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Marcelo Tinoco
Entrevista | Por Marcela Guimarães
Titãs na Era
Inspiração, internet, clássicos e músicas novas. Tudo isso foi tema do papo que a TNR Magazine bateu com os dinossauros do rock
B
ranco, Paulo, Sérgio e Tony. A porta da van estacionada se abriu e por entre as grades do portão pudemos ver esses quatro caras saindo do veículo. Naquele momento, eles deixaram de ser meramente mortais e transformaram-se novamente naqueles seres mitológicos oriundos do, cada vez mais distante, tempo de ouro do rock nacional. O grito emocionado da fã ao lado anunciou que estávamos diante daqueles mesmos caras que há um pouco mais de 30 anos incendiavam o público com gritos animalescos como “ah ah, uh uh”, lançavam críticas ácidas e também embalavam o amor. Eram eles, os Titãs. Pouco tempo depois da cena memorável, fomos liberados para passar para o lado de lá e entrar no mundo dos camarins de artistas. Com algum suor, a TNR Magazine e alguns fãs conseguiram chegar bem perto dos músicos, poucos minutos antes do show que eles fizeram em Goiânia, no mês de março, marcando a retomada do Go Music Festival,
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evento que marcou a cidade na década passada e terá nova edição em agosto. Mesmo chegando um pouco atrasados, o tempo destinado a nós foi suficiente para que os Titãs, com toda a simpatia do mundo, abrissem as portas para um bate-papo exclusivo onde conversamos sobre presente, passado e uma pitada de futuro. A sala era ampla e enquanto Sérgio Britto e Tony Belloto se sentaram (o Tony do meu lado), Branco Mello e Paulo Miklos preferiram canalizar a energia pré-show e permaneceram em pé. Talvez pelo democrático espaço que eles se habituaram a dividir no palco, sem lugar fixo para um só vocalista ou um só frontman, os Titãs demonstraram sincronia e dividiram naturalmente o espaço para falas entre si, para responder os nossos questionamentos. Educados, distribuindo sorrisos e estilo, os mais de 50 anos que cada integrante possui escorregaram pelos dedos, porque, acreditem, meninas, eles continuam muito charmosos!
Sérgio Britto, Tony Belloto, Paulo Miklos e Branco Mello
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Cabeça de Dinossauro As batidas tribais dos primeiros segundos do álbum Cabeça de Dinossauro, lançado em 1986, não poderiam soar em maior sintonia com a pré-história e os dinossauros, a juventude e o questionamento, o rock e os anos 1980. Com mais de 300 mil cópias vendidas, o emblemático álbum, consagrado como um dos melhores discos de rock e de música brasileira em geral por diversas publicações especializadas, completou 30 anos em 2012 e, de aniversário, o público ganhou uma regravação ao vivo dos Titãs. Será que um disco com conteúdos como Polícia, Igreja e Bichos Escrotos, teria tanto impacto assim se tivesse sido lançado em 2012? Impossível imaginar a repercussão de cada obra em uma época. E, assim como as canções mais leves e românticas, as músicas do Cabeça de Dinossauro foram escritas de maneira natural. “Todas as nossas músicas retratam determinadas fases. O artista não deve compor imaginando se a temática fará sucesso ou não. O processo do artista deve ser independente e, assim foi, pois se a composição não flui, se é programada”, afirmou Sérgio Britto enquanto os outros faziam gestos de concordância.
Inspiração Falando de composição, inventar e se reinventar não é fácil. Por isso, os gigantes do rock estão utilizando uma estratégia certeira antes de gravar o novo disco. Na atual turnê, Futuras Instalações, os Titãs estão em transição. Os megaclássicos estão lá, mas com músicas novas e inéditas que ainda nem foram gravadas. Para eles, a sintonia entre banda, canção e público é elemento fundamental na hora de se reunir em estúdio para gravação. “Esse processo criativo é interessante, porque
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envolve a troca. Vemos a vibração do público, os arranjos e como a banda sente a música no palco. No fim, tudo isso interfere na hora que estivermos em estúdio”, adiantou o guitarristaTony Belloto.
Há 30, aos 30 e metade de 30 Fã desde criança, Jackeline, 36, teve que delegar a outra pessoa os cuidados da mãe doente. Chegou mais cedo ao Sol Music Hall e esperou por horas os seus ídolos entrarem. Quando os viu, foi a primeira e a mais emocionada a chamar pelos Titãs. Eles acenaram com simpatia como se conhecessem a moça. “Eles me conhecem, todos os shows eu estou presente e sempre dou um jeito de ganhar um abraço”, contou. Tony Belloto explica que há fãs fiéis e aqueles de diversas gerações, que curtem a banda. “O nosso público é diversificado, temos pessoas da nossa geração, de gerações posteriores... Mesmo tendo sido escritas há anos, pensamos que, de alguma forma, as pessoas de diversas idades identificam-se com as nossas letras”, afirmou.
E ainda há rock? A resposta do titã Paulo Mickos é sim! Antenado com novas bandas, ele revelou que os Titãs estão sempre ligados ao que está
sendo feito com qualidade no rock nacional. “Tem muita gente fazendo coisa bacana e nosso diálogo com as bandas novas é bem bacana. Curto o som das bandas Garotas Suecas (SP) e Vivendo o Ócio (BA). Inclusive fiz uma participação numa gravação deles de uma música dos Titãs, que nem os Titãs gravaram. A composição é de Sérgio Britto”, noticiou Miklos.
Titãs on-line Para chegar até os ouvidos das pessoas, Sonífera Ilha, Comida e Flores percorreram um longo caminho: saiam dos instrumentos para estúdio que, por sua vez, eram gravadas nos discos distribuídos às lojas, comprados em dinheiro, tocados pela agulha dos toca-discos e, assim, chegavam aos tímpanos do público. O atalho para essa jornada já foi criado faz tempo e com a internet, as novas canções da banda, como Fala aí Renata e Morto Vivo saem quentinha dos shows direto para o Youtube. Ao invés de ir contra essa onda, os Titãs resolveram ir para a crista e mantém contato direto com os fãs via Facebook e Twitter. “Nós mesmos postamos nas redes sociais, com fotos, matérias e novidades. Sigam e curtam a gente”, convidou Paulo Miklos. facebook.com/titasoficial e twitter.com/titasoficial.
Mas e o debate autoral? Quem entra no site dos Titãs, se depara com links para players de música on-line, o Deeser e o Oi Rdio. Em qualquer um, é possível ouvir gratuitamente até os mais recentes discos da banda. Para o cantor e baixista Branco Mello, as novas formas de compartilhamento de música são ferramentas positivas para o artista. “É uma evolução mais positiva do que negativa, pois é uma maneira mais democrática de mostrar o trabalho e fazer com que as músicas cheguem ao público, sem o controle total do processo por parte das gravadoras”, argumentou. No entanto, mesmo com o amplo uso das mídias digitais, as plataformas utilizadas pelos Titãs são on-line e não permitem os downloads. Tony Belloto explica a postura da banda quanto a essas questões. “Esse processo de democratização foi sem dúvida uma evolução, que deve continuar a ser melhorado. A questão dos direitos autorais para os artistas, por exemplo, deve ser melhorada”, apontou o guitarrista.
Disco novo à vista! “Final deste ano ou no início de 2013” é a previsão que o vocalista Paulo Miklos nos deu para o lançamento de um novo álbum de inéditas dos Titãs. “Mas vamos fazer tudo sem pressa, escolher as canções certas, para que o disco saia bem feito”, contou. Mas eles já deram algumas prévias em shows como a miscelânea Fala aí Renata, que mistura música eletrônica e música nordestina, e a reflexiva Tradição. Mas será que pesa lançar inéditas com toda essa bagagem titânica? Branco Mello garante que não. “Pesa somente no sentido positivo, pois já temos nosso público, as pessoas conhecem e querem conferir nosso trabalho”, afirmou. É esperar para ver!
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