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33 anos sem
NINO ROTA Homenagem ao compositor das trilhas sonoras de A Doce Vida e O Poderoso Chefão Entrevista |
Marcos Prado
Por trás das câmeras | Cultura |
As vidas de Fellini
Em cartaz
A Vida dos Peixes As Neves do Kilimanjaro Espelho, Espelho Meu e muito +
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Sete dias com Marylin
17 abril/2012
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Editorial Os filmes foram assim denominados a partir do material básico utilizado como suporte para a impressão das imagens, o filme cinematográfico ou película cinematográfica. Segundo Aumont e Marie, “A partir da palavra inglesa film, que significa película, criouse a palavra francesa film, que desde a origem do cinema designa o espetáculo cinematográfico gravado sobre esta película”. Película cinematográfica (por vezes abreviado como película ou filme) é qualquer filme fotográfico que é utilizado para a realização de filmes para cinema ou televisão. Até hoje a película ainda é utilizada por ser um ótimo suporte para captação de imagens, boa em qualidade e em custo. Por enquanto, seu descarte só é possível em produções de alto orçamento gerado pela forte indústria americana. Entretanto, esse cenário está prestes a desaparecer definitivamente. Os maiores fabricantes de câmeras cinematográficas do mundo cessaram a produção de câmeras de película. Estima-se que em 2013 todas as salas de cinema americanas sejam digitais. O cinema digital domina o planeta. Ainda assim, a película faz parte da história cinematográfica. Foi o meio que permitiu a longa duração dos filmes quando se tornou flexível o suficiente para ser armazenada em rolos. Seu nome nos remete tanto aos grandes clássicos do cinema como também à filmes recentes. Sua imagem é um símbolo da sétima arte. A escolha de seu nome é apropriada por resumir em si todas as concepções culturais e históricas presentes na revista, bem como representar o cinema em sentido literal e figurado. A revista destaca todos os meses a abrangência do cinema. A seção Em Cartaz mostra as estreias do mês da revista, com os filmes mais conhecidos mas também o cinema independente e as diversas indústrias cinematográficas pouco difundidas no Brasil. Cultura coloca o cinema na agenda cultural brasileira. Pelo Mundo Afora traz todo mês as indústrias cinematográficas do mundo, revelando o que tem sido feito fora do polo norte americano. Além disso, informações relacionadas ao ramo são abordadas nas seções de Música, Estilo, Entrevista, Notícias, Tecnologia e Por trás das câmeras. Uma revista vibrante e acessível que quer tirar da cultura cinematográfica o rótulo de difícil, inatingível e elitista. Com linguagem leve e agradável, em cada edição oferecemos aos leitores reportagens, entrevistas, críticas e pequenos ensaios com uma variada gama de assuntos, apontando tendências, opiniões da crítica especializada e estimulando o debate de ideias. Marcela Nogueira Andrade Diretora de redação
SUMÁRIO
Capa
NOTÍCIAS Prefeitura vai revitalizar cinemas da Zona Norte | 13 Continuando o processo de expansão dos cinemas de rua pela região, quatro cinemas devem ser reformados Cine Icaraí é desapropriado para abrigar centro cultural da UFF | 14 Prédio em Niterói, construído nos anos 1930, está fechado desde 2005 Inauguração do Espaço Sérgio Britto | 15 A a atriz Fernanda Montenegro inaugura o local e conversa com a Película Justiça do Rio obriga cinema a dar meia entrada para até 21 anos | 26 Rede Cinemark estava descumprindo a lei
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que prevê esse benefício Desigualdade regional marca dificuldade de acesso ao cinema no Brasil | 17 A distribuição de salas de cinemas no Brasil e o acesso da população reproduzem a concentração socioeconômica e a desigualdade regional Filmes brasileiros inscritos no Oscar 2013 | 18 Veja quem são os 16 inscritos para disputa de Melhor Filme em Língua Estrangeira
Conheça a tecnologia 4K | 23 O cinema mais moderno que você conhece já é coisa do passado. Saiba qual é a tecnologia do futuro nas imagens em alta definição
TECNOLOGIA
ENTREVISTA
Cinema brasileiro abraça filmes 3D | 20 Terceira dimensão verde-amarela tem pelo menos cinco produções até 2014
Marcos Prado | 36 Uma conversa com o diretor do filme brasileiro “Paraísos Artificiais”
PELO MUNDO AFORA Índia além de Bollywood | 29 Conheça todas as fragrâncias da maior indústria cinematográfica do mundo
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EM CARTAZ
O filme da Chanel e as Mariniéres | 41 Como surgiram as famosas blusas brancas de listras azuis Ensinamentos de Edith Head | 44 Grande figurinista de Hollywood lança livro sobre moda
06 de Abril | 80 A Vida dos Peixes As Neves do Kilimanjaro Espelho, Espelho Meu Jovens Adultos Santos, 100 Anos de Futebol Arte Xingu 13 de Abril | 83 12 Horas A Toda Prova Área Q Como Agarrar Meu Ex-Namorado O Príncipe Do Deserto Titanic 3D 20 de Abril | 86 A Perseguição A Vida Em Um Dia American Pie 4: O Reencontro Americano Diário de um Jornalista Bêbado Eu Receberia as Piores Notícias dos seus Lindos Lábios Flor da Neve e o Leque Secreto Quem Se Importa? Vale dos Esquecidos 27 de Abril | 91 As Idades do Amor Girimunho O Homem Que Não Dormia Os Vingadores - The Avengers Sete Dias com Marilyn Slovenian Girl Sonhos em Movimento
CAPA 33 anos sem Nino Rota | 52 Homenagem ao compositor das trilhas sonoras de A Doce Vida e O Poderoso Chefão
MÚSICA Festival do Rio exibirá filme de Hitchcock acompanhado de orquestra | 59 A praia de Copacabana servirá de pano de fundo para a exibição de uma versão restaurada de “The pleasure garden” Série ‘Safira’ da OSB apresenta Ennio Morricone | 61 Orquestra apresentará oito composições para cinema
POR TRÁS DAS CÂMERAS Sete dias com Marilyn | 65 Saiba tudo do filme que conta os bastidores da agitada vida de Marilyn Monroe
CULTURA Começa a Retrospectiva Ingmar Bergman | 70 Mais de 40 filmes serão mostrados, incluindo clássicos e inéditos. Além disso, será organizada uma palestra sobre a carreira do diretor sueco James Dean em cartaz | 72 Confira como será sua exposição no CCBB As vidas de Fellini | 74 Criador cujo universo, tipos humanos e situações extrapolaram seu campo de atuação e se impuseram no vocabulário
SUMÁRIO
ESTILO
Marcello Mastroianni e Anita Ekberg Cena do filme ‘La Dolce Vita’
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NINO ROTA
33 ANOS SEM
Nino Rota Foto tirada em 1972
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Nino Rota nasceu no seio de uma família de músicos. Foi inicialmente estudante da Orefice e Pizzetti. Entrou no Conservatorio Giuseppe Verdi (Milão) em 1923, se tornando aluno de Paolo Delachi e Giulio Bas. Tornou-se um ‘enfant prodige’, famoso tanto como compositor, quanto como maestro. A sua primeira atuação, ‘L’infanzia de San Giovanni Battista’, foi realizada em Milão e Paris no ano de 1923 com apenas 12 anos, e a sua comédia lírica ‘Il Principe Porcaro’ foi composta em 1926, 15 anos. Mudouse para Roma, onde terminou seus estudos no Conservatório de Santa Cecilia em 1929, aluno de Alfredo Casella. Encorajado por Arturo Toscanini, Rota se mudou para os Estados Unidos onde viveu de 1930 a 1932. Ganhou uma bolsa de estudo no Curtis Institute of Philadelphia, onde frequentou as aulas de composição de Rosario Scalero e as aulas de orquestra dadas por Fritz Reiner. Regressou à Itália onde se licenciou em literatura na Università degli studi de Milão. Em 1933, compôs sua primeira trilha sonora em Treno popolare, dirigido por Raffaello Matarazzo. Em 1937, iniciou a sua carreira docente lecionando teoria e solfejo no Liceo Musicale de Taranto. Dois anos depois, passou a lecionar harmonia e composição no Conservatório Niccolò Piccinni de Bari, onde se torna diretor em 1950 e permanece até a data do seu falecimento em 1979. Compôs mais de 150 trilhas sonoras para filmes italianos e internacionais ao longo de sua extensa carreira. Ganhou somente um Oscar em 1974, pela trilha sonora de The Godfather Part II. Possuiu uma média de três partituras por ano durante um período de 46 anos, e no seu período mais produtivo, do final dos anos 1940 até meados dos anos 1950, ele escreveu até dez partituras a cada ano, e às vezes mais, com um notável número de treze trilhas sonoras de filmes com o seu crédito no ano de 1954. Nino Rota reflete sobre o que é música para ele:
“Quando eu estou criando ao piano, eu tendo a me sentir feliz, mas - o eterno dilema - como podemos ser felizes em meio à infelicidade dos outros? Eu faria tudo o que pudesse para dar a todos um momento de felicidade. É isso que há no coração da minha música.” Sua filmografia inclui nomes de praticamente todos os realizadores notáveis da sua época. A lista inclui os nomes de Renato Castellani, Luchino Visconti, Franco Zeffirelli, Mario Monicelli, Francis Ford Coppola, King Vidor, René Clément, Edward Dmytryk e Eduardo de Filippo. Mas dentre os realizadores se eleva incontornavelmente o nome de Federico Fellini. Federico Fellini recorda-se de quando conheceu Rota:
“Fora do Cinecittà, notei um homem engraçado esperando no lugar errado o bonde. Ele parecia feliz e alheio de tudo. Senti-me forçado... a esperar com ele... Eu estava certo de que o bonde pararia no seu lugar regular e teríamos que correr para pegá-lo, e ele estava igualmente certo que iria parar onde ele estava de pé... Para minha surpresa, o bonde parou em frente a nós. “ Rota compôs para todos os filmes de Fellini, desde o ‘Lo sceicco bianco’ de 1952, até ao ‘The Orchestra Rehearsal’, de 1979. Dentre os filmes da dupla estão: I vitelloni (1953), La strada (1954), Il bidone (1955), Le notti di Cabiria (1957), La dolce vita (1960), Boccaccio ’70: “Le tentazioni del dottor Antonio” (1962), Otto e mezzo (1963), Giulietta degli spiriti (1965), Histoires extraordinaires: “Toby Dammit” (1968), Block-notes di un regista (1969), Fellini – Satyricon (1969), I clowns (1971), Roma (1972), Amarcord (1973), Il Casanova di Federico Fellini (1976) e Prova d’orchestra (1978). Fellini dava total liberdade para que Rota compusesse as músicas do jeito que achasse melhor. Tal liberdade é raríssima no cinema. As músicas de Rota representavam perfeitamente a visão artística, os personagens e as temáticas de Fellini e por isso era muito admirado pelo diretor:
“Minha preferência por Rota como um músico se baseia em considerá-lo muito próximo dos meus temas e minhas histórias, e em nós trabalhamos juntos (eu não quero dizer os resultados, mas o modo de trabalhar) muito bem. Não sugiro as músicas porque eu não sou um músico. No entanto, como eu tenho uma ideia bastante clara do filme que estou fazendo, incluindo detalhes, o trabalho com Rota é feito exatamente como o roteiro. Eu chegar perto do piano em que se encontra Nino e digo exatamente o que eu quero. Naturalmente, não lhe digo os temas, só posso orientá-lo e dizer-lhe exatamente o que eu quero. De todos os músicos que trabalham no cinema, ele é, na minha opinião, o mais humilde.” Nino Rota tinha uma forma bem peculiar de compor para os filmes de Fellini. Ao invés de compor as músicas se baseando nas imagens do filme, Rota costumava compor se baseando somente no roteiro do filme. Talvez por isso que sua música parece meio deslocada nos filmes, Rota não se preocupava muito se seus temas eram colocados em momentos específicos, o que acabava caracterizando seu estilo. Eles trabalharam juntos por décadas, Fellini recorda:
“O colaborador mais precioso que eu já tive, eu digo que de imediato e não têm sequer hesitar, foi Nino Rota - entre nós, imediatamente, uma completa harmonia, total... Ele tinha uma imaginação geométrica, uma abordagem musical digno de esferas celestes. Ele não tinha necessidade de ver imagens de meus filmes. Quando eu lhe perguntei sobre as melodias que ele tinha em mente para comentar uma sequência ou outra, eu claramente percebi que não estava preocupado com imagens. Seu mundo era interior, dentro de si, e a realidade não tinha como entrar.”
A relação entre Fellini e Rota era tão forte que no funeral de Fellini Giulietta Masina, esposa de Fellini, pediu ao trompetista Mauro Maur para tocar uma obra de Rota, o Improvviso dell’Angelo na Basílica de Santa Maria dos Anjos e dos Martírios em Roma. Federico Fellini fala sobre Nino Rota:
“Ele era uma pessoa que tinha uma qualidade rara pertencente ao mundo da intuição. Assim como as crianças, homens simples, pessoas sensíveis, pessoas inocentes, ele de repente dizia coisas brilhantes. Assim que ele chegou, o stress desapareceu, tudo se transformou em uma atmosfera festiva; o filme entrou em uma alegre, serena, fantástica, nova vida”.
Paralelamente ao cinema e à vida acadêmica, compôs 10 óperas, balés e cinco dezenas de trabalhos orquestrais, corais, conjuntos de câmara, sendo o mais conhecido o seu concerto de cordas. Compôs também a música de várias produções teatrais de Visconti, Zefirelli e de Filippo. Muitas das suas obras foram gravadas em CD. Morreu por insuficiência cardíaca em 10 de abril de 1979, com sessenta e sete anos, em Roma. Após sua morte, a música de Rota foi o tema do álbum tributo ao Amarcord Hal Willner em 1981, que contou com vários dos relativamente desconhecidos na época, mas agora músicos de jazz famosos. Gus Van Sant usou algumas músicas de Rota em seu filme de 2007 ‘Paranoid Park’ e o diretor Michael Winterbottom usou várias seleções Rota no filme de 2005 ‘Tristram Shandy: A Cock and Bull Story’. Danny Elfman cita frequentemente Nino Rota como uma grande influência. O diretor Mario Monicelli filmou o documentário ‘Un amico magico: il maestro Nino Rota’ que contou com entrevistas com Franco Zeffirelli e Riccardo Muti (um estudante de Rota no Conservatório de Bari), e foi seguido por um documentário alemão ‘Nino Rota - Un maestro della Musica’. Ambos exploraram tanto o lado cinema quanto o lado concerto do compositor. Em 1988, quando entrou no Dicionário Biográfico Concise de Compositores e Músicos de Baker, o música estudioso Nicholas Slonimsky descreveu Rota como “brilhante” e afirmou que seu estilo musical:
“...demonstra uma grande facilidade e até mesmo felicidade, com ocasionais excursões ousadas em dodecafonismo. Entretanto, suas composições mais duráveis estão relacionados com a sua música para o cinema; ele compôs as trilhas sonoras de um grande número de filmes do diretor italiano Federico Fellini cobrindo o período de 1950 a 1979.”
Nino Rota Em Saint Elpidio
Principais prêmios 1969: Prêmio BAFTA de Melhor Trilha Sonora Original Romeo and Juliet, dirigido por Franco Zeffirelli 1973: Prêmio BAFTA de Melhor Trilha Sonora Original The Godfather, dirigido por Francis Ford Coppola 1973: Globo de Ouro de Melhor Trilha Sonora Original The Godfather, dirigido por Francis Ford Coppola 1975: Oscar de Melhor Trilha Sonora Original The Godfather part II, dirigido por Francis Ford Coppola 1977: David di Donatello de Melhor Músico Il Casanova, dirigido por Federico Fellini
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1940
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Filmografia
1942 Giorno di nozze, dirigido por Raffaello Matarazzo 1943 Il birichino di papà, dirigido por Raffaello Matarazzo 1944 Zazà, dirigido por Renato Castellani La donna della montagna, dirigido por Renato Castellani 1945 La freccia nel fianco, dirigido por Alberto Lattuada e, sem créditos, Mario Costa Lo sbaglio di essere vivo, dirigido por Carlo Ludovico Bragaglia Le miserie del signor Travet, dirigido por Mario Soldati 1946 Vanità, dirigido por Giorgio Pàstina Un americano in vacanza, dirigido por Luigi Zampa Albergo Luna, camera 34, dirigido por Carlo Ludovico Bragaglia Mio figlio professore, dirigido por Renato Castellani Roma città libera, dirigido por Marcello Pagliero
1930
1947 Il delitto di Giovanni Episcopo, dirigido por Alberto Lattuada Daniele Cortis, dirigido por Mario Soldati Come persi la guerra, dirigido por Carlo Borghesio Vivere in pace, dirigido por Luigi Zampa 1948 Totò al giro d’Italia, dirigido por Mario Mattoli Proibito rubare, dirigido por Luigi Comencini Molti sogni per le strade, dirigido por Mario Camerini Sotto il sole di Roma, dirigido por Renato Castellani Fuga in Francia, dirigido por Mario Soldati È primavera..., dirigido por Renato Castellani Senza pietà, dirigido por Alberto Lattuada Arrivederci, papà!, dirigido por Camillo Mastrocinque Amanti senza amore, dirigido por Gianni Franciolini Anni difficili, dirigido por Luigi Zampa L’eroe della strada, dirigido por Carlo Borghesio Nino Rota ao piano Fellini e Rota
1933 Treno popolare, dirigido por Raffaello Matarazzo
1949 Quel bandito sono io, dirigido por Mario Soldati The Glass Mountain, dirigido por Edoardo Anton e Henry Cass Come scopersi l’America, dirigido por Carlo Borghesio Obsession, dirigido por Edward Dmytryk I pirati di Capri, dirigido por Edgar G. Ulmer e Giuseppe Maria Scotese Children of Chance, dirigido por Luigi Zampa Campane a martello, dirigido por Luigi Zampa
1950
1950 Vita da cani, dirigido por Mario Monicelli e Steno Peppino e Violetta, dirigido por Maurice Cloche Napoli milionaria, dirigido por Eduardo De Filippo È più facile che un cammello..., dirigido por Luigi Zampa È arrivato il cavaliere, dirigido por Mario Monicelli e Steno Due mogli sono troppe, dirigido por Mario Camerini Donne e Briganti, dirigido por Mario Soldati 1951 Valley of Eagles, dirigido por Terence Young Totò e i re di Roma, dirigido por Mario Monicelli e Steno The Small Miracle, dirigido por Maurice Cloche e Ralph Smart Il monello della strada, dirigido por Carlo Borghesio Le meravigliose avventure di Guerrin Meschino, dirigido por Pietro Francisci Filumena Marturano, dirigido por Eduardo De Filippo Era lui... sì! sì!, dirigido por Marino Girolami, Marcello Marchesi e Vittorio Metz Anna, dirigido por Alberto Lattuada 1952 I tre corsari, dirigido por Mario Soldati La mano dello straniero, dirigido por Mario Soldati Something Money Can’t Buy, dirigido por Pat Jackson I sette dell’orsa maggiore, dirigido por Duilio Coletti La regina di Saba, dirigido por Pietro Francisci Noi due soli, dirigido por Marino Girolami Marito e moglie, dirigido por Eduardo De Filippo Jolanda la figlia del corsaro nero, dirigido por Mario Soldati Gli angeli del quartiere, dirigido por Carlo Borghesio Un ladro in paradiso, dirigido por Domenico Paolella Lo sceicco bianco, dirigido por Federico Fellini Venetian Bird, dirigido por Ralph Thomas 1953 Star of India, dirigido por Arthur Lubin Scampolo 53, dirigido por Giorgio Bianchi Riscatto noto anche come Riscatto - tu sei il mio giudice, dirigido por Marino Girolami La domenica della buona gente, dirigido por Anton Giulio Majano Fanciulle di lusso, dirigido por Bernard Vorhaus Le boulanger de Valorgue, dirigido por Henri Verneuil I vitelloni, dirigido por Federico Fellini Anni facili, dirigido por Luigi Zampa
Musoduro noto anche come Amore selvaggio, dirigido por Giuseppe Bennati L’Ennemi public numéro un, dirigido por Henri Verneuil 1954 Via Padova 46 - Lo scocciatore , dirigido por Giorgio Bianchi Vergine moderna, dirigido por Marcello Pagliero La nave delle donne maledette, dirigido por Raffaello Matarazzo La grande speranza, dirigido por Duilio Coletti Le due orfanelle, dirigido por Giacomo Gentilomo Divisione Folgore, dirigido por Duilio Coletti Garibaldina, episódio de Cento anni d’amore, dirigido por Lionello De Felice Pendolin, episódio de Cento anni d’amore, dirigido por Lionello De Felice Appassionatamente, dirigido por Giacomo Gentilomo L’amante di Paride, dirigido por Marc Allégret e Edgar G. Ulmer La Strada, dirigido por Federico Fellini Mambo, dirigido por Robert Rossen Proibito, dirigido por Mario Monicelli 1955 Io piaccio noto anche come La via del successo con le donne, dirigido por Giorgio Bianchi Accadde al penitenziario, dirigido por Giorgio Bianchi Un eroe dei nostri tempi, dirigido por Mario Monicelli Bella non piangere!, dirigido por David Carbonari e Duilio Coletti Il bidone, dirigido por Federico Fellini Amici per la pelle, dirigido por Franco Rossi La bella di Roma, dirigido por Luigi Comencini 1956 War and Peace, dirigido por King Vidor Londra chiama Polo Nord, dirigido por Duilio Coletti Città di notte, dirigido por Leopoldo Trieste 1957 Il medico e lo stregone, dirigido por Mario Monicelli Italia piccola, dirigido por Mario Soldati Il momento più bello, dirigido por Luciano Emmer Le notti bianche, dirigido por Luchino Visconti Le notti di Cabiria, dirigido por Federico Fellini 1958 Giovani mariti, dirigido por Mauro Bolognini Fortunella, dirigido por Eduardo De Filippo This Angry Age, dirigido por René Clément Deserto di gloria (El Alamein), dirigido por Guido Malatesta Gli italiani sono matti, dirigido por Duilio Coletti e Luis María Delgado La legge è legge, dirigido por Christian-Jaque 1959 La grande guerra, dirigido por Mario Monicelli Un ettaro di cielo, dirigido por Aglauco Casadio
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1961 Fantasmi a Roma, dirigido por Antonio Pietrangeli Il brigante, dirigido por Renato Castellani 1962 Mafioso, dirigido por Alberto Lattuada I due nemici/The Best of Enemies, dirigido por Guy Hamilton
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1960
1960 Plein soleil, dirigido por René Clément La dolce vita, dirigido por Federico Fellini Sotto dieci bandiere, dirigido por Duilio Coletti Rocco e i suoi fratelli, dirigido por Luchino Visconti
1970 Paranoia, dirigido por Umberto Lenzi Waterloo, dirigido por Sergei Bondarchuk
Cronache di un convento/The Reluctant Saint, dirigido por Edward Dmytryk Boccaccio ‘70, ep. Le tentazioni del dottor Antonio, dirigido por Federico Fellini Boccaccio ‘70, ep. Il lavoro, dirigido por Luchino Visconti L’isola di Arturo, dirigido por Damiano Damiani
1971 I clowns, filme para a TV, dirigido por Federico Fellini
1963 Il Gattopardo, dirigido por Luchino Visconti 8½, dirigido por Federico Fellini Il maestro di Vigevano, dirigido por Elio Petri
1973 Hi wa shizumi, hi wa noboru, dirigido por Koreyoshi Kurahara Amarcord, dirigido por Federico Fellini Film d’amore e d’anarchia, dirigido por Lina Wertmuller
1964 Il giornalino di Gian Burrasca, serie de TV em 8 episódios de 60 minutos, dirigido por Lina Wertmüller A Midsummer Night’s Dream, filme para TV, dirigido por Joan Kemp-Welch
1974 The Godfather: Part II, dirigido por Francis Ford Coppola The Abdication, dirigido por Anthony Harvey
1965 L’ora di punta, episódio de Oggi, domani, dopodomani, dirigido por Eduardo De Filippo Giulietta degli spiriti, dirigido por Federico Fellini
1972 Roma, dirigido por Federico Fellini The Godfather, dirigido por Francis Ford Coppola
1975 E il Casanova di Fellini?, documentario para TV, dirigido por Gianfranco Angelucci e Liliane Betti
1966 Spara forte, più forte, non capisco, dirigido por Eduardo De Filippo
1976 Ragazzo di Borgata, dirigido por Giulio Paradisi Caro Michele, dirigido por Mario Monicelli Il Casanova, dirigido por Federico Fellini Alle origini della mafia, mini serie de TV em 5 episódios de 50 minutos, dirigido por Enzo Muzii
1967 The Taming of the Shrew, dirigido por Franco Zeffirelli
1977 Las alegres chicas del Molino, dirigido por José Antonio de la Loma
1968 Romeo and Juliet, dirigido por Franco Zeffirelli Histoires extraordinaires, dirigido por Federico Fellini, Roger Vadim e Louis Malle
1978 Prova d’orchestra, dirigido por Federico Fellini Death on the Nile, dirigido por John Guillermin Il teatro di Eduardo, dirigido por Eduardo De Filippo La dodicesima Notte, dirigido por Giorgio De Lullo
1969 Block-notes di un regista, film TV, dirigido por Federico Fellini Fellini Satyricon, dirigido por Federico Fellini
1979 Hurricane, dirigido por Jan Troell
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As vidas de Fellini O uso comum que se faz do termo “felliniano” já seria mais que suficiente para indicar a abrangência da obra de Federico Fellini (1920-1993). Além das dezenas de prêmios que acumulou, entre os quais estão cinco Oscars e uma serie de indicações, este diretor italiano e um caso raro, senão único no cinema, de criador cujo universo, tipos humanos e situações extrapolaram seu campo de atuação e se impuseram no vocabulário.
Ilustração Feita em 1974
A explicação para tal amplitude encontra-se no modo como o artista explorou suas vivências, memórias e visões e misturou tudo com um poder de imaginação aparentemente infinita. A infância e a adolescência de Fellini não contém, diferentemente de outros contemporâneos que revolucionaram o cinema como forma de expressão, nada que “explique” a profusão de seu talento. Ele nasceu numa família de classe média tradicional, filho de uma dona de casa e de um caixeiro-viajante. E cresceu em Rimini, pequena cidade provinciana a beira-mar, longe dos habituais estímulos culturais e materiais que costumam ser associados com a emergência de grandes talentos. As condições de vida sem muitos encantos, porém, foram logo reencantadas pela fantasia fertilíssima que o artista, desde bem jovem, adotou como ferramenta de reinvenção da realidade. Desde criança ele passava horas desenhando, ampliando em cor e tamanho a impressão que tinha dos tipos humanos variados, com especial predileção pelos mais excêntricos. Outras atividades favoritas do garoto eram brincar com um teatro de marionetes e consumir com voracidade as histórias em quadrinhos publicadas numa revista infantil popular.
Livro dos sonhos
Ilustração
Ilustração para livro
Feita em 1975
Assistente de direção Essa confluência de interesses desembocou numa produção constante de caricaturas, atividade que lhe abre as portas de publicações e permite sua partida de Rimini assim que alcança a idade adulta. Em 1938, a primeira parada e Florença, onde cria para um jornal de humor. No ano seguinte já esta em Roma e logo se torna colaborador fixo da “Marc’Aurelio”, revista semanal de grande tiragem. Ao mesmo tempo em que seu traço como chargista e caricaturista alcança rápida popularidade, Felllini passa a escrever artigos e crônicas nos quais desenvolve pequenas histórias que ele mesmo ilustra com suas vinhetas. Em seguida, essa atividade se expande para o rádio e Fellini se aprimora na dramaturgia, quando começa a participar da criação de esquetes com as personagens que frequentavam seus textos. No novo ramo ele passa a frequentar o universo de atores, no qual conhece a atriz Giulietta Masina (1921-1994), com quem se casa em 1943. Na década seguinte, ela se torna parceira também na obra, desempenhando papéis menores e maiores ao longo de toda a filmografia do marido. A repercussão de seu trabalho no rádio chama a atenção de profissionais de cinema e Fellini não demora a se aventurar, primeiro como assistente de roteiro, no meio que o convertera em celebridade. O diretor Roberto Rossellini o convida para colaborar no roteiro de “Roma, Cidade Aberta” (1945), que se tornara um marco da escola Neorrealista. Além de participar do roteiro, compondo, sobretudo, a personagem do padre interpretado por Aldo Fabrizi, Fellini também desempenhou a função de assistente de direção. Nos cinco anos que ainda separam sua estreia no papel de diretor, Fellini torna-se um dos mais constantes colaboradores de Rossellini, fase que será fundamental, pois com ele toma consciência de que o cinema comporta um grau de expressão pessoal como o que havia descoberto antes no desenho e na escrita. Ao mesmo tempo, amplia sua participação nesse campo assinando roteiros para Alberto Lattuada (1914-2005), Duilio Coletti (19061999), Pietro Germi (1914-1974) e Luigi Comencini (1916-2007), nomes importantes na consolidação da produção italiana durante o pós-guerra. E com Lattuada que ele compartilha a assinatura de seu primeiro trabalho como diretor em “Mulheres e Luzes” (1950). Mesmo que não seja considerado um “puro Fellini”, o filme já coloca em cena o mundo do espetáculo e o povoa de reminiscências autobiográficas reais ou inventadas, característica central da obra que o cineasta constituirá nas quatro décadas seguintes.
Federico Fellini e Giulieta Masina Fellini e Nino Rota Da esquerda pra direita: De Sica, Rossellini e Fellini
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Uma estética particular A tomada de posição per uma estética fantasista e onírica como expressão de um universo particular e pessoal acabou sendo identificada como um afastamento das origens no movimento Neorrealista. E esse processo se afirma desde o primeiro trabalho solo de Fellini, “Abismo de um Sonho” (1952), no qual uma jovem fascinada por fotonovelas confunde realidade e sonho e se entrega a sedução de um personagem imaginário. Além de delimitar temas e compor um quadro visual extravagante que caracterizam toda a sua obra futura, esse trabalho também marca a primeira colaboração com o compositor Nino Rota (1911-1979), cujas trilhas se tornam determinantes para a identificação inequívoca de um filme como sendo de Fellini. A confirmação definitiva da personalidade artística inconfundível do diretor acontece em 1953 com “Os Boas-Vidas”. Tomando como ponto de partida as lembranças da adolescência numa pequena cidade, o filme inaugura o olhar nostalgia, para um grupo de amigos envoltos numa bruma de sonhos. O termo “vitelloni” que Fellini extrai do dialeto local da região que nasceu, designa os jovens preguiçosos e imaturos que não tem uma noção muito clara do rumo que querem tomar na vida. O longa também afirma o aspecto memorialístico, a evocação nem sempre fiel, mas imaginada, do passado, que se tornara dominante nas realizações da década seguinte. Nos três filmes que Fellini dirige em seguida e possível identificar parte da filiação neorrealista, marcada pelo foco em personagens excluídas e maltratadas. A ela, contudo, o diretor agrega uma visão que lança desconfiança sobre valores cristãos, como a bondade humana, e extrai retratos em que a doçura se mistura com a amargura. Da pobre jovem arrastada por um saltimbanco irresponsável em “A Estrada da Vida” (1954) a prostituta carente e ingênua de “Noites de Cabíria” (1957), enganada pelo homem que só quer seu suado dinheiro, passando pelo velho vigarista de “A Trapaça” (1955), abandonado por seus cúmplices quando tentava se recuperar, os três filmes podem ser interpretados como parábolas cristãs em que a beatitude e a pureza são valores vencidos.
Posteres originais de: Abismo de um Sonho Os Boas-Vidas A Estrada da Vida A Trapaça Noites de Cabiria
Gelsomina Personagem interpretada por Masina, em La Strada (1954)
Sonho, memória, humor e melancolia A essa altura, Fellini já ocupa o posto de diretor celebrado internacionalmente, com importantes prêmios na estante, incluindo dois Oscars de Melhor Filme Estrangeiro. A estima conquistada se junta o escândalo provocado por “A Doce Vida” (1960), um afresco que ironiza em alto grau os novos costumes da sociedade italiana, refeita das ruinas da Segunda Guerra e entregue a volúpia e ao hedonismo da sociedade de consumo triunfante. Protagonizado por Marcello Mastroianni (1924-1996), o filme marca a entrada do célebre ator no universo de Fellini, no qual ele desempenha ate os últimos trabalhos papéis de alter ego do cineasta. Depois de viver o jornalista Marcello em “A Doce Vida”, Mas-
Fellini Durante as filmagens
troianni interpreta Guido Anselmi, o cineasta em crise de “Oito e Meio” (1963). Considerado o filme mais autobiográfico e inventivo do diretor, esse longa afirma a alta modernidade presente no cinema da época por meio de uma expressão radicalmente subjetiva e autoral. Com ele também se inaugura (ou se aprofunda) uma fase duradoura da obra, marcada pela reflexão, pela evocação e pelo papel predominante da memória, sempre misturado com altas doses de onirismo e imaginação, humor e melancolia. “Meu filme é um sonho, e emprega a linguagem simbólica dos sonhos. Gostaria que as pessoas vissem este filme sem se deixar cegar pela tentação de compreender: não ha nada para compreender”. O que importa é debruçar-se para o inconsciente e curar-se da “doença contemporânea, o desejo de uma ideologia, a mania de uma falsa clareza. Hoje mandamos tudo a uma espécie de tribunal da racionalidade, que analisa, diagnostica e ordena um tratamento contra o indecifrável. O inconsciente, nossa zona obscura, alimentada de confusão, de inesperados e de mudanças, e aceito com dificuldade, amedronta, no entanto e um componente extremamente precioso de nos mesmos. Por que suprimi-lo? Por que mutilá-lo?” Em “Oito e Meio”, Guido é um cineasta que deseja rodar um filme, mas não se sente capaz de fazê-lo. Pressente que a criati-
Oito e meio
vidade esta esgotada. Ao mesmo tempo, mantem um casamento problemático, o relacionamento com a amante também não e bom, briga com produtores, enfrenta críticos. É a crise em pessoa. Guido liberta-se da paralisia mental fantasiando sobre a vida. A maior dessas fabulações está concentrada na sequência final, quando todos os polos contraditórios da existência são conciliados numa ciranda, ao som da marcha circense de Nino Rota. Um dos finais mais emocionantes do cinema e, evidentemente, uma cena de sonho que, como Freud ensinava, não passa da realização de desejos profundos e reprimidos. Apos esses triunfos sucessivos e decisivos, “Julieta dos Espíritos” (1965) foi recebido friamente pela crítica, sob a acusação de repetir temas e motivos, julgamento que se tornara mais frequente a partir desse momento. É natural que depois de ter alcançado o ápice, um artista passe a ser considerado menos criativo, ou que seja criticado por produzir trabalhos menos exuberantes, mesmo
Julieta dos Espíritos
que isso não possa ser confundido com declínio.
de “Oito e meio”
Posteres originais de: A Doce Vida
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Fellini No set de “Satyricon” (1969)
Crise criativa? O fato e que a impressão de crise acabou sendo confirmada pelo próprio Fellini ao abortar o projeto de filmar “Il Viaggio di G. Mastorna” (A Viagem de G. Mastorna), argumento original criado em 1965 por ele e pelo escritor Dino Buzzati (1906-1972) sobre um músico cujo voo faz uma aterrissagem de emergência junto a uma catedral gótica. Depois de sair são e salvo, ele começa a perambular pela cidade e não consegue ler as placas, que estão escritas em línguas estranhas. De repente, encontra um amigo, mas logo se lembra de que o amigo morreu anos atrás. Então, passa a desconfiar de que o avião em que estava caiu e que ele esta morto. Os preparativos para a produção já estavam adiantados, os cenários, prontos, e a equipe, contratada, quando Fellini ficou doente e foi internado durante meses, inviabilizando as filmagens. Ao retornar a ativa, em 1968, o cineasta se aventurou pela primeira vez em adaptar uma obra alheia. No entanto, o episódio “Tobby Dammit” do filme coletivo “Historias Extraordinárias”, baseado em contos do escritor norte-americano Edgar Allan Poe (18091849), guarda muito pouco do original literário depois de passar pela transformação felliniana. O desafio de adaptação alcançará resultados muito mais exuberantes no ano seguinte, quando Fellini filma o clássico “Satyricon”, o conjunto de historias escritas por Petrônio Arbitro (século 1°), cronista da Roma antiga. Como em “A Doce Vida”, a estrutura fragmentada serve de base para um olhar que privilegia a decadência e estabelece uma equivalência entre o declínio do Império Romano e o tempo presente. No mesmo movimento em que os títulos dos filmes passam a incorporar o nome próprio do cineasta num evidente efeito de assinatura, “Satyricon” também inaugura uma fase em que o universo visual do diretor torna-se ainda mais particular, acentuando a ideia já difundida que associa o termo “felliniano” a tudo o que pareça excessivo. Os cenários delirantes e a evidente preferência por tipos humanos abundantes e hiperbólicos permanecera uma imagem de marca, ate pelo menos “E la Nave Va” (1983), passando por trabalhos como “Casanova” (1976) e “Cidade das Mulheres” (1980), nos quais o cineasta corre o risco de se tomar refém da caricatura que inventou para si mesmo. Entretanto, nessa mesma fase Fellini realizou, sucessivamente, “Roma” (1972) e “Amarcord” (1973), duas viagens ao passado e demonstrações de um criador inspiradíssimo, capaz de equilibrar evocações, fantasmas e imaginação sem nunca se tornar obscuro ou exclusivamente narcisista, apto a dialogar com os excessos sem
Fellini regendo “Amarcord” (1973)
nunca parecer excessivo. “Fico contrariado quando ouço dizer que meus filmes são autobiográficos. Parece-me uma definição redutora, sobretudo quando se pensa nisso como uma anedota, alguém que conta suas lembranças da escola. ‘Amarcord’ não quer dizer ‘eu me lembro’. Ao contrário é apenas um som cabalístico, uma palavra sedutora.” O fim da obra anuncia o processo de eclipse vivido no momento da velhice. Recebidos a época de seus lançamentos como filmes pouco inspirados, “Ginger e Fred” (1986) e “Entrevista” (1987) são na verdade trabalhos que perseguem com verve e acidez a ideia de decadência, sem benevolência por si ou pelos outros. A última criação e “A Voz da Lua” (1990), um elogio à loucura perfeitamente coerente com o percurso de um artista que nos ajudou a enxergar, nos delírios, atos de extrema criatividade.
Tutto Fellini “Deixei de fazer coisas importantes na minha vida”, disse uma vez Federico Fellini, “porque andava sempre muito ocupado.” Se, depois de tudo o que fez, o cineasta italiano (1920-1993) ainda deixou de realizar coisas importantes, só nos resta passear pela mostra montada no Instituto Moreira Salles do Rio de Janeiro, para sentir que o grande mestre devia estar brincando. A seleção inclui 400 itens. Caricaturas, cartazes, revistas com reportagens dos paparazzi da época da “dolce vita”, trechos de filme, fotos de bastidores das produções, rascunhos de roteiros. Imagens dos artistas que viraram símbolos da obra felliniana: Anita Eckberg, a Anitona, fêmea-padrão da fantasia do diretor, de seios enormes e nádegas proeminentes; Marcello Mastroianni, o alter ego; Giuletta Masina, a mulher, marcada pela figura triste de Gelsomina. E a vida frenética da Via Veneto dos anos 60, a sátira dos religiosos, a crítica à ditadura de Mussolini, a angustia dos intelectuais, e os sonhos, ah, os sonhos. As imagens mais belas da exposição são os sonhos. Aconselhado por um analista, Fellini desenhava e descrevia os sonhos ao acordar. Os desenhos desta página e das que se seguem revelam alguns deles. “Quando estava com 6,7 anos, eu tinha certeza de que existiam duas vidas”, disse o cineasta numa entrevista. “Uma vida com os olhos abertos, outra com os olhos fechados.” Era tal a sofisticação do sistema onírico do jovem Federico que ele havia batizado os quatro cantos da cama com os nomes dos cinemas de Rimini, cidade onde nasceu: Fulgor, Savoia, Opera Nazionale Balilla e Sultano. “0 espetáculo começava quando eu fechava os olhos.” Uma escuridão que se transformava numa galáxia, luzes coloridas que mudavam de angulo, fazendo com que o espetáculo passasse de uma sala virtual de cinema para outra, alternando os quatro cantos da cama. Fellini adulto registrou sonhos durante 22 anos, a partir de 1960. Tinha um caderno na mesa de cabeceira, encapado com couro, páginas de papel de desenho. Eram o que veio a se chamar “livros dos sonhos”. Fala-se que chegou a fazer quatro volumes e que dois desapareceram. Os dois que sobreviveram foram juntados na obra “II Iibro dei Sogni” editado pela Rizzoli, já traduzido para o inglês, um livrão de quase 600 páginas para alegria e gozo dos fellinólogos. Muitas dessas imagens foram parar em filmes, não exatamente iguais, mas inspirando a identidade cinematográfica que Fellini construiu em sua obra. Filmes feitos de cenas de pura fantasia onírica e de momentos de uma realidade dura, em que a pureza da vida não tem força para atrair o herói perdido na dissipação, como no fim de “La Dolce Vita”. A exposição Tutto Fellini esta longe de ser tudo sobre o mestre. Mas é um bom trailer do que ele fez, enquanto andava muito ocupado. “Tivesse tido tempo para fazer coisas importantes”, como ironizou antes de morrer, “a vida não seria nunca um filme. Seria sempre um trailer”. Thomaz Souto Correa é vice-presidente do conselho editorial da Abril. Tutto Fellini. Instituto Moreira Salles do Rio de Janeiro (R. Marquês de São Vicente, 476. Gávea. RJ). De 11/3 a 17/6. De 3ª a 6ª das 13h às 20h. Sab. e dom., das 11h às 20h. Grátis.
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