Guilhermina Augusta Xavier de Medim Suggia – os violoncelos
Guilhermina Augusta Xavier de Medim Suggia Os violoncelos, Stradivarius (Cremona, 1717) e Montagnana (Cremona, 1700) Guilhermina Suggia nasceu em 27 de junho de 1885, na freguesia de S. Nicolau, no Porto e morreu na noite de 30 de julho de 1950, na sua casa da Rua da Alegria, 665, também no Porto. Filha de Augusto Jorge de Medin Suggia (Lisboa, 11 de Março de 1851 - 29 de Março de 1932), de ascendência italiana e espanhola, e de sua mulher Elisa Augusta Xavier (Lisboa, 26 de Novembro de 1850 - 29 de Outubro de 1932). O pai foi violoncelista no Real Teatro de São Carlos e professor no Conservatório de Música de Lisboa. No seio deste ambiente familiar Guilhermina terá começado a estudar música aos 5 anos, tendo seu pai como primeiro professor. A sua primeira aparição pública verificou-se quando tinha sete anos de idade, em Matosinhos. Guilhermina ao violoncelo e a sua irmã Virgínia (3 anos mais velha) ao piano, eram convidadas para actuar no seio cultural portuense. Com apenas 13 anos, Guilhermina era violoncelista principal da Orquestra da Cidade do Porto, tocando também com o quarteto de cordas Bernardo Moreira de Sá. Em 1898, o pai consegue que ela tenha umas aulas com o famoso violoncelista Catalão Pablo Casals, que nesse Verão actuava no casino de Espinho. Durante várias semanas Guilhermina e seu pai fazem os 16 quilómetros de comboio que separam a cidade do Porto da de Espinho, transportando o violoncelo e as partituras. Em Março de 1901 as duas irmãs atuaram no Palácio Real de Lisboa. Com 15 anos apenas, Guilhermina respondeu a uma interpelação da rainha Dona Amélia sobre qual seria o sonho da sua vida, dizendo que gostaria de aperfeiçoar os seus conhecimentos musicais no estrangeiro. 1
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http://pt.wikipedia.org/wiki/Guilhermina_Suggia
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Uns meses depois a coroa portuguesa concedeu-lhe uma bolsa para estudar no local da sua eleição, o que possibilitou a ida, acompanhada pelo pai, para o conservatório de Leipzig, Alemanha, onde iria aprender com Julius Klengel, violoncelista da famosa Gewandhaus Orquestra dirigida por Arthur Nikisch, em Novembro de 1901. A vida de pai e filha em Leipzig era extremamente difícil pois a bolsa cobria os custos com as aulas e a estadia de Guilhermina mas não de seu pai nem das despesas acessórias que iam sendo necessárias. Família de poucos recursos, rapidamente a situação financeira se foi degradando, com a irmã mais velha, pianista até então já conhecida, a sacrificar a sua carreira futura para sustentar irmã e pais, dando aulas particulares de piano a um grupo de alunos. Com 20 anos, Virgínia providenciava o sustento da família sendo a única que trazia proventos e que financiava todo aquele investimento na irmã. Apesar da agudização da situação financeira, o regresso de Guilhermina foi adiado sucessivamente até à sua apresentação histórica no concerto comemorativo do aniversário da orquestra Gewandhaus em 26 de Fevereiro de 1903. Tinha apenas 17 anos. Nunca um QUADRO DE AUGUST JOHN, DA TATE GALLERY, Londres intérprete tão jovem havia actuado com a orquestra, muito menos como solista e menos ainda do sexo feminino. O êxito foi total e, face aos pedidos do público, o maestro pediu-lhe que repetisse toda a actuação. Começava aqui o seu sucesso internacional. Em 1906 Suggia está em Paris e toca para Casals, que havia conhecido oito anos antes em Espinho, e com quem se tinha reencontrado em Leipzig, durante as visitas do catalão ao professor Julius Klengel. Nesse mesmo ano começa a partilhar com ele a mesma casa, a Villa Molitor, sendo famosos os convívios do casal com pintores, músicos, filósofos e escritores. O romance com Pau Casals,[2] músico famoso, encheu as páginas dos jornais. O compositor húngaro Emánuel Moór dedicou-lhes o "Concerto para dois violoncelos". Todavia em 1913 o casal separa-se de uma forma abrupta, possivelmente por motivos passionais. Guilhermina muda-se para Londres no ano seguinte e Casals casa-se com uma cantora norte-americana. Guilhermina vai viver para Londres tornando-se este o centro da sua actividade musical. Durante a sua estadia em Londres tocou com a Royal Philharmonic Society, a State Simphony 2
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Orchestra, a BBC Symphony Orchestra, a London Symphony Orchestra. Os seus recitais no Royal Albert Hall ou no Wigmore Hall motivam as melhores críticas da imprensa da época. As entradas em palco eram descritas como imponentes e a interpretação como revelando um domínio absoluto do instrumento e a compreensão total da obra tocada. As críticas da altura referem que os aplausos são estrondosos, ressoando nas salas com assistências enfeitiçadas. Suggia é, acima de tudo, aclamada.
A casa Apesar de se manter ligada à capital inglesa, adquire em 1924 casa na Rua da Alegria 665 no Porto, cidade onde se vem a casar a 27 de Agosto de 1927 com o médico José Casimiro Carteado Mena (10 de Fevereiro de 1876 - 20 de Março de 1949), de quem não teve descendência. Nos anos 30 regressa de vez à sua terra natal reforçando os laços musicais com compositores e intérpretes portugueses, tocando no Porto, em Lisboa, Aveiro, Viana do Castelo, Braga e pela mão de António Madeira em Viseu. No final dos anos 40 promove com Maria Adelaide de Freitas Gonçalves, directora do Conservatório de Música do Porto, a criação da Orquestra Sinfónica do Conservatório, integrando alunos finalistas dessa escola, tendo Guilhermina sido solista no concerto de apresentação da Orquestra, a 21 de Junho de 1948, no Teatro Rivoli.
casa onde viveu Guilhermina Suggia - rua de Alegria 665
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Guilhermina à janela com o seu cão
Em 1949, Guilhermina, com sinais da doença fatal que a afectava, cria o Trio do Porto, constituído por ela, pelo violinista Henri Mouton e pelo violetista François Broos. Em 31 de Maio de 1950 toca pela última vez em público, num recital no Teatro Aveirense, para os sócios do Círculo de Cultura Musical de Aveiro, acompanhada ao piano por Maria Adelaide de Freitas Gonçalves. Em Junho foi sujeita a uma cirurgia numa clínica em Londres mas foi detectado um cancro inoperável. Na altura é acarinhada pelos amigos e fica especialmente sensibilizada pelo bilhete e flores que recebe da Rainha de Inglaterra. Aceitando o seu destino, regressou ao Porto onde veio a falecer em casa na noite de 30 de julho de 1950.
Em 1923 o Governo de Portugal agraciou-a com a insignia de oficial da Ordem de Santiago da Espada, uma honra raras vezes concedida a senhoras, e em 1937 foi promovida a comendador da mesma Ordem. Em 1938 foi-lhe concedida a Medalha de Ouro da cidade do Porto.
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Embora nesta fotografia não seja bem visível, as placas na Rua Guilhermina Suggia, no Porto, referem como data de nascimento da grande violoncelista 1888 em vez de 1885. Há a certeza de que Suggia nasceu na Rua Ferreira Borges em 27 de Junho de 1885.
Os violoncelos
Guilhermina Suggia tinha vários violoncelos. Entre eles destacam-se os famosos Stradivarius (Cremona, 1717) e Montagnana (Cremona, supostamente em 1700; na etiqueta o terceiro algarismo não está completamente legível, embora se assemelhe a um zero). Suggia fez poucas gravações. Para além das gravações existentes em 78 rotações, está atualmente disponível no mercado o CD Guilhermina Suggia plays Haydn, Bruch, Lalo, na etiqueta Dutton (CDBP9748), U.K., 2004.2 Por desejo testamentário foram ambos vendidos e com o fruto da sua venda foram instituídos prémios anuais aos melhores alunos de violoncelo da Royal Academy of Music de Londres, do Arts Council da Grã-Bretanha e do Conservatório de Música do Porto. Violoncelo surgiu no séc XVI, como um mero instrumento de conjunto e só no século seguinte, quase no final do Barroco, se iniciou a sua carreira a solo, quando as suas características dimensionais foram estabelecidas por Stradivari e Amati. Destacaram-se também outros fabricantes. O mais famoso violoncelo parece ser o “Davidoff” de 1712. Um discípulo de Stradivari, Doménico Montagnana, foi o criador de alguns dos mais famosos violoncelos, entre os quais um que pertenceu à grande violoncelista portuguesa Guilhermina Suggia. O violoncelo é tocado com o executante sentado, mantendo o instrumento entre as suas pernas, apoiado no chão através de um espigão de altura regulável, e com o braço sobre o ombro esquerdo do executante3
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http://cvc.instituto-camoes.pt/conhecer/bases-tematicas/figuras-da-cultura-portuguesa/1411guilhermina-suggia.html 3
http://www.scielo.oces.mctes.pt/scielo.php?pid=S0870-83122009000200009&script=sci_arttext
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Stradivarius cremona
Em memória do pai deixará, um dia, ao Conservatório Nacional, um dos seus amados violoncelos. Guilhermina revolucionou o instrumento em técnica, posição e sonoridade. Abriu as portas profissionais do violoncelo às mulheres, até então quase fechadas. De facto, o considerável gasto de energia exigido para manejar a envergadura do violoncelo, acrescido do facto de as boas maneiras da época obrigarem a colocar o instrumento de um ou outro lado do corpo obrigando a uma significativa contorção do dorso, tornavam o instrumento ainda mais 6
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inacessível às executantes femininas.(Note-se que ainda em 1930 o violoncelo era tido como um instrumento indecoroso para as mulheres, sendo então proibida a contratação de violoncelistas mulheres pela própria orquestra da BBC).
Montagnana cermona
Para Suggia, o violoncelo é o mais extraordinário de todos os instrumentos, considerando-o ela o único que tem a possibilidade de suster um baixo por um longo período e a possibilidade de cantar uma melodia praticamente em qualquer registo. Porém, para que se revele a substância musical do violoncelo, é preciso que a técnica não seja estudada apenas como destreza, mas que tenda sempre para a música. "A técnica é necessária como veículo de expressão e quanto mais perfeita a técnica, mais livre fica a mente para interpretar as ideias que animaram o compositor". Guilhermina Suggia, "The Violoncello" in Music and Letters, nº 2, vol. I, Londres, Abril de 1920, 106. Em 1923 o pintor galês Augustus John haveria de deixar na tela[3][4] [5] para a posteridade um pouco da fibra e da atitude interpretativa de Guilhermina Suggia durante as suas actuações. 7
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Conforme o próprio relatou, durante as sessões no seu atelier, Suggia tocava Bach. É divino o momento que capta o pintor. Coloca-lhe, por isso, um fantástico vestido vermelho. Suggia tocava todos os importantes concertos da época para violoncelo e orquestra – os concertos de Haydn, Elgar, Saint-Saëns, Schumann, Eugen d'Albert, Dvořák.
(Foto do Expresso-11-12-2004)
Graças às negociações dos violoncelistas (com a Prof Madalena Sá e Costa sempre à frente) com a Câmara Municipal do Porto, o "Montagnana" de Suggia saíu do cofre-forte do Museu Soares dos Reis. Esta foi uma primeira vitória de todos os amantes de música. A outra será vermos o violoncelo a ser tocado pelos violoncelistas. Assim seja!
O destino dos violoncelos (Stradivarius e Montagnana) seriam conforma vontade de Guilhermina Suggia determinada em testamento: " Eu, Guilhermina Augusta Xavier de Medim Suggia Carteado Mena, viúva, violoncelista, residente na Rua da Alegria, número seiscentos e sessenta e cinco, desta cidade do Porto, encontrando-me no uso pleno das minhas faculdades e livre de qualquer coacção, faço por este meio e meu testamento e disposições de última vontade, para que se cumpram e respeitem tais como passo e enunciar: Sou Católica Apostólica Romana e, como tal, quero que o meu enterro se realize em obediência ao que manda a Santa Madre Igreja O meu corpo deverá ser sepultado no Cemitério de Agramonte, desta cidade, onde repousam as cinzas de meus pais e meu marido. Quanto aos bens que possuo e existam à data da minha morte, são eles assim distribuídos: -O meu violoncelo “Stradivarius” juntamente com dois arcos, um “Tourte” e outro “Voirin”, que se encontram na posse da Embaixada Inglesa em Lisboa, será enviado pelo nosso Embaixador à casa Hills de Londres, a fim de ser por ela adquirido ou vendido pelo melhor preço que se obtenha e o seu produto entregue à “Royal Academy of Music”, que o aplicará, segundo o
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melhor critério, por forma que o rendimento daí obtido se destine à criação de um prémio denominado “Guilhermina Suggia”, a atribuir, anualmente, ao melhor aluno de violoncelo, -Possuo outro violoncelo, “Montagnana”, que igualmente será vendido pelo melhor preço, quantia essa que lego ao Conservatório de Música do Porto – através da Câmara Municipal do Porto, se o dito Conservatório continuar a pertencer-lhe, ou do Estado, se porventura ele passar a ser nacional – a fim de, com o rendimento deste legado, se instituir, também, um prémio designado “Guilhermina Suggia”, a atribuir, em cada ano, ao melhor aluno de violoncelo do referido Conservatório. Nesta venda será dada preferência à Senhora Dona Maria Alice Ferreira, filha do Senhor Delfim Ferreira, morador na Rua Dom João Quarto, duzentos e trinta e nove, desta cidade, se esta, na devida altura, pretender adquiri-lo. Lego, ainda, ao mesmo Conservatório, a minha biblioteca musical – material de orquestra e literatura de violoncelo -, objectos esses a que será dada instalação condigna, para que, dessa forma, o culto, que eu toda a minha vida dediquei à arte musical, perdure e sirva de incentivo a todos – Mestres e Discípulos – que à Arte se dedicam. - O meu violoncelo Lockey Hill lego-o ao Conservatório Nacional de Lisboa, como homenagem a meu pai, que foi aluno desse Conservatório (…).
..." Neste extracto do testamento da grande violoncelista Guilhermina Suggia (1885-1950), percebe-se claramente a preocupação em deixar uma herança a Inglaterra e Portugal – segundo dizia, as suas duas Pátrias – que viesse a constituir um incentivo ao estudo da música e à interpretação musical. Ao que se sabe, Inglaterra aproveitou bem e de imediato a sua quota da herança, criando quase de imediato uma bolsa de estudo que já foi atribuída pela Royal Academy of Music a dezenas de jovens violoncelistas; Portugal demorou mais a compreender a importância e extensão do legado. Assim, a preciosidade, com mais de três séculos, que é o Montagnana, um dos violoncelos preferidos de Suggia, que a acompanhou pelo mundo fora, esteve até 2004 guardada e quase esquecida a embolorecer na cave da Câmara Municipal do Porto e, depois, num cofre-forte do Museu Soares dos Reis. A autarquia deixou-o sair em 2005 para ser exposto no Museu Romântico. Nesse ano foi tocado em vários concertos no Norte, por José Augusto Pereira de Sousa, Prémio Guilhermina Suggia de 1986, que também gravou o seu som em CD. Finalmente, neste mês de Junho, pela primeira vez depois da morte de Suggia, numa coorganização Antena 2 e Centro Cultural de Belém, voltou à capital, para ser se tornar o centro das atenções em dois recitais da integral das suites para violoncelo solo de J. S. Bach, que, ao que se diz, ela interpretava magistralmente. O responsável pela iniciativa foi Bruno Borralhinho, que é membro da orquestra alemã Dresdner Philharmonie e do agrupamento Ensemble Mediterrain.
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Este acontecimento, bastante noticiado, tem uma particularidade que passou despercebida e que aqui destaco por entender que constitui o cerne da própria Educação: o jovem Borralhinho pediu à Câmara do Porto autorização para usar o violoncelo de Suggia justificando que “a melhor maneira de o conservar é tocá-lo”. É verdade isto que ele disse: o conhecimento seja em que área for – artística, científica, filosófica… – é um bem muito frágil, mais frágil talvez do que a matéria de que o Montagnana é feito. A sua preservação e ampliação depende do valor que lhe atribuímos, sendo que essa atribuição precisa de ser ensinada e aprendida. Desta maneira, transmitir, atualizar e recriar o conhecimento é uma tarefa inacabada, que tem de ser constantemente retomada; de outro modo extingue-se.
Mais do que os três milhões de euros em que está avaliado, o violoncelo de excelente fabrico italiano, tem a sua valia no que representa para as pessoas que apreciam música e, em última instância, para o conhecimento. São essas pessoas que, como Bruno Borralhinho, têm responsabilidade de manter o conhecimento à luz do dia.4
Contudo; Na verdade a Câmara da altura não só não vendeu o violoncelo, como não legou ao estado aquando da passagem do Conservatório para a tutela do Ministério da Educação, o valor para que o prémio fosse instituído. À semelhança do que se fez em Londres seria necessário alterar o regulamento da atribuição do prémio. Em 1950 o Conservatório era a única Escola de Música do Porto. Hoje existem outras. Mas que se cumpra a vontade de Suggia. Que se dê bom uso do Montagnana, do espólio Musical deixado e que haja uma Câmara que determine o cumprimento da vontade de Suggia. E que o Estado cumpra também a sua missão. A falta de uso do Montagnana dando até como exemplo o Stradivarius que Suggia deixou em condições semelhantes à Royal Academy of Music, de Londres, e que nunca deixou de ser tocado. O Montagnana por inércia, incompetência ou ignorância de vários elencos camarários ao longo destes 55 anos chegou a estar nas piores condições: esteve em caves sem condições de armazenamento chegando a estar coberto de bolor. Esteve em Cofres fortes. Que seja tocado, evidentemente! E por quer tiver provas de que pode usar um instrumento desta importância. Mas que o violoncelo esteja ao serviço de grandes violoncelistas, como é o caso do José Augusto Pereira de Sousa. Isso é, sem dúvida de louvar. Ainda no Blog Joaquim Madeira refere: “A verdade é que o Montagnana agora está em melhores condições do que quando estava fechado. Os instrumentos de corda melhoram o seu som com o tempo, ao contrário dos de 4
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sopro (metais) que quanto mais novos melhor. Sei por fonte direta que o Montagnana, pelas condições onde se encontrava e pelo simples facto de não ser tocado, estava simplesmente a ficar sem som. Felizmente ele está agora a ser tocado, e por um viloncelista que justifica amplamente o uso. Alias vai ficar mais uns tempos até porque faltam as suites IV, V e VI, que estão em estudo. Esperemos que o Montagnana continue a ser usado. A vontade de Suggia não está a ser seguida, mas neste momento acho que está a ser seguida a sua intenção: que o instrumento seja tocado. O instrumento neste momento tem um valor (quase) incalculável, mas não pode deixar de ser tocado, o que se calhar passa por o vender (finalmente ser criado o prémio - raios partam a inercia deste país), ou então criar o prémio em que Montagnana seja utilizado pelo premiado. Pelo seu valor histórico e sonoro este instrumento não pode morrer.” Afixado por Joaquim Madeira em outubro 30, 2005 07:54 AM5 Boletim da Câmara Municipal do Porto – N.º 3 676 de 29 de Setembro de 2006 «Considerando que: A Orquestra Filarmónica Mundial reconhecida pela ONU e pela UNESCO, dirigida pelo maestro Carlo Maria Giulini, realizará três concertos em Paris nos próximos dias 21, 23 e 24 de Junho por ocasião do 25.º aniversário da Fête de la Musique, criada por Jack Lang na presidência de François Mitterrand. A Orquestra Nacional do Porto foi convidada a participar através da presença do chefe de naipe de violoncelos, Prof. José Augusto Pereira de Sousa que desde 2004 tem trabalhado o violoncelo Montagnana, que pertenceu a Guilhermina Suggia. O violoncelo, por esse motivo, encontra-se em excelente estado de conservação tanto mais que se prepara a gravação do segundo volume das suites de Bach. A deslocação do violoncelo a Paris para ser tocado nestes concertos, constituirá pela qualidade do instrumento e pelas referências que serão feitas à Cidade, oportunidade única de divulgação do Porto e da memória de Guilhermina Suggia. Esta iniciativa é, assim, de manifesto interesse municipal; PROPÕE-SE: Que ao abrigo da alínea b), do n.º 4, do artigo 64.º da Lei n.º 169/99, de 18 de Setembro, na sua actual redacção, seja autorizado o empréstimo do violoncelo Montagnana, propriedade do Município do Porto, ao Professor José Augusto Pereira de Sousa, para ser utilizado nos três concertos em Paris, nas condições do contrato de comodato em anexo, devendo ser indicada a propriedade desta Câmara em legendas e material impresso.» CONTRATO DE COMODATO Considerando que: A Orquestra Filarmónica Mundial reconhecida pela ONU e pela UNESCO, dirigida pelo maestro Carlo Maria Giulini, realizará três concertos em Paris nos próximos dias 21, 23 e 24 de Junho por ocasião do 25.º aniversário da Fête de la Musique, criada por Jack Lang na presidência de François Mitterrand. A Orquestra Nacional do Porto foi convidada a participar através 5
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da presença do chefe de naipe de violoncelos, Prof. José Augusto Pereira de Sousa que desde 2004 tem trabalhado o violoncelo Montagnana, que pertenceu a Guilhermina Suggia. O violoncelo, por esse motivo, encontra-se em excelente estado de conservação tanto mais que se prepara a gravação do segundo volume das suites de Bach. A deslocação do violoncelo a Paris para ser tocado nestes concertos, constituirá pela qualidade do instrumento e pelas referências que serão feitas à Cidade, oportunidade única de divulgação do Porto e da memória de Guilhermina Suggia. Esta iniciativa é, assim, de manifesto interesse municipal. Entre os abaixo assinados Primeiro Outorgante: Município do Porto, pessoa colectiva de direito público n.º 501 306 099, com sede e Paços do Concelho na Praça General Humberto Delgado, da Cidade do Porto, devidamente representada neste acto pelo Vereador do Pelouro da Cultura e Turismo, Senhor Prof. Doutor Fernando Mário Teixeira de Almeida, doravante designado como Primeiro Outorgante; Segundo Outorgante: Prof. José Augusto Pereira de Sousa, contribuinte n.º…, com domicílio na Rua………, doravante designado como Segundo Outorgante, É celebrado o presente contrato de comodato, aprovado em reunião de Câmara de …., que se rege pelas cláusulas seguintes: Primeira O violoncelo Montagnana é património municipal, pelo que o representado do Primeiro Outorgante é seu dono e legítimo possuidor. Segunda Pelo presente contrato o Primeiro Outorgante empresta e assim entrega ao Segundo Outorgante o referido violoncelo para que aquele o utilize nos aludidos concertos em Paris, nos próximos dias 21, 23 e 24 de Junho. Terceira Após a realização dos eventos mencionados na cláusula anterior, o Segundo Outorgante compromete-se a restituir o violoncelo. Quarta O Segundo Outorgante obriga-se a: 1. Guardar o violoncelo Montagnana, não fazendo dele uso imprudente e a restituí-lo em boas condições de conservação; 2. Relevar, nos momentos adequados, o apoio prestado pelo Município do Porto consubstanciado no presente empréstimo; 3. Apresentar relatório detalhado dos eventos. Quinta O Primeiro Outorgante assegurará que o contrato de seguro vigente contemple a extensão territorial do mesmo resultante do empréstimo do violoncelo Montagnana ao Segundo Outorgante. Sexta O incumprimento das obrigações emergentes do presente contrato ou desvio dos seus objectivos, pelo Segundo Outorgante, constitui justa causa de rescisão do mesmo, implicando a devolução imediata do violoncelo emprestado. 12
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Sétima Qualquer alteração ou revisão ao presente contrato carece de prévio acordo entre o Primeiro e Segundo Outorgantes, a celebrar por escrito. Oitava Em tudo o que não estiver especificamente previsto no presente contrato, observar-se-á o disposto nos artigos 1129.º e seguintes do Código Civil. Porto e Paços do Concelho, …. de ......................... de 2006. O Primeiro Outorgante: O Segundo Outorgante: ________ Aprovada, por unanimidade. Boletim da Câmara Municipal do Porto – N.º 3 775 de 22 de Agosto de 2008 3. PROPOSTA DE EMPRÉSTIMO DO VIOLONCELO «MONTAGNANA» A BRUNO BORRALHINHO, PARA UM CONCERTO NO CENTRO CULTURAL DE BELÉM. «Considerando que: O violoncelista Bruno Borralhinho é um dos músicos portugueses de maior destaque na actualidade e um dos poucos que desenvolve uma carreira internacional, como solista músico de câmara e de orquestra. É actualmente membro da prestigiada orquestra alemã “Dresdner Philharmonie”, sob a direcção do maestro Raphael Frühbeck de Burgos e membro fundador e director artístico do “Ensemble Mediterrain”, formação camerística de prestígio internacional sedeada em Berlim. Ao longo destes anos, tocou em algumas das mais famosas salas de concerto por toda a Europa, Rússia, Estados Unidos, Canadá e América do Sul. Trabalhou igualmente com maestros importantes – Daniel Barenboim, Claudio Abbado, Franz Welser-Möst, Kurt Masur, Kent Nagano, Yakov Kreisberg, Herbert Blomstedt, Christoph Eschenbach, Paarvo Jarvi – e solistas famosos – Anne Sophie Mutter, Martha Argerich, Maxim Vengerov, Daniel Müller-Schott, Alban Gerhardt, Pierre-Laurent Aimard, Rolando Villazón, Thomas Quasthoff – entre outros. Em Portugal, é importante destacar as participações em festivais e salas de elevada importância como, por exemplo, a Fundação Calouste 22 de Agosto de 2008 Reunião Privada da Câmara Municipal 2035 Gulbenkian, Centro Cultural de Belém, Culturgest, Teatro Académico Gil Vicente, Festival Internacional de Música de Leiria, Festival de Música de Alcobaça, etc. Ora, o tão ilustre violoncelista vai dar dois recitais muito importantes em Portugal, com a interpretação integral de seis Suites para Violoncelo de Johann Sebastian Bach, nos próximos dias 16 e 17 de Junho, no Centro Cultural de Belém. É neste sentido que vem pedir a este Município o empréstimo do violoncelo “Montagnana”, que pertenceu a Guilhermina Suggia e é propriedade deste Município, para ser tocado naqueles dois recitais. Tais recitais serão organizados e transmitidos em directo pela RDP – Antena 2, facto que lhes concede uma enorme projecção em termos de divulgação e promoção. Será, assim, uma oportunidade de divulgação do nome da insigne violoncelista portuense. 13
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Esta iniciativa é, assim, de manifesto interesse municipal; PROPÕE-SE: Que, ao abrigo da alínea b), do n.º 4, do artigo 64.º da Lei n.º 169/99, de 18 de Setembro, na sua actual redacção, seja autorizado o empréstimo do violoncelo “Montagnana”, propriedade do Município do Porto, ao violoncelista Bruno Borralhinho, para ser utilizado nos dois concertos, a ter lugar no Centro Cultural de Belém, em 16 e 17 de Junho, nas condições do contrato de comodato em anexo, devendo ser indicada a propriedade deste Município em legendas e material impresso.»
O Montagnana de Guilhermina Suggia foi avaliado pela Sotheby de Londres em três milhões de euros; mas segundo notícia de um jornal lisboeta de há alguns meses, corria o risco de se degradar irreversivelmente. Depois de ter estado fechado durante três anos no Museu Soares dos Reis, do Porto, foi transferido para o Museu Romântico da mesma cidade. Alguns músicos portugueses, tem tentado recuperar o instrumento para que seja tocado regularmente por violoncelistas portugueses e estrangeiros.
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Os Principais violoncelos de Suggia6
1-STRADIVARIUS Fabricado em Cremona, Itália, em 1717, sabe-se que este violoncelo, antes de pertencer a Guilhermina Suggia, foi propriedade de Lord Holden e de Mr. Bonamy-Dobree. Foi vendido pela casa Hill, de Londres, em 1951, a Edmund Kurtz por 8.000 libras. Hill teve um gesto absolutamente inédito: renunciou à comissão habitual para que o prémio instituído por Suggia ficasse intacto. Mais tarde foi usado pelo Crocker Quartette, nos Estados Unidos. É hoje propriedade da Stradivari Stiftung Habisreutinger, em Gersau, na Suiça. Em Novembro de 1950 foi ilustrado no the Strad Magazine. Em Abril de 1993 participou no Stradivarius Summit Concert, realizado no Japão. Dimensões do corpo: altura 75,8cm – larguras 33,7cm e 43,8 cm.
2-MONTAGNANA Fabricado em Cremona, em Itália, supostamente em 1700 (na etiqueta o 3º algarismo não está completamente legível, embora se assemelhe a um zero). Ficou na posse da Câmara Municipal do Porto após a morte de Guilhermina Suggia destinando-se a ser vendido e o valor da entregue ao Conservatório de Música do porto para que instituísse o prémio Guilhermina Suggia Dimensões do corpo: altura 74cm – larguras 36cm e 44 cm
3-LOCKEY HILL Fabricado em Londres, Reino Unido, em finais do séc. XVIII, princípios do séc. XIX (etiqueta sem data). Violoncelo que Guilhermina Suggia legou ao conservatório de Lisboa, como homenagem a seu pai, que aí estudou. Está no Museu da Música em Lisboa. Dimensões do corpo: altura 74 cm – larguras 35cm e 42,7 cm
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No livro “A Sonata de Sempre”, de Fátima Pombo, Edições Afrontamento, Porto, 1996
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Bibliografia CLÁUDIO, Mário, Guilhermina, INCM, Lisboa, 1986. POMBO, Fátima, Guilhermina Suggia ou o Violoncelo Luxuriante, edição português / inglês, Fundação Eng.º António de Almeida, Porto, 1993. POMBO, Fátima, A Sonata de Sempre, Edições Afrontamento, Porto, 1996. http://repositorio-tematico.up.pt/handle/10405/22774 http://cvc.instituto-camoes.pt/conhecer/bases-tematicas/figuras-da-cultura-portuguesa/1411guilhermina-suggia.html http://suggia.weblog.com.pt/arquivo/cat_fotografias.html http://weblog.com.pt/MT/come2x.cgi?entry_id=211910 http://dererummundi.blogspot.pt/2008/06/o-valor-do-montagnana-de-suggia.html http://www.scielo.oces.mctes.pt/scielo.php?pid=S087083122009000200009&script=sci_arttext http://suggia.weblog.com.pt/arquivo/071556.html
Manuel António Rocha Ribeiro Junho 2012 | Porto 16