A Folha dos Valentes

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Julho-Agosto 2013 ANO XXXVII

PUBLICAÇÃO MENSAL DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

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05. MISSÃO @dgentes - Ide e anunciai! 12. MISSÕES dehonianas portuguesas 16. Com Dehon, FIRMES NA FÉ 20. FOME de cultura 22. Padre JOSÉ GIL nas mãos de Deus 26. Padre Ciscato: 50 ANOS -

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38. Padre Bernardino: ORDEM DE MÉRITO 39. Uma dose de FÉRIAS! 44. FÉRIAS MISSIONÁRIAS à vista! -

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alen es sumário: 426

Julho-Agosto 2013 ANO XXXVII

PUBLICAÇÃO MENSAL DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

FICHA TÉCNICA Diretor: Paulo Vieira Administrador: Ricardo Freire Secretária: Margarida Rocha Redação: Magda Silva, Marco Costa, Romy Ferreira. Correspondentes: Maria do Espírito Santo (Açores), Amândio Rocha (Angola), André Teixeira e Maurília Araújo (Madeira), Joaquim António (Madagáscar), Tiago Esteves (Lisboa). Colaboradores: Adérito Barbosa, Alícia Teixeira, André Teixeira, António Augusto, Fátima Pires, Feliciano Garcês, Fernando Ribeiro, Florentino Franco, Francisco Costa, J. Costa Jorge, João Chaves, José Agostinho Sousa, José Armando Silva, José Eduardo Franco, Juan Noite, Jorge Robalinho, Manuel Barbosa, Manuel Mendes, Nélio Gouveia, Olinda Silva, Paulo Cruz, Paulo Rocha, Rosário Lapa, Victor Vieira. Colaboradores nesta Edição: Catarina Pereira, Emília Meireles, Zeferino Polocarpo, Filipa Freire, António Lopes (MissãoPress), Luís Bisarro. Fotografia: AFV, Rita Resende, Sofia Rodrigues, Inês Pinto. Capa: Jovens em S. Félix, Póvoa de Varzim. Grafismo e Composição: PFV. Impressão: Lusoimpress S. A. - Rua Venceslau Ramos, 28 4430-929 AVINTES * Tel.: 227 877 320 – Fax: 227 877 329 ISSN – 0873-8939

da atualidade

03 > alerta! > Obrigado e até sempre! 04 > sal da terra > Regresso às origens 05 > poesia > A vós, meus avós! 06 > atualidade > Missão @dgentes - Ide e anunciai! 07 > atualidade > Ciscato - biblioteca pouco académica

da família dehoniana

08 > recortes dehonianos > Notícias SCJ 09 > entre nós > No horizonte da Fé 10 > com Dehon > A viagem - peregrinação ao Oriente 12 > memórias > Empenhamento Missionário SCJ português 16 > comunidades > Com Dehon, firmes na Fé dos conteúdos

18 > vinde e vereis > “Lancei a mão à pena” 19 > onde moras > Com o amor do Bom Pastor 20 > doses de saber > Fome de cultura... 22 > pedras vivas > Padre José Gil, nas mãos de Deus 24 > palavra de vida > De passagem 26 > leituras > À conversa com Elia Ciscato 28 > sobre a bíblia > O Dom do Espírito nos Atos dos Apóstolos 30 > sobre a fé > A Confirmação, maturidade e aperfeiçoamento 32 > reflexo > JMJ e evangelização

Depósito Legal – 1928/82 Tiragem – 3200 exemplares Redacção e Administração: Centro Dehoniano Associação de Imprensa de I nspiração Cristã Av. da Boavista, 2423 4100-135 PORTO – PORTUGAL Telefone: 226 174 765 - E-mail: valentes@dehonianos.org Proprietário e Editor: Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos) * Rua Cidade de Tete, 10 - 1800-129 LISBOA Telefone: 218 540 900 - Contribuinte: 500 224 218 isenta de registo na ERC ao abrigo do decreto regulamentar 8/99 de 9/6, artigo 12º, nº 1 a

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do mundo

34 > outro ângulo > “A mãe é mãe...?” 35 > nuances musicais > Pirataria musical 36 > novos mundos > Transmissão wireless estonteante 37 > minha rede > Sítios personalizados 38 > pessoas > Padre Bernardino: Oficial da Ordem de Mérito do bem-estar

39 > dentro de ti > Uma dose de férias, por favor!

da juventude

40 > reportagem > Nos EUA, com os Índios Sioux 42 > jd-Açores > Tempero e claridade 44 > jd-Porto > A Fé move montanhas: FM à vista! 46 > agenda-JD > Calendário de atividades 47 > tempo livre > Passatempos 48 > atenção > Novidades

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da atualidade

alerta! –

Obrigado e até sempre Dirijo-me a vós, amigos leitores de A Folha dos Valentes, pela última vez como diretor. Cheguei ao Porto, ao Centro Dehoniano, em setembro de 2006, para trabalhar com a juventude e comecei a colaborar nesta nossa publicação. Em agosto de 2009, quando o P.e Zeferino foi nomeado Superior Provincial, assumi a direção e estreitei laços com Secretariado, com colaboradores, com articulistas e com muitos leitores. Sendo este ano 2013 “ano de mudanças” entre nós, cabe-me deixar o Centro Dehoniano, o Porto e responder sim a uma nova missão, desta vez no Centro Missionário, em São Miguel, nos Açores.

O P.e Juan Noite, o novo Diretor de A Folha do Valentes, a partir de Agosto.

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03

Aquilo que dá sentido e alimenta a nossa vida é a fé, é a espiritualidade, é o compromisso, é a missão, mas são sobretudo as pessoas, e acredito que a nossa vida e a nossa felicidade é feita de pessoas, ou seja: tem rostos e nomes concretos. Por isso agradeço a cada um de vós tudo o que de vós recebi em colaboração e generosidade. A dedicação tantas vezes realizada com um esforço enorme da parte dos articulistas “residentes” ou eventuais; da parte dos elementos do Secretariado e de todos os colaboradores, incluindo amigos da gráfica e dos correios… Agradeço também as palavras normalmente amáveis de muitos leitores, mas também as suas pertinentes observações e “correções”… Bem-haja a todos! Gomo gesto de gratidão especial para com os articulistas, com a respetiva permissão, fiz questão de publicar nesta edição os seus rostos junto da assinatura dos seus artigos. Na direção de A Folha dos Valentes entra agora o P.e Juan Noite, a quem auguramos todos um bom trabalho, para o crescimento e aperfeiçoamento da missão da nossa revista. Com o desejo de que continuemos unidos no Coração de Jesus, dando o melhor de nós mesmos em prol do Seu Reino, despeço-me de todos vós com um grande OBRIGADO e até sempre!

A Equipa do Secretariado AFV que até agora pensou e elaborou a nossa revista. Da esquerda para a direira: Marco Costa, Magda Silva , Margarida Rocha, Romy Ferreira e P.e Paulo Vieira.

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Paulo Vieira

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04– sal da terra da atualidade

As festas populares podem ser geradoras de esperança

Regresso às origens Começam cedo as propostas de agências de viagens a pensar nas férias dos outros. Destinos novos, campanhas para os mais frequentes e feiras para aqueles que são incentivados por promotores interessados são vendidos em grandes certames e aos balcões de muitas lojas. E com tempo se fazem reservas que implicam quantias avultadas, reféns da procura de felicidades, do gozo sempre acima de fasquias de anos anteriores… O que significa esta procura sôfrega? Uma fuga? A procurar, em muitos pontos de chegada, em muitos destinos, do que só se pode encontrar à partida? Talvez… Acredito que “fazer férias”, na perceção que adquire muitos cidadãos (porque outros tantos, infelizmente, nem sequer podem viver esse direito!), é um objetivo que se absolutiza de tal forma que se confundir com o fim, com o sentido para a vida dos restantes dias do ano. Detenho-me nessa afirmação: procura-se no destino aquilo que se pode encontrar à partida, no interior de cada um, no regresso às origens! Durante as férias, o movimento do regresso às origens, não em sentido simbólico mas no físico, geográfico, pode ser uma grande estratégia para que as férias cumpram com o seu objetivo: dar descanso, dar sentido para compromissos laborais. E será também uma forma de solidariedade para com aqueles, amigos ou familiares, que não têm férias porque não têm trabalho. Urge, assim, encontrar-se com as pessoas e as coisas que ajudaram a definir personalidades, a descobrir gostos, a assumir um projeto de vida. Porque esse não é um processo do passado, já acabado. Ele permanece em construção, em cada tempo. E essa memória tem de ser passada às novas gerações.

Programar férias ganha assim um horizonte que se deve radicar nas raízes de cada pessoa, de cada família. Não adiante procurar destinos idílicos na perspetiva de que aí se encontre tudo o que um ano de trabalho não ofereceu. Há sobretudo que voltar atenções aos fundamentos, às relações entre pessoas, ao que dá sentido. Assim, mais do que procurar feiras longínquas, promova-se o regresso às origens. A crise até pode ajudar…

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Paulo Rocha

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da atualidade

cantinho poético –

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Para vós...

os meus avós!

Dos avós falo agora esses poços de sabedoria como rios curvados de outrora com o peso do dia a dia... Falo da sua história e das histórias de vida do carinho que deixaram. Das aulas da avó Olívia... e dos caramelos que oferecia! dos beijos do avô Armando... e um tostão de vez em quando! as conversas no café... com o avô Manuel! da voz sempre calorosa... da avó Gracinda! São o suporte, a raiz duma família, ficam para além da sorte em dias de melancolia...

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Jorge Robalinho

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06– atualidade da atualidade

Jornadas Missionárias e Jornadas da Pastoral Juvenil em conjunto

Artigo MISSÃOPRES

Missão @dgentes – Ide e anunciai! Missão @dgentes – Ide e anunciai! é o tema das próximas Jornadas Missionárias que terão lugar no Centro Paulo VI em Fátima nos dias 20 a 22 de Setembro. A grande novidade deste ano é que as Jornadas se realizam em conjunto com as Jornadas da Pastoral Juvenil. Esta feliz coincidência é impregnada das palavras do Papa Francisco: “Queridos jovens, imagino-vos fazendo festa ao redor de Jesus… imagino-vos gritando o seu nome e expressando a vossa alegria por estardes com Ele! Vós tendes uma parte importante na festa da fé! Vós trazei-nos a alegria da fé e dizeis-nos que devemos viver a fé com um coração jovem, sempre: um coração jovem, mesmo aos setenta, oitenta anos! Coração Jovem! Com Cristo, o coração nunca envelhece”. Nestas Jornadas missionárias, queremos refrescar o nosso coração. Viver esses dias de modo diferente. Para isso muito nos ajudarão as conferências a que assistiremos com agrado e emoção assim como nos workshops em que participaremos de uma maneira ativa: Missão e economia. Juventude e Família. Juventude e cultura. Ecos dos JMJ do Rio de Janeiro. Sabemos que a Missão está sempre fora de nós, exigindo um movimento para o exterior, saindo da própria casa e partindo, não se acomoda ao já alcançado mas é capaz de deixar estruturas e situações para iniciar projetos novos em situações que requerem o primeiro anúncio do Evangelho e revitalizando de maneira criativa o que já existe. Ai de nós se ficássemos agarrados ao contentamento do já feito! A Missão é sempre jovem. O bem-aventurado João Paulo II dizia que “ a Missão de Cristo Redentor, confiada à Igreja, está ainda bem longe do seu pleno cumprimento…. está ainda no começo, e que devemos empenhar-nos com todas as forças no seu serviço”. Por isso ele chamava os jovens de “sentinelas da manhã, afirmando que é seu dever anunciar a chegada do sol que é Cristo ressuscitado”. Sentinela é aquele que tem a função de vigiar, preservar, é aquele que vela por alguma coisa. Nós temos a missão de guardar: a Igreja, os tesouros da fé, as riquezas do evangelho, e ainda zelar pela dignidade humana e denunciar o que vai contra essa mesma dignidade. A sentinela tem como função anunciar que depois da noite vem a manhã, vem o alvorecer, o alvorecer de um novo tempo, de uma nova criação, o alvorecer do Reino de Deus que se expande aqui na terra.

Contudo, quando olhamos para o nosso mundo vemos que ainda é noite, ainda existem trevas, milhões de pessoas que não conhecem Deus. Mas o dia vem! O sol vem: Cristo nossa luz que dissipa as trevas do mundo. Missão é fazer com que o sol da manhã – Jesus Cristo – chegue a todos os cantos do mundo. É por isso que o papa Francisco pedia aos jovens para dizerem ao mundo: “ é bom seguir Jesus; é bom andar com Jesus; é boa a mensagem de Jesus; é bom sair de nós mesmos para levar Jesus às periferias do mundo e da existência”. Oxalá estas Jornadas despertem em todos nós a vontade de continuar a ser no mundo a “alegria suave e consoladora da evangelização” como dizia o Papa Paulo VI. Participa!

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António Lopes

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da atualidade

atualidade –

a c i m é d a c a pouco a

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B i b l i o t e ciscato

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Dia 2 de Junho. Oito da manhã. Os autocarros partiam cheios de pessoas com ansiedade pelo dia que os esperava em Fátima. Dia de peregrinação para os dehonianos e todos os que comungam dos mesmos ideais. Sorrio quando olho para o programa do dia: da parte da tarde temos algumas palavras de um missionário que vive em Moçambique há 50 anos. Apenas algumas semanas antes tinha-me despedido desse missionário em Nampula: Elia Ciscato, missionário, etnólogo, africanista, mas não africano, como me dissera numa conversa alguns dias antes de eu partir de Moçambique. Quem conhece o padre Ciscato sabe que ele é uma biblioteca erudita, mas que ele próprio não considera muito académica, de cultura macua, uma pessoa muito inteligente e que sabe usar essa inteligência num humor muito apreciado. Como estudioso da pessoa humana cheio de experiência moçambicana, ele é o não macua mais adequado para consultar quando queremos entender de forma minimamente remota o que é esse povo. Porque, acreditem, a experiência própria de alguns meses não chega. Para dizer a verdade, atravessei quatro províncias (numa passei só 4 dias, quase não conta, na realidade), o que não corresponde apenas a uma etnia, mas a mais de quatro. Entre algumas há semelhanças, mas não posso assegurar quais. Talvez porque a visita foi rápida. Talvez porque eu não sou uma analista de pessoas, só das que estão mortas (foi por isso que escolhi história; mas podia ter escolhido arqueologia, ou antropologia física, ou medicina… medicina também dava, depende do tipo de médica que eu quisesse ser). A meio da tarde, no dia 2 de Junho, padre Ciscato e Paulo Rocha (jornalista do programa Ecclesia), entrevistado e entrevistador, sentam-se no palco para algumas perguntas e respostas rápidas. Muito rápidas, devo dizer. Não sei se nesta época de velocidades aceleradas alguém tem a mente preparada para absorver muita informação de cada vez, mas quando temos algum resquício dessa preparação devíamos reservá-la para ouvir indivíduos como o padre Ciscato. Trabalhar na nossa cabeça a forma como a realidade humana se multiplica e estilhaça em tantas condições, culturas, formas e feitios, mentalidades, ideias e ideais. Que a pirâmide das necessidades se transmuta em cada cabeça, formatada de base em moldes tão diferentes. E que somos todos gente. Mas não somos todos gente do mesmo ventre. Viajo nas minhas memórias para as ruas de Moçambique. Qualquer uma delas. Os olhares pousados a lembrar-me que eu era a estranha. Do outro lado olham-me e assumem tudo e mais alguma coisa sobre mim. E eu faço o mesmo. Nem mesmo as primeiras conversas dissipam alguns preconceitos. Se falarmos mais talvez traremos mais luz ao assunto. Nunca se fiquem pela ideia inicial. Procurem sempre a resposta seguinte. Mas qualquer entendido (que não eu) vos poderá dizer: estamos todos apenas a alcançar o gelo acima da linha do mar, a prateleira mais baixa, o primeiro degrau. É esse o mistério da humanidade. Senão, o que ficaria por descobrir?

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Catarina Pereira

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08– recortes dehonianos da família dehoniana

Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos) JUNHO NO CORAÇÃO DE JESUS Junho é o tradicional mês do Coração de Jesus, celebrado em toda a Igreja e, de modo particular, na Congregação dos Sacerdotes do Coração de Jesus. Todas as comunidades, paróquias e obras

ligadas aos Dehonianos sintonizaram com esta intenção, em particular no dia da Solenidade do Sagrado Coração. O Superior Geral escreveu uma longa mensagem a toda a Congregação, que intitulou «servidores da reconciliação» e inseriu no ambiente do Ano da Fé. Transcrevo algumas frases da introdução: «Este tema continua a reflexão sobre os fundamentos da nossa espiritualidade, e insere-se neste ano dedicado pela Igreja à fé. Profetas do amor e servidores da reconciliação não é apenas um slogan interessante. Ele conduznos ao centro do projeto de Deus, da vida da Igreja, do anúncio do Evangelho e das expetativas da humanidade. A reconciliação faz alusão a um mundo de perdão, acolhimento e harmonia, mas insere-se na realidade do afastamento, desunião, injustiça e conflito que se encontram nas relações humanas a todos os níveis. Não podemos ignorar o consenso que cresce sobre a dignidade da pessoa humana e dos seus direitos fundamentais, como também o desenvolvimento da responsabilidade em relação aos frágeis equilíbrios ecológicos em que se apoia a vida. Por outro lado, não passa despercebido a ninguém a gravidade das injustiças e das explorações que condenam à miséria milhões de pessoas inocentes, como também os conflitos e as guer-

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ras que ameaçam a existência de toda a humanidade». E ainda breves notas da conclusão: «Na solenidade do Coração de Jesus, somos convidados a contemplar a Cristo, o homem de coração novo, na integridade do ser humano, cheio do Espírito de Deus. Esta plenitude manifesta-se na mansidão e humildade de coração, que o torna aberto ao amor do Pai e cordial na relação com os outros, até dar a vida por eles. Do seu Coração trespassado na cruz, recebemos o dom do Espírito, que nos reconcilia com o Pai e entre nós.

Estamos conscientes dos nossos limites e sensíveis ao drama da miséria, da injustiça e dos atentados à dignidade das pessoas e à integridade da criação. Mas o Espírito guia-nos pelo caminho do coração, aprendendo de Jesus, para nos pormos ao serviço da reconciliação e colaborar na construção de um mundo novo, onde reine a justiça e a paz, segundo o projeto de Deus». Para ler a mensagem integral e notícias alusivas à vivência deste mês, basta os sites dehonianos www.dehonianos.org e www.dehon.it. Sempre sintonizados no amor do Coração de Deus!

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Manuel Barbosa

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da família dehoniana

entre nós –

Fé, cultura, vocação...

é F a d e t n o z i r o h o N

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A Companhia Missionária, grupo do Porto, no âmbito do plano anual de atividades de animação vocacional, promoveu um encontro subordinado ao tema “No horizonte da fé” com 26 alunos do 7.º ano da catequese da Paróquia de Sobrosa, no dia 22 e 23 de junho. Colaboraram com a equipa vocacional deste instituto, o P.e Paulo Vieira, SCJ, professores da escola EB2/3 de Cristelo e os catequistas destes jovens. Já em fevereiro, na semana do Consagrado, estes catequizandos, dinamizados e acompanhados pelos seus animadores, tiveram uma participação significativa na atividade “O Dia com os Institutos Seculares”. Estas iniciativas têm contribuído para uma tomada de consciência do ser Igreja para além das fronteiras da paróquia e para alargarem horizontes a nível vocacional e cultural. Este fim-de-semana foi um complemento ao “dia com…” e na opinião dos participantes superou as expetativas, contribuindo para o seu crescimento como pessoas, na responsabilidade e na organização; para o seu crescimento na fé como cristãos, na oração, na eucaristia, na partilha de vivências e no caminho, testemunhando a alegria de acreditar. O facto de todos terem passado uma noite fora, longe da família, potenciou o convívio com os outros, a integração no grupo e a valorização da confiança nos amigos. Destacam-se destes dias, o concurso de fotografia, sob o tema da fé, a oração da noite ao estilo de Taizé, a eucaristia dominical presidida pelo P.e Paulo e o peddy-paper na baixa do Porto.

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Os participantes

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10– com Dehon

da família dehoniana

Viagens e peregrinações de Leão Dehon

A VIAGEM – PEREGRINAÇÃO AO ORIENTE (23 de agosto de 1864 – 1 de julho de 1865)

A 23 de agosto de 1864, o jovem Leão Dehon, então com 19 anos e acabado de se tornar Doutor em Direito, empreendeu, na companhia do seu sempre amigo arqueólogo Leão Palustre, uma longa e extraordinária Viagem ao Oriente que durou dez meses. Ele próprio, no seu “Diário” nos diz da alegria, do ardor e entusiasmo com que partiu para esta aventura: «Era a grande natureza, as civilizações antigas, e finalmente Jerusalém e Roma, as duas cidades santas, para preparar o meu adeus ao mundo e o meu ingresso na vida clerical». O nome «Viagem ao Oriente» surge da pena do próprio Dehon que a intitula Voyage d’Orient, nas suas notas pessoais, embora em rigor tenha sido uma viagem pelo Médio Oriente, Norte de África e Ásia Menor, tendo como pedra angular a Palestina.

A longa história da Viagem ao Oriente, o tempo de sua duração (23 de agosto de 1864 – 1 de julho de 1865) e o seu significado experiencial humano e espiritual não foi uma viagem de simples recreação ou busca do exótico, ou apenas a quinta e mais importante viagem de sua juventude, mas constitui um verdadeiro “período de sua vida”, um “ano sabático”, um “grande retiro”, um tempo para procurar o significado da existência, «uma história» da intimidade da alma com Cristo, uma experiencia de fé e uma descoberta progressiva de Deus, uma oportunidade de experiência e iluminação que permitiu ao jovem Dehon crescer na sua identidade como pessoa e reforçar a sua decisão de tornar-se sacerdote. Muito além, do desenvolvimento cronológio e espacial da própria viagem, esta é-nos apresentada com uma gradualidade interessante: no início está Roma, onde a fé é mais pura, como motivo da viagem e no fim está também Roma (seminário), objetivo e coroação da viagem. Ente a Roma-motivo e a Roma-objetivo temos a narraçãode uma viagem turística e de estudo que se vai tornando paulatinamente uma verdadeira peregrinação às fontes da cultura, das civilizações e dos ambientes do cristianismo. No início está a Itália, a porta de entrada para o mundo da beleza natural, da arte e da religião, depois vem a Grécia, viagem turística às fontes da cultura clássica, com especial atenção para os elementos cristãos existentes (apóstolos, as igrejas), depois vem o Egito, viagem-peregrinação ao mundo da civilização e do espírito religioso, onde se pode «quase tocar» os lugares e as pessoas

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sagradas do Antigo e do Novo Testamento, especialmente da Sagrada Família; e, finalmente, aparece a Palestina e os Lugares Santos. Aqui, dá-se uma verdadeira peregrinação de fé, na qual o aspeto turístico e artístico, sem desaparecer, é substituído pelo elemento religioso e de fé. A viagem de regresso, mais que um itinerário turístio é a jornada de Leão Dehon, aos 19 anos, um “convertido”, que é o Doutor em Direito. caminho daqueles que estão convencidos de terem atingido os seus objetivos. A viagem, realizada na sua juventude (tinha 20 anos) e após a conclusão dos estudos civis, portanto, em tempo de decisões, parece ter-se tornado progressivamente uma experiência providencial e original de fé e um tempo de maturação humana, psiquica e espiritual do jovem Dehon. A partir dos seus escritos autobiográficos resulta que Leão Dehon fez a Viagem ao Oriente «como um turista, como um estudioso e como peregrino». Normalmente, estas três dimensões estão interligadas e são complementares entre si e é difícil distingui-las. O próprio Dehon diz-nos que «tinha por objetivo instruir-me, acrescer o conhecimento da estética, da geografia, da história e comparar a minha fé».

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Tentativa de reconstituição, no Google Maps, do itinerário de Leão Dehon e Leão Palustre, entre 23 de agosto de 1864 e 1 de julho de 1865.

2. Uma Viagem com diversas motivações

1. “Por montes e vales”: o itinerário É nos seus escritos autobiográficos que podemos encontrar o relato desta extraordinária viagem, sobretudo cruzando as cartas enviadas e recebidas da família, as Notas de Viagem produzidas pelos dois amigos, o seu Diário e, sobretudo, as suas Memórias. Neles descobrimos a arte redacional de Dehon que nos apresenta uma viagem complexa e caleidoscópica, seja nas suas motivações, seja na sua execução, seja nos contornos humanos e espirituais que a caraterizam. Num desses escritos deixou-nos detalhadamente o itinerário percorrido: a Floresta Negra e a Suíça (23-30 agosto 1864), a Itália (31 agosto – 27 setembro 1864), a Dalmácia e a Albânia ((27setembro – 12 outubro), as ilhas jônicas e a Grécia (13 outubro – 26 novembro), o Arquipélago ou Golfo de Esmirna, a Ásia Menor (Turquia), o Egito (8 dezembro 1864 – 22 março 1865), a Núbia, a Arábia, a Palestina (23 março – 16 abril 1865), a Síria (Líbano), o Chipre, Rhodes, a Troade, Constantinopla e o Bósforo, o Mar Negro, a Hungria e Roma (17 março – 1 julho). Nós atualmente ficamos admirados com a extensão da viagem, sobretudo com os meios de transporte existentes na época. Obviamente muitas das fronteiras e até países então existentes, não perduram hoje, mas não retira nada ao espírito aventureiro e empreendedor dos dois jovens franceses do seculo XIX.

Dadas as circunstâncias, a Viagem ao Oriente serviu vários propósitos, de acordo com os interesses, motivações e objetivos das personagens envolvidas na história: Leão Palustre, Júlio Dehon e Leão Dehon. Para Leão Palustre, as razões prendiam-se sobretudo com a curiosidade, a contemplação artística e o estudo arqueológico das grandes civilizações. O espírito intelectual e curiosidade científica, parece ser a principal motivação para o jovem arqueólogo. Para Júlio Dehon, orgulhoso e feliz com o sucesso escolar do seu filho e sonhava para ele uma carreira pública, cheia de honra e sucesso, era uma oportunidade de ganhar um ano e a última esperança de que esta viagem turística o desviasse da ideia de ser sacerdote. Para o jovem Leão Dehon, esta viagem representou uma oportunidade única para, longe do ambiente familiar hostil à sua decisão vocacional, refletir, confrontar, discernir e confirmar o caminho a seguir. Onde Júlio Dehon via uma oportunidade para “distrair” ou “remover” o filho de sua vocação, Leão Dehon via a mão e a presença de Deus que o conduzia seguro para os caminhos do sacerdócio: «A Divina Providência tem usado estas disposições do meu pai para me levar aos Lugares Santos onde a minha fé e a minha vocação iriam encontrar tanta força». Podemos dizer que a viagem adquiriu diversos significados, quer ao nível das suas motivações, quer ao nível da sua execução como a seguir se explica.

(Continua)

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Francisco Costa

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12– memórias

da família dehoniana

Moçambique, Madagáscar, Angola e Índia

O empenhamento missionário da Província Portuguesa dos Dehonianos A independência de Moçambique, em 25 de junho de 1975, conquistada e realizada por um movimento de ideologia marxista, teria naturalmente repercussões no campo da evangelização. As estruturas missionárias foram nacionalizadas, a mesma atividade missionária passou a ser controlada e foi dificultada, e mesmo proibida, a entrada de novos missionários no território. Em 1976, só permanecem em Moçambique três Dehonianos portugueses – os Padres Manuel Gouveia, José Alves e José Diomário – não sendo enviados outros, a não ser, muito mais tarde, alguns jovens religiosos em estágio de vida consagrada.

A jovem Província dehoniana portuguesa, em fase de crescimento, vendo fechado o campo de Moçambique, não se resignou, consciente da importância do empenho missionário para a vitalidade da própria Província. No encerramento do centenário da Congregação, em Fátima (junho de 1978), o Superior Provincial de então, o atual Bispo de Angra, D. António de Sousa Braga, insistia na necessidade de uma abertura às Missões, quer por fidelidade ao carisma e à razão originária da implantação da Congregação em Portugal, quer – foi essa a sua expressão – para “manter a Província desinstalada, dinâmica e viva”. Não faltavam aliás pedidos de Entidades da Congregação nesse sentido: Brasil (Maranhão), Zaire, Madagáscar, para além de Moçambique, apesar das dificuldades reais de manter a ajuda a este último.

D. António de Sousa Braga, atual bispo de Angra, nos anos 70 e 80, como Provincial, insistia abertura às Missões, para “manter a Província desinstalada, dinâmica e viva”.

O Colégio Missionário do Sagrado Coração, no Funchal, casa-mãe de uma Província que nasceu para as Missões.

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Madagáscar O pedido mais urgente e aliciante é, desde logo, o de Madagáscar, onde a Província da Itália do Sul se encontrava empenhada em duas zonas, distantes uma da outra 900 kms, e estando para abandonar uma delas, concretamente a presença na diocese de Mananjary. Porque não a assume a Província Portuguesa? O Governo Geral, tomando ato do propósito da Província Portuguesa de assumir um próprio campo missionário, não escondia a preferência por Madagáscar. O Capítulo Provincial de 1978 limitou-se a recomendar que se mantivesse vivo o espírito e empenho missionários e se estudasse a viabilidade de corresponder a uma das várias solicitações que, nesse sentido, eram feitas à Província. Dois anos mais tarde, a pressão é tal que se sente a necessidade de convocar, para 1981, um Capítulo Provincial extraordinário, precisamente para se definir o empenho missionário. Num inquérito feito à Província em preparação desse Capítulo, resultou que as duas opções preferenciais eram claramente a formação-seminários e as Missões. Reunido o Capítulo, este foi unanimemente favorável à aceitação do pedido da diocese de Mananjary, uma decisão tomada na sugestiva data da Efifania do Senhor, 6 de janeiro de 1981. O Capítulo também decidia que a ida do primeiro grupo de missionários deveria concretizar-se até ao verão de 1982. Assim nasceu o empenho missionário da Província dehoniana portuguesa em Madagáscar. O primeiro grupo de missionários para essa Missão foi constituído pelo P.e José de Bairos Braga, já falecido; pelo atual Bispo de Mananjary, D. Alfredo Caires, e pelo P.e Manuel António Jardim. Os primeiros dois deixaram Lisboa a 27 de dezembro de 1981, historicamente considerado data do início da Missão de Madagáscar da Província portugue-

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A natureza luxuriante de Madagáscar.

sa. De acordo com o bispo diocesano, D. Paulo Tabao, a presença dos missionários portugueses radicava-se inicialmente em Ifanadiana, donde mais tarde se espalharia a outras sedes missionárias, graças à chegada de outros confrades, inclusive religiosos em estágio de vida consagrada, como sucedera na missão de Moçambique. Sentir-se-á na Província um sincero e efetivo entusiasmo missionário, traduzido no envio de pessoal e de meios materiais. Depressa se passará à pastoral da formação, criando, em colaboração com os confrades da Província da Itália do Sul, as necessárias estruturas para o efeito. Não faltarão vocações, dando esperança para o futuro da Congregação no país. Com altos e baixos, entusiasmos e repensamentos, próprios de um organismo vivo, a Missão de Madagáscar foi caminhando para a sua autonomia, sendo elevada à categoria de Região a 30 de junho do ano 2000. No final de 2012, contava com 63 religiosos (2 bispos, 26 sacerdotes, 3 Irmãos Cooperadores, 32 estudantes) e 5 noviços. Há que reconhecer que, por diversas circunstâncias, o entusiasmo e dinamismo iniciais se foram atenuando, também pela abertura de um novo campo missionário por parte da Província Portuguesa, o de Angola, e pelo inevitável processo de envelhecimento com redução do número de religiosos em formação e de seminaristas, um fenómeno aliás comum a outros Institutos religiosos presentes em Portugal.

D. Alfredo Caires, atual Bispo de Mananjary, fez parte do primeiro grupo de missionários portugueses que partiram em 1981 para Madagáscar.

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14– memórias

da família dehoniana

Missões dehonianas portuguesas (continuação)

Angola Se a abertura dos Dehonianos portugueses à Missão de Madagáscar obedecera a um pedido de ajuda vindo dessa Missão, já a de Angola teve uma outra génese e estilo: foi protagonizada pela Província portuguesa, durante o Provincialado do atual Superior Geral, P.e José Ornelas Carvalho, e num contexto de colaboração internacional, muito sentido já então. Angola entrara finalmente num processo de pacificação e de reconstrução a todos os níveis, abrindo também à Igreja local excelentes oportunidades de evangelização. Chegara a hora de levar também a ela a presença dehoniana. Já no segundo mandato do P.e Fernando Gonçalves (1991-1994) o projeto fora objeto de consideração. Durante os dois mandatos do atual Bispo do Algarve, D. Manuel Quintas, a guerra civil em Angola e o empenhamento da Província em Madagáscar não permitiram a sua concretização. Manifestaram desejo de colaborar no projeto, inicialmente a jovem Província de Moçambique, depois também a Província da Itália do Norte, Província-mãe das de Portugal e Moçambique. Quando o projeto foi apresentado na reunião dos Superiores Maiores, em Roma, em novembro de 2001, também o Superior Provincial dos Camarões mostrou interesse numa eventual participação. Em agosto de 2002, os Superiores Provinciais de Portugal e Moçambique, respetivamente padres José Ornelas Carvalho e Onorio Matti, visitaram Angola para recolher informação e realizar contactos com os responsáveis da Igreja local. Foram várias as dioceses angolanas que se mostraram interessadas na colaboração dos Dehonianos, com uma grande abertura de campo de trabalho, desde a formação do clero e assistência aos consagrados, e inclusive a abertura de uma faculdade de teologia em Luanda, à assunção de missões abertas ou por abrir. A visita in loco dos dois referidos Superiores Maiores foi útil para a concretização do projeto; definiam-

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se campos e etapas: começar por Luanda, mais precisamente na periferia, km 9, para depois se estender ao interior, nomeadamente a Luena, no Moxico. À internacionalidade juntou-se a precisão programática: nos inícios de 2003, enviar-se-ia a Luanda um confrade para tratar in loco da realização do projeto; em maio seguinte, aproveitarse-ia a reunião do Capítulo Geral para garantir a participação de, pelo menos, três Província; no outono do mesmo ano, instalar-se-ia em Luanda a primeira comunidade dehoniana e, em 2004, a primeira comunidade em Luena. Numa sondagem, feita em dezembro de 2002, aos membros da Província portuguesa sobre a participação da mesma no projeto, a que apenas 48 religiosos responderam – menos da metade – os favoráveis foram 32 e os contrários 16. Entretanto, no Capítulo Geral de maio-junho de 2003 foi eleito Superior Geral o P.e José Ornelas, grande promotor do projeto de Angola, o que naturalmente muito contribuiria para a sua concretização. Em setembro de 2003, fazem nova visita a Angola os Superiores Provinciais de Portugal e Moçambique, respetivamente padres Manuel Barbosa e ainda Onório Matti, desta vez acompanhados de dois religiosos, um de cada uma dessas Entidades, já designados para trabalhar na nova Missão dehonia-

Elevação da Missão Dehoniana em Angola a Distrito a 08.12.2012.

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da família dehoniana

na: os padres Manuel Domingos Pestana e Maggiorino Madella. Num outro encontro realizado em Roma, a 2 de dezembro de 2003, com o Superior Geral e membros do seu Conselho, os Superiores Provinciais de Portugal e Itália do Norte, um representante da Província de Moçambique e três futuros missionários – os padres Manuel Domingos, Joaquim Freitas e Vincenzo Rizzardi – definiram-se pormenores de envio de pessoal e de calendarização. Mostravam-se então abertos ao projeto também as Províncias do Brasil Central e Meridional, a dos Camarões e a do Congo. A 4 de março de 2004 partiam de Lisboa para Luanda os referidos padres Manuel Domingos e Joaquim Freitas, marcando essa data o início oficial da Missão dehoniana em Angola. A 17 do mesmo mês, era a vez do P.e Madella e a 14 de Maio seguinte a do P.e Rizzardi. No dia antes, 13 de maio, o Arcebispo de Luanda havia criado a nova paróquia de Nossa Senhora do Rosário, no km 9, uma vasta paróquia com cerca de 500.000 habitantes e várias dezenas de pequenas comunidade cristãs, entregues à cura pastoral dos Dehonianos. A 12 de agosto seguinte é erigida a comunidade religiosa de Luanda e a 26 de setembro do mesmo ano dava-se a tomada de posse da paróquia. A 14 de março de 2005, teria início no Luau, diocese de Luena, uma segunda missão dehoniana, dedicada a Santa Teresinha do Menino Jesus; dela se ocupariam os padres Joaquim de Freitas e Jorge Alves, este último chegado a Angola a 4 de fevereiro precedente. Outros Dehonianos viriam reforçam a presença e atividade da Missão, quem de Portugal – padres e jovens religiosos em estágio de vida consagrada –, quem da Itália do Norte, dos Camarões e do Brasil Central. Entretanto, passou-se a cuidar também da pastoral vocacional e da formação, criando as necessárias estruturas para assegurar o futuro da Missão com religiosos autóctones. Abriu-se assim a Casa Padre Dehon no dito Km 9, cidade de Viana, entretanto elevada a diocese. A 11 de novembro de 2010 é aberta, na cidade de Luena, outra missão dehonana, esta dedicada ao Sagrado Coração de Jesus, onde é prevista a construção também de uma casa de formação. A 8 de Dezembro de 2012, a Missão dehoniana de Angola é elevada à categoria de Distrito dependente do Governo Geral, uma etapa importante na caminhada e amadurecimento da Missão. Trabalho não falta e esperanças em termos vocacionais também não. O que se tem revelado mais problemático é porém a realização de uma internacionalidade operativa e que entusiasme as Entidades empenhadas no projeto, de modo a garantir o necessário apoio de pessoal e de meios, necessário para o crescimento, maturidade e futura autonomia e auto-subsistência étnica da Missão. Confiados na bênção do Sagrado Coração e na ação do Espírito, trabalha-se confiadamente para o sucesso da jovem Missão, que, apesar das dificuldades, é promissora, numa nação bastante aberta à penetração e fecundidade do Evangelho.

comunidades –

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A razão da vinda dos dehonianos para Portugal

O P.e Pedro Coutinho, na missão dehoniana da Índia.

Índia Termino com uma breve referência à colaboração da Província num outro projeto internacional da Congregação: o da Índia. Iniciado na década de noventa, no Generalado do P.e Virgínio Bressanelli, a Missão da Índia era deveras promissora em termos vocacionais e de vivência e irradiação da espiritualidade. Já em vida do Padre Dehon se haviam estabelecido contactos nesse sentido, protagonizados pelo Padre André Prévot e o bispo de Bombay. Em 1993 voltou-se a considerar seriamente o projeto. Dadas porém as restrições do Governo indiano na concessão de vistos, havia que investir-se desde o início na formação de Dehonianos autóctones que garantissem o futuro da Congregação na Índia. O projeto concretizou-se numa expressão de internacionalidade, em que participariam também três sacerdotes dehonianos portugueses: os padres Amaro Jorge Moura Vieira, José Guilherme da Silva Gouveia e Pedro Fernandes Coutinho. Foi uma participação compreensivelmente temporária, mas em que também se exprimiu a constante vocação missionária da Província portuguesa dos Dehonianos.

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João Chaves

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16– família dehoniana da família dehoniana

Peregrinação anual da Família Dehoniana a Fátima

Com Dehon, firmes na Fé Realizou-se, a 2 de Junho, o Encontro Anual da Família Dehoniana com a Peregrinação a Fátima, sob o tema: “Com Dehon, firmes na Fé”.

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Cerca de 2000 peregrinos vindos de Braga, Porto, Aveiro, Coimbra, Lisboa, Madeira e Açores reuniram-se no “Altar do Mundo” para, sob o olhar protector de Maria, renovar a fé em Cristo, tendo como modelo inspirador o Padre Leão Dehon, Fundador da Congregação dos Sacerdotes do Coração de Jesus. A Família Dehoniana engloba todos aqueles que procuram seguir a intuição espiritual do Padre Dehon que fez na sua vida uma forte experiência do amor de Deus e procurou corresponder a esse amor com uma total doação ao Senhor concretizada no serviço aos mais pobres e humildes. É uma grande Família formada pelos membros da Congregação dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos), os Institutos Seculares, fundados por Dehonianos (Companhia Missionária do Coração de Jesus e as Missionárias do Amor Misericordioso do Coração de Jesus) e os Leigos Dehonianos nos Grupos Missionários, na ALVD (voluntários), na JD ( Juventude Dehoniana), os seminaristas e ex-seminarista e os leigos das paróquias e capelanias confiadas aos Dehonianos, etc. Às 10h00 a Família Dehoniana integrou-se na oração do Rosário na Capelinha das Aparições orientada pelo P.e Zeferino Policarpo e pelo Diác. Albino Eduardo e aqui erguiam-se as diversas bandeiras que identificam a presença dos diferentes grupos missionários. Às 11h00 teve lugar a missa no recinto do Santuário, presidida pelo Reitor. Depois o almoço, importante momento de partilha dos farnéis, encontro e reencontro e convívio.

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De tarde o ponto de encontro foi o auditório do Centro Paulo VI onde se realizou a Sessão Dehoniana com diversos elementos que tornaram aquela tarde muito agradável: A entrevista ao P.e Ciscato, missionário Dehoniano há 50 anos em Moçambique, as palavras do Superior Provincial, a apresentação da canção vencedora do Festival do Encontro Nacional da Juventude Dehoniana, a atuação do Rancho Folclórico da Casa do Povo de Fátima, apresentação das notícias da Família Dehoniana e, a concluir, um belíssimo espetáculo de fado, protagonizado pelo fadista Nuno da Câmara Pereira e seus músicos. Coincidindo este dia com a Solenidade do Corpo de Deus, a maior parte dos peregrinos Dehonianos pôde ainda participar na procissão do Santíssimo antes de regressar às suas casas. No fim do dia o sentimento que pairava e que nos unia a todos era o forte momento de oração, de comunhão e convívio da Família Dehoniana, experimentado e vivenciado por todos presentes, que cada um levou para as suas famílias, grupos, paróquias e comunidades. E para que nos comecemos a organizar e motivar, no próximo ano de 2014, o nosso Encontro Anual terá lugar a 1 de Junho.

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Emília Meireles

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18– vinde e vereis dos conteúdos

” . . . a n e p à o ã m a i e c “Lan

Tomai sobre vós o meu jugo

“Lancei a mão à pena para…”. Era assim que na escola dos meus tempos se ensinava a iniciar a redação de uma carta. Fosse qual fosse o assunto a abordar, era assim que se devia começar. Ora, lembrei-me deste pormenor, quando exatamente no dia da Solenidade do Coração de Jesus, ao chegar ao nosso Seminário do Funchal (Colégio Missionário), para participar na concelebração eucarística presidida pelo Bispo diocesano, verifiquei que dispunha de algum tempo de espera.

Pensando nesse “Coração que tanto amou os homens…”, é impossível não voar à passagem do Evangelho em que o próprio Jesus se refere literalmente ao seu Coração, que Ele mesmo qualifica de “manso e humilde”, como sabemos. E sabemos também, mas é bom que não esqueçamos, que essa passagem do Evangelho se insere num contexto em que o evangelista coloca na boca de Jesus estas palavras: “Vinde a Mim todos vós que vos afadigais e andais sobrecarregados …”. Lá está o familiar “vinde” que tantas vezes tem ocupado as nossas considerações nesta rubrica. “Vinde”. Não esqueçamos que o convite parte d’Aquele que veio. Aliás, veio, vem e virá. Mas sobretudo, vem. Sabemos e dizemos muito bem, veio, fazendo-Se um de nós, virá novamente no fim dos tempos, como prometeu, mas está sempre “no meio de nós”. E nós, damo-nos conta da sua presença? Lamentavelmente, não. Andamos muito distraídos. Então é necessário que nos convide. Mais ou menos assim: “Eu já vim e aqui estou. Agora vinde vós: “Vinde a Mim”. Bom seria que, neste tempo em que para muitos de nós a azáfama habitual afrouxa, este e todos os “vinde” de Jesus se tornassem objeto da nossa atenção, porque teríamos muito a lucrar com isso. Até porque, partindo do Coração do nosso Mestre e Senhor, no contexto evangélico em consideração, oferece ressonâncias que o próprio texto sugere. Antes de mais nada, o “vós que vos afadigais e andais sobrecarregados”. Nós sabemos, porque sentimos, que isto é verdade. Ele também o sabe. E convida-nos a repousar junto d’Ele, na sua amizade e intimidade, assegurando: “Encontrareis alívio para as vossas almas, pois o meu jugo é suave, e a minha carga é leve”. Que bom e reconfortante pensar nestas palavras e no amor que as inspira – o amor do Coração de Jesus. Depois, o convite a aprender d’Ele, a frequentar a sua escola, tornando-nos seus verdadeiros discípulos, alunos. Mas a aprender o quê? A resposta está lá sugerida: “que sou manso e humilde de coração”. Parafraseando: Não vos peço que

aprendais a falar como Eu falo, a proceder como Eu procedo, a fazer milagres, por exemplo. Nada disso. Aprendei a ter um coração como o meu… E como é o Coração d’Ele? Também está lá dito com todas as letras: “manso e humilde”. Realça estas duas características como resumo e compêndio de todas as demais, que espontaneamente ligamos ao conceito de “coração”, entre as quais poderemos distinguir o amor, a bondade, a generosidade, a dedicação, etc.. No fundo, o que Jesus nos pede é que nos deixemos de exterioridades, de aparências, de hipocrisias, e nos fixemos no interior, no de Jesus e no nosso. No de Jesus, para nele contemplarmos o modelo; no nosso para o conformarmos com esse modelo, moldando por ele aquilo que devemos ser por dentro. “Lancei a mão à pena para…”, para partilhar convosco estas simples considerações inspiradas, é certo, na Solenidade litúrgica do Coração de Jesus, mas sempre atuais e pertinentes, porque se trata d’Aquele que tem coração e nos diz e repete “vinde a Mim” e nos pede que aprendamos d’Ele e com Ele, a ter um coração como o d’Ele. E que nos dá a certeza de que n’Ele encontraremos alívio para as nossas almas, porque o seu jugo é suave e a sua carga é leve. Para quem as pode gozar, boas férias no aconchego de Jesus e na escola do seu Coração!

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Fernando Ribeiro

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dos conteúdos

onde moras –

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O Mestre é o Bom Pastor

Eu, “ovelha” acarinhada Caros leitores de A Folha dos Valentes, neste número da nossa revista quero partilhar convosco algo acerca de Jesus Bom Pastor, Ele nos diz “que vos parece? Se um homem possui cem ovelhas e uma delas se extravia, não deixa as noventa e nove nos montes para ir à procura da extraviada? Se consegue achala, em verdade vos digo, terá maior alegria com ela do que com as noventa e nove que não se extraviaram. Assim também não é da vontade do vosso Pai, que está nos céus, que um destes pequeninos se perca.” (Mt 18, 12-14) Pois é, temos um Pai tão bom! Um Pai que é amor, que é misericórdia infinita. Um Pai que arrisca tudo para nos ter junto de si. Um Pai que não nos deixa, mesmo quando nos afastamos d’Ele, quando queremos viver a vida à margem, quando queremos seguir caminhos de morte e de destruição. Ele também aí está, Ele aí nos espera. “Apascentá-las-ei em um bom pasto, sobre os altos montes de Israel terão as suas pastagens. Aí repousarão em bom pasto e encontrarão forragem rica sobre os montes de Israel. Eu mesmo apascentarei o meu rebanho, eu mesmo lhe darei repouso” (Ez, 34,14-15). O Mestre é o Bom Pastor, “o Bom Pastor dá a vida pelas suas ovelhas”. Ele é o enviado do Pai, à terra para nos mostrar o caminho, para nos indicar a estrada a percorrer para nos deixarmos encontrar por Deus e pelo seu amor. Sinto-me como ovelha que sou acarinhada, protegida, orientada pelo Pastor? Que faço por isso? Basta que eu seja dócil, obediente, que reconheça a voz do Pastor, que esteja disponível aos seus apelos, ao seu chamamento. Ele tem tanta coisa boa para nos dar, levanos a prados verdejantes, conduz-nos às nascentes das águas, dá-nos saborosos manjares. Mas, também a ti e a mim Ele pede que façamos de pastor para quantos vivem junto de nós e precisam da nossa ajuda. Ele quer servir-se de nós, da nossa boca para o anuncio do Reino, para chamar, para corrigir, para animar, das nossas mãos para abençoar, dos nossos braços para abraçar, do nosso coração para amar, de todo o nosso ser para se relacionar com quem precisa… Só quando fazemos a experiência de sermos acolhidos/as por Deus, na pessoa de Seu Filho Jesus Cristo, o Mestre, é que podemos nós também acolher, amar os outros com o mesmo amor que nos vem de Deus. Boas férias na companhia do Mestre, do Bom Pastor.

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Fátima Pires

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20– meias doses de saber dos conteúdos

Urge fazer um novo manifesto pela cultura

Fome de cultura, raíz de todas as fomes No tempo de tecnicização crescente do cosmos, do homem, da vida social, num tempo de sujeição crescente dos povos à economia, a cultura parece cada vez mais ser a última preocupação das políticas dos governos e sempre o parente mais pobre de todos os orçamentos de Estado. Acredita-se que se vai salvar o mundo “Uma sociedade que não é esclarecida por filósofos com a moeda, descurando-se que sem o é enganada por charlatões.” sentido dado pela cultura permitirá que (Condorcet) os homens ainda acreditem que vale a pena lutar, que ainda vale a pena enconA cultura é a expressão da humanidade que trar sentido no calor dos seus dias, enfim, que vale a procura transcender a sua condição animal, pena viver. Em particular, aquele Sentido dado por a sua condição de natureza. aquela forma superior de cultura que foi geradora de Desde o nascimento que o Homem realiza todas as civilizações humanas. Falamos da religião e um caminho de superação da sua condição do inerente processo de busca espiritual de um sentianimal, desde o momento em que nasce do mais alto que a Terra e mais fundo que a matéria. despojado de todos os apetrechos sem os “A fome de cultura é a raiz de todas as fomes da huquais muito dificilmente sobreviveria. manidade”, afirmava o historiador Ricardo Ventura. E A sobrevivência humana é a história da com toda a razão. adaptação ao meio e da transformação Um povo menos culto, menos preparado, menos emdesse meio hostil num espaço habitável, penhado em transcender-se não terá alento sequer usando as faculdade criativas do seu espírito para empenhar-se em sobreviver como povo. Um inteligente, que tem permitido a afirmação povo sem cultura é um povo desidentificado, um da espécie humana sobre todas as outras da povo mais manipulável, um povo mais vendável aos natureza. interesses estrangeiros. No fundo, a cultura é o resultado do esforço Escrevia há pouco tempo Viriato Soromenho-Marques humano para transcender-se. num artigo publicado na Visão a propósito do interesA busca civilizacional de meios e modos de se que está a suscitar a edição da obra completa do vida cómodos contra o espaço agreste proPadre António Vieira: se Portugal se preocupar apeporcionado pela natureza completada pela nas em sobreviver não sobreviverá. O magistério de busca cultural de sentido ou de sentidos para elevar a vida acima do suor quotidiano em nome da satisfação das necessidades primárias, animais, é o que “humaniza a humanidade”, distinguindo-a de todos os outros seres. Pela arte, pela literatura, pela música, pelo desporto, pela religião, por todas as formas de atividade e criação humana que não visam apenas a sobrevivência animal o Homem procura transcender-se e encontrar uma realização para matar a sua fome profunda de sentido. Sem este esforço contínuo as sociedades humanas desmoronavam-se, o lavor económico mecanizava-se, o próprio exercício da política não seria mais do que a sustentação de seres como que arrebanhados em estábulos. “Os gentios e os cristãos, todos vivem quase em igual cegueira, por falta de cultura e doutrina, não havendo quem catequize nem administre sacramentos; havendo, porém, quem cative e quem tiranize, e, o que é pior, quem o aprove”. (P.e António Vieira)

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Vieira, com a sua palavra forte e a sua ação exemplar, é inspirador para nós no que concerne ao papel profundo da cultura no aperfeiçoamento da vida humana no espaço e no tempo. Vieira teve um papel decisivo no tempo da pósrestauração portuguesa no século XVII, tempo de grave crise e de grande incerteza quando à viabilidade de Portugal subsistir como país independente. Este extraordinário jesuíta empenhouse em conferir viabilidade ao nosso país de forma denodada através da força mobilizadora dos seus sermões pregados, do conselho político avisado junto do Rei e do Conselho de Estado, através da ação diplomática, através de propostas concretas de reforma política, económica e religiosa do país, mas também através da apresentação de um ideal mais alto que dava uma missão superior aos portugueses, traduzido na sua conhecida utopia do Quinta Império. Muitos no seu tempo avaliaram como delírio e loucura esta missão atribuída por Vieira a Portugal para ser uma espécie de povo mediador que iria fundar uma nova era de paz, fraternidade e justiça em toda a terra, agregando todo o género humana na sua diversidade de ritos, costumes e crença numa unidade nunca vista. Explanou em tratados como a História do Futuro e A Chave dos Profetas aquele desejo que alimenta o espírito humano e está inscrito na história das ideias de muitas culturas e civilizações: o desejo de vida em fraternidade num futuro que sempre se quer antecipar especialmente nos tempos de crise. Delírio talvez, mas esta utopia fundamental da humanidade foi dada como tarefa maior a Portugal por Vieira. O grande pregador jesuíta foi criticado, perseguido, desvalorizado e até condenado pela Inquisição por isso mesmo. A parte da sua obra dedicada a estas elucubrações foi desvalorizada e relegada no esquecimento do pó dos arquivos durante séculos. Só recentemente, com a redescoberta do papel cultural e mental das utopias no quadro das história das ideias se começou a valorizar esta proposta de Vieira. Eduardo Lourenço na linha do que escreveu Ernst Bloch e Paul Ricoeur sobre a função sociopolítica das utopias, considerou que Vieira com a sua Utopia do Quinto Império revelou-se um grande psicólogo do povo Português, pois tinha compreendido que Portugal, país pequeno mas com história de realizações grandes, só poderia sobreviver e libertar-se dos

seus adversários, daqueles que o queriam asfixiar, se orientasse as suas energias coletivas em função da realização de obras grandes, à luz de um ideal maior. A redescoberta proposta por Vieira do ideal mais fundo da história de Portugal era a condição sine qua non para que os portugueses pudessem superar as imensas dificuldades do presente. É este ideal mais alto, que é sempre o ideal da cultura em sentido nobre e profundo, que é preciso redescobrir para acalentar a vida do homem em sociedade em cada tempo, em cada lugar. É esse “horizonte em movimento” que é a utopia, como bem definiu Umberto Eco, que permite ao homem dar saltos qualitativos em cada época a partir da avaliação das condições sempre imperfeitas, sempre insatisfatórias do presente. É este o alimento que faz os homens querer aperfeiçoar-se e progredir sempre. O homem tem fome de beleza, de religião, de mitos, de utopias, no fundo, de cultura como de pão para a boca. Matar esta fome fundamental é o que realmente humaniza o homem, salvo o pleonasmo. Sem esta aposta fundamental a economia perde vitalidade e criatividade, a finanças esgotam-se e a sociedade desmorona-se. Urge fazer um novo manifesto pela cultura. Urge proclamar aquilo que eu chamaria os direitos humanos da cultura. Uma sociedade que centre as suas preocupações apenas no que comer e vestir está condenada à desumanização. Há que procurar alimento para matar aquelas fomes do ser humano mais difíceis de saciar. É esse alimento essencial que garante a sobrevivência da humanidade quer no plano individual, quer no plano coletivo.

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Eduardo Franco

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22– pedras vivas dos conteúdos

Homem de convicções, lúcido, claro e frontal...

Padre José Gil Ormonde Coelho, nas mãos de Deus O P.e Paulo Vieira, diretor de A Folha dos Valentes, está de saída, sendo este o último número que dirige. Depois do seu fundador, o P.e Fernando Ribeiro, sou o mais antigo colaborador desta revista, além de ser quem mais tempo a dirigiu… Sei bem a canseira que dá, o esforço que exige e a abnegação que impõe a quem a planeia e dirige… Por isso, o P.e Paulo era uma “Pedra Viva” anunciada, se algo de imprevisível não me tivesse imposto outra; só por isso não é dele que vou falar, embora a sua total dedicação bem o merecesse. Fico-me por um obrigado pela qualidade que garantiu, sem alarido, mas com muita eficiência! Que Deus o abençoe nas suas novas funções.

Então, que aconteceu de tão importante para alterar o meu propósito? O falecimento repentino do P.e José Gil Ormonde Coelho, scj, pároco do Forte da Casa, no dia 31 de maio, aos 69 anos de idade. Mal fui informado, pensei: “Tenho que ir ao funeral e falar dele, como Pedra Viva, no próximo número da revista.” Fiz o meu estágio pastoral, no meu ano de Diaconado, no Forte da Casa (Vila Franca de Xira) e também foi lá que, há anos, organizei umas Férias Missionárias com um bom grupo de Jovens Valentes (a JD de agora); realizei uma semana de pregação a preparar a inauguração da igreja paroquial, repetindo-a anos seguidos por ocasião do aniversário da inauguração. E numa dessas semanas fundei um grupo missionário, que ainda é bastante dinâmico, e que muito tem desenvolvido na paróquia o espírito missionário. Foi este grupo que pediu ao Pároco alguns tempos de adoração. Ele acolheu bem a ideia e ampliou-a… Como poderia não ir ao seu funeral e não falar dele? O funeral foi na véspera da Peregrinação Dehoniana anual a Fátima, onde eu estava a acompanhar alguns grupos missionários que vão de véspera. Quando lhes expliquei que não ficaria com eles nessa tarde de sábado, porque me tinha morrido um IRMÃO e que não podia deixar de ir ao seu funeral, entenderam e aceitaram bem. Impressionou-me a multidão que nele participou! Estava ali toda a comunidade paroquial, com o Bispo e muitos Padres!...

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P.e José Gil Ormonde Coelho (1943-2013)

Há uns anos largos, no funeral do P.e Canova, um dos dois primeiros Dehonianos a vir para Portugal, vi o P.e Gil pegar no caixão, chorar compulsivamente e dizer, com imensa tristeza: – É isto! Não temos família, a não ser esta igreja que amamos e servimos. E nós, Religiosos (frades e freiras) dizemos que somos IRMÃOS e IRMÃS, mas morre-nos um desses IRMÃOS e quase nem sentimos: Não há dor, não há luto, não há lágrimas nem preces. E, por vezes, nem há presença! Uma forma muito estranha de sermos Irmãos!...

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P.e José Gil, scj – dados biográficos

Igreja paroquial de Raminho, na ilha Terceira, terra Natal do P.e José Gil.

O P.e José Gil Ormonde Coelho nasceu a 11 de Agosto de 1943, em Raminho, Terceira, Açores. Entrou no Colégio Missionário, no Funchal, em Outubro de 1962. Frequentou o Instituto Missionário, em Coimbra, de 1964 a 1968. Fez o Noviciado na Casa do Sagrado Coração, em Aveiro, onde emitiu a Profissão Religiosa a 29 de Setembro de 1969. De 1971 a 1973 fez o Estágio de Vida Religiosa no Seminário Padre Dehon. Fez a Profissão Perpétua a 29 de Setembro de 1974, no Seminário de Alfragide. Foi ordenado diácono na Paróquia de Olivais-Sul em 1976 e Presbítero a 31 de Julho de 1977, em Raminho. De 1977 a 1981 trabalhou no Seminário Padre Dehon como formador. De 1981 a 1982 frequentou o Curso de Espiritualidade no Teresianum, em Roma. De 1982 a 1983 foi professor no Colégio Missionário. Foi Pároco da Ribeira Brava e da Serra d’Água de 1983 até 1998. Desde 1998 que pertencia à comunidade do Forte da Casa, sendo pároco de Vialonga até 2001 e a partir desse ano pároco da Paróquia do Forte da Casa.

Foi por isto que decidi ir ao seu funeral, mesmo tendo uma atividade programada. Este meu IRMÃO era assim um homem lúcido, claro e frontal… Conheci-o no nosso Seminário de Alfragide e, já nesse tempo, era um homem de convicções, com firmeza de carácter, para quem nós, os mais novos, olhávamos com admiração. Sabia o que queria e nós sabíamos o que ele queria! Era um ótimo ensaiador de teatro. Com ele, foi um sucesso a encenação do Auto da Barca do Inferno de Gil Vicente, e tantos outros teatros. Só há uma coisa que nunca lhe desculpei: Ter-me posto a fazer de “Menina Alice”, numa série de espetáculos de sábado à noite, para os seminaristas e amigos e benfeitores do seminário… Sorte minha foi só estar ali para coreografia e a uma ou outra coisa que perguntassem respondia por gestos. A senhora que me caraterizava fê-lo tão bem, que só fui reconhecido no fim do último episódio, quando o Gil (depois padre) quis que tirasse a cabeleira e declamasse o poema da minha autoria que serviu de letra para a música com que abria o espetáculo. A partir daí, deixei crescer o bigode, para que aí “morresse” a “Menina Alice”… Fui “Menina Alice” em três espetáculos, mas não gostei, que cada qual é o que nasce e eu nasci homem! Não entendo, não aceito e acho anormais essas mariquices tão em moda (e que são um bom modo de vida de muita gente). E se isso é ser intolerante eu sou-o com muito gosto.

Mais tarde, encontrei-o como formador do Seminário menor, em Gondomar. Exigente, sério, profundo, gerador de entusiasmo… Quem por ele passava não podia ser “copinho de leite”, amorfo, sem garra… Há meses, estivemos juntos em Fátima onde me falou de doenças e da vontade de ser substituído no Forte da Casa. Disse-me, com toda a naturalidade do mundo, que a sua missão no Forte estava cumprida e, “quem sabe se não será a tua hora de me substituíres, já que não o fizeste em Vialonga?!...” Era o seu desprendimento a falar. Não serei eu a substituí-lo, mas seja quem for, herdará uma Paróquia bem trabalhada, com uma espiritualidade viva e marcante, porque da Pedra Viva que ele sempre soube ser, fez brotar muitas outras que não deixarão perder a sua memória! Obrigado, Gil! Agora podes fazer pela nossa Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus, que muito amavas e vias com tanta preocupação, ainda mais do que já fizeste. E bem é preciso!

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António Augusto

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24– palavra de vida dos conteúdos

Desafios que o Senhor nos faz durante o anúncio da Boa Nova do Reino

De passagem Começo a escrever estas linhas no dia da Solenidade do Coração de Jesus. Esta festa sempre significou para mim a contemplação do amor infinito de Deus por nós. Na belíssima homilia que fez na missa da Solenidade na nossa casa de Hales Corners, Estados Unidos, Dom Jerome Listecki, arcebispo de Milwaukee, falava do amor “louco” e incompreensível de Deus, capaz de ir até ao absurdo extremo de dar a vida pela nossa redenção. É neste amor desmedido de Deus que gostaria de meditar convosco neste número de verão da nossa revista. Penso que as férias são propícias à meditação e à contemplação, nelas podemos fazer mais tranquilamente aquilo que as ocupações do resto do ano nos impedem de realizar. Não convém que sejam um tempo para nada fazer, mas um tempo para fazer outras coisas ou fazer diferente. Desta vez não vos proponho nenhum texto do Evangelho em particular, mas antes uma breve reflexão sobre alguns desafios e convites que o Senhor nos faz durante o anúncio da Boa Nova do Reino. A Vida para lá da vida Se há ideia em que Jesus insiste no anúncio do Evangelho é que a nossa vida não acaba aqui, que estamos apenas de passagem, até alcançarmos a plenitude da vida, do ser e do amor no Reino que não tem fim. Jesus recomenda aos discípulos que não acumulem tesouros na terra, mas no céu; diz que o maior no Reino é aquele que serve e que ama, que vive na simplicidade, que perdoa e constrói a paz; tranquiliza os discípulos durante a última Ceia, dizendo-lhes que vai à frente, a preparar-lhes um lugar e que na casa do Pai há muitos lugares… Todas estas palavras de Jesus, e tantas outras, levamnos a reconhecer a fragilidade e finitude da nossa caminhada terrena, que ganha dimensão de plenitude e de eternidade à luz da ressurreição de Jesus. Quer isto dizer que nos devemos sentir peregrinos a caminho da casa do Pai, procurando viver intensamente esta nossa vida de passagem. Tocados pela fragilidade que tantas vezes nos bate à porta e retira do nosso convívio familiares e amigos, tomamos consciência que não podemos deixar para amanhã a nossa sede de vida que só Cristo pode saciar, não podemos adiar o amor, como dizia a Madre Teresa. É hoje que sou chamado a amar, é hoje que Jesus me convida a dar mais um passo rumo à Vida.

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Nesta terra sou peregrino, estou de passagem. Como dizem os índios Sioux, com quem trabalho por estes tempos, a vida é-nos emprestada pelo Grande Espirito e a terra que habitamos é uma herança que recebemos dos nossos netos. A sabedoria deste povo diz-nos que somos responsáveis pelos nossos atos, que influenciarão a nossa vida futura, e somos responsáveis por preservar aquilo que não nos pertence, que apenas recebemos por empréstimo e somos chamados a partilhar com os irmãos do presente e os vindouros. A esta luz, podemos sempre fazer o ponto da situação: como tenho caminhado, por onde ando e para onde vou? Este é o grande desafio da nossa vida: que nela possamos seguir caminhos com saber e com sabor, para que à medida que vamos palmilhando a estrada sintamos que está a valer a pena.

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palavra de vida –

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O amor alegre, caminho de luz O amor imenso de Deus, que contemplamos no Cristo que doa a sua vida por nós, é a nossa inspiração e o farol que guia os nossos passos, nos caminhos tantas vezes tortuosos e agrestes da nossa vida. Jesus apresenta-se como o Caminho, a Verdade e a Vida. Só há uma maneira de alcançar e seguir este JesusCaminho: AMAR! Voltamos mais uma vez à última Ceia (pode ser um bom programa de férias ler e reler os capítulos 13 a 17 do Evangelho de São João…) para ouvirmos Jesus dizer aos discípulos que é pelo amor que eles serão reconhecidos como seus verdadeiros discípulos e amigos. No capítulo 25 de São Mateus encontramos Jesus a dizer que quando amamos ou deixamos de amar o nosso irmão é a Ele que amamos ou deixamos de amar. O Papa Francisco tem insistido muito nesta nossa imagem de marca de cristãos. Mas tem-nos também dito que este amor deve ser alegre, feliz. Amar não pode ser um fardo pesado que transportamos, um frete que fazemos a Deus e ao próximo. Amar é dar-se, é servir, é partilhar na simplicidade e humildade os nossos limitados dons, fortalecidos e renovados com a certeza dada por Jesus de que nunca estaremos sós, que o Espirito nos acompanha em todos os momentos e circunstâncias da nossa vida. Estamos de passagem pela vida rumo à Vida. Que a nossa passagem deixe atrás de nós um rasto de luz e de esperança, um rasto fundado e fortalecido no amor imenso de Deus. Boas férias! Boas reflexões!

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José Agostinho Sousa

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26– leituras

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Missionário dehoniano, italiano, há 50 anos padre, missionário, e etnólogo em Moçambique

À conversa com Elia Ciscato O P.e Elia Ciscato, missionário, italiano, de Pádua, está em Moçambique há quase 50 anos, fazendo da sua vida uma missão, e entre as muitas atividades, sempre se dedicou ao estudo dos costumes do seu povo.

Tivemos o privilégio de o ter em Portugal, na Peregrinação Dehoniana, nalgumas casas religiosas dehonianas e em algumas atividades da ALVD (Porto, Lisboa, Funchal). Aproveitámos para lhe fazer algumas perguntas na área da etnologia.

te o o d ári r e S a ci s s i o ng o u e M nólo biq Et oçam M

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P.e Adérito – Quais são os valores macuas da região de Nampula, Zambézia e Niassa? P.e Ciscato – Os valores macuas? Antes de mais nada, a vida. A vida, porém entendida como é entendida por eles, não somente uma questão biológica, mas é uma questão de um bem que eu recebi e que eu devo transmitir. É um bem que o meu antepassado não guardou para si e então eu vivo da vida dele e portanto devo sempre ficar ligado à raiz. Portanto daqui deriva aquela atitude que nós encontramos em África de não ver de maneira unilateral ou unidimensional as coisas, mas andar sempre, duas a duas, nós e os antepassados, nós e o mundo, nós e Deus. Como tudo aquilo que nós temos, também estes valores são sempre valores que andaram, caminharam e que deverão caminhar ainda. Não devemos, portanto, imobilizá-los para contemplá-los numa espécie de céu perene, mas considerá-los sempre como algo que andou e deve continuar a andar. Isto vale para tudo, também para os ritos de iniciação, que certamente, um grande valor, porque ajuda a formar a pessoa ou a construir a pessoa, ou construir o homem e construir a mulher, segundo o modelo que a sociedade tem de si mesma.

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P.e Adérito – Os valores da tradição das aldeias tradicionais poderão servir na educação na escola? P.e Ciscato – É muito importante o autodomínio, assim como a tolerância, porque não fazem guerra de religião ou guerra de ideologias. Na mesma família, um pode ser católico, um pode ser protestante ou ser muçulmano; não há nenhuma luta. Outros valores… a relação com os outros que pode tornar-se também um empecilho, porque a uma certa altura um querendo enriquecer sozinho é bloqueado porque os outros dizem tu és egoísta e então isto parece que isto vem travar a promoção ou o desenvolvimento de quem se lança ou quer lançar - se sozinho. A relação é a todos os níveis com os outros, com o mundo e também com o invisível. Deus é um pouco, podemos dizer, o pano de fundo que sustenta tudo; é a parte segura, ao passo que o resto é tudo o que pode abanar. Esta é aquela que fica para sempre e é algo, como podemos dizer que não é dependente da nossa vontade. E então se pode recorrer a imagens como a diarreia. A diarreia vem e tu não mandas, também a dor de barriga, também o tempo atmosférico e assim também Deus. Não é que é aquela coisa aí mas encontramos ali uma imagem que diz bem a experiência que temos dele. Portanto, a relação com os outros e com o invisível. Esta relação com o invisível pode ser um valor que até pode servir para os outros povos, digamos. Além disso, outros valores… a solidariedade. Porém todos os valores podem ter os seus bichos, ou podem ter os seus contrários ou podem ter os seus limites. Solidariedade é especialmente com os da minha família. Portanto, uma solidariedade forte; um por todos e todos por um, dentro da família. Portanto aquele aspecto de solidariedade como aquele que nós encontramos no conceito de redenção. Se o meu irmão for preso eu sendo familiar, me junto aos outros familiares e juntamos dinheiro ou fazemos esforços para tirar o meu irmão, o nosso irmão que está preso.

P.e Adérito – Quais são os grandes valores que aprendem nos ritos de iniciação? P.e Ciscato – Nos ritos de iniciação… Na iniciação masculina, aquilo que é ensinado como transmissão central é o respeito do enterro e da morte, e do funeral. Portanto, certamente o respeito aos anciãos, o respeito aos aleijados. O respeito da pessoa. E também a ideia de ser fundamentalmente iguais. Isto é, na vida há diferenciação por causa do sexo, por causa de outros elementos, mas na iniciação, voltamos a sentar todos com o rabo no chão. Isto é, somos pessoas que se sentam onde se senta o filho do grande e do homem rico. O vestido que todos temos em comum é a pele. É o vestido que recebemos da mãe. NB. Mantivemos a linguagem do entrevistado, por ser original.

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Adérito Barbosa

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– recortes – sobre a bíbliadehonianos 2808 dos conteúdos

Uma reflexão sobre o sacramento da Confirmação

O Dom do Espírito Santo É de todos conhecido o protagonismo do Espírito Santo nos Atos dos Apóstolos, não apenas porque aí é narrado o dia de Pentecostes, em que “todos ficaram cheios do Espírito Santo” (At 2,4), mas sobretudo pelas vezes em que este mesmo Espírito toma o comando da ação evangelizadora e se torna o “ator principal” deste “filme” da ação de Deus. Do mesmo modo, ensina a doutrina da Igreja que o sacramento da Confirmação é “uma efusão especial do Espírito Santo, tal como outrora foi concedida aos Apóstolos, no dia de Pentecostes”, enunciando, entre os efeitos deste sacramento, que ele nos “confere uma força especial do Espírito Santo para propagarmos e defendermos a fé, pela palavra e pela ação, como verdadeiras testemunhas de Cristo” (CIC 1302-3). Tudo isto se enraíza no livro dos Atos dos Apóstolos e, consequentemente, nas próprias palavras de Jesus, antes de subir ao céu: “Recebereis uma força, a do Espírito Santo, que descerá sobre vós, e sereis minhas testemunhas em Jerusalém, por toda a Judeia e Samaria e até aos confins do mundo” (At 1,8). A partir desta frase de Jesus, podemos verificar que o Espírito Santo é considerado “uma força” (dynamis) que imprime dinâmica à vida da Igreja e, no caso do sacramento em questão, ao crente que recebe o Crisma como um reviver da efusão do Espírito Santo no dia de Pentecostes.

Espírito Santo e expansão do Evangelho A já mencionada frase de Jesus, em At 1,8, falava de uma expansão com claras notas geográficas que criavam um novo êxodo, desta feita de Jerusalém até aos confins da terra, criando assim um programa narrativo para a obra em questão, em que, pela vida apostólica de Paulo, o Evangelho de Jesus Cristo há-de chegar ao centro do mundo político e económico da altura, a capital do Império, Roma. Alguns especialistas, porém, fazem notar que, apesar de Roma ser a capital do mundo de então, nem por isso significa os confins da terra conhecida de então, deixando assim a narrativa em aberto, de modo que toda a expansão missionária subsequente derivaria desta palavra profética de Jesus. Na verdade, ainda hoje, pela vida apostólica não já de Paulo, mas de muitos outros missionários, o Evangelho de Jesus Cristo vai chegando a muitos outros confins da terra. No entanto, será importante que nos situemos também a outro nível de fronteira, não já geográfico, mas também cultural e religioso. Conforme é sabido – e Paulo disso dá conta no seu epistolário – a salvação do Deus de Abraão, de Isaac e de Jacob, do Deus que se revelou a Moisés e que foi fazendo história com o Povo de Israel em cuja Tradição Jesus se inscreve, era confinada a esse mesmo Povo de Israel, aos descendentes de Abraão. Esta fronteira religiosa e cultural será um limite que os Apóstolos não ousam transpor. At 10-11 dá conta disso mesmo: Pedro e, depois dele, os Apóstolos enfrentam a dúvida e a perplexidade. Nestes capítulos dos Atos dos Apóstolos, Pedro enfrenta-se com a fé de um homem pagão, Cornélio, que apesar de ser homem justo e generoso, não é parte

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do Povo de Israel. Também neste caso, será o Espírito Santo a indicar que essa fronteira deixou de ser limite e que é necessário transpô-la; disso dará conta Pedro, ao testemunhar diante dos outros Apóstolos que o recriminam por ter entrado em casa de pagãos e ter comido com eles. Entre outros argumentos – que basicamente contam a história do que se passou em At 10 – Pedro, na parte final da sua narração, diz: “O Espírito Santo desceu sobre eles, como sobre nós, ao princípio. […] Se Deus, portanto, lhes concedeu o mesmo dom que a nós, por terem acreditado no Senhor Jesus Cristo, quem era eu para me opor a Deus?” (At 11,15-17).

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nos Atos dos Apóstolos

Espírito Santo e construção da comunidade São conhecidos os sumários “idealistas” dos Atos dos Apóstolos, que nos vão dando nota de como a Igreja se ia expandindo e, sobretudo, de como permanecia unida. Nesta linha se encontram os chamados “sumários maiores” (cf. At 2,42-47; 4,32-35; 5,12-16). Alguns exegetas têm feito notar que existe uma relação com o Espírito Santo naquilo que é essa unidade ideal pretendida para a comunidade cristã. Muitos rapidamente, notemos que o primeiro sumário, de At 2,42-47 segue imediatamente o texto do Pentecostes (compreendido o discurso interpretativo do evento, feito por Pedro, e a narração das primeiras conversões). Já o segundo sumário, de At 4,32-35, aparece depois de uma oração para que sejam levadas a cabo com sucesso prodígios em nome de Jesus, concluindo o narrador que “tinham acabado de orar […] e todos ficaram cheios do Espírito Santo”. Já o caso do último sumário, o de At 5,12-16, é um pouco mais complicado, porque não se segue propriamente a um prodígio de um Pentecostes ou a uma oração em que fosse nítido o pedido da efusão desse mesmo Espírito; segue-se a uma espécie de reunião em que é descoberto um pecado de membros da Igreja. No entanto, na interpretação de Pedro, que podemos colher de uma sua pergunta, tal pecado é entendido como “colocar à prova o Espírito do Senhor” (At 5,9), ao não ter realizado o que esse mesmo Espírito havia realizado antes (cf. At 2,44-45, sobre os bens em comum, no fruto das vendas). Se estas hipóteses aqui enunciadas fazem sentido, pode concluir-se a favor da unidade da Comunidade de Cristo – uma das características que ainda hoje professamos no Credo acerca da Igreja – como obra do Espírito Santo, essa “força” prometida por Jesus, para que os Apóstolos e, depois deles, todos os cristãos fossem suas testemunhas mundo além.

Poderíamos enunciar outras passagens do mesmo livro, em que se vê a ação do Espírito que conduz a ação da Igreja nascente, depois de Jesus ter subido ao céu. A escolha destes dois campos de ação do Espírito, no contexto de uma breve reflexão sobre o Crisma, contudo, faz-nos recordar que os que recebemos a “efusão especial do Espírito Santo”, temos essa missão de anunciar a Palavra de Jesus Cristo, ultrapassando as fronteiras dos nossos tempos, quando assim nos sugira o mesmo Espírito. Por outro lado, ao recebermos o sacramento “especial” do Espírito Santo, participamos de forma ativa na construção de uma comunidade unida pela força desse mesmo Espírito.

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Ricardo Freire

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30– sobre a fé dos conteúdos

A identificação com Cristo é fruto da ação do Espírito

A C o n f i r m a ç ã o : maturidade O sacramento do Crisma ou Confirmação faz parte dos sacramentos da Iniciação Cristã, que é um processo ou itinerário catequético-litúrgico, teológico-espiritual de inserção, cada vez maior, no mistério de Cristo, por parte daquele que, acolhendo o Evangelho de Cristo, se abre à fé. Trata-se, portanto, do sacramento da comunicação do Espírito Santo, que leva a cumprimento tudo aquilo que foi iniciado e recebido no batismo; é o sacramento da maturidade e da responsabilidade cristã, o sacramento do aperfeiçoamento espiritual.

A Constituição Dogmática Lumen Gentium afirma que “pelo sacramento da Confirmação, os cristãos são mais perfeitamente vinculados à Igreja, enriquecidos com uma força especial do Espírito Santo e deste modo ficam obrigados a difundir e defender a fé por palavras e obras como verdadeiras testemunhas de Cristo” (LG 11). Desta afirmação conciliar extraímos alguns elementos que, na reflexão teológica sobre o sacramento, indicam, essencialmente, dois pontos de vista sobre os efeitos deste sacramento. São eles, o elemento apostólico e o elemento ascético-espiritual. Estas duas perspetivas teológicas sobre os efeitos da Confirmação, encontram na doação do Espírito a sua fonte, porque a Confirmação confere crescimento e profundidade à graça batismal, que é, ao mesmo tempo, a força para o testemunho cristão e para o crescimento da vida em Cristo, de modo que o cristão possa sair vitorioso na luta contra os “inimigos” internos e externos. Na verdade, toda a identificação com Cristo é fruto da ação do Espírito, concedido não só para realizar obras extraordinárias (para ser testemunho de Cristo), mas também para a transformação interior de cada cristão. Por isso, o Espírito Santo está na base de toda a conversão e de todo o crescimento espiritual, que tem de ser visto como progressão. Portanto, estas duas visões teológicas radicam naqueles dois efeitos essenciais deste sacramento que a teologia clássica indica como: a graça e o carácter sacramental. Em primeiro lugar, o sacramento dá-nos a graça de Cristo e insere-nos cada vez mais no dinamismo da sua vida e do evangelho: une-nos mais a Cristo (o ungido do Pai, o enviado em missão) e ao mistério do Pentecostes. Neste sentido, é o sacramento que nos concede o próprio Espírito Santo, Dom de Deus, que – por meio da Igreja – nos é dado pela imposição da mãos e pela unção da fronte com o óleo do crisma. Assim sendo, e como já foi referido, a Confirmação vincula-nos mais perfeitamente à Igreja, tornando-nos seus membros vivos, chamados a construir e a viver a comunhão eclesial e a contribuir, através dos carismas e dons, na edificação do Corpo de Cristo e na elevação do mundo. A Confirmação chama o cristão a exercer a sua coresponsabilidade na obra da salvação, como um projeto de Deus a ser desenvolvido dentro da comunidade e, a partir dela, para fora dos “seus limites”. Numa palavra, a Confirmação configura-nos mais a Cristo, ungido e enviado, enche-nos do Espírito Santo, Dom de Deus, e incorpora-nos mais perfeitamente na Igreja, como pedras vivas. Em segundo lugar, o sacramento imprime na alma o carácter, isto é, sinal, marca sagrada e distintiva que não desaparece e que nos capacita em ordem à ação apostólica, ao testemunho e ao agir cristão. O carácter sacramental é, portanto, a capacidade de estruturar a personalidade do crente, tornando-o adulto para dar testemunho e ser aquilo que é.

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e aperfeiçoamento

Resumindo, da celebração e da receção deste sacramento advém para o cristão uma efusão especial do Espírito Santo, tal como outrora foi concedida aos Apóstolos, no dia de Pentecostes. Por esse facto, a confirmação proporciona crescimento e profundidade à graça batismal: a) enraíza-nos mais profundamente na filiação divina, que nos leva a dizer «Abba! Pai!» (Rm 8,15); b) une-nos mais firmemente a Cristo; c) aumenta em nós os dons do Espírito Santo; d) torna mais perfeito o vínculo que nos une à Igreja; e) dá-nos uma força especial do Espírito Santo para propagarmos e defendermos a fé, pela palavra e pela ação, como verdadeiras testemunhas de Cristo, para confessarmos com valentia o nome de Cristo, e para nunca nos envergonharmos da cruz. Tal como o Baptismo, de que é a consumação, a Confirmação é dada uma só vez. Com efeito, a Confirmação imprime na alma uma marca espiritual indelével, o «carácter», que é sinal do amor do Pai que marca o crente com o sinal de Cristo, ungindoo com o seu Espírito e revestindo-o da fortaleza do Alto, para que possa agir cristãmente, confessando publicamente a fé.

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Nélio Gouveia

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32– reflexo

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Uma verdadeira experiência de Igreja que deve deixar “consequências”...

Jornadas Mundiais da Juventude e Sabias que:

Durante este mês de Julho acontece a Jornada Mundial da Juventude, desta vez no Rio de Janeiro. Em 1984 foi celebrado na Praça São Pedro, no Vaticano, o Encontro Internacional da Juventude com o Papa João Paulo II, por ocasião do Ano Santo da Redenção. Em 1985 foi declarado Ano Internacional da Juventude pelas Nações Unidas. Em março houve outro encontro internacional de jovens no Vaticano e mais tarde o Papa anunciou a instituição da Jornada Mundial da Juventude. A partir de então, todos os anos é celebrada no Domingo de Ramos e, com intervalos que podem variar entre dois e três anos, celebramse a Jornada Internacional de Jovens. Analisando as diferentes ações pastorais do Papa João Paulo II, facilmente chegamos à seguinte conclusão: João Paulo II fez uma opção preferencial pelos jovens. Efetivamente, ele fala constantemente aos jovens: nas viagens apostólicas, nas suas visitas pastorais, nas audiências semanais, nas cartas, nas exortações e demais documentos apostólicos. Além disso, encontra-se com os jovens para com eles conversar, rezar, cantar. Nos contactos e nos escritos de João Paulo II, sobressai o facto de ele conhecer as preocupações dos jovens: a inserção na sociedade, a presença no mundo, a conservação do ambiente, os problemas da família, a presença na escola e na universidade, o crescimento integral em vista da maturidade. Por outro lado, notamos que o Papa João Paulo II convida continuamente os jovens a perspetivarem a sua vida em função do futuro. Daí a importância que ele atribui aos seguintes temas: decisão, paz, justiça, valores, profissão, fé, oração, não ter medo, vocação, apostolado, testemunho. Das mensagens dirigidas aos jovens destaca-se, como marco referencial, a “Carta Apostólica de João Paulo II aos jovens e às jovens do mundo por ocasião do Ano Internacional da Juventude” (1985). Nesta, o Papa, como que faz uma síntese daquilo que ele pensa e espera dos jovens. Além da consideração dos problemas relativos à condição juvenil atual, no pensamento de João Paulo II destaca-se uma visão otimista dos jovens. Ele gosta de fazer referência às riquezas dos jovens, como: o amor, a esperança, a liberdade, a responsabilidade, a autenticidade, a comunicação, a justiça, a novidade, a força e a alegria. Este modo de João Paulo II se relacionar com a juventude e de comunicar-lhe os conteúdos anteriormente apresentados, a partir de 1986 adquiriu um nome: “Jornadas Mundiais da Juventude”. Nelas o Papa e os jovens aprofundam o seu relacionamento e aprofundam as mensagens que têm para trocar. Além disso, é de notar que as JMJ são para muitos jovens uma verdadeira experiência de Igreja, de fé, de esperança e de fraternidade. Além disso servem para o aprofundamento de um tema significativo para a vida dos jovens do nosso tempo.

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Já se realizaram várias Jornadas Mundiais de Juventude, desde Roma, Buenos Aires, Manila, Denver… em todos os continentes. O Papa Bento XVI deu continuidade a esta iniciativa do Papa João Paulo II. Na Jornada Mundial da Juventude em Madrid pediu aos jovens que sejam fermento que faz a massa crescer, levando ao mundo a esperança que nasce da fé. Pediu, ainda, para dar um testemunho de vida cristã em todas as situações. E por fim anunciou o lema da Jornada Mundial da Juventude Rio 2013: “Ide e fazei discípulos entre todas as nações” (Mt 28, 19).

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e e evangelização A Palavra de Deus diz: Mt 28, 16-20. O texto do evangelho relata a ascensão do Senhor. Situa o encontro de Jesus com os seus amigos na Galileia, terra onde Jesus tinha começado a sua pregação, é dali que os discípulos também devem começar. Partir da sua realidade para todo o lado, são enviados ao mundo inteiro. Alguns ainda tinham dúvidas, mas mesmo assim aceitaram e partiram.

Faz silêncio e reza: Procura um local sossegado. Lê com calma a passagem do evangelhos. Ide e fazei discípulos. O que tenho feito? Quais os dons que sou chamado a partilhar? Faz uma oração a Deus.

Tenho de: Jesus envia os seus discípulos a evangelizar o mundo inteiro. Jesus anunciou a Boa Nova de Deus, agora são os seus discípulos que a devem anunciar, para tal Jesus promete que estará sempre com eles até ao fim dos tempos. Em que projeto me posso envolver na minha comunidade?

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Feliciano Garcês

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34– outro ângulo do mundo

São as mulheres quem mais resiste à participação dos pais...

“Mãe, é mãe...?” Quando pensamos em igualdade de género, automaticamente pensamos que é a mulher que está em desvantagem perante o homem. Imaginamos a luta constante da mulher para demonstrar a ferro e fogo o seu valor e as suas capacidades. Certo? Pois apresento-vos um dos mundos onde o homem é discriminado: a maternidade (não é por acaso que é maternidade). A experiencia e a oportunidade de gerar um ser é única e exclusivamente da Mulher (ainda). Não há nada tão único e especial, mas esse ser não surge apenas através mulher…sim, eu sei que não estou a dar novidade nenhuma, mas às vezes parece!

Infelizmente assisti ao comentário de uma médica que alega que “o pai deve acompanhar a consulta quando a mãe apresente algum problema mental”. Ao visitarmos as creches (pai e mãe) a discurso foi dirigido à “mamã”. Quando disse às minhas amigas que a licença PARENTAL seria partilhada, ficaram completamente alarmadas: “achas que ele consegue dar conta do recado durante um mês? Vais arrepender-te”. Chego à conclusão que são as mulheres que mais resistem a uma maior participação dos pais (homens) na vida dos filhos/bebé. Ainda há mães que não consideram tarefa do pai dar banho, dar a papa, mudar a fralda, arrumar a mala, colocar a roupa no seu lugar ou acordar à noite. É como se passássemos um atestado de incompetência aos pais (mais uma vez, homens). No entanto,

as mães adoram queixar-se que estão cansadas e que fazem tudo sozinhas: Ou porque ele nunca sabe onde estão as coisas, ou porque ele não tem jeito ou não tem paciência ou tem de descansar do trabalho… é verdade, é muito exigente (muito mesmo) explicar mil e um vezes a um homem onde se põe isto ou aquilo ou como se resolve aquele outro, mas não temos o direito de privar o pai de acompanhar totalmente o crescimento e a educação do filho/ bebé. Quando os pais participam, das duas uma: ou é um Santo de um Homem ou a coitada da Mulher não dá conta do recado. Pais, sejam persistentes. Mães sejam mais pacientes. O esforço valerá a pena! Haverá mais tempo de qualidade para estarem com os vossos filhos. No reino dos animais são muitas as espécies em que o macho e a fêmea cuidam igualmente das suas crias. Nos pinguins o ovo é incubado pelo macho. Se calhar aquilo que supostamente nos destaca dos outros seres é o que nos trai: sermos racionais permite-nos o preconceito. Se Mãe é Mãe, Pai é Pai assim como filho é filho… dos dois!

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Alícia Teixeira

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do mundo

nuances musicais – O que é e quais as consequências da pirataria no mundo da música?

a i r a t Pira

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l a c i s mu

A constante luta entre legislação e os meios para contorna-la está a expor a decadência da industria e quiçá da criatividade. O tema da pirataria, nem só nos meios musicais mas em tudo o que possa ser criado e exposto na Internet, é mais do que um problema, um dado adquirido. Está consumado o facto de ser impossível combater a pirataria processando meia dúzia de sites que se dedicam a esta. Está também consumado que piratear está cada vez mais longe de conter aquela carga antiética de quem o faz, porque passa-nos despercebido muitas vezes a distinção do que é o download legal e ilegal quando estamos na Internet. A par do software e dos filmes, a música é dos produtos mais pirateados na Internet. No entanto, a impossibilidade de uma banda ou artista estar ausente desta valiosa ferramenta de divulgação expõe a fragilidade do marketing. Artistas revoltados questionam os fãs acerca do seu verdadeiro amor pela música, muitas vezes chegam a insultá-los nos seus próprios concertos porque sabem que a maioria, ao invés de comprar, pirateou a sua música. Contudo, as borlas são aliciantes e o exorbitante preço dos Cd’s não ajuda a conter este rumo. Então que soluções é que se avizinham? A falência mundial da industria musical? Voltar apenas à música ao vivo para evitar gravações? Primeiramente há que analisar até onde é piratear. Neste ponto há a crescente colocação da música na Internet por parte dos artistas antes até de ser publicada em Cd. Pode ser o facto inevitável de “se não podes combatê-los junta-te a eles”. A par disso existem também as vendas online por um preço muito mais acessível. Os meios de gravação estão cada vez mais simplificados, tornando o produto final muito mais barato. Neste conjugar de situações é feito um grande esforço para tornar ligeiramente legal o ilegal, ou seja, investir nos mesmos trunfos da pirataria com dividendos menores. Contudo, o facto consciencial que poderia ser o grande oponente da propagação da pirataria, é cada vez mais suavizado pela enorme oferta e pelo facto de se misturar o legal com o ilegal numa panóplia que por vezes dá muito jeito não perceber. A música sobreviverá, mas reconheço que a adaptação é morosa e deveras revoltante, visto que, os artistas que já em alguns casos eram explorados pelas editoras, veem-se agora com um novo inimigo para combater.

V

Florentino Franco

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36– novos mundos do mundo

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Caro leitor, prepara-te para a maior ligação de Internet alguma vez alcançada: Investigadores alemães conseguiram uma velocidade de transmissão de dados, sem fios, de 40 gigabits por segundo! (Gbit/s)!

Para que tenhas uma ideia do que isso significa, basta ver que o padrão já conhecido 4G LTE, o mais moderno padrão de transmissão e dados wireless, chega aos 75 megabits por segundo. Ou seja, o novo recorde, obtido em escala experimental, é quase 550 vezes mais rápido que o dito 4G. O teste foi feito a uma distância de pouco mais de 1 quilómetro, entre prédios do Instituto Karlsrube de Tecnologia. Ainda no final do mês passado, a Samsung fez um teste de outra tecnologia de transmissão sem fios, em escala experimental, e só conseguiu 1 Gbit/s para uma distância de até dois quilómetros. A tecnologia alemã funciona a 240 GHz, o que representa um feito inédito na integração de transmissores e recetores eletrónicos integrados trabalhando a uma frequência tão alta.

O uso da faixa de alta frequência, entre 200 e 280 GHz, não apenas permite a transmissão rápida de grandes volumes de dados, como também resulta em equipamentos muito mais compactos. Com uma velocidade tão alta, os routers de fibras óticas poderão ser estrategicamente posicionados, chegando aos consumidores pelo ar, sem nenhum custo de infraestrutura. É quase como estares em casa, e ao mesmo tempo que estás a clicar no botão enter, a página está já a aparecer-te! Ou até, num hotspot que encontre num local público, na tua rua ou num café, teres uma velocidade tão grande que mesmo com vários utilizadores ligados em simultâneo, consegues fazer downloads a velocidades estonteantes. Isto promete!

VV

André Inês Teixeira Pinto

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do mundo

minha rede –

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Sítios personalizados Nalgumas das edições anteriores, falei-vos da possibilidade de criação de páginas pessoais ou institucionais, a partir de serviços já pré formatados, seja nas redes sociais disponíveis, “da moda”, seja através de servidores gratuitos de blogues. Para os mais arrojados ou criativos, e que não gostam tanto do regime das redes ou dos blogues, há um mundo também ele gratuito e com imensas possibilidades naquilo que nos proporciona. Refiro-me aos espaços de alojamento e criação gratuita de páginas que poderão ser utilizadas num âmbito mais pessoal ou familiar ou, até, como sites institucionais ligados a organismos públicos ou privados. Como tem sido apanágio deste espaço, o objectivo é proporcionar-vos o acesso a materiais digitais que não impliquem custos acrescidos ao utilizador, para além do simples acesso à Internet. Sabemos que hoje, mais do que antes, é importante encontrarmos formas de rentabilizarmos tudo o que temos à nossa disposição, sem onerar os nossos orçamentos de forma desnecessária ou menos importante. Tudo, no entanto, depende dos intentos que temos delimitados. Referi, então, que é possível, para aqueles que mais se interessam por estas temáticas da produção digital, criar páginas de forma gratuita através de serviços de alojamento online, sem, friso, grandes conhecimentos de linguagens informáticas ou de programação. Os serviços que vos indico são bastante intuitivos e utilizam-se tão facilmente como se utiliza um processador de texto, uma folha de excel ou uma galeria de fotos. Apenas vos refiro alguns desses serviços a que

estou mais habituado, sem qualquer interesse em promover estes em detrimento de outros. Poderão, naturalmente, sempre fazer as vossas pesquisas e descobrir alternativas. O primeiro que vos aponto é o Wednode (http://www. webnode.pt/) – é em português. Basta criar uma conta e em poucos minutos poderão ter a vossa página publicada. Outro é o Wix (http://pt.wix.com/) – também está em português. O procedimento passa pela criação de uma conta e em seguida publicar os seus conteúdos em html ou flash. Ainda outro: o Weebly (http://www.weebly.com/ index.php?lang=pt) – que também podem utilizar em português - havendo a possibilidade de entrarem neste serviço com a vossa conta do Facebook. Tal como vos disse, apenas indico aqueles com que estou mais habituado a lidar. Estes serviços de alojamento são, no seu suporte mais básico, gratuitos, mas possibilitam-nos, ainda, uma margem de manobra considerável naquilo que podemos fazer. A partir dos templates oferecidos, é possível personalizar as páginas a nosso gosto. Há sempre, para os interessados, a possibilidade de subscreverem serviços adicionais, logo pagos, e que permitirão alojamento próprio de vídeos e outros conteúdos. Mais uma vez, divirtam-se nas vossas deambulações pela Internet e partilhem as vossas descobertas e produções.

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Victor Vieira

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38 – pessoas do mundo

Reconhecimento do trabalho e da dedicação

Padre Bernardino: Oficial da Ordem de Mérito Por decisão do Presidente da República, Prof. Aníbal Cavaco Silva, o Pe. José Bernardino de Abreu da Trindade foi galardoado com o Grau de Oficial da Ordem do Mérito no dia 10 de junho. A condecoração foi atribuída pelo Representante da República, por delegação expressa do Presidente da República. Juntamente com o P.e Bernardino foram condecoradas outras duas pessoas: a Professora Cecília Berta Fernandes e o Maestro João Eurico Martins. A cerimónia, com início às 11h30, decorreu no Salão Nobre do Palácio de São Lourenço, no Funchal, e contou com a presença das autoridades civis, militares e religiosas da Madeira e outros convidados para o solene evento. A Banda Militar da Madeira e o Coro de Câmara da Madeira tocaram e cantaram o Hino Nacional e o Hino da Região Autónoma da Madeira. Seguiu-se a alocução de Ireneu Barreto, Representante da República, que aludiu ao significado da celebração do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portugueses, fez uma leitura da situação social que a Madeira atravessa, incentivou as forças políticas à união de esforços e desafiou a sociedade a dar mais espaço e oportunidade aos jovens e ao seu poder criativo. Por fim, dirigindo-se aos galardoados, felicitou-os pelo trabalho que têm desempenhado em favor da comunidade. Após o discurso, três jovens estudantes, apresentaram textos literários e poéticos alusivos à efeméride a que se seguiu a imposição das condecorações. Concluiu-se a a cerimónia com a apresentação de cumprimentos aos agraciados e um Madeira de Honra. O P.e Bernardino, religioso da Congregação dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos) é pároco da Ribeira Brava desde 2001. Ao longo destes anos imprimiu um grande desenvolvimento à vertente da pastoral social com diversas iniciativas em favor das populações mais carenciadas. Destacam-se as seguintes: o lar com 45 utentes, o apoio domiciliário a cerca de 1.500 pessoas, a distribuição de duas refeições diárias a 280 pessoas, o apoio mensal em géneros alimentícios a 50 famílias, a prestação de cuidados continuados a 50 utentes, o acompanhamento a vítimas de maus tratos...

Por altura das enxurradas do 20 de Fevereiro de 2010, o P.e Bernardino foi das primeiras pessoas a conseguir atingir, a pé, a freguesia da Serra d’Água que ficara totalmente privada de comunicações e teve um papel preponderante no apoio social a essa população, movendo o Governo Regional e outras boas-vontades. Foi esta vasta acção social que justificou a condecoração que hoje atribuída pelo Presidente da República ao P.e Bernardino. A Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus alegra-se por este reconhecimento público que o Presidente da República teve para com o trabalho deste nosso confrade. Em nome de todos os confrades apresento as minhas felicitações e os parabéns ao P.e Bernardino.

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Zeferino Policarpo

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do bem estar

dentro de ti –

Nas coisas pequenas e simples encontramos motivos para sermos felizes

Uma dose de férias, por favor! As férias representam um período de grande importância para as pessoas, pois permitem o equilíbrio do estado psicológico e físico do ser humano. É nessa fase que a sensação de paz é estabelecida, assim como o descanso da mente e a renovação das emoções. As férias existem para evitar uma dose de “loucura” mental e física, pois representam uma paragem da rotina, das obrigações e das responsabilidades. O período de descanso nas férias, é visto por muitas pessoas, como o principal remédio para curar todos os males que ocorreram durante o ano. Boa parte das pessoas, faz um investimento muito grande, pois acredita que estes dias serão responsáveis pela tão esperada recuperação do equilíbrio perdido. As férias podem e devem ser realmente renovadoras. Não existem horários nem rotinas, jorram em abundância os tempos livres, a praia e as atividades ao ar livre são uma constante e ainda existem tantos outros prazeres que as merecidas férias nos proporcionam. É também durante o período de férias, que devemos viver os nossos sonhos e esperanças, fazendo da FÉ, a nossa maior inspiração. Muitas vezes é nas coisas simples e pequenas da vida, que encontramos um GRANDE motivo para sermos felizes. “Ter fé é assinar uma folha em branco e deixar que Deus nela escreva o que quiser”. Santo Agostinho Mas, eis que é chegado o fim das férias e o retorno ao trabalho e à escola, às rotinas diárias e tantas outras coisas, que explicam uma boa parte de um desgaste emocional, vivenciando antecipadamente toda angústia que o trabalho e a volta à rotina nos provoca. Frente a esta situação, deveremos refletir sobre a possibilidade de uma mudança nas nossas vidas, como por exemplo: porque será que muitos de nós deixamos os momentos de prazer reservados para uma só época do ano? O que nos impede de encarar o trabalho, a vida pessoal e familiar, não somente como obrigação, mas também como uma fonte constante de renovação e realização? A maioria das pessoas, exibe sinais de mal-estar nos primeiros dias de reinício de trabalho, como irritabilidade, impaciência, má qualidade de sono, dores de cabeça e alguma tristeza e ou outros sintomas físicos, sem uma explicação médica evidente.

Mas, podemos reduzir estes sintomas através de ações concretas e simples. Eis alguns conselhos: devemos tirar o dia antes de começar a trabalhar para deixar tudo preparado, como por exemplo: arrumar as malas de viagem, verificar a roupa de trabalho, orientar as questões domésticas, ir ajustando o horário fisiológico progressivamente aos horários de trabalho (horas de deitar e acordar, horas de refeições), visitar a família e organizar com calma tudo o que os adultos e as crianças vão necessitar para os dias seguintes, etc. Não há nada pior do que sair do avião à meianoite de domingo e “picar o ponto” às nove da manhã de segunda-feira. Assim sendo, aproveito a oportunidade, para desejar umas excelentes férias e convidá-lo(a) a viver todos os dias com alegria, paz, amor e FÉ, como se o amanhã não existisse. VIVA com gosto esta dose de férias!

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Rosário Lapa

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40– reportagem especial

Uma experiência muito rica

Nos Estados Unidos, com os Índios Sioux Foi no início de Abril que deixei Paris, rumo a Chamberlain, South Dakota, algures nos Estados Unidos da América. Era uma longa aventura em que me metia, para poder cumprir o último estágio do meu Master de Solidariedade e Ação Internacionais. Que razões me trouxeram ao South Dakota e a Chamberlain? Haverá, certamente, lugares mais interessantes nos Estados Unidos para conhecer e visitar. Mas como o objetivo principal da viagem não é turismo…

South Dakota, Chamberlain, Reservas Índias Se nos dermos ao trabalho de pegar num mapa dos EUA, vemos que South Dakota é um Estado que se situa no centro norte do país. South Dakota não é seguramente a primeira coisa que nos vem à cabeça quando ouvimos falar dos EUA. Agora que aqui estou, posso afiançar-vos que se trata dum Estado muito pouco povoado (numa área o dobro de Portugal vivem pouco mais de 800 mil pessoas), sem grandes cidades, com áreas enormes completamente desabitadas, com um ou outro imenso rancho disperso ou com reservas índias perdidas no meio do nada. Mas tem paisagens e belezas naturais extraordinárias e algumas atrações turísticas dignas de registo.

O que é Chamberlain neste imenso South Dakota? É um pequeno ponto no mapa, uma cidadezinha de 2.400 habitantes. Mas que se tornou de visita obrigatória por alguns motivos que veremos e que tem também a vantagem de ficar mesmo junto à famosa I-90, a maior estrada interestados do país, com quase 5 mil quilómetros, de Boston a Seattle, de oriente a ocidente. É uma estrada magnífica, que percorro muitas vezes, com retas a perder de vista e paisagens de suspender a respiração. Esta estrada faz com que Chamberlain, aparentemente perdida no mapa, esteja perto e em ligação ao resto do mundo. Chamberlain atrai visitantes especialmente por dois motivos: porque aqui passa o rio Missouri, num troço privilegiado para a pesca, um dos grandes hobbies americanos; por outro lado, a cidade tornou-se conhecida pela promoção e preservação da cultura e das tradições Sioux, particularmente por ação da Saint Joseph’s Indian School e o seu museu Akta Lakota, obras dehonianas. Este trabalho estende-se a algumas das reservas índias, onde vivem e trabalham padres dehonianos.

Missão dehoniana em South Dakota Tive já oportunidade de conhecer praticamente todo o Estado de South Dakota, e também os Estados de Montana e Wyoming, durante uns campos de férias que fiz com os jovens da nossa escola; recentemente atravessei os Estados de Minnesota e Wisconsin, para participar na Assembleia da Província US dehoniana. Tenho visto paisagens, parques e reservas naturais que me têm deixado simplesmente deslumbrado. Tratando-se de enormes planícies ou infindos planaltos, o céu parece não ter limite, o horizonte é quase sempre imenso – o Estado de Montana é conhecido como o Estado do grande céu! Há verdadeiros santuários de vida selvagem, onde facilmente podemos avistar búfalos, antílopes, coiotes, lobos, raposas, faisões, perus (aqui são selvagens!), grande variedade de veados, os cães da pradaria (os meus preferidos), uma infinidade de pássaros… South Dakota é um Estado claramente marcado pela presença, pela cultura e pelas tradições de algumas tribos índias, nomeadamente os Sioux.

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Na linha da espiritualidade dehoniana que nos leva a procurar trabalhar com os mais desfavorecidos da sociedade, nos EUA uma das escolhas para exercer a missão foi o South Dakota. O trabalho desenvolvido pelos dehonianos neste Estado centra-se em dois polos de atividade: trabalho paroquial e escola. Contando comigo, neste momento há 9 dehonianos em South Dakota. A paróquia católica de Chamberlain está entregue aos nossos cuidados pastorais, bem como a pequena paróquia de Pukwana, nos arredores. Nas reservas índias de Lower Brule e Crow Creek trabalham três padres dehonianos, um americano e dois indonésios. As reservas são verdadeira terra de missão. A título de exemplo, Fort Thompson, uma das comunidades que nos está confiada, é considerada a região mais pobre dos EUA. Há sérios problemas entre estas comunidades índias que foram deslocadas do seu meu ambiente e têm muita dificuldade em se adaptar às novas condições de

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do mundo

jd-Algarve – vida. As famílias são muito afetadas por questões relacionadas com droga, álcool e violência doméstica. A dificuldade de adaptação leva à depressão e as taxas de suicídio são muito elevadas. Os nossos missionários procuram minimizar estes problemas e correm de comunidade em comunidade a anunciar o Evangelho e a levar palavras e gestos de partilha e de esperança. Correr é mesmo o termo mais correto, pois as pequenas comunidades estão muito espalhadas por uma imensa superfície. Já fui por diversas vezes celebrar às comunidades das reservas. Só para se fazer uma ideia, no Domingo passado fiz 300 km, ida e volta, para ir celebrar a uma comunidade! Mas é muito bom encontrar a pequena comunidade reunida e ver como depositam esperança na presença e ação dos missionários.

O grande projeto dehoniano nesta área é, sem sombra de dúvida, a Saint Joseph’s Indian School, onde vivo, trabalho e passo a maior parte do tempo. Não é apenas uma escola, é uma mega organização! É uma escola muito especial, porque os seus alunos provêm das diversas reservas índias e moram cá. São cerca de 200 e há outros tantos funcionários. Boa parte destes funcionários são os responsáveis pelas residências, uma vez que todos os alunos são internos e ocupam dezanove residências, cada uma com um casal responsável, mais os “suplentes” para as folgas e férias. A escola nunca fecha. Já acabaram as aulas, mas há atividades de verão para as crianças das reservas e estão cá alguns alunos que não têm família com quem possam passar as férias (onde é que eu já vi isto!). A escola é de facto uma máquina muito bem montada e oleada e eu limito-me quase a ser apenas mais um na família. A língua utilizada em praticamente todas as atividades da escola é o inglês. Mas as línguas e a cultura das diferentes tribos e subtribos do povo Sioux não são esquecidas. Há um departamento na escola que promove muitas iniciativas com o intuito de proteger e promover a cultura, a língua e as tradições ancestrais. A música é uma constante, sobretudo a tocada pelos tambores sagrados. Mas há também festas

(Pow Wow, com muita dança e os trajes tradicionais de cada tribo, é a mais importante), ritos e tradições que se quer preservar. Já participei em várias destas iniciativas, fico encantado com o som dos tambores e com o ritual que os envolve; ter participado numa Pow Wow levou-me a um mundo que pensei que só existia nos filmes! Vou ouvindo umas conversas em lakota, vai ficando uma palavra ou outra, mas não dá para aprender a língua! A “menina dos olhos” da escola é o museu Akta Lakota. Trata-se dum moderno espaço, recentemente ampliado e renovado, que procura reproduzir a vida e costumes das tribos Sioux que viviam, e vivem, em South Dakota. É um lugar cada vez mais visitado, vindo gente de todo o país e mesmo estrangeiros. A mim tem-me dado muito jeito, porque tem uma rica biblioteca, onde posso fazer as minhas pesquisas acerca da história e cultura Sioux. Já faço parte da “mobília” do museu, tantas são as horas que ali passo. Temos duas capelas e uma igreja no campus escolar. Todos os dias rezamos missa e fazemos adoração numa das capelas, com a participação de alguns funcionários e, uma vez por outra, de alguns alunos. Ao Domingo celebramos na igreja para toda a comunidade e alguns vizinhos que se associam. A escola tem orientação católica, mas ser católico não é condição obrigatória para frequentar a escola. Há alunos que são de outras religiões e outros que não professam qualquer religião. Estes estão dispensados das celebrações, mas vão quase sempre, com os amigos… Nas celebrações, sobretudo nas dominicais, é frequente misturar cânticos em inglês e em lakota, e às vezes em espanhol. Enfim, podia estar aqui tempo infindo a descrever a escola, a missão, os rituais e costumes índios… Mas talvez a revista não fosse suficiente para tal. Tentei traçar-vos um retrato geral desta minha experiência por terras americanas. Tem sido muito boa, embora ao princípio não tenha sido nada fácil, seja pelo clima agreste, seja pelos costumes e hábitos de vida completamente diferentes. Mas agora já me sinto em casa. Uma das coisas que me tem dado mais gozo é passar por estas imensas paisagens que via nos filmes (daqui a dias vou visitar a “pequena casa na pradaria”, para quem se lembra), encontrar e falar com as pessoas nas reservas, ler, ler muito, e perceber que as histórias dos filmes estão frequentemente muito mal contadas… Talvez aquilo que mais vos surpreenda seja esta constatação de ser este país terra de missão. Mas é mesmo, porque também aqui há os pobres, os esquecidos e marginalizados da sociedade, a quem é preciso trazer esperança e conforto, com quem é preciso lutar por mais justiça e equidade, a quem é imperioso anunciar e testemunhar o amor de Deus.

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José Agostinho Sousa

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42– jd-Açores do mundo

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Adoração e Caminhada JD-Açores

e o r e p em

e d a d i r cla

No Sábado, dia 8 de junho, a JD-Açores reuniu-se num encontro/caminhada, para celebrar, à sua maneira, a festa do Sagrado Coração de Jesus.

Participaram os jovens das paróquias do Cabouco, da Fajã de Cima e do Livramento. O encontro teve três partes, cada qual preparada por cada um dos grupos. O acolhimento e o final ficou a cargo dos grupos de jovens da paróquia do Livramento, e a caminhada foi animada pelos grupos do Cabouco e da Fajã de Cima. Iniciámos o encontro com um momento de adoração eucarística. Aos momentos de oração individual e de silêncio seguiu-se a apresentação de dois diaporamas, onde a mensagem principal foi a de que Deus tudo criou com um propósito. Todos nós, criaturas de Deus, temos uma razão para existir, e esta razão é amar. Nós cristãos temos de ser luz e sal na vida dos outros. Nós cristãos temos de ser o “tempero” e a “claridade” que o mundo de hoje necessita, à maneira de Jesus Cristo. Cheios da luz que nos veio do Santíssimo, partimos em caminhada. Ao longo do caminho fomos meditando nos dons, nos talentos que Deus nos concede. A cada um foi dado um talento, no qual fomos refletindo ao longo do percurso. A meio do caminho, fomos convidados a partilhar o talento que nos coube em sorte, apresentando as dificuldades que encontramos em por a “render” os talentos que o Senhor nos dá. Da partilha ficou a ideia de que já conseguimos por alguns dos talentos a frutificar, mas ainda temos muito “caminho” a percorrer.

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da juventude

jd-Madeira –

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O nosso encontro terminou já de noite escuro, junto ao mar, na praia. Com tochas a iluminar a passagem, encontrámos numa rocha a imagem de Jesus de braços abertos. Perante tal cenário, fomos convidados a recolher uma pedra, grande ou pequena, consoante a nossa opção. A pedra simboliza tudo aquilo que na nossa vida nos afasta de Deus, tudo aquilo que nos impede de sermos totalmente dele. Depois de uns momentos de silêncio orante, atirámos as nossas pedras ao mar, como que a lançarmos para longe de nós as “pedras” do nosso egoísmo, vaidade, orgulho... que nos afastam de Deus. Foram momentos bonitos os que vivemos neste encontro. São momentos como estes que nos fazem crescer na fé. Com o contributo de todos saímos mais enriquecidos. Como mencionado no encontro, faz todo o sentido realçar as palavras de São Paulo: “Há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo; há diversidade de serviços, mas o Senhor é o mesmo; há diversos modos de agir, mas é o mesmo Deus que realiza tudo em todos.” (1 Cor 12, 4-6)

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Luís Bisarro

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44– jd-Porto

s a h n a t n o m e v o m é F A FM à vista!

da juventude

Lançamento oficial das Férias Missionárias 2013, em Besteiros – Paredes

Sabemos que a força da Fé é transcendente e nos faz passar além de todas as dificuldades. É a Fé que nos faz mover e dá alento à nossa vida. Assim foi, no passado dia 10 de junho na freguesia de Besteiros – Paredes. A Fé moveu montanhas e moveu vários corações de jovens de outras regiões da Diocese do Porto e Aveiro, bem como corações da comunidade de Besteiros. A caminhada feita nesta paróquia, que contou com muitos participantes, contemplou quatro etapas, as que mais se destacam no início da nossa vida Cristã. Começámos pelo Batismo, foi o momento de acolhimento, tal como todos nós fomos acolhidos no nosso Batismo pela comunidade Cristã. Nesta etapa todos os participantes formaram um grande círculo simbolizando a união, em que todos estão virados para o mesmo centro, que é Jesus Cristo. Assim como no Batismo, quando fomos aspergidos com água benta para nos tornarmos membros da Igreja, também se repetiu o mesmo ato de forma a relembrar esse momento. Todas as pessoas passaram por dois membros da JD, que assinalaram uma cruz nas suas testas com água.

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Terminada esta grande etapa que nos impulsiona a entrada na Igreja, começámos a caminhada. Durante as passagens entre as várias fases, o caminho foi feito com bastante animação e música celebrando a presença de Deus nas nossas vidas. Da primeira até à segunda paragem, tivemos de percorrer um caminho com uma ligeira subida de dificuldade média, relembrando que nem sempre o caminho da nossa vida é fácil, mas que com Fé em Deus tudo é possível. Entretanto chegámos à 2ª etapa, a Primeira Comunhão, momento em que recebemos dois Sacramentos: a Penitência e a Eucaristia. Esta paragem foi feita no Calvário, local ideal para relembrar o passo mais importante aquando a nossa Primeira Comunhão, o de receber Cristo pela primeira vez nos nossos corações. Nesta paragem houve uma breve introdução deste momento e de seguida simbolizou-se o gesto que Jesus teve com os seus discípulos na Última Ceia. Repartimos o pão por todos os participantes e bebeu-se, não o vinho, mas sumo de uma forma simbólica. No final deste momento de partilha seguiu-se com a caminhada que nos levará até à 3ª etapa. Esta passagem não apresentou qualquer dificuldade, o caminho era fácil e maioritariamente a descer.

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A caminhada JD-Porto, no 10 de junho, marca o lançamento oficial das Férias Missionárias (FM) de cada ano.

Chegámos então à 3ª etapa, a Profissão de Fé. Até este momento, à luz do Batismo, foram os nossos pais e padrinhos que aceitaram o compromisso de nos guiar sempre no caminho da Fé, agora somos nós que reafirmamos e expressamos sem receio “Eu Creio!”. Esta paragem foi animada pelos catequizandos que irão professar a Fé este ano na Paróquia de Besteiros. Estes mostraram em cartazes onde estão todas as verdades da nossa Fé, no Credo. Terminou-se esta etapa com a música “Eu Creio em Jesus”. Caminhámos rumo ao Monte de S. Domingos, que se encontra no ponto mais alto da freguesia, por isso esta última passagem foi a que apresentou o grau mais elevado de dificuldade de toda a caminhada.

A última etapa foi feita no cimo do monte, relembrou-se o Crisma, quando recebemos o Sacramento da Confirmação. Também aqui se simbolizou o momento fazendo a cruz em cada pessoa com óleo. Libertando-se de seguida duas pombas, exemplificando o que Deus quer para nós, que sejamos livres vivendo a alegria da Fé. Houve momento de partilha e divertimento. Depois do lanche fizemos vários jogos tradicionais: malhas, sacos, corda, entre outros. Para terminar o encontro fomos enviados a levar tudo o que recebemos ao longo desta caminhada para a nossa vida do dia-a-dia, vivendo à luz de como Jesus viveu. Por estarmos junto da capela de S. Domingos, foi relembrada a vida deste grande santo que muito fez para renovar a Igreja e combater a heresia, fundando a Ordem dos Pregadores a fim de defender a ortodoxia católica. Com estes exemplos de fé e com a certeza de que Deus crê em nós, seguimos para as nossas vidas com mais energia e força a fervilhar nos nossos corações, com a convicção de que se a Fé move montanhas também moverá muito mais corações. Com o mesmo espírito teremos, de 20 a 29 de julho, as Férias Missionárias 2013 aqui na nossa paróquia. Pelo entusiasmo experimentado nesta caminhada, é de esperar umas FM espetaculares!

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Filipa Freire

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46– agenda

da juventude

Innsbruck

Munique

JD-Madeira Julho

17 − Oração de Taizé no Colégio Missionário. 20-28 − Férias Missionárias 2013.

Outros modos de viver a Fé em Cristo. Divulgue o programa entre os seus familiares, conhecidos e amigos

JD-Porto Julho

04 − AdOração no Centro Dehoniano. 07 − Dia Solidário – Lar Pinheiro Manso. 20-29 − Férias Missionárias 2013 - em Besteiros. 27-28 − Rio in Douro.

Agosto

Viena

Salzburg

04 − Dia Solidário – Lar Pinheiro Manso.

Setembro

20-22 −Jornadas Missionárias - II Jornadas Nacionais de Patoral Juvenil 27-28 − Valentíadas em Betânia.

Informações e reservas pelo 914 122 384 / 255 871 800 ou peantonioaugusto@hotmail.com P.e António Augusto, scj - Betânia - Duas Igrejas - Paredes

DEHUMOR

“As viagens são uma fonte inesgotável de estudo.”

(Padre Dehon)

LÁ SE VAI A NOSSA AVALIAÇÃO

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Paulo Vieira

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tempo livre

passatempos –

tem piada

Malhada... O carro avaria e o homem abre o capot. Nisto, aparece uma vaca malhada que se aproxima do veículo. O homem olha para a vaca, a vaca olha para o interior do carro, olha para o homem e diz: – Parece ser o carburador... O homem fica de boca aberta e a vaca segue o caminho dela. O homem caminha até uma casa, encontra um agricultor e diz-lhe: – Olhe, o meu carro avariou ali à frente e apareceume uma vaca que me disse que devia ser do carburador... – Era uma vaca malhada? – Era... – Ah, não ligue... Ela não percebe nada de carros!

danos a terceiros Um jovem entra num consultório médico e diz: – Muito obrigado, doutor. Muito obrigado! Eu nem sei como lhe agradecer tudo o que fez por mim! – Mas… Eu não me lembro de o ter tratado. – E não tratou! Mas tratou o meu tio! Eu sou o herdeiro!

relógio de parede

António mostra orgulhosamente o seu novo apartamento a um amigo, após um jantar bem regado. O amigo repara numa enorme tampa de panela pendurada numa parede e pergunta: – O que é aquilo? – É o meu relógio! – E como funciona? – pergunta o amigo. António pega num martelo e arregaça uma pancada enorme no gongo. De repente, ouve-se do outro lado da parede: – VOU CHAMAR A POLÍCIA!…. SEU CRETINO… SÃO DUAS HORAS DA MANHÃ!!!!!! – Vês… nunca falha!

curiosidades Férias

Quem inventou as férias foi um norte-americano chamado John Silvy, que era empregado de limpeza do Senado Americano em 1835. Ele estava cansado de trabalhar tanto e resolveu aproveitar o fácil acesso que tinha às gavetas dos senadores (precisava de limpar tudo, logo, tinha uma chave para tudo) para falsificar um pedido de votação para uma lei que garantiria aos trabalhadores um período de descanso (até então, não existia esse conceito entre os empregadores). A lei foi aprovada, pois John já sabia de antemão em que local ficavam as leis que eram aprovadas e as desaprovadas (os senadores não liam nada, apenas seguiam o que estava pré-definido pelo presidente). Apesar do susto, após terem descoberto a asneira que tinham feito, os senadores não tiveram escolha pois não era possível voltar atrás numa lei que tinha acabado de ser aceite por unanimidade. A partir daí, o mundo imitou os Estados Unidos e esse período de descanso passou a vigorar em quase todo o planeta. O termo “férias” surgiu porque John, espertamente, colocou no seu “projeto lei” que os funcionários no período de descanso continuam a receber a féria do mês. Como o descanso era em dois meses, seriam duas férias. Os empresários ficaram com tanta raiva que, jocosamente, passaram a chamar isso de “férias imerecidas” e, mais tarde, por preguiça, apenas de “férias”. Com o tempo, o termo tornou-se sinónimo desse período de descanso.

quebra-cabeças 3 homens e 1 barco Três homens querem atravessar um rio. O barco suporta no máximo 130 kg. Eles pesam 60, 65 e 80 kg. Como devem proceder para atravessar o rio, sem afundar o barco?

Solução de junho •Enchemos a vasilha de 3 litros. •Passamos os 3 litros para a vasilha de 5 litros. •Enchemos outra vez a vasilha de 3 litros. •Enchemos a vasilha de 5 litros com a outra, sendo que sobrará 1 na de 3. •Esvaziamos a de 5 no barril. •Enchemos o litro da vasilha pequena na de 5. •Enchemos a de 3 e esvaziamos na de 5, que como já tinha 1, terá 1+3 = 4. •No barril sobra 4 litros para o outro amigo.

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Paulo Cruz

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28-06-2013 12:13:02


Vamos entrar no Ano Pastoral 2013-2014, em que faremos memória dos 100 anos do início da Primeira Grande Guerra, refletindo sobre a nossa dimensão de “profetas do amor e servidores da reconciliação”. Faremos os nossos encontros a nível regional em cada Centro e, de 3 a 10 de agosto de 2014, teremos o Encontro Europeu da Juventude Dehoniana, com o tema “A Paz é contigo!”. (Mensagem do XVI Enc. Nac. JD) Entretanto já se vão esboçando as primeiras imagens:

Um grande obrigado também aos articulistas, que, mesmo não tendo participado nesta edição, foram inexcedíveis na dedicação e na competência… e ficam aqui os seus rostos.

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J. Costa Jorge

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Tiago Esteves

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Armando Silva

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Mª Espírito Santo

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Olinda Silva

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Maurília Araújo

28-06-2013 12:13:06


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