A Folha dos Valentes

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04. A força do BRANCO 05. DARFUR: 10 anos 15. Dehonianos em BETÂNIA 25. Dar-vos-ei PASTORES 30. Mensageiros na REDE 45. Com + FÉ

Abril 2013 ANO XXXVII

PUBLICAÇÃO MENSAL DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

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Abril 2013 ANO XXXVII

PUBLICAÇÃO MENSAL DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

FICHA TÉCNICA Director: Paulo Vieira Administrador: Ricardo Freire Secretária: Margarida Rocha Redacção: Magda Silva, Marco Costa, Romy Ferreira. Correspondentes: Maria do Espírito Santo (Açores), Amândio Rocha (Angola), André Teixeira (Madeira), Joaquim António (Madagáscar), Tiago Esteves (Lisboa). Colaboradores: Adérito Barbosa, Alícia Teixeira, André Teixeira, António Augusto, Fátima Pires, Feliciano Garcês, Fernando Ribeiro, Florentino Franco, Francisco Costa, J. Costa Jorge, João Chaves, José Agostinho Sousa, José Armando Silva, José Eduardo Franco, Juan Noite, Jorge Robalinho, Manuel Barbosa, Manuel Mendes, Natália Carolina, Nélio Gouveia, Olinda Silva, Paulo Cruz, Paulo Rocha, Rosário Lapa, Victor Vieira. Colaboradores nesta Edição: Jorge Heitor, Alda Barros, António Silva, Andreia Vasconcelos, Teresa Machado, Alexandra Machado, Filipa Silva. Fotografia: AFV, Rita Resende, Inês Pinto, Lusa. Capa: “Habemus Papam”, foto (maior) de Paulo Rocha. Grafismo e Composição: PFV. Impressão: Lusoimpress S. A. - Rua Venceslau Ramos, 28 4430-929 AVINTES * Tel.: 227 877 320 – Fax: 227 877 329 ISSN – 0873-8939 Depósito Legal – 1928/82 Tiragem – 3200 exemplares Redacção e Administração: Centro Dehoniano Av. da Boavista, 2423 Associação de Imprensa de I nspiração Cristã 4100-135 PORTO – PORTUGAL Telefone: 226 174 765 - E-mail: valentes@dehonianos.org Proprietário e Editor: Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos) * Rua Cidade de Tete, 10 - 1800-129 LISBOA Telefone: 218 540 900 - Contribuinte: 500 224 218 isenta de registo na ERC ao abrigo do decreto regulamentar 8/99 de 9/6, artigo 12º, nº 1 a

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da atualidade

03 > alerta! > Surpresas 04 > sal da terra > A força do branco 05 > atualidade > 10 anos de conflito no Darfur

da família dehoniana

08 > recortes dehonianos > Notícias SCJ 09 > entre nós > Os leigos na Família Dehoniana 10 > com Dehon > Viagens de Dehon na adolescência 12 > memórias > Padre Manuel de Gouveia 15 > comunidades > A presença dehoniana em Betânia dos conteúdos

18 > vinde e vereis > Até ao fim dos tempos 19 > onde moras > O Espírito anima a Igreja 20 > doses de saber > Raízes da crise: II. Os desafios 22 > pedras vivas > Ana, dos Tapados 24 > imprensa cristã > Imprensa de proximidade 25 > palavra de vida > Dar-vos-ei pastores 26 > leituras > A complexidade 28 > sobre a bíblia > As narrativas da Eucaristia 30 > sobre a fé > Eucaristia na Igreja 32 > reflexo > O Coração de Cristo no futuro da Europa do mundo

34 > outro ângulo > Novos postulantes dehonianos 35 > nuances musicais > Danças e coreografias 36 > novos mundos > Google Glass 37 > minha rede > Mensageiros na rede

do bem-estar

da juventude

38 > jd-Madeira > Ser + Dehonianos 40 > jd-Açores > “Véritas” em lausperene 41 > jd-Açores > “Soldados de Cristo” em adoração 42 > jd-Lisboa> Caminhando passo-a-passo 44 > jd-Porto > Com + Fé: Retiro de Quaresma e Compromissos 46 > agenda-JD > Calendário de atividades 47 > tempo livre > Passatempos

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da atualidade

alerta! –

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Surpresas Francisco, o primeiro Papa vindo das Américas – “do fim do mundo” –, é o jesuíta argentino Jorge Mário Bergoglio, de 76 anos, arcebispo emérito de Buenos Aires. Pastor simples e muito amado na sua diocese, habituado a viajar de metro e de autocarro, afirmara: “a minha gente é pobre e eu sou um deles”. Uma surpresa pela idade, pela origem, pelo nome que escolheu, o Papa Francisco parece surpreender a cada momento com gestos de simplicidade, de proximidade de verdadeiro pastor. São gestos de que não estávamos à espera, mas que acabam não ser assim tão surpreendentes por manifestarem, afinal, a coerência daquilo que tem sido a sua vida e a eterna novidade e frescura do Evangelho. Neste tempo de Páscoa somos convidados a surpresa da Vida Nova que nos vem da ressurreição de Cristo. Ela dá-nos a esperança da vida eterna mas desafia-nos a viver já hoje como ressuscitados em Cristo. Podemos dar à nossa vida a surpresa da ressurreição quando trocamos as lamentações por gratidão; o pessimismo e o desânimo por esperança; a preocupação por esperança; o julgamento severo por bons pensamentos; o azedume e o ódio por perdão; o ciúme pela confiança; a tristeza pela alegria; a desistência pela perseverança; a mesquinhez pela maturidade… Nesta edição, além das rubricas habituais, apresentamos dois artigos para os quais gostaria de chamar a vossa atenção. O primeiro é o “artigo MissãoPress” (pp. 5-7) do jornalista Jorge Heitor, profundo conhecedor da realidade africana, que escreve sobre “Os 10 anos de conflito no Darfur”, alertando-nos para a triste realidade de muitos irmãos nosso que sofrem e que não podemos deixar cair no esquecimento. O segundo (p. 24) é o do Jornalista e investigador dos média e do jornalismo de proximidade Pedro Jerónimo, que nos apresenta a realidade difícil da imprensa regional, que inclui também a de inspiração cristã, na qual nos incluímos. No contexto de crise, alerta para a necessidade de os leitores manifestarem o apreço, a necessidade, e a linha de rumo que defendem a fim de que a “imprensa de proximidade” os sirva e exista em função deles. Nós agradecemos os ecos que nos chegam e pedimos que continueis a fazê-lo para que vos sirvamos melhor. Como é sabido, já há muito tempo, também nós passamos por dificuldades financeiras, mormente porque muitos dos nossos leitores não se lembram de ajudar os custos de gráfica e correio. Não podendo mais sustentar esta situação começámos por “dar baixa” aos que há mais tempo não “sinais de vida”. Se alguém do seu conhecimento deixou de receber A Folha dos Valentes pode ser porque o endereço não está atualizado, mas também pode ser porque, há longos anos, não manifesta “interesse” na nossa publicação… Aos nosso leitores fiéis, colaboradores, generosos um muito obrigado e procuraremos continuar a crescer e a melhorar na nossa proposta de formação, de informação, de missionação que é, ao fim de contas a nossa razão de ser: a evangelização. Uma santa Páscoa, com muitas (boas) surpresas!

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Paulo Vieira

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04– sal da terra da atualidade

Um Papa que traz algo de novo à liderança da Igreja Católica

Eu estava na Praça de S. Pedro à espera do fumo branco, no dia 13 de março de 2013. Chegou mais cedo do que muitos esperavam. E trouxe muitas surpresas.

A força do Branco

A terceira “fumata” deste conclave aconteceu na tarde do segundo dia, pouco mais de 24 horas após o início das votações junto aos frescos de Miguel Ângelo, na Capela Sistina. Estava uma tarde de chuva fria, em Roma. E milhares de romanos, alguns turistas e peregrinos não arredaram pé até verem se seria branco ou negro o fumo dessa tarde. E muitos mais se juntaram na Praça de S. Pedro quando perceberam que o nome do novo Papa estava na eminência de ser anunciado. O fumo branco rapidamente conseguiu unir todos os que esperavam pela notícia do novo Papa. E foi a única razão para sorrisos, alegrias, esperanças. Bastou um fumo, branco, para transformar positivamente muitos rostos e alargar horizontes de milhares de pessoas. Mesmo antes de se saber o nome da escolha dos cardeais, a notícia de que havia Papa inundou a Praça de S. Pedro com esperança, com alegria por existir uma eleição, um líder. Passados poucos minutos, outra revelação da força que o branco é capaz de produzir. Quando o Papa chegou à imponente varanda central da Basílica de S. Pedro, a sua presença representava alguns milímetros, poucos, da grande imagem que estava diante dos olhos de milhares de romanos. Um homem vestido de branco, a perder-se na imensidão da Praça, capaz de transformar cada pessoa, fazendo emergir sentimentos de esperança e confiança à medida que somava palavras pronunciadas entre a surpresa de ser Papa.

O nome Bergoglio pouco disse a muitos dos presentes. A pessoa do eleito revelou-se em cada palavra pronunciada, nessa noite. E conquistou, nesse momento, todos os presentes, os meios de comunicação social e quantos seguiam um acontecimento que rapidamente ultrapassou o segredo do Conclave para se transformar pelo mediatismo global. Palavras e gestos confirmaram que o Papa Francisco traz algo de novo à liderança na Igreja Católica. O primeiro, depois o segundo, o terceiro e todos os dias deste Papa confirmaram essa novidade, sentenciada na homilia do início do seu pontificado: “Não esqueçamos jamais que o verdadeiro poder é o serviço, e que o próprio Papa, para exercer o poder, deve entrar sempre mais naquele serviço que tem o seu vértice luminoso na Cruz”. Francisco já mostrou que estas não são palavras vãs. Mas mostram o início de uma nova estação na Igreja Católica. Uma autêntica Páscoa!

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Paulo Rocha

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da atualidade

Artigo MISSÃOPRESS

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atualidade – As revista missionárias não podem deixar cair no esquecimento

r u f r a D o n o t i l f n o c e d s o n a z De Completaram-se já 10 anos sobre as primeiras notícias de um genocídio, uma terrível limpeza étnica, na vastidão do Darfur, na parte ocidental do Sudão, e a tragédia prossegue, perante a passividade das consciências adormecidas.

Devido a décadas de fome, de seca e de opressão, o povo do Darfur, território que tem fronteiras com a Líbia, o Chade e a República Centro-Africana, sofre, sofre muito, e necessita da solidariedade do resto da Humanidade. Numa superfície equivalente à da França, habitada por sete milhões de pessoas, a situação é dia a dia, mês a mês pior, se bem que dela já não se esteja a falar hoje em dia com a mesma força, com o mesmo interesse, com que se falava há oito ou nove anos. Mas as revistas missionárias não podem deixar cair no esquecimento este drama, pois que se trata de um autêntico genocídio, de uma verdadeira limpeza étnica, cometida no interior da África. Tendo surgido grupos de milícias que queriam combater pelos direitos de velhos povos sujeitos a secas e a desastres ecológicos, o Governo sudanês enviou em 2003 as suas próprias hostes, muito bem armadas, para esmagar os insurrectos, que não aceitavam por mais tempo submeter-se à vontade de Cartum. Os militares do maior país da África e do Médio Oriente, povoado então por mais de 30 milhões de habitantes, foram financiados pelas receitas do petróleo, que era e é a principal fonte de rendimento de um território onde 70 por cento dos cidadãos eram muçulmanos, 10 por cento cristãos e 20 por cento animistas. Tropas subsidiadas pelo petróleo Mais de 70 por cento dos fundos que as autoridades sudanesas estavam a obter há 10 anos da indústria petrolífera foram canalizados para as suas Forças Armadas, no sentido de tentarem neutralizar os anseios autonomistas tanto do Sudão do Sul como do Darfur, duas zonas profundamente subdesenvolvidas. Grande parte dos campos de petróleo situa-se mesmo no Sul do Darfur, uma terra que sofreu grandes fomes em 1973-1974 e em 1984-1985, tendo registado 100.000 mortos, algo de inimaginável por quem vive no aconchego dos lares europeus.

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As Nações Unidas pouco têm conseguido fazer quanto aos muitos milhões de africanos que abandonam os seus territórios devido à fome e à seca, que vitimaram mais de 70 por cento das vacas e das cabras que havia no Darfur. E pouco se têm esforçado por atenuar o drama, uma vez que tanto a China como a Rússia, que beneficiam do petróleo sudanês, têm direito de veto no Conselho de Segurança. Foi portanto neste quadro de subdesenvolvimento, falta de um sistema alimentar adequado, desertificação e grande fluxo de deslocados que 450.000 pessoas teriam morrido no Darfur durante esta última década e que dois milhões e meio estão a passar fome.

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06– atualidade da atualidade

Dez anos de conflito no Darfur Uma crise multifacetada Ao longo de 2003 e 2004, a imprensa europeia e norte-americana foi falando desta crise complexa, mas depois foi começando pouco a pouco a calar-se, enquanto a maior parte dos nómadas do Darfur ia avançando para Sul e se perpetuavam os conflitos entre populações ditas africanas e outras normalmente consideradas árabes. No entanto, há que esclarecer que a guerra não é entre árabes mais ou menos brancos e africanos negros. Isso seria simplificar demasiado as coisas. Todas as partes envolvidas no conflito são de pele escura, tendo as inimizades muito a ver com a escassez de terra e de água. O território dos Fur, mas também de outras etnias, constituiu um sultanato independente durante séculos, até que em 1916 forças britânicas e egípcias o integraram no Sudão, que viria a ser um país demasiado grande para que se conseguisse manter uno. Tal construção artificial não tinha condições para durar muito mais de 95 anos, como já verificámos quando Cartum foi obrigada a reconhecer a independência do Sudão do Sul. Os 493.180 quilómetros quadrados do Darfur são em grande parte áridos e têm picos vulcânicos que chegam a ultrapassar os 3.000 metros de altitude, sendo as principais cidades Al Fashir, Nyala e Geneina. No subsolo existem sinais de um vasto lago, que teria secado há milhares de anos, pelo que nunca foi possível que por aquelas bandas se tivesse desenvolvido uma grande e duradoira civilização. Apenas foi uma potência do Sahel durante a dinastia Keira, fundada na transição do século XVI para o século XVII. E logo em 1875 sucumbiu ao governante egípcio que se instalara em Cartum.

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Artigo MISSÃOPRESS

As duas milícias Nesta última década, a que hoje em dia mais nos interessa, surgiram a milícia Libertação do Sudão e o Movimento Justiça e Igualdade, tendo os rebeldes começado a atacar Al Fashir e outras localidades; mas ninguém sabe muito bem dizer quantos soldados é que o poder central mobilizou para neutralizar o descontentamento geral e o espírito de revolta. Entretanto, o nome de Janjaweed, que alguns dizem significar “Diabo a cavalo, armado com uma arma automática”, tem sido dado às forças de defesa popular e a outros grupos que alinham com o Governo para combater as milícias tribais. Segundo o general Mohamed Zeinelabdin Mohamed Hamad, antigo embaixador sudanês, existem 80 tribos no Darfur, 13 das quais encavalitadas entre o Sudão e o Chade, como é o caso da Zagawa, de grande importância no actual conflito, aquele de que aqui estamos agora a assinalar o décimo aniversário, fazendo o seu balanço; e recordando-o, para que ninguém esqueça. O livre movimento de populações entre o Sudão e o Chade, como aliás entre outros países africanos, que não têm fronteiras firmes, bem delineadas, influencia a política e a segurança de um e outro lado, ninguém podendo evitar que os casos do Sudão, do Sudão do Sul, do Chade e da República Centro-Africana estejam interligados. Isto é uma coisa que teremos de ter sempre presente, para compreender uma África onde o quotidiano é bastante diferente do europeu. Aliás, a ideologia de supremacia árabe divulgada na Líbia pelo coronel Muammar Khadafi também teve os seus reflexos no Darfur, com o Governo sudanês a armar as milícias árabes Janjawees, contra o que seriam os anseios de determinados grupos étnicos ou tribais. E assim se chegou a um dos mais graves desastres humanitários a que nos foi dado assistir nos 13 anos que vão decorridos do século XXI.

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Tentativas de sobrevivência Perto de dois terços da população do Darfur tenta sobreviver em aldeias remotas, sem qualquer protecção contra as investidas das milícias. As armas enviadas para o interior da África durante o período da Guerra Fria continuam por lá, sem que ninguém as consiga controlar; e por isso as populações vivem aterrorizadas. Como os estrangeiros não visitam em geral a enorme região, com um tamanho parecido ao da Espanha ou da França, apenas algumas organizações não governamentais se atrevem a lá entrar e a tentar perceber o que é que na verdade se passa, com populações marginalizadas para as quais não tem o mínimo sentido a palavra globalização, tão usada nas chancdelarias ocidentais. Um Acordo de Paz para o Darfur foi assinado em 2006 entre o Governo de Cartum e o Movimento de Libertação do Sudão, de Minni Minnawi, um dos grupos rebeldes; mas o Movimento Justiça e Igualdade rejeitou-o, pelo que o conflito prosseguiu, com aquelas paragens abertas a toda a espécie de criminosos e de redes terroristas. E o próprio movimento de Minnawi se retirou em Dezembro de 2010 do acordo. Tem sido admitida a organização de um referendo sobre a autonomia do antigo sultanado, mas nada indica que tão depressa ele possa ocorrer, nem que a médio prazo o desfecho possa ser algo equiparável ao que se verificou com o Sudão do Sul, que em 2011 conseguiu alcançar a sua independência. Por enquanto, o que existem são cinco estados federados: Darfur Central, Darfur Oriental, Darfur Setentrional, Darfur Meridional e Darfur Ocidental. Aquilo a que normalmente se chama dividir, para melhor reinar. Para que Omar al-Bashir, procurado pelo Tribunal Penal Internacional, para ser julgado por crimes contra a Humanidade, continue a reinar sobre o povo Fur e o outros que com ele partilham uma porção importante do interior da África. Conferência de doadores No presente mês de Abril haverá em Doha, no Qatar, uma conferência internacional de doadores na qual a Autoridade Regional do Darfur espera conseguir 6.000 milhões de dólares para projectos de recuperação e desenvolvimento do território. Enquanto isto, na terceira semana de Fevereiro a facção do Movimento Justiça e Igualdade liderada por Mohamed Bashar anunciou, precisamente a partir de Doha, que estava a terminar negociações com uma delegação governamental sudanesa no sentido de se conseguir a reconciliação. Aquela facção, uma das tantas que têm existido neste conflito, assinou no dia 24 de Janeiro um acordo de cessar-fogo com Cartum e iniciou conversações sobre justiça e regresso tanto de pessoas internamente deslocadas como de refugiados. Por outro lado, um perito das Nações Unidas em direitos humanos, Mashood Baderin, avisou igualmente em Fevereiro que os crimes relacionados com o que se tem passado no Darfur estão a ser julgados em tribunais vulgares, sem que os defensores daqueles direitos a eles tenham acesso. Em Julho de 2007 o Conselho de Segurança das Nações Unidas aprovou uma missão conjunta da União Africana e da ONU destinada a estabilizar o Darfur, enquanto se organizassem conversações de paz sobre o destino final a dar a esse território. No dia 14 de Fevereiro último, o Conselho de Segurança prorrogou até 17 de Fevereiro do próximo ano, 2014, o mandato do grupo de peritos que fiscalizam a aplicação de sanções ao Sudão pela forma como se tem comportado no Darfur; e pediu-lhes que continuem a coordenar as suas actividades com as da Operação Híbrida da ONU e da União Africana para o referido território (Unamid). No último trimestre do ano passado, os efectivos da Unamid compreendiam 20.780 soldados e polícias, 1.087 pessoal civil internacional e 446 voluntários das Nações Unidas.

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Jorge Heitor

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08– recortes dehonianos da família dehoniana

Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)

ANIVERSÁRIO DO PADRE DEHON Se o Padre Dehon estivesse entre nós, teria celebrado 170 anos de vida no dia 14 de março. Todas as comunidades dehonianas e os leigos que comungam da mesma espiritualidade aproveitaram a data para celebrar o carisma que ele deixou à Igreja. É também o Dia das Vocações Dehonianas, como nos recorda o Superior Geral dos Dehonianos, na mensagem que enviou a toda a Congregação: «O Padre Dehon espera que os seus religiosos sejam profetas do amor e servidores da reconciliação. Queremos recordar esta grande vocação da própria Congregação. Recordamos a nossa vocação, mas também a motivação pela qual convidamos outros a juntar-se a nós em comunidade. Fazemos o convite porque estamos convencidos de que é necessário prosseguir o ministério do amor e da reconciliação na Igreja e no mundo» (Padre Ornelas Carvalho).

NOVOS POSTULANTES Neste mesmo dia 14 de março, os Dehonianos em Portugal contam com mais três postulantes (António, Filipe e Ricardo). A celebração aconteceu no Seminário Missionário Padre Dehon, no Porto, em convívio à volta da mesa da Eucaristia e da mesa do jantar.

REUNIÃO DA EUROPA SCJ Os Superiores Maiores e alguns delegados da Europa da Congregação dos Sacerdotes do Coração de Jesus reuniramse em Albino, Itália, de 4 a 8 de março, para refletir sobre a importância do Coração de Jesus no futuro da Europa. A reflexão aconteceu também nas terras natais dos papas do Concílio Vaticano II: João XXIII (Sotto il Monte, Bergamo) e Paulo VI (Concesio, Brescia). Foi uma boa ocasião para pensarmos na devoção e na compreensão teológica e social do Coração de Jesus na sociedade de hoje. De Portugal, participaram os padres Zeferino Policarpo, Jacinto de Farias e Francisco Costa. O Padre Manuel Barbosa esteve como secretário e coordenador da Europa. Presente ainda o Padre Fernando Fonseca como conferencista.

TARDE DEHONIANA Aconteceu em Alfragide a tradicional Tarde Dehoniana, orientada pelo Centro de Espiritualidade de Alfragide e pelo Secretariado Regional da Família Dehoniana. Cerca de uma centena de pessoas tentou responder a uma questão tão simples como inquietante: na vivência do ano da Fé, que nos diz a experiência de Fé do Padre Dehon? Em assembleia e em pequenos grupos, os presentes foram desafiados a partilhar algumas caraterísticas da experiência de Fé do Padre Dehon. A tarde terminou com a celebração da Eucaristia, presidida pelo Superior Provincial, e a partilha fraterna num lanche oferecido pela comunidade.

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Manuel Barbosa

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da família dehoniana

entre nós –

Celebrar, refletir e conviver

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Os leigos na Família Dehoniana Na origem do projeto dehoniano, está a sua visão espiritual que orienta o resto. O que partilhamos é a forma de nos aproximarmos ao mistério de Cristo. O termo família referencia um pai espiritual comum.

Encontros regionais da Família Dehoniana Os diversos grupos ligados ao carisma do Padre Dehon em Portugal costumam reunir-se em ocasiões significativas para celebrar, refletir e conviverem juntos. Normalmente, concentram-se perto do dia do nascimento do Padre Dehon, ou seja, a 14 de março, perto do dia do Coração de Jesus e perto do dia do aniversário da morte do Padre Dehon a 12 de Agosto. É o que tem acontecido em Lisboa (Alfragide), no Porto (Betânia), na Madeira (Colégio Missionário) e Açores (Centro Dehoniano Missionário). Os leigos dehonianos A participação dos leigos nos diversos carismas são um fenómeno universal ao ponto do papa referir na Vita Consecrata que se iniciou um novo capítulo, rico de experiências na história da relação entre as pessoas consagradas e os leigos (nº 54). Este fenómeno está marcado por novos caminhos de comunhão e de colaboração que devem ser estimulados (nº 55). Não são caminhos em que há uma relação “sacristão–prior”, de subserviência, mas de colaboração equilibrada e de consideração. João Paulo II refere que os estados de vida estão interligados e ordenam-se uns para os outros…estão ao serviço do crescimento da Igreja. (ChL nº 55).

Um instituto tem a possibilidade de associar a si outros fiéis (homens, mulheres, casados ou não), empenhados em tender à perfeição cristã, segundo o espírito do Instituto e participar na mesma missão (Código Direito Canónico). De qualquer modo nas origens, está Cristo e a Igreja do Concílio Ecuménico Vaticano II, como referências do compromisso batismal. Bispos, religiosos (as), padres, outros (as) consagrados (as) e leigos têm o mesmo modo de se aproximarem do Coração de Cristo, descobrindo o amor de Deus, a presença na Igreja e o compromisso com o Reino de Deus (justiça, verdade e solidariedade); ainda a união à oblação de Cristo pelo perdão e pela disponibilidade. A descoberta de partilhar o mesmo projeto de vida evangélica do Padre Dehon, de participar da mesma herança, faz de nós, não uma associação ou federação, mas uma família (Dehoniana, 2001, 1, 53-62); família, entendida como uma comunidade de diversas vocações que partilham o mesmo património espiritual. Há assim uma comunhão de vocações no projeto dehoniano (Dehoniana, 1991, 1, 75). Na origem do projeto dehoniano, está a sua visão espiritual que orienta o resto. O que partilhamos é a forma de nos aproximarmos ao mistério de Cristo. O termo família referencia um pai espiritual comum. No entanto, temos que reconhecer que a Família Dehoniana é uma realidade viva ainda em formação.

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Adérito Barbosa

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10– com Dehon

da família dehoniana

VIAGENS E PEREGRINAÇÕES DE LEÃO DEHON

Durante a adolescência (1849-1859) Mais uma vez me dirijo a vós, caros leitores de A Folha dos Valentes para vos convidar a percorrer com os olhos e a imaginação os passos do nosso Fundador, Padre Leão Dehon, nas suas inúmeras viagens e peregrinações. Nesta «viagem do tempo» teremos como «guia» o próprio Dehon, com as suas observações, os seus comentários e as suas exclamações de espanto e de fé diante das maravilhas de Deus e que o homem continuamente vai explorando e recriando. Como sabemos, Leão Dehon, desde muito novo teve os meios e as oportunidades para viajar e tomava muitas notas do que via e experimentava. Ele próprio recorda que esta «paixão pelas viagens» nasceu no seio da sua família, escutando as narrações que muitos peregrinos faziam das aparições de La Salette, ocorrida em 1846, ou os relatos dos peregrinos à Terra Santa. Até quando acompanhava a sua mãe, Estefânia Vandelet, à velha Igreja para rezar era uma forma de peregrinação que já preparava ao seu espírito para a sua vida de peregrino. Durante as férias escolares ia muitas vezes em peregrinação à fonte batismal. Na sua infância e adolescência realizou algumas viagens e peregrinações que, por terem sido feitas em tão tenra idade, marcaram definitivamente a sua sensibilidade ao belo, ao sagrado, ao sentido cristão da vida e às realidades sociais do mundo.

1. Exposição Universal de Paris (agosto 1855) Em Agosto de 1855, o seu pai, Júlio Dehon, que gostava muito de viajar, levou-o à Exposição Universal de Paris. Foi a primeira de tantas viagens que empreenderia na vida. A primeira experiência marcante foi a substituição da «diligência» pelo comboio a vapor. Esta simples mudança anunciava já a época de profundas transformações da vida pessoa e social devido aos progressos da ciência e da técnica, com as imensas repercussões como o trabalho industrial, a mobilidade das populações, as trocas comerciais, o desenvolvimento dos bancos … Diz-nos ele, mais tarde recordando esta viagem: «A rapidez de comunicações ajuda tanto à troca de ideias como as trocas comerciais, facilita todas as propagandas e todos os apostolados, possibilita o desaparecimento dos particularismos, dos costumes, das tradições, das doutrinas locais e do isolamento que estes produzem. O progresso centralizará em dois campos de batalha as duas formas de ver a humanidade. Prepara-se a batalha final de Cristo e do Anti-cristo». Quando lá chegou, ficou deslumbrado com as riquezas e com as luzes da exposição, com a grandeza dos monumentos como a catedral de Notre-Dame, o museu do Louvre, o palácio Les Invalides, o Arco de Triunfo, as Águas de Versailles... Teve ainda a oportunidade de ver ao vivo o mágico Robert-Houdini e assistir à passagem da Rainha

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Exposição Universal da Paris, em 1855

Vitória de visita à França. Muito tempo depois, escrevendo as suas memórias, Leão Dehon escreve que «via tudo com olhos de criança», isto é, com o olhar de curiosidade e deslumbramento e que lhe abriu os horizontes dos seus pequenos conhecimentos e foi como uma grande «lição sobre o mundo (leçon de choses). Como resultado, uma viagem feita assim no início da sua adolescência teve um enorme A experiência desta primeira viagem, La Capelle – Paris, feita nos alvores da sua adolescência, teve um enorme influxo na mente e na sensibilidade de Dehon.

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2. Férias com o Pároco Jean Demiselle (1856)

4. Peregrinação de família a Notre-Dame-de-Liesse (1857)

No verão de 1856, Leão Dehon já estudante no Colégio de Hazebrouck, e motivado por uma educação à criatividade, à arte e às festas religiosas, fez uma viagem com o novo pároco de La Capelle, Padre Jean Demiselle, à cidade de Liège e Colónia. Atravessaram o belíssimo Vale do Rio Mosa perto de Mèzières.O jovem Dehon ficou espantado com o efeito pitoresco da paisagem e com a beleza das cores e dos recortes da natureza. Das cidades visitadas resultava um acréscimo de conhecimento e, ao mesmo tempo, de encantamento e descoberta da História, das tradições dos povos e das vivências diversificadas da fé. Diz-nos ele: «Tudo era novo para mim. Passava de maravilha em maravilha, observava e anotava tudo. Estas recordações nunca mais desapareceram da minha memória. Anunciava-se assim a minha vida de viajante».

Durante as férias do mesmo ano (1857) foi com a família em peregrinação a Notre-Dame-de-Liesse e ao Castelo de Marchais. O mistério e a piedade do Santuário, enraizadas numa sólida devoção popular, deixaram-lhe uma grande impressão na sua alma ardente e ajudou-o a manter a tensão espiritual que tinha tido durante o ano no Colégio. Da visita ao Castelo de Marchais ficou impressionado pela arquitetura do edifício e pelo refinado trabalho de escultura dos móveis. Começava assim o seu sentido crítico sobre arte.

3. Peregrinação ao Convento Trapista de Monts-des-Cats (1857) Os anos seguintes de estudos em Hazebrouck foram para Dehon um tempo de forte experiência espiritual. Durante o segundo ano (1856-1857) fez com os seus colegas uma excursão – peregrinação ao Convento dos Monges Trapistas de Monts-des-Cats. Esta peregrinação foi a primeira grande revelação da grandeza da vida monástica. Ficou impressionado com as orações, com as vestes e com a simplicidade dos monges. Sensível à dimensão espiritual, absorvia tudo e questionava tudo. Sentia-se em sintonia com aqueles homens de Deus. Diz-nos ele: «Aquilo falava ao meu coração!».

Convento Trapista de Monts-des-Cats

Notre-Dame-de-Liesse

5. Viagem à Bélgica com o pai (1859) A 17 de Agosto de 1859 Dehon conseguiu o Bacharelato em Letras na faculdade de Douai. Tinha 16 anos. Era uma etapa brilhante e muito rica a todos os níveis que terminava. O pai estava orgulhoso dos feitos do filho e começou a sonhar um futuro risonho para ele. Durante as férias, como recompensa pela brilhante prestação académica do filho, propõe fazer uma viagem à Bélgica. Entretanto, Leão Dehon, manifesta ao pai que desejava ser sacerdote e gostava de entrar no seminário de S. Sulpice. O pai recusou categoricamente a ideia e nem queria ouvir falar desse projeto. Viajaram para a bélgica e visitaram Chimay, cidade belga, próxima da fronteira, conhecida pelos seus castelos e onde a família Dehon possuía terrenos. Mas, o que mais atraiu a atenção e a sensibilidade do jovem Dehon foi o Convento dos Monges Trapistas: «Tudo me parecia grande e admirável. Assistimos ao canto da Liturgia das Hora Intermédia e comemos uma modesta refeição. Esta visita provocou em mim e no meu pai também, uma grande impressão. Nosso Senhor servia-se de todas as circunstâncias para me ajudar».

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Francisco Costa

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12– memórias

da família dehoniana

Homem do silêncio, da simplicidade e da bondade

Padre Manuel de Gouveia

Até agora, nesta rubrica da revista, foram evocados fundadores, pioneiros e operadores de primeiro plano na implementação da presença dehoniana em Portugal; todos eles vindos da Itália. É chegado o momento de passar aos frutos, aos primeiros alunos, portugueses, que dariam continuidade à Obra. Continuo a limitar-me aos falecidos, por um critério compreensível.

E começo pelo P.e Manuel de Gouveia, duplamente significativo na história da Congregação em Portugal: pode considerar-se o primeiro aluno e primeiro missionário, que assim concretiza a finalidade da fundação: preparar missionários dehonianos portugueses para a Missão de Moçambique.

Escreve o padre Canova nas suas memórias, Erudimini, que havia no Santo da Serra, na Madeira, um “rapazinho nada espalhafatoso, humilde… mas teimoso. Chamava-se ele Manuel de Gouveia. Pobre, manifestava desde pequeno a propensão para ser missionário”. O pai era “caseiro” (empregado, feitor) das Meninas Bianchi, que viriam a ser benfeitoras do Colégio Missionário do Funchal, o primeiro seminário dehoniano em Portugal. Prontificaram-se elas a pagar-lhe os estudos de seminário para que pudesse ser padre, mas o jovem recusou porque queria ser missionário. Era essa a sua “teimosia”! Nascido a 27 de junho de 1931 na freguesia do Santo da Serra, tinha o Manuel, em 1945, 14 anos, quando o Cardeal D. Teodósio Clemente de Gouveia, Arcebispo de Lourenço Marques, também ele madeirense, veio de visita à ilha natal e, num domingo, foi celebrar Missa a essa freguesia. As ditas Meninas apresentaram-lhe o jovem com vocação de missionário; o Cardeal animou-o com a notícia de que tencionava abrir um seminário missionário na Madeira, e o jovem, esperançado, ficou à espera.

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Padre Manuel de Gouveia (1931-2006)

Quando os padres Colombo e Canova chegaram à Madeira com a finalidade de abrir o dito seminário missionário, o Manuel Gouveia, já com 16 anos, foi procurá-los para ter notícias concretas do projecto, levando consigo outros dois amigos, também eles com vocação de missionário: o P.e Manuel Martins e o Serafim de Nóbrega, que desistiria, este último, quase no fim do curso de teologia. A visita dos três jovens foi acolhida como um sinal da Providência para passar das intenções aos factos, e assim nascia, a 17 de outubro de 1947, o Colégio Missionário Sagrado Coração do Funchal.

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referida Escola Apostólica de Nauela; de 1970 a 1974, trabalha na Casa Padre Dehon, de Maputo, casa dos estudantes dehonianos de teologia. Em 1975 está novamente na Zambézia: até 1982, no Gilé; de 1982 a 1986, em Namarroi; de 1986 a 1987, na Casa da Sagrada Família de Quelimane; em 1988, no Seminário diocesano de Quelimane; de 1989 a 2005, no Seminário Médio dehoniano, Casa Coração de Jesus, de Santo António da Serra, terra natal do P.e Manuel Gouveia. Sococo (Quelimane). Em 2005, regressa a Portugal para tratamentos médicos de oncologia, passando a residir na Casa Provincial, em Lisboa. Em agosto de 1952, o Manuel de Faleceu no Funchal a 12 de outubro de 2006. Fora celebrar os Gouveia transferia-se para Coimbra 50 anos de sacerdócio à ilha natal, na companhia do Superior com o grupo de colegas semina- Provincial de então, P.e Manuel Barbosa. Agravando-se-lhe o ristas, que, terminado o 5º ano do estado de saúde, foi internado no hospital do Funchal, de onde liceu, continuariam os estudos na partiu para a Casa do Pai. Lusa Atenas. E o curso dos estudos As mensagens e testemunhos de diversa proveniência, que pree caminhada vocacional do nosso enchem o fascículo em memória do P.e Manuel de Gouveia, são vocacionado a missionário pros- deveras sugestivos e eloquentes, retratando bem o confrade. O seguiriam, com algumas dificul- Superior Geral, P.e José Ornelas enaltece-lhe a serena fidelidade dades nos estudos, traduzidas em à consagração religiosa; o seu silêncio, que falava mais do que interrupções, e não em desistência, os nossos discursos, a palavra simples e oportuna para ajudar precisamente pelas virtudes e deter- a compor, a compreender e a reconciliar; a amabilidade para minação vocacional do candidato. com todos, que ajudava a desfazer conflitos e a criar relações Seguiria para a Itália no fim do verão fraternas e amigas; a paciência e esperança com que enfrentou de 1955, para fazer o noviciado, em a doença e o sofrimento. O D. Alfredo Caíres, Bispo de Mananjary Albissola, vindo a professar a 29 de (Madagáscar), também ele dehoniano, enaltece-lhe o exemplo setembro de 1956; o curso de filo- de simplicidade missionária, que tanto ajudou os seminaristas sofia em Monza, no ano seguinte, dehonianos e crescer no gosto e zelo pelas Missões. Por sua com uma segunda interrupção para vez o então Superior Provincial de Moçambique, hoje bispo estagiar em Aveiro, donde regres- de Lichinga, D. Élio Greselin, colega de noviciado, de Monza e saria a Bolonha para iniciar o curso Bolonha do P.e Manuel de Gouveia assim o descreve: “Manuel de teologia. Uma nova interrupção das poucas palavras… Manuel especialista do jardim, Manuel levá-lo-ia, nada mais nada menos, que ao sonhado campo missionário, estagiando na recém-aberta Escola Apostólica São Francisco Xavier dos Dehonianos, em Milevane (Nauela, Zambézia), onde se dedicou no seu estilo de simplicidade e doação, de 1960 a 1962. Em 1962, regressado a Portugal, sendo colocado na comunidade do Colégio Missionário do Funchal, para completar a teologia no Seminário diocesano. É ordenado sacerdote, sempre no Funchal, a 25 de julho de 1965, regressando, de imediato, à Missão de Moçambique. FotoManuel antigade doGouveia Funchal é o 1.º da direita, atrás. Estudante em Coimbra, De 1965 a 1970, volta a colaborar na

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14– memórias

da família dehoniana

Padre Manuel Gouveia (continuação) barbeiro de milhares de cabeças de frades, Manuel que nunca vi correr, mas sempre e só caminhar… Manuel do café, Manuel do prolongado silêncio na Igreja em oração, Manuel que nunca criou problemas de obediência aos seus superiores, Manuel confessor e director espiritual de padres, seminaristas e cristãos das paróquias de Quelimane… Manuel do rosto bondoso e manso: nunca te vi alterado ou raivoso no meio dos teus seminaristas… Manuel da velocidade do carro ao máximo 25/40 km por hora: quanta paciência transpiravas… Homem humilde e pobre, sempre com aquelas sandálias velhas, aquele passo lento, aquele sorriso nos lábios. Homem calmo”. Muito feliz é também o testemunho do P.e Ricardo Freire, que, então residindo na Casa Provincial, partilhou muitos momentos com o P.e Manuel de Gouveia, apreciando as suas muitas qualidades humanas e religiosas: foi “um homem que soube ser simples… santificar-se no quotidiano. Assim o conheci em Moçambique, quando lá cheguei em 2000, assim o encontrei em Lisboa. Ainda hoje lembro o homem que sempre estava pronto a lavar a louça e a arrumar a cozinha… Tenho bem presente a imagem do P.e Manuel com o pano

Como seminarista, em Coimbra, Manuel Gouveia é o da esquerda, na fila de trás.

da cozinha às costas, a trazer pratos e copos para os armários da sala de jantar… Tenho bem presente o P.e Manuel que se dedicava ao jardim… regar vasos, um a um, com um regador por ele improvisado. Tenho bem presente o P.e Manuel que, tantas vezes, encontrei na capela da Cúria Provincial, sozinho a rezar, muitas vezes com um terço muito coçado… nas mãos que acusavam anos longos de trabalho. A simplicidade do P.e Manuel, porém, era cheia de sabedoria… Todos os dias lia o jornal e gostava de ver os telejornais: enfim, tinha sede de estar informado daquilo que se passava no mundo… A simplicidade do P.e Manuel escondia uma grande cultura … Era um homem que gostava muito de estar actualizado … Penso que lia, quase de fio a pavio, todas as revistas que recebíamos na Cúria… Outro seu hábito: ir sempre despedir-se dos confrades que partiam”. Era assim o P.e Manuel de Gouveia, e só assim se pode ser missionário a vida inteira. Foi-o sempre, no desejo, desde criança; foi, no concreto, durante 40 anos em Moçambique. Foi certamente um excelente fruto da colheita dos pioneiros da presença dehoniana em Portugal. Obrigado, P.e Manuel Gouveia, nosso primogénito de caminhada.

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da família dehoniana

comunidades –

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Uma presença de que se esperam muitos frutos eclesiais

PRESENÇA DEHONIANA em Paredes

Betânia

Como bem intuíra o padre Colombo, a periferia do Porto era vocacionalmente mais prometedora do que a de Aveiro, donde a conveniência de transferir desta cidade para aquela o seminário menor dehoniano do Continente. Na análise dos “estrategas” da presença dehoniana em Portugal, o vale do Douro e sobretudo o do Sousa, dariam muitas vocações à Congregação: era uma região de gente empreendedora, famílias numerosas, de boa prática religiosa, e generosas, o que garantiria o futuro do seminário.

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16– comunidades

da família dehoniana

Dehonianos em Betânia (continuação)

Como bem intuíra o Padre Colombo, a periferia do Porto era vocacionalmente mais prometedora do que a de Aveiro, donde a conveniência de transferir desta cidade para aquela o seminário menor dehoniano do Continente. Na análise dos “estrategas” da presença dehoniana em Portugal, o vale do Douro e sobretudo o do Sousa, dariam muitas vocações à Congregação: era uma região de gente empreendedora, famílias numerosas, de boa prática religiosa, e generosas, o que garantiria o futuro do seminário. Transferido este para a Boavista e, associando-lhe, pouco depois, o de Águas Santas, em Ermesinde e, por fim, o da Portelinha, em Gondomar, havia que associar ao trabalho da formação dos seminaristas o da promoção vocacional. E eis os Dehonianos percorrer o interior do Porto, visitando escolas e contactando paróquias para fins vocacionais. Dessas passagens de recrutamento se passaria a uma colaboração paroquial na área, inicialmente pontual e depois fixa. Foi o que aconteceu nomeadamente com o P.e João de Deus Costa Jorge, que, colocado no Centro Dehoniano da Avenida da Boavista, começaria por dar, em Janeiro de 1995, uma ajuda pastoral sistemática ao Vigário da Vara

Guarda a Manteigas: um terreno enorme, talvez o dobro do da Portelinha, cheio de castanheiros e com duas casas, uma com dez quartos e cave sem divisões e outra para armazenagem dos produtos agrícolas, oferecido por duas anciãs irmãs de sangue, solteiras, filhas de um falecido médico local e benfeitoras da obra dehoniana. Ofereciam-no à Congregação com a única condição de esta ali fazer alguma atividade pastoral, mesmo esporádica. A oferta tivera lugar numa ida do P.e António Augusto Teixeira de Sousa, com um grupo de Jovens Valentes, em férias missionárias nessa freguesia serrana. Ainda se pensou aproveitar as casas existentes para períodos de férias dos seminaristas dehonianos e para encontros e ações de formação dos diversos sectores da atividade da Congregação. O isolamento, porém, do local levou a declinar a oferta. Teve, ao invés, sucesso outra oferta, a do Senhor Joaquim Neves, da Rebordosa, pai do atual director da Obra do ABC, P.e José Camilo Dias das Neves. Conhecendo ele as diligências da Congregação para dar sede ao Centro Dehoniano, pôs à disposição, em 1994, uma propriedade – terreno e casa – que possuía em Duas Igrejas de Paredes, a chamada Quinta dos Palhais. As condições do lugar eram favoráveis, até porque muitos dos grupos missionários se situavam nas redondezas, e também de lá eram a maior parte dos nossos seminaristas e pré-seminaristas e membros de vários ramos da Família Dehoniana. Logo o P.e António Augusto Teixeira de Sousa, então responsável da animação missionária e da pastoral juvenil e vocacional no Norte, se entusiasmou com a proposta, procurando interessar também os Superiores.

A igreja paroquial de Sobrosa, onde é pároco o P.e João de Deus.

de Paços de Ferreira e pároco de Sobrosa, acabando por assumir a paróquia em novembro de 1996. Pode-se considerá-lo o primeiro dehoniano presente de forma estável no território onde nasceria o Centro de Espiritualidade Betânia. Quando, depois, se procurava uma sede apropriada e definitiva para o referido Centro Dehoniano e suas atividades de pastoral juvenil e vocacional e de animação missionária – se mantê-lo na sede da Avenida da Boavista ou transferi-lo para a Obra do ABC, em Rio Tinto, ou mesmo para o Seminário Missionário da Portelinha – eis surgirem duas propostas aliciantes, uma no concelho da Guarda e outra no de Paredes. A primeira era em Famalicão da Serra, na estrada que liga a

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Betânia engalanada por ocasião do 4.º aniversário, em setembro de 2007.

Na reunião do Conselho Provincial de agosto de 1994, foi aceite a oferta, que já tinha sido feita pelo generoso proprietário às Irmãs de Schönstadt, que não a haviam aceitado por pressão do bispo diocesano, que não queria que elas trocassem

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Canidelo, Gaia, onde faziam um excelente trabalho pastoral, por Paredes. Beneficiávamos assim dessa recusa. Passava-se então à prolongada e complicada fase da definição da nova Obra: casa de acolhimento, de retiros, de encontros de fim-de-semana ou outros, para grupos locais ou dos arredores: grupos missionários, jovens, escuteiros e outros? Possibilidades de utilização não faltavam. Em setembro de 1995, para levar a Congregação a empenhar-se, o Senhor Neves dispôs-se a realizar, à sua custa e de outros pessoas vizinhas, obras de restauro e adaptação na casa existente; a Congregação porém receava que um envolvimento em Paredes comprometesse o empenho relativo ao Centro Dehoniano da Avenida da Boavista; deu luz verde, mas com calma e prudência! Na reunião do Conselho Provincial de março de 1996 adoptou-se o nome da nova presença dehoniana: Betânia, nome caro ao Fundador e seu carisma: um nome que nos “traz à memória a casa de Lázaro e de suas irmãs Marta e Maria, assim como de Simão, o leproso… O Padre Dehon via em Betânia a síntese da espiritualidade que o animava e nos anima...” Assim o P.e Manuel Neto Quintas, Superior Provincial de então e atual bispo do Algarve, justificava, numa carta circular 28 de março de 1996, a escolha e riqueza do nome escolhido. Em setembro desse ano, o bispo do Porto mostrava-se aberto ao projeto, insistindo na disponibilidade da A igreja paroquial de Duas Igrejas comunidade religiosa onde é pároco o P.e Marcelino Freitas local para a colaboração paroquial na área circunstante. Entretanto, o P.e João de Deus continuava a servir a paróquia de Sobrosa, com o bispo diocesano a insistir para que se assumisse também a de Duas Igrejas, onde estava situada a Quinta dos Palhais, e de Cristelo, assunção que acabaria por se concretizar. Para satisfazer as valências da Obra, havia que construir estruturas, e assim se passou aos projetos, relativos passos nas instâncias camarárias, e orçamentos. Entretanto, a comunidade do Centro Dehoniano foi promovendo e realizando iniciativas no terreno, servindo-se da casa rústica ali existente. A possibilidade de ali vir a surgir uma obra religiosa suscitou o interesse e apoio de muita gente do lugar, das paróquias vizinhas e, sobretudo, dos grupos missionários. Assim nascia uma benemérita e benéfica onda de voluntariado, que ainda continua. Em fevereiro do ano 2000, é aprovado o orçamento das obras e, em outubro de 2001, continuando os religiosos destinados à nova Obra a residir no Centro Dehoniano, tomou-se posse das paróquias de Duas Igrejas e Cristelo, mantendo a de Sobrosa. Em março de 2002, foi erigida canonicamente a co-

munidade dehoniana de Duas Igrejas. Terminadas as obras, a nova casa seria inaugurada a 14 de setembro de 2003. Na criação dos ambientes e definição de funções da nova Obra, merecem especial destaque o P.e Abel Joaquim Martins Maia e o referido P.e António Augusto. O primeiro, na sua sensibilidade decorativa e criatividade pastoral, muito se dedicou à criação de espaços de oração e de encontro, que ainda perduram e dão uma fisionomia típica ao Centro. Em 2003, o P.e Abel é substituído pelo P.e António Augusto, que procurará dinamizar o Centro, concentrando-se na animação dos grupos missionários e em ações de formação e atos de culto, com particular realce para a Eucaristia e adoração eucarística. A pastoral juvenil ficaria no Centro Dehoniano da Boavista e a vocacional no Seminário da Portelinha. Uma outra valência da comunidade dehoniana de Duas Igrejas é a pastoral paroquial, abrangendo as paróquias de Sobrosa, Duas Igrejas, Cristelo e, ultimamente também Besteiros. Nelas se têm sucedido Dehonianos dinâmicos nesse sector da pastoral que, além de atender às solicitações das próprias paróquias, não se coíbem de ajudar, na medida do possível, os párocos da zona.

A igreja de Besteiros, paróquia assumida ultimamente.

Mais poderia ser feito no Centro em termos de animação, mas para isso seriam necessárias novas obras e a adaptação de estruturas existentes, para o que seria necessária disponibilidade de pessoal e de meios financeiros, para além de uma mudança da situação do terreno, classificado como zona agrícola e não de habitação. O futuro ditará a evolução dessa que, hoje, é considerara a presença benjamim dos Dehonianos em Portugal.

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18– vinde e vereis dos conteúdos

A Igreja tem uma Palavra decisiva a dirigir ao Mundo

“Até ao fim dos tempos”

O “vinde e vereis” é, na circunstância histórica da vida da Igreja, um convite a nos aproximarmos, na fé, da realidade misteriosa que é a mesma Igreja, que mais não seja para vermos o invisível, que é a presença e ação do Espírito do Ressuscitado.

“Habemus Papam”. No momento em que redijo estas breves linhas, ainda não ecoou na “loggia” (balcão do Palácio Apostólico), a grande novidade que tem trazido nestes dias e semanas toda a Igreja e o mundo em grande expectativa. Sei que não tarda, mas também sei que não faltarão na altura em grande profusão as informações bem como as consabidas reações dos media do mundo inteiro. Nestes dias que precederam a abertura do Conclave, a par de opiniões e juízos de valor das mais diversas proveniências e das mais desencontradas tendências, tornou-se claro, mais uma vez, que a Igreja não deixa ninguém indiferente. Mesmo aqueles que aparentemente se mantêm à margem do seu mistério, não deixam de lhe prestar atenção. Ela pode atravessar crises que são sempre, ao fim e ao cabo, as crises da humanidade no seu conjunto, ela pode ser manchada pelos pecados e infidelidades dos seus próprios membros (por isso se define “santa e pecadora” e se reconhece sempre necessitada de “conversão”), ela pode ser perseguida, como, aliás, sempre foi desde o seu Fundador, ela pode ser objeto da má-fé e da má vontade de muitas forças obscuras e humanamente poderosas, ela pode ser o objeto privilegiado de todos os juízos e interpretações como facilmente percebemos sobretudo no nosso tempo, mas ela não pode ser ignorada. Assim como não pode sucumbir. Aparentemente é uma instituição humana naquilo que tem de visível e palpável, mas a sua realidade profunda transcende todas as aparências. Ela é divina. Ela é conduzida pelo Espírito d’Aquele que assegurou: “Eu estarei convosco até ao fim dos tempos” e “as forças do inferno não prevalecerão contra ela”.

Apesar de todas as aparências em contrário, aquele que, através de mediações humanas, será escolhido e chamado à sucessão de Pedro, é escolha do Espírito Santo, é com absoluta certeza aquele que Deus escolheu e chamou para ser o “Vigário de Cristo na terra”. Não sei até que ponto os não-crentes e os menos crentes têm esta perceção. Mas não deixa de ser uma evidência a atenção e o interesse que a eleição do novo Papa suscita em todo o mundo. O próprio número dos profissionais da comunicação social acreditados junto da Santa Sé ultrapassa os cinco mil e diz-se que o seu número continua a aumentar, o que mostra à evidência que a Igreja não está convalescente e menos ainda morta, como os profetas da desgraça se comprazem em fazer crer. Longe disso. A Igreja está viva! Portadora da mensagem evangélica, ela tem uma palavra decisiva a dirigir ao mundo. E este é o “diálogo da salvação”, como acentuava o papa Paulo VI, em favor do ser humano, travado com as várias denominações cristãs, com as diversas religiões e com os não-crentes; com o mundo das ciências, das filosofias e das variadas culturas; com a sociedade, a política e a economia. Todos esperam, ansiosos, não só a palavra de vida e de esperança, mas a capacidade acolhedora do saber escutar e de ser acolhido pela Mãe Igreja, que é, “como que sacramento universal de salvação” (LG 1).

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Fernando Ribeiro

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dos conteúdos

onde moras –

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Deixar-se tocar pelo Senhor Ressuscitado

O Espírito anima a Igreja O mês de Abril inicia em pleno Tempo Pascal. Aleluia! Ele está vivo! Que a alegria de Jesus ressuscitado encha as nossas vidas. Que Ele seja a tua e a minha força, que Ele seja a atmosfera que respiramos.

Sabemos que a vida é composta por luzes e sombras, por momentos felizes, mas também por situações tristes, que nos fazem sofrer. Não há ressurreição sem haver morte. A cruz faz parte da vida de todo o ser humano. Acompanha-nos, no entanto, a cruz vivida com sentido cristão, toma novo sentido, é semente de Ressureição, é geradora de vida. A ressurreição explica a transformação da vida dos discípulos. Depois da morte de Jesus, eles estavam cheios de medo. A partir da ressurreição de Jesus e da experiência deles no Pentecostes, os mesmos discípulos ficaram transformados, capazes de levar a Sua mensagem ao mundo. Deixemo-nos tocar pelo Senhor Ressuscitado. Por vezes sentimos a sua presença mais facilmente, outras vezes Ele parece não estar, no entanto Ele está sempre presente, pela fé acreditamos na sua presença constante na vida da Igreja. Ele abençoa e enriquece fielmente a vida de todo aquele que nele confia.

Jesus Cristo, Ressuscitou, Ele continua hoje vivo através do seu Espirito. A cruz deixa de ser sinal de castigo para ser convertida em sinal de glória. É o Espirito Santo que anima a Igreja, que dá vida ao povo de Deus. O Senhor Ressuscitou e envia-nos o Seu Espírito. Estou disposto a deixar-me encontrar verdadeiramente com o Mestre, com Jesus Ressuscitado? O que falta para que este encontro se torne realidade? Ele espera por ti e por mim! A igreja católica é uma Instituição que tem existido e resistido na história do mundo. “Eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja (Mt 16,18). Assim tem sido e assim continua a ser, exemplo disto é a eleição do nosso novo Papa, Francisco. Que o Senhor lhe dê a graça de poder continuar a ser profeta da misericórdia, no nosso mundo ferido pelo pecado.

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Fátima Pires

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20– meias doses de saber dos conteúdos

Comunismo e Capitalismo levados ao extremo

Raízes da crise atual II. Os desafios A crise atual foi o resultado de dois modelos de vida económica e política propostos no século XIX e que, na sua aplicação prática, se extremaram. O Comunismo e o Capitalismo levados ao extremo trouxeram opressão, desigualdade e empobrecimento do ser humano, valorizando apenas não o homem no seu todo, mas certas dimensões redutoras da humanidade. Já desde o século XIX e ao longo do século XX não faltaram propostas inovadoras para encontrar uma via diferente que não os caminhos ora propostos pelo capitalismo ora pelo marxismo. Entre essas outras vias, importa recordar aquela que forma o caudal importante da reflexão crítica e das propostas condensadas na Doutrina Social da Igreja, cujo documento fundador foi a encíclica Rerum Novarum de Leão XIII de 1891. Na primeira metade do século XX, um escol de pensadores católicos contribuíram para enriquecer a reflexão e dar substância e atualidade à doutrina social proclamada ao mais alto nível pelos sucessivos papas através das suas denominadas encíclicas sociais. Entre esses pensadores, cumpre recordar o francês Jacques Maritain (1882-1973), o seu “Humanismo Integral” (1936) e um dos intelectuais que inspirou e preparou a proclamação Universal dos Direitos do Homem pela ONU em 1948. Maritain foi um pensador católico luminoso e influente que procurou tecer uma crítica às soluções do capitalismo e do comunismo. Em alternativa, propôs um modelo de sociedade, de política e de economia mais condizente com a doutrina cristã. No plano da economia, defendeu a emergência de uma nova economia apostada em promover a dignidade humana. Entendia que as empresas centradas no Patrão (capitalismo) ou no Estado (Comunismo) gerariam sempre uma economia desumanizante.

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Nesse sentido, idealizou o modelo de empresa comunitária em favor de uma economia que promovesse equilibradamente uma dada comunidade humana no seu todo. O investimento do patronato seria uma parte importante da empresa, mas o trabalho do proletariado também representaria um capital não menos importante, assim como os benefícios auferidos pelas empresas deveriam fazer-se sentir na comunidade envolvente, que é quem daria, em última instância, sentido à sua existência. Assim, os lucros não deveriam apenas beneficiar os empresários, mas também os trabalhadores e a comunidade. Por essa via, a empresa passaria a ser sentida como sendo de todos e por todos promovida e amada. Este amor ao trabalho e à empresa, bem como a cooperação entre os vários protagonistas de uma dada empresa acabariam por beneficiá-la em eficiência e melhorar os seus resultados. Nas últimas décadas, houve uma atualização extraordinária e com resultados testados deste modelo cristão. Trata-se do modelo de “Economia de Comunhão” proposto pela fundadora dos Focolares, Chiara Lubic, e implantado nas cidadelas do movimento Obra de Maria. No Brasil, em Portugal e em Itália, entre outros países, este modelo de empresa toma os lucros como uma mais-valia que deve ser partilhada entre os empresários, os trabalhados e o compromisso social com a comunidade onde está inserida. Esta espécie de laboratório de uma nova economia

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começa, pouco a pouco, a atrair empresários de diferentes quadrantes que gerarão uma mudança de paradigma económico à luz do que tem sido defendido pela Doutrina Social da Igreja. Hoje em dia a empresa não pode mais ser vista (em muitos casos teima em continuar a ser) como um meio de alcançar lucro a todo o custo com base em baixos salários e na desvalorização da mão de obra, ou seja, no entendimento do trabalho como um capital secundário. Na verdade, uma empresa e uma sociedade para subsistir deve apostar, em primeiro lugar, nas pessoas e na sua dignidade. Que sentido terá uma empresa e a sua produção se não tiver em vista as pessoas? São as pessoas que preparam os produtos e são as pessoas que constituem o mercado que consome. Ter a veleidade de desvalorizar o trabalho, os trabalhadores é, em suma, matar o futuro da sociedade e, a prazo, da própria empresa. É cegueira! É ter horizontes muito curtos!

Deparamo-nos hoje em dia com um exemplo flagrante deste neocapitalismo selvagem que tem em vista apenas o lucro e desconsidera as pessoas. Nas portagens das nossas autoestradas encontramos cada vez menos portageiros e cada vez mais máquinas automáticas, certamente em nome de uma certa poupança por parte de empresas que dão lucro. Além da desumanização que representa sermos cada vez mais atendidos por máquinas, as empresas que mecanizam esvaziam o futuro de muitos homens e mulheres que são lançados na incerteza do desemprego. A empresa pensa que lucra a breve trecho, mas esquece o grande bem social que representaria oferecer emprego a muitos e esquece as pessoas e suas famílias que assim ficam mais empobrecidas, logo com menos possibilidade de frequentar, pagando, as mesmas autoestradas. Hoje em dia, há uma nova obra de misericórdia que se impõe e que permite atualizar as clássicas obras de misericórdia espirituais e materiais. A nova obra de misericórdia que deveria ser muito promovida e valorizada passa precisamente por gerar emprego como fator de coesão social e de dar oportunidades de realização a homens e mulheres que, com trabalho, se sentiriam partícipes na obra divina da criação e na construção de um mundo melhor.

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Eduardo Franco

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22– pedras vivas dos conteúdos

Ofereceu a sua vida como Santa Teresinha

Ana, dos Tapados Quem alguma vez se dirigiu a Tabuado, Marco de Canaveses, recorda-se que desde longe se avistam enormes penedos, alguns quase a ameaçar rolar pelo monte abaixo sobre a povoação… É dessa Terra de muitas pedras mortas, que já te falei de algumas Pedras Vivas. É de lá também a Pedra Viva que deste número. Chama-se Ana, lá conhecida como a Ana, dos Tapados, lugar onde sempre viveu e onde veio a falecer na casa que herdara dos pais. Lá na freguesia não era conhecida e muito menos reconhecida como pessoa importante. Era simplesmente a Ana, dos Tapados, sem apelidos, sem títulos, sem nada… Ana, dos Tapados. Mas a família sabia e sabiam os amigos que ela era muito mais do que isso. Estive em muitos momentos dessa família, uns felizes como casamentos e bodas matrimoniais, primeiras comunhões, profissões de fé e batizados… e outros dolorosos: doenças, funerais. Em todas as circunstâncias a Ana esteva sempre a promover a paz e a concórdia da família, que sendo muito numerosa tinha também, como todas as famílias, momentos de alguma desarmonia… Ela unia, pacificava, dava sempre o primeiro passo da reconciliação… E servia. A Ana estava sempre ao dispor, a servir, a trabalhar. Por isso, era tão estimada pela família, muito especialmente pelos irmãos e sobrinhos… Gostava que todos estivessem bem e ficassem felizes e tudo fazia para isso. Profundamente católica, o seu coração missionário, como deveria ser o de todos os que fomos batizados, preocupava-se com a vivência cristã de toda a família. Promoveu a consagração das famílias ao Coração de Jesus e a Bênção das casas novas de seus irmãos, obtendo do velho Pároco autorização para eu presidir a essas celebrações familiares. O Pároco, Pe Joaquim Pereira da Cunha, só deixou a paróquia aos noventa e sete anos e meio, residindo desde então na Casa Sacerdotal da Diocese do Porto, quase a completar 101 anos de idade, como dele já falei nestas mesmas páginas… Dele percebi um profundo respeito por essa família, por serem paroquianos cumpridores dos seus deveres.

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“A tia Ana”, como tão carinhosamente lhe chamavam os sobrinhos, era para eles uma segunda mãe. Sempre preocupada com eles, com o seu bem estar físico e moral, com a sua educação… Foi uma sobrinha que me ligou uma semana antes dela falecer: “A tia Ana está muito mal. Se o Senhor Padre pudesse passar por aqui…” Eu estava em serviço na ilha da Madeira, mas respondi-lhe que mal regressasse a iria ver. “É capaz de ser tarde, Senhor Padre…” Respondi-lhe que Deus ia querer que eu me despedisse dela. E no primeiro momento livre depois do meu regresso da Madeira, um dia antes do que tinha previsto, fui visitá-la… Encontrei primeiro a sobrinha. “Senhor Padre, só o esperávamos amanhã, terça-feira, mas ainda bem que veio, que ela hoje até está menos mal…”

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E lá fomos ver “a tia”, apressando-se logo a sobrinha em dizer-lhe que eu ia a passar e ela me disse que “a tia” estava doente e eu quis vê-la. Ela voltou-se com enorme dificuldade e, admirada com a minha presença, começou a dizer que não merecia que eu perdesse tempo com ela, que era uma fraca animadora missionária, que já não fazia quase nada… Ora, se menos mal era aquilo, dava bem para entender a gravidade da situação. Ela estava mesmo mal, diria, em agonia. A sobrinha, inventando uma desculpa qualquer, retirou-se estrategicamente, deixando-me a sós com ela. Pouco depois estava a Ana a dizer que o cancro a tinha apanhado toda e que já nem podia ir levar as cartas de parabéns, nem recolher as quotas. Felizmente, a irmã e a sobrinha é que iam fazendo alguma coisa… Disse-lhe que para as missões não conta só o que se faz, mas o que se é… E disse-lhe: – Ana, Tu és uma grande animadora missionária, mesmo não podendo fazer nada. És animadora missionária há 25 anos, e sempre foste corajosa e fiel… Agradeço muito a Deus o teu serviço e ELE vai recompensar-te, porque és da primeira hora e sê-lo-às até à última... – E a última está perto. – Atalhou ela. A Ana foi sempre a animadora número dois. Aliás, nunca aceitaria ser a Presidente, que cheguei a pedir-lhe que o fosse, por doença da que tinha essa missão. Foram 25 anos de total entrega e dedicação à causa missionária, sempre fiel, generosa e pequenina, como a Santa Teresinha, Padroeira das Missões. Antes de partir perguntei-lhe se queria aproveitar da minha passagem para se confessar. – Pois era isso mesmo que eu queria, mas o Senhor Padre tem tanto que fazer… – Hoje não tenho, Ana.

E ela confessou-se. E no fim disse-me: – Nessa gaveta há algum dinheiro das missões. É pouco porque não tenho podido ir a casa dos Cooperadores. Esse, trouxeram-mo cá… Eram 35,50 euros. Não era muito, mas valia mais que o todo o dinheiro do mundo. Disse-lhe: – É muito Ana, é muito! Está nele todo o teu amor às missões. – Pois está, mas gostava de dar mais. – Já só te falta dar uma coisa, Ana: Oferece a tua vida, como a Santa Teresinha daquele quadro que tens aos pés da tua cama. – Ofereço, ofereço… – respondeu com enorme esforço. E foi a última palavra que lhe ouvi… No dia seguinte, terça-feira, a Ana partiu para Deus. Tinha 60 anos: E eu “creio que subiu aos céus”, com Jesus,

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António Augusto

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24– imprensa cristã dos conteúdos

Que futuro para a imprensa de proximidade?

Interessa-lhe a imprensa de proximidade? “Reinventar ou fechar?” A questão contínua a ecoar, cerca de um ano e meio após o 8.º Congresso da Associação de Imprensa de Inspiração Cristã (Leiria, 11 e 12 de Novembro de 2011). Uma resposta que não compete apenas aos responsáveis pelas publicações, mas aos seus leitores.

Olhando para os últimos meses do ano, assistiuse a uma série de encerramentos de jornais locais, de norte a sul do país. “Notícias de Guimarães”, “Expresso do Ave” (ambos de Guimarães, distrito de Braga) e “O Correio de Pombal” (distrito de Leiria e à época o único existente naquele município) são só alguns exemplos. Já no âmbito da imprensa regional de inspiração cristã, a diocese de Angra passou a semanário o diário “A União” – tinha encerrado anteriormente o “Correio da Horta”. Depois há casos como “O Distrito de Portalegre”, que a respectiva diocese fechou, em 2010, quando este completava 126 anos. Independentemente de serem ou não de inspiração cristã, o motivo é o mesmo de sempre: a crise. A palavra mais gasta nos anos será, em alguns dos casos, até de conveniência para que a comunicação de proximidade seja abandonada. Uma atitude particularmente gravosa no caso das publicações da Igreja, pois é a inutilização de uma ferramenta que está ao seu serviço (o mesmo seria se um padre deixasse de celebrar missas, os catequistas abandonassem a sua missão ou os fiéis a sua vocação missionária no quotidiano). O que temos assistido nos últimos tempos é um desinteresse pela mensagem (notícias), pelos destinatários (público), o que leva à morte do mensageiro (jornal). É como ver um doente em agonia e deixá-lo sem auxílio. E não falo tanto nos jorna-

listas, mas nos responsáveis pelas publicações. Quem o faz está, na prática, a desinteressar-se de si, caro leitor. Com menos jornais, teremos menos informação credível, que é precisamente a imagem de marca dos média e dos jornalistas. Mas sem eles (ou com menos), teremos menos jornalismo. E sem jornalismo, teremos um empobrecimento da democracia. Porque se há muita coisa que poderemos saber na televisão, na rádio ou na Internet, há muita outra (muita mesmo) que nos escapará. Falo daquela que lhe é trazida pelos média regionais, que trabalham para que estejamos minimamente informados daquilo que afecta o nosso dia-adia. Quem, se não eles, nos informa do corte de estrada, do encerramento do centro de saúde, da mudança do pároco ou da irregularidade na junta de freguesia? É de esperar que sejam os médias ditos nacionais a fazê-lo? Mas não são também esses que estão a esvaziar as redacções? Como fazem mais jornalismo com menos jornalistas? A comunicação social é isso mesmo: de e para a sociedade. Faz parte da sua missão. Quando não a cumpre, a sociedade tem todo o direito de a exigir. Esteja atento, caro leitor, e faça-o. Por si! Nota: Autor não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico

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Pedro Jerónimo

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palavra de vida – Deixemo-nos guiar pelo Papa Francisco até Cristo Bom Pastor

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Dar-vos-ei pastores

Tinha inicialmente pensado escrever esta página antes do início do Conclave ou quando ele estava ainda apenas no seu início. A ideia era a de escrever na “ânsia da expetativa”, como costuma dizer um confrade e amigo. Mas o Conclave trocou-me as voltas, foi mais rápido do que eu pensara e eis que agora escrevo já o Pontificado do Papa Francisco vai avançando, e a bom ritmo, por sinal. Independentemente desta acelerada sucessão de acontecimentos, há muito tinha decidido que o texto evangélico escolhido para este mês de Abril seria o do 3.° Domingo da Páscoa (dia 14). O mês é integralmente preenchido pelo Tempo Pascal e qualquer texto de qualquer Apascenta as minhas Domingo serviria para refletir sobre a presença do Ressuscitado na ovelhas… segue-me! vida da Igreja. O texto termina com um delicioso diálogo entre Comunidade sem rumo, Jesus e Pedro. A insisà procura de Luz tência de Jesus conduz São João diz-nos que os discípuPedro a uma profissão los tinham andado toda a noite de fé incondicional e na pesca e que nada haviam a uma disponibilidapescado. É um trabalho árduo de para a missão sem e vazio, porque lhe falta alguém limites nem receios. É que guie e dê sentido ao esforço a este Pedro por vezes despendido e ao labor realizatitubeante e hesitante do. Parecia que tudo era inútil na fé que Jesus confia e tinha perdido sentido: Jesus a guarda e guia da cotinha morrido, a cruz aparecia munidade de todos os como o momento que pusera crentes, da Igreja. fim a toda a esperança que Neste momento tão sintinham depositado naquele gular da sua história, a que eles pensaram que seria o Igreja acaba de acolher Messias. A solução parecia estar com alegria e entusiasno retomar da atividade de anmo o novo pastor que o tigamente, no regresso à pesca Senhor lhe concedeu. O de sempre. Papa Francisco, tal como Jesus aparece, e tudo se transPedro, não é certamente forma. O encontro com o ressusperfeito, porque perfeicitado traz alegria, transforma a to só Deus, mas é, como frustração em confiança, muda Pedro, um homem que o vazio em plenitude. À ordem quer trilhar sempre os de Jesus, a rede é de novo lancaminhos da fé e da esçada ao lago. Mas desta vez não perança, com a fé que Deus lhe concede e a esperança cristã que ele volta sem cumprir a sua missão: procura renovar e aprofundar em cada dia do seu caminhar. Jesus o vazio de antes é agora subsconvidou Pedro a segui-lo; Jesus chamou Francisco para pastor e tituído pela abundância quase guia da sua Igreja; Jesus convida cada um dos seus discípulos, cada incontrolável. Como é diferente um de nos, a segui-lo, a fazer do seu projeto de vida o nosso próprio a vida com Jesus! A sua presenprojeto de vida e motor de toda a nossa ação. ça enche de vida nova aqueles Caminhemos com o Papa Francisco, deixemo-nos guiar por ele até que o acolhem, agora o esforço Cristo Bom Pastor, rezemos para que o Senhor o assista sempre já não é inútil nem o resultado com o seu Espírito e lhe dê a capacidade de ser o guia que aponta o final do trabalho realizado é caminho para Deus, para a vida, para a plenitude. Santa Páscoa! frustração.

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José Agostinho Sousa

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26– leituras

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“O todo é mais do que a soma das partes”

A complexidade Quando viajo até à Madeira, tenho alguns pontos fixos que nunca deixo de visitar. Um deles é a livraria Esperança no Funchal. Tem uma particularidade: a maior parte dos livros não está em estantes, mas nas paredes que são enormes. Há dias, numa dessas visitas, encontrei um livro de Izabel Petraglia, onde aborda três aspetos essenciais: a complexidade, a holística e a educação.

Ela baseia-se muito no pensador francês Edgar Morin, o qual afirma que, para a holística, o todo não é mais do que a soma das partes. Já a complexidade é mais do que a soma das partes. Segundo ele, a conceção holística evidencia o todo, mas rejeita as partes. O holismo ignora o circuito relacional que é a interligação das propriedades das partes com as propriedades do todo. A complexidade e a holística não se confundem, embora partam da mesma perspetiva de totalidade, distanciam-se, tomando caminhos diferentes.

A complexidade Ao abordar a epistemologia da complexidade, Edgar Morin contrapõe-se ao pensamento simplificador e reducionista. Este está assente no modelo científico, guiado pelo positivismo, pelo reducionismo e pelo materialismo. Está marcado pela separatividade das coisas, considerando a relação entre as coisas acidental e o ser humano como um eu isolado no universo fragmentado. É um paradigma que predominou entre o século XVII e o século XX. Os grandes promotores desta visão mecanicista foram Francis Bacon, Descartes e Newton Para Morin, ciência (conhecimento e sabedoria) não pode assentar apenas na observação, verificação e comprovação, já que esta tanto enriquece como aniquila. Nas suas obras, Morin afirma que o conceito de ciência não é eterno, nem absoluto. A ciência deve promover o diálogo com a sociedade, a técnica e a política e desse diálogo devem surgir reflexões em ordem à nossa participação no universo sociocultural.

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Para Morin, o universo tem 7 biliões de anos; a terra tem 5 biliões; a vida 2,5 biliões de anos; os vertebrados 600 milhões de anos; os répteis 300 milhões de anos; os mamíferos 200 milhões de anos; os antropoides 10 milhões de anos; os hominídeos 4 milhões de anos; o homo sapiens tem entre 50.000 a 100.000 anos; a organização da cidade e do Estado tem 10.000 anos; a filosofia 2.500 anos. A ciência do ser humano praticamente ainda não nasceu. Para romper com o pensamento linear e com os processos que levam a um conhecimento fragmentado, no final dos anos 1960, Morin incorpora o termo complexidade, já em uso na cibernética e na teoria dos sistemas. Para ele, o todo e as partes são unidades complexas, já que o todo não se reduz à soma das partes. Se as partes se modificam, muda também o todo. O pensamento complexo integra os modos de pensar, opondo-se a mecanismos reducionistas. Tal como o ser humano que é complexo, também o pensamento se apresenta assim com as suas influências sociais, culturais, históricas, económicas, políticas e biológicas.

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Assim, a proposta de Edgar Morin é ligar todas as coisas e salientar as suas relações para que se conheçam as partes simultaneamente com o todo, já que ambos são igualmente importantes. Morin refere que somos seres triplos ou trinitários, dada a inseparabilidade das três naturezas: somos indivíduos, pertencemos à espécie do homo sapiens e somos seres sociais. É neste contexto que se coloca o ser humano integral, ser de sabedoria e de loucura, com as suas possibilidades e limitações. Esta conceção explica o ser humano que concentra em si a ambiguidade e a incerteza, o cérebro e o ambiente, a objetividade e a subjetividade, o real e o imaginário. No homem e na mulher, na criança e no adulto estão presentes a afetividade, a inteligência, o sonho, a alegria, a tristeza, a fantasia, o acerto, o erro, a ubris, entendida aqui como o excesso e o desmedido, todos os aspetos que fazem parte da história humana. Morin incorpora as noções de ordem, desordem e organização, presentes nos sistemas complexos, norteadores da relação dialógica. É que a base da complexidade vem de três teorias que se interrelacionam: a teoria da informação, a cibernética e a teoria dos sistemas surgidas no início da década de 1940. Os impactos só terão efeito a partir dos anos 1960, 1970, 1980.

A teoria da informação é uma teoria científica que se ocupa da análise matemática dos problemas relativos à transmissão de sinais no processo comunicacional. Já a cibernética é a ciência que se ocupa do estudo das comunicações e do sistema de controle dos organismos vivos e das máquinas em geral. Por exemplo, o termostato regula a caldeira num sistema de aquecimento, ocasionando a autonomia térmica local. Esse mecanismo de regulação etá presente em todos os aspetos e setores humanos e sociais. A teoria dos sistemas ao afirmar que o “todo é mais do que a soma das partes”, indica a existência de qualidades emergentes que surgem da organização do todo e que podem retroagir sobre as partes, mas o todo é também menos do que a soma das partes, pois as partes têm qualidades que são inibidas pela organização global. Para Morin, nem o modelo aristotélico que privilegia a forma/ substância, nem o cartesiano que simplifica e decompõe os objetos, constituem princípios de inteligibilidade do sistema, já que este não pode ser apreendido nem como unidade pura ou identidade absoluta nem como composto decomponível. No conceito deste autor, está sempre presente a ideia de rede relacional que exprime simultaneamente unidade, multiplicidade, totalidade, diversidade, organização e complexidade.

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Adérito Barbosa

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– recortes – sobre a bíbliadehonianos 2808 dos conteúdos

Íntima ligação entre a ceia de Jesus e o momento da cruz

As narrativas de i O Novo Testamento apresenta quatro narrações da Última Ceia, em que Jesus institui a Eucaristia; três delas contidas nos Evangelhos chamado Sinóticos (Mc 14,22-25; Lc 22,1520; Mt 26,26-29), e uma outra, em estilo de profissão de fé (como se vê pela introdução: “transmito o que eu mesmo recebi”), na Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios (13,23-26).

Corpo e Sangue do Senhor É no contexto da Paixão do Senhor que este acontecimento toma lugar. O evangelho de Lucas é o único a registar as palavras de Jesus que precedem a entrega do pão e do cálice, e que conferem o sentido da íntima ligação do comer a Páscoa com os futuros padecimentos de Jesus: “Desejei intensamente comer esta Páscoa convosco antes de padecer” (22,15). Em todos os relatos, Jesus faz confluir nos sinais do pão e do cálice com vinho aquilo que virá a ser para nós a Eucaristia: “Isto é o meu corpo… Este é o cálice do meu sangue…”. A conjugação de corpo e sangue, no momento em que está eminente a paixão de Jesus, para mais com os dados da tradição de Lucas que colocam o desejo intenso de Jesus de celebrar a Páscoa com os doze, antes de padecer, deixa clara a interpretação salvífica que decorre da conjugação dos dois momentos. Se Marcos e Mateus apresentam apenas: “isto é o meu corpo”, Lucas, uma vez mais, enriquece esta frase com “dado/entregue por vós” (na linha de 1Cor, que acrescenta somente: “por vós”), reforçando assim a íntima ligação existente entre a ceia de Jesus, no cenáculo, com o momento da cruz que está para chegar. Se, para o corpo, é apenas Lucas e Paulo a dar explicitamente a interpretação sacrificial, o mesmo não acontecerá com o sangue, onde todas as tradições textuais a deixarão explícita, mesmo se não todos com as mesmas palavras, mas sempre na intenção de mostrar que a Ceia de Jesus tem uma interpretação de íntima ligação com o verdadeiro sacrifício da cruz. O melhor comentário que podemos encontrar à interpretação salvífica da morte de Jesus encontra-se também no Novo Testamento, na Carta aos Hebreus, de linha teológica bem paulina, mesmo se de autoria incerta: “[Cristo] entrou uma só vez no Santuário, não com o sangue de carneiros ou de vitelos, mas com o seu próprio sangue, tendo obtido uma redenção eterna” (9,12). No contexto da Carta aos Hebreus, esta frase delineia uma comparação entre os sacrifícios judaicos antigos, incapazes de trazer a redenção/salvação definitiva, e o sacrifício de Cristo, que, de uma vez por todas, inaugura a salvação eterna.

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A últi


e instituição da Eucaristia

A última Ceia – Leonardo da Vinci (1452–1519)

Por vós e por muitos Se bem que com palavras diferentes, está bem clara a referência à aplicação salvífica da Eucaristia. Se nos detemos a pensar no que a preposição grega hyper significa neste contexto, chegaremos facilmente à conclusão que se trata do objetivo de Cristo: a título de exemplo, podemos ensaiar a tradução “a vosso favor” em vez de “por vós”. São Marcos acrescenta-lhe “e por muitos” e são Mateus “para a remissão dos pecados”. Que a Eucaristia é “para remissão dos pecados”, penso se possa depreender do seu carácter sacrificial. Assim como com o sangue das vítimas, touros e cabritos, se pretendia alcançar de Deus o perdão dos pecados, agora é o próprio Cristo que, levantado na cruz, se oferece em sacrifício para a remissão definitiva dos pecados.

Impõe-se ainda uma reflexão sobre o acrescento de Marcos: “e por muitos”. A necessidade do Evangelho de Marcos, de diferenciar entre “vós” (referido aos apóstolos à mesa com ele) e “os muitos”, mostra que o carácter sacrificial da refeição pascal de Jesus, que antecipa a verdadeira Páscoa da cruz, não se confina, nem no tempo nem no espaço, àquelas paredes que os encerram na intimidade do cenáculo de Jerusalém. Tudo nos leva a perguntar-nos: será que eu também estava lá? Penso que uma resposta afirmativa seria uma boa conclusão do início da Páscoa: Jesus deu a vida por mim e continua a dá-la, pelo amor que me tem. Deste modo a contemporaneidade entre a Eucaristia celebrada e a cruz que se renova cada dia tornam-se uma constante na caminha da vida humana. Será caso para perguntar, olhando contemplativamente para cruz: “E eu? Sou parte dos “muitos” por quem Jesus derramou o seu sangue, e que acreditam na libertação que Jesus nos veio trazer?”

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Ricardo Freire

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30– sobre a fé dos conteúdos

O Senhor presente, real e operante

Eucaristia:

o sacramento do amor de Deus, celebrado, acolhido e recebido na Igreja

A eucaristia é por excelência o sacramento pascal, o grande sacramento que celebra e torna presente, para nós, o Mistério da Fé, que em Cristo nos foi revelado, realizado e que é prolongado (com igual eficácia) no seu corpo eclesial, na missão Igreja. Em suma, a eucaristia é, de verdade, o sacramento do amor de Deus.

No Novo Testamento não só aparecem diversas expressões para referir-se à eucaristia, como também existem, entre os diversos autores/escritos, acentuações distintas que no seu conjunto esclarecem e iluminam o mistério eucarístico. No entanto, entre as diferentes sensibilidades e tradições teológico-litúrgicas, encontramos, nitidamente, linhas comuns que podemos resumir nas seguintes: primeiro, estabelece-se uma clara relação entre a vida de Jesus, a sua paixão, morte e ressurreição com aquilo que acontece na designada “ceia de despedida”, isto é, uma relação profunda entre o Cenáculo e o Calvário, entre a imolação de Jesus e a eucaristia. Segundo, para a reflexão teológica a eucaristia é a representação (atualização) da entrega de Jesus, a qual significa vida para o mundo (veja-se o evangelho de S. João), expiação pelos nossos pecados (veja-se os evangelhos sinópticos), a nova e insuperável comunhão entre Deus e o Povo da Nova Aliança (veja-se as perspetivas de S. Lucas e de S. Paulo) e o perdão dos pecados (veja-se o evangelho de S. Mateus).

O Concílio Vaticano II define a liturgia como o exercício da função sacerdotal de Cristo e que cada celebração litúrgica, especialmente a eucarística, é “obra de Cristo sacerdote e do seu Corpo que é a Igreja” (SC 1). Obedecendo ao seu Senhor, a Igreja faz memória do Senhor, celebrando o memorial da sua paixão, morte e ressurreição, ou seja, o seu mistério pascal que, por meio da dinâmica sacramental, se torna presente, real e operante. Assim, a liturgia eucarística é celebração ativa da redenção. A Eucaristia é, então, memorial do sacrifício de Jesus, da sua vida toda entregue e do sangue, violentamente, derramado, por nós e por todos, para remissão dos pecados e como confissão/proclamação da glória do Pai e do seu amor pela humanidade, a qual é chamada à comunhão com Ele, por Jesus, no Espírito Santo. Portanto, na Eucaristia

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que a Igreja celebra, todos os dias, atualizase, no hoje de cada um de nós e na história humana, o sacrifício de Cristo; os prodígios do amor de Deus, realizados em nosso favor, por meio do Filho, constituído Mediador e Senhor e, no qual, Deus como que “abraça” toda a história humana, do princípio ao fim. Nesta re-presentação sacramental a Igreja oferece-se com o seu Senhor, proclama, anuncia e confessa Cristo e o seu Mistério Pascal como o evento salvífico, único e eloquente do amor de Deus e da sua vontade salvadora em relação à humanidade. Por isso, com razão se diz que a Igreja vive de Jesus eucaristia, por Ele é nutrida e por Ele é iluminada (Cf. João Paulo II, Ecclesia de Eucharistia, 1, 3, 5 e 6).

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Dissemos que a celebração do memorial eucarístico não deixa inactivos aqueles que dele tomam parte, pois, pela comunhão sacramental, o cristão participa no mistério pascal de Cristo, que se torna, em certo sentido, também o seu, isto é, compromete-se a viver plenamente, na sua existência concreta, o mistério pascal do seu Senhor, ou seja, passar da morte para a vida. Na verdade, a incorporação em Cristo, realizada pelo Baptismo, renova-se e consolida-se continuamente através da participação no sacrifício eucarístico, sobretudo na sua forma plena que é a comunhão sacramental, intensifica-se a amizade e a inabitação mútua de Cristo e do discípulo e é-nos comunicado o seu Espírito. Dissemos também que, pela celebração eucarística, se anuncia a morte e a ressurreição do Senhor. Por isso, a Eucaristia é alimento para a vida e para a vida eterna. Ou seja, aquele que participa do memorial não precisa de esperar o Além para receber a vida eterna: já a possui na terra, pela comunhão no Sacramento, e recebe também o penhor da ressurreição do corpo, na parusia. Numa palavra, pela comunhão, assimila-se, por assim dizer, o “segredo” da nossa própria ressurreição.

Assim sendo, a celebração do Memorial do Senhor exprime e consolida a comunhão com a Igreja celeste (Cf. João Paulo II, Ecclesia de Eucharistia, 19). Esta tensão escatológica presente na Eucaristia é estímulo para a nossa “peregrinação terrena”, incentiva a esperança e o empenho de cada um na transformação do mundo. Estimula, portanto, o nosso sentido de responsabilidade pela terra presente, mas também o compromisso de transformar a nossa vida pessoal, de tal forma que esta se torne, de certo modo, toda “eucaristia”. Por último, a Eucaristia edifica a Igreja, gera a concórdia e a unidade de Corpo de Cristo, que se nutre e se consolida pela caridade. Na verdade, unindo-se a Cristo, o povo da nova aliança não se fecha em si mesmo; pelo contrário, torna-se “sacramento” para a humanidade, sinal e instrumento da salvação realizada por Cristo, para a redenção de todos. Por isso, a Igreja tira da celebração eucarística e da comunhão do Corpo e Sangue de Cristo a força espiritual de que necessita para levar a cabo a sua missão de evangelização, até que o Senhor venha.

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Nélio Gouveia

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32– reflexo

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Encontro de Superiores Maiores SCJ da Europa

“O Coração de Cristo no futuro da Europa” Reuniram, de 4 a 8 de março, os Superiores Maiores e Delegados das Províncias e outras Entidades Dehonianas da Europa para refletir o tema: “O Coração de Cristo no futuro da Europa”. A Escola Apostólica do Sagrado Coração, em Albino (Bergamo), berço da Congregação em Itália, fundada pelo próprio Padre Dehon, conduzido a este lugar pelo Pe. Ângelo Roncalli, futuro Papa João XXIII, foi o lugar que acolheu os 33 os participantes, com mais dois convidados da província dehoniana dos USA.

mensagem final 1. Os 35 confrades Dehonianos reunidos em Albino (Bergamo, Itália), de 4 a 8 de Março de 2013, em representação das Províncias e Entidades da Europa, saúdam todos os religiosos da Congregação dispersos pelo mundo: Graça e paz de Deus nosso Pai e do Senhor Jesus! 2. Reunimo-nos para refletir sobre a nossa presença na Europa, guiados por duas perguntas: o continente europeu ainda precisa de nós? Que futuro tem a devoção ao Coração de Jesus? Prosseguindo o caminho iniciado em Roma (2008 - 2009), Madeira (2009), Salamanca (2010), Roma (2010), Neustadt (2011), Clairefontaine (2011) e Asten (2012) sobre temas como a formação, a formação inicial e permanente, a pastoral juvenil e vocacional, a secularização e o envelhecimento, fomos solicitados, por um lado, pela oportunidade de aprofundar a nossa espiritualidade e, por outro, a fazê-lo na ocorrência do cinquentenário do Concilio Vaticano II. Por isso, as reflexões sobre a nossa espiritualidade desenvolveram-se em paralelo com a memória dos dois Papas do Concílio: João XXIII e Paulo VI. 3. A reunião decorreu no Ano da Fé, querido por Bento XVI. Conhecemos por experiência direta a gravidade dos problemas na transmissão da fé nas regiões da antiga cristandade e da urgência da Nova Evangelização. Todos os nossos esforços seriam inúteis sem a nossa pertença cordial à Igreja de Cristo. Sabemos também que a força da unificação institucional do continente está hoje em risco, devido aos perigos dos novos nacionalismos e populismos que poderão tornar inválido o caminho querido

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pelos povos e pela Igreja nos últimos sessenta anos. Parece-nos urgente cumprir a sugestão de J. Delors: Dar uma alma à Europa. 4. Neste contexto advertimos a oportunidade e a necessidade de reforçar os nossos laços. Como já fizeram os Dehonianos na América Latina, na Ásia e na África, verificamos que o futuro exige de nós uma colaboração maior e uma ligação sistemática. Não podemos continuar a atuar como se não tivéssemos uma identidade Dehoniana europeia, como se não tivéssemos a responsabilidade de manter vivo no nosso continente o carisma e o património espiritual que o Padre Dehon nos transmitiu. A exigência que nos diz respeito não se limita às obras e às iniciativas pastorais, mas atinge a pertinência e o significado da nossa espiritualidade, hoje. Nas nossas realidades locais as modalidades com que se vive a devoção ao Coração de Jesus e as tradições dehonianas são muito diferentes. Mas também é verdade que alguns desafios são para todos.

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5. Não fugimos ao esforço de nos questionarmos sobre o núcleo espiritual mais profundo da nossa experiência religiosa: a espiritualidade e a devoção ao Coração de Jesus. Estamos conscientes de que, sobretudo no Ocidente, elas foram radicalmente postas em questão. Graças às conferências e aos debates destes dias parece-nos poder afirmar que as nossas Igrejas e os nossos povos continuam a precisar delas. Se a devoção é o conjunto de formas antropológicas por meio das quais se realiza a integração recíproca da fé e das obras, da teologia e da moral, e se a espiritualidade é o dom de viver em referência ao Coração do Salvador como interpretação global do mistério cristão, acreditamos poder reconhecer-nos uma missão: contribuir para a reconfiguração do cristianismo na Europa contemporânea. A nossa espiritualidade que não tem um proprium de obras específicas plasma-se à volta da capacidade de adaptação antropológica de Deus (a humanidade do Filho), que permita a Deus ser Deus também num ambiente, como o europeu, que afirma, não sem excessos e limites, a autonomia do humano. Como se dizia em Clairefontaine a laicidade pode ser um ambiente favorável para o anúncio evangélico. 6. Ajudou-nos muito a devoção do Papa João XXIII. Nascida em contexto popular, aperfeiçoada no percurso formativo, ela passou das muitas devoções à devoção que alimentou a dimensão litúrgica, a redescoberta da Sagrada Escritura e a ação pastoral. A teologia estética de Paulo VI mostrou-nos como as artes têm sempre uma força especial na identificação dos traços caraterísticos do nosso tempo e na denúncia dos seus limites. O fim da evidência sociológica e cultural de Deus vê como urgente a aliança entre o sacerdote e o artista, entre a afirmação de Deus e o desejo de transcendência. 7. Não chegámos a compreender toda a profundidade teológica e espiritual do património Dehoniano. Para além das expressões ligadas ao tempo e à vida da Igreja no século XIX, a experiência espiritual de Deus, que carateriza a vivência Dehoniana mostra que a humanidade do Filho é quanto nos basta para repropor a

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fé. Pela devoção e pela espiritualidade sabemos que não podemos limitar a teologia ao aspeto intelectual e que devemos realçar a dimensão afetiva e sensível do acreditar. Recordámos as muitas experiências tradicionais da devoção ao Coração de Jesus. Reconhecemos a oportunidade de confirmar e aprofundar algumas. De modo particular, a opção por viver a espiritualidade oblativa em comunidade, a adoração como assimilação e prolongamento da dimensão eucarística, a lectio divina e o contacto frequente com a Sagrada Escritura, a urgência de encontrar novas linguagens e novas práticas para dizer uma fé que se alimenta no Lado aberto e no Coração trespassado de Jesus.

8. Na devoção ao Coração de Jesus e na espiritualidade encontramos o sentido do mistério e o sentido da história. O empenhamento social nasce, não como simples consequência da teologia ou da espiritualidade, mas manifesta o modo de habitar o mundo, o estilo específico de vida que fez de Dehon um dos primeiros a advertir o poder da revolução moderna e dos seus desenvolvimentos. Foi este empenhamento em favor das novas pobrezas na Europa que procurámos ler e analisar nos debates em grupos e na assembleia. As palavras mais caras à nossa tradição são expressões orantes que Dehon recolheu do próprio Jesus em oração. Adveniat Regnum Tuum é a pregação fundamental de Jesus, aquele espaço de vida que se abre como dom gratuito na invocação. O Sint Unum é a exortação à concórdia e a advertência contra a divisão, portanto a dimensão relacional, mas é também invisível comunhão trinitária que habita a ferialidade quotidiana. O Fiat e o Ecce Venio mostram como Jesus realizava toda a vontade santa de Deus. Ao pronunciar aquelas orações colocamo-nos da parte do Pai a quem unicamente pertence prometer ao mundo a salvação. Por isso, tornam-se fonte de confiança inesgotável. 9. A oração litúrgica, a adoração e a eucaristia acompanharam os nossos passos e os que as nossas Províncias e Entidades serão chamadas a dar no futuro.

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34– outro ângulo do mundo

Postulantes: aqueles que “batem à porta”, pedindo para serem admitidos à Congregação.

Novos postulantes dehonianos No passado dia 14 de Março, toda a Congregação dos Sacerdotes do Coração de Jesus esteve em festa pelo importante 170º aniversário do nascimento do Padre Dehon, Fundador da Congregação. A Província Portuguesa teve motivos redobrados de festa pela admissão de três jovens (António, Filipe e Ricardo) ao Postulantado. Tornaram-se, portanto, candidatos à Congregação dos Sacerdotes do Coração de Jesus. A celebração, presidida pelo Superior Provincial, Pe. Zeferino Policarpo, teve lugar no Seminário Missionário Padre Dehon, pelas 19h00. Neste dia tão especial para os Dehonianos, reuniram-se os confrades das comunidades do centro e norte de Portugal, os seminaristas, os familiares e amigos para testemunhar este pequeno-grande passo que estes jovens se dispuseram a realizar. Esta reunião, faz com que a alegria não seja apenas destes três novos postulantes, mas de toda a comunidade que se alegra com esta aproximação progressiva a Deus, e à espiritualidade dehoniana. Os postulantes afirmam que têm “sempre em conta que muito há a conhecer e que não aprenderão tudo nesta etapa, trata-se de um processo, de uma caminhada, de uma vida”. Este dia festivo prolongou-se e terminou com um jantar, bom bolo, discursos, e lembranças, em clima de animação e de fraterno convívio entre todos os presentes. Parabéns ao António, ao Filipe, ao Ricardo e aos Dehonianos! Que o Senhor os ajude como nos tem ajudado a nós e lhes conceda as graças que mais necessitam para viverem com generosidade este SIM que acabam de dar.

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António Silva

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do mundo

nuances musicais – A moda das danças de rua e a dança como verdadeira arte

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Danças e coreografias Desde os tempos mais remotos a dança esteve sempre associada à música. Era usada desde a antiguidade em rituais religiosos e pagãos, acompanhada com instrumentos ou apenas com melodias vocais. A dança deu sempre um complemento agradável a quase todos os tipos de música, sendo que, quase nunca fica mal associar uma dança a uma peça musical desde que seja bem executada. Pode ser um ato solista, mas também uma coreografia conjunta criando efeitos, dos mais simples até os mais espetaculares. Na atualidade destacam-se as danças de salão, danças clássicas e o Hip-Hop como expoentes máximos onde a perícia e a ginástica se conjugam formando espetáculos exuberantes. Todavia, ao longo dos tempos, a expansão da dança e coreografia foi ganhando contornos que se transformaram até em motivo de intervenção. A indústria cinematográfica explorou a dança com filmes que ficaram imortalizados através desta arte, nomeadamente Dirty Dancing, Flash Dance e mais recentemente o Cisne Negro. Seguindo uma tendência dos anos 70 existe hoje em dia uma oferta enorme de coreografias através de vídeo clips de música. Destacou-se nesta arte Michael Jackson, que ainda hoje é uma referência para muitos dançarinos, as boys band dos anos 90 que exploravam ao máximos os elementos dançarinos, deixando à vista alguns handicaps na parte musical. Seguindo a ideia de coreografias na atualidade surgiu há pouco tempo uma coreografia peculiar no tema Gangnam Style de um cantor sul-coreano. Sem ser uma coreografia espetacular é divertida e relativamente fácil, muito boa para animação de bailes e discotecas. Na senda de intervenção e de danças de rua há a destacar os Flash mobs, que são danças em locais públicos muito movimentados como metros e aeroportos. São programadas, mas com o objetivo de dar a ideia que é improviso, em que começa uma ou duas pessoas a dançar e que passados minutos já estão centenas envolvidas. Estes momentos proporcionam uma lufada de ar fresco em locais reina um stress e a falta de convívio. No entanto nesta “moda” de dança de rua e locais públicos, nem sempre a qualidade é a melhor e surgem extremos incompreensíveis de aberrações sem lógica nenhuma. Estou a referir-me ao viral Harlem Shake que, por mais que tente, não consigo associar alguma qualidade artística, nem mesmo escondida em surrealismo que abranja a parte social.

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Florentino Franco

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36– novos mundos do mundo

A realidade aumentada avança...

Googl e G l a s s Não sei se te lembras, mas há algumas edições atrás falei-te nestes óculos de visão aumentada… Era apenas um projeto, que se previa para um futuro próximo. Bem, parece que esse tempo já chegou, e, portanto trago-te mais novidades acerca do produto.

Esta é uma das novidades tecnológicas mais aguardadas do ano e vai estar disponível no mercado nos próximos meses por 1500 dólares (cerca de 1150 euros). O Google Glass está mais avançado do que seria de esperar, mas ainda faltam alguns ajustes para que possa ser colocado à venda ao público. O anúncio foi feito por Sergey Brin, cofundador do Google, que fez uma aparição surpresa na conferência TED, em Long Beach, na Califórnia. «Estamos a disponibilizá-los apenas para médicos, mas estará amplamente disponível no final deste ano por 1500 dólares», disse no palco. «Os smartphones são castradores. Deixa-nos de pé a massajar um pedaço de vidro», gracejou. Chris Anderson, organizador do TED, perguntou a Brin se os óculos não vão ser uma distração durante as conversas. «Temos de refinar o software, porque em algumas situações tem sido uma distração. Atualmente, quando chega uma mensagem importante é preciso fisicamente olhar para cima para vê-la», revelou. A apresentação começou com um vídeo em que mostrou imagens captadas com os óculos, desde pessoas a fazer desporto, até acrobacias ou a andar numa montanha russa. No final começou a falar para os óculos como se estivesse a consultar emails. (já que estás a ler um artigo na secção Novos Mundos, deixo-te o código QR para visualizares o vídeo referido em cima. Só precisas de ter a aplicação NeoReader, ou outra, no teu smarthphone e apontá-la para esta imagem:

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André Teixeira

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do mundo

minha rede –

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Desde que Bell possibilitou a comunicação telefónica não se passou muito mais que um século

Mensageiros na rede Tenho a absoluta certeza de que se Jesus Cristo estivesse entre nós em “carne e osso”, passe a expressão, seria um adepto das tecnologias, em especial da utilização dos “mensageiros” disponibilizados online. Isso possibilitar-lhe-ia chegar muito mais rapidamente a todos.

Uma das principais vantagens da Internet, talvez a primordial razão para o sucesso garantido da vida cibernética, é a comunicação tornada possível através da realização instantânea de conversas entre dois interlocutores em partes distintas de uma região, de um país, de um continente. À distância de um clique, hoje é possível colocarmo-nos, em “tempo real”, em correspondência textual, sonora ou de imagética. Tudo isto foi possível graças ao desenvolvimento de tecnologias com as quais Alexander Graham Bell nem sonhava. Parece muito tempo, mas na realidade desde que Bell possibilitou a comunicação telefónica não se passou muito mais que um século, um pequeno grão de areia na evolução milenar do ser humano. Muitos de vós sóis capazes de se lembrar das mensagens enviadas através do mIRC, de resto ainda possível de utilizar (http://www.mirc.com/), com o qual se pode conversar ou conferenciar de uma forma, considerada agora, como mais primitiva. Surgiram então os atuais “messengers” que proporcionam o envio de mensagens em texto, a troca de imagens, vídeos e ficheiros de índole diversas. Com certeza, os mais e menos jovens, habituados à nova realidade, não trocariam a forma atual pelas anteriores, pois também possibilita a visualização através da comunicação em vídeo em tempo real. Ainda bem, direi eu. Através do Facebook (https://www.facebook. com/), do Yahoo (http://www.yahoo.com/), do

MSN (http://www.skype. com/pt/), do Google (https://www.google.com/), para apenas referenciar alguns mais usuais, podemos ligar-nos ao mundo independentemente de onde estivermos. A desvantagem é que teremos de deter uma conta em cada um destes serviços conforme o interlocutor, para usufruirmos do serviço de “Messenger”. Recentemente, devido à concorrência, cada um destes serviços começa a possibilitar o acesso ao seu espaço com o login da concorrência. Aqueles que gostam da portabilidade e independência, em relação aos serviços disponibilizados, podem recorrer a serviços de mensagens através da ligação (login) em espaços que possibilitam o acesso com uma conta de um dos serviços antes referenciados, sem aceder ao software ou rede online de “marca”. Alguns dos Instant Messengers são: http://www.ebuddy.com/, http://www.iloveim. com/, http://www.iwantim.com/, http://www.instan-t.com/, https://plus.im/.

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Victor Vieira

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38– jd-Madeira da juventude

Retiro de Compromissos no Colégio Missionário

d + r e S

n o eh

o n ia

No dia 17 de março a JD Madeira, realizou no Colégio Missionário, o retiro de compromissos com o tema “Ser + dehoniano”. Um grupo composto por cinco jovens (poucos mas bons) abdicou de um domingo em família para retirar-se e, conhecer melhor o percurso de vida e exemplo de fé deixado pelo Padre Dehon.

O dia começou com o acolhimento às 10 horas, seguindo-se a habitual oração da manhã. A restante manhã foi reservada para conhecer mais ao pormenor a vida de Leão Dehon, a sua experiencia de fé focalizada no Coração de Jesus e, todo seu legado. Depois de retemperadas as energias com as iguarias do almoço, houve ainda tempo para explorar os recantos mais altos da casa e suas vistas, conviver com os animais, de descobrir “tesourinhos deprimentes” pendurados na parede e, de pôr à prova os conhecimentos sobre o Padre Dehon com o jogo “Quem quer ser Dehoniano”. Posteriormente abordou-se a espiritualidade do Coração de Jesus e os cinco valores dehonianos; a Interioridade, a Disponibilidade, a Solidariedade, a Comunhão Eclesial e o Sentido de Missão. Ao longo da tarde a imagem do Coração trespassado de onde brotou sangue e água, fez-nos refletir no ato de entrega total de Jesus por nós na cruz e, no dever que nós temos em não ser jovens indiferentes, dando-nos um pouco mais todos os dias, levando Cristo ao coração do mundo e trazendo o mundo ao Coração de Cristo.

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Por fim viveu-se o momento mais importante do dia, a celebração da Eucaristia em redor do altar. Foi um momento verdadeiramente intimista com Deus, onde a Sua Palavra ressoou mais alto no meu coração e, onde senti a Sua Graça pousar sobre mim através daquelas palavras de compromisso que proferi conjuntamente com a Maurília e a Catarina. É com grande emoção que diante do altar assumo as atitudes dehonianas e, oficialmente passo a pertencer a esta grande família que me orientou no caminho da fé!

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Andreia Vasconcelos

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40– jd-Açores da juventude

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Iremos levar uma refeição quente aos Romeiros e partilhar a sua experiência

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us a l em

O grupo de jovens “VÉRITAS” participou no lausperene que foi no fim-de-semana de 23 e 24 de Fevereiro na paróquia do Livramento. Tivemos a nosso cargo uma hora de adoração no sábado. Foi uma hora que passou rapidamente, pois tudo que é bom tem esta tendência. Na nossa oração falámos essencialmente da solidariedade e de como os jovens cada vez mais devem ser solidários, não só quando são chamados a isso com atividades como a “Caritas” ou outra a que a comunidade os chame. Mas sempre em toda a sua vida e com sentimentos, puros e genuínos. Também na semana em que vão sair os Romeiros da nossa freguesia o grupo irá um dia ter com eles e levar-lhes uma refeição quente e partilharmos um bocadinho com eles a sua experiência.

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Teresa Machado

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do mundo

jd-Açores – Somos nós, cristãos, as mãos, os pés, a boca e o coração de Jesus

“Soldados de Cristo” em adoração No domingo, dia 24 de Fevereiro, os jovens do grupo “Soldados de Cristo” fizeram o seu momento de adoração ao Santíssimo. A nossa igreja estava linda e perfumada, onde instantaneamente nos sentimos bem e felizes por estarmos presentes na casa do Pai. Posso afirmar que foi um bonito momento que partilhámos com alguns membros da comunidade que estavam presentes, em que abrimos os nossos corações, deixando-nos iluminar pelo Espírito Santo! Rezámos, cantámos e refletimos nalgumas leituras. Uma das leituras dizia-nos que devemos “Orar sempre, sem desfalecer” (Lc 18,1). Nós cristãos às vezes esquecemo-nos de como rezar é importante. Esquecemos que é através da oração abrimos as portas à graça, somos movidos pelo Espírito Santo, como também rejeitamos o mal e a tentação. Rezemos assim por nós, pelos que nos são próximos e pelos que não são, pelos que sofrem, pelos que não creem, pelos bons e pelos maus, vivos e defuntos. Rezar é a maneira de nos encontrarmos em comunhão com Deus. Cristo não tem mãos, não tem pés, não tem olhos, não tem boca, não tem coração! Somos todos nós, cristãos, as mãos, os pés, os olhos, a boca e o coração de Jesus! Somos nós, que de alguma maneira chegamos aos outros, por meio de boas ações, oferecendo ajuda, carinho, afeto, uma palavra amiga, um conselho, mas isto acontece apenas se abrirmos o nosso coração ao Pai! E foi assim que, no final do nosso momento de adoração, pedimos à comunidade presente que partilhasse de que forma podiam ser as mãos, ou os pés, ou os olhos, ou a boca ou o coração de Jesus. Através de palavras ou pequenas frases, cada pessoa partilhou o que lhe ia no coração! Que o Senhor ouça as nossas orações e nos ajude a ser melhores pessoas, seguindo sempre o Seu caminho!

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Alexandra Machado

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42– jd-Lisboa do mundo

Caminh

Festival da canção em Alfragide

o s s a p a o ando pass “Acreditar mais”. É o tema que este ano inspirou o Festival Regional da Juventude Dehoniana. No dia 10 de Março de 2013, pelas 15 horas no Seminário de Nossa Senhora de Fátima em Alfragide, os jovens e as comunidades juntaram-se para celebrar a fé e a música.

Após a brilhante apresentação de Tiago Esteves e Inês Santos, o Festival contou com a participação de seis grupos, nomeadamente, Carnaxide, Outurela, Buraca, Rio de Mouro, Boavista e Queijas. Iniciando a sua actuação com um vídeo de identificação, cada grupo procedia com a canção que tinha composto, e interpretava-a. No decorrer de cada actuação, o júri, possuidor de grandes conhecimentos musicais, dava início a sua avaliação individual que, no final de todas as performances, se reunia para debater as pontuações que atribuiriam a cada um dos grupos.

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da juventude

jd-Porto – Retiro de Advento da JD- Madeira na Eira do Mourão

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Depois de uma incessante calorosa/suada espera, foram anunciados os três grupos aprovados para o Festival Nacional da Juventude Dehoniana: Buraca, Outurela e Boavista, sendo esta última a música vencedora e também a qualificada para o Festival Diocesano da Canção que se realizará em Fátima. “Como grupo foi uma experiência extremamente gratificante, de onde retirámos com emoção para a nossa vida cristã que partilhamos entusiasticamente com os restantes grupos. Apesar de simples, a canção que compusemos conseguiu provar que o mais importante é a mensagem e todo o esforço e dedicação que lhe podemos prestar. Contentes por esta valorização, continuaremos a alimentar a nossa fé, caminhando passo-a-passo.”

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Filipa Silva

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44– jd-Porto da juventude

é f o t r o + P D o m issos na J

Da experiência de Fé de um Povo, à Centralidade de Jesus Cristo na nossa vida

cQuaresma e Comprom

eR tiro de

No dia 10 de março a Juventude Dehoniana voltou a reunir-se, desta vez para um “Retiro da Quaresma e de Compromissos”. O encontro teve lugar no Seminário Padre Dehon, em que o tema principal do encontro era a Fé, sendo este o tema central deste ano.

O retiro começou por volta das 10h30, com uma pequena oração, para louvar o Senhor e pedir que nos ajudasse e nos guiasse durante todo o dia. Demos início ao nosso encontro, com o P.e Garrido a orientar-nos e começámos por abordar a fé segundo o Antigo Testamento, onde vários povos se centravam essencialmente na figura de Deus! Observámos duas figuras bastante conhecidas, Abraão e Moisés, e vimos que estas figuras apesar de distintas tinham algo em comum: uma enorme confiança em Deus! No seguimento desta reflexão, foram-nos dadas duas orações retiradas do “Livro dos Salmos” e foi-nos proposto refletir sobre cada uma delas e cada um à sua maneira e escrever uma pequena oração dirigida a Deus. Como seria de esperar foram redigidas orações lindíssimas em que cada um conseguiu expressar exatamente aquilo que sentia!

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Sem adiar mais, pois algumas barrigas já estavam a “dar horas”, fomos almoçar, mas este não foi um simples almoço, pois tínhamos uma aniversariante no grupo e aproveitámos para fazer da refeição uma pequena festa. Depois de tudo recomposto, voltámos para a sala, e desta vez fizemos uma breve análise sobre o Novo Testamento, onde a personagem central é Jesus Cristo. Mas como o tempo era escasso e já não tardava para a celebração da Eucaristia, dividimo-nos em grupos e começámos a prepará-la. Foi nesta celebração que alguns dos jovens presentes no encontro fizemos o compromisso na Juventude Dehoniana, enquanto outros que já o tinham feito em anos anteriores o renovaram e testemunharam os nossos compromissos. Foi um dia muito enriquecedor para todos os jovens, pois fez-nos olhar para dentro de nós mesmos e pensarmos no que realmente é importante nas nossas vidas, e sem dúvida que Deus está no centro delas. Deus propõe-nos vários caminhos, basta escolher um e ter fé porque Ele estará sempre connosco.

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Alda Barros

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46– agenda

da juventude

JD-Açores

JD-Porto

Abril

Abril

12-14 − XVI Encontro Nacional JD.

Junho

09 − Compromisso da JD Açores.

04 − AdOração no Centro Dehoniano. 07 − Dia Solidário – Lar Pinheiro Manso. 12-14 − XVI Encontro Nacional JD. 27-28 − Caminho de Santa Rita.

Maio

JD-Lisboa Abril

12-14 − XVI Encontro Nacional JD.

02 − AdOração no Centro Dehoniano. 05 − Dia Solidário – Lar Pinheiro Manso. 26 − CFA - Fé e Psicologia.

Maio

04-05 − Fátima Jovem 18 − Mulheres de Fé.

JD-Madeira Abril

12-14 − XVI Encontro Nacional JD.

2013 é ano de Festival de Música!

Junho

17 − Oração de Taizé no Colégio Missionário.

atenção às INSCRIÇÕES Informa-te no teu Centro: (Açores, Algarve, Lisboa, Madeira e Porto)

DEHUMOR

“A vitória será de quem agir mais.”

JÁ LESTE ALGUMA ENCÍCLICA DO NOVO PAPA? O PAPA FRANCISCO JÁ ESCREVEU ALGUMA?

(Padre Dehon)

SIM... EM LIGUAGEM GESTUAL

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Paulo Vieira

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tempo livre

passatempos –

tem piada

curiosidades

até que enfim!

enjoo de viagem

O diretor da penitenciária reúne os presos no pátio e fala ao megafone: — Atenção, vamos fazer uma faxina para limpar esta prisão, porque amanhã o governador vem aí. No meio do pátio, um dos presos comenta: — Até que enfim que o apanharam!

Certamente já se sentiu mal ao viajar de carro, autocarro, barco e de avião. Pois bem, essa condição é conhecida como “enjoo de movimento” e não afeta apenas crianças. Existe uma série de fatores que perturbam o nosso sistema de equilíbrio interno, causando a ânsia. No nosso corpo usamos simultaneamente olhos, ouvidos e pés assim nos dando localização e o movimento através do espaço se não há junção dessas inicia-se um conflito interior. Resumindo: se os olhos estão a ler algo no carro, então eles acham que ainda está parado, mas o barulho e movimento do carro dizem a seus ouvidos que está a mover-se. Isso gera um conflito. Fica a dica:

prova impossível Um milionário organizou uma grande festa na sua mansão. A dada altura, dirige-se aos convidados e diz: — Vamos fazer um jogo! Eu mandei encher a piscina de crocodilos, piranhas, cobras-d’água, etc... e, quem conseguir atravessá-la a nado e chegar intacto terá direito a escolher um destes três prémios: um terreno ao pé da minha mansão, um milhão de euros em dinheiro ou a mão da minha filha em casamento. Mal o milionário acaba de falar, um indivíduo começa a nadar com uma velocidade incrível e consegue atravessar a piscina chegando são e salvo. O milionário dirige-se a ele e pergunta: — Então, qual dos prémios é que você quer? — Quero é saber quem foi que me empurrou!

–> Evite lugares irregulares. –> Refeições pesadas antes da viagem.

no sítio errado à hora errada

Num saloon, dois cowboys comem a uma mesa. Diz um para o outro: — Estás a ver aquele tipo lá em baixo ao balcão? — Qual? Estão lá uns oito. — O que está a beber uísque! — Estão todos a beber uísque! — O que tem uma camisa aos quadrados. — Todos vestem camisa aos quadrados. — Espera! Puxa por dois revólveres e mata sete dos clientes. Só um fica de pé. — Aquele! — diz o cowboy. — Odeio aquele gajo!

beijo extraordiário Na escuridão: — Ai, Mário! Nunca me beijaste desta maneira. Será porque esta noite não há luar? — Não. Não é. É que eu não sou o Mário.

um minuto — Sim, estou. Aqui aeroporto de Orly. Diga. — Quanto tempo se demora de Paris a Nice, por favor. — Um minuto, cavalheiro... — Muito obrigado, minha senhora.

quebra-cabeças dispor soldados Tem 10 soldados. Forme 5 filas com 4 soldados em cada uma. Ajuda: não estão em formatura.

Solução de março Tu tinhas x e agora tens y. Eu tinha y e agora tenho 2x. Portanto temos que: Y-x = 2x-y 2y=3x

X=(2/3)*y A senhora tem 40 anos.

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Paulo Cruz

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