1156 – Quando além de entreter, a música é bandeira de resistência e de resgate

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1156 – Quando além de entreter, a música é bandeira de resistência e de resgate O Barulho d’água Música reproduzirá na íntegra nesta atualização mais uma matéria de conteúdo relacionados à música publicadas pela Revista E (em versões impressa e digital). A revista é mantida pelo SESC para divulgação da agenda cultural e de eventos de recreação e de lazer programados a cada mês nas unidades que a entidade mantém tanto na Capital, quanto em diversas cidades do estado de São Paulo . As matérias das variadas sessões trazem pautas relativas a temas do universo das artes e de suas personagens, agentes e autores — do cinema ao grafite, da literatura ao teatro –, uma sessão de poesias, crônicas e muito mais para uma agradável e enriquecedora leitura.

C O M EC E A Q U I

A Viola Caipira como estandarte (Sidnei de Oliveira)* Contato Dia do Violeiro (18 de maio) Parceiros e colaboradores

FO T O S D O F L I C K R


Nesta atualização a escolhida pela nossa redação foi Refúgios Sonoros postada em 21/12/2018 para a edição de janeiro da Revista E. Confira toda a edição de janeiro da Revista E , números anteriores e a de fevereiro em sescsp.org.br/revistae

Refúgios Sonoros (1) Uma canção pode contar histórias de guerra e de paz ou acalentar saudades de quem está a milhares de quilômetros de casa. Ela também é capaz de reunir pessoas de diferentes idiomas e credos . Foi a música que deu um novo sentido ao cotidiano de imigrantes que se refugiaram no Brasil para se salvar de conflitos armados em seus países de origem. A exemplo da cantora palestina Oula Al-Saghir , do cantor congolês Leonardo Matumona e dos angolanos Amarilis Américo, Isabella D’Leon, Jacob Cachinga, Mila Cussama, Manuela Reis, Prudêncio Santiago, Rui Kelson e Wilson Madeira , que formam o coral Vozes de Angola . Nascida na Síria, Oula Al-Saghir teve sua casa destruída pela guerra e chegou ao Brasil em 2015, acompanhada pelo marido, dois filhos e uma mala de canções árabes e poesias de resistência palestina. “Fico muito feliz quando represento minha cultura. Não precisa entender as palavras, mas sentir a melodia. “A música é minha língua no Brasil”, prosseguiu a cantora, que faz parte da Orquestra Mundana Refugi. Idealizada pelo multi-instrumentista Carlinhos Antunes e pela assistente social Cléo Miranda, a orquestra nasceu do projeto Refugi no Sesc Consolação, que oferecia oficinas musicais gratuitas para imigrantes e pessoas em situação de refúgio, somada à vontade de Antunes de dar seguimento a uma ação com foco nos novos imigrantes de São Paulo . No álbum de estreia, gravado em 2017 e lançado ano passado pelo Selo Sesc, a voz

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de Oula se une a outras vozes e instrumentistas do Congo, Guiné, Irã, França, Tunísia, Cuba, Haiti e China.

Grupo Vozes de Angola

“Participei da primeira reunião quando a orquestra ainda era um projeto e sou muito feliz por fazer parte ”, recordou Oula, que cresceu num meio musical, encorajada pelo pai, que tocava alaúde. “Sempre que estou no palco, esqueço meus problemas. Canto para meu pai, meu país e para mim.”

Vozes do além-mar O cantor congolês Leonardo Matumona também investiu na música como forma de se comunicar e dar início a uma nova vida no Brasil, onde chegou em 2013 e fundou Os Escolhidos, junto a três jovens da República Democrática do Congo, que vivem em situação de refúgio no


Brasil. “Quando cheguei, tinha esta vontade de fazer um grupo que representasse o que eu fazia lá. Trabalhar com música é minha paixão, e os brasileiros são curiosos para ouvir e assistir. Dessa forma, isso me faz ter um contato direto com eles” , declarou Da mesma forma, os oito integrantes do coral Vozes de Angola, que se apresentou na 2ª Mostra Refúgios Culturais, em dezembro passado no Sesc Vila Mariana, creditam à expressão musical uma outra forma de linguagem e resistência. Chegaram ao país há 17 anos, ainda crianças, depois de terem sofrido com a guerra civil na terra natal, de onde saíram deficientes visuais. As canções que sabiam os nutriram para enfrentar preconceitos e saudades dos familiares. “Nossa música transmite paz, amor e alegria: acho que é disso que o mundo está precisando ”, destacou Amarilis Américo. E, para isso, Mila Cussama acredita que é desnecessário dominar outros idiomas. “A música para nós é a linguagem da alma, porque podemos nos comunicar com pessoas de diferentes línguas” , constata. Conhecido em diversas cidades do país, o grupo segue apostando na carreira que semeou por aqui. Superadas as dificuldades dos primeiros anos, todos os oito conseguiram estudar e fazer uma faculdade. “É muito gratificante ver as pessoas dizerem que somos inspiração. Por isso, a gente não pode desistir das coisas. Senão, não estaríamos aqui divulgando nossa cultura afro ”, conclui Isabella D’Leon.

Refugiados no mundo e no Brasil* Em meio às notícias quase diárias da entrada no Brasil de venezuelanos que fogem das precárias condições de vida no país vizinho – e às vésperas da divulgação no programa


Fantástico, da Globo, que foi descoberta uma nova rota de entrada pelo país de cubanos que buscam chegar ao Uruguai – e da maciça caravana de hondurenhos e guatemaltecos, entre outros povos centro-americanos que tentam entrar no xenófobo Estados Unidos da era Donald Trump, o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) divulgou em 19 de junho, véspera do Dia Mundial do Refugiado, que pedidos de estrangeiros à procura de proteção no Brasil aumentou de 35.464 em 2016 para 85.746 em 2017, representando um incremento de 118% . Os dados constam do relatório Tendências Globais – Deslocamentos forçados 2017 , elaborado pelo Acnur. Segundo este órgão, os números brasileiros acompanham um movimento global: em todo o mundo, o número de refugiados e deslocados internos chegou a 68,5 milhões em 2017, nível recorde pelo quinto ano consecutivo. De posse deste levantamento, o Acnur atualizou os números relativos ao Brasil até aquela data: 10.264 refugiados reconhecidos e quase 86 mil solicitantes, contingente que somado ao de estrangeiros que receberam outro tipo de proteção – como a permissão temporária de residência, por exemplo, somavam quase 150 mil pessoas. E os venezuelanos, com 17.900 pedidos, ocupavam o primeiro lugar na lista de nacionalidades que pediram refúgio em terras brasileiras. Em seguida estão cubanos (2373), haitianos (2362) e angolanos (2036).

O número de refugiados pelo mundo tem aumentado ao longo dos anos. Segundo o Acnur, em 1950, 2 milhões de pessoas se deslocaram pelo mundo. Já em 2015 foram 53 milhões. Atualmente, de acordo com


o mesmo organismo, 65,6 milhões de pessoas são consideradas refugiadas, o que possui um impacto em todo planet a. Quem são os refugiados? Refugiado é aquele que deixa seu país de origem e teme voltar ali por causa de suas opiniões políticas, religiosas ou por pertencer a um grupo social perseguido. Neste sentido, o refugiado é diferente do imigrante que, geralmente, abandona seu país natal por motivos econômicos ou desastres naturais. Por isso, dizemos que todo refugiado é um imigrante, mas nem todo imigrante é refugiado . Em 1951, uma convenção das Nações Unidas sobre o tema determinou que os refugiados não poderiam ser devolvidos ao seu lugar de origem. Então, para garantir este direito, os Estados que recebessem refugiados deveriam assegurar a possibilidade do refugiado solicitar o direito de asilo. Por isso, deve providenciar condições de comida, assistência médica e escola para as crianças . No entanto, esta mesma convenção não determinou nenhuma sanção caso o país de acolhida não cumprisse estas normas. A realidade é bem diferente: os refugiados muitas vezes são confinados em centros de detenção que se assemelham às prisões. Alguns têm a sorte de serem atendidos por Organizações nãogovernamentais (ONG) ou ordens religiosas que tentam integrá-los ao novo país. Origem dos refugiados Os refugiados vêm, sobretudo, de regiões que estão em guerra ou em situação de pobreza extrema. Contudo podem pertencer a um grupo populacional que seja perseguido especificamente como é o caso dos curdos . Já a Guerra da Síria é a responsável pelo maior deslocamento de contingente populacional, atualmente, e nações da África subsaariana também inspiram cuidados, especialmente o Sudão do Sul. Considerada a mais nova nação do mundo, o país enfrenta uma guerra civil que deixa milhares de pessoas sem lar. Destino dos refugiados Ao contrário do que muitas vezes se pensa, a maior parte dos refugiados realiza deslocamentos dentro do seu próprio país ou para nações vizinhas. Apesar dos países desenvolvidos serem o grande chamariz para quem deseja mudar de vida, a maioria acaba permanecendo em países próximos ao seu continente. Deste modo, segundo o Acnur, os países que mais acolhem


refugiados são: Turquia

3,5 milhões

Uganda

1,4 milhões

Líbia

1 milhão

Irã

979 000

Refugiados na Europa A União Europeia vem se mostrando cada vez menos generosa na hora de acolher os refugiados. Em 2017 foram concedidos 538 000 solicitações de asilo, 25% menos se comparado ao ano de 2016. Os países que mais acolhem são Alemanha, França, Suécia e Itália. No entanto, devido a mudanças no governo italiano, o país tem rejeitado um número cada vez maior de solicitações de asilo. O bloco europeu propôs que os países dividissem os refugiados entre si, de acordo com a população e a capacidade de cada um. Contudo, a sugestão foi duramente criticada pela Polônia e República Checa, que simplesmente não aceitam mais de 15 refugiados por milhão de habitantes.

Refugiados no Brasil O Brasil é um país tradicionalmente aberto aos refugiados e projeta uma imagem de país tolerante no mundo. Por isso, tem se tornado um destino de acolhida para vários refugiados que se veem obrigados a deixar seu país. Apesar disso, esses novos habitantes só representam 0,05% da população . Segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada


(Ipea) publicados em 2017, os maiores contingentes de solicitantes de asilo no Brasil são: Sírios ( O Brasil já acolheu cerca de 2.500 sírios desde o começo da guerra naquele país em 2010)

22,7%

Angolanos

14%

Colombianos

10,9%

Congoleses

10,4%

Libaneses

5,1%

Venezuelanos no Brasil A crise econômica e social na Venezuela fez a população daquele país buscar a vida nos países vizinhos. Dados da Organização Internacional para Migrações (OIM) – Agência das Nações Unidas para Migrações – revelam que o Brasil recebeu cerca de 30 mil venezuelanos nos anos de 2015 a 2018. Grande parte dos venezuelanos, porém, não é considerada como de refugiados, mas de imigrante. Aproximadamente 8.231 venezuelanos pediram asilo no ano de 2017 , conforme o Ministério da Justiça. Como o Brasil atravessa sua própria crise política e econômica, teme-se que a xenofobia cresça no país. 1) Texto originalmente publicado na Revista E do Sesc São Paulo, edição de janeiro/2019 2) *Com Lu Sudré, do portal Brasil de Fato , São Paulo (SP) e Juliana Bezerra , professora de História, do portal Toda Matéria

Leia também no Barulho d’água Música:

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