBUIÇÃO GRATUITA
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sumário: da actualidade
SEMPRE SEMPRE JOVEM35 anos no CORAÇÃO
FICHA TÉCNICA
Director: Paulo Vieira Administrador: Ricardo Freire Secretária: Margarida Rocha Redacção: Carlos Oliveira, Magda Silva, Marco Costa, Romy Ferreira. Correspondentes: Maria do Espírito Santo (Açores), Amândio Rocha (Angola), André Teixeira (Madeira), Alcindo Sousa (Madagáscar), Nuno Pacheco (Lisboa). Colaboradores: Adérito Barbosa, Alícia Teixeira, Amândio Rocha, André Teixeira, António Augusto, Armando Baptista, Fátima Pires, Feliciano Garcês, Fernando Ribeiro, Florentino Franco, J. Costa Jorge, João Moura, José Agostinho, José Armando Silva, José Eduardo Franco, Juan Noite, Madalena Rubalinho, Manuel Barbosa, Manuel Mendes, Nélio Gouveia, Octávio Carmo, Olinda Silva, Paulo Alexandre, Paulo Rocha, Rui Moreira, Susana Teixeira. Colaboradores nesta Edição: João Chaves, Beatriz Moreira, Daniel Neto, Jorge Robalinho, Quim Tó, Juan Ambrósio, Pablo Lima, Tiago Pereira, Pedro Ferreira. Fotografia: Nélio Gouveia, Paulo Vieira, Nuno Pacheco, Inês Pinto. Capa: Carina Santos, foto de Inês Pinto. Grafismo e Composição: PFV. Impressão: Lusoimpress S. A. - Rua Venceslau Ramos, 28 4430-929 AVINTES * Tel.: 227 877 320 – Fax: 227 877 329
da família dehoniana
08 > recortes dehonianos > Notícias SCJ 09 > missões dehonianas > Subida ao Vatovavy 10 > entre nós > Família Dehoniana em Nampula 11 > com dehon > Viagem a 15 de Agosto de 1880 12 > memórias > Recordando o padre Ângelo Caminati 14 > comunidades > O Colégio Infante D. Henrique dos conteúdos
16 > vinde e vereis > Silêncio e comunhão 17 > onde moras? > Vai lavar-te... 18 > pedras vivas > Pedras Vivas em Balsamão 19 > palavra de vida > Um Deus paciente 20 > doses de saber > Espiritualidade dehoniana (II) 22 > pastoral > Todos evangelizados, todos evangelizadores 24 > espaço escola > Quero ser melhor 25 > participar > Ser cristão hoje 26 > leituras > Nampula 28 > sobre a bíblia > Mateus: o A. T. levado à perfeição 30 > reflexo > Tempo de férias 32 > sobre a fé > A Igreja que é Católica
do mundo
ISSN – 0873-8939 Depósito Legal – 1928/82 ICS – 109239 Tiragem – 3500 exemplares
03 > alerta! > É Verão! 04 > digo eu... > Dos nossos leitores 05 > solidariedade > Nas mãos de Deus 06 > solidariedade > A Maria Arbona partiu para Deus 07 > cantinho poético > Coração
Associação de Imprensa de I nspiração Cristã
Redacção e Administração: Centro Dehoniano Av. da Boavista, 2423 4100-135 PORTO – PORTUGAL Telefone: 226 174 765 - E-mail: valentes@dehonianos.org Proprietário e Editor: Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos) Rua Cidade de Tete, 10 - 1800-129 LISBOA Telefone: 218 540 900 - Contribuinte: 500 224 218
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34 > planeta jovem > Jesus, meu companheiro de treinos 35 > outro ângulo > Sim, há fé nas férias de Verão 36 > novos mundos > Novas ferramentas 37 > nuances musicais > Baile de Verão do bem-estar
38 > cuidar de si > Pela tua saúde! 39 > dentro de ti > A Internet e os jovens 40 > mão amiga > O filme da juventude
41 > jd-nacional > JMJ: Jornadas Missionárias da Juventude 42 > jd-Porto > Como os discípulos de Emaús 44 > fd-Porto > Coração solidário 45 > jd-Açores > A raíz de tudo 46 > jd-nacional > Agenda 47 > tempo livre > Passatempos 48 > imagens > A reter...
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da actualidade
alerta! – 03
É Verão! Estamos no Verão! É um tempo tão bom e tão importante como todos os outros, mas é um tempo especial. E, como “o santo da festa é sempre o maior”, é este tempo que temos de aproveitar naquilo que ele nos pode proporcionar de descanso, de convívio, de enriquecimento pessoal, de recobrar energias para um novo ano lectivo, para um novo ano de trabalho, para a continuação da vida “normal”. Podemos descansar muito (não fazer nada) e chegar ao fim das férias cansados e a precisar… de férias. Podemos fazer muitas coisas e chegar ao início de um novo ciclo frescos e renovados. Depende daquilo que decidimos fazer ou não e do modo como passamos à prática. Não vou apresentar aqui uma lista de propostas para as férias, até porque há articulistas que o fazem, mas permito-me sugerir uma ou duas pistas. Creio que as férias não podem ser simplesmente o “não fazer nada” mas um criativo “mudar de actividade”. E há muito por onde escolher sem implicar gastos inúteis para pavonear-se no mundo inconsistente das vaidades. Uma acção solidária, um curso uma leitura proveitosa… A dimensão espiritual da vida não pode ser esquecida nesta altura, pois ela é a maior portadora de renovação interior e, ao fim e ao cabo, é dela que mais precisamos para enfrentar a vida com coragem, generosidade e sentido de missão… Além disso, gostava de propor uma atenção especial aos acontecimentos que vêm aí, a nível da Igreja e do mundo juvenil. Igreja em Portugal está a seguir um itinerário para a renovação da sua pastoral. Há vários cursos e jornadas de vários âmbitos, em Fátima, e eu salientaria as Jornadas Missionárias (16-18 de Setembro) que já fizemos eco na edição anterior… Estão aí as Jornadas Mundiais da Juventude (JMJ), que levarão cerca de 15 000 portugueses a Madrid. Nós dehonianos temos o Encontro Europeu da Juventude Dehoniana de onde seguimos para as JMJ… E tu, que pensas fazer? Boa leitura! Boas Férias!
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Paulo Vieira
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04 – digo eu... Dos nossos leitores
Olá amigos, Envio (...), é o possível em tempo de crise, pois sei que A Folha dos Valentes também sofre com a crise e com os leitores mais “esquecidos” como eu...! Recebo sempre com alegria a nossa revista, pois sei que traz sempre novidades, conteúdos e beleza da apresentação! Saudações dehonianas, muito obrigado e um abraço a toda a equipa que faz a AFV! Teresa Araújo – Caminha
Caro P.e Paulo Vieira, Há muito que estava para escrever. Finalmente arranjei um tempinho. Tenho-me desleixado na contribuição, mas vocês nunca se desleixam... Por isso fiz, agora mesmo, a transferência para o vosso NIB (...). Bem-hajam pela bela revista que nos fazem chegar cada mês! Gosto imenso de tudo o que A Folha dos Valentes contém, mas leio com especial atenção e aprecio muito os textos sobre a Bíblia e sobre a Fé. De facto, precisamos de quem nos ajude a traduzir toda a imensa riqueza do nosso património cristão em vida para o dia-a-dia. Obrigado! Um grande abraço a si e a todos! Maurício Santos – Penacova
Queridos amigos! Venho por este meio dar conhecimento de uma transferência bancaria para ajudar na concepção da revista. Gostava que enviassem a nossa bela revista para os 5 novos leitores que se seguem (...) Rezo por vós e espero que façam o mesmo por mim. Obrigada e beijinhos para todos. Maria Celeste – Lagoa
CAROS LEITORES!
Agradecemos as ofertas que nos tendes enviado e de que a nossa publicação tanto necessita. Lembramos novamente de que não devem enviar dinheiro “vivo” em correspondência normal (é proibido por lei!). Na página 2 (no fundo, à esquerda), vai sempre a indicação de como nos podem ajudar: por vale, cheque (em nome de Centro Dehoniano), ou transferência para o NIB indicado! O ano que vai na folha de rosto é referente à última oferta que nos chegou. Obrigado!
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Paulo Vieira
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solidariedade – 05 A Sr.ª Nair de Melres
Nas mãos de Deus Para Sempre Por que Deus permite que as mães vão-se embora? Mãe não tem limite, é tempo sem hora, luz que não apaga quando sopra o vento e chuva desaba, veludo escondido na pele enrugada, água pura, ar puro, puro pensamento. Morrer acontece com o que é breve e passa sem deixar vestígio. Mãe, na sua graça, é eternidade. Por que Deus se lembra – mistério profundo – de tirá-la um dia? Fosse eu Rei do Mundo, baixava uma lei: Mãe não morre nunca, mãe ficará sempre junto de seu filho e ele, velho embora, será pequenino feito grão de milho. Carlos Drummond de Andrade
No dia 5 de Junho, dia da Ascensão de Jesus, o Senhor chamou a Si a Sr.ª Nair, de Melres, mãe do nosso amigo e colaborador Carlos Oliveira. Grande amiga e entusiasta das missões, recebia-nos sempre com uma alegria e um carinho enormes! O sorriso e a bondade que a caracterizavam e que o pároco fez questão de salientar na despedida ficarão para sempre no nosso coração. Nas mãos de Deus intercederá pela família e por todos nós! Um abraço de solidariedade ao Carlos e à família.
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Paulo Vieira
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06– sal da terra Cumpria o seu primeiro ano de voluntária em Moçambique
A Maria Arbona partiu para Deus A
Maria de Águasvivas Arbona Palmeiro, nascida a 28 de Dezembro de 1947, em Lisboa, estava como voluntária (totalmente gratuita) na Missão Católica do Alto Molócuè (Zambézia) Moçambique, confiada aos padres dehonianos. Cumpria o seu primeiro ano de voluntária. No domingo, dia 12 de Junho, o grupo dos padres com os voluntários foram a Mulevala à ordenação de um sacerdote diocesano do Gurúè. No regresso, e já de noite, a15 kms da missão do Molócuè, encontraram um camião acidentado no meio da estrada. Pararam. A Maria Arbona com mais duas senhoras foram ver o que se passava. De repente, aparece um carro a alta velocidade e apanha as três senhoras. A mais jovem não teve nada. Uma religiosa irmã também foi internada, mas teve alta pouco depois. A Maria Arbona ficou muito mal. A 15 de Junho, estava para ser operada. No entanto, teve duas paragens cardíacas, sendo necessária a reanimação. Não foi operada. No dia 16 de Junho, pelas 17 horas de Lisboa, fomos informados do seu falecimento no hospital de Nampula. Recordo o seu sorriso com que me presenteou quando, em Maio, estive com ela e o António Ribeiro na missão do Alto Molócuè. Rezemos a Deus por ela, pela família e por todos os dehonianos e leigos de Moçambique que estão a sofrer por esta inesperada partida da Maria.
Da esquerda para a direita: o P.e Onório (italiano), a Gabriela, consagrada moçambicana da Companhia Missionária, o P.e Adérito, de chapéu azul, a seguir a Maria Arbona e o voluntário António Ribeiro. Foto tirada na visita do P.e Adérito aos voluntários no Molócuè, em Maio de 2011.
“Bom dia, mucunha Maria!” As vozitas das crianças saúdam-me com um simples mas enternecedor “Bom dia, mucunha Maria”. Só este simples gesto, mas cheio de carinho, basta para me encher o dia. É gratificante, começar assim o dia. Sou uma voluntária novata, que chegou à Missão Dehoniana em Alto Molócuè, na Zambézia – Moçambique –, a 27 de Junho de 2010. Aqui, encontrei o espaço que me faltava. Recebida pela Congregação dos Dehonianos, carinhosamente, instalei-me, mas com certa apreensão. Não sabia o que iria encontrar. Entregueime ao meu “Poder Superior” e, hoje, passados 4 meses, posso dizer com toda a convicção, que este tempo tem-me proporcionado momentos muito importantes e felizes da minha vida. Tenho sensações e vivências diferentes em cada dia, mas todas elas importantes para o meu crescimento humano e espiritual. (Parte de um testemunho escrito pela Maria, em Outubro de 2010.)
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Adérito Barbosa
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cantinho poético – 07
Coração Curioso coração Tens sentimentos aos centos Guardas mil e um inventos Tens na alma um milhão. Dás a vida a quem amas Deixas sentido na escrita Despertas um corpo que se agita Crias seres a quem chamas. Dás voto a quem cala Quando deixas a palavra Dizer o que te abala… Deixas no ar a canção Quando deixas a palavra Falar com coração…
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Jorge Robalinho
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08 – recortes dehonianos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos) Coração de Jesus Todas as comunidades e obras dehonianas, assim como a Família Dehoniana, celebraram, a 1 de Julho, a Solenidade do Sagrado Coração, patrono da Congregação. O Superior Geral partilhou connosco uma longa mensagem intitulada «Livres e solidários na gestão dos bens» (www.dehon.it). Embora celebrada liturgicamente no primeiro dia de Julho, de realçar que o mês de Junho, chamado «do Coração de Jesus», foi intensamente vivido em tempos de oração e de retiro, para jovens, leigos e religiosos. Em Alfragide, o padre Manuel Barbosa esteve com algumas dezenas de leigos a meditar como «ser e viver segundo o Coração de Deus». O padre Paulo Vieira, a celebrar 25 anos de vida religiosa, orientou os quatro retiros de zona da Província Portuguesa dos Dehonianos, na Madeira, nos Açores, em Lisboa e no Porto.
Noviços de novo Depois de um ano sem Noviciado, em parte devido à adaptação aos novos critérios de admissão (após dois anos de teologia), a 12 de Agosto teremos de novo Noviciado Dehoniano, sob a orientação do Mestre de Noviços, padre José Armando Silva. Serão recebidos noviços os actuais postulantes: José Joaquim Mendes da Costa, Rodrigo Daniel Ferreira Rodrigues e Tiago da Eira Pereira. Que Deus os guie nesta opção de vida por Cristo segundo o carisma do Padre Dehon! Nesse mesmo dia, os confrades dos Camarões Kouobou Daniel e Ebodé Mathias farão a sua renovação de votos. O Irmão Agostinho Cruz será também admitido ao Ministério dos Leitores.
Rodrigo Daniel
Tiago Pereira
José Joaquim
Os novos noviços começam o noviciado a 12 de Agosto.
Profissão Perpétua e renovações Nestes meses de Julho e Agosto estão também em preparação para a sua entrada definitiva na Congregação os religiosos Albino Eduardo, David Mieiro, Gil Silva e Flávio Gouveia. A cerimónia Profissão Perpétua, prevista para 17 de Setembro em Alfragide, será presidida pelo Superior Geral, padre José Ornelas, na altura em visita pastoral à Província Portuguesa. De realçar ainda que 14 religiosos de votos temporários farão a sua renovação de votos a 8 de Setembro em Alfragide, após uma semana de retiro.
Formadores dehonianos em peregrinação No final curso de um ano em Roma, o grupo de 17 Formadores Dehonianos peregrinou pelo «Caminho das Fontes», visitando os lugares onde o Padre Dehon viveu e fundou a Congregação, em particular La Capelle, Saint Quentin e Paris, na França, e Bruxelas, na Bélgica. Foram orientados pelo padre Fernando Fonseca. Faziam parte do grupo os padres Roberto Viana, formador na Madeira, e Jean-Paul Labou, missionário em Angola.
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Manuel Barbosa
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missões dehonianas – 09 Missionários dehonianos em acção em Madagáscar
Subida ao Vatovavy Todos os anos, em Maio ou Junho, mais precisamente na festa da Ascensão do Senhor, realiza-se uma grande peregrinação de jovens e escuteiros na Diocese de Mananjary. Trata-se da subida ao “Vatovavy”, uma montanha altíssima no cimo da qual se construiu uma cruz que tem mais de cinquenta anos.
N
o dia da Ascenção, aproximam-se dos pés da montanha jovens vindos de todos os quadrantes da Diocese. Jovens escuteiros, MTMTK, acólitos e até EFT, chegam ainda de madrugada para iniciarem a íngreme subida. Entre cânticos e gritos, por entre a escuridão da floresta tropical densa, ladeados por árvores altas e seculares sob o olhar atento dos lémures e aves belíssimas, num esforço ofegante mas alegre, sobe-se, sobe-se e sobe-se… A peregrinação é sempre alegre e colorida, sobretudo quando tem a presença do bispo que, não raras vezes, costuma dar essa alegria aos jovens. A chegada ao topo é o máximo; a vista soberba não é incomodada por nenhum tipo de obstáculo, pois, é o local mais alto de toda a região. De lá observa-se tudo até aos limites das nossas capacidades. Por baixo dos nossos pés um tapete de floresta em diversos tons de verde, o rumor dos montes e os sons dos animais a fazerem eco nos nossos ouvidos, assim como uma brisa suave que nos envolve de frescura e desperta em nós um sabor telúrico. É, de facto, magnífico. Os primeiros a chegarem começam a organizar os ambientes e a preparar o altar. A equipa responsável pela
P.e Álvaro (em baixo) e P.e Joaquim António (Quim Tó), no cimo do Vativavy, junto à cruz com mais de 50 anos.
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liturgia ensaia os cânticos e os padres, se os houver, disponibilizam-se para confessar e conversar com a malta. A chegada do bispo determina o início da celebração. Celebra-se a solenidade da Ascensão do Senhor. Depois da homilia do bispo ou do sacerdote – na ausência do bispo – iniciam-se as promessas dos escuteiros. É um momento importante e festivo para eles. No fim da eucaristia segue-se um momento de convívio. Segundo o costume de cada ano, os jovens levam um farnel guarnecido de arroz e mais alguma coisa, bebidas doces para restaurar as forças do esforço matinal e, como não podia deixar de ser, umas guitarras para animar o pessoal. A festa não pode ser muito longa. A descida da montanha ainda leva o seu tempo e, por vezes, ainda é mais perigosa do que a subida. Na base do colosso geográfico fazem-se as últimas despedidas e toma-se o camião ou carros que levarão os jovens de regresso a casa. No que diz respeito à viagem de regresso a Ifanadiana, a festa continua. Se a primeira viagem é pautada pela oração e até um certo silêncio a segunda é diferente. Faz-se escala numa ou outra aldeia mais popular para comprar recordações e guloseimas (frutas). A viagem continua ao som das cantorias dos jovens e o barulho das bandeiras dos escuteiras a ondularem ao vento. A chegada é sempre tardia mas feliz por sabermos, todos, que foi um dia bem passado.
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Quim Tó
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10 – entre nós
Formação humana e espiritualidade dehoniana
Família Dehoniana em Nampula
m Nampula, encontra-se uma comunidade dehoniana paroquial no bairro de Napipine. Aí perto da residência dos religiosos dehonianos, depois da igreja e da universidade pedagógica, está também o Instituto Secular da Companhia Missionária, na rua 5010. Estas missionárias têm duas casas: do lado esquerdo, é a residência; do lado direito têm uma biblioteca apetrechada pelos voluntários da ALVD, em 2008, ficando com o nome de Centro Cultural de Napipine. Esta biblioteca tem mais de 4000 livros em Ciências da Educação para servir a universidade pedagógica, ali mesmo ao lado e todas as outras faculdades e institutos da educação em Nampula. O grupo das missionárias é constituído pela responsável italiana: Mariolina Lambo que entre outras e muitas coisas é encarregada da Comissão Diocesana de Justiça e Paz. A Martina Cecini é outra italiana responsável pela Caritas Diocesana. As moçambicanas Gabiela e Helena constituem o quarteto das consagradas. No entanto, o grupo tende a aumentar, já que 7 jovens raparigas encontram-se a fazer uma caminhada de discernimento em ordem à consagração neste instituto. No entanto, o chamado Grupo de Amigos da Companhia Missionária, é formado por Leigos que se reúnem mensalmente para se enriquecerem na formação humana e espiritualidade dehoniana. Só para terem uma ideia, fazem parte deste grupo o Muibo Pascoal (doutorado em economia na Alemanha), a sua esposa Jacinta (professora de francês). O Bonifácio é outro elemento do grupo e ensina na Faculdade de Educação e Comunicação. O Olimpo é professor da Escola Secundária, a Lúcia é professora de Francês, o Nunes Pompeu acabou o curso de direito, a Rábia é professora primária. A Imaculada também faz parte deste grupo. Estive um dia com estes leigos a desenvolver uma reflexão sobre o livro de Judite e uma outra reflexão sobre o pensamento do Padre Dehon sobre o casamento…. Este grupo de leigos reúne-se todos os meses sob a orientação da Companhia Missionária para assim manter presente o carisma dehoniano na África.
Orientei ainda uma manhã para os professores da paróquia de Napipine sobre a educação para a cidadania, encontro promovido pela mana Gabriela Sitoe.
Pequena história E termino com uma pequena história. Há três anos fui celebrar missa a uma comunidade cristã perto de Nampula chamada Murrapaníua. Quando saía da igreja, aproximou-se de mim um rapaz e perguntou-me: como posso saber mais sobre o Padre Dehon? Há dias fui celebrar outra vez a esta comunidade e referi que tinha encontrado este rapaz que me abordara sobre o Padre Dehon. Quando saía da igreja, aparece-me um jovem e disse-me: fui eu que há três anos vim pedir mais informação e formação sobre o Padre Dehon. Nampula, 2011
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Adérito Barbosa
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com dehon – 11
CRONOLOGIA
O dia da Assunção era deveras especial para o Padre Dehon
DEHONIANA História da Província Portuguesa
1954 12|Outubro
is-nos chegados ao tão almejado tempo de férias. Após um ano árduo de trabalho ou estudo, é hora de descansar e de retemperar as forças e energias para novas etapas, desafios e metas. Nestes meses que sucedem ao solstício que aproxima o nosso cantinho do planeta à grande estrela, haverá calor, praia, mar, livros, música e, para muitos, viagens, que Leão Dehon tanto gostava. Gostaria, por isso, de convidar-vos, Valentes, a viajar comigo… não no espaço, mas no tempo. Proponho que saltemos até ao ano da graça de 1880, mais concretamente ao dia 15 de Agosto, em que, na comunidade eclesial, se celebra a tão importante e marcante festa da Assunção de Maria aos Céus. Para o Fundador, este era um dia deveras especial, porquanto via e sentia Maria como uma verdadeira rainha. Neste dia, Dehon ensinou aos seus noviços que, no “aniversário da Assunção, há como que um amor e um louvor renovados por todos os bem-aventurados que lançam sobre a Rainha um olhar de admiração por todas as graças de que está repleta”, acrescentando, ainda, que Maria procura os corações que se abrem. Ora, perante isto, e antes de voltarmos da nossa viagem, urge fazermos, a nós próprios, a mesma pergunta que Dehon fez aos seus noviços: vamos recusar abrir o nosso coração? Caros leitores, no tempo de férias que se aproxima, não nos esqueçamos de abrir o nosso coração para que Maria possa nele morar e ensinar-nos a dizer “sim” a Deus, sem olhar para trás e sem pensar nas consequências, tal como um dia fez, após uma inesperada notícia. Termino, assim, com as mesmas palavras com que Dehon finalizou os seus ensinamentos, naquele dia bonito de Agosto: “oferecei o Coração de Maria com todas as suas grandezas ao Coração de Jesus e o Coração de Jesus à SS. Trindade, na qual devem desaguar todas as nossas homenagens”. Nota: todas as citações foram extraídas da página 113 da obra “Cadernos Falleur, Edições Noviciado, 2002”, que contém conferências e pregações de Leão Dehon aos noviços.
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Rui Moreira
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Erecção canónica da Região Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus.
1957 01|Outubro Início do Colégio Infante D. Henrique, em casa alugada, na “Quinta Favilla”, no Funchal.
1958 Transferência do Colégio Infante D. Henrique para o antigo “Grande Hotel Belmonte”, onde fica definitivamente instalado.
1958 Outubro Transferência da Escola Apostólica de Esgueira para o Porto (R. Azevedo Coutinho, à Boavista) tomando o nome de Seminário Missionário Padre Dehon.
1959 Outubro A Casa do Sagrado Coração, em Aveiro é constituida em Noviciado e recebe o 1.º grupo de noviços, sob a orientação do P.e Antonio Colombi.
1959 Abertura da sede definitiva do Instituto Missionário Sagrado Coração em Montes Claros, Coimbra. A inauguração é em Maio de 1960.
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12 – memórias
Intelectualmente dotado, meigo e acutilante...
Recordando o Padre Ângelo Caminati
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15 de Dezembro de 1951, depois de cinco dias de viagem de comboio, iniciada em Milão, desembarcavam na Estação Velha de Coimbra os primeiros dois dehonianos destinados à nova presença da Congregação na cidade do Mondego. Eram eles os padres Ângelo Caminati e Mário Malagoli. Hospedados no Seminário Diocesano, logo se dedicaram, enquanto faziam a aprendizagem da língua, ao ministério pastoral nas paróquias da cidade e arredores, primeiramente nas de Santa Cruz e de Santo António dos Olivais e, depois, na Redinha, Pedrulha, Dianteiro, e outros lugares. Se o padre Malagoli se distinguirá sobretudo como director espiritual do referido seminário diocesano e como pregador de retiros, já o padre Ângelo Caminati terá uma actuação mais diversificada. A sua facilidade de comunicação e criatividade torná-lo-ão depressa benquisto nas comunidades onde presta assistência. Sirvam de menção os serões que, no âmbito da Conferência Vicentina, promoveu para os prisioneiros da cidade. O facto de logo se ter especializado em literatura portuguesa na Universidade de Coimbra viria a dar-lhe a habilitação para se dedicar sobretudo à pastoral do ensino, vindo a tornar-se uma trave-mestra do Colégio que os Dehonianos abririam, já nos fins dos anos cinquenta, na Madeira: o Colégio Infante D. Henrique. Não se pode, de facto, dissociar a memória deste Colégio da do padre Ângelo Caminati, que, com o padre Mário Casagrande, são uma espécie de ex-líbris do mesmo. O Padre Ângelo era, como o Padre Canova, emiliano, natural de Piacenza. Quando chegou a Portugal tinha 25 anos de idade e apenas um de sacerdócio. Fora, de facto, ordenado a 23 de Setembro de 1950, em Bolonha. Intelectualmente dotado e com vocação para os estudos, apenas ordenado matriculou-se na Universidade Civil de Bolonha e, um ano após a sua chegada a Portugal, também na de Coimbra, Faculdades de Letras, onde se licenciaria em Filologia Românica, com alta classificação e com uma tese sobre Frei Agostinho da Cruz. Na posse dessas habilitações académicas, o padre Ângelo será transferido, em Outubro de 1957, para a Madeira, a fim de dar o seu qualificado contributo no referido Colégio Infante, aberto nesse mesmo ano, na cidade do Funchal. Não assumiria de imediato o cargo oficial de Director do mesmo, mas o de encarregado dos estudos ou director escolar,
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O P.e Ângelo Caminati (à esquerda) com um dos primeiros grupos de alunos do Colégio Infante.
que era, aliás, o de maior incidência na educação dos alunos. Já em 1960, figura como Director do Colégio, cargo em que permanecerá até 1966, quando regressará a Coimbra, como encarregado dos estudos do Instituto Missionário Sagrado Coração, seminário médio dos Dehonianos em Portugal. Em Novembro de 1975, o padre Ângelo Caminati regressa ao Colégio do Infante, reassumindo a direcção desse estabelecimento de ensino em tempos conturbados para o ensino particular. Estavase, de facto, na ressaca dos excessos da Revolução de Abril. Depois de um ano sabático em Roma (1980-1981), o padre Ângelo será colocado no Seminário Missionário Padre Dehon, em Gondomar, como docente e, também ali, encarregado dos estudos. Em 1985, voltará ao Colégio Infante para assumir a direcção da Escola da APEL, regressando ao Continente, em Novembro de 1988, para colaborar na pastoral paroquial da área de Carnaxide. Em Outubro de 1998 é novamente colocado no Seminário Missionário Padre Dehon, onde passará os últimos anos de vida, vindo ali a falecer a 26 de Julho de 2009, com a idade de 83 anos.
No Arquivo Provincial conserva-se um rico espólio de escritos do padre Ângelo Caminati.
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memórias – 13
Não é fácil, para quem o conheceu, ignorar a personalidade original, forte e, por vezes, controversa, do padre Ângelo Caminati. Nunca exerceu o cargo de superior, a não ser no breve período de 1963-1965, quando foi Superior Delegado do Superior Regional na Madeira, cargo que, no dizer dele próprio, foi sempre um enigma, por falta de clareza de competências. Qualidades de liderança, porém, não lhe faltavam, sobretudo a nível de trabalho. Tinha um temperamento, ao mesmo tempo, meigo e acutilante, com um espírito crítico, por vezes implacável perante o que considerava privo de coragem ou coerência; nem superiores nem bispos escapavam a esse seu rigor de observação. Até as velhinhas eram obrigadas a pôr os terços na algibeira durante as suas Missas! Era um docente que obrigava a aprender a matéria, com métodos por vezes intimidatórios. Era o Padre Ângelo! Venerado por uns e temido por outros. Até na condução, era destemido, pondo à prova os nervos dos confrades e visitantes, que gostava de levar às metas turísticas, de que era excelente conhecedor e guia. No Arquivo Provincial conserva-se um rico espólio de escritos do padre Ângelo Caminati, dos mais variados estilos, desde a crónica ao diário, com uma miríade de episódios pitorescos que abarcam os sucessivos períodos e presenças nas comunidades por onde passou; até projectos de romances, um com algumas centenas de páginas, ali se conservam. É particularmente sugestivo e expressivo da sua personalidade, persistente e observadora até ao pormenor, o diário da sua viagem de 1965, à Venezuela, para acompanhar um grupo de internos do Colégio Infante de visita à família. Uma outra paixão do padre Ângelo era a de coleccionador, de selos e
P.e Ângelo Caminati 1926-2009
não só. Até fez colecção das Missas que ia celebrando desde a Missa Nova, a primeira, a 23 de Setembro de 1950. É comovente o esmero com que apontava nos respectivos cadernos a hora, o lugar e a intenção, por vezes com a ilustração de fotos ou recortes de revistas ou jornais condizentes com o dia; e foi fiel nessa colecção até ao fim da vida. A sua colecção de selos, que, mais que sua, era da Província, conservada até agora no referido Seminário Missionário Padre Dehon, constitui um património de grande valor filatélico. Uma das suas imagens típicas é ele sentado a manusear selos, nos momentos livres, e não só, das suas jornadas. Manusear esse espólio, é deparar com uma pessoa cheia de vitalidade, sonho e empreendimento. E, ao mesmo tempo, constatar, com um misto de saudade e resignação, como também os gigantes tombam. Vale-nos a força da fé, que nos convence de que toda a árvore humana que sucumbe tem a sua continuidade no jardim do Pai. Que o padre Ângelo descanse – a sua alma no Céu e o seu corpo na sua terra natal, para onde foi transladado –, na certeza que dele conservamos uma grata memória e, apesar de tudo, um sincero sentimento de gratidão pelo que ele foi e fez entre nós.
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14 – comunidades
A tradição de educar na perspectiva cristã
O Colégio Infante D. Henrique
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tradição do apostolado do ensino foi, desde sempre, significativa na história da Congregação dos Dehonianos. Já o Padre Dehon, um sacerdote iluminado e culto, antes de fundar a Congregação, a ele se dedicara; e pode dizer-se que o Instituto por ele fundado nasceu à sombra de um colégio: o de São João, na cidade de São Quintino (Soissons, França).
Os Dehonianos que, nos fins dos anos 40, vieram para Portugal traziam essa tradição da Província de origem, a Italiana, onde, a par de seminários, tinham também colégios, onde se educavam na perspectiva cristã umas boas centenas de alunos. E assim vinham abertos também a esse apostolado. Aceitaram, em 1954, colaborar no campo da educação num colégio particular de Coimbra, o Colégio Luís de Camões, situado na periferia da cidade, paróquia de Santo António dos Olivais. Não foi fácil essa primeira experiência, pela dificuldade de conciliar interesses e visões educativas da dupla chefia do colégio: a do proprietário e a da Congregação. A colaboração duraria apenas 8 anos. Mais sucesso terá o Colégio Infante D. Henrique, que a Congregação abrirá no Funchal em 1957 e de que será a única responsável na gestão e acção educadora. O projecto de abrir um colégio particular e católico na Madeira já fora acalentado pelo Bispo D. António Pereira Ribeiro, falecido em 1956. Contactara ele nesse sentido algumas congregações religiosas, nomeadamente os Maristas e os Irmãos das Escolas Cristãs, mas sem efeito, também por causa do eclodir da II Guerra Mundial. Foi no leito de morte, que o venerando Prelado, muito amigo dos Dehonianos já presentes na diocese, confiaria a estes últimos a concretização do seu projecto. E, como convinha abrir uma segunda obra da Congregação na Madeira, para minimizar o isolamento da insularidade, a sugestão foi logo acolhida e actuada.
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Jardins e parte antiga do Colégio Infante D. Henrique
A primeira sede do novo colégio foi a Quinta Favilla, nas proximidades da Avenida do Infante, donde o nome que lhe foi dado: Colégio Infante D. Henrique. A sede era naturalmente provisória por falta de espaço. Daí que logo se procurassem outras com maior futuro. A opção foi o velho Hotel Belmonte na freguesia do Monte, onde ainda hoje funciona. Durante alguns anos, continuar-se-ia a procurar uma sede definitiva, mais perto da cidade e, portanto, em condições de melhor acesso e frequência alargada. Foi assim que a Congregação comprou para o efeito a Quinta dos Saltos, zona do Til. A necessidade de estender a escola privada ao então chamado ciclo complementar, ou seja, para além do unificado, levaria à recém-formada APEL (Associação Promotora do Ensino Livre), onde confluíam os colégios católicos da Diocese e Região, a abrir uma escola particular também para o dito ciclo. Grande promotor da iniciativa foi o dinâmico bispo diocesano, D. Francisco Santana, e a sede que se proporcionou e se adoptou foi
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precisamente a Quinta dos Saltos. O Colégio Infante já não mudaria de sede, opção que viria a confirmar-se com a construção do novo anexo, inaugurado em Julho de 1983. O Colégio Infante nasceu como um misto de externato e internato. Num período em que o ensino obrigatório ainda não tinha a extensão de agora, um colégio que acolhesse também alunos das freguesias do interior da ilha e mesmo da emigração madeirense, numerosa na Venezuela e na África do Sul, foi acolhido com favor. Nos primeiros anos da sua existência, de facto, o Colégio albergava um número, se bem que modesto, de internos, modalidade que deixaria de funcionar em 1974, para se limitar a externos. Esse foi um ano difícil para o futuro do Colégio, chegando mesmo a ventilar-se a ideia de encerrá-lo. Viria dar apoio à sua continuidade a Associação de Pais, criada em 1975 e que partilharia com a Congregação as responsabilidades, sobretudo económicas, da obra. Também a concessão do paralelismo pedagógico em 1977 seria um bom factor para a sua continuidade.
Festa de Finalistas do mais pequeninos do Colégio.
O desporto, especialmente na modalidade do andebol, sempre teve grande tradição no Colégio Infante.
Desde cedo, a escola primária funcionou em regime de coeducação, ou seja, de escola mista. E porque não estender o regime ao sucessivo ciclo preparatório e, mais tarde, também ao primeiro e segundo ciclos liceais, até ao nono do unificado? A decisão não foi fácil de tomar por uma certa reserva dos superiores quer da Congregação quer da Diocese, por uma certa impreparação e falta de vocação para essa responsabilidade acrescida, que é a escola mista. As reticências foram superadas e, já no início dos anos 70, o regime foi-se progressivamente estendendo até ao último ano do unificado. A construção de um ginásio em 1974 viria a dar uma mais-valia ao Colégio também em campo desportivo, nomeadamente na categoria de andebol, onde as equipas do Colégio conquistariam muitos troféus. Com a Escola Salesiana, no campo masculino, os Colégios da Apresentação (Irmãs da Apresentação de Maria) e de Santa Teresinha (Irmãs Vitorianas), no campo feminino, e a escola da APEL, o Colégio Infante D. Henrique continua a garantir uma presença significativa da Igreja no campo do ensino. Os acordos de colaboração financeira – contrato de associação –, celebrados em 1981 com o Governo da Região, permitiriam ao Colégio Infante desempenhar até ao presente a sua missão sem grandes preocupações de ordem financeira. Agora é a urgente e inevitável restruturação do velho edifício a constituir o maior problema económico. Em todo o caso, o Colégio Infante D. Henrique constitui uma das opções apostólicas da Província Portuguesa dos Dehonianos, onde esta investe pessoal e entusiasmo para o bem da Igreja e da sociedade na Madeira.
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João Chaves
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16 – vinde e vereis A solidão tem o poder de “medir-te”, o silêncio de pôr-te à prova
Silêncio – comunhão V
em aí um período em que, de uma forma ou de outra, é possível gozar de maior tranquilidade. Saber fazer férias é uma arte. O Senhor dos muitos “Vinde” também convidou os seus mais próximos, depois de um período de maior agitação, a procurar um lugar isolado... para descansar um pouco. Tendo em especial consideração a dimensão vocacional da nossa existência, queria convidar-te, a ti que és ainda jovem, a procurar, sobretudo em tempo de férias, a solidão e o silêncio. A vocação necessita de condições adequadas para poder realizar-se. É certo que o homem é dotado de grande capacidade de adaptação. Consegue sobreviver em condições ambientais adversas. Mas aquele que consegue sobreviver fica à margem da existência, em perigo iminente de morte. No tocante à vocação, devem ser respeitadas as condições naturais do seu crescimento gradual. Ela precisa de condições favoráveis à sua descoberta e desenvolvimento. Tal como uma semente. Tudo aquilo que tem origem no Espírito Santo é comparável a uma semente. O chamamento atinge normalmente a alma num momento de silêncio interior e exterior. Deus não gosta de brados nas praças. Prefere comunicar ao coração os seus projectos por vias misteriosas. Não levanta a voz. Deus cala-se, quando nós levantamos a voz. A “voz” percebida no recolhimento entende-se melhor na solidão e no silêncio. Silêncio interior e exterior: deserto, onde tudo se cala. E, antes de tudo, cala-se o coração. Há silêncios diferentes. Existe o “mutismo”: silêncio inoportuno e frio, que incomoda. Existe o silêncio que provoca comunhão: veículo de participação viva e pessoal, de permuta intensa: caminho de crescimento e promoção.
A vocação tem necessidade de silêncio e de solidão. Solidão não é isolamento. O “mutismo” está para o isolamento como o silêncio para a solidão. No silêncio falas com Deus, na solidão comunicas com Ele. O “mutismo”, ao contrário, fecha-te e o isolamento amarra-te. São dimensões espirituais diferentes, opostas. Hoje, infelizmente, o silêncio e o isolamento não são fáceis. Prevalecem o barulho e a agitação. Mas o barulho distrai dos pensamentos elevados, os pensamentos que verdadeiramente interessam. A agitação não educa à comunhão: leva mais à emoção do que à razão, leva a estar com todos e com ninguém. A massificação é um fenómeno alienante. A solidão tem o poder de “medir-te”, o silêncio de “pôr-te à prova”. A solidão é como um espelho: reflecte a tua imagem. Ver-se e saber ver-se é extremamente importante. O silêncio prova a consistência do teu “estofo” e permite que venham ao de cima as profundas ressonâncias da alma. Procura o silêncio. Ama a solidão. O silêncio é uma arte: aprende-se. A solidão é uma situação: cria-se. É o silêncio que reduz a nada os assuntos da moda. É a solidão que leva à familiaridade com Aquele que fala no segredo do coração, aí faz ouvir os seus apelos e revela os seus projectos. É com o pensamento em tudo isto que te desejo BOAS FÉRIAS!
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Fernando Ribeiro
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onde moras – 17 Jesus que precisar da nossa colaboração
Vai lavar-te...
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proxima-se o tempo de Férias. Para cada um de vós desejo um bom repouso, mas não se esqueçam de que o Mestre é bom companheiro, deixem que Ele vos acompanhe também durante este tempo. Acreditem que, com a Sua presença, toda a vossa vida passa a ter novo vigor e novo sentido. No Evangelho de São João, capítulo 9, versículos 1-7, podemos ler que “ ao passar Jesus viu um homem cego de nascença”. Ele viu, olhou para este homem, percebeu que ele era cego de nascença. Os discípulos que acompanhavam Jesus perguntaramlhe quem tinha pecado para que ele fosse cego, ao que Jesus respondeu: “Isto aconteceu para nele se manifestarem as obras de Deus”. Jesus vê o lado positivo da questão e diz ainda mais: “Temos de realizar as obras daquele que me enviou”, significa que há alguma coisa a fazer por este homem, então, “fez lama com a saliva, ungiu-lhe os olhos com a lama e disse-lhe: “Vai, lavar-te… Ele foi, lavou-se e regressou a ver”. Jesus faz o que Lhe compete, pois mais ninguém tinha o poder de dar a vista a este homem, mas envia-o a terminar o processo. Ele ficou a ver somente depois de se ter lavado na piscina de Siloé. Jesus quer precisar da nossa colaboração para que o Seu Reino cresça, para que outros acreditem. Jesus Também olha para nós, Ele quer curar-nos. Cada um sabe quais as suas cegueiras, mas mesmo que da nossa parte essas limitações não sejam reconhecidas e aceites, Jesus Cristo conhece o que nos faz falta, e quer libertar-nos. Não te esqueças de que a cegueira pode não ser física. Muitas vezes nós não queremos ver nem olhar determinados aspectos da nossa vida. Se és jovem, aproveita este tempo de férias para reflectires seriamente na tua própria vocação. Questiona o Mestre sobre o que Ele quer de ti. Pede-lhe que te faça ver a Sua vontade. Não deixes que a cegueira condicione a tua vida. Jesus Cristo espera por ti! Boas férias!
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Fátima Pires
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18 – pedras vivas Gente voluntária, jovem, bonita, simpática, sorridente...
Pedras vivas em Balsamão
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eria politicamente correcto falar neste número de férias ou afins… Não é bem isso, mas anda por perto. Pois bem. Vou falar-te duma ida ao Convento dos Padres Marianos, a Balsamão, Macedo de Cavaleiros. Foi seminário, mas, agora que não têm seminaristas que lhe justifique o título, é denominada casa de retiros e de repouso. Bem no cimo de uma pequena colina do nosso característico Interior Transmontano, bem é digno do título e das novas funções que lhe atribuíram. A localização é, de facto, ideal para quem se quiser afastar do mundo e encontrar-se com o Senhor nosso Deus, fonte de graça e de misericórdia. Sei que a minha missão nestas páginas não é falar-te de sítios ou monumentos (pedras mortas), mas de gente (Pedras Vivas). Mas as circunstâncias, neste caso o ambiente, pedras mortas, também ajudam a moldar as Pedras Vivas. Fui lá, num dos meus “Retiros Sobre Rodas”, a 14 e 15 de Maio, com quase seis dezenas de participantes, num retiro em que visitámos e reflectimos em seis maravilhosos santuários marianos de Trás--os-Montes: Senhora da Graça (Mondim de Basto), Senhora da Guia (Ribeira de Pena), Senhora da Serra (Rebordãos, Bragança), Senhora do Aviso (Serapicos, Bragança), Imaculado Coração de Maria (Cerejais, Alfândega da Fé), Senhora da Assunção (Vila Flor) e Senhora de Balsamão (Chacim, Macedo de Cavaleiros). Bem no coração do nosso povo, buscámos as razões da nossa fé e da devoção mariana e os porquês de sermos “Terra de Santa Maria”. Tivesse eu tempo e dinheiro e haveria de queimar muito mais tempo e muitas mais energias em tais propósitos, tal é a riqueza da vivência espiritual que daí advém. Deveria falar-te da gente voluntária, que, alegremente, nos acolheu nos diversos santuários. Engana-se bem quem ainda julga e diz que a Igreja e as igrejas estão nas mãos dos padres e dos velhos. Não é verdade, felizmente. Fomos acolhidos por gente jovem, bonita, simpática, sorridente e entusiasmada pela causa e devoção dos santuários que serviam. E todas essas pessoas seriam Pedras Vivas encantadoras. Mas foi em Balsamão que nos quedamos mais tempo, porque foi lá que jantámos, tivemos visita guiada pelo superior do Convento, pernoitámos, celebrámos missa e tomámos o pequeno-almoço. Por isso, é das Pedras Vivas de lá que hoje te falo.
A primeira foi, sem dúvida o P.e Basileu, Superior do Convento. Acolheu-nos com abraços e sorrisos, foi guia da renovada Igreja do Convento, orientounos na descoberta dos quartos… Mas houve outras Pedras de enorme sensibilidade, que todos os peregrinos trouxeram na memória e no coração: O Mário da recepção. Eficiente na distribuição dos quartos, no ir buscar e levar as malas ao autocarro, à chegada e na partida, porque teve que ficar estacionado a cerda de 100 metros, no parque de estacionamento… As senhoras da cozinha e da copa, de eficiência espantosa e de uma dedicação extrema, num serviço de excelente qualidade, executado com rapidez e uma alegria e bom-humor contagiantes. Deu-me a impressão que, se não tivessem conseguido responder a algum desejo dos hóspedes, isso lhes daria uma enorme tristeza. Balsamão, pela beleza do lugar, pelo convento, pela Igreja, pela devoção à Divina Misericórdia que dali se expande e pela devoção a Nossa Senhora de Balsamão, a quem se vai pedir saúde e protecção, tornou-se um lugar mítico, por onde dá gosto passar e mais ainda ficar. Férias, mudança de ares e tempo para reflectir e fazer experiência de Deus e se encontrar no Coração da Mãe. Lá, tudo isso é possível, graças sobretudo às pedras mortas que lá dão vida a tantas Pedras Vivas que por lá passam e que elas animam, alegram, servem e deixam saudade a quem lá vai. A última Pedra Viva de quem nos despedimos, em Balsamão, foi a D. Helena, da “Loja de Recordações de Balsamão”. Senhora de alguma idade, que bem tentou despachar-nos depressa, porque o autocarro nos esperava. E ao perceber que não dava resposta a tanta coisa ao mesmo tempo, e que tínhamos pressa, vendo que éramos gente séria, foi-se deixando ajudar... Pegávamos nas coisas, metíamo-las nos sacos, fazíamos as contas e pagávamo-las. Ela nos ia indicando as coisas, dizendo o preço, fazendo o troco e pouco mais, sem stress e com o sorriso sempre presente em Balsamão. Claro que não estranhei que, no regresso, várias pessoas tenham referido Balsamão como um Santuário onde encontraram Deus nas coisas (pedras mortas) e nas pessoas (Pedras Vivas)! Ficou com vontade ir a Balsamão? É natural. Nós também queremos lá voltar! Vá, que vai sair de lá tão encantado(a) e cheio de Deus como nós.
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António Augusto
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palavra de vida – 19 Uma leitura mais cuidada e tranquila da Palavra de Deus
Um Deus paciente O Verão é, ou deveria ser, um tempo propício ao descanso, à reflexão, à leitura... Aliviados da pressão do relógio que um ano de trabalho ou de estudo impõe, podemos empregar o tempo noutras actividades que nos dão prazer e nos enriquecem. Às vezes com as férias vem também a tentação de “dar férias” a Nosso Senhor. E, se calhar, devia acontecer precisamente o contrário: havendo mais tempo disponível, também haveria mais tempo para Deus. Para isso muito pode contribuir uma leitura mais cuidada e tranquila da Palavra de Deus. Deixo-vos como sugestão de meditação o texto do Evangelho do 16.º Domingo (Mt 13, 24-43).
A esperança paciente
À espera da colheita A parábola do trigo e do joio apresenta-nos a imagem de um Deus paciente, que prefere esperar pela altura da colheita para separar trigo do joio. É uma atitude que contrasta com a impaciência dos trabalhadores da seara, que querem de imediato arrancar o joio, mesmo que isso ponha em risco também o trigo. Esta imagem de Deus assim paciente contrasta de igual modo com o nosso tempo, em que tudo tem que ser imediato, rápido, para ontem ou para antes de ontem. Como tudo é feito a correr, falta o tempo para contemplar e se maravilhar com aquilo que pede tempo para crescer calmamente. É arriscado pretender obter resultados antes do tempo. Essa atitude leva ao stress, à angústia, à frustração. Precisamos de reaprender a paciência de Deus, esperar pelo tempo da colheita, dar tempo ao tempo, deixar que as coisas sigam o seu ciclo próprio.
A paciência revela esperança. A paciência com que Deus trata o seu povo ao longo da História da Salvação é paralela à esperança de que esse mesmo povo se converta, se volte para Deus, abra o coração à Palavra e à Lei. É um caminho longo, feito de altos e baixos, que conhece avanços e fracassos. Mas Deus não desiste do seu povo, dá-lhe tempo para que possa caminhar e crescer. É como a bela imagem do grão de mostarda lançado à terra: pequenino, insignificante, germina, cresce, desenvolve-se, dá origem à grande planta; ou como o fermento, lançado no meio da massa, misturando-se e perdendo-se, para que ela possa crescer e dar muito pão. Assim é a nossa vida. Deus está lá, actuando com paciência. Por vezes quase não damos pela sua presença, mas Ele espera que nós cresçamos e nos aproximemos mais e mais do Seu amor. Que este Verão nos ajude a crescer. Simplesmente de férias ou envolvidos na Jornada Mundial da Juventude ou noutros encontros, que encontremos tempo para Deus, que afinal é, sempre, tempo para nós! Boas férias!
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José Agostinho Sousa
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20 – meias-doses de saber Do “Reino do Coração de Jesus” à “Civilização do Amor”
Espiritualidade dehoniana p “Aproximar-se ou deixar-se atrair assim do Coração de Cristo não é apenas uma visão contemplativa ou especulativa, mas um caminho que empenha a pessoa inteira, como o exige a lógica própria do coração. Torna-se proximidade, compreensão, identificação e transformação, a partir do pedido e da disponibilidade para receber o dom do Espírito.” (Padre José Ornelas Carvalho)
Reparar é restabelecer pontes quebradas.
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oquemos a nossa atenção nos conceitos centrais fundantes da espiritualidade do Coração de Jesus em perspectiva dehoniana: reparação e oblação. Na verdade, a ideia de reparação que em alguns países inspirou a cognominação dos Dehonianos como “Padres Reparadores”, remete-nos para o carisma central da espiritualidade dehoniana, que consiste em reparar, em restabelecer a unidade perdida entre o homem e Deus com reflexo directo na divisão interior de cada homem e dos homens entre si.
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Este vector central desta espiritualidade faz dos dehonianos construtores de pontes, em sentido figurado. Que pontes precisam de ser reparadas e religadas? As pontes quebradas entre o coração humano e o coração de Deus através da procura de uma intimidade maior pela oração, pela prática litúrgica, pela meditação, por uma vida de cultivo do espírito, séria e continuada. As pontes quebradas entre os homens: Sarar o que divide e impede a harmonia começando pela primeira célula da civilização do amor que é a família. As divisões sociais e o tudo o que impede a construção de uma sociedade mais harmónica, começando pela exigência da justiça social, da salvaguarda do bem comum, através da humanização da vida em sociedade para depois ser-se capaz de ir mais longe e oferecer os bens mais altos. As pontes quebradas dentro da própria Igreja, as divisões que impedem a Igreja de conformar-se mais e mais com o exemplo de Cristo e ser testemunha luminosa e credível no mundo de hoje. As pontes que dividem as comunidades humanas. Ser construtores de paz, respeito e tolerância não só entras as nações, mas também trabalhar para as construção de pontes cada vez mais decisivas hoje entre confissões religiosas e religiões.
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meias-doses de saber – 21
a para os tempos de hoje (II) O ecumenismo, o entendimento e respeito entre os diferentes sistemas religiosos é hoje cada vez mais decisivo para a construção de um mundo melhor. Reparar pode passar pelo trabalho ecuménico. De facto, as guerras deste novo milénio apresentam cada vez mais uma configuração de natureza civilizacional, como defende Samuel Huntington na sua obra Choque de Civilizações, e sabemos que todas as civilizações tiveram na sua base uma modelação religiosa. As religiões foram modeladoras dos diferentes conjuntos civilizacionais que hoje fazem a diversidade da paleta cultural humana habitante no planeta Terra. Hoje, o ecumenismo é importante e decisivo não só para a paz no mundo, mas também para a própria credibilidade das religiões no sentido de serem capazes de oferecer um caminho de aperfeiçoamento humanizante pertinente para a jornada histórica do homem no nosso mundo. Entendemos que a reparação também passa por esta criação de pontes de harmonia entre os que crêem e pensam de modo diferentes. E aqui entra a pastoral ecuménica e a pastoral da cultura. As palavras oblação e vítima que hoje podem ser traduzidas por uma entrega plena em fazer com todo o empenho o bem e fazer bem o que deve ser feito em cada ofício e tarefa orientada para esta construção de uma civilização do amor, começando pelas pequena coisas, na família e no trabalho. Precisamos de mudar o mundo, começando por melhorar com humildade o nosso pequeno mundo ou os nossos pequenos mundos.
Entendemos que a reparação também passa por esta criação de pontes de harmonia entre os que crêem e pensam de modo diferente.
Por aqui passa o ideal associado à espiritualidade dehoniana de viver o sacerdócio do amor. E necessariamente por aqui passa também o ideário proposto nas Constituições dos Dehonianos de sermos “Profetas do Amor e Servidores da Reconciliação”. Este ideal de transfiguração da vida pela oração e por uma acção retemperada pela experiência do Amor de Deus, que deseja actualizar em cada gesto o seu amor e o seu modo de amar, tem expressão no modo de estar e actuar em todas as situações da vida. Daí vem necessariamente a revisão do modo de receber, de ouvir, de disponibilizar-se para as exigências do dia-a-dia. Por isso é que o conceito de disponibilidade se torna, no plano da práxis, fundamental. O modo de acolher o outro tem forçosamente de trazer a marca da vivência de um Deus-Amor, pois nesse acolhimento, nessa forma de receber passa o primeiro testemunho.
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Eduardo Franco
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22 – MissãoPress Breve comentário aos n.os 12-15 da Carta Pastoral “Como eu vos fiz, fazei vós também”. Para um rosto missionário da Igreja em Portugal.
Todos Evangelizados, todos evangelizadores A
o fazer este breve exercício de comentário vem-me à memória a exortação apostólica Evangelii Nuntiandi escrita por Paulo VI no longínquo ano de 1975. Nessa altura, e lembrando o aniversário dos 10 anos do Concílio Vaticano II, o papa deixava no ar a seguinte questão: “O que é feito da Igreja passados dez anos após o final do Concílio? [...] Acha-se ela radicada no meio do mundo e não obstante livre e independente para interpelar o mesmo mundo? Testemunha ela solidariedade para com os homens e, ao mesmo tempo, o absoluto de Deus? É ela hoje mais ardorosa quanto à contemplação e à adoração, e mais zelosa quanto à acção missionária, caritativa e libertadora? Acha-se ela cada vez mais aplicada nos esforços por procurar a recomposição da unidade plena entre os cristãos, que torna mais eficaz o testemunho comum, afim de que o mundo creia? Todos somos responsáveis das respostas que se possam dar a estas interrogações.” (EN, 76). Estamos praticamente a celebrar os 50 anos do Concílio Vaticano II (em Dezembro deste ano, mais precisamente no dia 25 de Dezembro, fará 50 anos que o papa João XXIII o convocou pela Constituição Apostólica Humanae Salutis). Penso que as perguntas do Papa continuam a fazer hoje todo o sentido, podendo ser um importante motivo de reflexão e impulsão para a acção. Não vou aqui dar uma resposta desenvolvida às mesmas, se bem que ela não possa deixar de ser dada ao nível de cada cristão, de cada comunidade, de cada movimento ou associação, enfim ao nível de toda a Igreja. O meu objectivo é muito mais humilde, pelo que me limito a apontar algumas ideias, à maneira de brevíssimas notas, que possam ajudar a fazer essa reflexão.
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A razão de ser da Igreja
de ser da Igreja é a evangeliza•ção,Aerazão esta realidade não é apenas algo que
tem a ver com a dimensão da acção, mas, pelo contrário, marca a Igreja na sua mais profunda identidade. Ao falar em evangelização, estamos pois perante uma realidade e dimensão que não são simplesmente do âmbito do fazer. Não se trata simplesmente de algo que a Igreja faz, ou mesmo de algo que a Igreja não pode deixar de fazer. É muito mais do que isso: se porventura a Igreja deixasse de evangelizar, ela deixaria de ser Igreja. Verdadeiramente, como diz o texto que comentamos, “evangelizar será a nossa maneira de ser porque é a nossa identidade mais profunda”.
O anúncio explícito
A evangelização consiste no anúncio ex•plícito da Boa Nova de Jesus Cristo a todos
os homens e ao homem todo. Não há pois nada que diga respeito ao ser humano e à sua vida que possa ficar fora desta dinâmica. Isto requer da parte da Igreja e de todos os seus membros uma profunda atenção à situação concreta de vida de todos os nossos contemporâneos. A evangelização exige aos evangelizadores uma dupla fidelidade: A Jesus Cristo, pois é a sua Boa Nova que deve ser anunciada; ao ser humano de cada tempo histórico. O texto que comentamos diz isto de uma maneira clara socorrendose de palavras de Bento XVI: “Sim! Somos chamados a servir a humanidade do nosso tempo, confiando unicamente em Jesus, deixando-nos iluminar pela Sua Palavra.
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MissãoPress – 23
Juan Ambrósio, docente da Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa.
Testemunho da comunidade
maneira de ser e de viver, que anun•ciaEsta um evangelho que não é o meu, mas é
Vida vivida
anúncio explícito da Boa Nova de •JesusO Cristo não consiste simplesmente na transmissão de uma doutrina e de uma moral. Por mais importantes e necessárias que estas sejam, o anúncio da Boa Nova, a evangelização, passa obrigatoriamente por uma vida que é vivida ao ritmo e à luz do evangelho. Só cristãos e comunidades evangelizados podem ser verdadeiramente evangelizadores.
Dupla necessidade de conversão
Deste anúncio explícito às mulheres e •homens concretos do nosso tempo brota,
igualmente, uma dupla necessidade de conversão: ao Evangelho, ele é, como já foi dito, fonte, critério e razão de ser da evangelização; e a partir daqui, por causa da encarnação, uma conversão ao ser humano, dando especial atenção aos mais necessitados. Ele é – o ser humano, cada ser humano – a razão última porque Deus envia a sua Igreja. Como diz o texto que tenho vindo a comentar, “a Igreja necessita de uma forte “comoção” que a impeça de se instalar na comodidade, na estagnação e na indiferença, à margem do sofrimento dos pobres [...]. Ir ao encontro do senhor em cada irmão terá de ser a nossa única ocupação e a nossa única maneira de viver”.
também para mim, e que não se destina simplesmente a mim, mas pelo contrário me implica para que ele possa chegar a todos quantos Deus quer e que são, como sabemos, literalmente todos, não pode ficar marcada pela nota da individualidade, tão em moda nos nossos dias, exigindo, pelo contrário, a experiência e o testemunho da comunidade eclesial. Como diz o texto, citando a Evangelii Nuntiandi, “evangelizar nunca é para ninguém um acto individual e isolado, mas profundamente eclesial”. Verdadeiramente, todos os cristãos somos coresponsáveis por esta identidade e missão da Igreja. Acreditamos verdadeiramente naquilo que anunciamos? Vivemos verdadeiramente aquilo em que acreditamos? Pregamos verdadeiramente aquilo que vivemos? Estas perguntas, também tiradas do n.º 76 da Evangelii Nuntiandi que citei no início desta brevíssima reflexão, podem certamente ajudar-nos a adquirir esta consciência de que a identidade e experiência cristãs exigem que cada cristão seja protagonista da evangelização e com ela se comprometa.
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Juan Ambrósio
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24 – espaço escola A responsabilidade na construção da pessoa
Quero ser melhor! Q
ualquer estudante, no término de um ano escolar, quiçá em fim de linha, perante os resultados finais, mesmo negativos, pensa nas férias quer tenha tido sucesso quer não! Embora. sinta pesar por não ter conseguido vencer as dificuldades, ficará marcado pela tristeza! No entanto, não deve ser esse facto que o fará perder a esperança. Mais do que ser criticado pelos professores e pela família, melhor será, para a sua própria construção como pessoa que, apesar de tudo, reconheça que a situação criada se deve à sua inteira responsabilidade! Por isso a estratégia dos pais e professores passará por animar e criticar com calma, fazendo compreender que a situação causada, não havendo outra razão plausível, foi culpa sua! Assim sendo, o jovem, deverá assumir a sua responsabilidade. No entanto, pais e professores deverão animar, e não apenas criticar, ajudando-o a refletir pois, só assim, ele poderá consciencializar o problema e, mais cedo ou mais tarde, iniciar a recuperação do tempo perdido pois dar-se-á conta do tempo malbaratado e, como jovem, render-se-á à justeza dos conselhos. A partir daí, tirará a lição que o fará repensar no tempo que não poderá mais perder. Mais do que uma conversa amiga e positiva, o pai e o professor poderão orientar o jovem a compreender a situação de um fracasso que, com mais esforço, poderia ter sido evitado. A lição será benéfica! Uma chamada de atenção, nunca ofensiva, uma boa crítica, sempre amável e serena, não o insulto e o desprezo, uma conversa moderada, nunca ofensiva, a zanga, não a desclassificação, o diálogo, não a afronta nem a subestima… todas essas atitudes ajudam a que o jovem se corrija e caminhe com ânimo e sem deceções. Kant, referia que “o homem é a única criatura que deve ser educada”. A disciplina, não sendo guiada pelo instinto, deverá surgir através da cultura e da moderação. A educação, cujo objetivo é conduzir o homem à sua própria humanidade, contém dois aspetos fulcrais: a disciplina e a instrução. A aprendizagem inteligente descobriu um papel de primeiro plano nas teorias funcionais e pragmáticas, uma tomada de decisão do sujeito na natureza, uma solução de problemas e uma conquista de maior domí-
A pedagogia não pode tratar do ensino, por parte do professor, sem considerar simultaneamente a aprendizagem, por parte do aluno.
nio sobre as circunstâncias (Claparède, Dewey). A teoria preparatória da inteligência (Piaget vê no pensamento um substituto representativo da ação) prolonga-se, portanto, noutras formas de aprendizagem, ao nível do pensamento concreto e do pensamento formal puro. A pedagogia não pode tratar do ensino, por parte do professor, sem considerar simultaneamente a aprendizagem, por parte do aluno. Ora, neste, estão incluídas todas as formas: aprendizagem por reflexo condicionado, por tentativa e erro, por intuição, por imitação, por reflexos condicionados, e por mecanismos sensoriais, musculares, verbais. O Dicionário de Psicologia refere que o estudo “é a aplicação a uma atividade de pesquisa ou de aprendizagem. No primeiro sentido, que se refere ao estudioso em sentido próprio, designa a atividade científica; por extensão, chamaram-se studio ou studia os centros universitários medievais e muitas academias. No segundo sentido, que se refere ao estudante em sentido estrito, designa a atividade de aprender. O elemento de voluntariedade da aplicação, inerente ao sentido de estudo, salientado pelo étimo latino, constitui também o aspeto pedagógico mais importante: o estudo é, de facto, o momento predominante do aluno.” Boas Férias! (Texto escrito conforme o Acordo Ortográfico.)
PENSAR
• Estudar implica melhorar como pessoa! • Um percurso escolar para viver e progredir! • Viver as férias em atitude de aperfeiçoamento individual!
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Manuel Mendes
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participação – 25 Desafios do nosso tempo
Ser Cristão hoje Olhar o mundo com os olhos de Cristo, falar ao mundo com a boca de Cristo, e ouvir o mundo com os ouvidos de Cristo deve ser a missão de qualquer cristão. Vivemos tempos de enormes dificuldades socioeconómicas, tempos de profunda apatia e indiferença Social, Política e Religiosa. O mundo está em constante mudança que para além de veloz se torna cruel para as camadas mais desfavorecidas da sociedade e que exige de cada um de nós, cristão consciente e preocupado com o seu próximo, um forte compromisso social que tem, por imperativo de consciência, de partir do Evangelho. D. José Policarpo afirmou que “cada um deve procurar perceber o que pode fazer, qual o seu contributo para o bem comum. É a última parte do vosso lema-compromisso: ‘melhora o teu mundo’. E aí a primeira palavra a escutar é a do próprio Jesus”. Para o Cristão, nenhuma acção deveria ser levada a cabo sem estar de acordo com os ideais de Jesus Cristo. Muitos são os desafios que os nossos irmãos e irmãs nos colocam. A Sociedade clama por uma justiça mais célere e mais igualitária; por uma educação mais próxima dos verdadeiros valores humanos; por uma saúde onde impere o humanismo; enfim, a sociedade pede Cristãos activos e capazes de mostrar, pela acção, que são capazes de transformar, neste tempo da história, o Mundo. O papa Bento XVI afirmou, aquando da sua visita à Croácia, que o Humanismo Cristão é capaz de “inspirar projectos políticos diversificados mas convergentes na construção de uma democracia substancial, fundada sobre valores éticos radicados na própria natureza humana”, ou seja, que o centro e a acção de qualquer sistema político, seja ele de direita ou de esquerda, deve ser a pessoa humana enquanto obra criada por Deus, enquanto ser transcendente. É o que a nossa Pátria clama. Uma cultura política cujo princípio e fim seja a pessoa humana e onde a grande preocupação de todos os agentes económicos, sociais e políticos seja a dignificação da Pessoa Humana. Julgo ser útil reflectir no velho lema da Acção Católica “Ver, Julgar e Agir”. Ver a sociedade que nos rodeia, as suas carências, expectativas e esperanças; julgar sobre a realidade que vemos sempre à luz daqueles que são os julgamentos que advêm
do Evangelho; e agir em favor dos mais necessitados e daqueles que, em cada momento, necessitam da nossa acção sociocaritativa seja no campo material seja no espiritual. Estes são alguns dos grandes desafios do nosso tempo e, como um dia escreveu o Padre Leão Dehon, é necessário ter sempre como finalidade na nossa vocação cristã “aqueles a quem faltam recursos, razões de viver e esperança”.
Muitos são os desafios que os nossos irmãos e irmãs nos colocam hoje.
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Tiago Pereira
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26 – leituras
A maior província de Moçambique
Nampula O
meu artigo debruça-se habitualmente sobre um livro da actualidade. O livro que escolhi desta vez é a terra com pó, onde me encontro, a cidade de Nampula (Moçambique). Digo com pó, porque em Nampula insistem para eu engraxar os sapatos. Mas a estrada tem pelo menos um metro de pó. Eu teimo que não vale a pena. Mas dizem que se eu engraxar dou emprego ao engraxador (15 meticais = 20 cêntimos). Vale a pena o trabalho ou é melhor dar-lhe os 15 meticais de gorjeta?
patamar aceitável.
Desenvolvimento humano…
Moçambique Moçambique tem 23 milhões de pessoas numa área de 799 380 km2. Nampula é a maior província de Moçambique com cerca de 4,5 milhões de habitantes. A maior parte da população vive nas terras rurais (69%) e metade da população é ainda muito jovem (6 aos 24 anos). Moçambique tem 14 000 escolas rurais, 402 escolas secundárias, 87 escolas técnicas e profissionais e 38 Universidades e estabelecimentos de Ensino Superior. Infelizmente, isto não significa automaticamente desenvolvimento, mas contribui para ele. Vemos alguns sinais de desenvolvimento, mas observamos também muitas carências, muitas necessidades, ao nível humano, psicológico, cultural, social e religioso. Há ainda muito a fazer para que a dignidade da mulher e do homem alcancem um
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Há que valorizar a educação tradicional naquilo que ajuda a desenvolver o ser humano, nas suas tradições, na sua cultura, nos seus valores, nos seus anciãos. Há, no entanto, que purificar alguns pontos, nomeadamente, a submissão da mulher ao homem, os casamentos prematuros, o precoce abandono escolar, a higiene, a saúde, a educação e algumas tradições que impedem o desenvolvimento humano e social, já para não falar das invejas e envenenamentos muito comuns em terras de África, como denuncia o último Sínodo dos Bispos sobre a África em 2009. A nível religioso, ainda há uma grande tradição de prática e respeito pela religião. No entanto, se a situação continuar assim, sem formação, mais tarde ou mais cedo, esta falta de solidez desmoronará e ficarão apenas alguns fiéis, como está a acontecer no Ocidente. Há quem diga que é melhor poucos e bons. Eu preferia manter um tom mais optimista: é melhor muitos e muito bons.
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leituras – 27
Houve alguns pontos realçados como: nenhum desenvolvimento humano integral aparece sem passar pela educação; o conhecimento pode tornar-nos melhores seres humanos; há que acreditar que o conhecimento pode tornar a nossa sociedade mais participativa. É que o conhecimento pode lançar o desenvolvimento das pessoas. Quanto mais proximidade houver, há uma maior possibilidade de desenvolvimento. O Professor José Matias, da Faculdade de Educação e Psicologia da UCP do Porto, terminou a sua intervenção, subordinada ao tema A escola ao serviço do desenvolvimento da pessoa e das organizações, com a seguinte história da mariposa-azul.
História…
A minha presença em Nampula… A minha presença aqui em Nampula deve-se ao projecto de doutoramento dos professores da Faculdade de Educação e Comunicação da Universidade Católica de Moçambique. Cerca de 30 professores com Mestrado estão a submeter-se a um projecto de doutoramento durante três anos, sob a responsabilidade da Faculdade de Educação e Psicologia da Universidade Católica Portuguesa. São professores com o Mestrado da Universidade Católica, da Universidade Pedagógica, da UniLurio, do Instituto da Estatística e da Academia Militar. Entre as diversas actividades (aulas, workshops, tutorias), durante estes 15 dias, realizou-se um Colóquio sobre o Desenvolvimento Humano, no auditório da Academia Militar da cidade de Nampula com a presença de mais de 500 pessoas. Duas mesas redondas orientadas pelos alunos do doutoramento concentravam a atenção dos participantes: um olhar sobre o desenvolvimento humano em Moçambique e a educação tradicional como contribuição para o desenvolvimento humano.
Havia um viúvo com duas filhas. Este costumava orientá-las sobre diversos assuntos. Um dia, ele decidiu enviá-las a um sábio para que pudessem aprender mais. As irmãs eram muito sabidas e espertas e já estavam cansadas com a sabedoria daquele mestre, pois ele acertava sempre as questões das meninas. Um certo dia, uma das meninas teve uma ideia de como deixar o sábio sem acertar na resposta. Ela partilhou a sua ideia com a irmã. Disse-lhe: – Colocarei uma mariposa nas minhas mãos que estarão fechadas. Perguntarei ao sábio se a mariposa que tenho nas mãos está viva ou está morta? Se ele disser que está viva, eu apertarei as minhas mãos para que ela morra. Se ele disser que está morta, eu abrirei as mãos para que ela voe. Passados alguns dias, as duas jovens foram ter com o sábio e fizeram o que haviam combinado. A menina perguntou ao sábio: – Sábio, a mariposa que eu tenho nas mãos, está viva ou está morta? O sábio respondeu: – Depende de ti, porque és tu que a tens nas tuas mãos. E…?
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Adérito Barbosa
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28 – sobre a bíblia Mateus procura ver em Jesus aquele que leva à plenitude a revelação antiga
MATEUS: o Antigo Testamento cu
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e, no artigo anterior, explicitávamos a figura de Pedro como “primeiro entre os apóstolos”, à luz do Evangelho de Mateus, na medida em que a relação de Pedro com Jesus desemboca numa missão de ser “pedra sobre a qual edificarei a minha Igreja” (Mt 16,18), tudo em relação com a comunidade cristã, neste mês, procuraremos verificar de que modo o mesmo evangelho de Mateus procura ver em Jesus aquele que leva à plenitude a revelação antiga e como isso se expressa numa comunidade dos seguidores de Jesus Cristo.
Vida em comunidade cristã no Discurso da Montanha (Mt 5-7) A dimensão que agora se propõe é bem mais comunitária: trata-se da vida em comunidade cristã. Em vários momentos, Mateus propõe aos seus leitores ensinamentos de Jesus que levam a pensar sobre a forma como deve estar organizada e funcionar a comunidade cristã. Destes momentos, destacaria, em primeiro lugar, o Discurso da Montanha – em boa parte partilhado por Lucas – que, partindo da proclamação da felicidade proposta por Jesus, vai levando a Lei de Moisés – enquanto princípio basilar do Judaísmo – à sua plenitude. Alguém sintetizou este discurso na expressão: “não só… mas também…” (em que o “não só” se refere aos preceitos da Lei de Moisés e o “mas também” se refere à radicalidade do pensamento de Jesus. Assim, por exemplo, podemos sintetizar Mt 5, 43-48, sobre o amor aos amigos e aos inimigos, em não apenas amor pelos amigos (implícito o ódio pelos inimigos), mas também pelos inimigos, em atitudes concretas de amor aos inimigos e oração pelos próprios perseguidores (Mt 5, 44). Este exercício poderia ser feito para cada uma das secções que compõem a comparação da Lei Moisaica com a ética de Jesus.
Ensinamentos de Jesus sobre a vida em Igreja (Mt 18) As grandes secções do Evangelho de Mateus sobre a vida em comunidade, contudo, sobressaem mais em Mt 18, onde se trata de quem é o maior no Reino dos Céus, sobre o escândalo, sobre a forma como lidar com os irmãos que se afastaram, sobre a oração comunitária. Deste último ponto, destacaria Mt 18, 20: “onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, Eu estou no meio deles”. Trata-se, efectivamente, de um ensinamento que tem raízes num aforismo rabínico ou, pelo menos, que com ele tem afinidade. Diz esse ensinamento judaico que, quando dois ou três se sentam a meditar palavras da Lei de Moisés (a Torah), aí está a presença divina (a Shekinah). É fácil ver a relação possível: entre os cristãos, a pessoa de Jesus, em nome do qual se reúnem, é a presença divina. Não se trata já da Lei de Moisés, elemento unificador da religião judaica, mas da própria pessoa de Jesus a unificar os irmãos em comunidade. Podemos dizer que, para os cristãos, Jesus incarna a Lei antiga, leva-a à plenitude e é mesmo a presença de Deus no meio dos homens. Há dois passos do mesmo evangelho que ajudam a entender que Jesus é isso mesmo: por um lado, Mateus faz confluir a profecia do Emanuel (Is 7, 14) com o nascimento de Jesus (“Há-de chamar-se Emanuel”, em Mt 1, 23); por outro lado, na boca de Jesus, encontramos: “Ninguém conhece o Filho senão o Pai, como ninguém conhece o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar” (Mt 11, 26). Jesus é a plena revelação de Deus na história da humanidade e, portanto, o culminar daquilo que é a esperança da fé judaica. Desta mesma secção destacaria ainda a “parábola da ovelha perdida” que, em Mateus, assume contornos
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sobre a bíblia – 29
to cumprido e levado à perfeição A presença massiva do Antigo Testamento no Evangelho de Mateus
São Mateus e o Anjo, de Guido Reni (1575-1642).
A presença do Antigo Testamento no Novo Testamento é indiscutível; em todos os livros do Novo Testamento se encontram citados, implícita ou explicitamente, textos do Antigo. No entanto, o evangelho de Mateus é aquele que o cita de forma mais explícita, sobretudo pelo uso da expressão: “aconteceu para se cumprir a escritura que diz”. Acontece, por exemplo, aquando do anúncio do nascimento de Jesus para cumprir a profecia do Emanuel (Mt 1, 23, citando Is 7, 14), ou então acerca da fuga para o Egipto e consequente regresso (Mt 2, 15 em relação com Os 11, 1) e noutros passos. O próprio verbo “cumprir” é usado noutros passos – por exemplo no Baptismo de Jesus (3, 15: “convém que cumpramos toda a justiça”) – demonstrando que é em Jesus que se cumpre aquilo que fora anunciado e aquilo que se esperava no Antigo Testamento. Outros factos como por exemplo a relação do Evangelho de Mateus com a “montanha” (Mt 5, 1-2: “Jesus subiu a um monte… e começou a ensiná-los, dizendo”), tal como numa montanha Moisés tinha recebido as tábuas da Lei (Ex 19), mostram que Mateus quer fazer de Jesus uma pessoa que não só cumpre a Escritura como também é aquele que, de novo, a desenha. Neste sentido, porém, tenha-se em conta as palavras do próprio Jesus: “Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas. Não vim revogá-los, mas levá-los à perfeição” (Mt 5, 17). A perfeição da Lei e dos Profetas: eis uma das principais missões de Jesus no Evangelho de Mateus, aquele que melhor se adapta ao contexto judaico para o qual foi muito possivelmente escrito.
bem salientes, se comparada com o passo semelhante do Evangelho de Lucas. Se neste último se acentua a dimensão misericordiosa de Deus (no contexto das três parábolas da misericórdia, a da ovelha perdida, da dracma perdida e a do pai e dois filhos, em Lc 15) que deixa as 99 ovelhas no deserto para ir procurar a que se perdeu, em Mateus, o convite é para que a própria comunidade vá de encontro à ovelha que se tresmalhou conforme se entende pelo contexto que segue a ordem final (Mt 18, 14: “Assim também é da vontade de vosso Pai que está no Céu que não se perca um só destes pequeninos”), ou seja, a referência aos irmãos que se perdem (a correcção fraterna), o que demonstra que a preocupação de Mateus é de fazer de cada membro da comunidade um Bom Pastor para aqueles que erram.
“Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas. Não vim revogá-los, mas levá-los à perfeição”. (Mt 5, 17)
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Ricardo Freire
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30 – reflexo
Podemos fazer do nosso descanso um tempo produtivo
Sabias que:
Estamos em tempo de férias. Para a maioria é um tempo para descansar, viajar, estar sem fazer nada. Depois de um ano de intenso estudo ou trabalho, sabe bem parar. Mas, também é verdade, passados os primeiros dias estamos a pensar o que vai ocupar o resto do nosso tempo. Não será possível usar o tempo de férias para se valorizar? Sabemos bem como o mercado de trabalho está cada vez mais exigente, que tal utilizar algum do tempo de férias para melhorar os nossos conhecimentos? Pode parecer estranho porque todos nós trabalhamos e necessitamos de descanso, mas o tempo de férias pode ser o momento ideal para tentar melhorar alguns aspectos da nossa vida. Basta programar os dias de férias. Ter tempo para ler, visitar lugares de interesse, participar em algum curso, tudo isto é possível para quem tem tempo, e nas férias nós temos. Assim como nos devemos sentir bem no nosso trabalho, também devemos fazer do nosso descanso um tempo produtivo. Este tempo de descanso é muito bom para pensar, com a cabeça mais tranquila, no sentido para a vida e nos planos para o futuro. É mais apelativo não fazer nada, deixar completamente de lado a rotina do resto do ano de estudo ou de trabalho. Neste tempo ouvimos e vemos na comunicação social as praias cheias de gente deitada ao sol. As férias podem dar desconforto porque dá-se um corte entre o que ocupa o ano todo e o que programamos para o tempo de férias. Procuremos fugir dos esquemas de todos os dias, dos mesmos ambientes e das mesmas pessoas. As férias podem ser também um desafio à nossa criatividade. Pode ser um tempo para descobrir que até gostamos e podemos
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Tempo de férias
fazer outras coisas: ler, escrever, pintar, jardinar, arrumar, passear… Outra forma de passar as férias de forma diferente é dedicá-la numa actividade de voluntariado. Estamos a viver o ano do voluntariado e inserção social. Há cada vez mais interessados em participar em iniciativas de voluntariado. São várias as instituições que promovem actividades de voluntariado durante o tempo de verão. Aos interessados cabe a tarefa de escolher o local, período de tempo e tipo de colaboração. No verão, parte significativa das iniciativas decorre durante um mês, em países africanos ou de língua oficial portuguesa. Mas em Portugal, nas periferias das grandes cidades ou em lugares isolados, nas prisões ou em centros de saúde, há também muitas iniciativas para os voluntários. Este tipo de voluntariado está geralmente ligado a congregações religiosas, universidades e paróquias. As áreas de intervenção são diversas, desde a educação, saúde, acção social, cidadania, direitos humanos e formação humana. Para todos os que pensem participar numa destas iniciativas devem ter em conta que é bom fazer uma boa formação, sobretudo ao nível da convivência comunitária, partilha e gestão de conflitos, além de conteúdos relacionados com as actividades a desenvolver. O ambiente de crise e dificuldades económicas são um incentivo à promoção para as acções voluntárias. Sem dúvida que o voluntariado responsável é encarado como uma solução e resposta aos apelos da sociedade de hoje. As férias são tempo de descanso, mas podem e devem ser também tempo de crescimento e de solidariedade.
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reflexo – 31
A Palavra de Deus diz: Mt 5, 13-16. Todos os cristãos têm por missão dar testemunho da luz que Jesus trouxe ao mundo. Primeiro conhecer a luz, a doutrina de Jesus, depois não a esconder. Não se trata de apresentar e defender o evangelho, mas tudo fazer para o viver. Ser sal da terra e luz do mundo é um bom lema para a vida, também nas férias.
Faz silêncio e reza: Procura um local sossegado. Estás a iniciar as tuas férias. Uns dias merecidos de descanso. Como correu o ano de estudo ou trabalho? Como vais passar estes dias de descanso? Podes fazer tantas coisas por ti e pelos outros. Lê o texto de S. Mateus. Jesus exorta os seus discípulos a não se instalarem na mediocridade, no comodismo. Pede-lhes que sejam o sal que dá sabor ao mundo e que testemunha o projecto salvador de Deus; também os exorta a serem uma luz que aponta no sentido das realidades eternas, que vence a escuridão do sofrimento, do egoísmo, do medo e da falta de sentido para a vida. Ser cristão é também ser uma luz acesa na noite do mundo, apontando os caminhos da vida, da liberdade, do amor, da fraternidade. Faz uma oração a Deus.
Tenho de: As coisas boas que possam acontecer à nossa volta não são o resultado do exercício das nossas qualidades e do nosso esforço e empenho, mas o resultado da acção de Deus em nós. É Deus que é “a luz” e que, através da nossa fragilidade, apresenta a sua proposta de libertação e de vida nova ao mundo. Procura durante o tempo de férias uma actividade concreta que te ajude a crescer. Faz das tuas férias um tempo de solidariedade e crescimento pessoal.
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Feliciano Garcês
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32 – sobre a fé Diversidade de povos com Cristo como “cabeça”.
A Igreja que é Católica
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a fórmula do Credo, que solenemente proclamamos, especialmente, em dia de domingo e no qual professamos as principais verdades da nossa fé, dizemos a determinada altura: “Creio na Igreja”. Mas, o que significa “Igreja”? Igreja, em grego, diz-se ekklesia e significa “aqueles que foram convocados”; “assembleia”. Todos os que acreditam em Deus, que foram baptizados em Cristo e foram assinalados pelo Seu Espírito, são convocados pelo Senhor. Juntos constituem a Igreja, formada pela diversidade de povos, que tem Cristo, na expressão de S. Paulo, como Sua “cabeça”. Os cristãos são, então, os membros que formam o Corpo de Cristo. Ele é a cabeça, a Igreja é o corpo. Juntos formam o “Cristo total” (Cf. S. Agostinho).
Acredito na Igreja Esta afirmação é cheia de sentido e toca em muitas realidades. Entre essas, evidenciamos o seguinte: quando afirmamos “creio na Igreja”, estamos a dizer primeiramente que ela é a presença de Deus no mundo pelo que devemos amá-la; em segundo lugar afirmamos que ela é importante e necessária, porque Deus quis a Igreja, como espaço de salvação, porque Ele nos ama e nos quer salvar, não individualmente, mas em comunhão. Ele quer fazer de toda a humanidade o Seu Povo. Neste sentido, dizia Charles Péguy, poeta francês, temos de nos tornar santos uns com os outros. Temos de chegar a Deus uns com os outros, apresentar-nos diante d’Ele uns com os outros. Não nos devemos encontrar com o bom Deus uns sem os outros. Que diria Ele se regressássemos uns sem os outros? (Cf. Youcat 123). É também neste sentido, que o Concílio Vaticano II declara que a Igreja, que irradia o brilho da vitória de Cristo, Luz das Nações, é instrumento e sinal de salvação para todos os povos (Cf. LG 1). Nesta afirmação, declaramos, também, que a Igreja tem uma missão, uma tarefa concreta e que ela existe para evangelizar, tal como reafirmou o papa Paulo VI (Cf. EN 14). A missão da Igreja é permitir que, em todos os povos, germine e cresça o Reino de Deus, que Jesus já inaugurou. Ou seja, aonde Jesus foi, o céu tocou a terra, despontou o Reino de Deus, um reino de paz e de justiça. A Igreja serve este Reino de Deus. Ela não é um fim em si mesma. Ela tem de continuar o que Jesus começou. Ela deve agir em conformidade com o agir de Jesus. Ela transmite as palavras de Jesus e continua, actualizando no hoje da história, os gestos sacramentais de Jesus. Portanto, a Igreja, com toda a sua fraqueza e grandeza, é um pedaço do céu sobre a terra (Cf. Youcat 123).
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A missão da Igreja é permitir que, em todos os povos, germine e cresça o Reino de Deus.
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sobre a fé – 33
Creio na Igreja Católica A palavra “católico” significa “universal”, no sentido de “segundo a totalidade” ou “segundo a integridade”.
Esta Igreja é católica Na mesma Profissão de Fé, afirmamos também que a Igreja é “católica”. A palavra “católico” significa “universal”, no sentido de “segundo a totalidade” ou “segundo a integridade”. Assim, a Igreja é católica porque Cristo está presente nela e onde está Cristo, aí está a Igreja católica. É católica porque ela anuncia a totalidade da fé e tem à sua disposição a plenitude dos meios de salvação, administrando-os. É também católica porque é enviada a todos os povos, dirige-se a todos os homens, abrange todos os tempos e é por sua própria natureza, missionária (Cf. AG 2 e 6). Mas, podemos perguntar: quem pertence à Igreja Católica? Pertence totalmente à comunhão da Igreja Católica quem, unido ao papa e aos bispos, se incorpora em Cristo através da confissão da fé católica e da celebração dos sacramentos. Quem comunga da mesma palavra e da mesma mesa eucarística.
Na sua obra, Introdução ao Cristianismo, o papa afirmava que são muitas a nuances de sentido que acompanham este termo (“católica”) desde a sua origem, mas que existe neste atributo uma ideia principal que pode ser comprovada desde os inícios da Igreja: trata-se de uma palavra que remete duplamente para a unidade da Igreja; em primeiro lugar, ela indica a unidade da igreja local, ou seja, só a comunidade unida ao bispo é “Igreja Católica”; os grupos que se separaram dessa igreja local (diocese) por qualquer motivo não são “católicos”. Em segundo lugar, o termo refere-se à unidade das muitas igrejas locais entre si; elas não podem fechar-se em si mesmas, pois, para serem Igreja, precisam de estar abertas umas às outras, formando a Igreja una no testemunho comum da palavra e na comunhão da mesa eucarística. Portanto, na perspectiva do papa, estão implícitas, no atributo “católica” a estrutura episcopal da Igreja e a necessidade da união de todos os bispos entre si. A Igreja é una pela Palavra una e pelo Pão uno. A estrutura episcopal aparece no fundo como meio dessa unidade. A unidade concreta da fé comum a ser testemunhada na palavra e na mesa comum de Cristo ressuscitado é parte essencial do sinal que a Igreja deve erguer no mundo. Ela só corresponde à exigência dessa proclamação da fé, na medida em que é “católica”, isto é, visivelmente una na pluralidade. Num mundo dividido, cabelhe ser o sinal e o meio da unidade, superando e unindo nações, raças e classes sociais. A Igreja é católica desde o primeiro momento. A sua universalidade não é fruto da inclusão sucessiva de diversas comunidades, mas, desde o primeiro instante, o Espírito Santo criou-a como a Igreja de todos os povos; ela abraça o mundo inteiro, supera todas as fronteiras de raça, classe e nação; abate todas as barreiras e une todos os homens na profissão do Deus uno e trino. (Cf. Bento XVI, Homilia de Pentecostes 2011). Desde o início, a Igreja é una, católica e apostólica: esta é a sua verdadeira natureza e, como tal, deve ser reconhecida.
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Nélio Gouveia
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do mundo
34 – planeta jovem A amizade com Jesus deve ser estimada e cultivada todos os dias
Jesus, meu companheiro de treinos no ginásio
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epois de se ler este título o que pensará a maioria das pessoas (julgo eu): Quem está a escrever treinava num ginásio com um tipo chamado Joaquim Jesus… Ou quem sabe Miguel Jesus… Mas não, muito longe disso… Já lá vamos… Há uns anos atrás, olhei para o espelho… A barriga era pronunciada, e eu achei que estava na altura de fazer alguma coisa em relação a isso… Então decidi que era altura de me inscrever num ginásio… A minha inscrição foi tranquila… Não foi como aqueles momentos das histórias de banda desenhada em que o personagem que se vai inscrever no ginásio fica cansado só porque tem de subir umas escadas até à recepção… Se calhar porque escolhi um ginásio de um piso único! De qualquer das formas o que se passou em seguida foi uma história como muitas outras… Frequentei assiduamente o ginásio, comecei a conhecer pessoas que o frequentavam também e fiz inclusive algumas amizades…
Passado pouco tempo comecei a melhorar o físico e sentia isso. Andava mais solto e tudo corria bem… O ginásio era por essa altura uma necessidade, um prazer, pelo que esta foi uma história que se prolongou por alguns anos… Entretanto entrei na universidade e o trabalho foi sempre aumentando. De tal forma que se tornou um dia demasiado difícil de conciliar todos os meus deveres e por isso tive de abandonar o ginásio. E é neste preciso momento, depois da minha breve descrição de prática de ginásio, que surge a pergunta… E a parte de Jesus ser companheiro de treino? Não está a faltar nada à história? Ele treinava várias vezes por semana ou só uma? O ginásio que eu frequentava tinha, como certamente têm todos os outros, uma particularidade curiosa. Nos meses de aproximação do Verão, quando se começa a pensar em praia, fatos de banho e biquíni, registava um invulgar fluxo de inscrições. Pessoas que achavam que miraculosamente iriam perder os quilos que tinham (ou julgavam ter) a mais… Que de repente iriam ter um corpo de sonho como o de um actor famoso que idolatram… E eram assíduos no treino… Empenhavam-se e lutavam… Depois chegava o Verão… E nos meses a seguir ao Verão desapareciam, porque os resultados não tinham sido os esperados… Daí eu dizer que Jesus era o meu companheiro de treinos… Porque a atitude para com a religião e para com os ginásios tem semelhanças… Há pessoas que só se lembram da religião (ou dos ginásios) numa altura de aflição. Quando chegam à beira do precipício quer da sua aparência quer da sua vida, recorrem a qualquer coisa para tentarem a solução mais fácil… Depois há os outros… A amizade que partilhamos com Jesus é algo que nos toca, que deve ser estimada e cultivada todos os dias da nossa vida… E não porque esperamos obter algo em troca… Basta que seja apenas porque sim! Por isso eu digo que Jesus era meu companheiro de treinos… Porque encarei o ginásio como a religião… O exercício que fazia não tinha um objectivo fixo a curto prazo. Fazia-o porque me sabia bem… E quando somos capazes de fazer isso… O mundo ganha outra cor…
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Pedro Ferreira
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outro ângulo – 35 Férias são tempo de esquecer Deus?
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nas férias de Verão!
SIM, há fé
ois, eu eu sou sou daquelas daquelas que que ois, não vai vai de de férias férias nesta nesta não altura… alguém alguém tem tem de de ficar ficar altura… não é? é? não Asférias fériassão sãooomomento momentoideal ideal As de reencontro reencontro ee reflexão reflexão conconde nosco ee com com Ele, Ele, com com aqueles aqueles que que amamos. amamos. Procuramos Procuramos encontrar encontrar oo nosco nosso equilíbrio equilíbrio físico, físico, psicológico, psicológico, emocional emocional ee espiritual. espiritual. Certo? Certo? nosso Contudo, começam os comentários: “vão de férias, mas fazem férias de Deus também”. Considero que por uma questão cultural, e falo por mim também, passamos a vida a apontar o dedo a quem “não faz como deveria”… e que tal reconhecer quem faz? Não se trata de desculpabilizar, mas sim de ver a questão numa outra perspectiva. Quanto mais não seja para cativar quem por algum momento “esqueceu-se D´Ele”. Acredito que quem sente verdadeiramente Deus no coração, não deixa de sentir porque simplesmente foi de férias. Caso contrário, reparem em que altura do ano há: maior envolvimento dos jovens em iniciativas com o único objetivo de caminhar e crescer na •FéUm (jornadas, retiros, férias missionárias…? onde muitos deles acabam por decidir fazer parte de um movimento? Nas férias! “Festas rijas da Igreja” como se diz aqui na Madeira. Elas não se organizam sozinhas. A comunidade paroquial trabalha e investe com alegria e devoção. Mesmo que a maioria das pessoas vá ao “arraial”, não me lembro das igrejas estarem vazias (muito pelo contrário). Nas férias! Mais projetos voluntários em favor da comunidade? Nas férias! Filhos/netos a visitar o familiar doente ou distante? Nas férias! Imigrantes que participam nas atividades da paróquia da sua terra Natal? Nas férias! A família tenta estar unida, pais e filhos, pais enquanto casal…? Nas férias!
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Será mesmo esquecer-se de Deus? Para quem vai de Férias ou para quem está chateado por não ir, deixo o refrão desta música que me parece a melhor para a ocasião:
“E sei que és o meu melhor amigo E levo-Te dentro do meu ser Onde quer que eu vá Tu vens comigo Teu Espírito e mim irá, me guiará
Um Pai que sempre estará Aonde eu vá.”
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Alícia Teixeira
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do mundo
36 – novos mundos Controlar todas as tecnologias com um simples aparelho...
Novas ferramentas
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aros leitores e amigos, numa altura em que se aproximam as férias é tempo de recuperar forças para “Novos Mundos”. Foram-se os exames e o sol convida mas é para a praia! E ainda antes dessas mesmas férias, partilho convosco algo que me tem chamado a atenção ultimamente… A inovação tecnológica. Ipad’s, Iphones, Tablets em geral, smartphones, são tudo novas ferramentas que nos vêm facilitar o acesso à Internet e a tudo o que de lá podemos tirar. Agora já se pode aceder ao e-mail através de uma destas plataformas, ler livros, fazer vídeo-chamadas em alta definição, ou até usufruir de todo o entretenimento que encontramos disponível. A Internet tem sido só e unicamente reservada para as pessoas, mas agora mais e mais objectos estão a ser conetados à Internet: lemos emails em qualquer lugar, o contador da eletricidade é lido automaticamente, fazemos pagamentos pela internet, até os monitores de pulso e os próprios ténis que usamos para correr podem agora publicar informações diárias diretamente nos nossos blogs! Os eletrodomésticos e os sistemas das casas inteligentes são os próximos da fila… Um despertador não estará em breve limitado a tocar uma campainha e a acordar-nos, poderá ligar a máquina do café, acender as lâmpadas do quarto e tudo isto programado pela internet.
O grande desafio está em fazer com que produtos diferentes trabalhem em conjunto, ou pelo menos em harmonia. E é nisto que um grupo de pesquisadores noruegueses está já a trabalhar… Consiste num programa, com uma linguagem de programação nova (Arctis) desenvolvida por pesquisadores também da Noruega, e num site para download de aplicativos. Para que possamos um dia controlar todas estas tecnologias num só lugar com um simples aparelho recorrendo somente à internet, foi criado um ICE (ICE Composition Engine) que fará com que cada serviço tenha “conversas” com outros serviços. Isto fará com que o sistema seja cada vez mais inteligente e que, por exemplo, quando alguém tocar à campainha de uma casa, se possa pegar no smartphone e ter imediatamente acesso à câmara da entrada. Esta ideia está ainda como protótipo, mas é algo deveras aliciante. Imagina-te sentado no teu sofá, agarrado ao Ipad, a controlar o fogão da cozinha e a temperatura da água da casa de banho, ou até mesmo sentado no autocarro e a encher a banheira para quando chegares a casa teres um banho quente pronto. É de facto, algo de OUTRO MUNDO. Até Setembro! Fonte: www.inovacaotecnologica.com
(Texto conforme o Acordo Ortográfico.)
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André Teixeira
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nuances musicais – 37 A ousadia de pôr as pessoas contentes e a dançar
Baile de Verão
Com a chegada das festas de Verão, nas aldeias, e até nas grandes cidades, muitos dos passos de dança, guardados o ano inteiro para a ocasião, são dados ao som de música com ritmo muito próprio, inevitavelmente rotulado de “pimba.”
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praz-me desta feita escrever acerca de um tema que transfere a nossa mente para um estilo musical muito próprio. O título do artigo é, como já devem perceber, retirado de uma música de grande sucesso na “onda” intrínseca do bailarico. Sem ser um género que reúne muitos adeptos da erudição, é, sem dúvida, uma vertente musical que se encostou ao selo de “Música Popular” e que argumenta animação de muita festa pelo país fora. Com a chegada das festas de Verão, nas aldeias, e até nas grandes cidades, muitos dos passos de dança, guardados o ano inteiro para a ocasião, são dados ao som de música com ritmo muito próprio, inevitavelmente rotulado de “pimba.” O nome “música pimba” deve a sua propagação à célebre composição realizada pelo também célebre “compositor português” Emanuel. Entretanto, muitos tentam desmentir que a suas composições sejam desse género, pois, ninguém quer ser associado a um estilo de música que é (segundo o dicionário de língua portuguesa) brejeiro e de má qualidade. O certo, é que a similaridade sonora, rítmica e até lírica, faz identificar logo a ligação ao estilo alvo. Depois de identificado o estilo, muitos foram os músicos, na sua generalidade cantores, que assumiram essa vertente sempre em prol da animação. Mas alguns, com grande sucesso também, decidiram seguir a corrente de romantismo meloso, que ao invés de apelarem ao pulinho de dança, tentam, e conseguem, fazer com que indivíduos, desde os que têm a mínima literacia até os mais eruditos ditosos da língua portuguesa (esses em
muito menor número) sintam o seu coração a flamejar quando os ouvem. A qualidade das produções varia com a capacidade financeira de promoção, a aquisição de bons músicos e bons compositores na retaguarda, mas também com os bons ou maus efeitos visuais nos concertos ao vivo. Muitos bailes por esse país fora são animados com esse tipo de música, mas, munidos de bons músicos que por prazer ou carência financeira se sujeitam a um estilo que não reflecte o seu prazer de tocar. Embora possa parecer que este artigo é tendencialmente anti-música-identificada-como-pimba, há que enaltecer a ousadia de ser firme num estilo, pôr as pessoas contentes e a dançar, e muitas vezes conseguir performances de grau de dificuldade digno de registo.
muitos foram os músicos, na sua generalidade cantores, que assumiram a “música pimba” em prol da animação.
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Florentino Franco
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do bem-estar
38 – cuidar de si Sê FELIZ
Pela tua saúde!
Neste Verão, pela tua saúde, descansa, faz exercício, alimenta-te de forma equilibrada, variada e saudável, lê, lê um bom livro, lê A Folha dos Valentes, ama, sê solidário, reza, protege-te do sol e de outros perigos… E sê FELIZ!
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do bem-estar
dentro de ti – 39 É preciso relativizar as informações que circulam na Internet
A Internet e os jovens
A Internet foi considerada uma das maiores invenções do século XX. As redes sociais permitem a troca de informações a nível planetário, encurtam as distâncias e contribui para a ideia de uma aldeia global. Abre a possibilidade de comunicar com qualquer pessoa, em qualquer parte do mundo e em tempo real. A Internet tornou-se num meio de fazer novos amigos, conhecer novas culturas, idiomas, fazer negócios e desburocratizar o sistema, tornando-o mais eficaz e reduzindo os gastos.
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stas “novas“ tecnologias tiveram uma grande adesão por parte dos jovens. Aliás para os jovens esta tecnologia não é nova. É simplesmente a síntese entre os instrumentos que já usam mais ou menos bem, como, o pager, o telemóvel, a consola de jogos, televisão, rádio, computador. Cada um utiliza a Internet em função dos seus centros de interesse. Assim torna-se naturalmente para os jovens uma ocasião para se distrair, instruir e fazer amigos. Cada vez mais, os jovens navegam na Internet e aí investem o seu tempo. Esse contacto, actualmente inicia-se cada vez mais cedo na adolescência e na pré-adolescência. Muito desse tempo é passado em redes sociais como o Facebook, Twitter, Hi5, My Space. A Internet cria uma certa desinibição que permite a certas personalidades jovens criarem mais facilmente contactos e poder exprimir certos pensamentos que seriam difícil formulá-los cara a cara. Permite explorar facilmente diferentes tipos de personalidade a fim de melhor se conhecerem a si próprios. Por isso é que os jovens estão mais conscientes de que é preciso relativizar tanto as informações que circulam na Internet, como o facto de uma pessoa poder não ser o que pretende fazer crer que é. De salientar que do uso, muitas vezes, indiscriminado destas redes sociais, resultam alguns perigos e algumas questões. Existem milhares de jovens, muitas vezes em idades inferiores a 10 anos, que se expõem diariamente na Internet sem quaisquer cuidados. Mais grave ainda é que muitas vezes expõem também a privacidade de familiares, amigos e conhecidos. O anonimato é um dos principais problemas associados à utilização desta tecnologia. Não se sabe com quem é que se está a falar e quais são as suas intenções. Através da Internet acede-se a conteúdos violentes, racistas e extremistas. É também comum o roubo de identidade para actividades ilícitas. Perigo acrescido quando se transforma esse contacto virtual em contacto real.
Outro problema é a viciação ou dependência. Os jovens (ou adultos) deixam de ter vida social, passam a viver com e para a Internet, isto é, uma realidade virtual. Estudos recentes demonstram que os jovens viciados em Internet têm o dobro de hipóteses de sofrerem de depressão do que aqueles que estão online de um modo mais controlado. No entanto, e como disse Bento XVI, “estas tecnologias são um verdadeiro dom para a humanidade: por isso devemos fazer com que as vantagens que oferecem sejam postas ao serviço de todos os seres humanos e de todas as comunidades. E quem produz e difunde conteúdos para estas plataformas deve sentir-se obrigado ao respeito da dignidade e do valor da pessoa humana”.
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Costa Jorge
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do bem-estar
40 – mão amiga Uma comédia musical que se aproxima em muito da nossa vida
O filme
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s férias são momentos únicos do ano que não só servem para retemperar forças através do descanso, mas também para dedicar tempo à cultura, cinema, leitura, música, e visitar amigos e familiares. É nesse sentido que neste número da AFV te proponho uma mão amiga diferente, não no seu objectivo, mas na forma como a apresento. Proponho que vejas o filme “Hannah Montana − O Filme”, de Peter Chelsom, interpretado por Miley Cyrus, Billy Ray Cyrus, Margo Martindale, Lucas Till e Peter Gunn. É uma comédia musical que se aproxima em muito da nossa vida, pela dificuldade que temos em identificar as nossas prioridades e de as tornar presente no nosso dia-a-dia. Falo da família e dos amigos, aqueles que verdadeiramente querem o nosso bem e que estão sempre presentes nos momentos bons e menos bons. Este filme tem o mérito de nos envolver em alguns diálogos e a certa altura estamos nós sentados no sofá a dar as respostas mais óbvias às questões colocadas pelos actores, acabando por condenar a traição, a mentira, o orgulho e o materialismo. Pelo enredo, acaba por apresentar uma outra perspectiva, ou solução se o desejares, à nossa sociedade, não aquela que temos no momento, voltada para si, para o “ganho a todo o custo” mesmo se isso implicar o sacrifício da família. Mas aqueles que diariamente lutam por um mundo melhor, mesmo que sejam passos pequeníssimos. O filme “Hannah Montana − O Filme” transmite-nos mensagens sobre o valor da amizade, da humildade, da sensatez, da cooperação comunitária e sobretudo a primazia da família diante do êxito profissional. É uma boa alternativa ao sol tórrido numa tarde de Agosto, ou numa noite mais fresca de Julho.
O valor da amizade, da humildade, da sensatez, da cooperação comunitária e sobretudo a primazia da família.
A banda sonora é excelente e as interpretações de Miley Cyrus são desfrutáveis para toda a família. Não o percas!! Um abraço e boas férias!
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Amândio Rocha
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da juventude
jd-Nacional – 41 De 16 a 21 de Agosto, colocaremos a cereja em cima do bolo
JMJ: Jornadas Missionárias da Juventude
Estou convencido de que a dimensão missionária é a chave de leitura do fenómeno que representam as Jornadas Mundiais da Juventude. Elas não são um grande woodstock católico mas uma verdadeira experiência de anúncio de Jesus Cristo aos crentes e aos não-crentes. Ninguém duvida da paixão missionária de João Paulo II – que percorreu o Globo de lés a lés e que levou como mágoa as visitas impossíveis à Rússia e à China – e a criação das JMJ foi mais um capítulo desse ardor que um dia o levou a escrever que “a missão de Cristo Redentor, confiada à Igreja, está ainda bem longe do seu pleno cumprimento. No termo do segundo milénio, após a Sua vinda, uma visão de conjunto da humanidade mostra que tal missão está ainda no começo, e que devemos empenhar-nos com todas as forças no seu serviço” (Redemptoris Missio, 1). Com todas as forças e com toda a originalidade, e uma e outra – força e originalidade – são apanágio da juventude. Identificados os elementos e os construtores de uma tão grande obra – a Missão – como não dar-lhes todo o fôlego possível? A escolha de Madrid como cidade e igreja anfitriã deste magno evento não é casual, antes pelo contrário, é deveras eloquente. Uma das metrópoles mais simbólicas e capital de um país mergulhado numa onda de laicismo e de anti-cristianismo, torna-se autora e destinatária de cinco dias intensos de evangelização para e com jovens de todo o Mundo e centro da Igreja, Roma transportada aí onde está e estará o papa. A Espanha é o primeiro país a organizar pela segunda vez a JMJ (em 1989, foi em Santiago de Compostela, curiosamente também com D. António Rouco como arcebispo anfitrião; em 1985, em Roma, ainda não foi bem uma Jornada como ocorreu depois novamente em 2000) e o único até hoje que assim recebe por três vezes a visita de Bento XVI… O Papa espera que esta seja para a Espanha – que tantos e tão grandes missionários e santos deu à Igreja – e, através dela, para a Europa e para todo o Mundo, uma bela página da história do anúncio do Evangelho, que traga renovados frutos de fé e santidade. A confirmar este objectivo missionário, temos o primeiro parágrafo da mensagem de Bento XVI para a XXVI Jornada Mundial da Juventude, onde podemos ler: “gostaria que todos os jovens, quer os que partilham a nossa fé em Jesus Cristo, quer todos os que hesitam, que estão na dú-
Texto do P.e Pablo Lima, Director do Departamento Nacional da Pastoral Juvenil (DNPJ) para a MissãoPress vida ou não crêem n’Ele, possam viver esta experiência, que pode ser decisiva para a vida: a experiência do Senhor Jesus ressuscitado e vivo e do Seu amor por todos nós”. Creio, porém, não interpretar mal o sentir da Igreja sobre as Jornadas se disser que elas não valem por si, nem pelos cinco dias de encontro, mas pelos antecedentes e pelas consequências. A caminhada feita e o trabalho desenvolvido até este momento pelas dioceses, congregações e movimentos são os que tornam frutuosos os dias do Encontro em oração, convívio, testemunho e conversão. E o esforço, após as Jornadas, de continuar a levar os jovens a Jesus Cristo, de os envolver no anúncio e de os tornar não apenas destinatários mas autores da pastoral juvenil em Portugal, será isso a marcar o verdadeiro fruto das Jornadas. De 16 a 21 de Agosto, em Madrid, colocaremos a cereja encima do bolo e cortaremos a fita de uma nova e contínua corrida no serviço e amor a Jesus e à Igreja. O lema foi dado pelo papa, recorrendo a Col 2, 7. E é tanto uma realidade já viva desde o baptismo como um projecto: “Enraizados e edificados em Cristo, firmes na fé”.
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Pablo Lima
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da juventude
42 – jd-Porto
Como os discípulos de Emaús
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o dia 10 de Junho, realizou-se a caminhada das Férias Missionárias 2011 na paróquia de Terroso – Povoa de Varzim –, que serviu para a preparação das próximas Férias Missionárias. Pelas 10h00, encontravam-se cerca de 40 jovens prontos para caminhar, divertir-se, rezar e, claro, conviver, com o imaginário do texto bíblico dos discípulos de Emaús. Reunidos em roda no adro da igreja foram feitas as apresentações e elencado o que de importante se levaria para a caminhada. Algumas das coisas disponibilizadas foram o “amor”, a “harmonia”, a “alegria”, a “amizade”, e até “comida” disseram… Iniciada a caminhada, em fila indiana um pouco desalinhada, em direcção à primeira paragem (Campo de Tiro de S. Pedro de Rates), houve tempo para reflectir, cantar e para a conversa, permitindo assim, conhecer novas pessoas e também ganhar novos laços de amizade. Chegados ao primeiro ponto de paragem, já um pouco cansados mas prontos para enfrentar todos os desafios propostos, foram criados grupos de três. O tema a discussão proposto pelo padre Paulo centrou-se nos acontecimentos de Jerusalém e da própria vida, das dificuldades, e pediu que se inventasse uma história de fracasso.
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jd-Porto – 43
Caminhada JD-Porto para as Férias Missionárias 2011
Depois de concluída a tarefa, seguimos com a nossa caminhada de novo desta vez em direcção ao segundo ponto (Rates Park) onde cada jovem partilhou o seu farnel com toda a gente. Antes da refeição, cantámos e rezámos um Pai-Nosso para agradecer a Deus toda a alegria, todo o amor e o pão-nosso de cada dia que Ele nos oferece. No fim de todos almoçarem, estivemos por algum tempo a conversar, a explorar o local e o mais importante a conhecermo-nos melhor. De seguida, fomos até a igreja de S. Pedro de Rates, bela espécie da arte românica. Depois, iniciámos a caminhada de volta ao adro da igreja de Terroso. Durante o caminho, reflectimos como Ele caminha connosco e nos “abre os olhos ao partir do pão”. No fim da caminhada, quando todo o grupo se reuniu, o padre Paulo conversou connosco, cantando e entregando os papéis da inscrição para as Férias Missionárias.
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Beatriz Moreira & Daniel Neto
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da juventude
44 – fd-Porto Solenidade do Coração de Jesus em família.
Coração solidário
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or iniciativa do Secretariado da Família Dehoniana do Porto, reuniu-se um bom grupo, em Sobrosa, no dia 1 de Julho para a celebração da “festa maior” da família, a Solenidade do Sagrado Coração de Jesus. É já tradição, pois já o fazemos há alguns anos a esta parte. Desta vez não foi em Betânia, mas numa paróquia confiada aos Dehonianos, na pessoa do P.e João de Deus, que alegre, pronta e generosamente acolheu a ideia. O nosso encontro começou com a Eucaristia às 21h00. Quem não pôde chegar para esse momento veio a tempo de tomar parte na Vigília às 21h45. Celebrámos a vigília que nos foi proposta pelo Superior Geral dos Dehonianos, P.e José Ornelas Carvalho e pelo seu Conselho. Foi um óptimo momento de adoração com belos tempos de silêncio, de canto, da Palavra de Deus, das palavras do Padre Dehon, momento esse preparado pela “equipa da casa”, Grupo Missionário e não só… Depois fizemos um convívio nas instalações da casa paroquial para o qual cada um trouxe alguma coisa e deu algo de si mesmo para a partilha, que é o mais importante. Como a mensagem do Superior Geral dos SCJ é “livres e solidários na gestão dos bens”, sugerimos que se trouxesse alguma coisa para partilhar com as crianças, os adolescentes e os jovens na nossa Obra ABC de Rio Tinto. A representar a Obra esteve o P.e José Rosário. Foi uma recolha simbólica mas expressiva da nossa comunhão como Família Dehoniana. Um reencontro interessante foi a de um bom grupo de “jovens” que estiveram na Madeira, nas primeiras Férias Missionárias aí realizadas, em 1998. Foi a nossa maneira de nos revermos e de louvarmos o Coração de Jesus que nos revela o amor de Deus! Precisamos de corações iguais ao d’Ele!
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O P.e Rosário dá a bêncão no fim da vigília.
O P.e João dá as boas-vindas.
As senhoras Manuela e Marília.
Um aspecto do convívio.
Todos participaram em Férias Missionárias na Madeira, em 1998.
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da juventude
jd-Açores – 45 Um breve encontro de reflexão.
A raiz de tudo A
proveitando a passagem por São Miguel do P.e Paulo Vieira, que foi orientar uma manhã de reflexão para os Dehonianos que aqui residem e trabalham, os grupos do Livramento e da Fajã de Cima ligados à Juventude Dehoniana aproveitaram para reunir com o Coordenador Nacional da Pastoral Juvenil Dehoniana. Foi no dia 15 de Junho à noite no Centro Missionário. Estiveram jovens da Fajã de Cima que participaram no XIV Encontro Nacional da Juventude Dehoniana, em Maio, em Alfragide, e os do Livramento que irão, de 14 a 21 de Agosto, ao Encontro Europeu da Juventude Dehoniana (EEJD), em Salamanca, integrado nas Jornadas Mundiais da Juventude (JMJ) de Madrid com o Papa Bento XVI. O tema proposto para reflexão foi o das JMJ – “Enraizados e edificados em Cristo, firmes na fé” – adaptado ao EEJD, o que dá qualquer coisa como “A raiz de tudo no coração”. Lembrámos o que o papa disse aos jovens sobre a fé em Jesus Cristo, vimos como é ser jovem hoje com um breve e elucidativo filme e procurámos compreender como é que a Juventude Dehoniana procura viver tudo isso nos cinco valores dehonianos que a caracterizam. Foi um momento interessante de partilha!
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da juventude
46 – agenda » JD — Nacional Agosto
14-21 − Encontro Europeu da Juventude Dehoniana em Salamanca e JMJ em Madrid.
A ALVD (Associação dos Leigos Voluntários Dehonianos)
Segundo o carisma do padre João Leão Dehon, é uma associação privada voluntária, autónoma, sem fins lucrativos, para o apoio humanitário e desenvolvimento comunitário em espírito de missão, numa dimensão eclesial e vinculada à Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos). A ALVD tem estatutos próprios aprovados pela autoridade civil e pela conferência Episcopal Portuguesa. Objectivos: Intervir em situações de necessidade; Cooperar, em regime de voluntariado, na formação humana, social e cristã nos países em desenvolvimento; Aprofundar a vocação missionária e laical; Actuar de acordo com o espírito dos leigos dehonianos. Projectos no desenvolvimento humanitário e comunitário Área da Educação escolas; envio de professores; apoio de material didáctico. Área da Saúde apoio sanitário e prevenção. Área da Promoção Humana pessoal, familiar, social e de grupo. Área da Evangelização apoio das comunidades cristãs; formação; material didáctico.
» JD — Porto Julho
01 − Solenidade do Coração de Jesus Encontro da Família Dehoniana do Porto. Às 21h00, em Sobrosa. 03 − Dia Solidário – Lar Pinheiro Manso. 16-24 − Férias Missionárias’2011 em Terroso − Póvoa de Varzim.
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Agosto
07 − Dia Solidário – Lar Pinheiro Manso. 14-21 − Encontro Europeu da Juventude Dehoniana em Salamanca e JMJ em Madrid.
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Setembro
04 − Dia Solidário – Lar Pinheiro Manso. 16-18 − Jornadas Missionárias’2011 em Fátima. 25 − Valentíadas’2011 em Betânia.
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am t , ser soli u t s E quere
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DEHUMOR
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INFORMAÇÕES:
Associação dos Leigos Voluntários Dehonianos Rua Cidade Tete, 10 1800-129 LISBOA PORTUGAL Tel. 218540900 / 214707300 valentes@dehonianos.org
“A união interior com o Senhor, é o começo da vida do céu.”
(Padre Dehon) (Padre Dehon)
Não!...Tudo bem... ... só no Céu!
Tudo... o quê? Tá tudo? Tá tudo bem?
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Paulo Vieira
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tempo livre
passatempos – 47
tem piada avarento I
Um avarento parou no semáforo, e chegou-se ao carro um garoto para limpar os vidros. Pensando que ia arranjar uns trocos, diz o miúdo: – Senhor, dê-me uma moedinha para comprar um pão… Ao que replicou imediatamente o condutor: – Não, porque já são sete da noite, e depois perdes o apetite para o jantar!
avarento II
O mesmo avarento pergunta ao filho: – Luís, há quanto tempo estás a chupar esse rebuçado? – Duas horas, pai! – responde o miúdo. – Ok, então já podes tirar o papel.
ilha desconhecida
Pedro e Maria estão num voo para a Austrália para comemorar seu 40.º aniversário de casamento. De repente, o comandante anuncia pelos altifalantes: – Senhoras e senhores, tenho más notícias. Os nossos motores estão a deixar de funcionar e vamos tentar aterrar de emergência. Por sorte, vejo uma ilha não catalogada nos mapas logo abaixo de nós, e, por isso, vamos tentar aterrar na praia. Aterrou com êxito o avião, mas avisou os passageiros: – Isto aqui é o fim do mundo e é muito provável que nós não sejamos resgatados e tenhamos que viver nessa ilha para o resto das nossas vidas! Nesse instante, Pedro pergunta à mulher: – Maria, entregaste o nosso IRS antes de viajarmos? – Ai, perdoa-me Pedro. Eu esqueci-me completamente! Pedro, eufórico, agarra a mulher e dá-lhe o maior beijo de todos os 40 anos de casamento. A Maria não entende e pergunta: – Pedro! Porque me beijaste desta maneira? E ele responde: – Estamos salvos as Finanças vão encontrar-nos!!!
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curiosidades a vírgula
A vírgula pode ser uma pausa… ou não. Não, espere. Não espere. Ela pode sumir com seu dinheiro. 23,4. 2,34. Pode ser autoritária. Aceito, obrigado. Aceito obrigado. Pode criar heróis. Isso só, ele resolve. Isso só ele resolve. E vilões. Esse, juiz, é corrupto. Esse juiz é corrupto. Ela pode ser a solução. Vamos perder, nada foi resolvido. Vamos perder nada, foi resolvido. A vírgula muda uma opinião. Não queremos saber. Não, queremos saber. Uma vírgula muda tudo!
há quanto tempo?
Há quanto tempo o caro leitor não manda “notícias” para A Folha dos Valentes?
quebra-cabeças provérbio escondido O provérbio escondido começa por D e lê-se de seguida de cima para baixo, de baixo para cima, da direita para a esquerda ou da esquerda para a direita.
Um informático vai à conversa com um amigo. O amigo não informático diz: – É pá estás estranho hoje… Não te estou a reconhecer?! Responde o Informático: – É porque ainda não instalaste o meu driver!
Soluções de Junho Figuras dos séculos XX: 1b, 2c, 3b, 4c, 5a, 6a, 7a, 8b
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Paulo Cruz
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É claro que estamos na Internet! Alguns leitores perguntam... Já falámos disso na revista e qualquer “motor de busca” pode levar-vos até os nossos sites e páginas. Para os mais “distraídos”, cá ficam os dados:
A Folha dos Valentes na Internet http://www.dehonianos.org/valentes/index.html
O Site da Pastoral Juvenil e Vocacional dos Dehonianos em Portugal http://www.dehonianos.org/juventude/
A Folha dos Valentes no Faceboock Procura: Valentes Dehonianos
O Site dos Dehonianos em Portugal http://www.dehonianos.org/
To r r e i ra - Ave i r o Procissão do Corpo de Deus na Ria
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