A folha dos Valentes - janeiro 2012

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06. Pedagogia da JUSTIÇA e da PAZ 12. Recordando o P.e AZZOLA 32. Em direção à UNIDADE 35. EMIGRAR: fatalidade ou alternativa? 40. Síndrome da FAMA 44. A preparação do ANO NOVO 46. AGENDA -

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Janeiro 2012 ANO XXXVIV

PUBLICAÇÃO MENSAL DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

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sumário: da actualidade

03 > alerta! > Esperança e confiança 04 > digo eu... > Dos nossos leitores 05 > recortes do Mundo > Univ. Católica em Lichinga 06 > sal da terra > Pedagogia da Justiça e da Paz 07 > cantinho poético > Simples beijo

FICHA TÉCNICA Director: Paulo Vieira Administrador: Ricardo Freire Secretária: Margarida Rocha Redacção: Magda Silva, Marco Costa, Romy Ferreira. Correspondentes: Maria do Espírito Santo (Açores), Amândio Rocha (Angola), André Teixeira (Madeira), Joaquim António (Madagáscar), Emanuel Vítor (Lisboa). Colaboradores: Adérito Barbosa, Alícia Teixeira, Amândio Rocha, André Teixeira, António Augusto, Fátima Pires, Feliciano Garcês, Fernando Ribeiro, Florentino Franco, J. Costa Jorge, João Moura, José Agostinho Sousa, José Armando Silva, José Eduardo Franco, Juan Noite, Jorge Robalinho, Manuel Barbosa, Manuel Mendes, Natália Carolina, Nélio Gouveia, Olinda Silva, Paulo Cruz, Paulo Rocha, Rosário Lapa, Susana Teixeira. Colaboradores nesta Edição: Alberto Bisarro, António Lopes, João Chaves, Jean Paul, Igor André, Pedro Ferreira, Rita Resende. Fotografia: Nélio Gouveia, Paulo Vieira, Lurdes Gonçalves, Victor Vieira. Capa: Ano Novo. Grafismo e Composição: PFV. Impressão: Lusoimpress S. A. - Rua Venceslau Ramos, 28 4430-929 AVINTES * Tel.: 227 877 320 – Fax: 227 877 329 ISSN – 0873-8939 Depósito Legal – 1928/82 ICS – 109239 Tiragem – 3500 exemplares

Associação de Imprensa de I nspiração Cristã

Redacção e Administração: Centro Dehoniano Av. da Boavista, 2423 4100-135 PORTO – PORTUGAL Telefone: 226 174 765 - E-mail: valentes@dehonianos.org

Proprietário e Editor: Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos) Rua Cidade de Tete, 10 - 1800-129 LISBOA Telefone: 218 540 900 - Contribuinte: 500 224 218

da família dehoniana

08 > recortes dehonianos > Notícias SCJ 09 > missões dehonianas > Notícias de Angola 10 > entre nós > Sinais da Família Dehoniana em Moçambique 11 > com Dehon > Ir aos homens 12 > memórias > Recordando o padre Agostinho Azzola 14 > comunidades > Seminário N.ª Sr.ª de Fátima - Ermesinde dos conteúdos

16 > MissãoPress > “Como eu vos fiz” 17 > palavra de vida > Anunciar a Paz 18 > vinde e vereis > Ano Novo, vida nova 19 > onde moras > Guiados por uma estrela 20 > doses de saber > O Livro dos livros 22 > pedras vivas > Maria Alice 24 > espaço escola > Aprender a aprender (II) 26 > leituras > Educação lenta ou vagarosa 28 > sobre a bíblia > Os frutos do Espírito Santo 30 > reflexo > A justiça e a paz 32 > sobre a fé > Cristãos em direção à unidade do mundo

34 > planeta jovem > Cultura universitária 35 > outro ângulo > Emigrar: fatalidade ou alternativa? 36 > novos mundos > A Câmara mais rápida do Mundo 37 > nuances musicais > Música instrumental do bem-estar

38 > cuidar de si > À descoberta de um futuro saudável 40 > dentro de ti > Síndrome da fama

Ajude a revista de acordo com as suas possibilidades!

Envie o seu donativo (cheque ou vale) para: Ce nt ro D e h o n i a n o Av. da Boavista, 2423 — 4100-135 PORTO Tel.: 226 174 765 — E-mail: valentes@dehonianos.org

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da juventude

42 > jd-Açores > Faz do teu coração um Presépio 44 > jd-Porto > A preparação do Ano Novo 46 > jd-nacional > Agenda 47 > tempo livre > Passatempos 48 > imagens > A reter...

IBAN: PT50 0010 0000 1240 8400 0015 9 SWIFT/BIC: BBPIPTPL http://www.dehonianos.org/valentes/index.html . http://www.dehonianos.org/juventude/ http://www.facebook.com . http://valentes.hi5.com valentes_2012_01.indd 2

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da actualidade

alerta! –

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ESPERANÇA E CONFIANÇA Mensalmente A Folha dos Valentes sai do Centro Dehoniano para a gráfica e desta para o correio, em direcção à sua casa. Antes, chegou por correio electrónico, das mais variadas partes do país e do mundo, enviada em peças de puzzle geradas pela generosidade dos articulistas e colaboradores. No que diz respeito à apresentação gráfica este ano não fazemos grandes alterações, mas retocámos o aspecto interior para tornar mais ágil e agradável a leitura. Nos conteúdos apresentamos alguma novidade, quer com alguns novos colaboradores, quer com os temas que procuram ser sempre o mais atuais possível. Estamos num ano que, segundo dizem, é crucial para resolver a crise e certamente dispostos a dar o melhor de nós mesmos, para vivermos os valores que nenhuma crise nos pode roubar, para todos produzirmos mais e andarmos de cabeça erguida e com confiança. Há acontecimentos agendados a nível social e a nível da Igreja (os do ritmo normal, o Ano da Fé…) que acompanharemos, porque são nossos… Entrou em vigor o famigerado acordo ortográfico. Vamos tentar escrever da nova maneira, com as incorreções previsíveis de quem não é especialista, pelas quais, antecipadamente, pedimos desculpa. Queremos, este ano, aumentar ainda a interação com todos vós, nossos leitores e amigos, esperando o vosso feedback, quer da e na nossa presença na Internet e nas redes sociais, quer por email. Estamos abertos a propostas de temas que vos interessem, bem como a publicar as vossas opiniões, notícias e fotos. Interessanos o que vos interessa: informação, formação, partilha, incentivo positivo ao crescimento em todas as dimensões da vida ao estilo dehoniano… Estamos a pensar como potenciar a nossa presença na Internet e nos novos formatos de comunicação… Olhamos o futuro com esperança, com confiança e convidamovos a todos a tomar a mesma atitude. Votos de um bom ano!

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Paulo Vieira

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04 – digo eu... da actualidade

Olá amigos Valentes, Já há algum tempo que não escrevo e aproveito esta época natalícia para dar noticias e também queria actualizar os meus dados. como não podia deixar de ser, quero dar os meus sinceros parabéns pela Folha que está cada vez melhor, as ilustrações são excelentes e os conteúdos são muito interessantes e a própria organização está muito boa. Em relação à actualização dos dados queria dizer que me casei (...) se fôr possivel adicionar o meu e-mail à vossa base de dados para estar atenta às vossas actividades agradeço. Já desde 2009 que não efectuo nenhum donativo para o vosso projecto e aproveito a ocasião para o fazer. Em anexo envio o comprovativo do donativo, relativo a 2010 e 2011. Quero desejar um Bom Natal e um Próspero Ano Novo com muita Paz e Amor a todos os amigos valentes. Os meus sinceros cumprimentos, Claudia Dias – Gondomar

Amigos, Passou mais um ano e aqui estou de novo a mandar a minha ajuda à Folha dos Valentes, com a maior alegria e satisfação, pois é uma revista que de dia para dia aumenta o seu gosto de ler e meditar. Obrigado e bom Ano 2012! Tiago Braga – Madeira

Espero que estejais todos bem, em especial nesta quadra! Ponho agora a minha contribuição para a vossa excelente obra em dia. Para tal envio (…) que sabendo não ser suficiente para os vossos gastos, e muito menos para o valor da revista, mas é o que neste momento posso dispor. Nada substitui a alegria de receber e ler a riqueza de todos os artigos sobre a actualidade, os temas para reflexão, as notícias frescas… nem a televisão nem a Internet!... A Folha dos Valentes ocupa um lugar único na minha vida e na minha família! Dá-nos bons conteúdos, fecundos temas de conversa. Continuem com o mesmo entusiasmo e a mesma competência e criatividade! Que Deus vos continue a abençoar com muitos leitores! Um abraço a todos! Petra Soares – Évora

Aos nossos leitores: Obrigado! Agradecemos as ofertas que nos tendes enviado e de que a nossa publicação tanto necessita. Lembramos novamente de que não devem enviar dinheiro “vivo” em correspondência normal (é proibido por lei!). Na página 2 (no fundo, à esquerda), vai sempre a indicação de como nos podem ajudar: por vale, cheque (em nome de Centro Dehoniano), ou transferência para o NIB indicado! O ano que vai na folha de rosto que acompanha a revista é referente à última oferta que nos chegou. Obrigado!

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Paulo Vieira

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da actualidade

recortes do mundo – A Universidade Católica de Moçambique faz grande esforço para se tornar presente em Lichinga

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UNIVERSIDADE CATÓLICA EM LICHINGA?

A Universidade Católica de Moçambique (UCM) está a fazer No dia 16 de Dezembro de 2011 um grande esforço para se tornar presente em Lichinga. Para realizou-se uma reunião histórica sermos mais justos, deveremos dizer que este sempre foi em ordem à implantação da UCM um desejo do bispo de Lichinga, D. Élio Greselin. aqui em Lichinga, na continuidade de outras anteriores. A delegação da universidade era composta pelo vice-reitor Vilanculos, também director da faculdade de educação e comunicação de Nampula, pelo responsável da zona norte 3 (inclui Niassa, Nampula e Cabo Delgado) e director da Faculdade de Direito de Nampula (P.e Fernão), pelo Dr. Alfândega, da Faculdade de Economia e Gestão da Beira. De Cuamba estavam presentes: o Eng. Nduna, o Dr. Filipe, o jurista Ruben Henrique e o decano da faculdade de agricultura de Cuamba (288 alunos), (Eng. José). A delegação da Diocese era encabeçada pelo bispo da Diocese (D. Élio Greselin), pelo vigário geral, pároco da catedral e membro da comissão instaladora Frases soltas da reunião (P.e Joaquim), pela directora do Centro Polivalente (Ir. – Não podemos apertar o pescoço à faculdade, mas deveVitória), pela administradora da diocese e membro mos ver o que se pode fazer. da comissão instaladora (Ir. Delvina), pelo Director – Tudo começou como acordo entre irmãos. Geral do ESAM e membro da Comissão Instaladora – Reembolso? Empréstimo? Renda? É tudo a mesma coisa? (Dr. Francis), e por mim (Adérito Gomes Barbosa), – É mais um pensamento a menos. como convidado em ordem a apoios futuros de – Milímetro por milímetro. Colocamos gotas de dinheiro. Portugal, sobretudo ao nível da biblioteca. – A presença da UCM pode oferecer mais clientela para o Durante toda a manhã, foram analisados pontos comércio em Lichinga. em ordem à abertura da UCM, já em Fevereiro ou Março de 2012 aqui em Lichinga quer ao nível de – Alugar entre irmãos. instalações, quer ao nível de organização dos diver- – Quem fica mal na fotografia? sos cursos, tendo como estimativa a inscrição de – Não quero perder a universidade por causa do dinheiro. – O zero nunca foi mínimo. 150 alunos. Os cursos que hão-de funcionar serão uma exten- – É preciso idoneidade e competência. são da Faculdade de Agricultura de Cuamba. Ficou – A universidade sempre foi o sonho do bispo. determinado que a UCM em Lichinga arrancasse – Quando o filho nasce, a mãe deve pensar nele no primeiro com três cursos: mês. – Administração Pública; – Quando o filho está a crescer, não pode ser abandonado – Direito; na estrada. – Contabilidade, Gestão e Comércio. – A diocese é uma mãe com muitos filhos. Deve alimentar todos. Não se pode deixar morrer nenhum. – É a primeira vez que nasce esta criança. – Não começar cursos com pessoas coxas.

A reunião terminou sem intervalo, desde as 08h30 até às 13h30 nesta cidade de Lichinga, cujo nome significa curral, por estar rodeada de montanhas, cidade encurralada que tenta abrir-se cada vez mais à cultura.

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Adérito Barbosa

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06 – sal da terra da actualidade

A necessidade de ensinar oa mais novos a constriur a paz

PEDAGOCIA DA JUSTIÇA E DA PAZ Os primeiros dias de cada ano encontram forte inspiração num documento que o Papa escreve para o dia 1 de Janeiro: a Mensagem para a Jornada Mundial da Paz.

As palavras do Papa estão sempre em sintonia com acontecimentos ou iniciativas internacionais e, noutras ocasiões, propõem criativamente atitudes e comportamentos em ordem à construção da paz. E trariam resultados bem evidentes à pacificação entre os povos e entre as nações caso fossem pacientemente concretizadas na história de cada um, das famílias e das nações… No momento em que escrevo, apenas é conhecido o tema da Mensagem do Papa para o dia 1 de Janeiro de 2012. “Educar os jovens para a justiça e para a paz” é a proposta de Bento XVI para a 45ª Jornada Mundial da Paz, a assinalar no primeiro dia de 2012. Do tema pode deduzir-se uma preocupação do Papa neste documento: a pedagogia da paz, a necessidade de ensinar, desde tenras idades, a construir a justiça e a paz. À evidência desta certeza pode juntar-se, com a mesma franqueza, a triste constatação da tardia prioridade dada a projectos que eduquem para a paz. Normalmente a paz é fruto de reacções a situações de contendas e de opções em estado de emergência, o que lhe confere manifesta fragilidade. Olhares à história de muitos conflitos, de maior ou menos alcance, do foro privado ou do âmbito das relações internacionais, imediatamente descobrem sinais de instabilidade em que se sustentam resoluções pacíficas entre pessoas ou entre Estados. Elas são fruto de compromissos,

tensões, cedências, contrapartidas. Raramente se fundamentam em atitudes positivas e decididas em escolher a paz para todos. A inclusão do propósito da paz, em todas as circunstâncias e em qualquer idade, permitirá que, diante do conflito, não se opte apenas pelo possível, evitando o pior ou escolhendo o mal menor, antes se tenha entre as opções a construção da paz, à qual se junta sempre uma outra: a justiça. A pedagogia da paz implica, por isso, a pedagogia da justiça. Obriga ao equilíbrio de forças, à repartição de recursos e à acção justa em qualquer circunstância. O que não se conquista por instinto, antes exige aprendizagem, recusa de reacções primárias e escolha do bem de todos, não apenas o próprio.

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Paulo Rocha

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da actualidade

poesia –

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SIMPLES BEIJO Esses teus beijos Não têm nada que enganar São tão puros São tão justos Sem troca... por troca... São meus escudos Contra tudo... e contra todos… Os obstáculos! Beijos que enchem Qualquer coração São dados com tal porção... Que nos desarmam Baixamos todas as “armas” Cai-nos a máscara... Ficamos sem solução Para o problema Pois o tema Foi desfeito... Com tal efeito Bondoso, Com um simples beijo De uma Criança.

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Jorge Robalinho

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– recortes dehonianos – recortes dehonianos 08 08 da família dehoniana

Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos) DIA DA PROVÍNCIA

A Província Portuguesa da Congregação dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos) teve o seu início a 27 de Dezembro de 1966. Desde há vários anos tem sido habitual realizar-se nesse dia um encontro de todas as comunidades continentais no Seminário de Alfragide. Por razões logísticas, as comunidades da Madeira e dos Açores reunem-se também nesses lugares. É também um de jubileus para os confrades que ao longo de 2011 celebraram 25, 50 e 75 anos de vida, de vida religiosa e de vida sacerdotal. Em Alfragide, as comemorações iniciaram-se com a Eucaristia, presidida pelo nosso confrade dehoniano D. Manuel Quintas, Bispo do Algarve. No final da celebração eucarística, o Superior Provincial, Padre Zeferino Policarpo, entregou uma pequena lembrança aos confrades jubilados. De salientar a presença do Padre Amaro e do Irmão José Manuel, missionários em Angola e Madagáscar, respectivamente. O dia continuou em clima de fraterno convívio e ainda em ambiente natalício, à volta da mesa e com o tradicional jogo do loto. Foi um dia de acção de graças vivido em fraterna união de irmãos que comungam do mesmo carisma, recebido de Deus através do Padre Dehon.

A celebração do dia da Província no Colégio Infante D. Henrique, no Funchal.

MINISTÉRIO DE LEITORES No dia 29 de Novembro em Alfragide, os confrades Eduardo Pereira e Flávio Guido receberam o Ministério de Leitor durante uma cerimónia presidida pelo Superior Provincial. Nela participou toda a comunidade e alguns confrades das comunidades dehonianas da vizinhança. Estes acontecimentos são motivo de alegria para toda a Província, que através destes confrades e da sua entrega generosa celebra a acção do Espírito que nos chama e envia a ser testemunhas do seu amor, conforme nos ensinou o Padre Dehon.

RETIROS Coincidindo Dezembro com quase todo o tempo de Advento, são de referir os momentos intensos de retiro, realizados quer com os religiosos das comunidades quer com os leigos que aproveitaram esses tempos de renovação da vida espiritual. Destaque especial para o retiro conjunto, celebrado em Alfragide no dia 3 de Dezembro sob a orientação do Padre João de Deus, com aqueles que estão em formação inicial: os 14 jovens religiosos de Alfragide, os 2 noviços de Aveiro e os 3 pré-postulantes do Centro Dehonianos. Estiveram também presentes os respectivos formadores, em programa diferente mas partilhando os tempos de oração.

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Desejo-vos um bom ano, vivido solidariamente na fecunda paz do Senhor!

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Manuel Barbosa

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da família dehoniana

missões dehonianas –

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NOTÍCIAS DE ANGOLA Luena – comunidade completa

“A liturgia ou é bela, ou não é liturgia” (K. Rahner). Foi esta mensagem que ecoou nos ouvidos de todos aqueles que no dia 30 de Novembro participaram na inauguração da “Loja de artigos religiosos” na Casa Padre Dehon, em Viana (Angola). Ao longo deste ano, toda a Comunidade Territorial Dehoniana em Angola sentiu necessidade de concretizar este sonho. Com esta iniciativa procuramos responder às necessidades de uma Igreja local onde escasseavam este tipo de artigos: objectos litúrgicos, paramentos e outros artigos religiosos. Deste modo, surge a primeira loja de artigos religiosos-paramentaria “Dehonianos”. Foi inaugurada pelo bispo de Viana D. Joaquim Ferreira Lopes. A cerimónia foi muito simples e ficou marcada pela presença de cerca de meia centena de missionários da Diocese que quiseram juntar-se a nós para assinalar este acontecimento. Logo após os discursos e a bênção, foram abertas as portas e cada participante pôde apreciar os artigos expostos e adquirir alguns. Embora não tenha sido inaugurada no dia 30 de Novembro, mas em meados do mesmo mês, num outro anexo da Casa Padre Dehon, em Viana, abrimos uma escola de Informática “Dinform@”. Conta com 50 alunos inscritos de diversas faixas etárias do Km9/A e arredores. A dimensão social que tanto era acarinhada pelo nosso Fundador, torna-se agora uma realidade aos olhos daqueles que tanto precisam e anseiam por novos conhecimentos. E isto só foi possível graças a algumas entidades colectivas e individuais, que nos ajudaram através do envio de computadores e outros, e que nos últimos tempos têm colaborado no apetrechamento desta escola, nomeadamente a algumas empresas de Portugal e a Associação dos Leigos Voluntários Dehonianos. A todos esses agradecemos de forma especial. Peçamos ao Senhor da messe que nos abençoe nestas novas forma de apostolado e que o Venerável Padre Dehon, a quem dedicamos esta obra, nos dê sempre a coragem de sermos espelho do que ele pediu a cada um de nós, seus religiosos: “Não fazermos apenas bem aquilo que fazemos, mas fazê-lo com amor”.

A comunidade dehoniana de Luena ficou finalmente completa com a chegada do P.e Jean Paul no passado dia 28 de Outubro e do P.e Maggiorino Madella, no passado dia 26 de Novembro, após as respectivas férias nos Camarões e na Itália. A comunidade foi erecta a 11 de Junho 2010 na celebração da Solenidade do Sagrado Coração de Jesus e tomou o nome do seu patrono: Comunidade do Coração de Jesus. Actualmente instalada na proximidade do centro da cidade, ela procura ser um sinal para o povo de Deus que está em Luena. A sua inserção na vida e na pastoral da diocese é bem concreta com a aceitação da paróquia do Sagrado Coração do Capango, uma zona bastante complexo na periferia da cidade. Os desafios são muitos... Na Paróquia é de salientar a caminhada realizada ao longo destes últimos meses, nomeadamente a estruturação, a criação de sectores de atividade, o acompanhamento, o catecumenato, a evangelização, o aprofundar do sentido eclesial e comunitário, a presença e a formação. Deparamo-nos também com alguns desafios concretos e imediatos como a construção da igreja e de algumas estruturas de apoio ao trabalho paroquial. Temos realizado na Paróquia algumas celebrações de sacramentos nomeadamente o Baptismo e a Primeira Comunhão. É uma comunidade em crescimento, cheia de fé e de vontade de caminhar. Além da Paróquia, prestamos outros serviços à diocese: apoio a movimentos, Caritas, direção espiritual no seminário diocesano. No que se refere à comunidade estamos a procurar crescer em fraternidade e estamos empenhados na construção da residência da comunidade, dado que estamos a viver em instalações precárias. O caráter provisório do nosso lugar de habitação recordanos a dimensão provisória da existência humana, que está em “trânsito” neste mundo. No terreno que nos foi doado pela diocese iniciámos as obras de construção de uma oficina que irá servir de apoio à construção da casa da comunidade e, mais tarde, do lar vocacional.

Igor André

Jean Paul

Luanda – loja de artigos religiosos e escola de Informática

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– recortes dehonianos – entre nós 10 08 da família dehoniana

Religiosos, leigos e muita variedade de actividades

SINAIS DA FAMÍLIA DEHONIANA EM MOÇAMBIQUE As voluntárias Patrícia Sales e Catarina Ramalheira estão a colaborar para a formação do Secretariado Diocesano da Pastoral da Diocese de Lichinga, onde o bispo é dehoniano (D. Élio Greselin). Voaram até Nampula para conhecerem outros sinais dehonianos. Em Nampula, há a comunidade dos padres dehonianos (paróquia de S. Pedro) que têm cinco comunidades cristãs para fazerem o acompanhamento religioso, as quais estão ainda divididas em grupos de oração.

Do outro lado da igreja, sempre no Bairro Napipine, na rua 5010, encontra-se a Companhia Missionária, Instituto Secular, fundado por um padre dehoniano italiano: Albino Legante. Estas consagradas têm ainda um grupo de leigos que querem viver a espiritualidade do Padre Dehon, além de algumas jovens aspirantes à vida consagrada. Mas para encontrar o trabalho de outros voluntários (ALVD), “chapámos” (viajar em transporte público) até Alto Molócuè. Aqui começaram os primeiros quatro padres dehonianos em Moçambique a sua obra missionária a 27 de Março de 1947, estendendo-se pouco a pouco para outros lugares nomeadamente para a missão de Nauela, cuja imponente e lindíssima igreja (semelhante à do Molócuè em Malua) é dedicada ao Coração de Jesus. Aqui ao lado de Nauela, encontra-se o seminário de Milevane, por onde passaram grandes formadores, hoje até bispos: D. Manuel Quintas, D. Tomé, D. Élio Greselin, o Superior Geral da Congregação

(P.e José Ornelas Carvalho) e o P.e Cláudio Dalla Zuanna, primeiro conselheiro geral da congregação. Depois passaram por lá também pessoas sem grande projecção como o autor destas linhas. Continuamos a viagem até ao Gurúè, onde se encontra o chamado Centro Polivalente Leão Dehon, que sustenta três áreas: escola profissional, oficinas e a escola média de agropecuária. Quer no Molócuè, quer no Gurúè passaram muitos voluntários ALVD, formando alunos e outros grupos. Como forma mais visível, a ALVD deixou como herança as bibliotecas do Gurúè e Alto Molócuè, dirigidas para o Ensino Secundário, que são hoje muito frequentadas, sem esquecer a biblioteca de Ciências da Educação de Nampula, chamado Centro Cultural Universitário de Napipine. Nampula, 13 de Novembro de 2011

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Adérito Barbosa

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da família dehoniana

com Dehon –

É incrível a actualidade do pensamento do Padre Dehon

IR AOS HOMENS

Apresentamos aqui uns excertos de discursos do Padre Dehon nas conferências romanas, sobre o cristianismo e a sua relação com a sociedade, proferidos nos finais século XIX. A actualidade da visão de Leão Dehon e das suas propostas são incríveis.

“Esta geração pusilânime mudou-nos o Cristo. Já não é o Cristo dos operários, o Cristo que fazia o seu apostolado incessante junto dos pecadores, dos publicanos, dos homens do mundo. O leão de Judá metamorfoseou-se numa ovelha tímida. O nosso Cristo, cujo apostolado vigoroso e forte inspirou o dos Paulos, dos Xavieres e o de todos os conquistadores de almas, virou num homem medroso e fraco que não fala senão às crianças e aos doentes.” Eis até onde foi a ilusão de padres piedosos. Viram crescer o mal. Assistiram à apostasia dum povo inteiro, e eles fizeram… associações de raparigas. E julgaram ler no Evangelho que Nosso Senhor fizera como eles! Tal foi o espírito que reinou em muitas das nossas dioceses, de 1825 ou 1830 até aos nossos dias. E tudo foi organizado neste tom e sobre esta nota: celebrações, pregações e associações. E depois ficamos pasmados que o povo tenha acabado por dizer que a religião é feita para as mulheres e para as crianças! – Por onde começar? Nós respondemos: por vocês! Antes de tudo, padre ou piedoso leigo, é preciso que se metam bem na cabeça que não são feitos só para o assento e para a sacristia; que vocês são pela vossa parte o sal da sociedade e a luz da vida social; que devem ir ter com os homens, tanto e mais do que com as mulheres e as crianças; que é fazer injúria a Cristo agir diversamente; que, por fim, o vosso Mestre e o vosso Modelo agrupou apóstolos e discípulos e que não limitou a sua acção ao apostolado da infância. (…). Se vocês são padres, alguns confrades mais idosos, os quais não conheceram senão os velhos métodos, vão olhar-vos como utopistas. Leigos piedosos e beatas lançarão gemidos sobre a vossa temeridade. Toda esta boa gente não vê com gosto os indiferentes dizerem-nos que a religião é boa para os velhotes, para as mulheres e para as crianças; farão, no entanto, tudo, sem suspeitarem, para que o digam. Não conseguem conceber que o padre saia para outra coisa que não a de ver doentes ou para guiar um cortejo fúnebre, e ficam pasmados quando o povo compara o padre com uma ave funérea. Vão ter com os vivos, vão ter com os homens, e vocês já não vão passar então por triste ave dos funerais. O nosso século tem sede de acção religiosa. A doença aguda da presente sociedade é a ausência de A religião só é boa vida religiosa, é a ausência do padre. Não ouvem para velhos, os seus médicos a diagnosticarem o mal dela? Os filósofos, os pensadores, os economistas dizem-no. para mulheres A sociedade desfalece por falta de religião. É o grito e para as crianças? de todos os homens inteligentes à vista da actual desordem moral. É a Canossa da filosofia racionalista, da política perseguidora e da economia social separada. O povo vê o mal e busca a solução. Cabe a vós oferecer-lha (…). A nossa missão já está traçada: ir aos homens, sobretudo àqueles que não vêm a nós, falar com eles, agrupá-los, e utilizar aquela forma nova da palavra, o jornal, que um S. Paulo não teria faltado em usar, se o seu tempo a tivesse conhecido, e, por fim, ocupar-nos dos interesses económicos e sociais do povo.”

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CRONOLOGIA

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DEHONIANA História da Província Portuguesa

2004 12|Agosto Ereção canónica da Comunidade Territorial SCJ no Km 9, em Angola.

2004 26|Setembro Tomada de posse da paróquia de Nossa Senhora do Rosário, no Km 9, em Angola.

2005 14|Março Tomada de posse da paróquia de Santa Teresa do Menino Jesus no Luau. Início da Missão no Luau (Angola).

2008 21|Setembro Tomada de posse da paróquia de Fânzeres, no Porto.

2010 11|Junho Ereção canónica da Comunidade do Coração de Jesus, em Luena, Angola.

2011 01|Outubro Tomada de posse da paróquia do Cabouco. A comunidade do Centro Missionário deixa o cuidado da paróquia da Atalhada, em S. Miguel, Açores.

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– recortes dehonianos – memórias 12 08 da família dehoniana

Acção educativa, pastoral e missionária, com a marca da música e da alegria

RECORDANDO O PADRE AGOSTINHO AZZOLA A Crónica do Colégio Missionário anota, no dia 25 de Novembro de 1951, a chegada ao Funchal, no navio Carvalho Araújo, de mais três dehonianos italianos: um padre – Agostinho Azzola – e dois religiosos estudantes – António Colombi e Humberto Chiarello –, estes dois que seriam os primeiros de uma longa série de prefeitos ou estagiários, que viriam dar uma preciosa ajuda nas tarefas educativas dos seminários menores. Tinham os três em comum um dote natural: o da música. António Colombi tinha uma linda voz de tenor, Humberto Chiarello era um excelente organista e Agostinho Azzola, além da linda voz, era um exímio mestre de coro. O Padre Agostinho Azzola veio para Portugal com destino à missão de Moçambique. A sua estadia entre nós, que deveria ser relativamente breve, acabou por durar 15 anos, ao que consta por uma homilia ousada em termos político-sociais, que suscitaram reservas e entraves ao seu visto. Nascido a 21 de Abril de 1921 em Albino, Bergamo, terra natal também dos Padres João Baptista Carrara e António Colombi, Agostinho Azzola, desejoso de ser missionário, entrará na Escola Apostólica de Albino já com 15 anos de idade. Trabalhara de padeiro, distribuindo de madrugada o pão fresco pelas casas da freguesia, ao som da sua linda voz. Como ele, mais tarde, gostará de referir-se a esse trabalho humilde e ao perfume do pão fresco da sua juventude! Professou a 29 de Setembro de 1942 e foi ordenado sacerdote no Ano Santo, a 25 de Junho de 1950, com oito colegas de curso. O primeiro ano de sacerdócio foi para completar o curso de teologia, no Studentato de Bolonha, como então era habitual para os recém-ordenados. No Verão de 1951, é destinado a Portugal, com destino final à Missão de Moçambique. E eis o Padre Azzola a oferecer uma das suas mais-valias: a música. Já a 9 de Novembro do ano seguinte, 1952, na inauguração da nova capela do Colégio Missionário, benzida pelo Bispo e com a presença das máximas autoridades da ilha – relata o Cor Unum, revista oficial da Província-mãe, a da Itália – cantou-se a II Pontificalis de Perosi, com o apoio de baixos e tenores do coro dos Antonianos, da paróquia de Santo António, acompanhada pela orquestra da Academia Musical do Funchal, sob a regia do Padre Azzola.

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P.e Agostinho Azzola 1921-1988

Ao Padre Agostinho Azzola se deveu em grande parte uma grande primavera musical e artística nas nossas obras.

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Quantas canções italianas, de montanha, profanas e religiosas, foram traduzidas em português, antes pelo Padre Franchini, outro apaixonado do harmónio e acordeão, e depois pelo Padre Azzola, para serem cantadas pelos alunos nas festas, passeios, convívios e celebrações religiosas! Os professores de português, não italianos, horrorizavam-se com certas heresias gramaticais das traduções, mas, para o fraco entender dos alunos e sua tendência a aceitar tudo o que vinha dos superiores, o que contava era a música, e alegremente se dava pontapés na gramática! Com as missas polifónicas de Perosi, Refici e Caudana, ensaiavamse e apresentavam-se nas festas também operetas, traduzidas do italiano, como a Gare in Montagna e Marco o Pescador, que davam brilho e novidade à monótona vida de seminário e convertiam os alunos em artistas para os amigos e benfeitores e comunidades paroquiais, onde o coro e o grupo teatral do Colégio Missionário eram chamados a actuar. Ao Padre Agostinho Azzola se devia em grande parte essa primavera musical e artística.

Mas não era a música a principal ocupação do Padre Azzola. Nos cinco anos que esteve na Madeira, também leccionou algumas disciplinas; foi director espiritual dos alunos e colaborava generosamente na pastoral. No Verão de 1956, o Padre Agostinho Azzola, sem nunca perder a esperança de realizar o sonho missionário, que a desconfiança política teimava em retardar, foi transferido para a Casa do Sagrado Coração de Jesus de Aveiro, então Seminário Menor, com o cargo de director espiritual, onde permaneceu dois anos. Em 1958, foi transferido, com idêntico cargo, para o Instituto Missionário de Coimbra, assumindo, no triénio 1961-1965, o cargo de Superior. De 1961 a 1964, foi também segundo Conselheiro Regional. Foi nesse tempo de Superior local que, com a ajuda de uma insigne benfeitora, a D. Maria Teresa Barata, se construiu a capela que constitui o ex-libris do Instituto Missionário. A inauguração realizou-se a 23 de Maio de 1965, presidida pelo Núncio Apostólico da altura, Mons. Maximilano de Fürstenberg. Em fins de 1965, graças – consta mais uma vez – às boas informações de amigos potentes da dita benfeitora, o Padre Agostinho Azzola obteve o desejado visto e, no princípio de 1966, pôde finalmente partir para as Missões. Depois de uma breve estadia em Quelimane e Guruè, missionou três anos em Vila Junqueiro, então apenas paróquia; doze anos de novo no Guruè e três anos e meio em Alto Molocuè. Foi Superior Delegado de Vila Junqueiro e, por um sexénio, do Guruè, onde, com a ajuda de familiares e amigos da sua Albino, até pôde construir um pequeno hospital. Preocupado com a formação dos agentes pastorais e a promoção humana do povo, o Padre Azzola dedicou-se com entusiasmo à preparação dos catequistas e a ajudar os nativos nas suas plantações. Os anos difíceis da Independência, com a actuação monopolizadora e controladora do novo Governo de inspiração marxista-leninista, limitarão muito a acção dos missionários. As missões serão expolidas de tudo, mas os Dehonianos permanecerão nos seus postos, procurando dar um novo vulto à Igreja, uma Igreja pobre a partilhar em tudo as condições dos pobres. Nesses anos de privação também para os nativos, o Padre Azzola continuará a envolver os seus parentes e conterrâneos na solidariedade com a Missão, agora a do Alto Molocuè: “Quanto conforto e alívio – dirá na homilia fúnebre o colega de missão, Padre Maffeis – levaste, nos anos de guerra, aos leprosos, aos doentes e desalojados da guerra, a tantas viúvas e pequenos órfãos, quando distribuías remédios, alimentos e roupa, que as tuas zelosas irmãs e benfeitores te mandavam!”. Os anos da guerra civil puseram a dura prova a saúde do Padre Agostinho Azzola. Doente e enfraquecido, conseguiu regressar à Itália em Junho de 1986. Internado de urgência no hospital, conseguirá recuperar, mas apenas por mais um ano, que passará na sua Escola Apostólica de Albino, todo entregue ao ministério das confissões e direcção espiritual dos jovens seminaristas e das Irmãs do local Santuário de Guadalupe. Morrerá a 8 de Março de 1988, com 67 anos. Foi toda uma vida de música, anúncio e solidariedade. Paz à sua alma, e obrigado, Padre Azzola, por teres alegrado a vida de tantos de nós e aliviado a de tantos outros!

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João Chaves

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– recortes dehonianos – comunidades 14 08 da família dehoniana

Presença passageira mas providencial

SEMINÁRIO DE NOSSA SENHORA DE FÁTIMA D Os inícios dos anos sessenta, quanto à definição da presença territorial dos Dehonianos em Portugal, a nível nomeadamente de seminários menores, foram caracterizados pela criatividade e ambiguidade, com o Superior Provincial (da Itália) a ter de intervir para conter a proliferação. Na sua Visita Canónica de Janeiro de 1964 porá, der facto, um ponto final na questão, limitando os seminários menores da então florescente Região Portuguesa a dois: um na Madeira e outro no Continente, a construir preferivelmente na área do Porto.

Em 1953, abrira-se um seminário menor em Aveiro, transferido em 1959 para a Rua Azevedo Coutinho à Boavista, no Porto, a que se dará o nome de Seminário Missionário Padre Dehon. No Verão de 1960, surge a oportunidade de se abrir outro seminário em Salvaterra de Magos; projecto logo descartado. Em Novembro de 1660, abriu-se um pré-seminário menor em Loures, a Casa de Santa Maria. Dois anos mais tarde, em 1962, com a saída dos Dehonianos do Colégio Luís de Camões de Coimbra, abriu-se na mesma cidade o Colégio São João, que chega a receber um excedente de novatos do seminário da Boavista, mas que, por diversas razões, terá apenas um ano de vida. Uma benfeitora chegou a prometer construir um seminário menor para os Dehonianos, no Porto, mas a condição de impor ela mesma a escolha do superior, um dehoniano seu protegido, levou os Superiores a vencer decididamente a tentação. E eis, em 1963, abrir-se nova sede de seminário menor numa quinta de Ermesinde, em Águas Santas, o Seminário Nossa Senhora de Fátima, para acolher os alunos do dito Colégio São João e, sobretudo, os novatos que não teriam espaço no Seminário Missionário Padre Dehon.

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As alternativas que se puseram ao Governo da jovem Região, com o encerramento do Colégio São João, eram a abertura ou de um novo colégio em Coimbra ou de uma nova “escola apostólica” alhures. Custava abandonar um ramo de actividade tão condizente com o carisma da Congregação, e importante do ponto de vista pastoral, como era a escola católica, mas a falta de pessoal, a eminente abertura de um colégio diocesano em Coimbra – o futuro Colégio São Teotónio –, a dificuldade de encontrar nova sede e o problema financeiro levaram a optar pela abertura de uma nova casa nos arredores do Porto. Para essa nova casa até havia pessoal, o do Colégio São João que se fechava; havia cerca de 50 novatos, que não se podia acolher por falta de espaço no seminário da Rua Azevedo Coutinho, e até aparecera uma casa em Ermesinde, a Quinta da Palmeira, na Rua Afonso Henriques, 2002, Águas Santas, capaz de acolher essa meia centena de alunos, quinta essa que os proprietários punham à disposição da Congregação, e gratuitamente por um ano! O Governo Regional aceitou a proposta e o Superior Provincial confirmou-a, impondo que não se excedesse a centena de alunos! Foi assim que nasceu o Seminário Nossa Senhora de Fátima de Ermesinde. Aberto no Verão de 1963, a comunidade religiosa do novo seminário era constituída pelo Padre Gastão Canova, Superior e pelos Padres Ivo Tonelli, fundador da Obra ABC, e Jordão Rodrigues Castanho, o primeiro sacerdote dehoniano português, ordenado havia quatro anos. No ano escolástico 1964-1965, juntar-se-á a esses três Padres como primeiro estagiário – prefeito – desse seminário, o actual bispo dos Açores, D. António de Sousa Braga. Nesse segundo ano (1965-1966), os alunos são 40: 15 no terceiro ano e 25 no pri-

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A DE ERMESINDE

O Seminário Nossa Senhora de Fátima passaria para Alfragide em Novembro de 1969.

meiro; o segundo ano, termo de ciclo, funcionava no seminário da Boavista. Fundou-se uma secretaria de benfeitores e uma revista, elo de ligação com estes, a que foi dado o nome de Aos nossos Amigos e Benfeitores, cujo primeiro número sairá em Janeiro de 1965. No Natal de 1967, os alunos chegarão a editar também um boletim interno, com o sugestivo nome de Asas. As perspectivas de futuro do Seminário Nossa Senhora de Fátima de Ermesinde nunca foram porém das melhores; viverá sempre na provisoriedade. Impunha-se uma solução definitiva para o Seminário Missionário Padre Dehon: a sociedade proprietária do terreno não dava garantias para aumentar o edifício e dotá-lo de espaço e ambientes necessários a uma educação serena e eficaz; daí que a ideia de construir alhures uma nova sede ganhasse força. Por outro lado, também já se sentia a urgência de abrir uma Casa de Formação para os professos estudantes, que até então iam à Itália tirar os cursos de filosofia e teologia, respectivamente em Monza e Bolonha, e uma das soluções era casa de Águas Santas. Estas duas situações acentuavam a provisoriedade do Seminário Nossa Senhora de Fátima de Ermesinde. Por outro lado, o Padre Ivo Tonelli trouxera do Colégio São João alunos da incipiente obra, o ABC. O facto de se dedicar sobretudo a estes e descurar os seminaristas criava frequentes tensões no grupo educador. À incerteza do futuro juntava-se a difícil gestão da Obra. No Conselho Regional de 5 de Maio de 1965, decide-se manter aberta a casa, ou para o curso filosófico ou para acolher os alunos da Casa de Santa Maria, também esta condenada a fechar como seminário menor. O ano escolástico de 1966-1967, já sendo superior o Padre Colombo, abriu com 47 alunos: 16 no terceiro ano, 30 no primeiro e um aspirante a Irmão Coadjutor.

As obras do novo seminário menor da Portelinha, em Fânzeres, iniciaram em Outubro de 1966, e contemporaneamente a ideia de instalar o curso filosófico em Ermesinde foi sendo posta de lado. Já em Setembro desse ano, o Conselho Regional decidira comprar, para o efeito, um terreno em Alfragide. O aproveitamento da casa de Ermesinde para dito curso, por um máximo de dois anos, ainda foi considerada até finais desse 1966, quando a solução do aluguer de uma quinta no Prior Velho, Sacavém, ditou o fim da presença dehoniana em Águas Santas. Para o ano lectivo 1967-1968, o último, entraram 31 novatos, passando a funcionar ali apenas o primeiro ano, em duas turmas. A casa deveria fechar no final desse ano lectivo, como de facto aconteceu. Os últimos alunos seriam distribuídos pelo antigo seminário da Rua Azevedo Coutinho e pelo novo da Portelinha. O nome de Seminário Nossa Senhora de Fátima, com a sua promissora secretaria de benfeitores, passaria para o Escolasticado, que entretanto se abrira, no Verão de 1967, provisoriamente no Prior Velho, e definitivamente em Alfragide em Novembro de 1969. Um dos méritos, portanto, da fugaz presença dehoniana em Ermesinde foi ter permitido, com a sua precariedade, a construção do novo e amplo Seminário Missionário Padre Dehon da Portelinha e ter dado o nome e a base da secretaria de benfeitores do Seminário Nossa Senhora de Fátima de Alfragide. Confirmava-se o ditado de haver males que vêm para bem!

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– recortes dehonianos – MissãoPress 16 08 dos conteúdos

Para um rosto missionário da Igreja em Portugal

“COMO EU VOS FIZ...”

“Uma comunidade evangelizadora sente-se continuamente obrigada a expandir a sua presença missionária em todo o território confiado ao seu cuidado pastoral e também na missão orientada para outros povos”(6).

Convosco, gostava de aprofundar melhor este n.º 6 da Carta Pastoral que fala do Bom Pastor, transparência do amor de Deus. E faço-o sublinhando alguns pontos: 1. O Bom Pastor “chama”. É ele quem vem ao encontro de cada um onde quer que se encontre. Aquele que escuta a Sua voz e se sente interpelado não deixa de fazer aos outros o mesmo convite de Jesus: “Vinde e vede!” (Jo 1, 39). 2. Cada um encontra-se “chamado pelo seu nome”. Trata-se de um “conhecimento recíproco”. Face a uma sociedade favorável ao individualismo, ao anonimato e à etiquetagem numérica das pessoas, é nossa missão promover a pessoa no seu todo para que se sinta parte integrante de uma comunidade. Nesta perspetiva era bom que se levasse a sério a proposta que aparece no Carta Pastoral: “Torna-se necessário fazer surgir na Igreja Portuguesa Centros Missionários Diocesanos (CMD) e Grupos Missionários Paroquiais (GMP) para que em consonância com as OMP e os Centros de animação missionária dos Institutos Missionários, possam fazer com que a missão

universal ganhe corpo em todos os âmbitos da pastoral e da vida cristã” (20). 3. O Bom Pastor caminha “à frente” das ovelhas. A missão leva-nos a “saber aproveitar todas as oportunidades, mas também a saber provocá-las, e lançar mão de capacidades e aptidões, e a saber cultivá-las, para oferecer o Evangelho ao nosso mundo” (26). É fundamental não ter apenas as crianças e os jovens como simples destinatários da ação missionária da Igreja; é preciso olhá-los como agentes dessa ação missionária até ao ponto de terem a ousadia de partilhar a própria fé além-fronteiras. 4. O Bom Pastor “dá a vida pelas suas ovelhas”. É um ideal nobre que urge e exige de nós a entrega da nossa vida. É tarefa do Centro Missionário Diocesano ser “o propulsor da consciência e do empenho missionário da Igreja Diocesana, ajudando-a a viver a sua identidade missionária traduzida no empenho específico do anúncio do Evangelho a todas as pessoas, em toda a parte e imprimindo uma dinâmica missionária a toda a atividade diocesana”(21). 5. O Bom Pastor tem “ainda outras ovelhas que não são deste redil”. A vocação missionária impele-nos a contatar com todas as pessoas que procuram Deus e também com todas aquelas que não pertencem a nenhuma comunidade de fé, empenhando-nos com paixão na chamada primeira evangelização e na “nova evangelização”. É imperioso constituir, preparar e formar grupos consistentes de evangelização, que no coração do mundo, sintam a alegria de levar o Evangelho a todos os sectores da vida, desde a família, à escola, ao trabalho, aos tempos livres, à solidão, à dor. “Cada Igreja particular é responsável de toda a missão” (17). Seria bom que as dioceses portuguesas se abrissem às necessidades das outras Igrejas, partilhando generosamente não apenas os dons, mas também os seus sacerdotes. A Carta Pastoral interpela a todos, bispos, sacerdotes, leigos. Ela lança desafios que devemos encarar com serenidade, com fé e com ardor.

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António Lopes SVD

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palavra de vida – Maria mostra a melhor atitude a tomar perante a grandeza da Encarnação

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ANUNCIAR A PAZ

Desde os tempos do Papa Paulo VI que é assim: o ano começa para os cristãos com o Dia Mundial da Paz. Teve razão Paulo VI quando despertou os cristãos e a Humanidade para a importância de começar cada ano com o renovado compromisso de construir a paz. Temos visto que, cada ano que passa, o apelo é mais válido e actual. Importante é mesmo que o mundo perceba que a paz não pode ser mera boa intenção, mas tarefa e compromisso de cada um dos dias do ano. Paulo VI, João Paulo II ou Bento XVI foram dirigindo ao mundo mensagens duma riqueza ímpar, cada uma delas a reforçar a ideia de que a paz se constrói quotidianamente, com a colaboração e a participação de todos e de cada um. Mais, os Papas inspiraram-se sempre na extraordinária mensagem saída da Gruta de Belém para nos lembrar que a verdadeira paz só se pode encontrar em Deus incarnado, em Deus Menino, nascido, contemplado e adorado na grandeza pobre e humilde de Belém. O ano 2012 que agora começa é agoirado por muitos como ano particularmente difícil, não só por causa da crise, que parece ter vindo para ficar, mas também porque muitos o profetizam como ano da desgraça ou mesmo de “fim do mundo”. Para quem coloca a sua esperança e a sua confiança no Deus nascido em Belém, nenhuma destas profecias mete medo ou abala a vontade de viver e de construir. Um novo ano é sempre uma nova oportunidade que Deus nos dá de caminhar, de sonhar, de acreditar. Não é apenas mais uma página do calendário que se vira, mas um novo calendário que começa. E esse começo deve também significar a renovada vontade de começar, de olhar em frente, de acreditar que o Deus feito Menino continua presente na nossa Humanidade. Esta é a grande mensagem do Evangelho do primeiro dia do ano (Lc 2, 16-21). E Maria mostra-nos a melhor atitude a tomar perante a grandeza do mistério que celebramos no Natal de Jesus.

Maria meditava tudo no seu coração Se é verdade que o ano começa com o Dia Mundial da Paz, também o é que começa sempre sob a invocação da protecção da Virgem Maria, Mãe de Deus e nossa Mãe. O Evangelho é particularmente inspirador desta invocação: Maria aparece como aquela que guardava todas as coisas e as meditava no seu coração. Maravilha-se ao ouvir os pastores contar tudo o que tinham visto e ouvido. E nós sabemos que o anúncio feito aos pastores tinha sido uma mensagem de paz, uma boa nova destinada a todos os povos e nações. Os pastores vêm a Belém para adorar o Senhor da Paz, mas vêm também para anunciar, para partilhar a riqueza da mensagem que lhes havia sido transmitida pelos anjos de Deus. A cena que se passa ali naquela gruta pobre e humilde não deixa ninguém indiferente. Os pastores partilham a sua alegria, Maria acolhe com fé e confiança as palavras vindas de Deus. E nós? No início deste novo ano, somos convidados a ter a mesma atitude de Maria e dos pastores: acolher e meditar no nosso coração todas as palavras vindas de Deus, anunciar bem alto a todas as nações a Boa Nova da Paz. Que 2012 seja para todos um ano de paz e de esperança, iluminado pela Palavra que Deus continua a depositar nos nossos corações.

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José Agostinho Sousa

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– recortes dehonianos – vinde e vereis 18 08 dos conteúdos

O início de um Novo Ano é mais uma oportunidade para deixar-se interpelar

ANO NOVO, VIDA NOVA O “vinde e vereis” ressoa ao longo da nossa vida, nas mais diversas circunstâncias. Ponto é que lhe saibamos dar a devida atenção. A todos aqueles e aquelas que, à semelhança dos dois discípulos de João Baptista, cultivam a curiosidade que a eles os levou a seguir o Mestre e a perguntar-Lhe “onde moras?” – e esse deveria ser o caso de todos nós cristãos – Ele dá a mesma resposta que é, como repetidas vezes temos recordado, o convite “vinde”, logo seguido da garantia “vereis”. As circunstâncias em que o apelo e a garantia se repetem e atingem cada um em particular, essas são múltiplas e diversificadas. Começam sempre por ter em conta a realidade única e irrepetível de cada pessoa. Mas depois desdobram-se na multiplicidade incontável dos momentos e das situações. Desta feita, quereria eu ter em consideração uma circunstância que é igual para todos, mas que em cada um suscita ecos e ressonâncias que só a cada um dizem respeito. Refiro-me à circunstância que acaba de acontecer e que, pela certa, a nenhum de nós deixou indiferente – o início de um novo ano. O início de mais um ano constitui, ou deveria constituir, uma circunstância só por si interpeladora. Costuma dizer-se “ano novo, vida nova”. É assim, com certeza, ao nível das aspirações. Mas sê-lo-á também ao nível daquilo que na realidade acontece? Cada um lá sabe. Mas quantas vezes temos de reconhecer honestamente que até somos capazes de bons desejos e de bons propósitos. Mas, depois... Ora, cingindo-nos à temática desta despretensiosa conversa mensal, queira Deus – e queira também cada um de nós – que o novo ano corresponda, efectivamente, a “vida nova”, que é como quem diz, a novas atitudes, a renovada atenção aos “vinde” que irão pela certa continuar a ressoar nas nossas

consciências. E quem quer que sejamos, qualquer que seja a nossa idade e a nossa situação pessoal, temos de contar com apelos concretos carregados de exigência, a requerer, não só atenção mas total disponibilidade e vontade forte e firme. Sem esquecer que, ao “vinde”, segue-se o “vereis”, este, sim carregado de garantias seguramente gratificantes. E quer “vejamos” a atitude correcta a tomar em cada situação, quer “vejamos” caminhos novos a trilhar e decisões arrojadas a requerer rupturas arrepiantes, uma coisa é certa: Ele garante que “veremos”. E garante também que vale a pena “ver”, tal como valeu para os dois que ouviram aquela resposta à pergunta ingénua e embaraçada: “Mestre, onde moras?”.

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Fernando Ribeiro

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onde moras – A quem tem muito trabalho, sempre se pode pedir um pouco mais...

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GUIADOS POR UMA ESTRELA Um novo ano estamos a iniciar. Peço a Jesus Menino nos conceda a graça de sabermos aproveitar mais esta oportunidade de vida, que voltemos o nosso olhar para Ele, assim como para os valores que podem ser orientadores do nosso caminhar. “Vimos a Sua estrela no oriente e viemos adora-l’O” (Mt 2, 1). O Mestre mora no presépio, despido de tudo, não encontra lugar mais apropriado para nascer… que pobreza!

Mas pobreza que se transforma em riqueza Ele é Rei é o Filho de Deus. Os Reis Magos, percebem o seu nascimento, não esperam, correm à sua procura… perguntam por Ele, arriscam percorrer caminhos desconhecidos, deixam-se guiar pela estrela. E eu? E tu? O que fazemos? Qual a nossa atitude? Tantas estrelas têm aparecido! Ao longo da nossa vida muitas pessoas, se têm cruzado connosco; os pais que me deram a vida, os padrinhos, familiares e amigos que nos têm ajudado a crescer, que vão indicando caminhos, tanta gente que se tem preocupado connosco, com a nossa formação escolar e religiosa, que nos tem ajudado a interiorizar valores naturais e valores cristãos. Tantas estrelas! Que temos feito com tantas oportunidades? Os Magos partiram imediatamente, se não o tivessem feito teriam perdido de vista a estrela que os guiava, andariam a vacilar e possivelmente não encontrariam o Menino. A minha vida e a tua vida também têm sido cheias de oportunidades! Quantas temos perdido? Quantas temos aproveitado?

Quando alguém nos dá um bom conselho, nos avisa, nos chama a uma determinada tarefa, pode ser que seja o Senhor, o Deus Menino que se nos quer manifestar e nos envia essa “estrela” a indicar-nos o caminho. Por vezes ignoramos o que vemos e ouvimos, arrumamos para o lado, que pena! Há muitos momentos na vida que são únicos, há possibilidades que não voltam a acontecer! Quando seguimos outros caminhos que nada tem a ver com os valores cristãos, em vez de nos fortalecer, enfraquecenos, divide-nos, leva-nos à tristeza e ao desânimo, perdemos a verdadeira estrela que nos levaria à felicidade. Que todos tenhamos um ano 2012 repleto de “estrelas” que nos conduzam ao Mestre. Oxalá Ele nos dê a graça de estarmos atentos aos Sinais do AMOR de Deus na nossa vida.

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Fátima Pires

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– recortes – meias doses dehonianos de saber 20 08 dos conteúdos

A Bíblia modelou a construção da Civilização Ocidental

O LIVRO DOS LIVROS

A Bíblia foi considerada durante muitos séculos o Livro dos Livros. Multidões imensas de mulheres e homens inspiraram a sua vida neste Livro Sagrado, muitas nações se ergueram em seu nome, até uma civilização, a Ocidental, tem na Sagrada Escritura um dos seus principais fundamentos. O Cristianismo assenta a sua visão do mundo, a sua doutrina, a sua vida na Bíblia, à qual acrescentou o Novo Testamento ao Velho da religião Judaica. Apesar de erguer o Alcorão como livro fundamental, o Islamismo não deixa de reverenciar os textos bíblicos e as suas grandes figuras de referência consideradas santas e exemplares. O próprio Jesus Cristo, juntamente com sua Mãe Maria, é muito venerado na tradição devocional islâmica, como figuras santas e exemplares. Jesus é considerado um grande profeta, o último maior antes de Maomé, uma espécie de precursor do próprio Maomé. Portanto, estas três marcantes religiões referidas da história da Humanidade – Judaísmo, Cristianismo e Islamismo – têm na Bíblia e nos seus outros livros sagrados uma referência fundamental. Em nome dessa relação umbilical com um Livro fundamental e fundante estas grandes religiões designaram-se no âmbito de uma tipologia geral das religiões como Religiões do Livro. No caso particular da Bíblia, esta ganha para a Civilização Ocidental um significado especial, pois não só modelou a sua construção medieval e moderna, como condicionou, como pano de fundo, o próprio processo de descompartimentação do mundo no dealbar da modernidade. A Bíblia e o seu conceito de nação e de povo eleito modelou a formação dos reinos e futuras nações cristãs independentes, na sequência de desagregação do império romano. O povo hebreu e a ideia bíblica de povo eleito do Antigo Testamento tornou-se referência para a construção das identidades nacionais europeias tendo por referência a teologia que estabelecia a ideia de povo e nação judaica. Portugal, Espanha, França, Polónia e Rússia, só para citar alguns reinos da Cristandade, consideraram-se pela voz dos seus historiadores, teólogos e pregadores povos eleitos da Nova Aliança reivindicando primazia na Cristandade e atribuindo a si uma missão especial no mundo, nomeadamente ao serviço da expansão do cristianismo. Muito à luz desta auto-visão legitimaram todo o processo de expansão imperial que fez destes reinos grandes impérios.

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Conceitos tão importantes como o conceito de progresso têm na base a concepção de história judaico-cristã patente na Bíblia que outras civilizações, marcados por um horizonte mítico de visão circular da história, não tinham.

O impulso que move os portugueses e espanhóis para as viagens marítimas do século XV e do século XV, que constituem o princípio do processo de globalização que hoje vivemos em pleno, teve na base um mandato religioso, um mandato bíblico. Tratava-se do mandato de Cristo dado aos seus Apóstolos depois da Ressurreição e imediatamente antes da sua subida aos céus: “Ide por todo o mundo a anunciai a Boa Nova”. Este ideário funda o Cristianismo como religião que aspira a universalidade e comprometeu a Igreja e os povos que assumiram a religião cristã no sentido de trabalhar incansavelmente para levar a todos os homens de todas as culturas a doutrina do Evangelho. À luz deste ideal universalista tão sonhado e assumido pelos reinos cristãos investiu-se e arriscou-se nas viagens transoceânicas e estabeleceu-se uma comunicação planetária entre povos e civilizações. Nasceu então o mundo global que hoje tanto nos fascina e preocupa.

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À luz do ideal universalista dos primeiros cristãos nasceu o Mundo global que hoje tanto nos fascina e preocupa.

Toda a filosofia europeia medieval e moderna não se fez sem referência ao horizonte de compreensão do homem e mundo ali patente, ora por aproximação, ora por divergência. A Bíblia era, e ainda hoje continua, de algum modo, a ser um livro omnipresente na literatura filosófica, teológica, romanesca e jurídica dos países cristãos. Conceitos tão importantes como o conceito de progresso tem na base da concepção de história judaico-cristã patente na Bíblia que outras civilizações, marcados por um horizonte mítico de visão circular da história, não tinham. A Sagrada Escrita e a História da Salvação que aquela narra estabelece que houve um momento criador da história do mundo protagonizado por Deus, no tempo chamado de protológico, primordial. Depois a partir da experiência inicial de paraíso, idealizada como todos os inícios o são, sucedeu-se o percurso atribulado do homem no tempo e na história real, fora desse espaço ideal, aspirando a uma realização plena, através da graça salvífica de Deus, que atingisse no fim dos tempos um estado de felicidade plena, mas que o homem buscava em crescendo, impulsionado no centro da história pela vinda e ação do Messias Redentor. A visão linear ascendente da história humana na demanda de uma perfeição maior estabelece a ideia de progresso da história do homem. Na Bíblia e na sua filosofia da história encontramos o fundamento da ideia do progresso que o Século das Luzes, o Século XVIII através dos intelectuais franceses da Enciclopédia Universal, como Diderot e Voltaire e a Revolução Francesa, vai endeusar desligando-a muitas vezes da fonte que inspirou este conceito que fez da civilização ocidental uma das mais avançadas que se conhece em toda a história humana.

A Bíblia foi e continua a ser um Livro poderoso que inspirou corações grandes e sonhos largos de humanização do homem através da revelação do divino, como foi também manipulado pelos corações interessados nos assuntos do mundo ao serviço de ideais menos nobres. O Livro dos Livros para os Cristãos, modelado por inspiração divina, traduz a experiência histórica da relação de um dado povo com Deus numa caminhada que se acredita salvadora e portadora de salvação. Sendo um livro que espelha a humanidade na sua grandeza e na miséria, que procura superar-se pela esperança última na redenção final e consumadora de toda a história. Ainda hoje a Bíblia continua a ser a referência para boa parte da Humanidade em todos os continentes da Terra. Transporta um potencial de humanidade e de humanização desde a realização espiritual mais profunda à defesa social dos Direitos do Homem. A Bíblia será sempre aquilo que o coração humano for capaz de fazer com ela, que convida sempre a uma dignidade maior, à passagem da ponte que transfigura a vida à luz de um bem superior.

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Eduardo Franco

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– recortes – pedras vivas dehonianos 22 08 dos conteúdos

Presença serena e atenta

MARIA ALICE “Curioso, nestas terras só se nota progresso onde os Missionários estão presentes”.

Fui. Vi e vivi experiências extraordinárias e regressei. Na bagagem trouxemos, além do computador que nos roubaram num qualquer dos três aeroportos onde passamos, uma infinidade de vivências e de lembranças, que a memória há-de recordar ainda por muito tempo e nos ajudará a ter do mundo e da vida uma visão totalmente renovada. Por isso ninguém estranhará que, desta vez e porventura de outras, te apresente Pedras Vivas desta viagem. Já no mês passado te dizia que me pareciam autênticas Pedras Vivas as sete pessoas que me iriam acompanhar, pela forma como as vi prepararem a viagem. E foram-no, umas um pouco mais que outras como é natural. Falar de qualquer delas seria justo e muito haveria a dizer. Não o faço, porque sei que algumas dessas pessoas não gostam e não querem mesmo que se fale delas e por isso não falo, pelo respeito que me merecem. Poderia falar-te dos meus colegas Padres, do Casal ou de qualquer uma das outras pessoas que me acompanharam. Todas o mereceriam. Mas tive que optar e vou apresentar-te apenas uma. Também não sei se gostará e tenho algum receio que o não quisesse, tão discreta foi sempre…

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Chama-se Maria Alice. Se bem me recordo é das Beiras, já não sei se da Alta se da Baixa, mas sei que há muitos anos vive em Rio de Mouro, na famosa linha de Sintra. Dela, pouco mais sei, mas percebi que foi Professora e que também foi Presidente da Junta de Freguesia diversas vezes. Agora, colabora com o Pároco, no Centro Social da Paróquia, não sei se como braço direito se esquerdo…. Já de alguma idade, quando a conheci no aeroporto de Lisboa, fiquei a pensar que iria ser para ela uma viagem muito dura e que iria ter dificuldade em adaptar-se… Não lho disse e ainda bem, porque se adaptou a tudo muitíssimo bem e a tudo resistiu, sempre serenamente. Bem, em abono da verdade tenho que dizer que houve uma única excepção em que reagiu um tanto precipitadamente, mas logo o reconheceu e pediu desculpa. Nesse dia a viagem tinha sido demasiado longa e dura… Disseram-me que tinha sido eleita para a Junta de Freguesia pelo Partido Comunista. Confesso que ao saber disso fiquei de pé atrás, interrogando-me, sobre as razões que levavam uma “comunista” a uma viagem destas, a uma acção missionária? Preconceito meu, que cedo se desfez. Quem é bom, é bom sempre, mesmo que tenha uma ideologia diferente da minha. E, mesmo sabendo das perseguições aos cristãos e das atrocidades praticadas por regimes comunistas no passado e no presente, onde ainda governam, ela não poderia ser culpada de nada disso.

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São as acções que nos fazem bons ou maus, não é termos esta ou aquela ideologia, esta ou aquela religião… Infelizmente, mesmo entre gente que se diz católica e até muito praticante, há gente má, pelas suas más acções que não pela sua religião, e gente corrupta, não porque a fé corrompa, mas porque se deixa corromper pelo dinheiro ou pelo poder, anulando, deste modo, o desígnio de Deus, que é que todos sejam bons e santos. A Maria Alice ali esteve, sempre atenta, sempre presente, sempre pontual, sempre serena e sorridente, sempre procurando unir e servir, não acusando cansaços das viagens, nem o incómodo do calor e das instalações menos boas, porque sabia que eram as melhores possíveis naquelas paragens. Via e ajuizava, para agir em conformidade. E, penso eu, deixando-se libertar de preconceitos em relação à Igreja, talvez idênticos aos meus em relação ao comunismo, ouvia-a dizer várias vezes: “Curioso, nestas terras só se nota progresso onde os Missionários estão presentes”, “É muito meritória a acção da Igreja em tantas escolas, hospitais, leprosarias, casas de acolhimento de deficientes. A Igreja preocupa-se com tudo, até em dar trabalho a tanta gente...”. Esteve em todas as celebrações, com toda a dignidade, até no modo de vestir, apesar do intenso calor, e com imenso respeito por todos. Só não comungou, e ainda bem, para não ser hipócrita. Mas pode ser que ter ido e ter visto tudo o que vimos, faça que um dia venha a desejar comungar, para tal se prepare e venha a fazê-lo, então, conscientemente, assumindo o dom da fé, que Deus dá, gratuitamente, àqueles que lhe vão abrindo o coração.

No fim, em jeito de despedida, disse-lhe que gostei muito de a conhecer. E gostei mesmo. E não sendo ainda uma cristã na plenitude da comunhão, por não participar da comunhão sacramental, como o Pároco permanentemente lho lembrava, não hesitei em escolhê-la para Pedra Viva deste primeiro mês do ano. A Igreja, enquanto família de Deus, vai muito para além do número dos praticantes e até do número dos Baptizados, porque também é formada por aqueles que andam em busca da Verdade. Não sei se a Maria Alice algum dia lerá estas linhas. Se o fizer, quero dizer-lhe, à boa maneira beirã: “Bem-haja, Maria Alice, pela forma serena como aceitou todas as contrariedades e incómodos desta viagem, pelo modo linear e sem preconceitos como soube ver e valorar a presença da Igreja, pelo testemunho de respeito pela fé daqueles que a acompanhavam e daqueles que lá a celebravam. Aceite estas linhas como homenagem e gratidão pelo que me ensinou, nos poucos momentos em que fomos conversando. Um abraço muito grato e amigo”. E para ela, assim como para todos os nossos caríssimos leitores, votos de um Feliz Ano Novo, muito abençoado por Deus, em que pela alegria, pela partilha, pela paz e pelo amor que formos partilhando se dê um valente pontapé à crise, porque nenhuma crise é eterna e nós precisamos que ela nos deixe, para podermos viver…

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António Augusto

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– recortes dehonianos – espaço escola 24 08 dos conteúdos

É preciso aprender antes de ensinar

APRENDER A APRENDER (II)

Aprender a aprender? Continuando o discurso anterior, na verdade, o que é isso de aprender a aprender? Como podemos quebrar paradigmas se não conseguimos sequer preparar a lição de casa? Como podemos aceitar aos alunos uma má leitura ou péssima escrita e aprová-los contrariando, por vezes, regras e orientações superiores? Onde está o erro e por que razão não o evitamos? Por que razão continuamos a errar cada vez mais e deixamos os jovens à beira do analfabetismo? Por que razão temos de discriminar entre jovens que têm condições e os que não as têm? A solução para o problema terá de ficar cada vez mais enraizada na cultura?

Educação é para todos! E é para todos, também, para lhe darmos valor positivo. Sejamos os agentes da mudança para que o futuro e o dos nossos jovens seja cada vez mais sério e risonho. ”Aprender a aprender”, exige muito dos alunos que, na escola, e em casa, querem estudar, e muito, também, dos professores que têm de estar atentos, seriamente corretos e exigentes. Exige-se muita dedicação e “savoir faire” tendo, nas suas mentes, que o aluno precisa de apoio, e as estruturas educativas lhes devem dar os meios para o exercício do seu trabalho. Dedicar e dedicar-se são os meios reais para a tarefa dos professores, que devem animar os alunos a ser como eles esforçados. Uma vida inteira de dedicação a ensinar dá para aprender e veicular saberes… Aprende-se muito ao longo dos anos! O professor deve ser um génio em didática a fim de transmitir saberes e estratégias, de modo a que os estudantes assimilem dados e saibam criar saberes e passar o seu testemundo, valorizando as estratégias utilizadas. Só assim poderão os alunos saber aplicar o que os seus professores lhes transmitem. Os professores devem passar o testemunho aos seus alunos, parte dos quais aplicarão os saberes apreendidos e aprendidos como, também, pais e mães.

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Para ensinar alguém a «aprender a aprender» é necessário paciência, tempo e interesse do aprendiz. «Aprender a aprender» é passar um testemunho de eficácia para pais e pedagogos, beneficiando os alunos ou estudantes que, porventura, continuarão a guiar futuros alunos e fazer deles peritos da educação. É preciso, sem dúvida, aprender antes de ensinar. Só com fórmulas mágicas de «aprender a aprender», alguém poderá entrar num mundo que, até há pouco tempo. era desconhecido. Daí me arrisco a tamanho desafio. «E é exatamente este o desafio que me fará «aprender a aprender», pois sou uma jovem de setenta e dois anos» - testemunha que terá de competir com jovens licenciados nas tecnologias e tudo o que este mundo oferece. Aceitei o desafio e terei que «aprender a aprender!» É novo, mas faz com que eu queira aprender». Sou estudante universitário, curso Física, mas o que posso dizer para acrescentar a discussão, é apenas concordar. Iniciei um curso completamente estimulado com o espírito aberto

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para novos horizontes, cheio de espetativas e o resultado foi apenas frustrações. Estou desiludido com estas aulas enfadonhas, ressalto que não tenho o mesmo sentimento com relação a ciência Física; esta já provou, ao longo dos séculos, a sua utilidade. Mas, para concluir: o que trouxe de melhor da faculdade foi a capacidade que um dos meus colegas citou: “aprender a aprender”: sinto, que uma vez explorada esta que talvez seja a maior de todas as ciências, as outras possam ser ensinadas nas escolas, como exemplos de busca pelo conhecimento. Hoje é preciso descobrir a fórmula mágica de «aprender a aprender», para entrar num mundo que até há pouco tempo me era desconhecido. Daí, deparo com este desafio, e é exatamente ele que me fará «aprender a aprender».

Uma vida inteira de dedicação a ensinar dá para aprender e veicular saberes...

PENSAR

• Estimular o trabalho de grupo. • Ajudar colegas com dificuldades.

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Manuel Mendes

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– recortes dehonianos – leituras 26 08 dos conteúdos

A educação requer paciência, tranquilidade e lentidão

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EDUCAÇÃO Se formos ver algumas reformas escolares, constataremos que a aceleração, a sobrecarga, a pressão do tempo e a sua organização sufocam o professor. O valor da educação como conquista social é fundamental. A educação é um direito de cada cidadão. Às vezes nesta questão da educação, alguns procuram o prestígio, a selecção, o poder, esquecendo os valores humanos valorizados pela educação. Ensinam-se muitas coisas e depressa, em vez de uma educação melhor. Muitas vezes, a educação ocupou horas livres da escola para compensar a escolaridade obrigatória. Isto não tem sentido. Os resultados limitam-se quando para nós conta mais a velocidade do que a substância. É que o ritmo veloz, os objectivos a breve prazo, a pressão sobre os resultados, um currículo standardizado produzem situações insustentáveis, perca de criatividade, stress nos alunos e docentes, resultados modestos a médio e longo prazo. Fazer um elogio da educação lenta tem sentido enquanto representa um elogio de um modelo educativo, entendido como elemento chave no processo de humanização da sociedade. Fazer um bom percurso educativo é um antídoto contra a ignorância, contra a desigualdade, contra a violência, contra a submissão, contra a alienação. Na actual sociedade do conhecimento, com ameaças e oportunidades, o papel da educação e dos educadores é de máxima importância. Os educadores são fundamentais nesta sociedade. Para um bom processo da educação é preciso reduzir a velocidade. A velocidade faz perder o sentido, o gosto e o prazer das coisas. Comemos rapidamente e não sabemos nem o que comemos. Quando se viaja a grande velocidade não se goza a paisagem. Não pensamos nem reflectimos, transformámo-nos num robot ou num automático. Trechera escreve que a tartaruga anda sem pressa, mas sem parar: quem vai devagar vai longe.

O valor da educação como conquista social é fundamental. A educação é um direito de cada cidadão. Às vezes nesta questão da educação, alguns procuram o prestígio, a selecção, o poder, esquecendo os valores humanos valorizados pela educação.

Elogio da educação lenta O autor espanhol Joan Domènech Francesh que acaba de lançar um livro sobre a educação lenta. nA educação é uma actividade lenta. Os processos educativos são lentos, para que as aprendizagens reentrem num percurso que passa pela multiplicidade de estádios e de momentos. Contempla as aprendizagens diferentes: aprender a ler, aprender a escrever, aprender um trabalho ou aprender a relacionar-se com o resto da humanidade… A educação requer paciência, tranquilidade e lentidão. Há algumas coisas que têm de se aprender rapidamente: o funcionamento de uma máquina, a aplicação de uma fórmula, a memorização de um dado concreto… No entanto, aprender é um processo. A lentidão tem mais sentido hoje na época em que vivemos; uma época em que vigoram os conceitos de educação permanente e aprender a aprender. É que mais, antes de mais, primeiro, mais rápido, não são sinónimos de melhor. Uma escola da lentidão é uma escola que dá importância às aprendizagens realizadas em profundidade, e representa um modelo oposto à escola centrada sobre provas e exames; recusa a aprendizagem de conhecimentos que serão esquecidos com a mesma facilidade com que foram aprendidos.

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L


LENTA

OU

VAGAROSA

Um novo olhar da educação A escola deve ser pública, democrática e inclusiva. Deve favorecer a aprendizagem e ter em conta a criança. Deve poder responder às suas capacidades e aos seus interesses e deve contribuir para formar e educar cidadãos. O futuro desta educação deve passar por um respeito muito maior dos ritmos e das qualidades do tempo. A sociedade está a andar a um ritmo louco. Se não sairmos deste comboio estaremos excluídos para sempre. É preciso encontrar o tempo certo. O tempo dos acontecimentos deve ser um objectivo de todos os professores da educação, da sociedade, para melhorar os processos e adaptá-los às necessidades actuais. É importante um novo olhar sobre o tempo e a influência nos processos educativos, um repensamento individual e colectivo sobre a escola, sobre a família e sobre a sociedade. Os protagonistas deste novo olhar devem ser antes de mais os educadores, mas também todos os cidadãos. A educação deve levar a uma mudança que influencie os comportamentos das pessoas e restitua à educação o seu profundo significado de emancipação e de cultura. É muito importante o factor emocional. A educação lenta é uma corrente de pensamento, um caminho em que se podem associar instituições educativas, grupos, escolas sectores da população para favorecer a reflexão individual e colectiva. A educação lenta supõe um modelo de interpretação da realidade que não abandona a utopia.

Utopia, educação lenta e movimento slow Os movimentos da educação lenta são uma manifestação de resistência a fenómenos como o consumismo… Na Carta Constitutiva do movimento Città Slow recolhe-se a ideia que se deve promover o estilo de vida lento através da educação e da divulgação do conceito. O movimento slow food sustem que as escolas têm adoptado os seus princípios para mudar os hábitos alimentares dos refeitórios das escolas. A educação pode contribuir a promover modelos, práticas, pensamentos, e acções à volta dos valores que estes movimentos defendem. O papel da educação é fundamental no desenvolvimento da sociedade do conhecimento.

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Adérito Barbosa

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– recortes – sobre a bíbliadehonianos 28 08 dos conteúdos

Natal sem anjos, nem pastores, nem magos...

OS FRUTOS D

Na Carta de S. Paulo aos Gálatas, um escrito que visa sobretudo apontar para a justificação pela fé, sem as obras da Lei de Moisés (cf. Gl 2, 16), depois de resolvida essa questão, o Apóstolo dos Gentios – como o próprio Paulo se apelidará noutro escrito posterior (cf. Rm 11, 13) – apresenta o caminho da vida cristã. Aí, entrarão as obras, porém não propriamente as obras específicas da Lei de Moisés e nem sequer como factores da justificação do Homem, mas como fruto dessa mesma justificação já realizada pelo Mistério Pascal de Cristo.

Doutrina da Justificação Mesmo se este não é o momento nem o espaço específico para falar da justificação pela fé, importa clarificar a terminologia que muito serve para compreender outras problemáticas paulinas. Como a palavra indica, justificação significa “tornar justo”. Na Sagrada Escritura, a justiça não é apenas uma qualidade ética da pessoa humana, mas tem valor de santidade, uma vez que o verdadeiro justo é o próprio Deus e late bem forte a pergunta de Job: “Como poderia o homem justificar-se diante de Deus?” (Jb 9, 1). Neste texto que acabámos de citar, Job demonstra que Deus está infinitamente para lá daquilo que o Homem pode pensar e realizar; desse modo, por muito esforço que fizesse, o mesmo Homem nunca poderá justificar-se diante de Deus, isto é, ganhar a batalha judicial contra Deus, porque Ele é infinitamente justo. A resolução paulina vai no sentido da reflexão sapiencial de Job: o Homem não se poderá justificar a si mesmo, ainda que pela prática mais perfeita da Lei de Moisés, dom de Deus ao Povo de Israel; torna-se necessária a intervenção divina, que acontece com a morte de Cristo, na cruz.

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Caminho de Liberdade: opção pelo Espírito A este ponto, será que Paulo propõe uma vida vazia de obras boas? Bastará por si só a intervenção de Deus? Pensamos estar em condições de mostrar que não, que Paulo proporá essas obras, sobretudo as obras da Lei do Amor cristão (cf. Gl 5, 1314: “pelo amor, fazei-vos servos uns dos outros. É que toda a Lei [de Moisés] se cumpre plenamente nesta única palavra: «Ama o teu próximo como a ti mesmo.»”), mas como fruto da acção do Espírito Santo em nós. Esta é, efectivamente, a problemática de Gl 5, 13-25, onde são apresentadas as obras da carne e as obras do Espírito. Paulo adverte os cristãos da Galácia que o cristianismo que conscientemente abraçaram deve ser um caminho de liberdade. Automaticamente, pensaríamos numa liberdade desenfreada de fazer o que se quer; Paulo terá pensado no mesmo perigo e, por isso, acrescenta logo: “Não deveis deixar que essa liberdade se torne numa ocasião para os vossos apetites carnais” (Gl 5, 13); e, um pouco depois, adverte: “Caminhai no Espírito, e não realizareis os apetites carnais.” Na verdade, para este Apóstolo é impensável que, tendo aderido à cruz de Cristo e, portanto, tendo recebido o Espírito (cf. Gl 4, 6), o cristão não se deixe guiar por esse mesmo Espírito e ceda ainda à vida que levava anteriormente (pense-se que Paulo escreve a cristãos maioritariamente convertidos do paganismo, agora atormentados por cristãos judaizantes!). É neste sentido, e com grande solicitude pastoral, que Paulo vai instruir os Gálatas sobre quais são as obras da carne (Gl 5, 19-21: fornicação, impureza, devassidão, idolatria, feitiçaria, inimizades, contenda, ciúme, fúrias, ambições, discórdias, partidarismos, invejas, bebedeiras, orgias e coisas semelhantes a estas) e quais são as obras do Espírito (Gl 5, 22-23: amor, alegria, paz, paciência, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, auto-domínio). Paulo chama-lhes as “obras [= trabalhos] do Espírito”; a Doutrina Cristã haveria de os catalogar como “frutos do Espírito”. Bem diz o povo, repetindo um dito de Jesus: “Pelos frutos se conhece a árvore!” (Lc 6, 44). Este último ditado popular parece estar em consonância com a doutrina paulina da Carta aos Gálatas, se

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S DO ESPÍRITO SANTO “O Verbo fez-se carne e habitou no meio de nós”. (Jo 1, 14)

pensarmos que este pequeno passo bíblico termina com uma exortação: “Se vivemos no Espírito, sigamos também o Espírito” (Gl 5, 25). Se o cristão dá frutos do Espírito – seguindo a terminologia paulina, diríamos, se o cristão deixar (porque de liberdade humana se trata) que o Espírito trabalhe nele – então será conhecido como árvore do Espírito. Na medida em que fizesse escolhas contrárias às do Espírito Santo – ou seja, pela carne – pertenceria à carne.

Frutos do Espírito noutros textos bíblicos A terminar, gostaríamos de mostrar como esta doutrina – mesmo que não de forma tão explícita como no elenco paulino – está subjacente a outros textos bíblicos. Pensa-se concretamente em Jo 15, a alegoria da videira, que transmite uma mensagem da necessidade de estar unidos à videira que é Jesus Cristo, para que a seiva possa passar e os ramos possam, por um lado, ter vida e, por outro, dar fruto, depois de podados. No contexto de Jo 15, conseguimos elucidar de que forma podemos cultivar estes frutos do Espírito: é pela permanência de Jesus e das suas palavras em nós que podemos dar fruto e, no contexto da oração, poderemos pedir o que quisermos e recebê-lo. Um texto muito semelhante, em pleno Discurso da Montanha, mostra explicitamente que “uma árvore boa nunca pode produzir maus frutos” e vice versa (Mt 7, 17-18). A recomendação de Jesus orienta-se noutro sentido: acautelar-se dos falsos profetas; se profetizam falsidades, não podem ter origem na Verdade. E dirá: “A boca fala da abundância do coração” (Mt 12, 34), mostrando que as palavras que dizemos são também fruto da acção do Espírito em nós. O caminho cristão afigura-se, assim, como estrada de liberdade e de discernimento profundo, para caminhar no Espírito e à luz da Palavra de Deus; tal discernimento requer profunda atenção e sobretudo uma grande educação da vontade, para se poder corresponder ao Espírito Santo que nos foi dado e, ao mesmo tempo, pelos frutos – que pretendemos sejam os do Espírito Santo – sermos também nós reconhecidos como habitação do Espírito Santo que nos foi dado.

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Ricardo Freire

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– recortes dehonianos – reflexo 30 08 dos conteúdos

Os jovens devem ser exemplo e estímulo para os adultos

A JUSTIÇA E A PAZ Sabias que: Acabámos o tempo de Natal e, como foi sugerido no mês passado, olhámos para a família de Nazaré e os valores humanos que neles eram vividos. O Papa Bento XVI na mensagem para o dia mundial da paz escolheu o tema “educar os jovens para a justiça e para a paz”. O objectivo, neste momento tão obscuro da nossa história, foi dar a esta mensagem uma “perspectiva educativa: “Educar os jovens para a justiça e a paz”, convencido de que eles podem, com o seu entusiasmo e idealismo, oferecer uma nova esperança ao mundo”. Esta mensagem dirige-se a todos os agentes educativos, de modo especial às famílias. A educação das gerações mais novas merece toda a atenção. Vivemos num contexto histórico muito singular. Tantas certezas que deixaram de o ser, o futuro está cheio de indefinições. “As preocupações manifestadas por muitos jovens nestes últimos tempos, em várias regiões do mundo, exprimem o desejo de poder olhar para o futuro com fundada esperança. Na hora actual, muitos são os aspectos que os trazem apreensivos: o desejo de receber uma formação que os prepare de maneira mais profunda para enfrentar a realidade, a dificuldade de formar uma família e encontrar um emprego estável, a capacidade efectiva de intervir no mundo da política, da cultura e da economia contribuindo para a construção duma sociedade de rosto mais humano e solidário”. Sem dúvida que será necessário mudar quanto à educação das jovens gerações. Como refere o papa é necessário que o testemunho dos agentes de formação e educação seja um dos pilares da educação. Da parte dos educandos que haja a abertura e disponibilidade para acolher os ensinamentos e transmissão de valores. Nesta transmissão de valores os meios de comunicação social têm um papel fundamental, porque ocupam grande parte do tempo dos

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jovens. Por isso o Papa faz o apelo: “não posso deixar de fazer apelo ainda ao mundo dos media para que prestem a sua contribuição educativa. Na sociedade actual, os meios de comunicação de massa têm uma função particular: não só informam, mas também formam o espírito dos seus destinatários e, consequentemente, podem concorrer notavelmente para a educação dos jovens. É importante ter presente a ligação estreitíssima que existe entre educação e comunicação: de facto, a educação realiza-se por meio da comunicação, que influi positiva ou negativamente na formação da pessoa”. Termina a sua mensagem com um desafio a todos os jovens: “jovens, vós sois um dom precioso para a sociedade. Diante das dificuldades, não vos deixeis invadir pelo desânimo nem vos abandoneis a falsas soluções, que frequentemente se apresentam como o caminho mais fácil para superar os problemas. Não tenhais medo de vos empenhar, de enfrentar a fadiga e o sacrifício, de optar por caminhos que requerem fidelidade e constância, humildade e dedicação. Vivei com confiança a vossa juventude e os anseios profundos que sentis de felicidade, verdade, beleza e amor verdadeiro. Vivei intensamente esta fase da vida, tão rica e cheia de entusiasmo. Sabei que vós mesmos servis de exemplo e estímulo para os adultos, e tanto mais o sereis quanto mais vos esforçardes por superar as injustiças e a corrupção, quanto mais desejardes um futuro melhor e vos comprometerdes a construí-lo. Cientes das vossas potencialidades, nunca vos fecheis em vós próprios, mas trabalhai por um futuro mais luminoso para todos. Nunca vos sintais sozinhos! A Igreja confia em vós, acompanha-vos, encoraja-vos e deseja oferecer-vos o que tem de mais precioso: a possibilidade de levantar os olhos para Deus, de encontrar Jesus Cristo – Ele que é a justiça e a paz”.

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A Palavra de Deus diz: Mt 5, 13-16. Todos os cristãos devem sentir-se como sal da terra e luz do mundo. O cristão é sal porque consegue dar sabor a tudo o que acontece, espalha a sabedoria de Deus a todos, leva a bondade onde existe ódio e rancor. Procura impedir que a sociedade se corrompa, e faz que ela não se deixe conduzir por princípios maus. Num mundo onde cada vez mais se procura o próprio interesse, o cristão é chamado a ser luz que ilumina os seus caminhos e o dos irmãos.

Faz silêncio e reza: Procura um local sossegado. Procura a Mensagem para o XLV Dia Mundial da Paz. Da Mensagem que aspectos achas que são úteis para ti? Em que te vais empenhar? Faz uma oração a Deus

Tenho de: Todo o cristão deve espalhar a luz que há em si, que é a luz de Jesus Cristo. Não nos escondamos, nem escondamos a luz. Procura viver intensamente a tua fé, e não ser cristão uns dias e outros não, nuns momentos e noutros deixar de o ser.

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Feliciano Garcês

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32 – sobre a fé dos conteúdos

As atitudes ações em direção à unidade dos cristãos é um desafio e uma responsabilidade de todos

CRISTÃOS EM DIREÇÃO À UNIDADE

ECUMENISMO A nível eclesial, desde há muitos anos, o mês de Janeiro é dedicado à oração pela unidade da Igreja e de todos os cristãos, bem como à consciencialização, por parte destes, para a necessidade de superar aquelas divisões que são motivo de escândalo para todos. Para dar seguimento a este desafio, que na atualidade se tornou uma prioridade eclesial, nasceu o movimento ecuménico, ou o ecumenismo. O ecumenismo é um conceito grego que, segundo a opinião do teólogo Borges de Pinho, designa o conjunto de atitudes e ações empreendidas pelas diferentes Confissões cristãs no sentido da realização da unidade da Igreja, em fidelidade às exigências do Evangelho e na progressiva percepção de tudo quanto têm de comum, apesar das diferenças de ordem histórica, cultural, doutrinal, institucional, que possam existir entre elas. Trata-se, portanto, de um movimento, cujos impulsos iniciais emergiram na primeira metade do séc. XIX (sobretudo no “campo não católico”) e que procura, através das mais diversas iniciativas, incentivar e encetar caminhos no sentido de favorecer a comunhão entre os cristãos e das Confissões cristãs (Cf. Ecumenismo: situação e perspectivas, 15). Mas, foi só no séc. XX que o termo ecumenismo adquiriu um sentido preciso no vocabulário teológico e eclesial e que o movimento ecuménico adquiriu expressão e se afirmou no espaço eclesial.

O MOVIMENTO ECUMÉNICO E O VATICANO II No “campo católico”, apesar das iniciativas pontuais e do trabalho pioneiro de alguns teólogos e comunidades (principalmente monásticas), a Igreja católica permaneceu durante muito tempo numa posição oficial de grande reserva, até mesmo de recusa, face ao movimento ecuménico. Assim, a plena aceitação e integração – de espírito e de prática – da Igreja católica no movimento ecuménico mais amplo aconteceu com a celebração do Concílio Vaticano II e com a reflexão aí produzida, que não só situou a temática ecuménica como deu orientações teológicas e pastorais (Cf. Ecumenismo: situação e perspectivas, 45 e 51).

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A importância ecuménica do Concílio Vaticano II manifestou-se directamente no Decreto sobre o Ecumenismo, intitulado Unitatis Redintegratio, cujo conteúdo está profundamente ligado à renovação eclesiológica, ou seja, a uma renovada visão eclesial (expressa na Constituição Lumen Gentium) e à revalorização de determinados aspectos que sempre estiveram presentes e caracterizaram a Igreja. Por movimento ecuménico, esclarece o Concílio Vaticano II, deve entender-se aquelas actividades e iniciativas que se empreendem e que têm por objectivo fomentar a unidade dos cristãos conforme as diversas necessidades da Igreja e as diferentes circunstâncias dos tempos. Portanto, o movimento ecuménico deve promover, em primeiro lugar, todos os esforços para eliminar palavras, juízos e atitudes que não correspondem – em justiça e em verdade – à condição dos irmãos separados e que tornam mais difíceis as relações com eles; e, em segundo lugar, possibilitar e incentivar o diálogo estabelecido entre peritos competentes em reuniões de cristãos de diversas Igrejas ou comunidades, celebradas com espírito religioso, em que cada um explica com maior profundidade a doutrina da sua comunhão e apresenta com clareza as suas caraterísticas.

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No seguimento destas notas, o Decreto conciliar Unitatis Redintegratio recorda que a restauração da união é um problema de toda a Igreja e que deve ser uma preocupação de todos os fiéis e pastores, que afecta cada um segundo as suas próprias qualidades, tanto na vida cristã quotidiana como nas investigações teológicas e históricas (Cf. UR 5). Neste sentido, a questão ecuménica, deve perpassar toda a vida e actividade da Igreja e para realçar isto mesmo, o documento aponta aqueles aspectos, onde se deve efectuar o ecumenismo. Primeiramente, a prática do ecumenismo passa por uma atitude de constante renovação da Igreja e pela conversão do coração e renovação das mentalidades, pois não pode haver verdadeiro ecumenismo sem conversão interior (Cf. UR 6 e 7). Depois, o ecumenismo concretiza-se na oração em comum. Trata-se, portanto, dum contributo não impossível, mas possível a todos os cristãos e de grande benefício para o Corpo de Cristo. Na verdade, refere o texto: “a conversão do coração e a santidade de vida, juntamente com a oração privada e pública pela unidade dos cristãos, devem ser consideradas como a alma de todo o movimento ecuménico” (UR 8).

Continua o documento, a prática do ecumenismo concretiza-se em algo mais: através do conhecimento mútuo dos Irmãos, na educação e formação para o ecumenismo (Cf. UR 9 e 10). Intimamente relacionado com aquilo que se disse acima, o ecumenismo concretiza-se também no modo de expressar e de expor a doutrina da fé católica, que deve ser dita com clareza, verdade e humildade (Cf. UR 11). Por último, a prática do ecumenismo deve passar pela cooperação com os irmãos separados. Neste sentido, hoje, recorda o Concílio, “a cooperação social organiza-se de uma forma alargada e todos são chamados a uma acção comum; com maior razão os que crêem em Deus, sobretudo os cristãos assinalados com o nome de Cristo.” Esta “cooperação de todos os cristãos é a expressão viva da união que já os vincula” e “deve contribuir para um maior respeito pela dignidade da pessoa humana, para a promoção da paz, para a progressiva vivência do Evangelho, para a promoção das ciências e das artes com espírito cristão, para a aplicação dos mais variados remédios contra os males do nosso tempo: a fome, as calamidades, o analfabetismo e a pobreza, a falta de habitação e a inadequada distribuição dos bens” (UR 12). Assim, tendo em conta estas indicações conciliares e servindo-nos da opinião do dominicano Juan Bosch podemos dizer que as iniciativas e o diálogo ecuménico dá-se a vários níveis e entre diferentes actores e que podemos classificar essas iniciativas em diversos tipos de ecumenismo: o espiritual, o institucional, o oficial, o doutrinal, o local e o secular (Cf. Para compreender o ecumenismo). Como vimos, a restauração da união entre os cristãos é um desafio e uma responsabilidade para todos. Que a vivência da semana de oração ou do Oitavário de Oração pela Unidade dos Cristãos seja uma ocasião para reforçarmos o nosso espírito ecuménico e uma excelente oportunidade para efectuarmos o ecumenismo espiritual. Este ano, o tema de fundo dessa semana inspira-se num texto de S. Paulo que anuncia que, apesar da nossa rebeldia e das nossas divisões, seremos transformados pela vitória de Nosso Senhor Jesus Cristo (Cf. 1Cor 15, 55-58).

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Nélio Gouveia

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34 – planeta jovem do mundo

O escândalo de seis minutos de ignorância

CULTURA UNIVERSITÁRIA Quem ainda não viu o célebre vídeo realizado por um repórter da revista Sábado à porta das universidades? À data foi um sucesso de bilheteiras nas redes sociais, escreveram-se fundos e mundos, as pessoas escandalizaram-se com aqueles seis minutos de ignorância. Outras preferiram rir-se da desgraça alheia e acredito que tenha havido quem visse e não percebesse o porquê de se rirem tanto. No fundo falou-se muito mas a verdade é, quando se lê a notícia por inteiro as respostas que se vêm no filme são escolhidas a dedo. Das cem entrevistas realizadas em blocos de 10 perguntas, o máximo de respostas erradas foi de quatro. Por outras palavras não houve ninguém que errasse as respostas todas, o que me leva a dizer, nós universitários não somos assim tão burros como nos pintam! No entanto, tenho que admitir que que houve ali umas respostas de bradar aos céus, que me fizeram bater com a cabeça numa parede várias vezes, passo a citar algumas. Bom, não saber qual o maior mamífero… aceita-se, agora perguntar se pode ser um que já não existe: o leão, bom já não é tão aceitável! Não saber que quem pintou a Monalisa foi o Leonardo Da Vinci, tolera-se! Agora dizer que foi o Leonardo di Caprio, é estúpido! Perguntarem ao estudante de turismo, e mesmo que não fosse de turismo, qual é a capital de Itália e ele estar em dúvida entre Florença, Milão, Veneza ou Nápoles. Nesta área ainda choca ver que alguém responde a, qual a capital dos Estados Unidos, Inglaterra ou mesmo Noruega! Estas foram só umas das que me chamaram mais a atenção…o vídeo recolhe seis minutos de respostas engraçadas e reveladoras de alguma incultura ou mesmo despreocupação com o que acontece fora da nossa vida. É verdade que perguntas fora da nossa área de estudo

por vezes são difíceis mas não saber que foi Eça de Queiroz quem escreveu “Os Maias”, quando um ou dois anos antes tiveram que ler o livro, faz denotar que algo de estranho se passa aqui! Já agora, porque será que tudo o que diz “Jesus Cristo” assusta as pessoas? Será que os estudantes têm medo do nome “Jesus Cristo”? A pergunta nem tinha nada a ver com Igreja mas todos fugiram desta dizendo que não sabiam nada de religião, nem eram católicos por isso não sabiam! A Igreja deve assustar mesmo muita gente! É importante repetir que estas respostas foram selecionadas e representam uma minoria, apesar de uma minoria assustadora não passam disso, de uma minoria. Já agora para acabar, acho que vou ter de me adaptar ao choque tecnológico e adotei o novo acordo ortográfico. Melhor dizendo, escrevo como aprendi e depois uso uma ferramenta para corrigir, parece que em 2012 tem de ser tudo de acordo com o novo acordo, infelizmente! Bom ano a todos e até a uma próxima revista.

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Pedro Ferreira

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do mundo

outro ângulo – Numa população envelhecida...

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EMIGRAR: FATALIDADE OU ALTERNATIVA? A sugestão do atual Primeiro-ministro de Portugal sobretudo para os professores de “… olhar para todo o mercado da língua portuguesa e encontrar aí uma alternativa”, gerou grande desalento principalmente para a mão-de-obra jovem e qualificada. Apesar de compreender o contexto social e económico em que nos encontramos, não posso deixar de ficar completamente perplexa e ainda mais desiludida. “Quem não se sente não é filho de boa gente!” Aqui não se trata só dos professores! Trata-se de todas as pessoas que olham para a formação como forma de ascender social e economicamente e de poder finalmente contribuir para o seu país, através do seu trabalho. Não seria mais viável dar nos confiança para permanecer aqui e poder desenvolver potencialidades? Como se pretende continuar ser um Estado social se encoraja contribuintes, a sair do país? Queria muito mesmo compreender esta estratégia… Temos uma população envelhecida e, comparativamente com outros países europeus, com a taxa de escolaridade baixas, mas como somos um povo muito solidário oferecemos (literalmente) a nossa mão-de-obra mais qualificada! Ou seja, estudamos cá, o Estado suporta a maior parte dessas despesas e depois… ala que se faz tarde? Parece-me simples, mas pouco… produtivo! Desde sempre fomos um povo que ansiamos encontrar melhores condições de vida noutro país. E acabámos por acreditar que “a galinha do vizinho é melhor”. E é triste ver que são muitos os portugueses que para serem considerados e reconhecidos como grandes atletas, artistas, cientistas, investigadores escritores…têm de sair, “alargar os seus horizontes noutro país… mas porquê não podemos alargar os nossos horizontes aqui?! O que acho mais irónico é quando este tipo de comentários de “vai procurar para outro sítio” são de gente com a sua situação profissional estável e que não sabem o que é dar “um tiro no escuro” num outro país… Sou filha de emigrantes e sei o

que é chegar novamente à terra natal “de mãos a abanar”, sei o que é ter de trabalhar para poder sustentar os meus estudos e sei o que é estudar e não poder exercer a “minha profissão” e não saber se conseguirei manter o meu emprego para o próximo mês… mas há escolha de sair ou não é minha! É nossa! Muitos são os portugueses qualificados que deram uma grande viragem nas suas vidas e apostaram em áreas completamente diferentes das suas! Sim aqui em Portugal! É preciso ter coragem e sair da sua zona de conforto, mas também é preciso ter coragem para ficar e ultrapassar todas as adversidades! Transformemos este cabo das tormentas, no cabo da nova esperança! Deixar Portugal é uma opção e não uma fatalidade!

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Alícia Teixeira

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36 – novos mundos do mundo

A possibilidade de capturar o movimento da luz

A CÂMARA MAIS RÁPIDA DO MUNDO Antes de mais desejo a todos quantos recebem a Folha, um feliz ano 2012. À entrada neste novo ano, trago-vos a câmara mais rápida do mundo… Mas o que poderá uma câmara tão rápida fazer? Simples, fotografar… A LUZ em câmara lenta! Cientistas do Massachusetts Institute of Technology, nos Estados Unidos, criaram uma câmara de filmar capaz de capturar a luz a movimentar-se em câmara lenta. Esta máquina captura imagens a uma velocidade de 1 trilião de frames por segundo. Isto é suficiente para, por exemplo, filmar a luz a atravessar uma garrafa de refrigerante dando a sensação de estar a “enchê-la com luz”. A anterior câmara mais rápida do mundo conseguia atingir 6 milhões de frames por segundo usando raios laser, muito abaixo da atual. A nova câmara não tem quase similaridade com as que conhecemos, pois é baseada em nova tecnologia, ficando assim com um aspeto de “bola de futebol”. A abertura da lente na câmara super rápida é extremamente estreita, e mal os fótons entram na dita lente passam por um campo elétrico que os faz virar na direção perpendicular à fenda. Como o campo elétrico varia muito rapidamente, deflete menos os fótons que chegam primeiro e mais os fótons que chegam logo depois, dando assim uma imagem que é bidimensional, mas também espacial. Chegou-se também à conclusão que poderá ser muito útil em química e biologia, em experiências que envolvam a observação da luz que atravessa ou que é emitida por uma amostra. Ainda não está à venda nem se palpitam preços, mas assim como a tecnologia, o preço deverá também ser algo de “Outro Mundo”.

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André Teixeira

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do mundo

nuances musicais – O acompanhamento às vezes é pré-fabricado

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MÚSICA INSTRUMENTAL

A nível musical, a época natalícia apela à criatividade de músicos e editoras para vários tipos de adaptações de temas já existentes. Mais do que versões cantadas deparamo-nos com uma enchente de versões instrumentais, que entram inevitavelmente pelos nossos ouvidos, em qualquer Supermercado, loja ou corredor de Centro Comercial. O pretexto de criar o ambiente natalício até resulta, tendo em conta a estratégia comercial e o resultado do consumo avultado que ocorre nesta época. Quanto à qualidade e gosto das versões reproduzidas, isso já é outra questão. Os instrumentais que nos são oferecidos ininterruptamente nestes dias, numa audição mais minuciosa, são gravados por grandes produções orquestrais em que a melodia está acompanhada por floreados que muito enriquecem a interpretação. No entanto existem também as versões de Flauta de Pan, que apesar de lhe reconhecer todo o mérito e dificuldade de execução, são um exemplo da produção em massa apenas para encher ouvidos devendo muito à qualidade do modelo referido anteriormente. Reitero o reconhecimento da execução da referida flauta, no entanto, o que deixa muito a desejar é o acompanhamento literalmente pré-fabricado que geralmente a acompanha. Talvez mais fácil, mais comercial, no entanto preferiria ouvir a flauta acompanhada por instrumentos reais apesar de saber o contingente logístico e de ensaios a que isso obrigava. Dando um espreitada no Youtube podemos também observar várias versões instrumentais em vários géneros musicais. Aí os gostos variam até ao extremo, que vai deste a música popular até o metal, estando a grande maioria alojada no género Pop. Colhendo algumas opiniões de músicos instrumentistas, o motivo para lançar músicas instrumentais de Natal varia um bocado. A maioria reconhece que gosta das músicas e de todo o espírito da época. Neste âmbito, o pretexto solidário está bem presente, visto que, vários discos, geralmente os de melhor qualidade, visam o cariz filantrópico sem muitos rendimentos para os respetivos músicos. Mas a grande maioria visa a vertente comercial. Aí é o factor financeiro que funciona e a sonoridade implica ser atrativa independentemente da qualidade e do processo criativo.

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Florentino Franco

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38 – cuidar de si do bem estar

Plano Nacional de saúde 2004/2010

À DESCOBERTA DE UM FUTURO SAUDÁVEL Situação atual dos jovens Aumento dos comportamentos de risco • Entre os jovens, verifica-se um aumento do sedentarismo, de desequilíbrios nutricionais, particularmente importante entre as raparigas, de condutas violentas, particularmente importante entre os rapazes, da morbilidade e mortalidade por acidentes, da maternidade e paternidade precoces, em particular, em adolescentes com menos de dezassete anos, e de comportamentos potencialmente adictivos, relacionados nomeadamente com o álcool, o tabaco e as drogas ilícitas. Desconhecimento da morbilidade • De acordo com os indicadores tradicionalmente utilizados para monitorizar o estado de saúde, os adolescentes constituem o grupo etário mais saudável. • Esta afirmação é feita reconhecendo a limitação dos indicadores de que dispomos para medir a morbilidade associada a problemas como obesidade, bulimia, anorexia, saúde mental e IST (por exemplo, Chlamydia), entre outras. • Começam a assumir importância como causa de morbilidade as doenças do foro oncológico, a asma, a diabetes mellitus e outras formas de doença crónica ou de deficiência. Persistência da mortalidade por causas externas e tumores malignos • Entre os jovens persistem como principais causas de morte as causas externas e os tumores malignos. • É de realçar o decréscimo observado na mortalidade associada a causas externas e a tumores malignos. • Começam a emergir as diferenças significativas entre as principais causas de morte para adolescentes do sexo masculino e feminino, particularmente no que se refere às causas externas.

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Orientações estratégicas e intervenções necessárias Aumentar a qualidade dos cuidados prestados aos jovens • Os adolescentes são grupos de intervenção prioritária, no âmbito da saúde reprodutiva e da prevenção de IST; serão, portanto, reforçadas as iniciativas no sentido de adequar e melhorar as condições de acesso e atendimento dos adolescentes, nos centros de saúde e nos hospitais. • Há que persistir, também, no reforço das actividades de educação nas áreas da sexualidade e reprodução, baseadas nas escolas12,13 e com o apoio dos serviços de saúde. • Para reforçar uma abordagem global preventiva dos comportamentos de risco para a saúde dos jovens serão ampliadas as valências de atendimento dos Centros de Atendimento a Toxicodependentes (CAT) e demais estruturas de prevenção do actual Instituto da Droga e da Toxicodependência (IDT), de forma a incluir outras possíveis adicções e dependências, bem como outras perturbações comportamentais, sendo promovida a sua completa integração nas demais estruturas do SNS. • Serão estabelecidas parcerias com outras instituições e sectores, nomeadamente a educação, para uma abordagem integrada da saúde dos adolescentes, incluindo a possibilidade de se criarem Departamentos de Saúde no seio das próprias instituições de ensino, e do desenvolvimento de actividades de promoção da saúde e prestação de cuidados nos serviços oficiais de saúde. Reforçar as actividades de redução de comportamentos de risco • Nesta fase do ciclo da vida, serão priorizadas intervenções a incentivar a adopção de estilos de vida e padrões de comportamento que condicionem favoravelmente a saúde futura. Settings prioritários • Como grande parte da vida do jovem se concretiza no espaço escolar e universitário, deve-se privilegiar o trabalho com as instituições do Ministério da Educação e do Ministério da Ciência e Ensino Superior. • Outros Settings a privilegiar nesta fase do ciclo de vida incluem a família, os locais de lazer, o local de trabalho e as unidades de saúde.

http://www.dgsaude.min-saude.pt/pns/vol2_213.html

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40 – dentro de ti do bem-estar

A fama, buscada sofregamente, pode trazer efeitos avassaladores

S

M O R ÍND

A D E

A M FA

O que é realmente a fama e o que ela nos traz de concreto à vida de cada um de nós? A busca desenfreada pela fama, faz com que muitos jovens deixem de acreditar nos estudos, no trabalho, no empreendedorismo e noutros meios de conquistar vitórias na sua vida. A fama é algo que as pessoas perseguem ao longo da vida. Mas a fama pode trazer efeitos avassaladores em vários sentidos, principalmente, se este conceito for interiorizado de forma errónea. Mas será que a fama pode realmente dar tudo? Os nossos “modelos” sociais e culturais, recebem hoje uma forte influência das melancólicas e nefastas programações televisivas, onde uma grande parte da população, por ausência de personalidade, acaba por ser contagiada pelas personagens das telenovelas, reality-shows e outros. A ânsia de muitos jovens em quererem ser famosos, faz com que se esqueçam de ser os heróis no seio das suas famílias, amigos e até das suas convicções e crenças religiosas. Famosa mesmo é a pessoa que pratica o bem, que respeita o próximo, que é um exemplo na família e no seu grupo de amigos, que estuda e trabalha com perseverança, empenho e dinamismo. A verdadeira fama, é aquela que é nutritiva, que traz benefícios a quem a possuiu e a usa em prol dos outros, de forma positiva. Famoso mesmo é fazer do mundo um lugar melhor para todos vivermos. Então, porque não tomamos como bons exemplos, Madre Teresa de Calcutá, João Paulo II, médicos sem fronteiras que salvam, mãos que curam e corações que perdoam e amam? Deixemos de querer que as nossas vidas, sejam iguais às dos “famosos” da TV, que mais não são do que ti-ti-tis de televisão. ESTES “HERÓIS FAMOSOS” NÃO SÃO DEFINITIVAMENTE UM MODELO A SEGUIR!

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Rosário Lapa

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da juventude

saber mais – Arquivos e bibliotecas do Vaticano

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ARQUIVOS SECRETOS Há bibliotecas e arquivos míticos que têm suscitado as mais fantásticas histórias e alimentado diversíssimos livros de ficção muito lidos mundialmente.

A propósito da edição que fizemos recentemente de uma obra em três volumes, revelando documentação sobre a história de Portugal patente num dos arquivos mais míticos do mundo, faço aqui uma pequena apresentação da importância para a história mundial das valiosíssimas bibliotecas e arquivos do Estado do Vaticano. O Arquivo Secreto do Vaticano é imaginado correntemente como um dos arquivos mais secretos do mundo. Tão mitificado como este Arquivo talvez possa ombrear em fama a Biblioteca de Alexandria, a maior biblioteca da Antiguidade destruída por um incêndio. Na realidade, aquela que era a Biblioteca privada do Papa, o Arquivo Secreto do Vaticano, tem acumulado, ao longo dos séculos, informação preciosa acerca dos dois mil anos de história da Igreja nas suas relações com o mundo. Com esta obra pretende-se levantar um pouco o véu desse imenso arquivo e revelar documentação pouco conhecida relativa ao período da Expansão Portuguesa, desde o século XV ao século XX. Preparados por uma vasta equipa de investigadores durante cerca de década e meia que pesquisou o fundo da Nunciatura de Lisboa patente no Arquivo Secreto do Vaticano, estes volumes revelam-se de grande importância para quem se interessa pelo conhecimento da história, da política, da religião e da sociedade no âmbito das relações de Portugal e as grandes regiões do seu chamado Império Ultramarino. Esta é uma obra de grande fôlego. Pode ser considerada uma espécie de base de dados notável resultante do processo de expansão mundial do Cristianismo por via portuguesa que operou aquilo que podemos chamar a primeira época da globalização das relações entre os povos.

Podemos observar em páginas e páginas de fichas de investigação aqueles que foram os passos da Igreja no seu processo de implementação e afirmação no processo de missionação realizada com o patrocínio de Portugal a partir do seu esforço moderno de expansão extra-europeia com a promoção das viagens marítimas de descobrimentos. Foram tempos de grande idealismo e de esperança para o Cristianismo, como também foram século de diálogos civilizacionais em que se confrontaram povos e culturais com horizontes diferentes de compreensão do mundo e do Homem. Nestes arquivos e neste obra está mais uma janela para compreendermos quanto de grandeza e de drama, de sonho e de dificuldade constitui esse percurso feito por homens e mulheres que procuraram construir um mundo novo.

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Eduardo Franco

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42 – jd-Açores da juventude

Advento e Natal com muitas atividades nos Açores

FAZ DO TEU CORAÇÃO UM PRESÉPIO

Nesta quadra natalícia que agora termina, as actividades dos nossos grupos de jovens tiveram como base os temas da família e da solidariedade, temas que à primeira vista poderão parecer tão simples e tão na “moda”, mas que são em si mesmos tão complexos e que carecem de muita reflexão sobre o seu verdadeiro significado. O início do mês de Dezembro ficou marcado pelo encontro sobre a família no Centro Missionário. Alguns dos nossos grupos de jovens reuniram-se para reflectir sobre a realidade da família nos dias de hoje. O encontrou surgiu da necessidade que os animadores verificaram, no seio dos jovens, para estes reflectirem de um modo sereno a atento sobre a dimensão familiar. Muitas vezes esquecemo-nos da importância da família, não só como motor da sociedade, mas também como “escola de valores”, onde aprendemos a respeitar e amar os outros.

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Na dimensão da solidariedade, o grupo de jovens “Soldados de Cristo” esteve empenhado, como já vem sendo hábito, a ajudar a Cáritas paroquial na preparação e distribuição de bens essenciais às famílias mais carenciadas e com maiores dificuldades económicas da comunidade. Foi um trabalho árduo, de muitos serões, mas muito reconfortante para o espírito. Um momento muito simples, mas muito marcante e enriquecedor, vivido ao longo deste advento foi a vigília de advento com Maria. Foi um momento muito significativo, com muita espiritualidade. A vigília foi bem preparada pelas irmãs do Sagrado Coração de Jesus da Casa de Saúde das mulheres em Ponta Delgada. A música, o silêncio, o cenário, enfim toda a ambientação foi um autêntico convite á oração. O acto de passar o menino Jesus de mão em mão, fixar o nosso olhar no seu e escutar com o coração o que ele nos queria dizer naquele preciso momento foi algo de tão aconchegante e bom. Valeu a pena participar. É este realmente o segredo da oração, sentir-se amado por Deus, sentir-se aconchegado por ele e sentir no coração um “calor” tão forte, uma paz imensa. Os nossos grupos também tiveram empenhados na preparação do presépio no interior da igreja e na encenação apresentada na tradicional “missa do galo”. O grupo de jovens “soldados de Cristo” optou por fazer um presépio tradicional, com uma cascata de água a correr sob um chão de telhas regionais e com uma gruta para o menino Jesus, semelhante a um tabernáculo. Da gruta de pedra tentaram fazer um autêntico sacrário, de

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da juventude

jd-Açores –

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onde se destacava a imagem do menino Jesus. A encenação, preparada pelo grupo “Veritas” destacou-se pela simplicidade dos gestos, mas também pela grandeza e profundidade da mensagem. Realmente só existe o natal porque há dois mil e onze anos um Deus menino nos foi dado, um menino nasceu para nos salvar. Sem o mistério da “encarnação” não haveria natal. O tempo de advento e do natal foi um tempo com muitas actividades para a JD Açores. Foi também um tempo rico de espiritualidade. Num mundo e numa sociedade que tenta fazer do natal uma festa do “velho barbudo” e do consumismo, os jovens cristãos têm de dar um testemunho diferente. No natal o cristão deve celebrar a vida, a família, a solidariedade e a sua própria salvação. Celebrar o natal não é apenas fazer memória de um acontecimento passado, é muito mais do que isso. Celebrar o natal é abrir o nosso coração para que o menino Jesus possa nele nascer. O desafio do natal é este: preparar o coração e fazer dele um presépio onde Jesus possa nascer.

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Alberto Bisarro

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44 – jd-Porto da juventude

Tempo de formação, retiro e festa

A PREPARAÇÃO DO ANO NOVO

– Embarcar na missão Foi no dia 27 de Novembro do já passado ano de 2011, que os jovens dehonianos do Porto se voltaram a reunir para mais uma formação. Desta vez o ponto de encontro teve lugar em terroso, Póvoa de Varzim, com o prometedor tema, embarcar na missão. O dia teve o seu habitual desenrolar por entre reflexões que proporcionaram aos jovens participantes um tempo de comunicação, e troca de ideias acerca de temas que, para além de actuais, se tornam cada vez mais indispensáveis á “sobrevivência” na sociedade e á relação interpessoal entre os cidadãos. Destes temas foram destacadas perguntas importantes às quais os jovens deveriam tentar dar resposta, interrogações como: “Como se transmite na família e/ou na sociedade, 1. Os bens materiais (Heranças)/ 2. Os valores humanos/ 3. Educação e cultura/ 4. A fé?” ; “como O segues?” (cuja finalidade era conhecer o que a Palavra de Deus diz sobre a missão de cada cristão); ou ainda, “como o sentes?” (Questão que visava mais a personalidade do Padre Dehon, o conhecer do que viveu, fez e disse sobre a missão.). Houve ainda tempo para o tradicional almoço partilhado, a missa do dia, e o sempre doce carinho com que as pessoas de terroso nos recebem. Obrigada a todos!

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da juventude

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– Retiro de Advento Seguiu-se o dia 11 de Dezembro, e o nosso anual retiro de Advento, que este ano foi orientado pela P.e Ricardo Teixeira que como não podia deixar de ser, nos preparou um retiro fora dos costumes. Como nos outros anos houve igualmente tema de reflexão e silêncio, no entanto o tema que nos trouxe, ainda que fosse inspirado nas leituras do dia, foi algo de uma actualidade extrema e que proporcionou ás pessoas presentes uma clara e profunda reflexão acerca de quem realmente somos, o que andamos aqui a fazer, como fazemos o que fazemos, de que modo e por que meios, porque o fazemos, e qual é, no fundo, a missão de cada um de nós. Quero por isto salientar um ponto que foi muito focado durante todo o retiro, a frase usada pelo P.e Teixeira manteve-se no meu ouvido até hoje, e creio que devo partilha-la convosco, disse algo parecido com: “por baixo de uma folha derrubada e queimada pelo inverno, há sempre uma nova semente pronta a germinar!”. Quis com isto dizer que quando tudo parece mal e perdido, existe sempre uma solução, o nosso erguer depende apenas da nossa força e vontade para viver, da alegria com que vivemos, e do Amor que temos por nós e depois para com os outros.

– Ceia de Natal no CD Aproximava-se já a recta final do ano de 2011, quando a 16 de Dezembro, no Centro Dehoniano do Porto, se juntaram as meninas do secretariado, as habituais pessoas da casa e mais alguns convidados para a festiva ceia de natal da JD-Porto. Foi com alegria e o sentido de fraternidade propício das pessoas presentes que a noite seguiu longo e jovem, através do jantar, de alguns jogos, passando pelo karaoke, muita conversa, risos de mãos cheias e a prometida poncha. Procedeu-se ainda à troca de presentes, que muito animada foi. Quanto à dita “Noite de Cinema”, o que lhe desejamos para este ano, é que não se volte a esquecer de aparecer…

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Rita Resende

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43 – agenda

da juventude

Juventude Dehoniana 2011-2012

» JD — Açores Janeiro

13 − Oração de Taizé no Centro Missionário (sempre na 2ª sexta-feira do mês).

Fevereiro

13 − Oração de Taizé no Centro Missionário

» JD — Porto Janeiro

Sextas, Sábados e Domingos − Janeiras AFV-JD. 01 − Dia Solidário – Lar Pinheiro Manso (com Janeiras). 19 − AdOração no Centro Dehoniano – 21h-22h

Fevereiro

05 − Dia Solidário – Lar Pinheiro Manso 19 − CFA - Bíblia em Workshops 21 − Passeio de Carnaval JD-Porto

DEHUMOR

lJ a n o

D

aci 2012 N a e a n t ro r i l d e a d t h Es Enco Ab n i e s XV 22 d a m l e c 20 m va açõ i t cofes cen n e e de : no

Para tempos novos, obras novas.

(Padre Dehon)

Mamã, olha ali... ... um

Twitter!

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Paulo Vieira

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tempo livre

passatempos –

TEM PIADA

lanche

A mãe para o filho: – Então... Porque é que engoliste as moedas? – Tu é que disseste que eram para o lanche..

redação

O professor pede aos alunos que escrevam uma redação subordinada ao tema: “Se eu fosse director de uma empresa.” Todos os miúdos começam a escrever menos um. A professora diz-lhe: – Então? Não escreves? – Estou à espera que chegue a minha secretária

jantar

A hospedeira pergunta a um passageiro: – O senhor vai desejar jantar? – Quais são as opções? – Sim... ou não...

multa e imposto

Qual é a diferença entre uma multa e um imposto? Uma multa é um imposto que se paga por fazer algo errado. Um imposto é uma multa que se paga por fazer algo direito.

distraído

– Ó Mãe, ó Mãe! Lá na escola estão-me sempre a chamar distraído! – Oh, meu querido, mas eu não sou tua Mãe...

mala perdida

CURIOSIDADES

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meses do ano

Trinta dias tem Setembro, Abril, Junho e Novembro – diz a memória infantil –, 28 terá um e os demais 31”. Eis os motivos porque os meses têm diferentes números de dias: Quando os Romanos, no tempo de Júlio César, inventaram o calendário juliano, decidiram que teriam 31 dias os meses com especial significado religioso e 30 os de menor importância. Desta forma Janeiro, assim chamado em honra ao deus Jano, Março, de Marte, e Julho, em honra do próprio César, encontram-se entre os meses com 31 dias. Augusto, sucessor de César, denominou-se Agosto a partir de seu nome e, naturalmente, atribuiu-lhe 31 dias. Os meses julianos de Setembro (7.º mês) e Outubro (8.º mês) tornaram-se, respectivamente 9º e 10º meses quando, em 1582, o papa Gregório alterou o Ano Novo da data juliana de 25 de Março para 1.º de Janeiro.

Sabias que... ... Em Janeiro a A Folha dos Valentes continua à espera de “notícias”?

quebra-cabeças

provérbio escondido O provérbio escondido começa por R e lê-se de seguida de cima para baixo, de baixo para cima, da direita para a esquerda ou da esquerda para a direita.

Um jovem devolve uma mala a uma senhora que a perdera umas horas antes. Ela verifica o conteúdo e diz: – Engraçado, quando perdi a mala tinha cá dentro uma nota de cinquenta euros e agora encontro cinco notas de dez euros… Responde o jovem: – A última pessoa cuja mala eu devolvi, também não tinha dinheiro trocado para a recompensa… Solução de Dezembro Cada cabeça sua sentença.

V

Paulo Cruz

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2012AFV–JD-Porto

JANEIRAS

Domingo, 1 – Lar P. Manso - 17h30 Sexta, 6 – Sandim - 21h00 Sábado, 7 – Duas Igrejas - 20h00 Domingo, 8 – Terroso - 17h30 Sexta, 13 – Sobrosa - 21h00 Sábado, 14 – Rebordosa - 20h00 Domingo, 15 – Canidelo - 17h00 Sexta, 20 – Fontainhas - 21h00 Sábado, 21 – Vilarinho - 20h00 Domingo, 22 – Melres - 17h30 Sexta, 27 – Gatão - 20h30 Sábado, 28 – Sobrado - 21h00 Domingo, 29 – Francos-Boavista - 17h30

É claro que estamos na Internet! Alguns leitores perguntam... Já falámos disso na revista e qualquer “motor de busca” pode levar-vos até os nossos sites e páginas. Para os mais “distraídos”, cá ficam os dados:

A Folha dos Valentes na Internet http://www.dehonianos.org/valentes/index.html A Folha dos Valentes no Faceboock Procura: Valentes Dehonianos

valentes_2012_01.indd 48

O Site da Pastoral Juvenil e Vocacional dos Dehonianos em Portugal http://www.dehonianos.org/juventude/ O Site dos Dehonianos em Portugal http://www.dehonianos.org/

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