A folha dos Valentes - fevereiro 2012

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Fevereiro 2012 ANO XXXVI

PUBLICAÇÃO MENSAL DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

ÁFRICA: TERRA DE ESPERANÇA 05. África -

07. Entre GERAÇÕES -

09. Em MADAGÁSCAR sorri e chorei 12. Recordando o P.e NARDON -

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31. Pessoa, objeto de TROCA ou ALUGUER 35. A atitude do FRONTMAN 40. Que pretendes com o NAMORO? 42. Cantar REIS e JANEIRAS -

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sumário: da actualidade

03 > alerta! > Conhecer e ajudar 04 > digo eu... > Morreu na segunda-feira... 05 > recortes do Mundo > África 06 > sal da terra > Entre gerações 07 > cantinho poético > O esplendor da austeridade

FICHA TÉCNICA Director: Paulo Vieira Administrador: Ricardo Freire Secretária: Margarida Rocha Redacção: Magda Silva, Marco Costa, Romy Ferreira. Correspondentes: Maria do Espírito Santo (Açores), Amândio Rocha (Angola), André Teixeira (Madeira), Joaquim António (Madagáscar), Emanuel Vítor (Lisboa). Colaboradores: Adérito Barbosa, Alícia Teixeira, Amândio Rocha, André Teixeira, António Augusto, Fátima Pires, Feliciano Garcês, Fernando Ribeiro, Florentino Franco, J. Costa Jorge, João Chaves, João Moura, José Agostinho Sousa, José Armando Silva, José Eduardo Franco, Juan Noite, Jorge Robalinho, Manuel Barbosa, Manuel Mendes, Natália Carolina, Nélio Gouveia, Olinda Silva, Paulo Cruz, Paulo Rocha, Rosário Lapa, Susana Teixeira. Colaboradores nesta Edição: Inês Pinto, José Babosa, Margarida Alves, Carlos Oliveira, Medina de Gouveia, Jacinto de Farias. Fotografia: Nélio Gouveia, Paulo Vieira, Adérito Barbosa, José Barbosa. Capa: África. Grafismo e Composição: PFV. Impressão: Lusoimpress S. A. - Rua Venceslau Ramos, 28 4430-929 AVINTES * Tel.: 227 877 320 – Fax: 227 877 329 ISSN – 0873-8939 Depósito Legal – 1928/82 ICS – 109239 Tiragem – 3500 exemplares

Associação de Imprensa de I nspiração Cristã

Redacção e Administração: Centro Dehoniano Av. da Boavista, 2423 4100-135 PORTO – PORTUGAL Telefone: 226 174 765 - E-mail: valentes@dehonianos.org

Proprietário e Editor: Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos) Rua Cidade de Tete, 10 - 1800-129 LISBOA Telefone: 218 540 900 - Contribuinte: 500 224 218

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da família dehoniana

08 > recortes dehonianos > Notícias SCJ 09 > missões dehonianas > Em Madagáscar sorri e chorei 10 > entre nós > Bispo Dehoniano no Niassa 11 > com Dehon > Oportunidades 12 > memórias > Recordando o padre Vittorio Nardon 14 > comunidades > Seminário N.ª Sr.ª de Fátima - Prior Velho dos conteúdos

16 > comunicação > Família Dehoniana na TVM 17 > palavra de vida > O dinamismo do Reino 18 > vinde e vereis > Caminho e meta 19 > onde moras > Ser o que Deus sonhou 20 > doses de saber > Os scriptoria monasticorum 22 > pedras vivas > José Barbosa 24 > espaço escola > Não à extinção dos professores 26 > leituras > O Serviço da África 28 > sobre a bíblia > Amor para Deus e os irmãos 30 > reflexo > Pobreza feliz? 31 > opinião > Pessoa objeto de troca ou aluguer 32 > sobre a fé > O pecado social do mundo

34 > planeta jovem > Reorganizar prioridades 35 > outro ângulo > I think I wanna marry you 36 > novos mundos > O tempo 37 > nuances musicais > A atitude do frontman do bem-estar

38 > cuidar de si > Gripes e constipações 40 > dentro de ti > Namoro da juventude

41 > saber mais > Ser universitário cristão 42 > jd-Madeira > Testemunhos do Cantar dos Reis 44 > jd-Porto > “Estrelas a brilhar” 44 > agenda-JD > Calendário de actividades 47 > tempo livre > Passatempos 48 > imagens > A reter...

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da actualidade

alerta! –

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CONHECER E AJUDAR! África Já mais do que uma vez ouvi que uma maneira de relativizarmos e revolvermos os nossos problemas era pensar nos problemas dos outros e tentarmos resolvê-los. Não se trata de nos alienarmos nem, muito menos, de nos alegrarmos porque os problemas dos outros muitas vezes são maiores do que os nossos. Trata-se de sermos solidários na certeza que “há mais alegria em dar do que em receber” (Act 20, 35). Esta é a experiência que o cristão adulto é convidado a fazer, ou que o jovem precisa de fazer para tornar-se adulto. Neste Tempo Comum que nos leva do tempo do Natal ao da Quaresma, e se calhar mesmo entrando nela ainda este mês, olharmos para os outros e concretamente para África com o intuito de a conhecer e de sermos efetivamente solidários com ela, pode ser uma oportunidade de nos convertermos e de crescermos. A Folha dos Valentes deste mês dedica a África pelo menos em oito páginas. A África é o paradigma de quando se fala de missões e de solidariedade. Como dehonianos, em qualquer circunstância, apresentamos como “bandeira” as nossas missões em Moçambique, em Madagáscar (embora os malgaxes não gostem de ser considerados africanos) e em Angola. E é mais fácil fazermo-nos entender falando delas que dos tantos outros campos de missão que nos ocupam “cá dentro”… E às vezes não conhecemos nem apoiamos suficientemente essas realidades. O “Continente-Mãe” da humanidade tão maltratado na história e ainda hoje sofredor é também um Continente cheio de riquezas naturais humanas, culturais e religiosas. É o Continente da esperança!

Agradecimento Aproveito para agradecer em nome de A Folha dos Valentes e do Centro Dehoniano as muitas ofertas recebidas, sobretudo em Dezembro e Janeiro, dos nossos leitores e amigos que não se esqueceram que a gráfica e o envio pelo correio tem custos e que a obra missionária se faz com a generosidade de todos! Bem-hajam e que o Coração de Jesus continue a tornar grande e feliz o vosso coração!

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Paulo Vieira

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04 – digo eu... da actualidade

O antigo corretor de A Folha dos Valentes escreve-nos da França

Morreu na segunda-feira e... só ontem se soube! Ninguém se importa

Por que razão são “encontrados” velhinhos, que morreram sozinhos, só passados uns dias? Porque ninguém se importa. A família não se importa e os vizinhos muito menos. Dizem que eles não queriam que se metessem na sua vida e ficam aliviados na consciência, os vizinhos. Quanto aos familiares, esses são egoístas. Raramente os visitam e vêem-nos como um estorvo. O resto já toda a gente sabe. Eu próprio tenho uma tia acamada e só a visitei umas duas vezes, por preguiça. Gosto dela, sei que está bem tratada, mas eu, eu não faço nada, nem umas visitas mais constantes, ou um telefonema aos primos... Também eu estou a ser egoísta. Essa minha tia, a mais velha das minhas sete tias, foi um anjo da guarda para a minha mãe. E eu não me importo com ela. Sinto preguiça, pouca vontade, digo para mim próprio: “Ela está a ser bem tratada e mesmo que lá fosse ela não me reconheceria.” E outras desculpas. Todos as inventamos para podermos viver em paz e termos tempo de tratarmos de nós próprios. Mas somos capazes de fazer muitos quilómetros para irmos ao casamento de um “amigo” de quando andávamos na primária.

Missa aos domingos

Aqui em Tours, onde está a sede da empresa onde trabalho, vou (tento ir) todos os domingos à missa, pelas 8h30. Já fui à missa da Catedral, pelas 11h. Uma missa alegre e com muita gente. Celebravam o fim de um encontro com jovens vindos de Paris. Já fui a uma missa no Rito Romano. Uma confusão! Nada percebia! O padre de costas, os meninos de coro, como nos “filmes”. Cá deve haver missas para todos os gostos. Já houve missa dos Portugueses, mas dizem que o bispo a eliminou porque os Portugueses no fim da missa falavam e conviviam em tom alto acordando a vizinhança, outros dizem que foi por não haver padre. Agora costumo ir sempre à mesma igreja, ou catedral, pois os edifícios das igrejas são magníficos, antigos, pedra trabalhada, vitrais, naves, etc... A missa é pelas 8h30, o padre muda quase todos os domingos, os fiéis são quase sempre a meia centena de idosos, com uma meia dúzia de jovens. Eu diria que, aqui, a Igreja-das-8h30 está a morrer sozinha e ninguém se importa. Eu não me importo. Sou novo aqui e nem falar francês correto sei. Que poderia eu fazer para mudar? Sim, quase ninguém canta, são só velhinhos a ler as leituras, a missa é “fria”, não o ambiente, por cá tudo é aquecido, mas eu não posso, não tenho tempo. Já o ir e dar o meu euro (sim, só um euro, depois outro ao pobre que está à porta e outro ao peditório, cá fora, no fim da missa, já vão três euros...) me faz sentir bem. Cumpro a minha obrigação. Um dia talvez, ao chegar, veja a porta fechada e pergunte se há missa e alguém me vai responder: “Não. Morreu na segunda-feira, mas só ontem se soube. Não há mais missa aqui.”

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Carlos Oliveira

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da actualidade

recortes do mundo – De Continente-Mãe da Humanidade a Continente do Futuro

África é um dos continentes mais fascinantes do mundo. Nele surgiram as primordiais experiências de humanização do planeta Terra, no quadro do aparecimento da espécie humana, como ali se desenvolveu a aventura da mais rica biodiversidade no quadro da história natural. Na África nasceu o Homem como se ensaiaram as grandes experiências de organização social e de civilização, as quais deram origem a poderosos impérios e civilizações que ofereceram à Humanidade progressos decisivos no campo do pensamento, da ciência e da tecnologia. O património material e imaterial africano veio a alimentar e a fazer crescer civilizações prósperas de outros continentes. Rico em humanidade, recursos naturais, mas também em cultura e arte, o continente africano tem potenciado e continua a inspirar a renovação de expressões de criação humana em todo o mundo (dança, música, pintura, literatura, etc). Olhamos para África dos últimos séculos e vemos um continente subjugado, colonizado, explorado em favor do crescimento de potenciais mundiais na Europa, na América e agora na Ásia. A China está a entrar em força nos países africanos com matérias-primas fundamentais para alimentar aquela que será dentro de pouco anos a maior economia do mundo. Temos diante de nós uma África humilhada, explorada, desorganizada, necessitada da solidariedade intensiva dos outros continentes. E esquecemo-nos que África já foi um continente muito próspero e que esteve na dianteira dos destinos da história humana. Lembremos apenas a dimensão, importância e influência cultural do Império Egípcio. Parte do Império Romano cobria o Norte de África e ali se desenvolveu o cristianismo e nasceram grande luminares da história do pensamento humana, como Santo Agostinho, como ali emergiu depois a Civilização Árabe e os seus progressos técnicos e científicos com os seus intelectuais de fama mundial como Averroes. África tem potencialidades que merecem ser destacadas no panorama atual da recomposição em curso do xadrez das relações entre povos e continentes, em que se assiste uma polarização dos centros nevrálgicos de influência e de riqueza

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ÁFRICA entre a América e a Ásia, esquecendo-se muitas vezes no debate das relações globais a importância vital de África. Sendo África o Continente Mãe da Humanidade bem pode aspirar a ser Continente do Futuro, pois, oferecer um contributo para um maior conhecimento e reflexão crítica sobre a importância e o lugar da África na História da Humanidade, bem como apontar caminhos de afirmação do continente africano à luz dos novos desafios globais que se impõem no mundo de hoje. Hoje África parece estar esquecida nos grandes debates geoestratégicos da política mundial num momento em que o centro nevrálgico da economia mundial se desloca a grande velocidade para o Extremo-Oriente, emergindo a China como a nova líder do mundo. No entanto, a África adormecida tem um potencial que mais tarde ou mais cedo será despertado e poderá ser fermento de mundo novo.

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Eduardo Franco

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06 – sal da terra da actualidade

Sem família não acontece a solidariedade entre gerações

ENTRE GERAÇÕES 2012 é Ano Europeu do Envelhecimento Activo e da Solidariedade entre as Gerações. Um nome extenso para uma realidade intensa!

Remeter para a burocracia dos gabinetes, europeus ou nacionais, a vida das pessoas, nomeadamente das que mais vivem, só tem sentido se esse for o único meio para devolver naturalidade ao ser e estar de todas. No processo de nascer, viver e envelhecer. E – acredito – estas iniciativas têm essa finalidade! A organização social, a vida pessoal e familiar não é uma linha contínua. Precisa de “esquinas”, picos, altos e baixos. Assim se faz qualquer caminhada, geográfica ou de formação de personalidades, e se fixam referências individuais ou de grupo, essenciais para qualquer processo de crescimento. Iniciativas como o Ano Europeu proposto são aquelas esquinas, são picos no processo de construção social, capaz de quebrar a indiferença e de mobilizar vontades e criatividades em torno de uma causa. Neste caso, duas causas: o envelhecimento activo e a solidariedade entre gerações. A primeira, com receitas e propostas variadas, debate-se em sociedades dependentes do critério da produtividade. Ela dita oportunidades de emprego, provoca reformas de meia-idade e condiciona muitas vezes o empreendedorismo de algumas gerações. Assim acontece sobretudo em ambientes urbanos. Quando o olhar se estende para fora das cidades, são mais os projectos e as oportunidades que oferecem vida com qualidade a todas as pessoas. Sobretudo quando se esquecem critérios ditados pela globalização e se fixam olhares e decisões a partir da natureza, a partir da participação no plantar, fazer crescer e colher… A outra causa, a solidariedade entre gerações, não é uma prescrição, antes uma cultura; não acontece depois de proposta ou imposta, antes resulta de hábitos e valores. Em causa está a possibilidade de viver em família, numa estrutura consolidada pelo tempo e pela experiência de relação entre pessoas, parentes próximos ou distantes, linhagens de muitas gerações. Sem família, não acontece a solidariedade entre gerações. E o envelhecimento é passivo, só!

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Paulo Rocha

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da actualidade

poesia –

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O ESPLENDOR DA AUSTERIDADE Do olimpo dos Céus Do luxo dos anjos Da habitação celeste Desceu Deus Para revestir-se Da humana austeridade Numa gruta Num estábulo Em qualquer casa frágil De qualquer homem ou mulher Nasce Deus Deus quis estremecer Brotar como humano Para enlevar e elevar Para viver e transcender Uma experiência de dor e prazer Que até Deus precisa Para compreender o barro Com que fez as Suas criaturas Susceptíveis tanto à tempestade Como até à mais leve brisa! Deus mesmo precisa – Pasme-se! – De Austeridade Para fazer os horizontes de luz possíveis E divinizar a humanidade!

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Medina de Gouveia

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08 – recortes dehonianos da família dehoniana

Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos) NOVOS SEMINARISTAS EM ANGOLA No dia 15 de janeiro de 2012, deu entrada nos espaços da Missão Católica do Luau o primeiro grupo de 5 vocacionados dehonianos; acompanhados pelos religiosos da comunidade dehoniana, farão uma caminhada de estudo (estão no 8º e 9º anos) e de discernimento vocacional, aprofundamento a vida de oração e a formação humana e cristã, com atividades fora do horário escolar: estudo acompanhado, introdução à informática, introdução à Bíblia, valores humanos e cristãos e várias outras atividades, como trabalhos na horta e limpeza dos espaços onde vivem.

SUPERIOR GERAL VISITA ÁFRICA O Superior Geral, Padre José Ornelas Carvalho, iniciou, a 11 de dezembro de 2011, a visita pastoral às entidades da Congregação presentes em África: Moçambique, Angola, Congo, Camarões, Madagáscar, África do Sul e Chade. A visita terá o seu momento conclusivo em 2013 com uma conferência continental sob o tema: «A vida religiosa dehoniana em África: apropriação, originalidade e responsabilidade». A visita começou pela Grande Ilha de Madagáscar, que tem uma forte presença de dehonianos portugueses. A Região de Madagáscar conta com 61 membros, dos quais dois Bispos (um deles português, D. Alfredo Caires) e 32 jovens religiosos em formação. É composta por três comunidades territoriais, do norte ao sul do país. Carateriza-se pela sua juventude (38 anos é a média de idades), pela sua natureza internacional e por vários empenhos pastorais: estruturas de formação, paróquias, colégio, universidade, distritos missionários. Os Sacerdotes do Coração de Jesus estão em África desde 1897, na República Democrática do Congo. A sua presença continuou nos Camarões em 1912, em Moçambique em 1947, na África do Sul desde 1948, em Madagáscar em 1974, em Angola desde 2004 e no Chade em 2010.

CURSO PARA ECÓNOMOS Está a decorrer em Roma, de janeiro a maio deste ano, um Curso de formação para Ecónomos da Congregação. Participam 19 confrades de vários países. O curso procura fornecer não apenas uma bagagem técnica, mas sobretudo um estilo para poder conjugar os elementos da gestão e contabilidade com a vida religiosa.

ANO NOVO EM ESPERANÇA SOLIDÁRIA Todas as comunidades, paróquias e obras confiadas aos Dehonianos em Portugal iniciaram o novo ano civil, continuando as várias actividades em que se encontram empenhados, em comunhão de anseios, alegrias e fortes preocupações com todos aqueles que vivem difícil situação no nosso país. Que seja o dinamismo da esperança solidária a continuar bem vivo em tudo o que somos e fazemos.

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Manuel Barbosa

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da família dehoniana

missões dehonianas – TESTEMUNHO de um participante na viagem humanitária a Madagáscar, no fim de 2011

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EM MADAGÁSCAR, SORRI E CHOREI

Sob chuva miudinha, piso solo malgaxe. O meu “querer” concretiza-se. O reboliço do aeroporto, o peso da bagagem tornam-me inquieto e ansioso, mas nada que a afável e calorosa recepção e algum descanso não tenham superado. Uma luz natural resplandece e faz-me saltar da cama. São 4h30, é o nascer do dia. Começo a sentir Madagáscar, a contemplar o esplêndido nascer do sol, as árvores floridas, a imensidão do céu… Tudo se movimenta. Ruelas com um trânsito caótico, infestado de Renault 4 e outras velharias, e dos pousse-pousse (espécie de “carroça”, para transportar gente, puxado por um pobre homem esquálido), está Tana, abreviatura de Antananarivo, a capital. À minha frente, por caminhos avermelhados, sinuosos e esburacados, desfila gente de todas as idades, de aspeto famélico e mal nutrido, doentio e num passo impaciente. Descalços e mal vestidos, carregam à cabeça todo um colorido de mercadorias, frutas, especiarias, aves, plantas medicinais, flores, madeira, carvão… e dirigem-se a mercados de berma da estrada, deixando atrás de si um aroma muito especial. Um corpo esguio, mal cuidado e envelhecido, de pés nus e passo apressado, na cabeça uma bacia com roupa, no ventre uma criança, às costas uma outra, de tenra idade, olhos esbugalhados e atada por um pano amarrado na frente à altura do peito…Grupos de crianças e de jovens com batas, algumas bem retalhadas e limpas, a maioria sujas, aspecto mal dormido, esfaimado, de pés descalços, vão a caminho da escola. Também zebus (bois com uma bossa), patos e galinhas (pernaltas e esqueléticas), deambulam à procura de pasto... É a labuta pela sobrevivência, pela vida. E todos me saúdam com um sorriso cristalino, invejável e contagiante. Ao verem-me, desaceleravam ou até se imobilizavam, e, olhos nos olhos, sorriso bem rasgado, saudavam-me com um “bonjour”. Retribuía a saudação, também com um sorriso e uma emocionada lágrima. A compor o cenário, um som musical e harmonioso, que provinha da igreja e anunciava a oração e a eucaristia matinal. A prece em palavras que não entendia, e em música, danças e silêncios que me incutiam calafrios de profundo respeito. Oração e fé, de uma alegria indizível. Foi isto que vi, senti e vivi enquanto lá estive. Senti e vivi o mundo da pobreza extrema e da enfermidade. O dos que tinham que comer e o dos que não sabiam donde viria a próxima refeição. O mundo onde a fome é perceptível, o mundo do quotidiano despojado de tudo ou quase. O mundo das crianças alegres, felizes, ternas, mas em perigo e que morrem por razões pelas quais não deviam morrer. O mundo da oração, dinâmico e fervoroso na fé, vivendo de Deus e para ELE. O mundo simples da humildade, da alegria, do afecto, do amor generoso, da esperança. O mundo da paisagem rica, vibrante e variada, tal como a cultura do povo. O mundo de sensações de espaço, liberdade, tranquilidade, charme e originalidade. Madagáscar é o mundo onde sorri e chorei, onde a vida renasce e o sorriso floresce. Lá, tudo se faz e tudo está por fazer. Conservo no coração a hospitalidade, as alegrias, o afecto, os ensinamentos e todas as sensações que aquele povo me proporcionou e que me fizeram reflectir e enriquecer a minha vida.

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José Alberto Barbosa

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10 – entre nós

da família dehoniana

Religiosos, leigos e muita variedade de actividades

BISPO DEHONIANO NO NIASSA

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NIASSA

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Lichinga

Nesta grande extensão de 130 000 km2 e com um milhão e meio de habitantes, com tendência para chegar brevemente aos dois milhões de habitantes, com 250 000 católicos, encontra-se como bispo de Lichinga, desde o dia 22 de Março de 2009, o religioso dehoniano italiano, D. Élio Greselin, nesta província do Niassa que inclui um lago com 365kms de cumprimento, 12 kms de largura e 60 kms de profundidade. É conhecido também o seu gosto pela agricultura. Todas as manhãs das 4h30 da manhã às 5h30 da manhã faz machamba, ou seja, trabalha numa pequena horta que tem aqui no Paço Episcopal. Conta-se que um dia perdeu a cruz episcopal. Andavam todos à procura dela e afinal estava pendurada num galho de uma árvore da horta. No seu primeiro ano de bispo aqui no Niassa, visitou toda a diocese sem carro. Pedia que o viessem buscar e trazer. É um bispo do povo. É aqui no meio de muçulmanos (a maioria), anglicanos e católicos sem grandes movimentações ecuménicas que procura exercer a sua missão. Nesta semana, que me encontro aqui no Paço Episcopal, está a preparar uma terceira paróquia da cidade de Lichinga. Além da paróquia da catedral e de Nzinje, haverá então a terceira paróquia da Cerâmica. É que as comunidades, antes de serem paróquias chamam-se núcleos. É necessária uma grande maturidade eclesial para chegarem a paróquia como está a acontecer com esta paróquia da Cerâmica. Nesta semana, de 15 a 18 de Dezembro, encontra-se aqui em Lichinga uma delegação da Universidade Católica de Moçambique (UCM) para implementar vários cursos, já a partir de 2012. A reunião histórica acontece a 16 de Dezembro de 2012, onde terei a felicidade também de marcar presença a convite do bispo da diocese.

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D. Élio Greselin, bispo de Lichinga, desde Março de 2009.

Foi esta diocese de Lichinga que recebeu os voluntários dehonianos portugueses que tiveram intervenções significativas, em 2010 em Cuamba, Mecanhelas, Lichinga, Metangula, Massangulo e em 2011, em Lichinga, Mitande, Marrupa, Massangulo e Metangula. Estas intervenções têm incidido mais na formação, no equipamento de bibliotecas e do envio de livros para cá que são mesmo necessários. Conversando com um dos párocos de Metangula, P.e Miquéias, ela referia-me que no exame do 10º ano, (aqui diz-se 10ª classe), em 400 alunos, só um aluno é que conseguiu ser aprovado em todas as disciplinas. Não é por acaso, que o bispo da Diocese, D. Élio Greselin considera o livro como o material mais precioso que pode vir para esta diocese.

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Adérito Barbosa

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da família dehoniana

com Dehon –

“O Coração de Jesus é eminentemente oportuno”

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OPORTUNIDADES

Na revista Le règne du Coeur de Jésus dans les âmes et dans les sociétés, em Fevereiro do longínquo ano de 1889, o Padre Dehon escrevia um texto com este título a que dava como subtítulo du Règne du Sacre-Coeur! É o texto que, com algumas necessárias adaptações, se propõe para análise da própria vida e da sociedade hodierna. Nele se analisa o estado da sociedade do tempo e se propõe o remédio que lhe pode devolver o seu verdadeiro sentido. Via o Padre Dehon, como causa dos sofrimentos da sociedade, a nível dos espíritos, a apostasia de uns e a frouxidão de outros; a nível das vontades a timidez, a apatia e a falta de esperança; a nível dos corações o ódio e a indiferença como substitutos do amor. Continua o Padre Dehon escrevendo em forma de pergunta: “o que é que perverteu e enganou as nossas populações”? E acrescenta respondendo: “não foi a sedução dos sentidos, a sedução do progresso e do bem-estar, a sedução da ciência, a sedução da literatura”? Creio que não nos será muito difícil trazer esta análise para a nossa sociedade. E as perguntas sobre o que nos levou ao ponto que hoje, em 2012, vivemos, não são muito diferentes das que o Padre Dehon fez. Sim, também para a crise que hoje vivemos, encontramos as razões nas seduções dos sentidos, do progresso, do bem-estar, da ciência e da literatura. Como ontem, também hoje, elas desviaram e desviam os homens e mulheres deste tempo dos valores fundamentais da vida, dos valores da verdade, do respeito, da ajuda caridosa. Encontrei por aí um e-mail com um texto que pode ajudarnos a entender um pouco isto. Diz esse e-mail: “Senhor, estamos diante de Ti neste dia, para Te pedir perdão e para pedir a tua orientação. Conhecemos a tua Palavra: “Maldição àqueles que chamam bem ao que está mal” mas é isto exatamente o que temos feito.

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Temos perdido o equilíbrio espiritual e temos mudado os nossos valores. Temos explorado o pobre e temos chamado a isso “sorte”. Temos recompensado a preguiça e chamamos-lhe “Ajuda Social”. Temos matado os ossos filhos que ainda não nasceram e chamamos-lhe “livre escolha”. Temos abatido os nossos condenados e chamamos-lhe “justiça”. Temos sido negligentes ao disciplinar os nossos filhos e chamamos-lhe “desenvolvimento da auto-estima”. Temos abusado do poder e temos chamado a isso “Política”. Temos cobiçado os bens do nosso vizinho e a isso lhe chamamos “ter ambição”. Temos contaminado as ondas de rádio e televisão com muita grosseria e pornografia e chamamos-lhe “liberdade de expressão”. Temos ridicularizado os valores estabelecidos, desde há muito tempo, pelos nossos ancestrais e chamamos-lhe “passado obsoleto”. Ó Deus, olha no fundo dos nossos corações; purifica-nos dos nossos pecados. Ámen”.

Esta é a nossa sociedade. Como para o tempo do Padre Dehon também hoje será preciso dizer: “O Reino do Coração de Jesus é, eminentemente, oportuno”. Considerando que o culto ao Sagrado Coração de Jesus não deve ser só uma devoção mas que deve ser uma verdadeira renovação de toda a vida cristã baseada no amor do Sagrado Coração, teremos, de novo, o remédio eficaz para os males e sofrimentos da nossa sociedade.

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Armando Silva

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12 – memórias

da família dehoniana

Dedicado, coerente consigo mesmo e límpido como as montanhas tridentinas

RECORDANDO O PADRE VITTORIO NARDON “A 19 de Novembro de 1952, partiam de Nápoles no navio Auriga quatro padres e um irmão escolástico. Deles, os Padres Pistelli e Nava destinavam-se à Missão de Moçambique, os Padres Rota e Becchetti à nova casa de Coimbra P.e Vittorio Nardon e o escolástico Ir. 1929-1989 Vittorio Nardon ia para a Madeira dar assistência aos Alunos do Colégio Missionário” (cfr. Cor Unum, Dezembro de 1952). Os Padres ficaram em Lisboa, enquanto o Prefeito Nardon seguia para o Funchal, ali desembarcando a 26 desse mês, onde, 19 dias antes, o mesmo Auriga levara para o Noviciado de Albissola (Itália) três aspirantes irmãos: o Agostinho Lira, o João Dias e o António Carvalho. O Auriga era mesmo um “cocheiro” – é esse o seu significado –, que levava e trazia recrutas e reforços para a Obra dehoniana em Portugal. Vittorio Nardon, o terceiro Prefeito do Colégio Missionário, tinha então 23 anos de idade e 4 de profissão religiosa. Era um trentino, natural de Cembra, onde nascera a 13 de Outubro de 1929, região pré-alpina que bem moldara o seu temperamento. Entrara na Escola Apostólica de Trento (Seminário Menor da Congregação) com 13 anos e professara a 29 de Setembro de 1948. Depois de quatro anos de estudos liceais e filosóficos em Monza, os Superiores enviavamno agora em estágio de vida religiosa – Prefeito – para a longínqua Madeira. Para além da assídua assistência aos alunos, o prefeito também leccionava, num português inicialmente mastigado e, com o tempo, mais fluente, mas sempre italianizado. Desses dois anos de prefeito, fica a imagem de um jovem religioso de batina e cordão, de modesta estatura, risonho mas de poucas palavras, que os alunos estimavam e que se divertiam a “provocá-lo” para vê-lo correr atrás dos atrevidos e ousados, fustigando-os com os nós do cordão! O Prefeito Nardon parecia duro,

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mas tinha coração. Recordo a estranheza e admiração que senti, quando, em 1958, sendo ele já padre, o vi chorar pela morte de Pio XII. Terminado o estágio, o Prefeito Nardon regressará à Itália para completar os estudos em Bolonha, onde será ordenado padre a 23 de Junho de 1957. Feito o quinto ano de teologia, já depois de ordenado, o seu destino de trabalho seria novamente a Madeira, sempre na tarefa educadora, agora como orientador disciplinar – prefeito de disciplina, como então se dizia. O Padre Nardon permanecerá no Colégio Missionário do Funchal, e no dito cargo, desta vez até Julho de 1964. Foi uma experiência difícil para o jovem sacerdote, por uma dificuldade temperamental de se entender com o Padre Ângelo Colombo, Superior local a partir de 1959. Eram duas personalidades fortes; se o idoso lombardo, venerando fundador da Obra em Portugal, era rígido e exigente, o jovem trentino, herdeiro da disciplina austríaca, era franco e direto. “Admitia – argumentava ele – que os superiores apelassem para as virtudes sobrenaturais da fé e da obediência dos súbditos, mas que também era lícito a estes procurar nos superiores as virtudes naturais do equilíbrio, prudência e modéstia”.

O P.e Vittorio Nardon é o 4.º a contar da direita, na fila dos padres.

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“Homem risonho, franco e direto”

Em 1964, o Padre Nardon troca o Colégio Missionário pela Casa de Santa Maria de Loures, onde por um ano fará de Superior Delegado desse Seminário Menor recém-aberto. Também aqui, a vida não será fácil, tanto que os religiosos “subalternos”, para aliviar a pressão do alto, fundarão a “Sociedade Não Te Rales”. No verão de 1965, seminaristas e superior transferem-se da Quinta da Abelheira para a Quinta da Palmeira em Ermesinde, o também recémcriado Seminário Nossa Senhora de Fátima. Aqui trabalhará o Padre Nardon novamente por um ano apenas, como Superior Delegado. Agora o pomo da dificuldade é a conciliação de duas realidades presentes nesse Seminário Menor: os seminaristas e a Obra ABC, criada e dirigida pelo Padre Ivo Tonelli, que era simultaneamente orientador disciplinar daqueles e usava um estilo e métodos que o franco e directo Superior dificilmente digeria. A dificuldade levou o Padre Nardon a mais uma mudança de casa: no verão de 1966, regressa à Madeira para trabalhar no Colégio Infante. Em 1969 é colocado na igreja do Loreto, onde dará a sua colaboração pastoral, mormente no serviço das Confissões, até 1976, quando regressa definitivamente à Itália. A estadia do Padre Nardon no Loreto também foi marcada por uma certa dificuldade. Eram os tempos do pós-Concílio, com o seu fermento renovador, a que se viriam juntar os ventos da Revolução de Abril. Não foi fácil para

um trentino do temperamento do Padre Nardon navegar nesses mares, e ainda por cima com superiores e confrades mais maleáveis. Nunca havendo renunciado à sua Província dehoniana de origem, entendeu regressar à Itália e, decidido como era, a nada valeram convites e pressões para ficar. Trabalhará três anos em Alessandria (Ligúria), na paróquia de Spinetta Marengo (1976-1980); outros cinco anos em Milão: um na Cúria Provincial (1981) e os restantes na contígua paróquia de Cristo Rei (1981-1986). Em 1986 foi transferido para a sua região natal, para a paróquia de ManMadonna Bianca, nos arredores de Trento. Aos 59 anos de idade, na tarde de 6 de Fevereiro de 1989, a morte ceifá-lo-á num acidente de motorizada. Regressava da visita quotidiana aos doentes do hospital, quando, num cruzamento, embateu contra um automóvel; com a queda, sofreu um traumatismo craniano e torácico, que em poucas horas lhe foi fatal. Não era novidade a sua aversão e dificuldade em guiar; consta que, em Loures, depois de ter batido com o carro que conduzia, rasgara, num gesto impulsivo, a carta de condução! O Padre Nardon morria no exercício do seu ministério, preferido e quase exclusivo: o da assistência aos anciãos e doentes. Dele escreverá, nessa ocasião, a sua comunidade: trabalhador incansável, exigente, entusiasta; mais apto para trabalhar sozinho do que em equipa; mais propenso ao tradicional que ao inovador. Talvez por isso sentiu uma certa dificuldade em participar na pastoral de conjunto, com consequentes momentos de pouca comunicação comunitária. O seu mundo eram as pessoas da terceira idade e os doentes. Ali vivia um sentido de plenitude sacerdotal. E não se poupava minimamente; era fecundo de iniciativas. Era um “padre a domicilio na casa de quem sofre”, como o definirá o seu pároco nos depoimentos fúnebres.

Coerente consigo mesmo, límpido como as suas montanhas tridentinas. O Padre Nardon não foi um pioneiro da Obra dehoniana em Portugal; não abriu casas nem exerceu uma actividade marcante. A sua imagem talvez tenha ficado associada a uma certa crispação e contestação e ao abandono do barco na hora difícil da tempestade, mas foi uma pessoa dedicada e que procurou ser coerente consigo mesmo, límpido como as suas montanhas tridentinas. Foi um daqueles que colaboraram, numa dedicação segundo o seu estilo e o que lhes parecia correcto. O Prefeito e, depois, Padre Nardon fustigava com os nós do seu cordão, mas era pessoa dedicada na sua transparência incómoda. Também de obreiros como ele é feita a história dos Dehonianos em Portugal. Obrigado, Padre Nardon!

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João Chaves

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14 – comunidades

da família dehoniana

De Ermesinde ao Prior Velho, antes da fixação em Alfragide

SEMINÁRIO DE NOSSA SENHORA DE FÁTIMA DO No verão de 1967, o Seminário Nossa Senhora de Fátima desdobrava-se em dois: o Seminário Menor continuava na Quinta da Palmeira de Águas Santas, em Ermesinde, até os alunos se transferirem de todo, em 1969, para a nova e definitiva sede da Portelinha (Fânzeres, Gondomar), enquanto o nome e a secretaria de benfeitores transitavam para a nova presença dehoniana em Lisboa, o futuro Seminário Maior – o Escolasticado – que provisoriamente, enquanto não fosse construída a definitiva sede de Alfragide, se instalaria também numa Quinta, a de Santo António da Serra, no Prior Velho, em Sacavém.

Dos precedentes históricos do Escolasticado, Seminário Nossa Senhora de Fátima de Alfragide, falarei num próximo artigo. Por ora, limito-me à sua passagem pelo Prior Velho e à imagem que nos deixou essa breve e original presença dehoniana na margem direita do rio Trancão. Criada, na reunião do Conselho Provincial de 7 de Agosto de 1967, a comunidade religiosa da que então se chamava Casa de Filosofia, com o próprio Superior Provincial como Pro-Reitor, continuando porém a residir na Igreja do Loreto ao Chiado, o Padre Ambrósio Comotti como formador (Magister Spiritus) e o P.e Sérgio Filippi, acabado de se formar em Salamanca, como professor, a 6 de Outubro chegavam os neo-professos, primeira turma de estudantes de filosofia que fariam o relativo curso em Lisboa, e não já em Monza, na Itália. O relato da chegada dos neo-professos à Quinta de Santo António da Serra, nesse anoitecer de 6 de Outubro de 1967, uma sexta-feira, é deveras sugestivo e significativo. Chegavam os professos. O P.e Ambrósio desceu as escadas de três em três degraus, com semblante suado e meia toalha fora do cesto. Andava atarefado nas lides da casa. Bravos, rapaziada! – Sibilou no seu português forjado entre dentes. E, enquanto distribuía abraços, ia inquerindo se tínhamos passado bem a viagem, se em Aveiro todos estavam bem, se tínhamos fome… Diante de nós surgia um edifício de construção antiga, de paredes sólidas e brancas. Subimos a escada. Um pátio de uns 14 metros de comprimento por seis de largura estendia-se à nossa frente. Entrámos. E o P.e Ambrósio fez-se de casa... Aqui serão os dormitórios, acolá o refeitório, ali em baixo a capela… e o homem falava pelos cotovelos, muito pela ajuda da mímica, já que a palavra lhe faltava. Veio a ceia. O P.e Ambrósio apressou-se a dizer que éramos pobres, mas que festejaríamos condignamente a nossa entrada. Falou o P.e Provincial. Alegrou-se com a nossa presença e frisou a responsabilidade que nos pesa em sermos os primeiros… A lua iluminava o Tejo, tornando-o resplandecente. Os reclames luminosos regurgitavam à nossa volta, os faróis dos automóveis moviam-se em várias linhas e sentidos [avistava-se em frente o declive da auto-estrada para o rio Trancão]. Havíamos saído do refeitório, trocando as primeiras impressões. Chegou-se a nós o pessoal que trabalha na Quinta. Tornámo-nos conhecidos… amigos. E o encarregado da Quinta não se cansava de repetir que formávamos todos juntos uma família, que se pre-

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cisássemos de alguma coisa estava às ordens, que mais isto, que mais aquilo. Já era tarde. Dez e meia, onze horas talvez, e precisávamos de algumas velas para alumiarmos as camaratas ainda sem lâmpadas. Onde é que há um estabelecimento? – Inquiriu o P.e Ambrósio – Eu vou, eu cá sei – Respondeu um homem, e lá se foi. Volvidos minutos, regressava com um pacote de velas. Quanto é? – Oh. Sr. P.e Ambrósio, não é nada… somos uma família … não é nada. E de nada valeram as insistências. Era a primeira oferta ao nosso Seminário desde que cá nos encontrávamos. E o doador era talvez mais pobre do que nós. E eu comovime e nós comovemo-nos… A Igreja do Loreto já nos tinha oferecido os colchões, cobertores, lençóis, objectos de cozinha, etc., etc. A comunidade de Coimbra emprestou-nos os catres e as secretárias. De Aveiro vieram as cadeiras, a louça e o P.e Jordão [então Superior do Noviciado] ofereceu-nos um rádio. A casa onde nos encontramos foi-nos generosamente emprestada pelo Sr. Dr. Alberto Carvalho Neto, que fez tudo o que estava ao seu alcance para que o Seminário fosse confortável…. E naquela noite, antes de nos deitarmos, entoámos uma “Salve Rainha”. Era o começo de uma oração que se deve perpetuar enquanto existir a nossa casa. Uma oração por todos os Superiores, pelos Confrades e pelos Benfeitores. E o cronista continua a narrar e descrever os inícios da estadia no Prior Velho. Três dias depois, a 9 de Outubro, pelas quatro da tarde, deu-se a abertura das aulas. Nesse mesmo ano havia-se criado em Lisboa, no Seminário Franciscano da Luz e por iniciativa da CNIR (Conferência Nacional dos Institutos Religiosos) o CEE (Centro de Estudos Eclesiásticos), integrando, segundo orientação do

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A DO PRIOR VELHO recente Concílio, um Curso Propedêutico de dois anos e um Curso Geral de quatro. Seria ali que os neo-professos dehonianos, residentes no Prior Velho, fariam os seus estudos de filosofia e, depois, de teologia. A cerimónia constou de uma sessão na Aula Magna, seguida da Missa do Espírito Santo, em que concelebraram cerca de vinte sacerdotes, entre Superiores Provinciais e Professores; os alunos eram cerca de 150. O transporte para as aulas é feito numa “carrinha”, que tem de fazer duas viagens: o primeiro grupo sai pelas 7h45; o outro faz, entretanto, a limpeza do refeitório e encaminha-se a pé, para ganhar tempo, até à Rotunda da Encarnação. O primeiro grupo é apeado perto da Luz, seguindo a pé, enquanto a carrinha volta para tomar o segundo. Várias vezes, no regresso o grupo terá de voltar a pé. Nos primeiros dias, foram à Missa à vizinha paróquia de Sacavém. Ultimado o arranjo da capela anexa ao solar, será nesta que se fará o culto. Os empregados da Quinta, que, vez por outra, participavam na Missa, foram quem ofereceu galhetas e castiçais. Nos fins-de-semana, dava-se catequese, inicialmente nas paróquias confiadas aos confrades Padres Luís Celato e Miguel Corradini, no vale de Loures e, depois, também noutras paróquias da cidade. Todas as sextas-feiras à tarde, havia reunião – Conselho de Família – para tratar as questões que surgiam. Nos recreios, jogava-se futebol no terraço em frente da casa, por grupos – dois contra três, por escassez de espaço. Na tarde de sábado, dia 14 de Outubro, o resultado foi histórico: 50 golos contra 47. Depois, passariam a jogar no terreno acidentado, o olival contíguo à casa e, por fim, no Colégio dos Maristas junto da Rotunda da Encarnação. Um passatempo do recreio era ver os aviões, que levantavam e aterravam na pista vizinha. E era adivinhar marcas dos aviões e respectivas companhias: Familiarizámo-nos com eles… Há quem veja um avião em Espanha, como existem outros que só o vêem quando o “bicho” está sobre a pista. É elucidativa a leitura da crónica da casa desses dois anos do Prior Velho! O Escolasticado funcionaria ali apenas dois anos lectivos – 1967/1968 e 1968/1969 – e os dois primeiros meses do seguinte, pois a 29 de Novembro de 1969 a comunidade transferir-se-á para a nova e definitiva sede de Alfragide. É também sugestiva e significativa a nota do cronista relativa a esse 29 de Novembro, um sábado: … um dia de muita azáfama… A nossa carrinha, nas mãos do Irmão Dinis, por várias vezes fez o percurso em vaivém, transportando utensílios práticos de toda a ordem. Pelas 11 horas, veio um camião que, por duas horas, foi carregado até não mais poder. Mas não levou tudo; ficou combinado outra carrada para segunda-feira... Almoçaram connosco o motorista e o Sr. Américo que muito nos ajudou nestes dias, como também anteriormente. Ao deixarmos o Prior Velho, a Sr.a Silvina não pôde conter as lágrimas com pena de nos ver partir. O Sr. Américo e

a Sra. Silvina eram vizinhos, que viviam e trabalhavam na Quinta, e foram amigos desde a primeira hora, como outros. Verdadeiramente, se criara uma família. Em termos de perseverança, os resultados foram magros. Dos treze do primeiro grupo (1967) só perseveraria o actual Arcebispo de Nampula, D. Tomé Makhweliha; dos seis do segundo (1968), perseveraria apenas o P.e Marcelino, actual pároco de Duas Igrejas e Cristelo. Outros, que haviam feito o curso de filosofia em Monza, passariam também pelo Prior Velho, sobretudo em Outubro e Novembro de 1969, ao terminar o estágio de prefeito; desses seria maior a perseverança. O ISEE, depois ISET (Instituto Superior de Estudos Teológicos) era um fermento de ideias e de questionamentos, pondo à prova a capacidade de os superiores e formadores digerirem o fermento conciliar. Foi o 68 da jovem Província dehoniana. Para os jovens religiosos, era a impostação mais congenial à sua generosidade e arrojo idealistas; para os formadores e superiores, um quebra-cabeças e um desafio. É ler os artigos que os jovens religiosos estudantes escreviam no Unânimes, órgão informativo da Província. Valha de exemplo o caso do hábito religioso: só os Dehonianos, no princípio e por disposição interna dos superiores, iam de colarinho às aulas, provocando a ironia dos colegas, que os apelidavam de “clero”! O Magister Spiritus, por sua vez, primava por ser paladino das novidades conciliares, criando uma certa suspeição nos veteranos da formação. Será, mais tarde, a Universidade Católica, com o seu corpo docente mais sereno, e o novo ambiente formador de Alfragide a dar ao Escolasticado dehoniano um maior equilíbrio e perseverança vocacionais. Fique porém a imagem cheia de vida, esperança e desafio, que foi o Prior Velho. De velho, aliás, só tinha o nome e o edifício, porque o elemento vivo da comunidade, os estudantes, eram pujança de juventude e de sonho. O ruído dos novos aviões a jacto, que, poisando e levantando no vizinho aeroporto, lhes faziam de despertador e de nana de embalar, eram, parafraseando a canção de Max, “os barcos que vinham de outros países com crianças de roupas felizes”, fazendo sonhar outros horizontes, neste caso ideológicos e eclesiais. Foi isso o Prior Velho, ao menos para quem lá viveu ou por lá passou com empatia.

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João Chaves

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16 – Comunicação dos conteúdos

Projectos acompanhados pela Televisão de Moçambique 08 –dehonianos recortes dehonianos

FAMÍLIA DEHONIANA NA TELEVISÃO

Televisão de Moçambique

1. Biblioteca Dehoniana de Quelimane Estava eu à espera do avião em Nampula, a 11 de Janeiro para descer para Maputo (duas horas de avião), na sala de embarque, quando sou surpreendido no ecrã da televisão moçambicana (TVM, com uma reportagem sobre a Biblioteca Dehoniana de Quelimane. Em poucas palavras, mostrava a voluntária italiana Grazia a falar sobre o projecto de um grupo de italianos e italianas apoiados pelos dehonianos, em Itália e Moçambique. Apresentava ainda uma série de salas novas, construídas por voluntários italianos. À semelhança do que a ALVD realizou no Guruè, no Alto Molocuè, em Nampula (Moçambique) e em Luau (Angola), os italianos criaram uma biblioteca para apoiar o ensino secundário em Quelimane com outro tipo de actividades e cursos. Dadas as muitas universidades em Quelimane, parece que esta biblioteca quer dar apoio aos estudantes das diversas faculdades. E a biblioteca costuma estar cheia de leitores de manhã ater ao fim do dia. Eu vi, pelo menos cem estudantes aplicados a ler e a estudar na biblioteca antiga, que era muito pequena. Agora as instalações têm melhores condições graças aos voluntários da Itália. 2. Lichinga e a Universidade Católica No dia 13 de Janeiro, a TV moçambicana apresentou uma reportagem sobre o início da Universidade Católica em Moçambique em Lichinga. Aí aparecia o bispo dehoniano, D. Élio Greselin, satisfeito e a pedir cultura para o Niassa, através dos cursos, para já, de Administração Pública, Direito, Gestão e Comércio. A própria diocese disponibilizou edifícios, instalações para que a universidade comece e sirva a população dos 2 milhões de pessoas do Niassa, com uma extensão de 130.000 kms2. É a Igreja, através de um dehoniano bispo que está a apoiar a cultura no Niassa que tanto precisa. Agora, precisa de grande ajuda (livros e dinheiro, assim como voluntários) para criar uma biblioteca que apoie estes diversos cursos da universidade.

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Adérito Barbosa

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dos conteúdos

palavra de vida – Jesus passa e a vida das pessoas transforma-se

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O DINAMISMO DO REINO Para alguns, Fevereiro é um mês de transição, “nem é carne nem é peixe”, encaixado que está entre os festejos natalícios e as ressacas de Ano Novo e as celebrações pascais que se anunciam no horizonte. Para outros, ele é o verdadeiro início do ano, depois de um mês de Janeiro que nem dá para “aquecer os motores”. Este ano, Fevereiro é especial: para já, porque tem um dia a mais; depois, como acontece sempre que a Páscoa é mais cedo, é o mês que marca o início do tempo da Quaresma. Ora, havendo um dia a mais e com o apelo da Quaresma, nada melhor que aproveitar este bónus de Deus para dar mais tempo à leitura e meditação da Palavra. O Evangelho do primeiro domingo (Mc 1, 29-39) pode servir-nos de inspiração para todo o mês, pois que ele contém os elementos essenciais do Reino e da vivência da nossa fé.

Uma força que cura, que renova e transforma

Jesus passa e a vida das pessoas transforma-se. Não é apenas uma questão de curas milagrosas de toda a espécie de doenças e males, mas o que essas curas representam. Os beneficiados pelas intervenções curativas/miraculosas de Jesus podem retomar a vida. Os cegos, os coxos, os surdos, os mudos, os possessos, todos passam a ter condições para partilhar a vida do resto da comunidade, sendo por ela acolhidos. A cura não é apenas um bem pessoal, mas um benefício para a comunidade: a sogra de Pedro é curada e põe-se de imediato ao serviço da comunidade.

Encontro pessoal com o Pai

As solicitações eram mais que muitas, surgiam de toda a parte. Mas Jesus não se deixa tentar pelo activismo nem pela fama que as curas em catadupa certamente lhe trariam. A atenção aos doentes, aos carenciados, aos mais débeis, é uma dimensão importante na vida de Jesus. Mas manter o contacto, a comunhão e a intimidade com o Pai era essencial. Aqueles encontros a sós, em lugares desertos, longe do barulho e da confusão, funcionavam para Jesus como aquilo a que habitualmente chamamos um “recarregar baterias”, uma injecção de energia para retomar a missão.

O zelo evangelizador

Jesus procura esses momentos de intimidade com o Pai, mas não se esconde nem foge da missão. Depois desses momentos de oração, é preciso recomeçar, é preciso ir a outros lugares, a outras aldeias, vilas e cidades, para também aí anunciar a Boa Nova do Reino. Porque, afinal, conclui Jesus, foi para isso que Ele veio. Estas são, bem vistas as coisas, três facetas diferentes de um Evangelho que é vida, é dinamismo, é movimento. A construção do Reino passa pela acção de cura e de serviço, mas também pelos momentos de oração e pelo anúncio da Palavra. Eis os ingredientes necessários e suficientes para uma boa vivência da Quaresma, que no fim do mês terá o seu início. Santa caminhada quaresmal!

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José Agostinho Sousa

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18 – vinde e vereis dos conteúdos

É importante despertar para a “dimensão vocacional” da existência humana

CAMINHO E META

De tantas vezes que lemos estas palavras e de tantas formas que sobre elas reflectimos, que corremos o risco de esquecer o seu sentido primário, aquele que resulta do contexto em que pela primeira vez foram proferidas. Precisamos, uma vez por outra, de reportar-nos ao Evangelho de onde elas são retiradas e à situação concreta em que aparecem. Temos de ir ao Evangelho de S. João (Jo, 1, 35-39) onde se lê: “No dia seguinte João encontrava-se de novo lá, com dois dos seus discípulos: Fitando os olhos em Jesus que passava, disse: «Eis o Cordeiro de Deus». Ouvindo o que Ele tinha dito, os dois discípulos seguiram Jesus. Voltando-Se e vendo Jesus que eles O seguiam, disse-lhes: «Que procurais?». Responderam: «Rabbi – que quer dizer Mestre – onde moras? «Vinde e vereis», respondeu-lhes. Foram, pois, …”. Ao receberem aquela informação, os dois homens, que se tinham feito discípulos de João por terem encontrado n’Ele resposta para as suas inquietações de ordem espiritual, não estiveram com meias medidas. Voltaram as costas ao seu mestre e puseram-se a seguir Jesus. Assim, sem mais. Percebendo (em boa verdade, não precisava de perceber; já o sabia muito bem) que estava a ser seguido, Jesus voltou-se e interpelou-os: “Que procurais?” A resposta foi imediata e espontânea. Não pretendiam um encontro qualquer, uma espécie de entrevista para obter mais informações ou esclarecer dúvidas. Pretendiam muito mais. Pretendiam juntar-se a Ele, segui-lO para onde quer que fosse, de forma estável e definitiva. Daí a resposta que foi outra pergunta: “Onde moras”? E foi precisamente como resposta a essa pergunta que Jesus proferiu as palavras que, à primeira vista, não é fácil avaliar: “Vinde e vereis”: Antes de mais nada o convite: “Vinde”. Depois a garantia: “Vereis”. “Vereis” onde moro? Não propriamente. Até porque não morava em parte alguma. Não podia fornecer nome de rua e número de porta. Tinha abandonado definitivamente o remanso de Nazaré, “onde Se tinha criado”. Mais tarde dirá mesmo: As aves do céu têm os seus ninhos e as raposas as suas tocas, mas o Filho do Homem não tem uma pedra sobre que reclinar a cabeça… “Vereis”, então, o quê? No verbo estão contidos claramente vários significados possíveis. Um deles é por certo este: “Ireis vendo”. Quer dizer, não vereis de forma imediata, deslumbrante, completa. Isso, para já, está fora do vosso alcance. Um dia, certamente, vereis “face a face”. Mas agora, é como num espelho, de forma imperfeita e incompleta. Além disso, o “vereis” significa também “experimentareis”. Com efeito, estes dois, tal como os outros que se lhes juntaram, puderam fazer uma experiência que os havia de marcar para toda a vida. E aqui está outro significado daquele “vereis” que continua a ecoar no tempo e no espaço, porque é para todos, também para nós. “Vereis” não só a meta a alcançar, mas também o caminho a percorrer. Sim, porque na realidade, sendo embora a meta a mesma para todos, os caminhos são diferentes. E cada um tem o seu, que desconhece à partida, mas que pode e deve descobrir, como condição para alcançar a meta. É desconhecido, mas está traçado e Alguém o aponta. De tal modo que o encontro com esse Alguém é indispensável e determinante. Daí, portanto, a necessidade de aceitar o desafio. Daí também o alcance vocacional desta rubrica que, inspirando-se no “vinde” e “vereis” pretende, nem mais nem menos, de uma forma ou de outra, mais ou menos explicitamente, despertar para a “dimensão vocacional” da existência humana, de que tanto se tem falado, ao longo dos meses.

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Fernando Ribeiro

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dos conteúdos

onde moras – Alimentarmo-nos do Seu Pão implica fazer da Sua vida a nossa

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SER O QUE DEUS SONHOU Ao olhar a força e a beleza do mar, a maravilha de uma semente lançada à terra, que passado algum tempo germina, nasce e cresce, o nosso pensamento vai espontaneamente para Deus que tudo criou. Aí está o Mestre a chamar-nos a uma maior união com o Pai. Muitas destas plantas com que a natureza nos presenteia, são transformadas em alimento. Como por exemplo o trigo que depois de crescer, é transformado em farinha e a farinha por sua vez em pão. Esta farinha serve também para fazer um pão especial, as hóstias, que na Consagração são transformadas no corpo de Jesus. É verdade, o Mestre hoje continua vivo no Sacrário, nós até comungamos o seu corpo, Ele é o nosso alimento. Estamos a chegar ao Carnaval, tempo próprio para diversões, no entanto, logo a seguir entramos na quaresma que é tempo propício a uma maior interiorização, recolhimento, relação com o Mestre que faz caminho connosco. Vamos ter a oportunidade de seguir na liturgia os passos da história da salvação, seguidos por este nosso AMIGO. Jesus diz-nos que é o “caminho”. Ele é o caminho para ser percorrido, Ele indica-nos os passos a dar, quais os valores pelos quais vale a pena lutar, quais os que testemunham a sua presença entre nós. Jesus passou pela terra fazendo o bem, socorrendo, apoiando, curando, compreendendo. Uma única coisa lhe interessava “fazer a vontade do Pai”, ao ponto de entregar a sua própria vida, para nos salvar. Hoje Ele precisa de cada um de nós para socorrer os que necessitam, para aliviar os que sofrem, para consolar os tristes e desanimados. Que faço? E tu, que fazes? Jesus é a “verdade” para ser proclamada. Mas, Ele quer precisar da minha e da tua boca para comunicar aos outros a Sua Palavra. Como o anunciamos? Ele pode contar connosco? Cada um pode responder. Jesus é a “vida” que vale a pena ser vivida. Quando me afasto de Jesus, dou mais atenção a outros valores que são passageiros, como por exemplo ao dinheiro, ao prazer, ao bem-estar e esqueço Deus que tudo criou, que quer ser a fonte do meu viver, a vida deixa de ter sentido, porque falta o essencial, o que há de mais profundo. Tudo passa a ser artificial, passageiro, pouco duradouro. Importa que todos nos empenhemos em SER, que a nossa vida seja o que Deus “sonhou” para nós.

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Fátima Pires

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20 – meias doses de saber dos conteúdos

Os laboratórios de conhecimento da Idade Média

OS SCRIPTORIA MONASTICORUM

Neste artigo, destacaremos a importância que tiveram nos mil anos medievais (designados por Idade Média porque mediaram duas idades, a Idade Antiga ou Clássica e a Idade Moderna), aquilo que poderemos chamar na linguagem de hoje os laboratórios criados nos mosteiros das ordens religiosas. Os célebres scriptoria monasticorum (Escritórios ou gabinetes dos Mosteiros) ao lado das ricas bibliotecas monásticas foram na Idade Média verdadeiros laboratórios de cultura, de ciência e base para a recriação e difusão e ensino do conhecimento antigo. Tornaram-se figuras icónicas, e, por vezes, estereotipadas, os chamados copistas, que trabalhavam denodadamente nestes escritórios. Estas personagens da cultura medieval aparecem muitas vezes representados em gravuras daquele tempo ou recriados e mitificadas posteriormente. No entanto, os scriptoria não eram apenas espaços de transcrição e reprodução manual, mas também eram ambientes frequentados pelos intelectuais e cientistas medievais, onde se dedicavam à reflexão filosófica e teológica e à escrita de conhecimento novo. De facto, eram autênticas oficinas do saber medieval, donde emanava o conhecimento fabricado com as ferramentas disponíveis, herdados e criadas de novo. Nestes ninhos de gestação da cultura medieval tanto se faziam cópias das obras dos autores clássicas e patrísticos, em que destacou a transcrição e adaptação das obras de Aristóteles e de Santos Agostinho, como se multiplicaram versões manuscritas da Bíblia, ou se produziram e se copiaram comentários e sentenças, livros de música, de matemática, de direito, de medicina, de geografia, astronomia e astrologia, como se elaboraram crónicas e os Flos Santorum (Vidas de Santos), entre tantos outros produtos do saber medievo.

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A Idade Média foi em muitos aspectos uma Idade fecunda e precursora de dinamismos progressivos e criativos que cada vez mais são reconhecidos como tal.

Podemos lembrar aqui a importância do papel do escritório monástico de Santa Cruz de Coimbra. No laborioso scriptorium do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra elaboraram-se textos fundadores da cultura portuguesa, como crónicas de reis e de santos, entre as quais se destaca a Vita Sancti Theotonii, primeiro santo da nacionalidade portuguesa; ou ainda do importante scriptorium do mosteiro de Alcobaça viriam a sair volumes incontornáveis no processo de composição da nossa história pátria e da identidade portuguesa, como é o caso dos grossos tomos da Monarquia Lusitana da autoria dos monges alcobacenses, onde se destaca o célebre Frei Bernardo de Brito.

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As ordens religiosas tiveram um papel decisivo para a formação da Europa e das suas diferentes culturas nacionais.

Como tem sido demonstrado em estudos recentes, as ordens religiosas tiveram um papel decisivo para a formação da Europa e das suas diferentes culturas nacionais. A experiência de vida monástica afirmou-se no fim da História Antiga da Igreja e no dealbar da sua história medieval. Esta forma de organização da experiência de vida consagrada, a vida dos monges, dentro da Igreja a que denominamos ordem adopta e desenvolve formas de organização social existentes no quadro do Império Romano. A palavra “ordem” deriva da raiz latina ordo, que traduz a ideia de organização em linha, de fileira, de uma determinada disposição determinada em termos de critérios de ordenação. Em sentido analógico foi usada para designar experiências eclesiais de organização grupal dentro do Cristianismo e em grupos filosóficos e religiosos das religiões orientais (escolas, seitas, movimentos, vidas monásticas). Os elementos caracterizadores dessas organizações, que se designavam por ordem, eram: identidade marcada por uma forma de vida seguida comummente pelos seus membros, práticas espirituais seguindo um método próprio, identificação pelo uso de um vestuário uniforme (hábito, sinalética, etc.), regras de ascese (alimentares e outras).

A vida monástica e o movimento que a potencia, o monaquismo, beneficiou daquela nomenclatura social definida pelo Direito Romano para enquadrar determinados grupos sociais específicos. No entanto, para além da forma consubstanciada no termo “ordem” que a projetou e celebrizou, a vida monástica tornou-se extraordinariamente fecunda em vários planos da vida do homem em sociedade. Os monges a quem o historiador francês Georges Minois chamou “uma espécie de marginais do espírito” protagonizaram uma das aventuras de vida humana diferenciadora e diferenciada socialmente que inspiraram possibilidades mais altas e mais profundas de realização do humano.

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Eduardo Franco

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22 – pedras vivas dos conteúdos

Homem íntegro, de princípios e disponível

JOSÉ BARBOSA

Ninguém estranhará, disse aqui no mês passado, que, “desta vez e porventura de outras, te apresente Pedras Vivas desta viagem”. E referia-me à visita às Missões de Madagáscar em fins de Novembro e princípios de Dezembro do ano passado. Apresentei-te, então, a Maria Alice. Perguntar-me-ás se já sei se a Maria Alice gostou ou não que se falasse dela no mês passado. Pois não sei. Não me atrevi a perguntar-lhe. Mas sei que, mesmo sem gostar, só por saber que isso pode ter ajudado alguém, como já ajudou, a gostar e a dedicar-se mais às missões e até possa despertar em alguém o gosto de fazer idêntica experiência, já lhe daria um sério motivo para dizer que sim.

Tudo o encantava, especialmente as crianças e os doentes.

E, porque não estranharás que continue a falar-te de mais alguém que me acompanhou, apresento-te, desta vez, o Sr. José Barbosa, outro dos 5 Leigos que me acompanharam, com mais 2 padres. Deste, tenho a certeza que não gosta. Mas pelo amor que o vi ter antes, na preparação da viagem, em que andou por médicos e farmácias a pedir medicamentos e outras coisas para oferecer lá… E porque até se libertou de brinquedos e recordações da infância do filho, que conservava, ternamente, há 30 anos, para levar para aquelas crianças, tenho a certeza que pelas mesmas razões que apontei para a Maria Alice dizer sim ele também o diria, se lhe falasse nisso antes. Mas, pelo sim pelo não, publico e logo se verá…

Quem é o Zé Barbosa, como os amigos o tratam? É um homem de 56 anos, de formação militar. Por isso muito disciplinado e rígido nos seus princípios, íntegro. Conheci-o era ele comandante da Brigada de Trânsito, duma cidade vizinha, mas não foi no trânsito, nem por causa dele; foi à mesa, num casamento de um seu sobrinho. Aí percebi que ele tinha jeito e alguma disponibilidade para me fazer certos trabalhos no computador, para usar no meu ministério. Aos poucos tornou-se um colaborador contínuo no Serviço de Apoio às Missões. Faz-me os cartazes para a liturgia aqui de Betânia, os desdobráveis, as contas dos Grupos Missionários e tantas, tantas outras coisinhas. È isso mesmo: Foi um achado! A nível de fé, é um crente. Mas, talvez devido ao seu trabalho, não estava comprometido com nenhuma comunidade paroquial, nem era muito praticante. Começou a vir, com alguma assiduidade a Betânia, e, agora, é frequentador habitual.

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Quando o convidei a integrar o grupo, disseme logo que não. Achava que não merecia, que aquilo era para gente mais praticante, que havia gente mais digna, etc. E, além disso, teria que deixar a esposa e o filho durante 15 dias e sempre tinham ido juntos para todos os lados e, ainda por cima, o filho faria anos enquanto ele lá estivesse… Não desarmei. Disse-lhe o que pretendia dele. Que continuasse a ser quem era: Homem íntegro e de princípios. Sério. Que fosse ver, fotografar e filmar (sabia das suas paixões), para depois mostrar por cá aos amigos das missões e a todos, para sensibilizar para a causa. E pela causa, a esposa e o filho, apesar de gostarem de estar juntos, animaram-no. A festa do filho seria depois de regressar. Foi. E, porque não esqueceu a esposa nem o filho, constantemente falava deles: “Ai se a Lurdes visse isto, ela é que gostaria disto!... Vou levar isto

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para ela. Hei-de voltar cá com o Sérgio, ele gosta tanto de aventuras, iria achar isto o máximo! E não esqueceu a prenda para a esposa, nem a de aniversário para o filho. Lá, foi sempre o primeiro a levantar-se. Não queria perder pitada de coisa nenhuma. Sempre de máquina na mão, fez mais de 10 000 fotos e muitas horas de filme. Nos seminários, comunidades religiosas e igrejas, foi a todos os momentos de oração, adoração e missas que houve, em muitos dias mais que uma vez. Tudo o encantava: As pessoas, muito especialmente as crianças e os doentes. Pasmava-se diante da beleza da paisagem com seus arrozais sempre presentes, das flores e das aves, dos trabalhos no campo e do trânsito…E achou imensa piada às 13 vezes que fomos parados pela polícia, em operações STOP, num só dia! “Aqui é que valia a pena ser comandante de Brigada de Trânsito!”

Para si mesmo, não era nada exigente. Tudo estava bem, mesmo as incomodidades próprias de uma viagem como esta! Tudo estava bom, mesmo o arroz pouco condimentado. Bebia o que havia, até o “ranopango” (bebida com que os malgaxes acompanham a refeição, e que é água fervida na panela em que se cozeu o arroz), mas, num gesto de partilha e generosidade, chegou a ir comprar cerveja para trazer para a mesa comum. Depois de chegar, tem feito render a sua viagem e as suas fotos e filmes a favor das missões. Já mostrou em Betânia os filmes e entusiasmou várias pessoas a comprar os CD’s que preparou. Percebeu a missão, viveu em missão, permanece em missão! Achava que não deveria ir, mas foi. E agora eu sei, bem mais que antes, porque é que Deus me sugeriu que o convidasse. Ele fazia falta no grupo, fazia falta à missão. Ele é uma Pedra Viva, do templo do Senhor.

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António Augusto

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24 – espaço escola dos conteúdos

– Professores? Mas o que é isso? O que fazia um professor?

NÃO

À

No ano de 2020 d.C. – ou seja, daqui a breves anos, uma conversa entre avô e neto tem início a partir da seguinte interpelação do neto: – Avô, porque é que o mundo está a acabar? A calma da pergunta revela a inocência da alma da criança. E, no mesmo tom, veio a resposta: – Porque já não existem professores! – Professores? Mas o que é isso? O que fazia um professor? O velho respondeu, então, que professores eram homens e mulheres elegantes e dedicados, que se expressavam sempre de maneira muito culta e que, há anos, transmitiam conhecimentos e ensinavam as pessoas a ler, a falar, a escrever, a comportar-se, a localizar-se no mundo e, na história entre muitas outras coisas e, principalmente, ensinavam as pessoas a pensar… – Eles ensinavam tudo isso? Mas eles eram sábios? – Sim, ensinavam, mas não eram todos sábios. Apenas alguns, os grandes professores, que ensinavam outros professores, e eram amados pelos seus alunos. – E como foi que eles desapareceram, avô? – Ah, foi tudo parte de um plano secreto e genial, executado aos poucos por alguns vilões da sociedade. O avô não se lembra bem do que veio primeiro, mas, sem dúvida, os políticos ajudaram muito. Eles acabaram com todas as formas de avaliação dos alunos, apenas para mostrar estatísticas de aprovação. Assim, sabendo ou não sabendo alguma coisa, os alunos eram aprovados. Isso liquidou o estímulo para o estudo e apenas os alunos mais interessados conseguiam aprender qualquer coisa. Depois, muitas famílias estimularam a falta de respeito pelos professores, que passaram a ser vistos como empregados dos seus filhos. Estes foram

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EXTINÇÃO DOS PROFESSORES ensinados a dizer: “eu estou a pagar e vocês têm que me ensinar!”; ou: “para quê estudar se o meu pai não estudou e ganha muito mais do que você, senhor professor… ou ainda: “o meu pai dá-me mais de mesada do que o professor ganha!”. Isso quando não iam os próprios pais gritar com os professores nas escolas. Para isso, muito ajudou a multiplicação de escolas particulares, as quais, mais interessadas nas mensalidades do que na qualidade do ensino, quando recebiam reclamações dos pais, pressionavam os professores, dizendo que eles não estavam a conseguir “gerir a relação com o aluno”. Os professores eram vítimas da violência – física, verbal e moral – que lhes era destinada por pobres e ricos. Viraram saco de pancada de toda a gente. Além disso, qualquer proposta de ensino sério e inovador sempre esbarrava na obsessão dos pais com a aprovação do filho no secundário, para qualquer faculdade que fosse. “Ah, eu quero saber se isso que vos estão a ensinar vai fazer o meu filho passar nos exames”, diziam os pais nas reuniões com as escolas. E, assim, praticamente todo o ensino foi orientado para os alunos passarem no último ano. Lá se foi toda a aprendizagem de conceitos, as discussões de ideias, tudo, enfim, virou saber de cor fórmulas. Com a Internet, os trabalhos escolares e as fórmulas ficaram acessíveis a todos, e nunca mais ninguém precisou de ir à escola para estudar a sério.

Em seguida, os professores foram desmoralizados. Os seus salários foram gradativamente sendo esquecidos e ninguém mais queria dedicar-se à profissão. Quando alguém criticava a qualidade do ensino, sempre vinha algum crítico dizer que a culpa era do professor. As pessoas também se tornaram descrentes da educação, pois viam que as “bem sucedidas” eram políticos e empresários que financiavam modelos, jogadores de futebol, artistas de novela da televisão, sindicalistas – enfim, pessoas sem nenhuma ou pouca contribuição real ofereciam para a sociedade. As escolas devem ser apoiadas e os encarregados de educação têm de estar mais atentos aos seus educandos. Só assim, escola, professores, encarregados de educação e alunos poderão atingir um grau ótimo de eficácia, satisfazendo encarregados de educação os, familiares, os docentes e, principalmente, os alunos.

PENSAR

As escolas devem ser apoiadas e os encarregados de educação têm de estar mais atentos aos seus educandos.

Os professores têm de se assumir como peda•gogos.

•res.Os alunos devem colaborar com os professoencarregados de educação devem apoiar •osOsfilhos.

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Manuel Mendes

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26 – leituras

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O documento do Sínodo para África

O SERVIÇO DA Á O segundo Sínodo Especial para África terminou a 25 1. As palavras Sínodo e Concílio de Outubro de 2009, presidido pelo Papa Bento XVI Seguindo as orientações do Concílio em Roma. Os 200 participantes reflectiram durante Ecuménico Vaticano II (1962-1965), três semanas sobre o tema: a Igreja em África ao servio papa Paulo VI introduziu na Igreja ço da reconciliação, da justiça e da paz. Católica Romana os sínodos com carácter habitual. Até aqui, sínodo e concílio tinham o mesmo significado. A partir deste papa, o concílio é uma assembleia eclesial dotada de poder legislativo e executivo. Os Sínodos servem para aconselhar o papa sobre determinados assuntos. A palavra grega sínodo significa assembleia sem carácter executivo. Sin significa juntos. Odos significa caminho ou viagem. Assim, entende-se como assembleia de companheiros que viajam juntos. As pessoas reúnem-se com um objectivo. 2. Ecuménico A palavra ecuménico significa habitado, onde há casas (oikos), relacionado com todo o mundo habitado. A Igreja começou a usar este termo ecuménico referindo-se aos concílios, às assembleias que representam a Igreja na sua totalidade. É diferente dos concílios ou sínodos regionais ou provinciais. O Concílio de Jerusalém (Act 15) reuniu os apóstolos e diáconos para estudar a circuncisão e outros ritos da religião judaica. Alguns consideram como primeiro concílio o de Jerusalém, outros a última Ceia e outros o Pentecostes. Para muitos estudiosos, o primeiro concílio é o de Niceia no ano 325 depois de Cristo. 3. A Igreja em África A primeira Assembleia Especial para a África do Sínodo dos Bispos realizou-se em Roma a partir do dia 10 de Abril de 1994, durante quatro semanas, presidida pelo papa João Paulo II, com o tema: a Igreja em África e a sua missão evangelizadora. A frase bíblica de inspiração era: “vós sereis minhas testemunhas” (Act 1,8). O documento final ou seja a exortação de João Paulo II chama-se a Igreja em África. Esta assembleia chama-se especial, já que as Assembleias Gerais Ordinárias começaram em 1967 com Paulo VI e são para toda a Igreja e realizam-se de quatro em quatro anos: 1967, 1971, 1974, 1977, 1981, 1985… O Sínodo assumiu como ideia-chave para a evangelização da África, a noção de Igreja como Família de Deus. Nela reconheceram os Padres Sinodais uma expressão

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da natureza da Igreja, particularmente apropriada para a África. Com efeito, a imagem acentua a atenção pelo outro, a solidariedade, as calorosas relações de acolhimento, de diálogo e de mútua confiança. A nova evangelização tenderá, portanto, a edificar a Igreja como família, excluindo todo o etnocentrismo e excessivo particularismo. 4. Segunda Assembleia Especial para a África do Sínodo dos Bispos O segundo Sínodo Especial para África terminou a 25 de Outubro de 2009, presidido pelo Papa Bento XVI em Roma. Os 200 participantes reflectiram durante três semanas sobre o tema: a Igreja em África ao serviço da reconciliação, da justiça e da paz. O subtítulo era assim formulado: vós sois o sal da terra, vós sois a luz do mundo (Mt, 5, 13-14). Há 100 anos, os católicos em África reduziam-se a 1 milhão. Em 1978, eram 55 milhões. Actualmente são 160 milhões católicos, 300 milhões de muçulmanos em 800 milhões de pessoas. A África é uma reserva de esperança e de valores para toda a Igreja. É um pulmão espiritual para a humanida-

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A ÁFRICA (Africae Munus)

de como referiu Bento XVI, no início do Sínodo. A África é rica em juventude e futuro. 60% da população africana tem menos de 25 anos. 5. O serviço da África Assim se intitula o documento apresentado por Bento XVI no Benim, a 19 de Novembro de 2011, correspondendo ao segundo sínodo sobre a África. Na mensagem ao Povo de Deus apresenta um apelo: África, levanta-te e caminha. A África é a parte do globo mais atingida. Muitos povos são deixados na pobreza e na miséria. Muitas vezes, a África não é alcançada pelo bem comum do globo. A verdadeira iniciativa da reconciliação vem de Deus. Em Cristo, Deus reconciliou o mundo. Deus perdoa sem condições. A justiça é acção de Deus. Aponta que todos os membros da Igreja devem

trabalhar em conjunto. Insiste na renovação da formação dos cristãos, integrando temas sociais nas catequeses tradicionais. Recorda a figura de Julius Kambarage Nyerere (13 de abril de 1922 — 14 de outubro de 1999) antigo presidente da Tanzânia, homem empenhado na vida pública e que a Igreja já começou o seu processo de beatificação. As proposições sublinham a evangelização como a missão e a identidade da Igreja (EN, 14). A evangelização consiste essencialmente em dar testemunho de Cristo na força do Espírito, primeiro, pela vida e, depois, pela palavra (cf. EN, 21), num espírito de abertura aos outros, de respeito e de diálogo com eles sobre os valores do Evangelho. O Sínodo renova o seu apoio à promoção de Pequenas Comunidades Cristãs (PCC), que edificam de forma sólida a Igreja-Família de Deus em África. As PCC assentam na partilha do Evangelho, onde os cristãos se reúnem para celebrar a presença do Senhor nas suas vidas e no meio delas, através da celebração da Eucaristia, a leitura da Palavra de Deus e o testemunho da sua fé no serviço de amor uns aos outros e nas suas comunidades.

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Adérito Barbosa

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28 – sobre a bíblia dos conteúdos

AMOR: o primeiro fruto do Espírito Santo

AMOR DE DEUS P

No início do seu pontificado, o Papa Bento XVI propunha uma grande reflexão sobre o amor cristão, na Encíclica Deus caritas est. Não se pretende entrar diretamente nessa reflexão, de outros âmbitos, mas pode servir de premissa ao nosso tema uma constatação simples do Santo Padre: “O termo ‘amor’ tornou-se hoje uma das palavras mais usadas e mesmo abusadas, à qual associamos significados completamente diferentes” (DCE, 2). Ao tratar do primeiro dos frutos/obras do Espírito Santo, não podemos deixar de assinalar que pode constituir uma dificuldade esta variedade e abuso de significados do termo em questão.

Tratando-se da obra do Espírito Santo em nós, não poderemos deixar de parte um texto paulino em que Paulo faz depender esse amor do mesmo Espírito, remetendo-o para o próprio Deus: “O amor de Deus foi derramado nos nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rm 5, 5). Sendo amor de Deus, que relação terá este fruto do Espírito com o próprio Deus? Será o amor que Deus possui, o amor com que amamos a Deus, o amor que provém de Deus ou, antes, o amor que Deus tem por nós? Inclino-me para a primeira e a última destas aceções: é o amor que pertence a Deus e com que o mesmo Deus nos amou que foi derramado nos nossos corações. A este ponto, perguntamo-nos: e onde entra o Espírito? Esse amor “foi derramado pelo/através do Espírito Santo”, diz Paulo, colocando o Espírito a um nível instrumental, qual meio de que Deus se serve para nos fazer chegar esse amor. Se temos o Espírito como a terceira pessoa da Trindade, podemos entender, então, que se trata perfeitamente de uma qualidade divina: que vem de Deus, que nos dada através do próprio Deus, e que é realizada pelo próprio Deus (cf. Jo 13, 1: “[Jesus] amou-os até à perfeição”). Já por isto, entendemos que não é apenas uma qualidade humana, mas um grande tesouro que nos é dado por Deus e que, na lógica do evangelho, de dons recebidos que importa fazer frutificar/render – tal como os talentos – em muito dependerá de nós na sua forma de ser realizado. Um outro dado para a compreensão do termo “amor” no grupo dos frutos do Espírito Santo é o seu contexto no escrito donde partimos, ou seja, a Carta aos Gálatas. A palavra em causa (amor, agapê) não é, aí, usada mais que três vezes, sendo uma delas a listagem dos frutos do Espírito Santo, restando-nos apenas mais duas. A primeira dessas ocorrências relaciona o amor com a fé: “a fé que se opera por meio do amor” (Gl 5, 6); Paulo transforma o amor em instrumento que leva a fé à prática. Teremos bem presente a questão que aflorámos rapidamente no número anterior: a Carta aos Gálatas tem a finalidade específica de mostrar que a justificação – leia-se, salvação – do crente é realizada pela fé e não pelas obras. Mas será que Paulo deixa de parte as obras? E a provocação de Tg 2, 17-18: “A fé sem obras é morta. Mostra-me a tua fé sem obras que eu, pelas obras, te mostrarei a minha fé”? Gl 5, 6 mostra que se parte, efetivamente, da fé, mas é necessário que essa fé ganhe vida pelas obras do amor. Ponto alto dessa reflexão, encontramo-lo no hino ao amor, em 1Cor 13, 2, onde Paulo mostra que sem amor até a fé mais perfeita faria dele um nada.

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S PARA DEUS E PARA OS IRMÃOS “O amor de Deus foi derramado nos nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado”. (Rm 5, 5) A outra ocorrência mostra bem outra dimensão do amor, em concreto na comunidade dos redimidos/ justificados, que não o foram para os pretextos da carne, mas para se colocarem ao serviço uns dos outros “através do amor” (Gl 5, 13). Neste sentido, o amor cristão não pode ser entendido fora da comunidade cristã e faz frente a toda a espécie de individualismos que pudesse assolar os crentes, a este ponto da reflexão paulina já redimidos pelo valor infinito da cruz de Cristo. Poderá parecer confuso tudo quanto se disse até este momento e ocorre-nos a questão: trata-se do amor de Deus ou do nosso amor? A resposta mais evidente poderá vir de uma reflexão que extravasa – mas não contradiz – a reflexão paulina. É São João a afirmar que “Deus é amor” (1Jo 4, 8). A lógica da reflexão joanina é a de um Deus que nos amou por primeiro e que requer da nossa parte não apenas o contracâmbio de amor, como de “troca por troca”, mas uma expansão do mesmo amor: “Se Deus nos amou, também nós devemos amar-nos uns aos outros” (1Jo 4, 11). Estabelece-se assim uma lógica quase platónica de um amor que tem o seu arquétipo no próprio Deus, um amor quase inatingível que é realizado pela pessoa de Jesus no seu contacto com os discípulos, a quem amou “até à perfeição” (Jo 13, 1), sendo Ele próprio Deus. Nós imitamos esse amor na vida das nossas comunidades cristãs. O mesmo pensamento está presente em Paulo. Conforme dissemos no início, Paulo está convicto de que o amor vem de Deus e é derramado nos nossos corações. Da nossa condição de homens chamados à liberdade dependerá a resposta positiva ao chamamento a esse amor que ele derramou em nós. Esta existência dialógica do crente com o próprio Deus é ponto assente e constante da reflexão paulina: afinal de contas, é o mesmo Espírito que veio aos nossos corações e que nos faz gritar para Deus, “Abba, Pai!” (cf. Gl 4, 6; Rm 8, 15). Neste caso, o amor de Deus que foi derramado em nós não será apenas amor que dele vem, mas também amor que nós, como filhos, nutrimos por este Pai que nos amou primeiro. Que maravilha: amar a Deus e aos irmãos, com o próprio amor que vem de Deus e que nos é dado através do Espírito Santo!

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Ricardo Freire

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30 – reflexo

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Apesar da pobreza, as pessoas andam felizes

Sabias que:

POBREZA FELIZ?

Desde alguns dias que me encontro de novo em Timor Leste. É sempre motivo de alegria regressar a esta terra do sol nascente. Saí de Portugal em pleno inverno, onde as temperaturas andam muito baixas. As notícias que relatam o nosso dia-a-dia falam-nos de crise, divida externa, desemprego, incertezas quanto ao futuro, o problema da Grécia e as consequências para todos nós. Um panorama nada animador. Quando o avião saiu do aeroporto, para trás ficou todo esse contexto que nos vai sufocando e tirando a alegria de viver. De facto não é fácil olhar para a frente e encontrar forças para continuar a lutar, sobretudo quando depois de todos os sacrifícios que nos são pedidos as coisas continuam iguais. Tantas famílias a passar por provações sem ter mesmo o mínimo necessário para viver. E quantas mais desgraças que estão escondidas. Ao aterrar em Dili, depois de muitas e muitas horas de voo, encontramos um país e uma realidade diferente: sol, calor, muita chuva e gente sorridente e feliz. Timor Leste é um pequeno país. Ainda vai dando os primeiros passos na sua curta história como pais. É verdade que a intervenção internacional nem sempre foi feliz e mais que trazer soluções, causou problemas. Passam alguns anos da independência, não havia uma classe política preparada, e os problemas para resolver são imensos. Mas logo à saída do aeroporto de Dili notamos muitas diferenças. Apesar da pobreza que é visível as pessoas andam felizes. Tantas crianças a sorrir, movimento, mercados, construções novas. É impressionante ver o rosto destas pessoas, de modo

particular as crianças. Andam sempre com um sorriso no rosto. Encontram-se em todo o lado, felizes, ora caminhando para a escola, mesmo ao sábado, ora carregando água para casa, ora brincando com um simples pau ou pedra. Fazem quilómetros a pé para chegar à escola, caminham descalços, ao sol, à chuva, de manhã cedo ainda escuro, ou ao cair da tarde regressando a casa. Junto às estradas vemos grupos que alegres e sorrindo vão ou regressam da escola. Uns dias levam uma simples vassoura de ramos de palmeira, todos limpam a escola. Outros dias levam uns molhinhos de paus, todos colaboram com lenha para cozer o arroz. Ao vê-los penso nas nossas escolas, de tudo o que dizemos e exigimos. Ao ver tudo isto por aqui dá que pensar. É verdade que são contextos diferentes, mentalidades, histórias e culturas distintas. Mas é legitimo fazer algumas perguntas: o que dá alegria a estas crianças? Porque caminham tão felizes, se nada têm? Não estamos cada vez mais acomodados? O que é o essencial da vida? Mais do que me preocupar em encontrar respostas, vou continuar a caminhar por estas estradas e contemplar estes rostos simples, felizes e que até chego a invejar. Passo a passo e lentamente este povo vai construindo a sua história. Olham para nós como alguém que está com eles e quer que eles, sendo quem são, sejam os protagonistas da sua História em liberdade. É verdade que há mais alegria em dar do que em receber. Ainda bem que há gente que nos faz pensar nos critérios que orientam e fundamentam a nossa vida. Será que vale a pena correr tanto?

A Palavra de Deus diz: Lc 18, 15-17. Jesus desde o inicio da sua pregação revela uma grande aproximação aos mais pobres e marginalizados. Procurou com a sua doutrina ir ao encontro dos mais esquecidos, dos que sofriam. Os discípulos ainda não tinham compreendido bem o que Ele anunciava de tal forma que repreendiam as crianças. Mas Jesus deixou que elas se aproximassem. Delas e o Reino dos Céus.

Faz silêncio e reza: Procura um local sossegado. Lê o texto proposto. Qual o tem projecto de vida? Quais as linhas mestras? Neste tempo de mudança, de procura do essencial o que mudou em ti? Faz uma oração a Deus

Tenho de: Os discípulos não tinham compreendido Jesus, repreenderam as crianças. Diante de casos que nos relatam situações dos mais necessitados, de injustiças, de solidão e de pobreza não podemos mandar calar ou afastar os que se sentem injustiçados. Será que estou sempre disponível para escutar os que se aproximam de mim? Olha e vai ao encontro de alguém que não seja escutado e dá-lhe a mão.

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Feliciano Garcês

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dos conteúdos

opinião –

Época de asfixia do espírito, na qual a crise tudo justifica

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QUANDO A PESSOA É DEGRADADA A OBJETO DE TROCA OU DE ALUGUER

Vivemos tempos complexos e hoje especialmente marcados pela crise, que diz respeito directamente aos aspectos mais materiais da nossa vida pessoal e colectiva, as questões da economia, dos mercados, da especulação financeira. Ainda recentemente uma professora universitária brasileira que conheci num Congresso na Roménia em Outubro passado sobre o matrimónio nas grandes religiões monoteístas, e que estava de visita a Portugal, me dizia que os seus familiares que aqui residem vivem muito atribulados e sem esperança, por causa das grandes dificuldades que estão a passar; e muitos brasileiros estão a regressar ao Brasil, considerando que afinal a esperança que tinham depositado nas possibilidades que poderiam encontrar em Portugal foram goradas e por isso tiveram de regressar, agora que a economia brasileira se encontra em pleno florescimento. Sentimos todos que a crise é global, e as agências de notação financeira como que se divertem neste jogo de altos e de baixos, de classificações, determinando o lugar que cada país está a ocupar, sendo que no nosso caso já estamos quase no lixo. No caso das agências de notação financeira foi-me dito que elas são financiadas pelos próprios países que analisam e classificam. Não percebo muito destas coisas, devo dizer. Mas se assim é e se declaram que Portugal está nesta condição de não poder honrar os seus compromissos, então o que devia fazer era mesmo deixar de lhes pagar. Mas eu próprio penso que é muito mais grave a crise que estamos a viver; é uma crise de sentido, de valores, é uma crise de humanidade. Parece que se perdeu a noção da dignidade e que tudo se pode comprar ou vender, tudo, mesmo a pessoa, pode ser objecto de troca e de negócio. É o caso entre nós da questão em torno das barrigas de aluguer. Então a mulher já pode vender-se ou alugar-se, em parte ou no todo? Surpreendeu-me até certo ponto, quando soube o resultado do inquérito que foi feito – sabe-se já com que critérios de objectividade – sobre este tema a adolescentes e a estudantes universitárias, a preparar o ambiente para a proposta legislativa sobre este tema, que uma percentagem muito elevada das entrevistadas concordava com este aluguer de barrigas e que estaria mesmo disposta a entrar neste negócio. Além disso, fiquei verdadeiramente admirado com o silêncio (pelo menos não ouvi nada sobre este tema) de quem, em nome do seu patriótico catolicismo, deu a cara pela supressão dos feriados religiosos – uma causa de tal grandeza que justifica um lugar parlamentar!... –, e nada tenha feito ou declarado sobre este tema das barrigas de aluguer, um tema verdadeiramente merecedor, porque fracturante da dignidade da mulher, que é degradada a objecto de troca ou de aluguer, numa época de asfixia do espírito, na qual a crise financeira tudo justifica.

Como é urgente que se recorde o tema da tentação de Adão e de Eva que a Escritura narra, de quererem apoderar-se do fruto da árvore da vida e que por isso mesmo foram expulsos do paraíso, e as portas guardadas por querubins. Este relato bíblico tem uma potencialidade simbólica enorme para os nossos dias. E aquela outra palavra que o Senhor cita respondendo à tentação satânica: nem só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus. Ou a palavra de S. Paulo que exorta os cristãos a não profanarem o próprio corpo, porque é o templo do Espírito Santo. Há limites que não podem ser ultrapassados. Estas medidas fracturantes, fracturam não a sociedade, mas os próprios que as propõem, defendem ou aprovam e sobretudo quem as pratica. É urgente que as nossas consciências meio adormecidas despertem para a nossa responsabilidade e para as contas que havemos de dar não só diante do tribunal da história, mas sobretudo diante do tribunal de Deus, sob cujo juízo nos encontramos.

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Jacinto de Farias

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32 – sobre a fé dos conteúdos

“Cada alma que se eleva, eleva o Mundo”

O PECADO SOCIAL

Nestes últimos anos e na sequência de algumas realidades menos boas no nosso mundo e até no seio da própria Igreja, temos vindo a escutar palavras de exortação do Papa Bento XVI, que nos apelam à purificação do coração, à renovação da mente e à penitência. E isto é tão necessário, se tivermos em conta o chamado contexto de crise em que vivemos. Esta situação, na perspectiva do actual Papa, pulveriza-se em tantas outras crises: crise económica, crise social, crise ética e, por fim, crise de fé. Esta última, está na raiz, ou se quisermos, no cerne da crise que se vive na sociedade: o mundo, salienta o Papa, atravessa uma profunda crise de fé, acompanhada pela perda do sentido religioso, factores que constituem, “o maior desafio para a Igreja de hoje” (Discurso, 27/01/1012). Noutros momentos da história humana, esta mesma situação de crise foi descrita como tendo a sua génese na recusa do amor de Deus, ou então, na perda do sentido do pecado, tal como afirmava o Pe Dehon e também todo o magistério do séc. XX. Parece-me interessante, no presente contexto, recordar este ponto de vista, porque estas realidades são também, simultaneamente, a causa e resultado desta tal crise primeira: a falta de fé e consequentemente, falta de Deus.

O pecado A Exortação Apostólica Reconciliação e penitência na missão actual da Igreja (1984) veio lembrar que o mundo precisa urgentemente da reconciliação e a penitência (nº 3) e relaciona o pecado com a verdade sobre o homem (Cf. 13), ou seja, é algo que lhe diz respeito quando se excede no uso da liberdade, colocando em risco a sua relação com Deus e com os demais, rebaixando-se, assim, à “condição de escravo” e de divisão interna. Este texto considera, portanto, o pecado sob o aspecto da cisão, isto é, de uma divisão que põe em causa não só a harmonia, mas também duma cisão, que não afecta apenas o homem - considerado individualmente -, mas que o afecta “como rede de relações sociais, políticas e até mesmo cósmicas, pois que envolve todo o universo do qual o homem é em certa medida o centro”. E as manifestações desta ruptura, continua o texto, encontrámo-las no plano social, político e internacional, que actualmente envolvem os povos e as relações entre os povos e estados. O pecado tem por isso, uma impressionante visibilidade e publicidade, o que é especialmente sentido nos nossos dias e que os meios de comunicação social não se cansam de revelar. Neste sentido, o documento referido define, não só o pecado como exclusão de Deus, ruptura e desobediência a Deus (Cf. nº14), mas acrescenta-lhe algo mais: uma vez que com o pecado o homem recusa submeter-se a Deus, “também se transtorna o seu equilíbrio; e, precisamente no seu íntimo, irrompem contradições e conflitos. Assim dilacerado, o homem produz, quase inevitavelmente, uma laceração no tecido das suas relações com os outros homens e com o mundo criado. É lei e facto objectivo, que têm confirmação em muitos momentos da psicologia humana e da vida espiritual, como aliás na realidade da vida social, onde é fácil observar as repercussões e os sinais da desordem interior”. Assim, continua a Exortação: “o mistério do pecado é formado por esta dupla ferida, que o pecador abre no seu próprio seio e na relação com o próximo. Por isso, pode falar-se de pecado pessoal e social: todo o pecado sob um aspecto é pessoal, e todo o pecado sob um outro aspecto é social, enquanto e porque tem também consequências sociais” (nº15)

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O pecado social Segundo parece, foi a primeira vez que surgiu num texto do magistério esta expressão pecado social, que é, depois, esclarecida. Como sabemos, o pecado, no sentido próprio e verdadeiro, é sempre um acto da pessoa, porque é um acto de um homem, individualmente considerado, e não propriamente de um grupo ou de uma comunidade. Mas, este acto tem também consequências para os outros, tal como refere o documento: “falar de pecado social quer dizer, primeiro que tudo, reconhecer que, em virtude de uma solidariedade humana tão misteriosa e imperceptível quanto real e concreta, o pecado de cada um se repercute, de algum modo, sobre os outros (…). Por outras palavras, não há nenhum pecado, mesmo o mais íntimo e secreto, o mais estritamente individual, que diga respeito exclusivamente àquele que o comete. Todo o pecado se repercute, com maior ou menor veemência, com maior ou menor dano, em toda a estrutura eclesial e em toda a família humana” (nº 16). Neste sentido, é social o pecado contra o amor do próximo e é igualmente social todo o pecado cometido contra a justiça, quer nas relações de pessoa a pessoa, quer nas da pessoa com a comunidade, quer, ainda, nas da comunidade com a pessoa. É social todo o pecado contra os direitos da pessoa humana, “a começar pelo direito à vida, incluindo a do nascituro, ou contra a

integridade física de alguém; todo o pecado contra a liberdade de outrem, especialmente contra a suprema liberdade de crer em Deus e de o adorar; todo o pecado contra a dignidade e a honra do próximo. É social todo o pecado contra o bem comum e contra as suas exigências, em toda a ampla esfera dos direitos e dos deveres dos cidadãos. Pode ser social tanto o pecado de comissão como o de omissão: da parte dos dirigentes políticos, económicos sindicais, por exemplo, que, embora podendo, não se empenhem com sabedoria no melhoramento ou na transformação da sociedade, segundo as exigências e as possibilidades do momento histórico; como também da parte dos trabalhadores, que faltem aos seus deveres de presença e de colaboração, para que as empresas possam continuar a proporcionar o bem-estar a eles próprios, às suas famílias e a toda a sociedade” (nº16). Assim, pelo que fica dito, que a actual situação nos leve a tomar consciência de que “cada alma que se eleva, eleva o mundo”… e aquele que se rebaixa pelo pecado arrasta consigo a Igreja, e, em certo modo, o mundo inteiro.

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Nélio Gouveia

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34 – planeta jovem do mundo

Ele percebe que estou ocupada, mas sabeu que O amo

REORGANIZA PRIORIDADES A vida corre tão depressa quando se é jovem. O tempo voa, brinca e corre. Corre e deixa sempre o trabalho acumulado, a escola, as responsabilidades e as obrigações. A vida corre tanto quando se é jovem, que nos obriga a correr com ela. Chega aquela altura, no final do semestre, em que não temos tempo para nada. Em que percebemos que o dia deveria ter 25h no mínimo para termos tempo para pelo menos descansar. E aí, ficamos sem tempo para Ele. Aí temos preguiça de lhe falar, de ir ao encontro dele – “Ele percebe, Ele sabe que estou ocupada mas que O amo” – Repete o meu inconsciente quando se deixa levar pela preguiça na hora d’Ele. Tenho tempo para ouvir música nas longas viagens, tenho tempo para falar horas ao telemóvel e de trocar mensagem com quem não tenho tempo de visitar. Tenho tempo para o café e para as conversas de balcão. Contudo ter tempo para Ele é mais complicado, a vida corre tão depressa – “Ele percebe, Ele sabe que estou ocupada mas que O amo”– Este torna-se o meu lema nas alturas de maior pressão. Este torna-se o lema que ocupa a minha alma. Agora, que arranjei tempo para Ele, envergonho-me disto. Quando uma súbita voz me chama, e um certo arrependimento me toca o coração, quando reorganizo prioridades ou simplesmente reorganizo a agenda e vou ao encontro d’Ele sei que “Ele percebe, Ele sabe que estou ocupada mas que O amo”, mas percebo também que isso não apaga a necessidade que tenho d’Ele. O tempo voa, brinca e corre mas eu preciso d’Ele mais que Ele de mim, preciso do tempo para Ele mais que do tempo para mim, preciso d’Ele para ser verdadeiramente eu. E tu, já te encontraste com Ele hoje? Já reorganizaste a tua agenda? Reorganiza prioridades!

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Inês Pinto

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do mundo

outro ângulo – Tudo começa com a PROCURA, depois passa-se à PAIXÃO e, no fim, à LIGAÇÃO

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I THINK I WANNA Quem não se lembra de estar apaixonado? De sentir aquela calor na barriga quando ele/ela se aproxima, ou nos manda um comentário pelo Facebook, ou um sms que até pode apenas dizer “lol”?

Cientistas como Helen Fisher, defendem a existência de 3 fases no namoro: a 1.ª fase passa essencialmente pela nossa necessidade de procurar/encontrar qualquer coisa, alguém (fase essa que normalmente se inicia na adolescência). A 2.ª fase é a da paixão, do enamoramento, para muitos, a fase mais mágica de todas. É aqui que passamos noites sem dormir, sem apetite para comer, ou para falar de qualquer outro assunto que não seja ele/ela, as nossas mãos suam, falta-nos a respiração… Surge então a 3.ª fase, tida como a fase da “ligação”. Aqui passamos já para um amor mais sóbrio, no fundo mais ra-cional. Curiosamente, outros estudos indicam que muitos namoros acabam na transição da 2.ª para a 3.ª fase. Ou seja, a partir do momento que a “química do amor” abranda, começamos a ponderar se poderá ou não dar certo. No caso de considerarmos que o nosso relacionamento poderá passar dos três meses, torna-se necessário delinear estratégias que nos permitam objectivar um relacionamento, mais calmo, estável, duradouro e de felicidade mutua. É aqui que vai uma das partes mais complicadas. Assumir perante a nossa família e amigos que queremos que aquela pessoa faça parte da nossa vida, do nosso dia-a-dia. Por vezes os nossos amigos ou mesmo a nossa família poderá encarar aquele “elemento” como uma “ameaça” pois na verdade

MARRY YOU

terás de dividir melhor o teu tempo (atenção que por vezes nos poderão estar a alertar para situações menos agradáveis). São muitos os jovens que acabam por entregar-se completamente a este relacionamento e alteram todos os seus hábitos, rotinas e até comportamentos. É normal que algo mude, mas considero que nunca (nunca mesmo) devemos deixar de ser quem somos! Nem permitir que alguém nos peça para mudar aquilo nos define ou caracteriza. Faz exactamente hoje sete anos que namoro com aquele é meu futuro esposo. Para o meu grupo de amigos nem sempre foi fácil acreditar e aceitar que se tratava de algo sério e que ao mesmo tempo poderia continuar a ser a mesma Alícia que sai, tem os seus próprios amigos, os seus próprios hobbies! Nem ele deixou de ser quem é… afinal, por quem me apaixonei? A verdade é que não quero garantir que será o amor da minha vida, pois isso seria sinal de que a nossa união estivesse garantida, e não! Quero fazer como sempre temos feito: agradecer a Deus e Maria por nos ter colocado ambos nos nossos caminhos e trabalhar todos os dias para que o nosso amor dê fruto. Todas as fases do namoro são importantes e maravilhosas desde que nos sintamos bem connosco e com a pessoa que nos acompanha nesta caminhada!

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Alícia Teixeira

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36 – novos mundos do mundo

O tempo tem de ser constantemente sujeito a ajustamentos

O TEMPO Caros amigos leitores, aproxima-se a passos largos o tempo da Quaresma…! Exato: 40 dias de preparação para a Páscoa. Mas, serão exatamente 40 dias? NÃO! E antes que pareça que estou a brincar, passo a explicar: O tempo tal como o conhecemos hoje poderá não ser exatamente o mesmo tempo nos séculos que virão. Isto porque, já é conhecido de todos que existem anos bissextos, mas sabias dos segundos bissextos? Começo por explicar por que razão acontece os anos bissextos… Um dia não tem, exatamente, 24h. Sim, é verdade! Os dias têm cerca de 23h56min. Os 4 minutos que “sobram” de todos os nossos dias, vão-se acumulando e ao fim de 4 anos já formam um dia, pelo que os anos bissextos, de 4 em 4 anos, têm um dia a mais do que os anos comuns. Mas, constantemente, o tempo tem que ser sujeito a ajustamentos, pois todos os relógios na Terra são sincronizados pelos relógios atómicos, que se situam nos satélites espaciais e são extremamente precisos (são estes que garantem o bom funcionamento dos sistemas GPS, das telecomunicações e até da Internet). Se os nossos relógios apenas dependessem destes que estão no Espaço, não haveria problema nenhum… Só que as oscilações da Terra em torno do seu eixo também provocam alterações na hora e nos relógios existentes na terra. E é através da diferença entre a hora dos relógios atómicos e a hora baseada na rotação da Terra que é conhecido por segundo bissexto! O segundo bissexto está a ficar cada vez maior e a colocar fora de sintonia a “hora terrestre” e a “hora espacial”. Já existem algumas tentativas de alteração do sistema atual, para acabar com o segundo bissexto, no entanto, existem países contra. Este assunto irá ser resolvido brevemente na Conferência Mundial de Radiocomunicações da União Internacional das Telecomunicações. Até lá… Ficamos a contar os segundos à espera! Até daqui a 28,25 dias

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André Teixeira

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do mundo

nuances musicais – A atitude do frontman é essencial para a comunicação com o público

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A ATITUDE DO FRONTMAN Frontman é o nome atribuído ao líder de uma banda, geralmente vocalista principal e que é o contacto direto da mesma banda com o público. Esta tarefa de ser Frontman é algo que exige uma apetência de valor equivalente ao tocar eximiamente um instrumento. Poderíamos dizer que um Frontman nos vocais apenas teria de ter uma boa voz e cantar afinado, no entanto, e recorrendo à realidade histórica, não é bem assim. Para ser o contacto da banda com o público é necessária uma atitude característica, uma certa irreverência e até diria uma ligeira arrogância. Axl Rose Não estou a dar aqui as dicas exactas Bono Vox para exercer essa função, pois, para cada estilo musical há que ter a atitude adequada e o grau de irreverência e arrogância têm de ser ajustados ao momento de cada apresentação. Para melhor ilustrar a minha opinião proponho ouvirmos Mick Jagger ou observarmos a presença Jimmy Hendrix em palco de grandes referências da história recente da música comercial. Assim, destaco nomes como Mick Jagger que até recentemente foi laureado com uma canção de enaltecimento aos seus movimentos em palco: “Move Like Jagger”. Axl Rose, cuja apresentação ao vivo é uma incógnita constante devido aos devaneios já frequentes. Bono Vox com a sua maneira de desfilar enquanto actua, exibindo um charme muito trabalhado nos bastidores. Estes três exemplos são vocalistas que tem uma postura própria em palco e conseguem cativar o público até pelo perigo das suas inconstâncias. Cada um deles tem uma voz característica e até inconfundível, muito fruto da frequente passagem nas rádios e televisões, sendo que, não são um exemplo de afinação ao vivo. Não posso deixar de dar o mérito aos que têm a postura “certinha” e cantam extremamente afiando, pois estão a pôr em prática o nível artístico que lhes é exigido, no entanto, esta análise visa dar uma percepção do que realmente atrai mais público num Frontman. Nem sempre este é apenas vocalista mas em certos casos acumula com instrumentista. Então, tocar, cantar e ainda por cima ser bom Frontman exige ainda mais do próprio. Neste modelo a grande maioria é guitarrista, sendo digno de destaque o malogrado Jimmy Hendrix.

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Florentino Franco

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38 – cuidar de si do bem estar

Plano Nacional de saúde 2004/2010

GRIPES E CONSTIPAÇÕES As gripes e constipações são infecções respiratórios agudas causadas por vírus. São mais frequentes no Outono e no Inverno. A gripe é mais grave e debilitante que a constipação, por não afectar apenas o sistema respiratório e pelo maior risco de levar a complicações (especialmente em doentes debilitados). A sua transmissão ocorre por inalação de pequenas gotículas contaminadas (espirros, tosse ou fala) ou por contacto directo com secreções respiratórios de pessoas infectadas (objectos contaminados ou aperto de mão) e o posterior contacto das mãos com os olhos, nariz ou boca.

Quais são os sintomas de uma constipação? Nariz entupido ou a pingar, garganta seca e irritada, espirros, tosse, olhos lacrimejantes e dores de cabeça. Habitualmente tem evolução curta e sem complicações. Quais são os sintomas de uma gripe? Mal-estar, dores de cabeça e no corpo, tosse, febre alta e arrepios. Náuseas, vómitos, diarreia e dores abdominais também podem estar presentes, especialmente em crianças. Como pode evitar contágio? • Cubra o nariz ou na boca quando espirrar ou tossir. • Lave e desinfecte as mãos com frequência. • Use lenços descartáveis. • Evite espaços fechados com pessoas doentes. Como tratar uma constipação ou gripe? • Repouse, alimente-se correctamente e ingira muitos líquidos. • Não se exponha a mudanças de temperaturas. • Aplique soro fisiológico, água do mar ou descongestionante nasal para desentupir o nariz. • Na presença de tosse, faça inalação de vapores, chupe rebuçados de mel ou balsâmicos e, se necessário recorra a um xarope específico. • Em caso de garganta irritada, pode tomar um anti-inflamatório em comprimidos, xarope ou pastilhas. • Faça um suplemento de vitamina C ou equinácea, para fortalecimento das defesas do organismo. • Para a febre e dores no corpo, pode recorrer a um medicamento antipirético e analgésico como Paracetamol.

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Consulte o seu médico nas seguintes situações: • Se é doente crónico e tem sintomas de gripe. • Crianças com sintomas há mais de uma semana e sem melhoria. • Febre superior a 39ºC, há mais de 48 horas. • Falta de ar ou dor no peito. • Dores de ouvidos intensas. • Pontos brancos na garganta. • Dificuldade em engolir. • Expectoração esverdeada ou acastanhada. • Sintomas severos há mais de 3 dias ou, no caso de idoso ou grávida, há mais de 2 dias.

Que outros cuidados? Na fase de febre e debilidade, deve manter-se em casa, ao abrigo de frio, ventos, variações de temperatura, chuva, etc. Prefira os alimentos moles. Se não tiver apetite, coma pouco de cada vez e beba muitos líquidos, de preferência água e sumos. As constipações podem evitar-se? As constipações pode ser menos frequentes e atenuadas, através de vacinas polivalentes orais. A eficácia destas vacinas é baixa, pois as constipações são provocadas por uma multiplicidade de agentes patogénicos.

Mezinhas (Receitas caseiras, feitas de acordo com sabedorias populares ancestrais, que se acredita possuírem propriedades altamente benéficas e por vezes descuradas pela medicina convencional.) Para constipação, dores de garganta e tosse Coloque um litro de água num recipiente de inox ou de esmalte juntamente com um limão cortado em quartos e cascas secas de cebola. Deixe ferver, em lume médio, até cozer o limão e depois filtre. Quando beber adoce com mel ou açúcar a gosto. Esta infusão deve ser bebida morna três vezes ao dia enquanto os sintomas se mantiverem. Para o Descongestionamento das vias respiratórias Prepare uma infusão aquecendo até à ebulição um litro de água num recipiente de inox ou de esmalte. Adicione, nesse momento, 4 folhas de ramos novos de eucalipto e deixe ferver 10 minutos. Os vapores libertados por esta infusão devem ser inalados (tanto com o nariz como com a boca) antes de deitar. Utilizar, se necessário uma toalha a cobrir a cabeça, quando está debruçado sobre a infusão, para concentrar os vapores e obter melhores efeitos Fontes: http://tratarsaude.blogspot.com/ http://www.astrologosastrologia.com.pt/mezinhas.htm

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40 – dentro de ti do bem-estar

É impossível conviver bem com alguém se ainda não aprendemos a viver bem connosco

NAMORO: ONDE QUERES CHEGAR COM O TEU RELACIONAMENTO? O mês de fevereiro chegou e, com ele, um dia conotado com um significado muito especial, particularmente para os jovens, sejam eles casais ou não: o Dia dos Namorados! Àqueles que já namoram, entre os preparativos para esse dia há também a necessidade de parar para pensar: para onde me leva este relacionamento? Este momento pode ser privilegiado para os dois pararem e avaliarem o curso da relação. Que expetativas cada um de vós tem no vosso relacionamento? Em primeiro lugar, é preciso que tenhas tomado posse de ti próprio (aceitando qualidades e defeitos próprios), para seres capaz de receber alguém na tua vida. É impossível conviver bem com alguém se ainda não aprendemos a viver bem connosco. Estando bem contigo próprio(a), onde pretendes chegar com a pessoa com quem te relacionas? Trata-se de uma experiência passageira e sem qualquer compromisso? É uma pessoa que satisfaz o teu ego, por ser bonita(o), interessante, valorizada pelos teus amigos? Imaginas o teu futuro ao lado dessa pessoa? Consegues aceitar e viver bem com os defeitos que essa pessoa tem? Se o vosso relacionamento se mantém porque ele(a) é fisicamente interessante, porque tem uma série de coisas que te facilitam a vida… isto não é namoro, é apenas uma experiência arrojada, pois desta forma estás a colocar em jogo o teu futuro e a tua felicidade, assim como os da outra pessoa. A resposta a estas questões pode ajudar a encontrares uma resposta certa, que te ajude a subir mais um degrau para o teu bem-estar. Tu mereces ser feliz, e assim o serás se estiveres ao lado da pessoa certa e se fores também a pessoa indicada para essa pessoa. Por isso é tão importante ponderar alguns aspetos, porque um relacionamento amoroso não é só paixão, é também um pouco de decisão (isto é, razão). Ninguém faz uma viagem sem saber onde quer chegar. Do mesmo modo, o teu namoro será um bom investimento, se ambos souberem onde querem chegar um dia. Que tipo de ideal tens para o vosso relacionamento? Dizia Exupéry: “o essencial é invisível aos olhos. Só se vê bem com o coração”. Tudo o que tu podes ver e tocar pode ser alterado pelo tempo, mas o que é invisível aos olhos está ligado de tal modo ao ser da pessoa que quase nada o pode destruir. Esse é o verdadeiro valor da pessoa. A beleza do corpo dela(e) hoje, provavelmente amanhã não será a mesma, o que ela(e) possui agora poderá não possuir sempre… mas aquilo que faz parte do “ser” dela(e), ficará sempre, e é isto que dará estabilidade ao vosso relacionamento e garantirá a vossa felicidade e bem-estar.

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Natália Carolina

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da juventude

saber mais – A minha universidade tem uma pequena capela que nunca vi aberta

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SER UNIVERSITÁRIO E FIRME NA FÉ – “Ui, acordas cedo ao domingo? Para quê? O domingo é o dia de não fazer nada, de dormir até tarde! Eu não tenho tempo para isso...”

“Vós próprios sois o Corpo de Cristo, a Igreja! Trazei à Igreja o fogo inextinguível do vosso amor sempre que o seu rosto for desfigurado!” Bento XVI

– “Ui, acordas cedo ao domingo? Para quê? O domingo é o dia de não fazer nada, de dormir até tarde! Eu não tenho tempo para isso...” Sim, é isto que a maioria dos jovens, futuros licenciados deste país, afirma quando digo que vou a missa todos os domingos, as 8:30h da manhã. Concordo que podia ser um bocadinho mais tarde, mas afinal de contas, de manhã é que começa o dia. Mas porque será que os jovens de hoje têm tanta facilidade em desistir, criticar, ou dizer que a Igreja tem muitas contrariedades? Seguir o mesmo caminho que muitos colegas, simplesmente fingir que não acreditam e não precisam de Deus, é sempre mais fácil, o problema é que se esquecem de algo muito importante, que Bento XVI nos alerta: “Vós próprios sois o Corpo de Cristo, a Igreja! Trazei à Igreja o fogo inextinguível do vosso amor sempre que o seu rosto for desfigurado!” É provavelmente a coragem para tomar tal posição que falta aos jovens de hoje. Mas não generalizemos! Tenho também colegas que me acompanham, com quem vou trocando impressões e que também vão à missa ao domingo de manhã. A minha universidade até tem uma pequena capela que infelizmente nunca vi aberta, nem tão pouco constatei qualquer preocupação por parte da universidade ou dos alunos em inverter tal situação. Mas que ela está lá está, já é um começo. Não podemos portanto baixar os braços, e quem participou nas Jornadas Mundiais da Juventude não pode ter testemunho mais vivo e credível de que de facto a fé move montanhas e que a geração que representa o futuro da humanidade não tem só desistentes; tem também muitos lutadores, dispostos a afirmar a sua posição de “firmes na fé”!

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Margarida Alves

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42 – jd-Madeira da juventude

Ecos da alegria natalícia na Madeira

TESTEMUNHOS DO CANTAR DOS REIS

No dia 7 de Janeiro tivemos a oportunidade de, juntamente com membros da Juventude Dehoniana, passar por várias instituições e casas particulares cantando os reis. Achei a iniciativa espectacular e admirável pois, hoje em dia, essa tradição tem vindo a ser cada vez mais banalizada e esquecida. Mas como movimento católico e dinâmico que é a JD, conseguiu por mais um ano fazer sorrir aqueles que todos os anos contam com estes jovens para animar o seu Dia de Reis, com imenso sucesso. Nunca tinha tido feito algo do género, mas depois de o ter experimentado só me resta dizer que espero voltar a ser convidada para participar para o ano, pois esta experiência é bastante enriquecedora a nível pessoal e social. Para mim, uma das provas disso, foram as palavras de um senhor de um lar que visitamos, que disse que nós “somos as rosas de um canteiro com imensas flores, e as rosas, são as flores mais bonitas”, estas palavras de agradecimento foram muito especiais. Termino com um grande OBRIGADO a todos os participaram e contribuíram para que este dia tivesse um efeito tão marcante, tanto na minha vida, como na vida daqueles que sorriram connosco, pois os pequenos gestos são aqueles que valem mais.

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Micaela Costa

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Nunca tinha feito algo deste género muito menos com um grupo tão emotivo como este. Fomos a várias instituições e em todas houve sempre bastante alegria e motivação, foi uma experiencia fantástica ver os sorrisos que deixámos nas crianças e nos idosos de cada instituição, notou-se que gostaram da nossa presença e muitos deles cantaram e dançaram connosco cheios de alegria! Tão grande foi o nosso divertimento, tão grande foi a nossa amizade, tão grande foi a nossa alegria e tão grande foi a nossa união que nem demos pelo tempo a passar pois quando olhamos para o relógio já estava na hora de partir. Agradeço à “estrela” por me ter guiado até estas pessoas que me acompanharam neste dia que, sem dúvida, ficou marcado no meu coração. Para o ano espero repetir esta experiência mas com muitas mais pessoas…

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Marta Baptista

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44 – jd-Porto da juventude

Alegria, partilha, generosidade

“ESTRELAS A BRILHAR” Sandim

Durante todo o mês de janeiro a Juventude Dehoniana do Porto e A Folha dos Valentes cantaram Janeiras por muitas comunidades paroquiais do Norte. O eco do Natal partilhou muita alegria em casas de família, instituições e ruas… Queremos agradecer a todos essa alegria e a generosidade de todos os que participaram e acolheram, até daqueles que, não podendo receber-nos deixaram as suas ofertas! Renovamos os votos de um bom ano, com as bênçãos do “Menino do Presépio”!

Sandim – O pai do P.e Armando a cantar as Janeiras à moda antiga

Terroso – Animação no Centro Social Paroquial

Rebordosa

Vilarinho – A D. Maria Rosa com o P.e Ricardo Freire Rebordosa – Com a família do P.e Amândio valentes_2012_02.indd 44

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da juventude

jd-Porto –

Duas Igrejas – Com a família do Ir. Agostinho Cruz

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Canidelo – Uma família inteira a cantar!

Melres Fontainhas – Gandra: Uma arruada de animação

Sobrado: não nos queriam deixar ir embora... Gatão – Amarante: uma visita-surpresa do grupo de Vila Gracia

Vilarinho – Gandra a família maior... Gatão – Amarante valentes_2012_02.indd 45

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46 – agenda

da juventude

Juventude Dehoniana - Porto 2011-2012

» JD — Açores Fevereiro

13 − Oração de Taizé no Centro Missionário

Março

12 − Oração de Taizé no Centro Missionário 18 − Encontro sobre o Padre Dehon no Centro Missionário.

» JD — Porto Fevereiro

05 − Dia Solidário – Lar Pinheiro Manso 19 − CFA - Bíblia em Workshops - Candal 21 − Passeio de Carnaval JD-Porto

Março

04 − Dia Solidário – Lar Pinheiro Manso 15 − AdOração no CD (21h00-22h00). 18 − Retiro de Quaresma e Compromissos.

Juventude Dehoniana - Porto

2011-2012

de o ei VAL s s Pa RNA CA 21 de Fevereiro

a... destino surpresa!

mais informações: jdporto@dehonianos.org

DEHUMOR

a ia lavr l b Bí Pa o A s m co Deu de Pa r ó q u i a d o C a n d a l – G a i a 19 de Fevereiro 2012 – 09h30-17h30 Manhã: Formação em conferências Tarde: Workshops (em duas séries para que todos possam participar em dois) 1. Bíblia e Família (Dr. José Carlos Carvalho) 2. Bíblia e Trabalho (Eng. Fernando Perpétua) 3. Bíblia e Catequese (Dr. Marco André Costa) 4. Bíblia e Vocação (P.e Feliciano Garcês)

O amor pede amor; o amor desprezado pede amor reparador.

(Padre Dehon)

Estás mais bonita agora do que quando te conheci. Nessa altura tinhas uma grande borbulha...

V

Paulo Vieira

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tempo livre

passatempos –

TEM PIADA

brilhante

O pai pirilampo diz para a mãe: – O nosso filho é mesmo brilhante para a idade que tem, não achas?

implicativo

– Ó Mãe, ó Mãe! Lá na escola chamam-me implicativo... – Oh, meu filho... deixa lá, eles não dizem isso por mal... – Ó Mãe... estás a querer insinuar alguma coisa?

desculpe

Num elevador vão um velhinho e um casal desconhecido. De repente, o velhinho solta um grande e sonoro “trac”. Diz o outro homem: – O senhor não tem vergonha? Faz isso à frente da minha esposa? – Peço imensa desculpa, eu não sabia que era a vez dela...

um empurrãozinho

Noite dentro, a campainha toca. O homem sai da cama, completamente ensonado, desce as escadas, abre a porta e diz: – O que é que você quer, a estas horas? – Boa noite... Será que me podia dar um empurrãozinho? – Não dou empurrãozinho nenhum! O homem volta para a cama, a mulher pergunta-lhe quem era e ele explica o que se passou. Diz ela: – Ó homem... Vá lá, devias ajudá-lo... Não te lembras daquela vez que o teu carro também não pegava? Se não fosse aquele senhor ter-te ajudado, lembras-te? Ele fica com remorsos e decide ajudar o outro. Põe-se novamente a pé, desce as escadas, abre a porta, sai e grita: – Onde é que você está? – Estou aqui, no baloiço!

CURIOSIDADES

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data da Páscoa

O Concílio de Niceia, em 325, determinou que a Páscoa seria celebrada no domingo seguinte à primeira Lua cheia após o equinócio da primavera do Hemisfério Norte, que ocorre no dia ou depois de 21 Março. No entanto, a data da Lua Cheia não é a real, mas a definida pelas Tabelas Eclesiásticas. A Quarta-Feira de Cinzas ocorre 46 dias antes da Páscoa, e portanto a terça-feira de carnaval ocorre 47 dias antes da Páscoa.

maior Lua em 20 anos

Estamos prestes a visualizar a maior lua-cheia das duas últimas décadas. No próximo sábado, dia 19 de Março, esse satélite natural vai chegar ao ponto mais próximo da Terra. Ou seja, a lua cheia vai aparecer mais exuberante do que o usual na noite quando ela atingir o ponto máximo de um ciclo, conhecido como ‘Perigeu Lunar’. A distância será de 221,567 milhas da órbita – mais próxima do nosso planeta desde 1992. A lua cheia poderá aparecer no céu 14% maior e 30% mais luminosa, especialmente quando nascer no horizonte do oriente ao pôr-do-sol ou em condições atmosféricas bem favoráveis.

Muito se tem escrito sobre a influência do fenómeno chamado Superlua na ocorrência de grandes catástrofes naturais. Um fenómeno que a ciência desmistifica. Contudo, são várias as notícias apocalípticas que têm vindo a circular nas últimas semanas na internet sobre a possibilidade de ocorrerem graves catástrofes naturais uma semana antes e uma semana depois do dia 19 de Março. Afirma-se que o fenómeno estaria ligado com fenómenos geológicos – como os terramotos, vulcões e tsunamis.

quebra-cabeças

provérbio escondido O provérbio escondido começa por Q e lê-se de cima para baixo, de baixo para cima, da direita para a esquerda ou da esquerda para a direita.

Solução de Janeiro Rei morto, rei posto.

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Paulo Cruz

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Janeiras AFV-JD Porto, com o grupo de catequese do 8.º ano da paróquia de Sobrosa – 13.01.2012

É claro que estamos na Internet! Alguns leitores perguntam... Já falámos disso na revista e qualquer “motor de busca” pode levar-vos até os nossos sites e páginas. Para os mais “distraídos”, cá ficam os dados:

A Folha dos Valentes na Internet http://www.dehonianos.org/valentes/index.html A Folha dos Valentes no Faceboock Procura: Valentes Dehonianos

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O Site da Pastoral Juvenil e Vocacional dos Dehonianos em Portugal http://www.dehonianos.org/juventude/ O Site dos Dehonianos em Portugal http://www.dehonianos.org/

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